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© Biblica et Exegetica 2010

ELIAS E ELISEU, MISERICÓRDIA E JUÍZO:


Análises Exegéticas em 1 Reis 17.8-20 e 2 Reis 2.23-25
Tales A. Paranahiba

Elias e a viúva de Sarepta (1 Reis 17.8-20)


No século IX a.C o profeta Elias surge como um anônimo, sem lastro familiar,
social e político. Não há menção a seus ascendentes, o que não é comum em Israel. É
um tisbita, natural de Tisbé, cidade inexpressiva e desconhecida atualmente localizada
na região da Transjordânia, que pertencia à região de Gileade situada entre as tribos da
Transjordânia – Rúbem, Manassés e Gade.
A nação de Israel – composta por dez tribos do Norte – atravessava um período
de prosperidade e crescimento econômico. Onri (880-873 a.C), pai de Acabe, fundou
Samaria como capital do reino do Norte. Livrou a nação da instabilidade política
marcada por conspirações, chacinas e suicídio. Em menos de três anos houve dois reis
(Elá e Zinri) e uma divisão interna em que parte de Israel era governado por Onri e
outra parte por Tibni.
Há relevantes fontes extra-bíblicas que, além de corroborar a veracidade
histórica do reinado de Onri, certificam que seu governo teve repercussões
internacionais. Descobertas arqueológicas impingem que Onri foi um rei bem-sucedido,
cuja fama reverberou na Mesopotâmia. Uma inscrição gravada na Pedra Moabita (c. 830
a.C) registra que “Onri era rei de Israel e oprimiu Moabe por muitos dias”. Mais tarde,
inscrições assírias datadas de mais de cem anos após a morte de Onri mencionam-no.
Por exemplo, quando Jeú pagou tributo ao rei Samaneser III (859-824 a.C), sendo tal
fato gravado no Obelisco Negro, há o seguinte registro: “Jeú, filho de Onri”.
Por outro vértice, enquanto Onri era o ícone internacional de Israel, também
não deixava de ser o novo ícone da idolatria, sobrepujando o precursor do culto idólatra,
a saber, Jeroboão, que criou uma nova religião e construiu imagens e altares dedicados
ao culto idólatra e sincretista (1Re 16.25; 12.26-33).
Assim sendo, não obstante a prosperidade econômica e política, Israel
continuava atolada no lamaçal da idolatria, de forma que o estado espiritual da nação
era miserável, abominável e deplorável. Os adoradores do Deus invisível e glorioso que
não havia se revelado em figura ou forma alguma (Dt 4.15-20) tornaram-se resoluta e
acintosamente adoradores de bezerros e imagens humanas esdrúxulas!
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Acabe (873-853 a.C), o filho de Onri, sucedeu seu pai, e “fez muito mais para
irritar ao Senhor Deus de Israel, de todos os reis de Israel que foram antes dele” (16.33).
A começar por seu casamento, contraiu núpcias com uma mulher estrangeira e idólatra,
a famigerada Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios, com vistas a estreitar os laços
com os fenícios. Por conseguinte, Acabe tornou-se adorador devoto de Baal, o deus
cananita.
Há uma imagem que retrata Baal com um machado e um raio na mão. Outra
escultura mostra-o com uma espada e escudo. As imagens de Baal mostram-no como
um homem guerreiro, controlador do tempo, contudo, tem uma feição medonha,
asquerosa e macabra.
Baal, cujo significado é senhor, possuidor ou marido, é o grande deus dos
cananeus relacionado à fertilidade e à chuva. Sua esposa era Astarote. Aserá era
consorte de El, o deus-mor do panteão cananeu, sendo intitulada “a senhora que anda
sobre o mar”1 e “usufrui o título de qaniyatu elima “progenitora (ou criadora) dos
deuses. O seu filho mais famoso era Baal”2.
Os cultos cananeus eram caracterizados pela ubiqüidade dos altos e
promiscuidade. Os outeiros eram os locais apropriados para a adoração. Cada outeiro
poderia se tornar num local de adoração a Baal. Nos cultos havia muita orgia. Era uma
forma de representar o relacionamento sexual dos deuses, com o objetivo de alcançar a
fertilidade da terra e das criações.
Nesse contexto tenebroso, miserável e abominável aos olhos do nosso Senhor,
surge o profeta Elias, cuja primeira atividade profética consistira em predizer uma forte
seca. Essa profecia já denotava que seu ministério consistiria em se opor à idolatria e
ao baalismo, que era a religião oficial de Israel, e, como o próprio nome diz, cujo
principal ídolo era Baal, tendo como devotos o rei Acabe e sua esposa Jezabel.
Porquanto, a seca além de castigar o povo de Israel em conformidade com as maldições
elencadas em Dt 28.23,24, visava atacar o próprio Baal, que era reputado como
controlador do tempo e deus da fertilidade.
Assim sendo, o início do ministério de Elias revela seu precípuo mister
consistente em desafiar e derrotar Baal e seus adoradores. Não era uma tarefa fácil, pelo
contrário, sua vida corria perigo, seu cargo estava em extinção, pelo que Jezabel havia

