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A ESTRANHA MÁQUINA EXTRAVIADA 91

quim do largo para comer e beber. Muita gente se amontoou


na porta, mas ninguém teve coragem de se aproximar dos
estranhos porque um deles, percebendo essa intenção dos cu~
A MÁQUINA EXTRAVIADA riosos, de vez em quando enchia a boca de cerveja e esguicha~
va na direção da porta. Atribuímos essa esquiva ao cansaço e

à fome deles, e deixamos as tentativas de aproximação para o


dia seguinte; mas quando os procuramos de manhã cedo na \
r\, (..ir I.f

pensão, soubemos que eles tinham montado mais ou menos a J

máquina durante a noite e viajado de madrugada.


A máquina ficou ao relento, sem que ninguém soubes~
Você
tão, sempre pergunta
e finalmente possopelas novidades
lhe contar uma daqui deste
ser~
importante.
Fi~ se quem a encomendara nem para que servia. É claro que
que o compadre sabendo que agora temos aqui uma má~ cada _qual dava o seu palpite, e cada palpite eratãooom
quina imponente, que está entusiasmando todo o mundo. quanto outro.
Desde que ela chegou, não me lembro quando, .não sou ~ As crianças, que não são de respeitar mistério, como
muito bom em lembrar dàtas, quase não temos falado em você s;be, trataram de aproveitar a novidade. ~em ped(r li~
cença a ninguém (e a quem iam pedir?), retiraram a lona e
f > outra coisa; e da maneira que o povo a~i se apaixona até foram subindo em bando pela máquina acima, até hoje ain~
~ .1
~ 1,
pelos assuntos mais infantis, é de admirar que ninguém te~
nha brigado ainda por causa dela, a não ser os políticos. da sobem, brincam de esconder entre os cilindros e colunas,
- ~ 'l-~ ./ A máquina chegou uma tarde, quando as famílias esta~ embaraçam~se nos dentes das engrenagens e fazem um ber~
reiro dos diabos até que apareça alguém para soltá~las; não
~ ..)\ vam jantando ou acabando de jantar, e foi descarregada na
, frente da Prefeitura. 80m os gritos dos choferes e seus aju~ diantam ralhos, castigos, pancadas; as crianças simples~
dantes (a máquina veio em dois ou três caminhões), muita mente se apaixonaram pela tal máquina.
gente cancelou a sobremesa ou o café e foi ver que algazarra Contrariando a opinião de certas pessoas que não qui~
era aquela. Como geralmente acontece nessas ocasiões, os seram se ent\;lsiasmar, e garantiram que em poucos dias a
homens estavam mal~humorados e não quiseram dar expli~ novidade passaria e a ferrugem tomaria conta do metal, (J
\ cações, esbarravam propositalmente nos curiosos, pisavam~
lhes os pés e não pediam desculpa, jogavam pontas de cor~ largo sem ainda parar diante da máquina, e de cada vez há
das sujas de graxa por cima deles, quem não quisesse se sujar ) interesse do povo ainda não diminuiu. Nin.guém passa pelo
I um detalhe novo a notar. Até as velhinhas de igreja, que
ou se machucar que saísse do caminho. -< passam de madrugada e de noitinha, tossindo e rezando, vi~
Descarregadas as várias partes da máquina, foram elas \..- ram o rosto para o lado da máquina e fazem uma curvatura
cobertas com encerados e os homens entraram num bote~ discreta, só faltam se benzer. HOl1}ensabrutalhados, como
90 ~\ o\ÁV((Yl· ~oU /\pc< p·e ,
" •..
\,

92 JOSÉ J. VEIOA A ESTRANHA MÁQUINA EXTRAVIADA 93

aquele Cladaalda seu conhecida, que se exibe derrubando. lizmente a prefeito. é de canfiança e é esperta, não. cai na ,ill,
bai pelas chifres na pátio. da mercado., tratam a máquina canversa macia. 111:'11

cam respeita; se um au autro agarra uma alavanca e sacade Em tadas as datas cíviCillia máquina é agara uma parte
cam farça, au larga um pantapé numa das calunas, vê,se
lago. que são.bravatas feitas par hanra da firma, para manter
fama de carajasa.
impartante
te as feriadasdas festividades. Vacê na
eram_co.memoradas se lembra quenaantigamenj'
careta au campa de,", t V
/}
~:
(utebal, mas haje tud~ s~ aQQé<.iamáguina. Em temp
\, r \ Ninguém sabe mesma q1!~ncamendau a máq~
de eleição. tadas as candidatas querem f~zer_~euscamícias à '1IIIIIIi

