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Cacaso - A Transgressão da poesia

Há exatos 20 anos morria Cacaso, ícone da chamada poesia marginal brasileira da década de 1970. Em Textos
Escolhidos, poemas, letras de música, ensaios, vida e obra. ( Leia completo)

Cacaso, um marginal transgressor

Gilfrancisco Santos

O poeta Charles, em artigo publicado no Jornal do Brasil, em 1986, disse que a "literatura marginal" escrita nos anos 70
está balizada por duas mortes: a de Torquato Neto ("e vivo tranqüilamente todas as horas do fim"), que marca o
melancólico início, e a de Ana Cristina César ("Estou muito concentrada no meu pânico"), que chama a atenção para o gran
finale de sua geração.

Nos anos de chumbo, período da ditadura militar instaurada a partir de 1964, surgiu uma geração de poetas que ficou
conhecida pelo nome de "geração mimeógrafo" ou "geração marginal." Geração mimeógrafo pela característica de produzir
suas obras: edições independentes, de baixo custo, comercializado em circuitos alternativos, gerada de mão em mãos –
particularmente em bares e universidades. Nesse contexto de ditadura e desbunde é que surgiu o poeta Cacaso.

Antonio Carlos de Brito, ou Cacaso, nasceu em 13 de março de 1944, Uberaba (MG), professor universitário, letrista e
poeta. Depois de viver no interior de São Paulo, mudou-se aos onze anos para o Rio de Janeiro, onde estudou Filosofia
e, na década de 1970, lecionou Teoria da Literatura e Literatura Brasileira na PUC-RJ. Foi colaborador regular de
revistas e jornais, como Opinião e Movimento, tendo, entre outros assuntos, defendido e teorizado acerca do cenário
poético de seus contemporâneos, a geração mimeógrafo, criadores da dita poesia marginal, que ganhou publicidade com a
antologia 26 Poetas Hoje, organizada por Heloisa Buarque de Holanda.

Como poeta estreou em 1967 com A Palavra Cerzida, livro ainda tímido mas dentro dos padrões literários do momento,
que foi recebido com entusiasmo pelo crítico José Guilherme Merquior. Em 1974, lança Grupo Escolar (mostrando um
poeta em busca de novos caminhos, identificado com o grupo) pela Coleção Frenesi, composta também dos livros
Passatempo, de Francisco Alvim, Corações Veteranos, de Roberto Schwarz, Em busca do sete-estalo, de Geraldo
Carneiro e Motor, de João Carlos Pádua. Cacaso une-se então a outros poetas, como Eudoro Augusto, Carlos
Saldanha e Chacal, formando a coleção Vida de Artista, pela qual lançou Segunda Classe, 1975 (em parceria com Luiz
Olavo Fontes) e Beijo na boca (1975), aos quais se seguiram Na Corda bamba (1978), Mar de mineiro (1982) e Beijo na
boca e outros poemas que reunia toda obra até 1985.

Lero-lero, publicado em 2002 pelas editoras Cosac & Naify (SP) e 7 Letras (RJ) que se associaram para lançar o livro,
primeiro título da coleção Ás de Colete. A edição de suas obras completas veio propiciar a recuperação do trabalho de um
bom poeta que estava sendo injustamente esquecido. Lero-lero apresenta sua produção de trás para frente, à moda de
João Cabral de Melo Neto em Museu de tudo, quer dizer, inicia com seu último livro Mar Mineiro e vai voltando no
tempo até Palavra Cerzida, seu primeiro livro, para fechar com alguns poemas inéditos e dispersos. Traz ainda uma
bibliografia subdividida em poesia, crítica, resenhas, artigos, ensaios, entrevistas e um brinde simpático: um exemplar,
aos moldes da produção de época, do livrinho Na Corda Bamba, lançado originalmente no Rio de Janeiro em 1978.

Não quero Prosa, publicado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/Ed. Unicamp, 1997, reorganizado e
apresentado pela professora e escritora Vilma Arêas, que optou por substituir a cronologia pelo assunto, reúne boa
parte de sua produção ensaística, selecionada e batizada pelo próprio autor, pouco antes de sua morte em 1987. Dividido
em sete partes: Entrevistas; Bate-Papo sobre Poesia Marginal; Você sabe com quem está falando?; Literatura e Vida
Literária; Pelo que me falaram; Lição dos Mestres; O Poeta dos outros.
O livro de ensaios demonstra agudo senso de análise ao se debruçar sobre a poesia brasileira, inclusive a sua
contemporânea, inserindo-se, com isso, na linhagem moderna dos poetas-críticos. Cacaso revela através desses
ensaios, como por exemplo: o engajamento político-literário que jurava fidelidade ao engajamento existencial.

Marginais ou Magistrais?