1
DITAT, p. 136 e 137
2
idem
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destruído os profetas do Senhor. Para manterem-se vivos, os profetas do Senhor tinham


de esconderem-se. Por exemplo, Obadias, mordomo de Acabe, escondeu cem profetas
do Senhor, sustentando-os com pão e água.
Com efeito, o zênite do ministério de Elias é a clássica luta contra os profetas
de Baal (18.17-40). Para chegar lá Elias deveria ser preparado por Deus. Enfrentar a
idolatria, o próprio rei Acabe e a sanguinária e adoradora de Baal Jezabel demandariam
assaz preparo.
Após a intensificação da seca que culminou com o desaparecimento do ribeiro
onde Elias era alimentado miraculosamente pelo Senhor, Deus manda novamente Elias
ir a Sarepta, onde lhe seria proporcionado experiências significativas com o Senhor, que
capacitá-lo-ia para o grande confronto.
Elias recebera duas ordens inexoráveis e desafiadoras (17.3,9) que
manifestavam o controle absoluto e soberano do Senhor. Na primeira, Deus ordenou
aos corvos que sustentassem-no. Na segunda, Deus ordenou uma viúva que
sustentassem-no. Em ambas, Deus mandou Elias ir a lugares reservados: ribeiro junto
ao Jordão e casa de uma viúva em uma cidade sem muita expressão.
Essas duas ordens conexas demandaram muita fé e confiança de Elias. À
medida que Elias agisse segundo a palavra do Senhor, Deus cumpria sua promessa,
sustentando-o3.
O sustento de Elias pelos corvos já era uma demonstração clara e inequívoca
de que o Senhor sustentaria Elias. A imunda Jezabel sustentava os profetas de Baal,
sendo pior que os imundos corvos (Lv 11.15), pois estes, embora fossem imundos, eram
mais nobres que aquela, pois sustentavam um profeta de Deus. É como se Deus
dissesse-lhe: “Elias, seu ministério é árduo, sua função está em extinção, perante os
homens você não conseguirá cumprir essa nobre missão. Todavia, eu, o Senhor seu
Deus, perante cuja face você está, te sustento e te guardo. O teu sustento vem de mim e
não de homens. Por isso, não temas, fala e não te cales!”
Ainda assim, Elias necessitava de mais experiências com o Senhor a fim de
consolidar sua fé e prepará-lo para o grande desafio contra os profetas de Baal. De
forma que estas serão gozadas em Sarepta.

