Elizangela Inácio
Catalão/GO
2010
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE CATALÃO – CESUC
DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO E HABILITAÇÕES
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Elizangela Inácio
Catalão/GO
2010
DECLARAÇÃO DE RESPONSABILIDADE E DIREITOS AUTORAIS
Eu, Elizangela Inácio, nos termos do artigo 5º, inciso XXVII, da Constituição Federal, e
da Lei Federal nº 9.610/1998, declaro ser de minha responsabilidade a autoria do presente
trabalho. Declaro ainda, nos termos do art. 5º, inciso IX, da Constituição Federal, que as opiniões
contidas nesse trabalho não coincidem, necessariamente, com as do Centro de Ensino Superior de
Catalão – CESUC.
____________________________________________
Elizangela Inácio
TERMO DE APROVAÇÃO
Elizangela Inácio
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________
Orientador – Prof. Msc. André Luiz Pires Muniz - CESUC
____________________________________________________
Membro - Prof. ( ) - CESUC
_____________________________________________________
Membro – Prof. ( ) - CESUC
À minha mãe, meus
irmãos e à minha avó, pela
compreensão carinho e
estímulo!
AGRADECIMENTOS
Existem momentos na vida que paramos, olhamos para trás e diante das incertezas do
futuro e dos desafios que nos aguardam pensamos em desistir de tudo, as duvidas são grandes o
sacrifício parece ser tão amplo diante de uma vitória incerta. Porém existem pessoas que por ser
de sua natureza ajudar e auxiliar, estão lá para dizer VÁ EM FRENTE! Pessoas, que pegam em
nossas tremulas mãos de criança insegura, e diz: Faça o trabalho! Vamos publicar um artigo!
Você é capaz!
Sei que existem poucas pessoas assim no mundo, porém eu posso me dizer a pessoa mais
rica e privilegiada do mundo, pois nestes quatro anos de graduação contei com duas pessoas que
não só me apoiaram como também me estimularam e se hoje estou concluindo mais esta
importante etapa de minha vida pessoal, acadêmica e profissional devo cinqüenta por cento desta
vitória a eles.
Por isso este pequeno espaço onde nos é permitido expressar um pouco de nossa gratidão
as pessoas que abdicaram de tempo e até mesmo de prazeres pessoais para nos auxiliar, desejo
utilizá-lo para agradecer e homenagear o mestre, amigo, exemplo e Professor André Luiz Pires
Muniz o nosso querido e admirado ANDRÉZINHO sem o qual este trabalho jamais teria sido
possível, sem o qual eu jamais teria gostado de economia e jamais teria publicado um Artigo
Científico, obrigada professor meu grande mestre por ter insistido que eu me dedicasse mais, que
eu desse o melhor de mim. Agradeço também a Professora Carla Melo de Lima nossa eterna
CARLINHA amiga, mestre, companheira e confidente por suas aulas conselhos e auxilio pessoal
e profissional. Obrigada por acreditarem em mim, PROFESSORES por me darem apoio e
principalmente por terem me trazido à realidade nos momentos que titubeei e por pura
imaturidade pensei em desistir ou atuei de forma impensada.
Aos demais idealizadores, coordenadores e funcionários do CESUC – Centro de Ensino
Superior de Catalão, a todos os professores e seus convidados pelo carinho, dedicação e
entusiasmo demonstrado ao longo do curso. Às nossas famílias pela paciência em tolerar a nossa
ausência. E, finalmente e principalmente, a DEUS pela oportunidade e pelo privilégio que nos
foram dados em compartilhar tamanha experiência, ao freqüentar este curso, e perceber e atentar
para a relevância de temas que não faziam parte, em profundidade, das nossas vidas.
“O país onde o comércio é mais livre será sempre
o mais rico e próspero, guardadas as proporções”.
(Voltaire)
RESUMO
O comércio internacional é uma atividade dinâmica e importante para os países, visto que é
através deste que os países se abastecem de tudo aquilo que não são auto-suficientes e escoam o
seu excedente produtivo. O presente estudo versa sobre a relação comercial existente entre o
Brasil e os demais países do chamado BRIC’s. O objetivo é compreender a relação comercial
entre estes países, procurando conhecer as vantagens ou desvantagens comerciais para o Brasil
nestes intercâmbios. Neste contexto, a presente monografia encontra-se assim estruturada: no
primeiro capítulo estuda os aspectos teóricos relacionados ao comércio exterior, os motivos que
levam um país a comercializar com outros, a evolução do comércio entre as nações, e os
princípios restritivos ao comércio; no segundo capítulo estuda-se os aspectos sociais, políticos,
econômicos, e comerciais dos países que compõem o chamado BRIC’s, e quais as características
que os tornam candidatos as principais potências emergentes de 2050, bem como os fatores que
podem impedir tal ascensão visualizada por Jim O’Neill; no terceiro capítulo realiza-se uma
análise da composição da Balança Comercial brasileira no período de 1994 a 2009, com os
demais países do chamado BRIC de forma tal que seja possível verificar a competitividade dos
produtos brasileiros exportados para estes países com os que são importados destes. A análise de
tais informações tem o objetivo de verificar a validade da hipótese principal de que o comércio
brasileiro com estes países é deficitário dado ao fato do Brasil exportar para estes países produtos
de baixo valor agregado (essencialmente commodities) e em contra partida importar produtos de
alto valor agregado (baseados em tecnologia). Foram utilizados neste estudo os dados de
importação e exportação disponibilizados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior compreendidos no período de 1987 a 2009.
TABELA 3 – Taxa de crescimento do PIB real e PIB per capita dos BRICS
- 1990 e 2005 (% ao ano)...............................................................................................................38
INTRODUÇÃO............................................................................................................................13
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................62
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................65
13
INTRODUÇÃO
BRIC é um acrônimo criado em 2001 por Jim O’Neill chefe de pesquisa em economia
global do grupo financeiro Goldman Sachs, para designar as principais economias emergentes do
mundo - Brasil, Rússia, Índia e China. Segundo o relatório desenvolvido por Jim O’Neill e
publicado pelo Goldman Sachs (SACHS, 2007), cada país que compõem o BRIC possui claras
funções no desempenho econômico mundial. Brasil e Rússia seriam os maiores fornecedores de
matérias-primas – O Brasil como grande produtor de alimentos e a Rússia de petróleo. Na Índia
e China devida a concentração de mão-de-obra e tecnologia, estariam localizados os negócios de
serviços e manufatura.
Analisar a interação comercial entre os países do BRIC’s se justifica por serem
economias com grande potencial econômico e financeiro de superar a econômica dos países que
compõem o G6 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália). O comércio
internacional é mola propulsora da geração de riquezas econômicas e desenvolvimento social dos
países. É através do comércio que as nações conseguem suprir a demanda interna de tudo aquilo
que não são capazes de produzir internamente ou a sua produção seria muito onerosa. Porém, as
características tecnológicas dos produtos comercializados entre os países nem sempre permite um
resultado comercial positivo para todos os envolvidos na transação comercial. Conhecer,
portanto, o processo de desenvolvimento político e econômico dos países permite aos
profissionais de Comércio Exterior estabelecer as perspectivas do comércio internacional, e
antecipar riscos e oportunidades de negócios.
Neste contexto, o objetivo geral do trabalho é estudar o fluxo de comércio brasileiro com
os demais países que compõem o BRIC (Rússia, Índia e China).