Cacaso era um poeta integral e um grande articulista da poesia marginal. Escrevia com humor e graça, seus ensaios nos
surpreendiam. Fiel escudeiro em todas as situações: como poeta, como professor, como letrista, como amigo. O encontrei
com os músicos Gereba e Fábio Paes, perdido nos sertões baianos, nos confins de Canudos, terra do beato Antônio
Conselheiro, palco da guerra nos fins do século XIX. Foi justamente em outubro de 1987 durante a realização da Quarta
Missa de Canudos – resistência do povo, noventa anos depois.

O escritor Roberto Schwarz, como bom caricaturista, pinçou bem os traços do nosso jovem poeta: "A estampa de Cacaso
era rigorosamente 68: cabeludo, óculos John Lennon, sandálias, paletó vestido em cima de camisa de meia, sacola de
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couro. Nunca dele, entretanto, esses apetrechos de rebeldia vinham impregnados de outra conotação mais remota.
Sendo um cavalheiro de masculinidade ostensiva, usava a sandália com meia soquete branca, exatamente como era
obrigado no jardim-de-infância. A sua bolsa à tiracolo fazia pensar numa lancheira, o cabelo comprido lembrava a idade
dos cachinhos, os óculos de vovó pareciam dele e o paletó, que emprestava um decoro meio duvidoso ao conjunto,
também".

Já falecido há 20 anos, Cacaso não desapareceu do nosso panorama poético. Sua presença na década de 1970/1980
continua sendo uma forte referência para os poetas da geração 1980/1990. Cacaso tornou-se um dos ícones da poesia
marginal, muito embora o rótulo não seja mais preciso para demarcar todas as camadas que se tornou o solo em que sua
poesia floresceu. Antecipou o boom dos versos dos anos 90 (poetas-professores), que contribuiu para sinalizar
características gerais dessa geração. Através dessa tendência, Cacaso soluciona no desenvolvimento de sua poética,
equalizando as relações entre poesia e vida, cotidiano e linguagem, tradição e contemporaneidade, ao apontar para
caminhos estilísticos diversos.

Sua obra possui uma outra característica comum à poesia dos anos 90, como bem demonstram as letras claras e
inventivas de suas parcerias: Cacaso foi parceiro de Sueli Costa, Edu Lobo, Djavan, Francis Hime, Toquinho, Toninho
Horta, Sivuca, Danilo Caymmi, Elton Medeiros, Nelson Ângelo, Joyce, Mauricio Tapajós e outros. Na verdade, os malditos
sempre estiveram na corda bamba, partiram rápidos como a vida: Torquato Neto, Tite de Lemos, Ana Cristina César,
Paulo Leminski, Waly Salomão. Cacaso faleceu no Rio de Janeiro em 27 de dezembro de 1987, aos 43 anos, vítima de
um enfarte.

Publicado originalmente em www.revistaetcetera.com.br)

Sobre o autor : Gilfrancisco é jornalista, escritor, pesquisador e professor universitário. Publicou, dentre outros livros, "
Gregório de Mattos o boca de todos os santos", e " Crônicas e poemas escolhidos de Sosígenes Costa.

1) imagens I

Para evitar malentendidos


digamos desde já que nos amamos.

2) happy end

o meu amor e eu
nascemos um para o outro

agora só falta quem nos apresente

3) ah!

Ah se pelo menos o pensamento não sangrasse!


Ah se pelo menos o coração não tivesse
[memória!
Como seria menos linda e mais suave
minha história!

4) lar doce lar

p/ Maurício Maestro

Minha pátria é minha infância:


Por isso vivo no exílio.

De Na Corda Bamba (1978)

5) táxi

O poeta passa de táxi em qualquer canto e lá vê


o amante da empregada doméstica sussurrar
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em seu pescoço qualquer podridão deste universo.

Como será o amor das pessoas rudes?


O poeta não se conforma de não conhecer
todas as formas da delicadeza.

6) estilos trocados

Meu futuro amor passeia - literalmente - nos


píncaros daquela nuvem.
Mas na hora de levar o tombo advinha quem cai.

7) sonata

ecos daquele amor ressonam profundamente


e cada vez mais leves absurdas pancadas deu no
que deu minha memória relata
escorrego para dentro dos decotes dela

8) se porém fosse portanto

Se trezentos fosse trinta


o fracasso era um portento
se bobeira fosse finta
e o pecado sacramento
se cuíca fosse banjo
água fresca era absinto
se centauro fosse anjo
e atalho labirinto
Se pernil fosse presunto
armadilha era ornamento
se rochedo fosse vento
cabra vivo era defunto
se porém fosse portanto
vinho branco era tinto
se marreco fosse pinto
alegria era quebranto
se projeto fosse planta
simpatia era instrumento
se almoço fosse janta
e descuido fosse tento
se punhado fosse penca
se duzentos fosse vinte
se tulipa fosse avenca
e assistente fosse ouvinte
se pudim fosse polenta
se São Bento fosse santo
dona Benta fosse benta
e o capeta sacrossanto
se a dezena fosse um cento
se cutia fosse anta
se São Bento fosse bento
e dona Benta fosse santa

9) poema

Trago comigo um retrato

que me carrega com ele bem antes

de o possuir bem depois de o ter perdido.