3
Tanto em 17.4 como em 17.9, a expressão “para te sustentar” é a tradução de ‫ְָך‬
‫ֶּל‬
‫ְכ‬‫ַל‬
‫ְכ‬‫ל‬
(infinitivo pilpel de ‫) כול‬
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Sarepta era uma cidade fenícia, que pertencia a Sidom, distando cerca de 13
km dessa famosa cidade, ficava numa região que era considerada localidade de Baal. A
propósito, Jezabel era de Sidom.
A ida a Sarepta era uma prova de fé. Elias teria de caminhar cerca de 160
km. Outrossim, a fome assolava aquela região. A propósito, Flávio Josefo cita que a
fome levou o rei de Tiro a estabelecer que se fizesse orações 4. Viúvas geralmente
precisavam ser sustentadas (Dt 14.28,29; 24.19-22), de forma que dificilmente teriam
condições de sustentar a si e seus órfãos, muito menos conseguiriam sustentar outros.
Mas Elias não hesitou. Confiou no Senhor. E Deus o sustentou
miraculosamente naquele lugar. Em Israel, Jezabel sustentava seus profetas. Mas,
próximo à cidade natal dela, o Rei de Israel, YHWH, sustentava seu profeta por meio de
uma mulher, viúva, pobre, mas rica em fé.
Champlim assevera que “através da maneira incomum de nutrir fisicamente o
profeta, Deus também estava nutrindo a fé de Elias, para feitos posteriores de força
espiritual.”5
A ida a Sarepta tinha propósitos específicos. Naquela época estava impregnada
na mente do povo a crença de que a influência dos deuses limitava-se a circunscrições
territoriais. Em virtude dessa heresia, Deus tencionou demonstrar que seu poder e
soberania não estão adstritos exclusivamente a um determinado território. Pelo
contrário, até em território “alheio pertencente a outro deus” ele tem poder e autoridade.
Ah, se a nação de Israel reconhecesse isso! (Sl 81.13-16; Is 48.18-19). Em Sarepta, o
Senhor preservou Elias dos riscos de perseguição e atentado perpetrados por Jezabel.
Além dessa edificante experiência, o Senhor ainda reservava para Elias mais
uma singular e rara experiência, a saber, a de ressuscitar o filho daquela viúva. Até
aquele dia não havia nenhum relato bíblico de que um morto tinha ressuscitado. A
oração de Elias para que o filho da viúva ressuscitasse revelava que ele estava absorto
pela fé em Deus; com efeito, estava na trilha de seu pai Abraão, o qual creu que Deus
poderia ressuscitar seu filho Isaque.
Por conseguinte, em Sarepta, Elias teve mais duas experiências sobrenaturais
que caracterizavam o cuidado do Senhor por Elias e o poder e a soberania de Deus.
Elias orou pela ressurreição do menino, e Deus atendeu. Em Sarepta a fé de Elias foi

4
Josefo, v. 3, 97
5
Champlim, p. 1434
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fortalecida e consolidada. Agora sim, o profeta estava preparado para se apresentar a


Acabe e Jezabel para aquele grande confronto. E Elias assim fez, foi a Acabe com
destemor, ousadia, intrepidez, desafiando os ídolos de Acabe e Jezabel.
Em Sarepta Deus provou a fé de Elias e o fortaleceu. De sorte que não havia
motivos para temer Jezabel e Acabe. Agora sim o profeta estava preparado para o
grande desafio e confronto com os falsos profetas de Baal.
No entanto, alguns detalhes dessa narrativa publicam a vergonhosa
decadência espiritual de Israel, e visam causar emulação em Israel.
Uma viúva pobre e estrangeira teve fé na palavra do profeta Elias, de modo que
foi usada por Deus para sustentar o profeta. Nesse ínterim, em Israel, a rainha Jezabel
sustentava os profetas de Baal (18.19). Aqueles a quem a palavra fora revelada, a quem
pertenciam as promessas, as alianças e os oráculos, não sustentavam o profeta, pelo
contrário, além de sustentar falsos profetas, perseguia os verdadeiros profetas.
Por outro vértice, uma viúva estrangeira reconhece a autoridade do profeta,
bem como de sua palavra, sendo oriunda do próprio YHWH. Depreende-se
inelutavelmente que a fé daquela viúva era incomparável em relação a Acabe e Jezabel.
Próximo da cidade natal de Jezabel, de onde se esperava mais uma adoradora
de Baal, Elias se depara com uma estrangeira que era viúva e pobre; esta, a seu turno, o
reconhece como profeta, crê na sua palavra, e, mesmo equivocadamente, reconhece que
o profeta de Deus pode trazer juízo sobre todo pecado, fazendo-o vir à tona. Que
exemplo! O que não havia no palácio da capital de Israel, surge na porta de uma
cidadezinha desconhecida. O que não havia na classe nobre dos israelitas, surge na
classe baixíssima dos sidônios: FÉ!
À medida que Elias e a viúva confiavam na palavra do Senhor, a fome era dava
lugar para o mantimento, a morte cedia em favor da vida! Ah, se a nação de Israel
reconhecesse isso! (Sl 81.13-16; Is 48.18-19).
Essa narrativa também teve o desiderato imediato e mediato de sustentar e
nutrir as convicções javistas dos profetas perseguidos e em extinção de YHWH.
Não obstante toda perseguição e hostilidade perpetrada pelo próprio rei de Israel e sua
esposa, Deus, o Rei dos reis, é o provedor e mantenedor da escola de profetas, da qual
Elias se destacava. A palavra de Deus na boca de Elias foi verdade, e na boca dos
profetas do Senhor subseqüentes também serão verdade (18.24)!
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Os profetas pós-exílicos também deveriam sempre confiar no Senhor e em Sua