Acredita-se que o baixo valor agregado dos produtos brasileiros exportados para China,
Índia e Rússia o deixa, em relação a estes países, em uma situação de Balança Comercial
deficitária, justamente, pelo fato da contrapartida (as importações) serem compostas de produtos
de elevado valor agregado.
Os objetivos específicos deste trabalho são: mostrar a evolução das exportações e
importações brasileiras com a China, Rússia e Índia, através de dados disponibilizados no site do
Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) do período de 1994 a
2009. Procura-se ainda estudar a composição das transações comerciais do Brasil com estas
14
nações de forma tal que seja possível confirmar ou recusar as hipóteses indicadas anteriormente.
A tarefa básica deste trabalho é mostrar que mesmo o Brasil sendo considerado o “seleiro do
mundo” carece de desenvolvimento tecnológico afetando negativamente o seu desempenho
econômico nas relações comerciais estabelecidas com outros parceiros, e que estando o resultado
da Balança Comercial inter-relacionado com a capacidade que o país possui de agregar valor aos
produtos comercializados. Acredita-se que ao longo do trabalho será possível perceber que o
investimento em tecnologia é a principal estratégia dos demais países que compõem o BRIC, e
este investimento permite maior, produtividade e desempenho comercial de seus produtos. As
duas hipóteses que se procurará verificar com a realização deste trabalho são: que existe uma
deterioração nos termos de troca do Brasil com os demais componentes dos BRIC’s que acarreta
em uma posição de Balança Comercial deficitária para o Brasil; e que existe nas negociações
comerciais que ocorrem entre o Brasil e os demais países componentes dos BRIC’s uma
diferença tecnológica entre os produtos comercializados, sendo este um dos fatores que põem o
Brasil em uma situação deficitária frente a tais países.
O desenvolvimento deste trabalho baseia-se fundamentalmente na utilização dos dados
da Balança Comercial brasileira disponíveis no site do Ministério do Desenvolvimento, Indústria
e Comércio Exterior (MDIC) no período de 1987 a 2009. Utilizam-se também as informações
econômicas e sociais dos BRIC’s disponíveis nos sites Central Intelligence Agency (AGENCY)
e The Federation of International Trade Associations (FITA), além de bibliografias específicas
de comércio exterior e economia internacional.
O trabalho está estruturado da seguinte maneira: no primeiro capítulo estudam-se os
aspectos teóricos relacionados ao comércio exterior, os motivos que levam um país a
comercializar com outro, a evolução do comércio entre as nações, e os princípios restritivos ao
comércio; no segundo capítulo estuda-se os aspectos sociais, políticos, econômicos, e comerciais
dos países que compõem o chamado BRIC’s, e quais as características que os tornam candidatos
as principais potências emergentes de 2050, bem como os fatores que podem impedir tal ascensão
visualizadas por Jim O’Neill; no terceiro capítulo realiza-se uma análise da composição da
Balança Comercial brasileira no período de 1994 a 2009 buscando neste sentido verificar a
validade (ou não) das hipóteses previamente delimitadas.
15
CAPÍTULO I
ASPECTOS TEÓRICOS DO COMÉRCIO EXTERIOR
O comércio internacional existe porque os países não são autárquicos, ou seja, não
possuem condições de suprir suas necessidades de forma independente e economicamente viável.
É a partir da impossibilidade de autarquia que os países são obrigados a manter entre si relações
comerciais com o intuito de suprir suas necessidades de bens, matérias-primas e serviços que
isoladamente não conseguem produzir.
O comércio internacional compreende transações de compra e venda realizadas em âmbito
internacional através das quais os países buscam satisfazer as suas necessidades de recursos que
de outra maneira não conseguem.
A existência de comércio internacional parte do pressuposto básico que um país não
consegue realizar a produção vantajosa e lucrativa de tudo que necessita. O motivo desta
impossibilidade de se produzir tudo e ser auto-suficiente é a distribuição desigual de recursos
naturais, diferenças de clima e solo, técnicas de produção diferenciadas, e know how distintos,
que impossibilita a produção de alguns bens, gerando a escassez destes internamente. Assim
como apontam Carvalho & Silva (2002), mesmo que existissem recursos naturais idênticos em
todos os países as diferenças fiscais e tributárias já seriam fatores suficientes para inviabilizar a
produção interna de alguns bens, estimulando o processo de trocas entre as nações.
Toda transação comercial é composta por duas operações básicas: compra e venda. As
transações de comércio internacional são denominadas de importação e exportação, onde
importações correspondem as compras de produtos e serviços realizadas em outros países, e as
exportações são as vendas realizadas em outros mercados. Souza (2003, p. 144) conceitua
importação como: “uma relação de troca entre países distintos, relativamente à entrada de
mercadorias contra a saída de divisas”.
A exportação, por sua vez, é aquela operação que remete ou vende mercadorias
nacionais para fora do país, e o importador é aquele que realiza a operação inversa, ou seja, traz
os produtos estrangeiros para o país onde reside. Assim, toda transação ocorre a partir de uma
compra e uma venda.
1
Segundo Vieira (2005), FOB - Free on Board (...Named Port of Destination) é uma modalidade de Incoterms
(International Commecial Terms / Termos de comércio Internacional), que reza que as despesas e os riscos de perda
da mercadoria passam a ser de responsabilidade do comprador a partir do momento que a mercadoria transpuser a
amurada do navio no país de origem. Logo quando as importações e exportações são contabilizadas na Balança
Comercial o valor de registro não contabiliza o custo do frete internacional que só é contabilizado na Balança de
serviços outra conta do Balanço de Pagamentos.
2
Balanço de Pagamentos segundo Keedi (2004, pp. 67-68), “representa todas as transações realizadas pelas pessoas,
empresas e governos de todas as esferas de poder com o exterior, sob todas as formas. Tudo que representa entrada e
saída de moeda é registrado. O Balanço de Pagamento é composto, basicamente, pela balança comercial, balança de
serviços, transferências unilaterais e conta de capitais. As três primeiras são denominadas de transações correntes de
um país.”
18
Manter o superávit comercial é muito importante para os países, e para o Brasil não é
diferente haja vista que um déficit comercial implicaria na necessidade de financiamentos
internos ou externos o que à longo prazo comprometeria a política econômica interna.
Na próxima seção destaca-se quais são os fatores que determinam o comércio exterior
entre os países.
Nenhum país consegue produzir tudo o que precisa para se abastecer. Neste sentido é que
se torna importante a realização de comércio com outros países. Em outras palavras, o comércio
exterior ocorre, essencialmente, porque os países precisam de produtos que não conseguem
produzir. São diversos os motivos que fazem um país não ser auto-suficiente. O objetivo desta
seção é destacar estes fatores.
Os motivos que levam os países a comercializarem entre si são os mesmos desde a
antiguidade. Segundo Souza (2003, p. 19): “Tendo como base a permuta, o comércio na
Antiguidade promovia a transferência de mercadorias de uns povos para outros, deslocando-as de
regiões onde elas existiam em abundância para aquelas onde eram escassas ou insuficientes para
atender ao consumo.”
Entre esses motivos, destacam-se as diferenças de clima, de solo, de disponibilidade de
recursos e de conhecimento (know-how), ou seja, a dotação de fatores de produção é uma questão
fundamental que influencia o comércio exterior.