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Toda felicidade é memória e projeto.

10) indefinição

pois assim é a poesia:


esta chama tão distante mas tão perto de
estar fria.

11) história natural

Meu filho agora


ainda não completou três anos.
O rosto dele é bonito e os seus olhos repõem
muita coisa da mãe dele e um pouco
de minha mãe.
Sem alfabeto o sangue relata
as formas de relatar: a carne desdobra a carne
mas penso:
que memória me pensará?
Vejo meu filho respirando e absurdamente
imagino
como será a América Latina no futuro.

12) e com vocês a modernidade

Meu verso é profundamente romântico.


Choram cavaquinhos luares se derramam e vai
por aí a longa sombra de rumores e ciganos.

Ai que saudade que tenho de meus negros verdes


anos!

13) estações

Do corpo de meu amor


exala um cheiro bem forte.
Será a primavera nascendo?

14) alquimia sensual

Tirante meus olhos e mãos


quero me transformar em seu corpo
com toda nudez experiente
do passado e do presente

E naquela noite
entre suspiros
terei aguardado a hora incrível
de tirar o sutiã

15) busto renascentista

Quem vê minha namorada vestida


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nem de longe imagina o corpo que ela tem
sua barriga é a praça onde guerreiros
[se reconciliam
delicadamente seus seios narram
[façanhas inenarráveis
em versos como estes e quem
diria ser possuidora de tão belas omoplatas?

feliz de mim que freqüento amiúde e quando posso


a buceta dela

Poesia Marginal, anos 70

Gilfrancisco Santos ( Jornalista )