palavra, a qual não falha.
Enfim, essa narrativa tem aplicações práticas, servindo especificamente para
combater o baalismo, e toda forma de idolatria subsequente, bem como para despertar a
fé do povo de Deus em todas as eras.

Eliseu e os jovens amaldiçoados (2 Reis 2.23-25)


Esse relato é um dos mais problemáticos do livro de Reis. Pelo simples fato de
alguém ser chamado de careca por alguns moços era necessário que fossem dilacerados
por ursas? Em meio às discussões da famigerada teologia do processo ou relacional,
advogada por Ricardo Gondim e companhia, outras perguntas podem ser ventiladas:
Eliseu agiu corretamente? O Deus de Eliseu é o mesmo Deus Pai de Jesus Cristo?
Eliseu, cujo nome significa Deus é salvação, aparece pela primeira vez em 1Re
19.16. Nesse trecho, Elias recebe a incumbência divina de ungir Eliseu para ser profeta.
E expressão seguinte (‫ ) תַּ חְתֶּ יָך‬é traduzida por todas as traduções como “em teu lugar”.
No entanto, a palavra hebraica pode ser traduzido por “sob tua autoridade”, de forma
que Eliseu não seria um mero sucessor de Elias, mas um discípulo formado “aos pés de”
Elias para, posteriormente, sucedê-lo.
Diferentemente de Elias, Eliseu possuía algum lastro familiar e social, não
sendo um anônimo. Seu pai chamava-se Safate. Residia em Abel-Meolá, localizada no
norte do vale do Jordão, próximo de Samaria. Trabalhava no campo próximo de seu pai.
Após receber o chamado de Elias, Eliseu seguiu Elias, estando a serviço de Elias como
mordomo. O verbo hebraico (‫ ) שרת‬em seu contexto denota que Eliseu largou seu ofício
de agricultor e tornou-se empregado de Elias, trabalhando para ele.
Depois desse chamado, o evento fenomenal, marcante e decisivo na vida de
Eliseu ocorre durante a ascensão de seu patrão e senhor Elias. Antes desse episódio, não
há registro de nenhum feito de Eliseu. É possível que seu trabalho consistisse em
aprendizado mediante observação e exercício de tarefas cotidianas.
Momentos antes de Elias se arrebatado, Eliseu não queria desgrudar de seu
senhor nem mesmo recebendo ordem em sentido contrário. Como Jacó que não queria
deixar o Anjo, Eliseu agarrou-se a Elias, porque queria uma bênção derradeira, com se
essa bênção fosse testamentária – impetrada pelo pai em favor do filho.
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Então, Eliseu seguiu Elias, passando por Gilgal, Betel e Jericó. À guisa de um
teste ou de um pedido sincero, Elias disse para Eliseu deixá-lo. Mas o servo fiel quis
acompanhar seu senhor, de forma que não agiu como Ofra, mas sim como Rute que não
deixou sua sogra Noemi.
A notícia do arrebatamento de Elias já era conhecida e comentada entre os
profetas de Betel e Jericó. A seu turno, Eliseu não tinha interesse nessa conversa, queria
sim acompanhar seu senhor.
Enfim, chega o grande dia. Os dois estão sós; eventos miraculosos acontecem.
Eliseu pede “porção dobrada do espírito de Elias sobre ele”. A expressão “porção
dobrada” é citada em Dt 21.17, que versa sobre o direito em dobro do primogênito.
Destarte, a expressão pode ser traduzida assim: “Faze de mim o principal herdeiro,
dando-me o direito de primogenitura”. Diferentemente de Esaú, Eliseu não despreza seu
direito de primogenitura.
Inicialmente, Elias reconhece a dificuldade do pedido. Talvez porque Elias
reconhecesse que competia a Deus e não a ele conceder tal direito. Seja o que for, Eliseu
recebe o direito de primogenitura de seu senhor, tendo tão-somente de ver seu senhor