I I O prefeito. jura que não. fai ele, e diz que cansultau a arquiva sambra dela, e cama isso.não. é passível, alguém tem dê so-
II1II

e nele não. encantrou nenhum dacumento autarizanda a


brar; nem tadas se canformam e sempre surgem canflitas.
,'\ transação.. Mesma assim não. quis lavar as mãas, e de certa Mas felizmente a máquina ainda não. fai danificada nesses
farma encampau a campra quando. designau um funcianá, esparramas, e espero que não. seja.
ria para zelar pela máquina.
A única pessaa que ainda não. rendeu hamenagem à má-
Devemas recanhecer - aliás tadas recanhecem - que
esse funcianária tem dada baa canta da recado.. A qualquer quina é a vigário., mas vacê sabe cama ele é ranzinza, e haje
mais ainda, cam a idade. Em tada casa, ainda não. tentau
hora da dia, e às vezes também de naite, pademas vê,la tre,
nada cantra ela, e ai dele. Enquanto. ficar nas censuras vela-
pada lá par cima espanando. cada vão., cada engrenagem, de,
saparecenda aqui para reaparecer ali, assavianda au cantan, das, vamas taleranda; é um direita que ele tem. Sei que ele
da, ativa e incansável. Duas vezes par semana ele aplica caal andau falando. em castiga, mas ninguém se impressianau.
nas partes de metal daurada, esfrega, esfrega, sua; descansa, Até agora a única acidente de certa gravidade que ti-
esfrega de nava - e a máquina fica faiscando. cama jóia. vemas fai quando. um caixeiro da laja da velha Adudes
Estamas tão.habituadas cam a presença da máquina ali (aquele velhinha espigada que passa brilhantina na bigade,
na larga que, se um dia ela desabasse, au se alguém de autra se lembra?) prendeu a perna numa engrenagem da máqui-
cidade viesse buscá-Ia, provando. cam dacumentas que ti, na, isso.por _culpa dele mesma. O rapaz andau bebendo. em
nha direita, eu nem sei a que acanteceria, nem quero pen, uma serenata, e em vez de ir para casa achau de dormir em
saroEla é a nassa argulha, e não. pense que exagero. Aind? cima da máquina. Não. se sabe cama, subiu à plataforma
mais alta, de madrugada rolau de lá, caiu em cima de uma
I \J
(;\ i~portância.
não. sabemas Fique sabendo.
para que que temas
ela serve, recebida
mas isso.já não. delegações
tem maiar engrenagem e cam a pesa acianau as rodas. Os gritas acar-
de autras cidades! da estada e de fora, que vêm aqui para ver daram a cidade, carreu gente para verificar a causa, fai pre-
se canseguem camprá,la. Chegam cama quem não. quer na, cisa arranjar uns barrates e labancas para desandar as rodas
da, visitam o. prefeito., elagiam a cidade, rodeiam, nega' que estavam mordendo. a perna da rapaz. Também dessa vez
\ ceiarp., abrem o.jaga: par quanta cederíamo.s .a máquina. Fe, a máquina nada safreu, felizmente. Sem a perna e sem a

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94 JOSÉ J. VErGA

emprego, o imprudente rapaz ajuda na conservação da má~


quina, cuidando das partes mais baixas.
] á existe aqui um movimento para declarar a máquina
monumento municipal - por enquanto. O vigário, como
sempre, está contra; quer saber a que seria dedicado o mo~
numento. Você já viu que homem mais azedo?
Dizem que a máquina já tem feito até milagre, mas isso
- aqui para nós - .'lcho que é exagero de gente~supersti~
ciosa, e prefiro não ficar falando no assunto. Eu - e creio
\ que também a grande maioria dos munícipes - pão espero
dela nada em particular; para mim basta que ela fique onde
C) está, nos alegrando, nos inspirando, nos consolando.
, O meu receio é que, quando menos esperarmos, de~
(':)
sembarque aqui um moço de fora, desses despachados, que
,
ç ...•.•.••

.•..,
entendem de tudo, olhe a máquina por fora, por dentro,
, rr \ pense um pouco e comece a explicar a finalidade dela, e
.;'
)
\
para mostrar que é habilidoso (eles são sempre muito habili~
dosos) peça na garagem um jogo de ferramentas, e sem ligar
a nossos protestos se meta por baixo da máquina e desande
a apertar, martelar, engatar, e a máquina comece a trabalhar.
Se isso acontecer, estará quebrado o encanto e não existirá
mais máquina.

\ ~ Vll~\À) (~O V~~

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