CASO PRÁTICO 1:
A e B, amigos, ambos norte-americanos e residentes no Estado de Nova Iorque foram dar um
passeio no carro de A, tendo um acidente quando passavam no Canadá, de que resultaram danos
para B.
B intentou uma acção no tribunal de Nova Iorque pedindo a A uma indemnização pelos danos,
nos termos da lei nova-iorquina. A entende que não tem nada a pagar, pois a lei do Canadá não
confere um direito à indemnização aos passageiros transportados gratuitamente.
Quid iuris, sabendo que a Regra de Conflitos de Nova Iorque dispõe que a matéria de danos
causados ao passageiro transportado gratuitamente é regulada pela lei do local onde se verificou o
dano.
CASO PRÁTICO 2:
A comprou a B 2 toneladas de dentes de elefante no Quénia, país onde é proibida a
comercialização de dentes de elefante. No Quénia, tal proibição aplica-se a todas os contratos,
mesmo que a lei queniana não seja aplicável à situação concreta. A e B escolheram como lei
aplicável ao contrato a lei australiana, que nada proíbe quanto a esta matéria. Como B não
entregou os dentes, A intenta em Portugal uma acção.
Quid iuris?
CASO PRÁTICO 3
A e B canadianos e residentes em Portugal, celebraram em Coimbra, em 1991, um contrato de
mútuo. Alguns meses depois casaram. Em 2009 divorciaram-se e o mutuante (A) intenta agora em
Portugal uma acção de condenação para pagamento da dívida. B alega a prescrição da dívida
invocando que, segundo o direito canadiano o prazo de prescrição geral é de 5 anos e não existir
no Canadá qualquer causa de suspensão semelhante à do artigo 318.º/a) do Código Civil
português.
A, pelo contrário, alega que a dívida ainda não prescreveu, uma vez que nos termos do artigo 309.º
do Código Civil Português (que entende dever aplicar-se), o prazo de prescrição é de 20 anos.
a) Quid iuris, tendo em conta o disposto nos artigos 40.º, 41.º, 42.º e 52.º do CC?
b) Imagine agora que, no momento da celebração do contrato, A e B escolheram como
aplicável a legislação canadiana, a sua resposta seria idêntica?
c) E se adoptasse a posição relativa à qualificação, quer de Ago quer de Robertson, como
resolveria esta hipótese?
CASO PRÁTICO 5:
A e B, casados e de nacionalidade espanhola, adoptaram plenamente em Espanha, nos termos do
direito espanhol, C, uma criança de nacionalidade portuguesa. Algum tempo depois D, português,
pretende reconhecer a paternidade de C.
A e B vêm impugnar o reconhecimento invocando o artigo 1987.º do CC português, ao que D
contrapõe que o direito espanhol não conhece nenhum preceito análogo àquela disposição da
nossa lei.
Quid iuris, atento o disposto nos artigos 56.º e 60.º do CC?
CASO PRÁTICO 6:
Em Junho de 2008, A, cidadão inglês domiciliado na Inglaterra, foi atropelado em Coimbra por um
cidadão português residente na Lousã. Em Outubro do mesmo ano, A viria a falecer, solteiro e
sem descendentes, em Coimbra, em consequência dos traumatismos sofridos no referido acidente.
Por morte de A, os seus pais, invocando o disposto nos artigos 496.º e 495.º/3 do CC reclamam
uma indemnização por danos não patrimoniais e pela interrupção dos alimentos que lhe vinham
sendo prestados por A e, agora fundamentados no artigo 2161.º/ 2 do CC, sustentam que são
titulares do direito a metade da herança de A .
Porém, B, herdeira testamentária, pretende ser ela a única titular do direito às referidas
indemnizações, bem como do direito a todos os bens de A, uma vez que o testamento é válido
perante o direito inglês e que este ordenamento jurídico não reconhece qualquer direito sucessório
aos ascendentes. Na verdade, no testamento de A, B era constituída única e universal herdeira.
a) Considerando os artigos 45.º e 62.º do CC, e a circunstância de em Inglaterra a sucessão ser
regulada pela lei do último domicílio do de cuius e a responsabilidade aquiliana pela lei do local da
prática do facto causador do prejuízo, quid iuris?
b) Se perfilhasse a concepção de Roberto Ago a propósito da qualificação, como procederia?
