5.1 - Quanto à forma, podem ser escritas, se corporificadas num documento escrito
ou costumeira quando estruturada em usos e costumes fixados pela tradição. "A
Constituição norte-americana de 1787 é uma Constituição escrita. Assim também o têm
sido todas as constituições brasileiras: as de 1824, 1891, 1934, 1937, 1946, 1867 e 1988.
Já a Constituição da Inglaterra é uma Constituição costumeira desde a Magna Carta
(1215)"
5.5 - Quanto ao tamanho, podem ser sintética, com reduzido número de artigos, são
exemplos: a Constituição norte-americana e brasileira do Império, tendem a uma maior
permanência e se ajustam aos países desenvolvidos, ou analítica quando composta de
grande número de artigos, como a da Índia, de 1949 (395 artigos) e do Brasil, de 1988 (320
artigos).
A constituição escrita é aquela codificada e sistematizada num texto único, elaborado numa mesma
época por um órgão constituinte, encerrando todas as normas tidas como fundamentais à estrutura do
Estado.
A constituição não escrita é aquela cujas normas não constam de um documento único e solene, mas
se baseiam principalmente nos costumes, convenções, jurisprudência e leis esparsas, como é o caso
da Constituição Inglesa.
Dos conceitos acima expostos, verifica-se facilmente que enquanto a constituição escrita nasce
formalmente, num dado momento, por meio da ação do órgão competente, as constituições não
escritas nascem informalmente, sendo produzidas por toda a coletividade, por meio da evolução dos
costumes, jurisprudência etc..
Aliás, exatamente devido a essa distinção na formação de tais constituições é que se pode afirmar,
sem medo de errar: a origem do direito é que conta para a classificação como escrita ou não escrita.
Caso as normas constitucionais tenham sido elaboradas solenemente por um órgão especialmente
designado para tal, a constituição será do tipo escrita; caso tenham sido elaboradas de modo
informal, no decorrer do tempo, será do tipo não escrita.
Finalmente, cabe ressaltar que nas constituições não escritas não se pode falar em rigidez
constitucional e supremacia formal da Carta em relação ao direito ordinário. Não sendo os textos
esparsos elaborados segundo procedimento mais dificultoso que os da legislação ordinária, admite-se
apenas sua superioridade material em face das demais normas do país.
A constituição dogmática, sempre escrita, é aquela que, elaborada por um órgão constituinte,
sistematiza os dogmas ou idéias fundamentais da teoria política e do Direito dominantes no momento
de sua elaboração.
A constituição histórica (ou costumeira), não escrita, é resultante de lenta formação histórica, do lento
evoluir das tradições, dos fatos socio-políticos, que se cristalizam como normas fundamentais da
organização de determinado Estado, como é exemplo a Constituição Inglesa.
Como se vê, o conceito de constituição dogmática é conexo com o de constituição escrita, assim como
o de constituição histórica o é com o de constituição não escrita.
A constituição flexível é aquela que pode ser livremente modificada pelo legislador, segundo o mesmo
processo de elaboração das leis ordinárias. Em regra, são flexíveis as constituições não escritas, mas
também há exemplos de constituições escritas flexíveis, como foram as Constituições francesas de
1814 e 1830 e a Imperial italiana de 1848 (Estatuto Albertino).
A constituição semi-rígida é aquela que contém uma parte rígida e outra flexível, isto é, uma parte
que somente pode ser modificada mediante processo especial e mais solene que o ordinário, e outra
alterável pelo mesmo processo legislativo ordinário.