19
Segundo Lopes & Rossetti (2002) com a evolução da humanidade, o ser humano se
tornou sedentário e a sociedade ficou cada vez mais complexa devido ao surgimento de diversos
outros produtos. Com este novo cenário, a dupla coincidência de desejos foi se tornando cada vez
mais rara em se efetivar e as transações comerciais começaram a ser prejudicadas. Para sanar este
problema surgiu a moeda que passou a ser a medida de valor, as trocas passam a ser mais livres e
permitir que indivíduos comercializassem com outros que não necessariamente possuía as
mercadorias que eram de seu interesse. Souza (2003, p.19), analisa que:
Com o passar dos tempos surgiu o comércio entre as nações, conhecido agora como
Comércio Internacional do qual os primeiros registros são datados de 200 a.c. e conhecido como
a “Rota da Seda”. A origem do comércio exterior segundo Souza (2003, p. 19): “está diretamente
ligada ao desenvolvimento das técnicas de transporte e comunicações”.
Apesar dos termos comércio exterior e comércio internacional serem utilizados como
sinônimos existem diferenças muito tênues entre estes dois termos. Como comércio exterior
deve-se entender a regulação Estatal, já o termo Comércio Internacional deve ser entendido como
relações de troca internacional.
possibilitando práticas comerciais mais transparentes. Segundo Maluf (2000, p. 18): “com a
globalização provocada pela revolução tecnológica, as prioridades mundiais modificaram-se.
Busca-se relações mais transparentes, trocas comerciais mais baseadas na competição do que na
proteção”.
A regulamentação do comércio internacional é realizada através de órgãos
internacionais, e suas regras são ditadas por órgãos como a Organização Mundial do Comércio
(OMC), Organização das Nações Unidas (ONU), e a Câmara de Comércio Internacional (CCI).
Na próxima seção destacam-se as teorias de práticas comerciais, indicados os
argumentos a favor e contra cada uma delas.
As práticas comerciais podem ser guiadas pela teoria protecionista ou pela teoria liberal.
Ambas possuem argumentos a favor e contra. O objetivo desta seção é destacar tais argumentos e
entender os momentos em que cada uma delas pode prevalecer.
Segundo Brogini (2002), as práticas protecionistas (ou protecionismo) referem-se às
medidas de defesa comerciais adotadas pelos países para proteger a economia doméstica da
invasão desregulada de produtos de origem internacional. O principal objetivo destas práticas é o
de dificultar a penetração de produtos importados no mercado nacional e/ou proteger a indústria
nacional dos seus concorrentes externos. Para os adeptos das praticas protecionistas o Estado
deve intervir nas relações de comércio ditando as políticas internas e externas controlando as
importações e as exportações.
As teorias liberalistas, por outro lado, visam abrir as fronteiras nacionais aos produtos
importados reduzindo e/ou eliminando qualquer forma de protecionismo. Esta vertente prega o
22
livre comércio entre as nações e a desregulamentação de mercados de forma tal que todas as
transações comerciais sejam facilitadas pelos governos de todos os países acirrando a
competitividade e proporcionando a livre concorrência comercial mundial. Conforme esclarece
Dupas (1998), para a corrente liberal ao governo cabe apenas o papel de regulador da ordem e de
manutenção das leis internas, o comércio não seria de sua competência.
Os liberais pregam, portanto, o livre mercado onde o Estado não faz intervenção alguma
nas questões de comércio. Neste esquema a concorrência ocorre via preço dos fatores que é
determinado pelo mercado sob a teoria da oferta e da demanda, sobrevivendo apenas as empresas
eficientes.
A iniciativa individual onde toda e qualquer pessoa pode exercer a profissão que
desejar, a desregulamentação através da qual o Estado remove todas as barreiras impeditivas da
atividade comercial, e a divisão internacional do trabalho na qual o país só se dedicaria a
produção daqueles bens que lhes são economicamente mais viáveis são os princípios gerais que
norteiam às práticas liberais de comércio.
Segundo Carvalho & Silva (2002), as principais vantagens do modelo liberal são: a)
divisão internacional da produção partilhada pela teoria da especialização nacional, na qual um
país deve concentrar suas forças produtivas naqueles produtos que ele desempenha maior
capacidade lucrativa e deixar a produção dos demais à cargo de países com maior capacidade de
produzi-los; b) promove uma melhor utilização dos recursos naturais; c) economia em escala,
pois se especializando na produção dos bens que possui maior capacidade produtiva ele se
tornaria especialista e produzia em maior escala.
Este autor aponta ainda que as desvantagens do modelo liberal são: a escravidão
comercial e social que por não haver regulamentação estatal e pela distribuição nem sempre ser
igualitária dos benefícios gerados pela atividade comercial os países tornam-se muito vulneráveis
23
às práticas desleais de comércio como o Truste e os Cartéis; conflitos de interesses, pois por visar
exclusivamente o lucro, as empresas passam a adotar práticas produtivas que se conflitam com os
interesses do Estado; e o colonialismo exercido pelos países desenvolvidos sobre os países
subdesenvolvidos e em fase de desenvolvimento forçando-os a não desenvolverem seu parque
industrial e a continuarem como fornecedores de matérias-primas (ou seja, manterem-se
produzindo e comercializando produtos de baixo valor agregado, prejudicando assim o saldo final
da Balança Comercial).
Segundo o destaque de Carvalho & Silva (2002), protecionismo e liberalismo, portanto
são vertentes de política econômica que objetivam descrever o modelo ideal de mercancia entre
as nações. Embora ambos possuam adeptos, são modelos impraticáveis em sua totalidade visto
que a implantação total do protecionismo fecharia as fronteiras nacionais provocando
sucateamento tecnológico e monopólio comercial, enquanto que a implantação integral do
liberalismo prejudicaria a indústria nacional e colocaria o Estado à mercê das oscilações políticas,
econômicas, e comerciais de outras nações.
Logo, o protecionismo e o liberalismo devem ser adotados pelos países de forma
equilibrada buscando permitir a livre concorrência, mas também criando barreiras para evitar o
massacre à economia nacional.
Na próxima seção destacam-se as principais medidas protecionistas existentes e que um
determinado país pode utilizar para controlar as práticas comerciais.
As barreiras protecionistas podem ser de dois tipos: tarifárias e não tarifárias. Segundo
Keedi (2004, p. 74),
As barreiras tarifárias são aquelas que têm como objetivo tornar os produtos de origem
estrangeira mais caros no mercado interno. A mais usual e aplicada é o Imposto de Importação
(também chamadas de Tarifas) que possui como objetivo principal a proteção dos produtores
domésticos frente à concorrência dos produtos importados. Conforme indica Carvalho e Silva
(2002), esta tarifa pode ser: específica, “ad valorem” ou mista. No primeiro caso é cobrado um
valor específico por unidade de produto importado, no segundo o custo da tarifa é calculado
como um percentual do valor da mercadoria importada, enquanto que a tarifa mista implica na
cobrança de determinado montante por unidade importada, além de um percentual sobre o seu
preço.
De acordo com Carvalho e Silva (2002), as vantagens desse tipo de tributação na
importação são: maior arrecadamento de receitas para o Estado; proteção de produtores e
trabalhadores internos; proteção dos recursos naturais; produção estratégica (alguns setores são
de interesse do Estado); favorecimento, mesmo que à curto prazo, da Balança Comercial, e;
estímulo ao aumento da renda e do emprego em períodos de recessão.