ser arrebatado e separado dele. Enfim, Eliseu torna-se o principal herdeiro de Elias.
Após alguns milagres, Eliseu deixa Jericó e retorna a Betel, onde havia profetas
do Senhor.
Naquela cidade, uns rapazinhos zombavam de Eliseu e diziam: “sobe calvo;
sobe calvo”.
Betel significa casa de Deus. Essa cidade chamava-se Luz. Jacó chamou essa
cidade de Betel porquanto naquele lugar teve uma experiência marcante com a presença
do Senhor, que manifestou-lho por intermédio de sonhos. Mais tarde, o rei idólatra
Jeroboão colocou nessa cidade histórica um bezerro de ouro e constituiu sacerdotes para
o culto idólatra, tornando-se num centro abominável de idolatria.
Os rapazinhos (ARA e BJ), meninos (ACF e NVI), rapazes pequenos (ARC)
são traduções do hebraico: ‫ נְע ִָּרים ְק ַּטנִים‬. A palavra hebraica ‫ נְע ִָּרים‬pode significar desde
um infante até um jovem adulto guerreiro. A outra palavra pode significar ‫ְק ַּטנִים‬
pequeno ou sem importância.
Esses meninos são identificados como falsos profetas, filhos rebeldes que
deveriam ter sido mortos pelos pais (Dt 21.18). O texto, entretanto, não fornece bases
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para tais inferências6. Há quem prefira traduzir por homens jovens, não crianças
irresponsáveis, e tais rapazes queriam se ver livres do profeta e sua mensagem de
arrependimento e julgamento7
Contudo, a melhor tradução seria meninos, haja vista o adjetivo “pequeno “
que modifica o substantivo jovens.
Esses meninos, com seus dez a catorze anos provavelmente, não fizeram uma
mera provocação jocosa e circunstancial com a calvície do profeta. Também não
cometeram um ato infracional de menor potencial ofensivo, suscetível apenas de uma
singela repreensão. Pelo contrário, atentando para o texto, observa-se que os meninos
foram até o profeta para deliberadamente zombar dele ou desprezá-lo. De sorte que, não
foi um encontro casual, tudo fora premeditado e planejado.
O texto hebraico afirma que esses meninos ‫י ִתְ ַּקלְסּו־בֹו‬, zombavam entre si a
respeito dele. O verbo hebraico no grau hitpael denota a ideia de que aqueles meninos
caçoavam e zombavam entre si acerca de Eliseu, fazendo dele alvo de chacotas. Uma
falta de respeito e desprezo com a autoridade do profeta e até contra sua pessoa.
A lei do Senhor estabelece que as autoridades do povo devem ser respeitadas
(Ex 22.28). Eliseu era uma autoridade como profeta do Senhor. No entanto, a injúria
daqueles meninos consistia num gravíssimo desacato contra a pessoa e função do
profeta do Senhor. Em última instância o desprezo e zombaria era dirigido contra o
próprio Senhor Deus que investira Eliseu de autoridade.
A expressão “sobe calvo” é traduzida pela NVI como “suma daqui careca”, ao
passo que todas Almeidas traduzem como “Sobe, calvo! Sobe, calvo”, que é a tradução
literal. A NVI interpretou o texto, e a NTLH fez o mesmo. Chamar alguém de careca
poderia ser uma ofensa grave na medida em que assemelharia essa pessoa a um leproso
grave8. Com efeito, esse xingamento denota o absoluto e deliberado desrespeito contra o
homem de Deus. Aqueles meninos falaram duas vezes para Eliseu subir, como se o
lugar do profeta fosse nos montes onde seu senhor, Elias, habitava, e que ele não
deveria estar ali, importunando o culto idólatra de Betel. Outrossim, debocharam
daquele incidente em que soldados foram por duas vezes ordenar que Elias descesse do
monte, sendo consumidos pelo fogo. Isto é, desafiaram Eliseu, como se nada fosse
acontecer com aqueles meninos.

