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E os cheiros? Eles são essenciais na para localizar fontes de alimentos, mas também para
comunicação entre os suínos, que os produzem aos achá-las novamente depois de longos intervalos.
montes. Cada animal possui, espalhadas pelo corpo, Porcos brincam entre si, mesmo quando
nove glândulas que secretam substâncias odoríferas adultos. “Alguns animais, nos momentos de tédio
fundamentais para a coesão do grupo. “Membros do aparente, começam a correr atrás dos outros, simulando
mesmo bando, que compartilham muitos dos mesmos brigas”, afirma a bióloga Cibele Biondo, da USP, que
genes, acabam por ter um tipo de ‘odor de colméia’, estuda o comportamento dos catetos. A engenheira
algo que permite a membros de uma vara reconhecer agrônoma Jacinta, que trabalha com porcos
uns aos outros em um nível inconsciente”, afirma domésticos, também observa esse comportamento:
Watson. São códigos que nós não temos a capacidade “Eles ‘jogam bola’ e são capazes de usar um pneu
de decifrar – talvez porcos achem repulsivo o aroma do pendurado no teto como balanço”. Para Lyall, as
Chanel n° 5. brincadeiras são pré-requisitos para aquisição de uma
Uma vara de porcos -– domésticos ou série de habilidades sociais. “Brincar parece ser uma
selvagens – deixa suas marcas cheirosas por onde quer atividade necessária para o cérebro saudável – tanto de
que passe. Além do mais, suínos não são porcos quanto de humanos”, diz.
particularmente silenciosos. Tudo isso, em tese, ajuda E às vezes o cérebro do porco pode nos dar
os predadores, pois faz da localização dos animais uma rasteiras. Em 1914, o psicólogo Robert Yerkes, da
tarefa fácil. Mas o benefício de manter o grupo unido Universidade Yale (em Connecticut, Estados Unidos),
acaba por ser maior que o custo. Estar no meio da submeteu diversos animais – incluindo porcos e
multidão sempre aumenta as chances de sobrevivência. humanos – a um teste de memorização de padrões em
Há também aqueles que contra-atacam, como as que uma recompensa era escondida em diferentes
queixadas da América do Sul. Essas criaturas vivem compartimentos a cada vez. Os suínos foram
em bandos de até 200 indivíduos equipados com dentes excepcionalmente bem na prova, matando a charada
fortes o bastante para quebrar castanhas-do-pará. mais rapidamente que muitos dos voluntários humanos.
Quando acuadas por jaguatiricas, onças ou humanos, as Não, porcos não são mais inteligentes que nós.
queixadas põem-se em formação circular e fazem um Mas um olhar atento pode revelar similaridades
“arrastão” contra o predador -– que pode se dar muito assombrosas entre as duas espécies. “Se queres
mal caso não consiga fugir. conhecer teu corpo, mata um porco”, diz um provérbio
Porcos domésticos não costumam ser tão português. As semelhanças anatômicas estão no trato
agressivos, mas têm lá seus rompantes de delinquência. digestivo, nos dentes, no fígado, no coração. Porcos
Como conseguem delimitar um círculo social de até 30 também são suscetíveis a algumas das mesmas doenças
animais, entram em parafuso em grupos grandes que acometem os humanos – como câncer, reumatismo
demais. “Eles começam a formar subgrupos e adotar e artrite –, além de responder da mesma forma a muitos
um comportamento de gangues, em que um bando medicamentos. Por isso, eles se destacam entre as
hostiliza o outro”, diz Jacinta. A hierarquia da cobaias nas pesquisas médicas de transplantes ou de
sociedade suína é linear: há um indivíduo dominante, novas drogas.
um segundo mais poderoso e assim até chegar àquele A humanidade encara o porco como um bicho
que não apita nada. No topo da sociedade, alguns que está aí para nos servir. Milhões deles são
machos constituem haréns com dez “esposas”, em sacrificados o tempo todo, seja para nos prover
média. Os outros aguardam a vez de desafiar os alimento, seja para salvar as vidas de nossos doentes. É
machões do pedaço e conquistar seu próprio mulherio. perturbador perceber que esse animal tem muitas coisas
Ou não: “Machos subjugados por todos os outros em comum conosco – e enxergar que já houve vida
podem passar a agir como fêmeas”, diz Jacinta. “Mas o inteligente nos pertences de uma feijoada.
homossexualismo é mais comum em fêmeas com
tendência dominante.” O porco em números
• Uma corda feita com todas as linguiças e salsichas
Um animal especial produzidas no planeta em um ano seria longa o
O porco leva uma enorme desvantagem em suficiente para ir 3 vezes da Terra à Lua e voltar
relação ao gorila e ao chimpanzé, animais mais • No Brasil, há um porco para cada 5 habitantes
comumente associados à noção de inteligência: não • 1 bilhão é a população global de suínos
possui patas capazes de manipular objetos ou criar • A Dinamarca é campeã mundial em consumo de
instrumentos. Para explorar o mundo, ele se vale de seu carne suína: cada cidadão consome em média 77 quilos
focinho, que está longe de ter o tamanho e a por ano
diversidade de movimentos da tromba do elefante. • 48 leitões diferentes foram usados para “interpretar” o
Suínos também carecem da agilidade e da rica papel principal do filme Babe, o Porquinho
expressão corporal do golfinho. Porcos são animais Atrapalhado
presos a um corpo muito pouco especializado. • 20 mil dólares é o preço que um porco de estimação
Por isso, precisam se adaptar para aproveitar da raça potbelly pode custar
ao máximo o ambiente. A chave da inteligência suína, • Morto e desmembrado, um porco se
segundo Watson, é o hábito de comer de tudo. divide em: 18% de pernil, 16% de toucinho,
“Onívoros nunca param de investigar e estão sempre à 15% de lombo, 12% de copa-lombo, 10% de
procura de qualquer coisa que possa lhes trazer alguma banha, 3% de costelinhas e 26% de outros
vantagem.” Essa curiosidade requer uma memória cortes
espacial desenvolvida: porcos são aparelhados não só (Adaptado de NOGUEIRA, Marcos.
Superinteressante, 02/2005)
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Questionário
5) Quais as explicações que a engenheira Jacinta Ferrugem Gomes expõe para justificar a
sujeira e o odor do porco?
7) Elabore um esquema do texto lido, transformando cada parágrafo numa frase que contenha
suas ideias principais.
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A ideia central do parágrafo é enunciada através do período denominado tópico frasal. Esse período orienta ou governa o resto
do parágrafo; dele nascem outros períodos secundários ou periféricos; ele vai ser o roteiro do escritor na construção do parágrafo;
ele é o período mestre, que contém a frase-chave.