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COMÉDIA GREGA (4)

O político
Enquanto a guerra do Peloponeso, travada entre Atenas e
Esparta reforçadas pelos respectivos aliados, prosseguia sem tréguas
desde 431 a. C., Atenas experimentava, na sua política interna, um
modelo democrático de governação. Instalado e definido quanto às
instituições e modo de funcionamento, o novo regime denunciava já
também as suas primeiras, mas visíveis, debilidades. Muitas delas
enraizavam nos agentes que levaram à prática a administração
democrática, os demagogos nova vaga.
Provindos de uma franja social próspera nestes anos de guerra,
os políticos distanciaram-se da cepa aristocrática e dos seus
pergaminhos; foi na prosperidade dos negócios, entre os industriais e
comerciantes bem sucedidos, que Atenas encontrou os dirigentes do
momento. Atrás deste padrão burguês e endinheirado, escondiam-se
‘predicados’ que a realidade – como também a comédia – se
encarregaram de denunciar: a falta de escrúpulo e a corrupção própria
do mundo da ágora, uma ausência radical de instrução, compensadas
por uma enorme desfaçatez e uma ambição indisfarçável. Aos
demagogos não perturbava qualquer tipo de princípios éticos; antes
evidentes objectivos de ganhos e proveitos próprios se impuseram
com a força de um código poderoso. Como sua arma principal
valeram-se da retórica, o discurso ensurdecedor e caudaloso que
deixava atónitos os cidadãos ou os rendia a argumentos puramente
falaciosos. Atordoada a cidade pelo barulho que faziam, os políticos
viram-se em liberdade para extorquir impostos, denunciar falsas
conspirações, liquidar rivais políticos, mentir e roubar. A democracia
servia assim de escudo à vontade de uns tantos, desde que hábeis a
manobrar os cordelinhos da caça ao voto.
E o povo, que reacção tinha a esta nova ordem social? Em geral
ténue, desde que o mantivessem de boca cheia e de estômago
confortado. A culinária tornou-se, por excelência, uma imagem
2 Maria de Fátima Sousa e Silva
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perfeita da política; ‘empanturrar’ passou a ser sinónimo de ter
sucesso na administração pública.
Desta nova ordem dos tempos, a comédia grega antiga foi
sempre uma denunciadora incansável. E de entre as peças
conservadas são sem dúvida Os Cavaleiros de Aristófanes a que
melhor exemplifica o modelo. A ficção dramática é, neste caso, tão
sugestiva da própria realidade! Na casa de Demos, o Povo, domina
um administrador, Cléon ‘ o homem dos curtumes’, um
desconhecido, Paflagónio de origem (algo equivalente a ‘caído do céu
lá da Conchinchina’), mas o sujeito mais reles que já se viu. Por sua
intervenção, chovem pancadas em cima de toda a criadagem da casa,
proliferam ameaças e denúncias. Apenas o Povo, zelosamente
alimentado pelo seu homem de confiança, não pressente a desordem
geral. A mesa que ele lhe apresenta é farta, a generosidade do
demagogo constante, sempre a propor, quando o momento se
propicia, uma baixa de preços ou uma subida de ordenados.
Mas haverá salvação para semelhante crise? Aristófanes
responde com um milagre, cómico já se vê. Há-de chegar – os deuses
assim o anunciam nos seus oráculos – um sujeito mais malvado, mais
corrupto, mais demagógico do que o anterior, que o baterá aos
pontos. Desta terapia, que prevê uma cura ‘com pêlo do mesmo cão’,
é autor mais qualificado o Salsicheiro. Por natureza e profissão ele é o
detentor de todas as prendas necessárias à situação; basta que aplique
à política aquela arte de misturar as massas que é o b, a, ba de
qualquer simples cozinheiro.