6
Champlim, p. 1476
7
Pfeiffer, v. 2, p. 174
8
Pfeiffer, v. 2, p. 175
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A consequência daquela atitude injuriosa, infame e debochada fez o profeta


amaldiçoar aqueles meninos em nome do Senhor. Eliseu estava nada mais nada menos
fazendo uma alusão à própria Lei do Senhor que elencava várias maldições contra os
blasfemos e desobedientes. Aliás, o verbo usado por Eliseu é o mesmo de Dt 27.13
(‫)קלל‬. Eliseu não proferiu uma maldição arbitrária, movida por capricho, imbuída de
ressentimento pessoal em virtude de ter sido chamado de careca. A maldição fora
proporcional ao desacato. A ofensa atingia Aquele que revestiu-o autoridade, o próprio
YHWH.
Da mesma forma que a mentira de Ananias e Safira não atingiu Pedro, mas o
Espírito do Senhor, A zombaria daqueles meninos ofendeu o Senhor e não Eliseu.
Por conseguinte, aqueles adolescentes não foram poupados. Esse juízo era uma
demonstração de que a ira de Deus não pouparia ninguém quando viesse contra a nação,
haja vista a gravidade do pecado do povo.
O pecado daqueles meninos era o reflexo da conduta de seus pais ante os
profetas do Senhor, desprezo e zombaria. Longe de ser uma ato de crueldade, aquele
incidente era uma manifestação do justo juízo de Deus que haveria de vir, caso a nação
não se arrependesse. Aqueles que exigiram que Elias descesse do monte foram
consumidos pelo fogo. Aqueles que mandaram Elias subir foram devorados pelas ursas.
O juízo de Deus estava em evidência e se manifestava por meio da palavra dos
profetas. Enfim, a palavra de Eliseu era verdade do Senhor quanto a palavra de Elias.
Assim sendo, esse evento era um alerta contra a nação pecadora, de modo que
a maldição proferida por Moisés e anunciada pelos profetas se cumpriria a qualquer
tempo.
Outrossim, Esse tipo de julgamento era necessário para corroborar, autenticar e
fortalecer o ministério de Eliseu. Faz parte da pedagogia de Deus em ocasiões
específicas executar juízos drásticos e imediatos, com vistas a resguardar sua santidade
e glória, de forma que as pessoas temam e reverenciem o santo nome do Senhor. Por
exemplo, Nadabe e Abiu, filhos de Arão foram fulminados instantaneamente. Uzá foi
fulminado por que estendeu a mão para a arca. Até no NT verifica-se semelhante
julgamento: Ananias e Safira, e Elimas, o encantador, amaldiçoado por Paulo. Em
ocasiões específicas Yahweh usa esse expediente drástico como forma de disciplinar o
rebelde, mas, sobretudo, autenticar a mensagem e fortalecer seu portador. Jesus deixou
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claro que os sinais serviriam para confirmar a palavra, e o poder miraculoso dos
apóstolos autentica a mensagem e o respectivo ministério (Mc 16 e 12Cor 12,11).
Portanto, ninguém deve ficar escandalizado com esse texto ou refutar sua
veracidade histórica. Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre. Juízos parciais
foram executados pelo Senhor tanto sob a antiga como sob a nova aliança, de modo que
serviram para vindicar sua glória, honra, santidade e poder. Tais juízos apontam para o
universal, grande e terrível dia da ira do Cordeiro (Apc 6.16).

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