Os aspectos desfavoráveis desse tipo de restrição às importações são: menor
concorrência interna, que no caso de mercados de oligopólio ou monopólio podem causar
desestímulo à redução de preços e à melhoria na qualidade dos produtos; perdas aos
consumidores internos por terem de pagar mais caro pelos produtos importados; nocivos efeitos
sobre a distribuição da renda porque as exportações passam a não aumentar a demanda dos
fatores abundantes e as importações não reduz a escassez dos fatores.
Por sua vez, as barreiras não tarifárias já objetivam dificultar ou não a entrada de
mercadorias importadas no país e possui como argumento à seu favor a proteção dos interesses
maiores da população como saúde, segurança, entre outros.
Assim como esclarece Carvalho e Silva (2002) as barreiras não tarifárias são medidas
aplicadas por meio de sansões administrativas e imposição ao cumprimento de regras específicas
na consecução dos produtos importados. São exemplos de barreiras não tarifárias:
a) cotas de importação que visam à importação apenas da quantidade necessária a
complementação da demanda interna;
b) direitos de monopólio estatal que permite a importação de alguns bens apenas pelo
Estado;
25
CAPÍTULO II
3
O conteúdo deste capítulo contempla parte de um trabalho realizado no 5º período na disciplina de Economia
Internacional, ministrada pelo prof. André Luiz Pires Muniz que se tornou em artigo publicado na revista CEPPG do
Centro de Ensino Superior de Catalão – CESUC (MUNIZ & INÁCIO, 2008).
27
O objetivo desta seção é traçar uma descrição das principais características sócio-
econômicas dos países que compõem o BRIC´s, visando entender suas potencialidades e
limitações que poderão influenciar em seu processo de desenvolvimento e crescimento do
comércio internacional.
28
populacional (22,11 habitantes por km²) devido ao seu grande território. A população urbana
corresponde à 81% da população total do país, sendo o sudeste a região mais urbanizada e o
nordeste, por sua vez, é a região com maior população rural. Segundo os dados do IBGE de 2005,
o analfabetismo no Brasil atinge 10,2% de toda a população. O Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) brasileiro de 2006 é de 0,7924 e a expectativa média de vida da população em
2005 era de 71,9 anos.
Apesar de ser considerada uma das principais economias do mundo com uma taxa de
crescimento do PIB de 4,5% em 2007, existe ainda no Brasil uma grande dívida social
(relacionada com as altas taxas de analfabetismo, elevada desigualdade e concentração na
distribuição da renda, sistema de saúde e previdenciário precário, dentre outros) e sérios
problemas estruturais a serem sanados.
Os programas assistenciais desenvolvidos e implantados pelos governos não minimizam o
problema e torna a dependência de grande parte da população uma estratégia eleitoral que atrasa
o desenvolvimento econômico do Brasil. Programas sociais tais como o “Bolsa Família” e o
“Fome Zero” são importantes para impulsionar o consumo provocando aumento na demanda do
mercado doméstico, porém são medidas imediatistas que não agregam nada ao processo
desenvolvimentista nacional o que exige maior atenção do governo nacional, visto que a recente
crise econômica (crise dos títulos imobiliários nos EUA) que modificou significativamente a
demanda global, impôs um novo cenário econômico mundial provocado pela retração no
consumo norte-americano o que reduz o fluxo internacional de comércio e obriga os países que
tinham a sua economia baseada no comércio internacional a desenvolver o seu mercado
consumidor doméstico com o intuito de manter suas taxas de crescimento interno.
No Gráfico 1 pode-se observar a evolução da Balança Comercial brasileira no período de
1950 e 2008 onde se percebe que apesar do fluxo de comércio brasileiro (soma das exportações e
importações) ter aumentado significativamente no período o saldo comercial (que, assim como
assinalado no capítulo 1, é a diferença entre as importações e as importações em termos de
dólares norte-americano) não melhorou na mesma proporção o que sugere uma análise mais
profunda dos motivos destes saldos comerciais.
4
O IDH é um índice que varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, maior é o desenvolvimento econômico do país.
30
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
-20
Como se abordará de forma mais detalhada no terceiro capítulo, no início do Plano Real e
do governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) houve grande incentivo ao aumento da
exportação de produtos manufaturados e semimanufaturados através de feiras internacionais e
incentivos fiscais à exportação de produtos, porém com o início do governo Lula viu-se um
retrocesso na qualidade das exportações brasileiras onde o maior incentivo estatal está voltado as
exportações de matérias-primas demonstrando um anacronismo no comércio internacional
brasileiro. Este retrocesso comercial possui grande peso negativo na Balança Comercial, visto
que o volume de exportações de matérias-primas deve ser elevado para contrabalancear as
importações de produtos industrializados.
fortemente atraente aos investidores internacionais que escolhem o país como sede para a
instalação de empresas multinacionais voltadas principalmente ao setor de serviços.
Regionalmente é considerada uma grande potência econômica, onde suas decisões
possuem peso relevante na economia de seus vizinhos menores. A liderança econômica indiana
frente aos países em desenvolvimento é um fator determinante para o desenvolvimento de
acordos de comércio global visto a sua influência econômica e política frente a tais países.
Conforme aponta Berndt e Nunes (s.d.) o boom econômico indiano marcado por sua imposição
econômica e cultural é no contexto global um importante marco para a ampliação do comércio
mundial de produtos e serviços.
Porém, a precária infraestrutura indiana tem sido apontada pelos investidores
internacionais como o principal entrave aos investimentos no país, as péssimas condições de suas
estradas, o ineficiente sistema de transportes públicos de eletricidade, portos obsoletos e lentos
fazem os investidores estrangeiros dar preferência a investir em outros países como a China, dado
ao fato desta possuir melhor infraestrutura Graefe (2008). A Índia atual é um grande canteiro de
obras, porém ainda são necessários anos de investimentos expressivos em infraestrutura para que
o país possa ser capaz de atrair investimentos estrangeiros tão volumosos quantos os
investimentos recebidos pela China.
Berço de 16% da população mundial, a Índia apresenta a maior taxa de crescimento
demográfico 1,548% ao ano entre os BRIC’s ocupando em 2009, segundo dados do Agency
(2010) o 84º lugar no ranking da Taxa de Crescimento Demográfico Mundial. Os grandes
desafios do governo indiano no campo social são manter a tradição nas ciências exatas, com
sólidos investimentos em educação para a capacitação da mão-de-obra nacional, e reduções nos
índices de criminalidade além de investir em saúde e saneamento básico com a finalidade de
reduzir a pobreza extrema que hoje segundo dados do FITA (2010) atinge 25% da população
indiana que possui um IDH de apenas 0,609, o menor entre os BRIC’s.
Dependendo quase que exclusivamente da expansão do mercado doméstico para o seu
crescimento econômico, a Índia busca no intercâmbio comercial basicamente recursos para
manter o seu desenvolvimento interno, porém estes recursos tem provocado consecutivos déficits
na Balança Comercial indiana.
Para equilibrar o Balanço de Pagamentos a principal estratégia do país é a exportação de
serviços que tem apresentado crescentes saldos superavitários. A Balança Comercial indiana
35
sofre com a alta do petróleo e commodities agrícolas no mercado externo e está acumulando
sucessivos déficits comerciais que contribuem em muito para o aumento de sua dívida externa
que segundo Agency (2010) que em dezembro de 2007 era de 206 bilhões de dólares e em 2009
já ultrapassavam os 229 bilhões de dólares, colocando a Índia em 29º no ranking dos países com
a maior dívida externa ativa do mundo.
