RENDA NO BRASIL
Abrir mão das freios no exterior para descansar no resort Txai em Itacaré.
Preferir imóveis de alto padrão que oferecem ampla área útil, vista privilegiada,
ampla área verde privada e segurança reforçada, ao invés de quatro quartos,
com garagens, elevador privativo e piscina semi-olímpica. Comprar imóveis
com certificação de não agressão à natureza da marca Etel e assistir a
programação da Discovery Channel (STEIN;KLINKE;BIANCHI,2004 P.F1). Ou
ainda ser cliente de um banco com salas privativas para reuniões, linha direta
com consultores de investimento, atendimento em domicilio e tratamento
diferenciado.
Nesse aspecto, a moda foi o fenômeno que mais incorporou esse processo. O
modelo de moda ocidental veio a existir pela primeira vez no século XVIII. A
moda é um fenômeno social e sujeito a mudanças mesmo em sociedades
tradicionais. Mas a moda na concepção moderna se distingue pela velocidade
muito rápida na mudança, na forma, no material e no estilo. O que antes levava
gerações a manifestar mudanças, agora ocorria em poucos anos ou mesmo
ano após ano.
Esse comportamento não se limitou somente aos ricos e se difundiu por toda a
sociedade. Dos operários aos empregadores industriais, todos sentirão a
“compulsão por estar na moda”. Isso ocorria numa velocidade fantástica para a
época. Essa sucessão de imitações sociais, de um extremo ao outro da
sociedade, constituiu o desenvolvimento de uma maior propensão ao consumo.
Na verdade a própria manipulação da emulação social só foi possível mediante
o veículo da moda. Não havia outra forma de os fabricantes influenciarem os
desejos dos consumidores. Essa nova abordagem comercial tinha em vista
controlar o mercado, manter o interesse do consumidor e criar nova procura.
(CAMPBELL,2001,p38 e 39).
A emulação social é o que melhor pode explicar o grande movimento pela
procura de produtos que ocorreu naquela época, indivíduos que aspiravam a
posições sociais superiores impulsionados pela inveja e ambição. Os
empregados domésticos, como classe, exemplificaram muito bem esse
movimento, como nessa crítica ao problema da origem do crescimento da
procura no século XVIII no estudo de McKendrik (CAMPBELL,2001,p35):
PERSPECTIVA INSTINTIVA
MANIPULACIONISMO
A velocidade com que isso passou a ocorrer na Inglaterra no século XVIII, foi
maior do que ocorria até então, provocada pela Revolução Industrial e pela
revolução do consumo. Hoje esse efeito é multiplicado pela rapidez com que a
informação flui pelos meios de comunicação, fazendo com que o suprimento
das necessidades seja feito num ritmo cada vez maior.
O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR
Aquilo que o homem e a mulher compram, os objetos que eles têm, representa
o que eles são na realidade, o grupo social a que pertencem, seus valores e
crenças. Basta num exercício hipotético, imaginar uma pessoa sem os seus
“objetos” para perceber o quanto essa dependência pelos produtos e serviços é
verdadeira.
Após analisar a evolução de inúmeros países ao longo dos últimos 200 anos,
Rostow detectou cinco estágios de desenvolvimento econômico: a sociedade
tradicional, a decolagem, a luta pela maturidade, a era do consumo de massa e
a fase além do consumo de massa, um estágio de supremacia econômica, que
alguns países começam a viver agora.
Ao analisar o perfil da ocupação, percebe-se que dos quase 900 mil ocupados
provenientes dessas famílias, cerca de 40% são altos dirigentes do setor
privado, 28,5% empregadores, 18% trabalhadores por conta própria
(consultores e profissionais liberais) e 12,8% dirigentes do setor público.
Quanto ao perfil da ocupação profissional, 2/3 estão inseridos no setor de
serviços, contra 14,6% na indústria, 13,5% no comércio e 3,1% na agricultura.
Predominantemente, são homens (60% dos ocupados e 70% dos
empregadores) (CAMPOS et al., 2004, p.59).
Das 100 cidades mais ricas, o Estado de São Paulo tem 47. Destaque para
São Bernardo do Campo, Santo André e Guarulhos, que estão entre as 10
primeiras cidades com mais famílias ricas no país (CAMPOS et al., 2004, p.61-
62).
Mas algo está mudando. Talvez por representar aos olhos dos outros o padrão
de vida elevado de uma pessoa, o consumo de produtos de luxo na atualidade
tem chamado a atenção dos estudiosos. O que se tem visto é um novo luxo,
em que valores subjetivos como cultura, tempo e relacionamentos se
sobressaem em relação à ostentação pura e simples de marcas mundialmente
desejadas. Por exemplo, o luxo está em provar ovos com batatas fritas e azeite
de oliva do tradicional restaurante “Casa Lucio”, em Madri, local freqüentado
pelo rei da Espanha e onde são apreciados pratos caseiros com sabores
diferenciados. “Nem tudo que é caro é luxo, assim como nem tudo que é luxo é
caro. Luxo pode ser o acesso privado a simples prazeres e a excelência, seja
qual for o produto ou o serviço” (STEIN; KLINKE; BIANCHI, 2004, p.F1). O que
a pessoa de alto poder aquisitivo realmente quer é se sentir diferenciada.