CASO PRÁTICO 8:
A, cidadão português e residente em França, casou com B, francesa e residente em França. O
casamento foi celebrado validamente em Junho de 2004, no Porto. Como A tinha apenas 16 anos
de idade obteve a necessária autorização dos pais – nos termos exigidos pelo artigo 1604.º/ a) do
CC português –, que assentiram inteiramente satisfeitos, tendo em conta a enorme fortuna de que
B era possuidora. Com o casamento, o casal fixou residência no Luxemburgo.
Em Janeiro de 2006, A desloca-se a Portugal para vender uma casa situada em Condeixa que
herdara da sua avó materna em 1990. No momento da escritura, o notário recusa-se à realização do
acto, invocando que o direito competente para reger os efeitos do casamento não prevê a aquisição
da plena capacidade de exercício de direitos por força do casamento.
Efectivamente, no direito luxemburguês não se estipula uma qualquer disposição com um
conteúdo idêntico ao dos artigos 132.º e 133.º do nosso CC, ou seja, o casamento não desencadeia
a emancipação dos menores.
Aprecie os argumentos do notário e diga, justificando legal e doutrinalmente a sua resposta, quem
terá razão. Cfr. os artigos 25.º, 47.º e 52.º do CC.
CASO PRÁTICO 28
A e B, espanhóis, residentes na Argentina, celebraram no Brasil uma convenção antenupcial, onde
estipularam o regime de comunhão de adquiridos, dispondo que A participaria na comunhão por
dois terços e B por um terço. Anos mais tarde, quando já residiam em Portugal, decidiram
divorciar-se e suscita-se a validade dessa estipulação. Isto porque quer a ordem jurídica espanhola,
quer a ordem jurídica brasileira contêm um preceito idêntico ao do artigo 1730.º do nosso Código
Civil. Diferentemente, a lei argentina não coloca entraves à validade daquela cláusula. Sabendo que
as leis argentina e brasileira submetem a validade das convenções antenupciais ao direito do
domicílio comum dos cônjuges no momento do casamento, e que o direito espanhol remete para a
lei nacional comum dos cônjuges, deveria ou não o juiz português considerar válida esta cláusula?
CASO PRÁTICO 31
A, brasileiro, domiciliado em Itália, perfilhou uma criança neste país sendo este acto válido à face
do direito interno italiano, mas nulo perante a ordem jurídica material brasileira. Supondo que se
discutia, anos mais tarde, a validade deste acto, que posição deveria tomar um tribunal português a
que a questão fosse presente?
Atente que o direito brasileiro manda regular a perfilhação pela lei do domicílio do perfilhante e
que o direito italiano a submete à lei nacional daquele, e ambos são hostis ao reenvio.
CASO PRÁTICO 32
A, cidadão português, domiciliado no Perú, perfilhou uma criança na Argentina, em 1986. Tal acto
é válido segundo o direito material argentino, mas inválido, por falta de capacidade de A, face às
disposições do direito material dos ordenamentos jurídicos português e peruano. Suponha, ainda,
que o direito peruano considera competente a lex loci actus e o direito argentino a lex domicilii do
progenitor, e que todas as leis em questão são hostis ao reenvio.
a) Contestada judicialmente em Portugal a validade de tal acto, deveria a perfilhação poder
produzir os seus efeitos jurídicos entre nós?
b) Se o artigo 56.º do Código Civil apenas dispusesse que “a lei portuguesa é competente para
apreciar a constituição da filiação em relação aos progenitores portugueses”, e entendida
esta norma no contexto da doutrina de Rolando Quadri, deveria a perfilhação ser
reconhecida entre nós?
c) Qual a solução a que chegaríamos se optássemos pela doutrina da auto-limitação da regra
de conflitos de Francescakis?