Portanto, pode-se notar que apesar do crescente crescimento econômico indiano a sua
Balança Comercial, e seus problemas sociais e de infraestrutura são os maiores entraves ao seu
desenvolvimento futuro.
No sentido inverso aos demais países que compõem os BRIC’s o crescimento econômico
chinês esta voltado quase que exclusivamente à ampliação do mercado consumidor externo, haja
vista as características dos produtos fabricados e comercializados, entretanto a recente crise
financeira mundial (crise dos títulos imobiliários nos EUA) provocou um declínio na demanda
mundial e o fato da produção industrial chinesa estar voltada a produção para exportação
diminuiu a sua participação no comércio exterior mundial o que refletiria de forma negativa em
sua Balança Comercial e retardaria seu processo de desenvolvimento econômico Rajan (2009).
Com a maior população do planeta, a economia da China vem crescendo a passos largos
em média 10% ao ano e com a finalidade de impulsionar o seu desenvolvimento a China tem se
tornado uma importante importadora mundial de matérias-primas e com isso a sua influência
econômica mundial esta em forte ascensão. Na atualidade a economia chinesa é considerada
como um dos melhores países para se investir no mundo e este título conquistado pelos
sucessivos investimentos em educação e infraestrutura tem aumentado gradativamente o volume
de Investimentos Direto Estrangeiro (IDE) no país (MUNIZ, 2009. p. 145).
Conforme aponta Amorim (2005), o sistema bancário nacional, no entanto é um grave
problema na economia do país, visto que as confusões entre as responsabilidades econômicas e
financeiras destas instituições atrapalham o bom desempenho financeiro destes tornando-os
ineficientes para atuar de forma imparcial e firme frente a um processo de globalização
econômica pelo qual o país esta passando. O mercado chinês garantido por uma população com
poder aquisitivo crescente é também um fator importante quando se fala da importância e da
influência econômica global chinesa visto que este tem se tornado cada vez mais atrativo as
36
empresas internacionais que tendem à estabelecer bases no país injetando cada vez mais recursos
financeiros na economia do país.
Entre os BRIC’s a China é com toda certeza o país que possui a melhor infraestrutura
capaz de acompanhar o seu desenvolvimento econômico. Com uma infraestrutura portuária,
rodoviária, ferroviária, e aeroportuária projetada para suportar o crescente volume de mercadorias
transacionadas dentro e fora de suas fronteiras a China tornou-se um grande atrativo ao IDE.
Conforme destaca Indriunas (2008), o que pode vir a ser um entrave aos objetivos de
desenvolvimento dos chineses é um problema comum a todos os países que compõem os BRIC’s,
ou seja, a corrupção política e empresarial que aumentam consideravelmente os custos dos
investimentos em infraestrutura e compromete a imagem do país frente aos investidores
internacionais.
Os custos ambientais, culturais e sociais das obras de infraestrutura chinesas são outros
entraves de grande proporção ao seu desenvolvimento econômico, pois a ganância chinesa tem
atropelado ONGs de proteção ambiental e promovido um sistema desenvolvimentista
ambientalmente insustentável que à longo prazo pode frear o crescimento econômico do país pela
escassez de recursos naturais provocados pela contaminação excessiva de alguns recursos como a
água e o ar ou pela extração desregulada de outros como gás natural, petróleo, carvão, entre
outros Wasserman (2009).
“Irá a China envelhecer antes de enriquecer?” é o questionamento levantado no terceiro
capítulo do livro “BRICS e o Futuro” publicado pelo Goldman Sachs em 2007 (SACHS, 2007).
As medidas de contenção demográfica que no início do século eram necessárias para evitar uma
desestabilização econômica e social no país hoje provocam um efeito inverso, pois o crescente
contingente de idosos do país e a decrescente taxa de natalidade fez inverter a pirâmide etária
chinesa o que em médio prazo pode comprometer o desenvolvimento econômico do país pela
falta de mão de obra visto que a População Economicamente Ativa (PEA) esta reduzindo-se
consideravelmente. Segundo a Agency (2010) em 2009 a taxa de crescimento da população
chinesa foi de 0,665%.
Com investimentos em educação de 1,9% do PIB nacional a China possui uma das mais
altas taxas de alfabetização mundial. Segundo o censo de 2000 realizado pela Agency (2010),
90,9% de sua população é alfabetizada. A alfabetização não atinge toda a população chinesa
também por tradições milenares visto que o maior índice de analfabetismo esta entre as mulheres,
37
e também porque grande parte da população está concentrada na zona rural onde a educação é de
difícil acesso e quando existe é muito precária.
A China em 2009, segundo a Agency (2010) exportou 1.194 trilhões de dólares e
importou 921,5 trilhões de dólares o que lhe conferiu o 2º e 4º lugar no ranking dos países que
mais exportou e importou respectivamente. A crise mundial, porém afetou significativamente o
seu fluxo de comércio internacional. Entretanto a redução de seu fluxo de comércio não
prejudicou as sua reservavas internacionais que saltaram de 1.995 trilhões em 2008 para 2.206
trilhões em 2009 conferindo-lhe o primeiro lugar no ranking mundial, e possibilitou ainda reduzir
a sua dívida externa em 53.5 bilhões de dólares.
Como estudado na seção anterior, todos os países que compõem os BRIC’s possuem
vários fatores favoráveis e desfavoráveis que podem impulsionar ou não o seu desenvolvimento
econômico.
As taxas de crescimento do PIB nominal e PIB per capita apresentadas na Tabela 3
mostram uma disparidade na taxa de crescimento destes dois indicadores, onde os melhores
desempenhos são de China e Índia e os menos expressivos de Brasil e Rússia. O que indica que
embora os países do BRIC estejam em processo de desenvolvimento econômico, China e Índia
possuem maior fôlego econômico que Rússia e Brasil, fato que pode ser explicado pelos altos
índices de investimentos do PIB nos setores sociais e econômicos (no caso de China e Índia) e a
reduzida participação dos produtos industrializados na pauta comercial de Rússia e Brasil além
do pouco investimento do PIB em setores estratégicos tanto sociais quanto econômicos nestes
últimos dois países.
Analisando os recursos naturais de cada país pode-se notar que, enquanto Brasil e Rússia
possuem recursos naturais capazes de viabilizar o seu desenvolvimento econômico e fazem da
exportação destes recursos a sustentação de sua Balança Comercial, a Índia por não possuir
recursos naturais suficientes tem sua Balança Comercial altamente deficitária pela importação
destes em grande escala, e a China apesar de ser rica em recursos naturais ainda necessita
importar parte para suprir todas as suas necessidades produtivas que tem se ampliado.
38
Tabela 3. Taxa de crescimento do PIB real e PIB per capita dos BRICS -1990 e 2005 (% ao ano).