Exaurido o ciclo das vanguardas e instaurado o ciclo repressivo político e ideológico, só nos resta, à poesia brasileira, o
espaço marginal da produção alternativa. Estávamos no início dos anos 70, quando um enorme e heterogêneo
contingente de poetas investiu – usando como armas os seus versos – contra o sufoco da censura e repressão
implantadas no Brasil a partir de 1964. Por que marginal? Didaticamente explicando, era porque, nessa época, os
autores que não eram muitos conhecidos, não tinham seus textos publicados pelas grandes editoras. Eram eles mesmos
que produziam seus textos e arrumavam uma forma de divulgá-los. Por isso, são conhecidos como poetas marginais e
sua poesia, a poesia marginal. Muitos foram os poetas marginais dos anos setenta que se tornaram grandes letristas da
música popular brasileira – MPB: Jorge Mautner (1941); Torquato Neto (1944-1972); Waly Salomão (1944-2003); Antônio
Carlos Brito - Cacaso (1944-1988); Charles 1948); Chacal (1951); Geraldo Carneiro (1952); Antônio Risério (1953); Tite
de Lemos; Ronaldo Santos; Ronaldo Bastos, Bernardo Vilhena (1949) dentre outros. O termo marginal vulgarizou-se no
universo lingüístico brasileiro a partir da década de 50, quando os planos desenvolvimentistas geraram uma consciência
eufórica do progresso. Acreditava-se na transformação rápida de um país subdesenvolvido numa nação de alto nível
capitalista. Nos anos setenta, a palavra marginal associou-se à produção artística, principalmente literária, ultrapassando
tanto o seu significado pejorativo, quanto econômico. A poesia marginal abriu um novo e vasto campo para a investigação
literária, uma poética com textura gramatical complexa e eficiente. Por outro lado, não é possível conceituar a "poesia
marginal" sem efetuar um estudo dos temas, cuja rede a construiu. Ela trouxe, sem dúvida, a abertura, sensualizou o
amor, erotizou o poema e falou claro sobre o que antes era velado e submerso na cena do sonho, ou seja,
escandalizou. Durante os anos setenta, especificamente na Bahia e no Rio de Janeiro, o artigo do dia era poesia: nos
bares da moda, nas portas de teatros, nos corredores das universidades, nos lançamentos, livrinhos circulam e se
esgotam com rapidez. Alguns mimeografados, outros em xerox ou impressos em antigas tipografias suburbanas,
raríssimos em offset, romperam o bloqueio das editoras aos novos escritores, em especial aos poetas; imprimindo em
matrizes a sua poesia e depois as vendendo em praças públicas, elaborando um produto graficamente pobre, simples,
cujo raio de ação, raras vezes, ultrapassava o ambiente onde foi confeccionado. Ela é "marginal" na medida em que
essas condições, bem como sua distribuição, era feita à margem da política editorial vigente, visto que a própria precariedade
de sua produção a liberta do quadro alienante e dominador da cultura oficial. Desta forma, devemos destacar que este
grau de artesania é de suma importância, pois valoriza a relação autor-leitor através da obra, que se transforma não
apenas em veículo mas em objeto lúdico da obra de arte. Os anos de 1975-1976 no Rio, foram especialmente
marcados por uma série de acontecimentos; de uma maneira ou de outra, relacionados com a produção literária, por
exemplo: o número de livros de poesias alternativos lançados era bastante elevando bem como era curto o espaço de
tempo entre um lançamento e outro. De certa maneira esse boom poderia ser explicado pelo autoritarismo vigente que,
limitando a participação dos jovens na vida política, deixando-lhe aberta apenas a porta da literatura para onde foram
canalizados os anseios, os traumas e as verdades de toda uma geração reprimida pelo poderio militar. Do ponto de vista
estético, as inovações dos "marginais", produtores intelectuais de editoração, limita-se ao anticonvencionalismo gráfico.
Nela, estariam circunscritos os inúmeros textos da vanguarda, como recusa de uma linguagem do poder. Mas, tudo
isso, Waly Sallormoon e Torquato Neto já anunciavam a virada do formalismo experimental, quando publicaram : Me
Segura qu’eu, vou dar um troço, 1972, e Os últimos dias de Paupéria, 1973, para a nova produção poética de caráter
informal. Durante quase toda a década, houve inúmeras publicações em grupo ou separadamente: Navilouca, Qorpo
Estranho, Polém, Pipa, Código, Muda, José, Anima, Gandaia, Escrita, Ficção, Desafio, Paralelo, Pólo Cultural, O Saco,
Inéditos, Flor do Mal, GAM, Presença, Malasarte, Alguma Poesia, Intercâmbio, Graúna, Garatuja, Almanaque Biotônico
Vitalidade, etc. Portanto, a editoração marginal ou independente continua a existir num país como o nosso, enfrentando
todas as possíveis dificuldades, o escritor queira ou não, é sempre um marginal. Temos aqui a marginalidade editoria, a
que se refere Heloisa Buarque de Holanda. Grupo como Frenesi, da PUC, reunia professores e alunos, gente de duas
gerações, uma, cuja trajetória se encontrava em melhor situação que o pessoal da "geração mimeógrafo" em termos de
prestígio intelectual. O lançamento da coleção ocorreu em outubro de 1974, reunindo cinco trabalhos de autores diferentes:
Corações Veteranos, Roberto Schwarz; Passatempo, Francisco Alvim; Grupo Escolar, Antonio Carlos de Brito (Cacaso);
Na busca do sete-estalo, Geraldo Eduardo Carneiro; e Motor, João Carlos Pádua (textos e Bita, fotos). Nuvem Cigana,
grupo originário da Escola de Comunicação, é talvez o que conseguiu mais notoriedade em virtude de se encontrar mais
bem equipado e de ter tido também a maior permanência no tempo. Além de reunir uma grande diversidade de
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atividades (poetas, músicos, arquitetos, desenhistas) e até mesmo um bloco de Carnaval: o Charme da Simpatia.
Faziam parte do grupo: Charles, Creme de lua, Perpétuo Socorro, Coração de Cavalo; Chacal, Quampérios, Olhos
vermelhos, Nariz Aniz, Boca Roxa; Ronaldo Bastos, Canção de Búzios; Guilherme Mandaro, Hotel de Deus; Bernardo
Vilhena, Atualidades Atlânticas, era editor das revistas Ponte e Malasartes; Ronaldo Santos, Vau Talvegue, 14 bis. Ao
contrário dos outros grupos, que se caracterizam por reunir conjuntos bastante específicos de produtores, a coleção
"Vida de Artistas" (1974-1975), agrupa pessoas diferentes e que se encontraram em meio a toda a movimentação e a
conseqüente discussão do fenômeno da "poesia marginal", desta forma vão estar presentes poetas como: Cacaso, Beijo na
Boca, Segunda Classe (com Luís Olavo); Eudoro Augusto, A vida alheia; Luís Olavo Fontes, Prato Feito; Chacal,
América; Carlos Saldanha, Aqueles papéis. É neste clima de repressão de "desbunde", de questionamento do próprio
pensamento de "esquerda", de desarticulação da vida universitária e do movimento estudantil, é que surge Folha de
Rosto, na Faculdade de Letras da UFRJ. Basicamente, o núcleo do grupo era formado pelo baiano Claudius Portugal
(criador da marca), Adauto de Souza Santos, César Cardoso e Maria Parulla, que em setembro de 1975, editam a
revista Assim, onde reunia textos teóricos sobre literatura, poemas, contos e entrevistas. Traz colaboradores como: Luis
Soares Dulci, José Castelo, Sandra Castelo Branco, Severino Méier, Durval de Barros, além de seus organizadores.
Boa parte desses colaboradores vai aparecer na antologia Folha de Rosto. Ainda neste ano, o poeta Claudius Portugal
lança seu primeiro livro Konfa & Marafona (Carta à Família) – contos, com prefácio de Heloisa Buarque de Holanda. Deste
livro, deveria participar Adauto, mas, no entanto, problemas surgiram durante sua impressão, impossibilitando a idéia
inicial do projeto, em reunir contos e poemas. O livro de Adauto foi editado posteriormente, alguns meses depois,
precisamente em novembro e se intitulava Konfa & Marafona II, com subtítulo de (Urbanóide). A publicação seguinte a
aparecer foi à antologia Folha de Rosto, em 1976, que vinha novamente reunir estas mesmas pessoas da Faculdade de
Letras, além de outras a elas ligadas. O último trabalho do grupo, ainda pelo selo Folha de Rosto é o livro que
Claudius publicaria nesse mesmo ano, Em Mãos, esse agora de poemas, acompanhado de desenhos e algumas fotos.

