Educação Ambiental; Grupos de aprendizagem; Formação de multiplicadores.
O presente trabalho teve como objetivo investigar um processo de
aprendizado e reflexão crítica sobre a relação ambiente-sociedade-tecnologia junto a um grupo multidisciplinar de aprendizagem ambiental constituído por divulgadores científicos vinculados ao Laboratório Aberto de Interatividade para a Disseminação do Conhecimento Científico e Tecnológico (LAbI) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Partindo do princípio de que a Educação Ambiental deve assumir um papel contestador, buscando, para além da “pregação” de bons hábitos ou condutas ambientais, um posicionamento crítico frente aos padrões atuais de injustiça ambiental, e reconhecendo que um processo educativo deve centrar-se principalmente na partilha do conhecimento, o trabalho amparou-se nos referenciais da Teoria Crítica e adotou o modelo de pesquisa-ação junto ao grupo, buscando o empoderamento dos saberes gerados dialogicamente pelos seus Sujeitos participantes e a emergência destes como multiplicadores daqueles saberes.
As atividades do grupo de aprendizagem, denominado BioLAbI, ocorreram
semanalmente ao longo de todo o ano de 2010. Durante os encontros foram realizados jogos, discussões, atividades exploratórias e reflexivas do ambiente, tendo como eixo central do debate o papel do modelo capitalista e da tecnologia no estabelecimento dos padrões de exploração e degradação ambiental, bem como seus reflexos no atual quadro de injustiça social.
Pelo fato do estudo proposto assumir um caráter de pesquisa-ação, sendo
construído coletivamente pelos seus Sujeitos participantes, as atividades e discussões foram encaminhadas concomitantemente ao andamento da pesquisa. Dessa forma, métodos e atividades desenvolvidas acabaram por se mesclar com seus resultados e reflexões à medida que o processo de ação-reflexão-ação, aqui compreendido como praxis, tomava forma. Assim, atividades e resultados foram divididos em dez momentos distintos: Encontrando-se e se enxergando; Representando o nosso meio; Exploradores; Das Kapital; Tecnologia e crise ambiental; Novos encontros: conhecimentos distintos e saberes coletivos; Reencontros: potencializando o aprender coletivo; CineLAbI: debatendo Sociedade e Ambiente; Um mergulho na biodiversidade; e finalmente Ações.
Esse último momento revelou o envolvimento dos Sujeitos participantes e seu
esforço para a efetivação do grupo como um espaço constante de aprendizagem- ação-reflexão sobre as relações entre ambiente e sociedade, bem como a vontade de, a partir do compartilhamento e disseminação dessa prática, concretizar ações efetivas no sentido de modificar a relação mercantilista e irreflexiva estabelecida pela sociedade frente a ela própria, ao ambiente e à tecnologia. Dentre algumas dessas práticas é possível citar a “ambientalização” do conteúdo de divulgação científica produzido pelo Laboratório; a elaboração de novas atividades e oficinas sobre tecnologia, ambiente e sociedade voltadas à comunidade de São Carlos e região; e, por fim, o estabelecimento de canais de diálogo com outros grupos que discutem meio ambiente na Universidade e no Município.
Ao final do processo, foi evidenciado o potencial de aprendizagem e reflexão
coletiva, pois os envolvidos motivaram-se a alcançar os objetivos delineados no trabalho, uma vez que cada participante também ajudou a definir quais eram as metas do grupo. A formação de multiplicadores foi garantida, na medida em que os Sujeitos assumiram-se não só como educandos, mas também como educadores, permitindo a continuidade das ações do grupo e de novas reflexões.
O campo da Educação Ambiental, reconhecido e assumido aqui como crítico
e emancipatório, tem sido construído e consolidado em conjunto com grupos sociais historicamente excluídos, contudo, cabe também espaço à reflexão sobre o papel desse enfoque crítico proposto a outros grupos, em especial, àquele que dispõe de canais que possibilitem essa reflexão nos setores “endurecidos e institucionalizados” pela razão mecanicista. Por certo, são esses Sujeitos que – a partir do contato com outras realidades e de uma reflexão profunda sobre os padrões estabelecidos – podem ajudar em uma aceleração da substituição dos paradigmas vigentes.