PIB PIB per capita
Anos
Brasil China Índia Rússia Brasil China Índia Rússia
1990 -4,2 3,8 5,6 -5,92 2,29 3,69 -3,37
1991 1 9,2 2,1 -0,34 7,72 -1,07 -5,26
1992 -0,5 14,2 4,2 -2,05 12,81 3,33 -14,57
1993 4,9 14 5 -8,7 3,32 12,71 2,95 -8,56
1994 5,9 13,1 6,8 -12,7 4,33 11,83 5,54 -12,46
1995 4,2 10,9 7,6 -4,1 2,65 9,7 5,74 -4,02
1996 2,2 10 7,5 -3,6 1,17 8,85 5,52 -3,34
1997 3,4 9,3 4,9 1,4 1,76 8,19 2,67 1,7
1998 0 7,8 5,9 -5,3 -1,39 6,77 4,18 -5,04
1999 0,3 7,6 6,9 6,4 -1,39 6,59 5,32 6,83
2000 4,3 8,4 5,4 10 2,85 7,64 2,21 10
2001 1,3 8,3 3,9 5,1 -0,13 7,52 3,47 5,35
2002 2,7 9,1 4,5 4,7 0,49 8,37 2,49 5,21
2003 1,1 10 6,9 7,3 -0,85 9,32 7 7,87
2004 5,7 10,1 7,9 7,2 3,47 9,44 5,39 7,7
2005 2,9 10,4 9 6,4
Média 2,2 9,8 5,9 1,1 0,53 8,65 3,89 -0,8
Fonte: Vieira (2009, p. 104).
A infraestrutura também é um grande problema para três países que compõem o BRIC,
pois enquanto a infraestrutura do Brasil e da Índia são insuficientes para fazer frente ao seu
desenvolvimento econômico em grande escala, a Rússia apesar de possuir uma grandiosa infra-
estrutura (herança em grande parte da URSS) ainda falta recursos para fazer manutenção, o que
está provocando o seu sucateamento.
No tocante aos aspectos socioculturais, todos os países apresentam problemas
significativos. O Brasil enfrenta o alto índice de analfabetismo, déficits previdenciários
crescentes, programas sociais ineficientes, corrupção política e empresarial, e êxodo rural
expressivo. A Rússia apesar de possuir um alto índice de alfabetização o pouco investimento nos
últimos anos começa a apresentar prejuízos sociais, a pobreza extrema e crescente é outro
problema sério, além da concentração urbana. A Índia por outro lado tem investido bastante em
educação nos últimos anos apesar de possuir ainda o maior índice de analfabetismo entre os
BRIC (44,2% de sua população é analfabeta – segundo a Agency (2010)). Os principais
39
CAPÍTULO III
O COMÉRCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RÚSSIA, ÍNDIA E CHINA
Busca-se através de uma análise detalhada dos dados do MDIC compreender como se dá a
relação comercial do Brasil com a Rússia, Índia e a China, de forma tal que seja possível
visualizar qual a posição ocupada pelo Brasil nas relações comerciais, ou seja se o mesmo é
credor ou devedor destes parceiros comerciais e quais são os principais produtos comercializados.
O estudo da relação comercial brasileira com a China, Índia e Rússia se justifica, pois o fluxo
comercial destes países com o Brasil em 2004 já ultrapassava a soma de 15,5 milhões de dólares
e em 2005 estes três países já estavam entre os 21 principais parceiros comerciais do Brasil.
O Gráfico 2 abaixo mostra o fluxo de comércio internacional brasileiro com a Rússia
Índia e China. Percebe-se que a soma das importações e exportações em 1987 correspondiam a
apenas 2,13% do fluxo total de comércio e que há uma considerável elevação deste fluxo na
década de 90 onde em 1995 atinge o patamar de 3,85%. A partir de 2000 nota-se também que
estes passam a ter uma representatividade expressiva, pois de 3,42% em 2000 este fluxo passa a
16,39% em 2009 do fluxo total do comércio internacional brasileiro, número este
significativamente inflado pela relação comercial Brasil – China.
41
18,00%
16,00%
14,00%
Participação % (Representatividade)
4,00%
3,
42
14,00%
12,00%
Representatividad
Representatividad
10,00%
8,00%
Nas próximas seções estuda-se a relação comercial do Brasil com cada um dos outros
países do BRIC’s de forma a comprovar ou a recusar a hipótese de que o valor agregado dos
produtos transacionados entre estes países deixa o Brasil em situação desfavorável
comercialmente.
6,00%
43
5.000.000.000
4.000.000.000
3.000.000.000
2.000.000.000
Gráfico 4 – Evolução do saldo da Balança Comercial entre Brasil X China – 1987 a 2009.
US$ MILHÕES
Fonte: Muniz & Inácio (2008, p. 141) – atualizado com informações para o ano de 2009 extraídos do MDIC.
O Gráfico 1.000.000.000
5 permite visualizar a participação percentual da China no total comercializado
pelo Brasil com o mundo no período de 1987 a 2009, onde se percebe que até o ano 2000 a
participação chinesa no comércio exterior brasileiro era pouco expressiva, haja vista que o fluxo
0
comercial (importação ou exportação) entre Brasil e China era inferior a 6% do total
7
1
9
2
comercializado, contudo em 2001 este passa a ser mais expressivo.
8
9
9
9
o total Importado e Exportado
1
-1.000.000.000
14,00
-2.000.000.000
12-3.000.000.000
,00
Nota-se também no mesmo gráfico que até 2000 existia certo equilíbrio entre as exportações e
importações brasileiras destinadas e oriundas da China em termos de dólares norte americanos.
Entre 2001 e 2003 as exportações para a China aumentam significativamente tornando-se mais
expressivas que as importações e que a partir de 2004 ocorre uma inversão neste quadro até que
em 2008 as importações da China superam as exportações e chega a quase 12% do total
importado pelo Brasil contra um pouco mais de 8% do total exportado pelo Brasil.
O Gráfico 6 apresenta a balança bilateral entre Brasil e China no período de 1994 a 2009
permitindo realizar um comparativo entre os governos FHC e Lula. É possível perceber que
ocorreu neste período um aumento de aproximadamente 3.432% no total das importações
brasileiras da China contra um pouco mais de 2.455% das exportações brasileiras para a China.
Analisando o Gráfico 6 pode-se perceber também que há significativa mudança no
cenário comercial a partir de 2006 segundo ano de mandato do Governo Lula, pois em 2002
último ano de mandato do Governo FHC, o valor das exportações brasileiras para a China
cresceu 33% alcançando um superávit comercial 69% maior em relação a 2001. Contudo, em
2004, o Brasil passa a apresentar um cenário comercial que mesmo estando em consonância com
as políticas externas estabelecidas pelo governo anterior apresenta um crescimento tímido das
exportações frente às importações chinesas gerando pouco mais de 78% de crescimento do saldo
comercial.
O saldo comercial brasileiro com a China de 2003 a 2008 teve redução superior à 152%
tornando o intercambio comercial Brasil x China pouco interessante a economia nacional,
contudo em 2009 a necessidade chinesa de investimento em infraestrutura para manter o
aquecimento de sua economia frente a crise mundial exigiu que esta importasse grande volume
de matérias-primas principalmente minérios de ferro e soja o que favoreceu a Balança Comercial
brasileira fechando o ano com um intercambio comercial favorável em mais de US$ 4 bilhões
para o Brasil.
46
20.000.000.000
15.000.000.000
Gráfico 6 – Balança Bilateral Brasil x China – 1994 a 2009.
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do MDIC.
Exportação
Este resultado comercial entre Brasil e China pode ser explicado não só pela natureza dos
produtos comercializados entre estes países, mas também pelos incentivos comerciais e
governamentais de estímulo as exportações, visto que ao passo que o governo FHC estava focado
10.000.000.000
no incentivo à exportação de produtos manufaturados e industrializados, o de Lula já focou os
esforços comerciais brasileiros na produção e exportação de produtos primários sem nenhuma ou
pouca industrialização. Em outras palavras, o país continua enviando à China mais matérias-
primas que enviava em 2002 e recebe menos máquinas e equipamentos que recebia neste mesmo
período de análise.