( Fonte : http://www.jornaldacidade.net/noticia.php?id=44833&PHPSESSID=118879af278fcc88a9b0fb556efd1e62)

16) capa e espada

meu amor sentindo-se incapaz de ser amada


levanta herméticos escudos e duendes a qualquer
dádiva
que de mim — ai de mim! — possa brotar

nada mais ameaçador que os olhos do amor

17) estilos de época

Havia
os irmãos Concretos
H. e A. consanguíneos
e por afinidade D.P.,
um trio bem informado:
dado é a palavra dado
E foi assim que a poesia
deu lugar à tautologia
(e ao elogio à coisa dada)
em sutil lance de dados:
se o triângulo é concreto
já sabemos: tem 3 lados.

18) poética

Alguma palavra,
este cavalo que me vestia como um cetro,
algum vômito tardio modela o verso.

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Certa forma se conhece nas infinitas,
a fauna guerreira, a lua fria
encrustada na fria atenção.

Onde era nuvem


sabemos a geometria da alma, a vontade
consumida em pó e devaneio.
E recuamos sempre, petrificados,
com a metafísica
nos dentes: o feto
fixado
entre a náusea e o lençol.

Meu poema me contempla horrorizado.

19) surdina

Primeiro o Tenório Jr.


que sumiu na Argentina
Depois quando perigava
onze e meia da matina
veio a notícia fatal:
faleceu Ellis Regina!
Um arrepio gelado
um frio de cocaína!
A morte espreita calada
na dobra de uma esquina
rodando a sua matraca
tocando a sua buzina
Isso tudo sem falar
na morte do velho Vina!
E agora é Clara Nunes
que morre ainda menina!
É demais! Que sina!
A melhor prata da casa
o ouro melhor da mina
Que Deus proteja de perto
a minha mãe Clementina!
Lá vai a morte afinando
o coro que desafina...
Se desse tempo eu falava
do salto da Ana Cristina.

20) há uma gota de sangue no cartão postal

eu sou manhoso eu sou brasileiro


finjo que vou mas não vou minha janela é
a moldura do luar do sertão
a verde mata nos olhos verdes da mulata

sou brasileiro e manhoso por isso dentro


da noite e de meu quarto fico cismando na beira
de um rio
na imensa solidão de latidos e araras
lívido
de medo e de amor

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21) ex (3)

A minha ex-namorada
inundou minha vida de coisas belas demais
evitava que eu tivesse qualquer aborrecimento
impedia que eu saísse no sereno
me conduzia pela mão ao atravessar a rua
velava enternecida pelo meu futuro
a minha ex-namorada usurpou o lugar
onde floria, exuberante, a esposa atual
de meu pai onipresente
De Beijo na Boca (1975)

22) florais I

Minha terra tem palmeiras


onde canta o tico-tico.
Enquanto isso o sabiá
vive comendo o meu fubá.

Ficou moderno o Brasil


ficou moderno o milagre:
a água já não vira vinho,
vira direto vinagre.

23) cinema mudo IV

Neste retrato de noivado divulgamos


os nossos corpos solteiros.
Na hierarquia dos sexos, transparente,
escorrego
para o passado.
Na falta de quem nos olhe
vamos ficando perfeitos e belos
tão belos e tão perfeitos
como a tarde quando pressente
as glândulas aéreas da noite.

De Grupo Escolar (1974)

24) infância (2)

Eu matei minha saudade mas depois


veio outra

De Mar de Mineiro (1982)

25) canção do exílio facilitada

lá?
ah!
sabiá...
papá...
maná...
sofá...
sinhá...

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cá?
bah!

26) descartes

Não há
no mundo nada
mais bem
distribuído do que a
razão: até quem não tem tem
um pouquinho

27) fatalidade

A mulher madura viceja


nos seios de treze anos de certa menina morena.
Amantes fidelíssimos se matarão em duelo
crepúsculos desfilarão em posição de sentido
o sol será destronado e durante séculos violas plangentes
farão assembléias de emergência.

Tudo isso já vejo nuns seios arrebitados


de primeira comunhão.

28) quem de dentro de si não sai vai morrer sem amar ninguém

A parte perguntou para a parte qual delas


é menos parte da parte que se descarte.
Pois pasmem: a parte respondeu para a parte
que a parte que é mais — ou menos — parte
é aquela que se reparte.

29) passeio no bosque

o canivete na mão não deixa


marcas no tronco da goiabeira
cicatrizes não se transferem

30) madrigal para um amor

Luz da Noite Lis da Noite


meu destino é te adorar.

