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Prolegômenos a uma teoria funcionalista da nota de rodapé*

Jürgen Basedow, Hamburgo

Ao ser perguntado em que ele reconhecia um texto científico, respondeu certa

vez Reinhold Trinkner, falecido redator-chefe da revista especializada Betriebs-Berater:

“nas notas de rodapé”. Poucas vezes o proprium da ciência foi formulado de forma mais

incisiva. Mais surpresa do que a resposta causa, então, o fato de a nota de rodapé,

enquanto tal, ainda não ter sido objeto de reflexão teórica. Isso tampouco pode ocorrer

aqui, mas as linhas que se seguem expõem a percepção que o seu autor adquiriu em

anos de cogitação, a saber: que a nota de rodapé apenas pode ser entendida pela sua

função e que essa função é determinada, de forma profunda, pela cultura. A base para

uma futura pesquisa sobre a nota de rodapé poderiam ser os seguintes protótipos:

A nota de rodapé-álibi. A convicção de Trinkner, expressada de forma precisa, é

partilhada por diversas redações. Isso se revela na requisição de manuscritos de

palestras. Uma palestra bem sucedida traz com frequência ao palestrante proposta de

revista especializada para sua publicação. De acordo com o público-alvo e nível de

exigência da revista, vem, ocasionalmente, a sutil pergunta, se o artigo não poderia ser

enriquecido com algumas comprovações, pois isso corresponderia à natureza científica

da revista. Na verdade não se trata aqui de comprovações, mas sim da impressão que as

notas que causam.

A nota de rodapé ornamental. Muitos autores antecipam a expectativa de

redações e leitores de revistas científicas e ornamentam seus textos recheando

*
“Prolegomena zu einer funktionalistischen Theorie der Fuβnote”, Zeitschrift für Europäisches
Privatrecht, 2008, 3, p. 671-672.
Traduzido por Renata FIALHO DE OLIVEIRA. A tradutora agradece a João AZENHA JR. pelos
comentários e sugestões apresentados.

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afirmações óbvias com notas de rodapé impressionantes. O fato de que os contratos

devam ser cumpridos de boa-fé soa, assim, bem diferente, quando, ao invés de se referir

despretensiosamente ao § 242 do Código Civil alemão, cita-se, sob a linha que separa o

texto das notas, meia dúzia de manuais; isto é Neo-Barroco jurídico.

A nota de rodapé-comprovação. Contra-prova de austeridade protestante à nota

de rodapé ornamental é a nota de rodapé-comprovação. Em sua forma minimalista,

limita-se às indicações mais essenciais das fontes das quais o autor se valeu para ter

informações para suas próprias afirmações: “Huberus, Lib. J, tit. 1 § 3” é um exemplo

encontrado na página 198 do Commentaries on the Conflict of Laws de Joseph Story,

Boston, 1834.

A nota de rodapé-erudição. Quem ainda escala as encostas íngremes do Olimpo

científico tende a rechear suas notas de rodapé com provas de sua própria erudição.

Quando livros inteiros vêm citados com passim, o leitor espantado se pergunta quantos

meses teria o autor passado imerso em leituras para escrever uma única nota de rodapé.

Que bom que o formato da página aqui impõe limites de espaço! Conforme nos ensinam

as monografias italianas, porém, uma ou até duas linhas do corpo do texto são

sacrificadas para a demonstração da própria riqueza de conhecimento nas notas de

rodapé.

A nota de rodapé segundo-tratado. Impressionante como tudo se relaciona tão

estreitamente com tudo na ciência! E, a despeito disso, não se pode escrever tudo no

texto, donde um ou outro problema conexo ser deslocado para a nota de rodapé e ali

comentado. Para o leitor experiente, isso não demanda nenhum esforço; ele pode, assim

como um sistema windows, alternar entre as telas no primeiro e segundo planos como

melhor lhe aprouver.

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A nota de rodapé-disputa ou nota de rodapé-afago. Referências em notas de

rodapé são uma forma de comunicação entre colegas de área. Elas dizem respeito não

apenas à matéria, mas exprimem também a estima com relação aos colegas. Quem não

se envaideceria ao ver sua própria publicação ser acompanhada, numa nota de rodapé de

outra pessoa, da palavra “fundamentalmente”? O complemento “equivocado”, por outro

lado, provoca irritações. O falecido Stefan Riesenfeld, um dos pioneiros no Direito

falimentar internacional, contou certa feita que teria reservado em sua publicação sobre

esse tema a nota de rodapé 13 para Kurt Hans Nadelmann, um outro conhecedor da

matéria; ela teria a seguinte formulação: “errado, como de costume, Nadelmann...”.

A nota de rodapé-reserva. Trata-se de forma em extinção. Antes da era do

computador e do programa de notas de rodapé, todo autor temia que, até o término de

sua obra, aparecesse nova literatura sobre o tema, a qual ele devesse levar em

consideração. Para evitar a constante renumeração das milhares de notas de rodapé de

uma monografia, ele teve que encontrar uma outra solução. Muito úteis para isso eram

as notas de rodapé inseridas com antecedência. Na verdade, elas não eram muito

necessárias, pois nelas eram acomodadas, por exemplo, referências cruzadas. Estas, em

caso de emergência, poderiam ser absorvidas no corpo do texto, de forma que, no meio

da obra, estariam disponíveis notas de rodapé adicionais. Uma arte menor da ciência,

pouco celebrada e cultivada por gerações de autores, que, sob a égide da deterioração

cultural condicionada pela eletrônica, vem sendo relegada ao esquecimento. É tempo de

recordá-la.

As alusões que precedem apontam para a grande necessidade de pesquisa acerca

do fenômeno cultural da nota de rodapé. É bem verdade que a evolução biológica

conduziu, no caso dos insetos e pássaros, a uma extraordinária ampliação do campo de

visão até um panorama geral. Contudo, apenas o homo sapiens conseguiu dotar alguns

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exemplares de sua espécie da capacidade de compilarem e processarem informações,

paralelamente, acima e abaixo da linha que separa texto de notas. Somente um projeto

de pesquisa interdisciplinar, que se deveria incentivar no contexto das iniciativas de

excelência contemporâneas, pode esclarecer esse segredo da criação.

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