5.000.000.000
A Tabela 4 apresenta as exportações do Brasil para a China no período de 1994 a 2009
onde se percebe que a partir do segundo ano de mandato do governo FHC há uma intensificação
na exportação de Produtos Básicos para a China e em conseqüência um declínio na exportação de
produtos industrializados (tanto manufaturados como semi-manufaturados). Todavia, é em 1998
que estas exportações realmente caracterizam o Brasil como produtor de matérias-primas para a
0
1994
1995
1996
1997
China onde as exportações desse tipo de produto alcançam uma soma superior a US$ 620
milhões totalizando mais de 69% das exportações brasileiras destinadas a esse país. Nos anos
subseqüentes a 1998 o que se vê é uma pequena oscilação no cenário comercial Brasil x China,
porém com pouco ou nenhum acréscimo expressivo na exportação de produtos com alto valor
agregado.
-5.000.000.000
47
TELA P/MICROCOMPUTADORES
238.966.270 1,5 290.428.269 1,45 99.252.702 0,79
PORTATEIS,POLICROMATICA
OUTROS CIRCUITOS INTEGRADOS 194.855.156 1,22 105.478.913 0,53 77.348.206 0,61
GLIFOSATO E SEU SAL DE MONOISOPROPILAMINA 172.085.406 1,08 48.444.374 0,24 209.393 ---
TERMINAIS PORTÁTEIS DE TELEFONIA CELULAR 167.544.180 1,05 342.197.375 1,71 155.668.656 1,23
Com este cenário comercial surge outra questão muito polêmica economicamente, pois a
especialização nem sempre traz benefícios aos países especialistas visto que uma oscilação
econômica externa pode mudar as necessidades de importação de determinado país e a
continuidade deste panorama comercial do Brasil com a China pode prejudicá-lo, visto que as
49
O comércio entre Brasil e Rússia inicia-se em 1992, pois antes este país pertencia à
extinta União Soviética e só mantinha relações comerciais com países pertencentes a este bloco
econômico, ou com aqueles que compartilhavam com estes países os mesmos princípios
ideológicos, políticos e sociais. Ocupando a décima terceira posição no ranking dos principais
parceiros comerciais do Brasil, o saldo da Balança Comercial entre Brasil e Rússia, nos anos mais
recentes (a partir de 2000) é positivo.
50
3.000.000.000
2.500.000.000
2.000.000.000
Gráfico 7 – Evolução do saldo da Balança Comercial entre Brasil X Rússia – 1987 a 2009.
US$ Milhões
Como é 1 possível
.500.0observar
00.000no Gráfico 7 a trajetória ascendente do saldo comercial entre
estes países se eleva até o ano de 2006, porém, a partir de então, passa a ser positivo, mas em
montantes inferiores, ou seja, passa a ter uma trajetória descendente. Tal fato pode ser explicado
pela característica dos produtos transacionados entre estes dois países e pelas altas dos preços das
commodities no1.000.000
mercado .000
internacional, sendo o comércio entre Brasil e Rússia sustentado
basicamente pela exportação de produtos de baixo valor agregado e as importações sendo
compostas de produtos de alto valor agregado e de commodities como o petróleo e os fertilizantes
que desde 2006 tem obtido sucessivas altas no mercado internacional. Pode-se dizer que mesmo
500.000.000
existindo um decréscimo no saldo da Balança Comercial entre Brasil e Rússia este ainda tem
apresentado fôlego exportador favorável. Contudo, estes superávits comerciais podem não se
sustentar à longo prazo haja vista que é crescente a exportação de produtos de baixo valor
agregado e decrescente a exportação de produtos industrializados.
0
O Gráfico 8 apresenta a participação percentual da Rússia no total comercializado pelo
1987 1988 1989 1990 1991 1992
Brasil com o mundo de 1992 a 2009. Percebe-se com estas informações que apesar do
intercâmbio comercial entre Brasil e Rússia não ser tão representativo para a Balança Comercial
brasileira como a-50
relação
0.000comercial
.000 existente com a China, desde 2001 este é bastante
significativo.
51
2
Gráfico 8 - Relação Brasil X Rússia – participação percentual das exportações e
importações russas no total exportado e importado pelo Brasil – 1992 a 2009.
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do MDIC.
Contudo este gráfico apresenta outra importante curiosidade sobre o perfil comercial do
1,5o Brasil tendo se tornado alto suficiente na produção e consumo de petróleo
Brasil, pois mesmo
ainda é grande a importação desta commoditie da Rússia, e a crescente profissionalização da
produção agrícola nacional faz com que o consumo de fertilizantes e agrotóxicos importados da
Rússia (grande produtora mundial destes insumos) seja crescente o que aumenta a participação da
1 nacionais.
Rússia nas importações
Este cenário, apesar de apresentar tendências a déficits comerciais futuros é muito
favorável ao país no longo prazo visto que o Brasil esta importando da Rússia insumos que
permite agregar valor na produção nacional de bens que posteriormente são exportados até
mesmo para a Rússia, caso que não ocorre com a China (por exemplo) visto que ao passo que
0,5
exportamos commodities e importamos commodities da Rússia o intercâmbio Brasil x China é
baseado em commodities-tecnologia.
O Gráfico 9 apresenta a Balança Comercial entre Brasil e Rússia no período de 1994 a
2009, onde é possível perceber que a partir de 2003, no primeiro mandato do Governo Lula, há
uma intensificação0
do comércio brasileiro com a Rússia.
5.000.000.000
4.000.000.000
Exportação
Gráfico 9 – Balança Bilateral Brasil x Rússia – 1994 a 2009.
3.000.000.000
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do MDIC.
US$ Bilhões FOB
Nota-se também que as exportações para esse país cresceram de forma gradativa desde
2005 até 2008 e que as importações até 2006 não acompanharam as exportações, o que gerou
saldos positivos crescentes para o Brasil, porém a partir de 2007 as importações provenientes da
2.000.000.000
Rússia são impulsionadas e o saldo comercial mesmo estando positivo sofre um decréscimo
significativo. Em 2009 já ocorrem decréscimos em toda a pauta comercial do Brasil com a Rússia
o que proporcionou ao Brasil um saldo comercial que apesar de ser mais superavitário que o
apresentado em 2008 ainda é pequeno se comparado ao alcançado em 2006.
A Tabela 6 apresenta as exportações do Brasil para a Rússia no período de 1994 a 2009
onde se percebe 1.000.000.000
que a partir do último ano do segundo mandato do governo FHC (2002) há uma
intensificação na exportação de Produtos Básicos para a Rússia e em conseqüência um declínio
na exportação de produtos industrializados.
As informações da Tabela 6 permitem também perceber que há uma modificação
crescente na pauta de exportações Brasil x Rússia desde a posse do Governo FHC, pois em 1994
0 Brasil para a Rússia era composta por produtos
praticamente 78% da pauta de exportação do
1994passa a 1995
manufaturados e que a partir de então esta relação comercial 1996
se modificar gradativamente 1997
ano a ano.
-1.000.000.000
53
Contudo a mudança mais expressiva na pauta de exportação ocorre a partir de 2001, ano
que a participação dos manufaturados na Balança Comercial fica abaixo de 8%, e a dos produtos
básicos alcança mais de 29% da pauta de exportação. Com a troca de governos em 2003 a pauta
de exportação do Brasil para a Rússia bate mais um recorde de exportação de produtos básicos
(quase 45% das exportações). Os incentivos governamentais de Lula à produção agrícola e à
exportação de matérias-primas fizeram com que em seu mandato a pauta de exportação para a
Rússia ainda se deteriorasse mais fechando 2009 com os produtos básicos compondo mais de
63% da pauta de exportação e os semi e manufaturados em conjunto representando menos de
37% das exportações brasileiras para a Rússia.