Serei cavalo marinho


quando a lua semi fátua
emergir de meu canteiro
e tu tiveres saído
em meus trajes de luar.

Serei concha privativa,


turmalina, carruagem,
Mas só se tu, Luz da Noite,
teu delírio nesta margem
já quiseres desaguar.

(Não te faças tão ingrata


meu bem! Quedo ferido
e meus olhos são cantatas
que suplicam não me mates
em adunco anzol de prata!)

E quanto nós nos amamos


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em nossa vítrea viagem
de geada e de serragem
pelo meio continente!

Luz da Noite Lis da Noite


meu destino é te seguir.

Meu inábil clavicórdio


soluça pela raiz,
e já pareces tão farta
que nem sequer onde filtra
meu lado bom te conduz:
Minha amiga vou fremindo
embebido em tua luz.

Rio, 1964.

Letras de Música

1) A fonte(Nelson Angelo e Cacaso)

Fonte da saudade
toda essa água tão limpinha
toda canção que ninguém fez
coisa sem porquê e sem destino
não avisa quando vem
quando vai...
passou a vida inteira
a fonte não secou
pra que lugar, me diga
foi o meu amor, ah!
passou a noite inteira
essa noite serenou
o meu bem dormiu comigo
e a gente acordou
fonte da saudade
onde deságua tão limpinha
toda canção
que ninguém fez
coisa sem porquê e sem destino
não avisa quando vem
quando vai
deságua...

2) Amor amor(Sueli Costa e Cacaso)

quando o mar
quando o mar tem mais segredo
não é quando ele se agita
nem é quando é tempestade
nem é quando é ventania
quando o mar tem mais segredo
é quando é calmaria

quando o amor
quando o amor tem mais perigo
não é quando ele se arrisca
nem é quando ele se ausenta
nem quando eu me desespero
quando o amor tem mais perigo
é quando ele é sincero

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3) As labaredas(Sueli Costa e Cacaso)

tenho cara de casada


tenho corpo de solteira
vou pela noite estrelada
do meu Rio de Janeiro
tocar cuíca no inferno
e no céu tocar pandeiro
tocar cuíca no inferno
e no céu tocar pandeiro

as labaredas do bem
as labaredas do mal
eu só tiro a fantasia
nos dias de carnaval

tenho cara de casada


tenho corpo de solteira
vou pela noite estrelada
do meu Rio de Janeiro
tocar cuíca no inferno
e no céu tocar pandeiro
tocar cuíca no inferno
e no céu tocar pandeiro

4) Ave(Nelson Angelo e Cacaso)

Sei, muitas vezes ou aéreo


mas levo muito a sério
as razões do coração
sei que é difícil ser sincero
às vezes eu te quero
às vezes não sei não
ando tão pobre de carinho
revendo os caminhos
passando a solidão
passa, nem tudo dá no mesmo
ainda agora mesmo
não sei se pode ser
sei, você é tão suave
é a sombra de uma ave
deslizando pelo chão
sei, não sei se já é tarde
a flor da sua idade
é tanta sedução
sabe, até andei pensando
quem sabe até quando
quem sabe até por que
olha, não deixa eu ser covarde
eu dei dessa verdade
eu gosto de você
eu sei

5) Ave de arribação(Nelson Angelo e Cacaso)

Aeronave do céu
estrela guia tão só
constelação sideral
navegar feito nau
ave de arribação
asas da migração
asas da viração
asas da imensidão
asas pra voar
no azul do céu
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no céu azul-marinho
azul-azul
azul da cor da terra
espaço azul
vou aprender flutuar
feito flutua balão
para poder viajar
navegar feito nau
ave de arribação
asas de um planador
asas de um condor
asas de um sonhador...

6) Barra do dia(Nelson Angelo e Cacaso)

barra do dia é amanhã


sangue vertido é paixão
pera vermelha é maçã
laranja azeda é limão

vou de adeus em adeus


atrás de nova ilusão
amores que foram meus
agora de quem serão

7) Carioca da gema(Nelson Angelo e Cacaso)

eu sou do Rio de Janeiro


sou do país do carnaval
eu sol do sol de fevereiro
eu gosto é de calor
eu gosto é de uma cor morena

quebra morena
requebra os quadris faceira
quebra morena de quebra as cadeiras
a lua de Paquetá
o cais da Praça Mauá
na Cinelândia o "Amarelinho"
a pedra do Arpoador
o Cristo Redentor
o Pão-de-Açúcar e seu bondinho

eu sou do Rio de Janeiro


sou do país da enrolação
eu bato ponto no terreiro
São Cosme e São Damião
corrida no calçadão, ligeiro

quebra morena
requebra os quadris sem pena
rouba morena de quebra toda cena

a dama do lotação
a fila do orelhão
a todo mundo vai se ajeitando
cascata de camelô
a confusão do metrô
finjo que vou
mas não vou levando

eu sou do Rio de Janeiro


sou do país da inflação
sou rubro-negra do Salgueiro
da Glória ao baixo-Leblon
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eu vou pegando meu tom maneiro

quebra morena
requebra os quadris quebrados
leva morena de quebra
meus trocados

sou cheia de encantos mil


no coração do Brasil
cidade maravilhosa e cara
sou carioca da gema
garota de Ipanema
eu sou baiana da Guanabara
eu sou do Rio de Janeiro