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Comédia Grega (4) 3
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O curriculum vitae de um político
Cavaleiros (vv. 178-194)

\Allantop≤lhç Eıpé moi, kaì põç ægΩ


ållantop≤lhç «n ån˙r genƒsomai;
Oıkéthç A’ Di\ a†tò gár toi toûto kaì gígnei mégaç,
Øti˙ ponhròç kåx ågorãç eπ kaì qrasúç.
\All. O†k åxiõ \gΩ \mautòn ıscúein méga.
Oık. Oïmoi, tí pot\ ësq\ Óti sautòn o† fµç äxion;
Xuneidénai tí moi dokeîç saut¡ kalón.
Mõn æk kalõn eπ kågaqõn;
\All. Mà toùç qeoúç,
eı m˙ \k ponhrõn g\.
Oık. ˜W makárie têç túchç,
Óson péponqaç ågaqòn eıç tà prágmata.
\All. \All\, ôgáq\, o†dè mousik˙n æpístamai,
pl˙n grammátwn, kaì taûta méntoi kakà
kakõç.]
Oık. Toutì mónon s\ ëblayen, Óti kaì kakà kakõç.
|H dhmagwgía gàr o† pròç mousikoû
ët\ æstìn åndròç o†dè crhstoû toùç trópouç,
åll\ eıç åmaqê kaì bdelurón. \Allà m˙
par∫ç]
Á soi didóas\ æn toîç logíoisin o˚ qeoí.

Salsicheiro – Mas diz-me cá uma coisa: como é que eu, um


salsicheiro, me vou tornar num ‘senhor’?
1º Escravo – Mas é precisamente nisso que está a tua
grandeza: em seres um canalha, um vagabundo e um valdevinos.
Salsicheiro – Pois eu não me julgo digno de tão grande poder.

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4 Maria de Fátima Sousa e Silva
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1º Escravo – Ai, ai! Ai, ai! O que é que te faz dizer que não te
achas digno? Está-me a parecer que tens alguma coisa de bom a
pesar-te na consciência. Serás tu filho de boas famílias?
Salsicheiro – Nem por sombras! De patifes, mais nada.
1º Escravo – Homem ditoso! Que sortalhaça a tua! Tens todas
as qualidades para a vida pública.
Salsicheiro – Mas, meu caro amigo, instrução não tenho
nenhuma. Conheço as primeiras letras e, mesmo essas, mal e
porcamente.
1º Escravo – Ora aí está o teu único senão, que as conheças,
por mal e porcamente que seja. A política não é assunto para gente
culta e de bons princípios; é para ignorantes e velhacos. Não
desprezes o que os deuses te concedem nos seus oráculos.

Sugestões para a exploração do texto


Vocabulário
- Relativo à cotação social.
- Relativo à política.

Morfologia
- revisão da declinação de ånƒr.
- modelos de adjectivo e respectiva flexão: mégaç, ponhróç,
qrasúç, åmaqƒç.
- revisão de diversos pronomes: interrogativos, relativos,
pessoais, demonstrativos, indefinidos.
- revisão da formação dos aoristos radicais temáticos: eıpé,
ægenómhn (gígnomai), ëpaqon (péponqa).
- os verbos em -mi (didóasi)

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Comédia Grega (4) 5
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Sintaxe
- complementos circunstanciais: de causa – di\a†tó; de lugar
para onde – eıç tà prágmata; de lugar de onde / origem – æx
ågorãç; lugar onde – æn toîç logíoisin.
- orações interrogativas directas, relativas, causais e
completivas.
- Construção pessoal: moi dokeîç.

Coloquialismos
- lamentos – oïmoi
- fórmulas de tratamento – ô makárie; ôgáq\.

Receita para uma boa política


Cavaleiros (214-219)

Oık. A\ Táratte kaì córdeu\ Ømoû tà prágmata


Ápanta, kaì tòn dêmon åeì prospoioû
‡poglukaínwn ®hmatíoiç mageirikoîç.
Tà d\älla soi prósesti dhmagwgiká,
fwn˙ miará, gégonaç kakõç, ågoraîoç eπ.
ëceiç Ápanta pròç politeían À deî.

Primeiro Escravo – Misturas os negócios públicos, amassa-los


todos juntos, numa pasta. O povo, conquista-lo quando quiseres, com
umas palavrinhas delicodoces, lá da tua especialidade. Tudo o mais
necessário à demagogia tem-lo tu de sobra, voz de safado, baixa
condição, ar de valdevinos. Tens tudo o que é preciso para a
governação.

Sugestões para a exploração do texto


Vocabulário
- Relativo à condição social.
- Relativo à política e à culinária.

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6 Maria de Fátima Sousa e Silva
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Morfologia
- revisão da declinação de Ápaç.
- revisão dos imperativos.

Sintaxe
- complementos circunstanciais: de meio –®hmatíoiç mageirikoîç.
- orações relativas.

M. F. S. S.

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