A Tabela 7 apresenta os dez principais produtos que compõem a Balança Comercial do
Brasil com a Rússia no período de 2009 a 2007, onde pode-se notar que o comércio entre estes
dois países é composto basicamente pela comercialização bilateral de matérias-primas que visam
impulsionar o processo produtivo de cada país. Contudo o que se nota observando este ranking é
54
que, mesmo os produtos russos sendo matérias-primas, estes possuem maior valor agregado que
as matérias-primas exportadas pelo Brasil.
CAFE NAO TORRADO,NAO DESCAFEINADO,EM GRAO 39.730.625 1,39% 33.295.121 0,72% 24.696.001 0,66%
FUMO N/MANUF.TOTAL/PARC.DESTAL.
16.480.050 0,57% 39.527.656 0,85% 13.388.514 0,36%
FLS.SECAS,TIPO "BURLEY"
PRINCIPAIS PRODUTOS IMPORTADOS
2009 2008 2007
Valor FOB Part. % Valor FOB Part. % Valor FOB Part. %
TOTAL DOS DEZ PRINCIPAIS PRODUTOS
1.116.345.605 79% 1.510.315.503 45% 875.510.403 51%
IMPORTADOS
OUTROS CLORETOS DE POTASSIO 448.348.141 31,75% 382.722.480 11,49% 298.697.576 17,47%
UREIA COM TEOR DE NITROGENIO>45% EM PESO 249.057.723 17,64% 527.274.667 15,82% 358.214.009 20,96%
NITRATO DE AMONIO, MESMO EM SOLUCAO 144.928.350 10,26% 214.696.398 6,44% 117.914.228 6,90%
AQUOSA
OUTROS HELICOPTEROS DE PESO>3500KG,VAZIOS 73.478.880 5,20% --- --- --- ---
Outro importante fator que pode ser observado nesta Tabela 7 é que ao passo que os dez
principais produtos exportados para a Rússia desde 2007 já compreendiam mais de 83% da pauta
de exportação chegando em 2009 a 93% desta, a pauta de exportação da Rússia para o Brasil em
2007 era mais diversificada com os dez principais produtos representando apenas 51% da pauta
de exportação, porém com o início das importações por parte do Brasil do produto (OUTROS
HELICOPTEROS DE PESO > 3500KG,VAZIOS ), há uma maior concentração na pauta de
exportação russa com o Brasil.
O curioso é que ao passo que o carro chefe da Balança Comercial brasileira com a Rússia
sempre esteve focado na exportação de produtos derivado da produção agrícola e pecuária do
país, as exportações da Rússia para o Brasil estão concentradas na comercialização de matérias-
primas derivadas de extração mineral e fertilizantes químicos que além de possuírem maior valor
agregado exigem maior emprego tecnológico que os utilizados na concepção dos produtos
brasileiros.
Relembrando as palavras de Jim O’Neill, nos BRIC’s pode-se ver que Rússia e Brasil
estão seguindo as suas funções de grandes produtores e exportadores de matérias-primas
inclusive no comércio bilateral existentes entre eles, e que, mesmo estando as transações
bilaterais entre Brasil e Rússia concentradas em matérias-primas, a situação comercial do Brasil
não é muito favorável, visto que a diferença no emprego de tecnologia dos produtos russos para
os brasileiros faz com que os últimos tenham menor valor comercial o que diminui os ganhos do
país nas negociações internacionais, podendo no futuro provocar déficits substanciais na Balança
Comercial brasileira também com a Rússia.
comerciais. Os produtos adquiridos pela Índia do Brasil são basicamente matéria-prima com
pouca ou nenhuma tecnologia empregada.
1.500.000.000
1.000.000.000
500.000.000
US$ MILHÕES
4.000.000.000
0,5
3.000.000.000
Exportação
0
2.000.000.000
1992 1993 1994 1995 1996 1997
es FOB
1.000.000.000
58
2009, ano inclusive que o percentual de produtos básicos transacionados é inferior a 2008, ano de
maior déficit comercial registrado nesta Balança Bilateral desde 1987.
Nesta tabela também pode ser observado que há grande concentração na pauta de
exportação brasileira com a Índia, assim como ocorre com os demais componentes dos BRIC’s,
visto que ao passo que em 2009 os dez principais produtos exportados pelo Brasil para a Índia
61
CONSIDERAÇÕES FINAIS
primas e o desafio destes dois países é tornar o comércio de commodities um mecanismo para
alavancar sua importância econômica mundial através do investimento dos recursos resultantes
do comércio internacional em áreas estratégias como a educação, infraestrutura e indústria de
bens de capital e tecnologia; a Índia, o grande elefante asiático, tem como principal propulsor de
seu desenvolvimento econômico os volumosos investimentos em tecnologia, o nível educacional
de sua população e o baixo custo da mão-de-obra nacional que atrai grandes somas de
investimento direto estrangeiro com o objetivo de sediar no país os setores de serviços de
empresas multinacionais.
Como pôde ser conferido no capítulo dois, todos os países que compõem o BRIC’s
enfrentam problemas significativos que podem comprometer sua candidatura as grandes
potências econômicas de 2050, mas que também possuem grande fôlego econômico e financeiro
tornando o estudo de Jim O’Neill muito relevante.
No terceiro capítulo deste trabalho procurou-se compreender o comércio bilateral entre o
Brasil e os demais componentes dos BRIC’s (Rússia, Índia e China) de forma tal que fosse
possível verificar a validade da hipótese de que o comércio existente entre esses era desfavorável
ao Brasil uma vez que o Brasil exporta para esses países produtos de baixo valor agregado
(essencialmente commodities), e em contra partida importa produtos de alto valor agregado
(baseados em tecnologia) o que coloca o país em relação a esses parceiros comerciais em uma
situação comercial deficitária.
Tendo o exposto percebe-se que o comércio brasileiro com os demais componentes dos
BRIC’s, com exceção da Rússia, é altamente deficitário para o Brasil principalmente na relação
comercial bilateral com a China onde com exceção do ocorrido em 2009 (ano em a China para
manter o aquecimento da economia interna frente à crise internacional investiu expressivamente
em sua infraestrutura importando volumes significativos de matéria-prima), os déficits comerciais
são crescentes prejudicando o saldo da Balança Comercial brasileira.
Este cenário deficitário no que tange a Balança Comercial brasileira é ocasionado pela
qualidade do intercâmbio comercial brasileiro com os demais países que compõem os BRIC’s,
haja vista que a grande concentração nacional na produção e comercialização de matérias-primas,
a ineficiência da indústria brasileira em produzir e comercializar em grande escala produtos de
alto valor agregado a preços internacionalmente competitivos capazes de rivalizar com grandes
potências industriais, somados ao pequeno incentivo governamental de desenvolvimento da
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produção industrial colocam o Brasil a mercê das oscilações externas na demanda internacional
de commodities, tornando-o ano após ano apenas um grande produtor e exportador de insumos
para o desenvolvimento econômico de outros países. Portanto, acredita-se que a hipótese
previamente levantada foi confirmada com o presente estudo.
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