8) Cinema antigo(Sueli Costa e Cacaso)

Se eu pudesse escolher o seu desejo


Eu queria renascer no seu amor
Todo dia pra você, todo dia só pra mim
Nosso dia vai durar eternamente
Quero apenas a promessa do seu beijo
Quero apenas um vintém do seu amor
E sonhar os sonhos seus
Dar adeus a todo adeus
Sem fantasia, um tempo só, um dia

9) Conta redonda(Nelson Angelo e Cacaso)

Morena minha virtude foi tentar


abdiquei desaprendi tramei
mas na hora de tirar a conclusão
na hora a bola bateu no travessão
morena fiz o que pude pra acertar
multipliquei, subtraí, somei
mas na hora de fazer a divisão
não dava conta redonda nem fração
que pena minha pequena
mas a vida tem dessas cenas
e problemas
nunca vi blefe maior
tem muita exceção na sua lei
e pouco peixe na maré
se eu entrar na sua regra
eu me sinto muito a pé
com sinceridade vem morena

10) De uma vez por todas(Nelson Angelo e Cacaso)

Mais uma vez


última vez
agora é pra valer
eu já tentei
acreditei
fiz o que pude fazer
vem me dizer
se você vem outra vez
ou não
última vez
quem sabe amanhã
não mais seremos ninguém
de uma vez
perdidos pra sempre de nós
não há nada a temer
é só querer outra vez
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11) Dentro de mim mora um anjo

Quem me vê assim cantando


Não sabe nada de mim
Dentro de mim mora um anjo
Que tem a boca pintada
Que tem as unhas pintadas
Que tem as asas pintadas
Que passa horas a fio
No espelho do tocador

Dentro de mim mora um anjo


Que me sufoca de amor
Dentro de mim mora um anjo
Montado sobre um cavalo
Que ele sangra de espora
Ele é meu lado de dentro
Eu sou seu lado de fora

Quem me vê assim cantando


Não sabe nada de mim
Dentro de mim mora um anjo
Que arrasta suas medalhas
E que batuca pandeiro
Que me prendeu em seus laços
Mas que é meu prisioneiro
Acho que é colombina
Acho que é bailarina
Acho que é brasileiro

12) Face a face(Sueli Costa e Cacaso)

São as trapaças da sorte, são as graças da paixão


Pra se combinar comigo tem que ter opinião
São as desgraças da sorte, são as traças da paixão
Quem quiser casar comigo tem que ter bom coração
Morena quando repenso o nosso sonho fagueiro
O céu estava tão denso, o inverno tão passageiro
Uma certeza me nasce, e abole todo o meu zelo
Quando me vi face a face fitava o meu pesadelo
Estava cego o apelo, estava solto o impasse
Sofrendo nosso desvelo, perdendo no desenlace
No rolo feito um novelo, até o fim do degelo
Até que a morte me abrace
São as desgraças da sorte, são as traças da paixão
Quem quiser casar comigo tem que ter bom coração
São as trapaças da sorte, são as graças da paixão
Pra se combinar comigo tem que ter opinião

Morena quando relembro aquele céu escarlate


Mal começava dezembro, já ia longe o combate
Uma lambada me bole, uma certeza me abate
A dor querendo que eu morra, o amor querendo que eu mate
Estava solta a cachorra que mete o dente e não late
No meio daquela zorra, perdendo no desempate
Girando feito piorra, até que a mágoa escorra

Até que a raiva desate


São as trapaças da sorte, são as graças da paixão
Pra se combinar comigo tem que ter opinião
São as desgraças da sorte, são as traças da paixão
Quem quiser casar comigo tem que ter bom coração
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13) Feito mistério(Lourenço Baêta e Cacaso)

Então
senti que o resumo
é de cada um
que todo rumo
deságua em lugar comum
então eu monto num cavalo
que me leva a Teerã
e não me perco jamais
quando desespero vejo muito mais
Essa canção me rói, feito um mistério
essa tristeza dói
meu fingimento é sério
como aéreo é sempre todo amor

14) Lero lero(Edu Lobo e Cacaso)

Sou brasileiro
de estatura mediana
gosto muito de fulana
mas sicrana é quem me quer
porque no amor
quem perde quase sempre ganha
veja só que coisa estranha
saia dessa se puder

Eu sou poeta
e não nego minha raça
faço verso por pirraça
e também por precisão
de pé quebrado
verso branco rima rica
negaceio dou a dica
tenho a minha solução

Não guardo mágoa


não blasfemo não pondero
não tolero lero-lero
devo nada pra ninguém
sou esforçado
minha vida levo a muque
do batente pro batuque
faço como me convém
Sou brasileiro
tatu-peba taturana
bom de bola ruim de grana
tabuada sei de cor
4x7
28 noves fora
ou a onça me devora
ou no fim vou rir melhor

