O político
Enquanto a guerra do Peloponeso, travada entre Atenas e
Esparta reforçadas pelos respectivos aliados, prosseguia sem tréguas
desde 431 a. C., Atenas experimentava, na sua política interna, um
modelo democrático de governação. Instalado e definido quanto às
instituições e modo de funcionamento, o novo regime denunciava já
também as suas primeiras, mas visíveis, debilidades. Muitas delas
enraizavam nos agentes que levaram à prática a administração
democrática, os demagogos nova vaga.
Provindos de uma franja social próspera nestes anos de guerra,
os políticos distanciaram-se da cepa aristocrática e dos seus
pergaminhos; foi na prosperidade dos negócios, entre os industriais e
comerciantes bem sucedidos, que Atenas encontrou os dirigentes do
momento. Atrás deste padrão burguês e endinheirado, escondiam-se
‘predicados’ que a realidade – como também a comédia – se
encarregaram de denunciar: a falta de escrúpulo e a corrupção própria
do mundo da ágora, uma ausência radical de instrução, compensadas
por uma enorme desfaçatez e uma ambição indisfarçável. Aos
demagogos não perturbava qualquer tipo de princípios éticos; antes
evidentes objectivos de ganhos e proveitos próprios se impuseram
com a força de um código poderoso. Como sua arma principal
valeram-se da retórica, o discurso ensurdecedor e caudaloso que
deixava atónitos os cidadãos ou os rendia a argumentos puramente
falaciosos. Atordoada a cidade pelo barulho que faziam, os políticos
viram-se em liberdade para extorquir impostos, denunciar falsas
conspirações, liquidar rivais políticos, mentir e roubar. A democracia
servia assim de escudo à vontade de uns tantos, desde que hábeis a
manobrar os cordelinhos da caça ao voto.
E o povo, que reacção tinha a esta nova ordem social? Em geral
ténue, desde que o mantivessem de boca cheia e de estômago
confortado. A culinária tornou-se, por excelência, uma imagem
2 Maria de Fátima Sousa e Silva
________________________________________________________
perfeita da política; ‘empanturrar’ passou a ser sinónimo de ter
sucesso na administração pública.
Desta nova ordem dos tempos, a comédia grega antiga foi
sempre uma denunciadora incansável. E de entre as peças
conservadas são sem dúvida Os Cavaleiros de Aristófanes a que
melhor exemplifica o modelo. A ficção dramática é, neste caso, tão
sugestiva da própria realidade! Na casa de Demos, o Povo, domina
um administrador, Cléon ‘ o homem dos curtumes’, um
desconhecido, Paflagónio de origem (algo equivalente a ‘caído do céu
lá da Conchinchina’), mas o sujeito mais reles que já se viu. Por sua
intervenção, chovem pancadas em cima de toda a criadagem da casa,
proliferam ameaças e denúncias. Apenas o Povo, zelosamente
alimentado pelo seu homem de confiança, não pressente a desordem
geral. A mesa que ele lhe apresenta é farta, a generosidade do
demagogo constante, sempre a propor, quando o momento se
propicia, uma baixa de preços ou uma subida de ordenados.
Mas haverá salvação para semelhante crise? Aristófanes
responde com um milagre, cómico já se vê. Há-de chegar – os deuses
assim o anunciam nos seus oráculos – um sujeito mais malvado, mais
corrupto, mais demagógico do que o anterior, que o baterá aos
pontos. Desta terapia, que prevê uma cura ‘com pêlo do mesmo cão’,
é autor mais qualificado o Salsicheiro. Por natureza e profissão ele é o
detentor de todas as prendas necessárias à situação; basta que aplique
à política aquela arte de misturar as massas que é o b, a, ba de
qualquer simples cozinheiro.
________________________________________________________
________________________________________________________
Morfologia
- revisão da declinação de ånƒr.
- modelos de adjectivo e respectiva flexão: mégaç, ponhróç,
qrasúç, åmaqƒç.
- revisão de diversos pronomes: interrogativos, relativos,
pessoais, demonstrativos, indefinidos.
- revisão da formação dos aoristos radicais temáticos: eıpé,
ægenómhn (gígnomai), ëpaqon (péponqa).
- os verbos em -mi (didóasi)
________________________________________________________
Coloquialismos
- lamentos – oïmoi
- fórmulas de tratamento – ô makárie; ôgáq\.
________________________________________________________
Morfologia
- revisão da declinação de Ápaç.
- revisão dos imperativos.
Sintaxe
- complementos circunstanciais: de meio –®hmatíoiç mageirikoîç.
- orações relativas.
M. F. S. S.
________________________________________________________