Numa cultura em que as pessoas buscam ser tratadas como vips, observa-se a
criação de novas categorias no mercado de luxo: além dos carros, artigos de
couro e roupas de grife, o número de produtos de luxo acessível tem crescido,
como os chocolates da paulista Chocolat du Jour e azeites de oliva da
L‟occitane (STEIN; KLINKE; BIANCHI, 2004, p.F1).
Por que pagar R$ 500,00 em uma passagem aérea se é possível pagar 30%
menos em uma nova companhia aérea?
Segundo o editor de revistas como “Viewpoint” e “Textile View”, o inglês David
Shah, “surge agora uma nova aristocracia do gosto: pessoas interessadas em
um novo luxo, relacionadas à inteligência, à cultura, à responsabilidade social
e à ética” (apud STEIN; KLINKE; BIANCHI, 2004, p.F1). São pessoas que
buscam experiências mais enriquecedoras do que a simples posse de objetos.
Preferem viajar e ver uma exposição em um museu do que gastar dinheiro com
roupas de grife. Procuram destinos de viagem menos óbvios e mais tranqüilos
para descansar e melhor aproveitar o seu tempo livre. Esses consumidores
exigem transparência na origem da confecção dos produtos, desejam marcas
íntegras. São pessoas que demandam produtos e serviços de qualidade, que
avaliam a durabilidade, manutenção e tratamento dispensado. Sãoindivíduos
que adoram ser bem tratados e exigem respeito por parte das marcas que
consomem (STEIN; KLINKE; BIANCHI, 2004, p.F1). Não é a toa que a loja da
Daslu, meca da moda da capital paulista, passa hoje por dificuldades, após o
escândalo da sonegação de impostos, descoberta pela Polícia Federal. Várias
lojas de grifes famosas desistiram de abrir suas filiais por não quererem
associar seu nome a uma prática considerada incorreta pela sociedade.
padrão de vida caiu. Vera indica que “as pessoas estão empenhadas em
equilibrar as finanças, economizar e gastar menos”. A pesquisa também
revelou que as pessoas estão resgatando o sentimento de proteção e
entendimento no ambiente familiar, investindo na educação e no diálogo com
os filhos.
No aspecto de cidadania, a pesquisa revela o eterno sonho do brasileiro em
ver um Brasil melhor. 45% dos entrevistados responderam que desejam um
Brasil mais humano e justo com seu povo, 28% mais civilizado, com população
educada e cidadã, e 18% querem um país rico e competitivo
internacionalmente.
Atualmente 32% ,das mulheres casadas e que trabalham nos Estados Unidos
ganham mais que os maridos. Com isso, com o homem e a mulher
trabalhando, a relação do casal piorou, ambos saem cedo de casa e chegam
cansados no final do dia;no horário nobre estão nas empresas, longe dos filhos
e carentes, esperando que as empresas lhes dêem afeto. Por outro lado, a
globalização mudou o custo das coisas, um número muito grande de pessoas
tem carro; na cidade de São Paulo, por exemplo, a cada dois moradores, um
tem carro. Quase todos possuem geladeira, telefones, a classe média já tem a
maioria das coisas, ou seja, a finalidade da compra mudou. Vender hoje é
suprir carências e não mais necessidades.
As pessoas compram pensando o que este produto vai fazer por mim, como
suprir as suas carências ou aumentar a auto-estima. Você não precisa trocar
de celular todo ano, precisa? O que as empresas querem vender as pessoas
não precisam mais, o que elas dão valor agora é o relacionamento. As
empresas já perceberam isso, a rede Pão de Açúcar vende respeito e
relacionamento e não preço, e os bancos sabem que o importante é como o
gerente ou a central telefônica atendem. Quem não entender esta dinâmica
tende a desaparecer do mercado (RIBEIRO, 2004).
3.8 – Comentários Finais Sobre o Capítulo
Nota-se agora que pelo menos parte da elite brasileira busca se diferenciar por
valores subjetivos. Assuntos que estão em voga: conforto, volta à valorização
das coisas simples, da família, das amizades, aproveitar melhor o tempo,
enfim, resgatar o prazer das coisas que o dinheiro não compra.
Um dos motivos desta mudança é apontado por Rostow, que afirma que os
países mais desenvolvidos e as elites se encontram na fase do “pós-consumo
de massa”, em que prevalecem valores subjetivos em detrimento de valores
materiais.