Não entro em rifa


não adoço não tempero
não remarco o marco zero
se falei não volto atrás
por onde passo
deixo rastro deito fama
desarrumo toda trama
desacato satanás

Diz um ditado
natural da minha terra
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bom cabrito é o que mais berra
onde canta o sabiá
desacredito
no azar da minha sina
tico-tico de rapina
ninguém leva o meu fubá

15) Meio termo(Lourenço Baêta e Cacaso)

Ah! como eu tenho me enganado


como tenho me matado
por ter demais confiado
nas evidências do amor
como tenho andado certo
como tenho andado errado
por seu carinho inseguro
por meu caminho deserto
como tenho me encontrado
como tenho descoberto
a sombra leve da morte
passando sempre por perto
o sentimento mais breve
rola no ar e descreve a eterna cicatriz
mais uma vez,
mais de uma vez,
quase que fui feliz!

15) Senhora de si(Sueli Costa e Cacaso)

você que é tão senhora de si


tome mais conta de mim
venha me dar proteção
você que tem poder sobre mim

você que mal chegou por aqui


que sabe tão pouco de mim
não tenha medo de amar
é melhor arriscar
já sabendo do fim

eu já não tenho ilusão


já não tenho canção
se você não cantar
se você não me provar
dessa vez pra valer
que chegou pra ficar

Mineiro de Uberaba, o poeta Antonio Carlos Ferreira de Brito (1944-1987), conhecido como Cacaso, viveu desde os
onze anos no Rio de Janeiro. Cacaso estudou filosofia e lecionou teoria literária na PUC-RJ. Foi também ensaísta e
letrista de música popular. Nesse último gênero foi parceiro de compositores como Edu Lobo, Francis Hime, Sueli
Costa e Maurício Tapajós.

Para os mais jovens, que talvez não saibam identificar letras de Cacaso, basta citar duas: "Face a Face" (São as trapaças
da sorte / são as graças da paixão); e "Lero-Lero" ("Sou brasileiro / de estatura mediana / gosto muito de fulana / mas
sicrana é quem me quer"). A primeira tem música de Sueli Costa. A outra, de Edu Lobo.

Na poesia, Cacaso estréia em 1967 com o livro A Palavra Cerzida. Nos anos 70, ele se destaca como um dos
expoentes da chamada "geração mimeógrafo", que criaria a "poesia marginal". Os poetas "marginais" retomam alguns
procedimentos do modernismo de 1922, a exemplo do coloquialismo, a crítica social e o poema-piada.

Alguns estudiosos fazem restrições à poesia marginal apontando sua falta de rigor. Eles vêem o movimento como uma
imagem invertida das vanguardas originárias dos anos 50 (concretismo e afins). Enquanto estas são acusadas de
formalistas, o pessoal da poesia marginal recebe a pecha de ter relaxado os procedimentos formais da poesia.
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A poesia marginal ganhou especial divulgação após a publicação da coletânea 26 Poetas Hoje, organizada por Heloísa
Buarque de Hollanda, em 1976. Além de Cacaso, estão nessa antologia poetas como Francisco Alvim, Torquato Neto,
José Carlos Capinan, Ana Cristina César e Waly Sailormoon.

Durante os anos 70, Cacaso lançou os livros Grupo Escolar (1974), Segunda Classe (1975), Beijo na Boca (1975) e Na
Corda Bamba (1978). Em seguida, publicou ainda Mar de Mineiro (1982) e Beijo na Boca e Outros Poemas (1985), que
reunia toda a sua produção até então. Em 2002 saiu, postumamente, sua poesia completa, que inclui todos os títulos
citados aqui, mais poemas inéditos.

Um recurso muito praticado por Cacaso (e herdado do modernismo) é a paródia, com referências bem-humoradas a
outros poetas. Em "Há Uma Gota de Sangue no Cartão Postal", por exemplo, o título lembra o livro de Mário de
Andrade Há uma Gota de Sangue em Cada Poema. No mesmo poema há também citações da música popular — "Luar
do Sertão", de Catulo da Paixão Cearense, e "Tropicália, de Caetano Veloso —, além da "Canção do Exílio", de Gonçalves
Dias, e ainda do poema "Amor e Medo", de Casimiro de Abreu.

"Ex (3)" é o típico poema-piada. "Jogos Florais" esboça uma crítica ao chamado milagre econômico dos anos 70 e retorna à
"Canção do Exílio". O espírito da paródia e da gozação estão em toda a obra de Cacaso. O poema que originou o título da
coletânea Mar de Mineiro — um título que, por si só, anuncia um conteúdo jocoso — chama-se "Fazendeiro do Mar", uma óbvia
brincadeira com o Fazendeiro do Ar, de Carlos Drummond de Andrade.

( in http://www.algumapoesia.com.br/poesia2/poesianet199.htm)

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