(a) A distinção entre constituições rígidas e flexíveis não pretende afirmar que existam, de um lado,
constituições imutáveis e, de outro, constituições mutáveis, uma vez que podemos considerar absurda
a idéia de se admitir que o texto constitucional de um Estado, destinado a regular a vida de uma
sociedade em constante progresso, seja imutável ou perpétuo. O que se faz é distinguir aquelas
constituições escritas, cujo conteúdo pode modificar-se só mediante processos mais complexos e
solenes do que aqueles previstos para as leis ordinárias, de outras, nas quais o mesmo resultado se
pode conseguir com os procedimentos legislativos normais. Em suma, a rigidez constitucional garante,
tão-somente, a imutabilidade relativa das normas constitucionais;
(b) A denominação flexível parece indicar instabilidade, sugerindo que as constituições flexíveis seriam
instáveis, objeto de modificações freqüentes, já que passíveis de serem alteradas pelo legislador
ordinário. Por outro lado, as rígidas, por exigirem procedimento especial para sua modificação, seriam
estáveis. No entanto, se feito um breve retrospecto, ver-se-á que a prática tem refutado essa idéia,
como exemplificam, de um lado, a Constituição inglesa, típica não-escrita e flexível, que pouco muda
(as principais características do governo inglês continuam sendo as mesmas desde 1689 e 1701) e, de
outro, a atual Constituição brasileira, escrita e rígida, que é reformada constantemente (em 11 anos,
temos mais de 20 emendas);
(c) O conceito de rigidez constitucional não tem qualquer relação com a existência de um núcleo
imodificável na Constituição, isto é, com as chamadas cláusulas pétreas. Nada impede, p. ex., venha
uma Constituição flexível estabelecer um núcleo imodificável em seu texto: este seria inalterável,
permanecendo os demais dispositivos modificáveis por meio de procedimento ordinário;
As normas constitucionais apenas sob o aspecto formal surgem, portanto, naqueles casos em que
determinadas regras jurídicas, de natureza não substancialmente constitucional, são inseridas no
texto constitucional no intuito de se obter aquela tutela especial e típica da Constituição.
Note-se, assim, que a concepção de constituição material leva em conta o conteúdo da norma jurídica,
esteja esta ou não codificada numa Constituição. Na verdade, nessa teoria, é irrelevante a norma
estar ou não codificada em um texto constitucional único: desde que o conteúdo da norma seja um
dos elementos essências da organização do Estado, estaremos diante de uma norma materialmente
constitucional. Portanto, se a norma cuida da organização do Estado, de seus órgãos, de suas
competências, dos direitos individuais, será ela materialmente constitucional, esteja ou não inserta
numa Constituição.
Por outro lado, o conceito de constituição formal leva em conta o processo de elaboração das normas,
considerando constitucionais todas as normas integrantes de uma constituição escrita, sem distinção
quanto ao seu conteúdo. Nessa concepção, todas as normas insertas na Constituição, desde que
produzidas por um processo especial, mais solene que o de elaboração das normas ordinárias, são
tidas por constitucionais. Vale dizer: as normas são constitucionais pelo só fato de constarem do texto
da Constituição, pouco importando o seu conteúdo.
Outro aspecto importante a ser destacado: o conceito de constituição formal pressupõe a existência
de uma constituição escrita. Não se compreende a existência de normas formalmente constitucionais
se não estiverem expressas em um texto escrito. Isso porque nos países que adotam constituição não
escrita, como a Inglaterra, não podemos encontrar diferença entre os processos de elaboração da
constituição e das demais normas legislativas, não existindo, portanto, um processo especial, mais
dificultoso, para a elaboração da lei constitucional. No caso de constituição não escrita, admite-se, tão
somente, a diferenciação entre lei materialmente constitucional e materialmente ordinária
(supremacia material da constituição).
Por último, cabe ressaltar que, em virtude da ampliação do conteúdo das constituições (e, por via de
conseqüência, do objeto do direito constitucional), bem como do fato de atualmente a quase
totalidade das constituições das nações serem do tipo escritas e rígidas (portanto, formais), a
tendência é reduzir-se a importância dessa distinção entre constituição material e constituição formal.
Além dessa tradicional classificação, a doutrina faz referência a outras classificações, a seguir
brevemente apresentadas.
CONSTITUIÇÃO DIRIGENTE (OU PROGRAMÁTICA): É aquela que define fins e programas de ação
futura, manifestando preocupação com a evolução política do Estado; preocupa-se não só com o
presente, mas também com um ideal futuro, buscando condicionar os órgãos estatais à satisfação de
tais objetivos; numa constituição dirigente temos, em grande número, normas do tipo programáticas,
que são comandos destinados aos órgãos estatais, estabelecendo um plano de ação para estes, na
condução dos rumos do Estado.
CONSTITUIÇÃO NORMATIVA: É aquela que efetivamente cumpre o seu papel, vinculando todo o
processo político do Estado – é a constituição respeitada, efetivamente, por todos os Poderes do
Estado.
CONSTITUIÇÃO SEMÂNTICA: Essa concepção de constituição tem sido tratada pela doutrina sob dois
enfoques distintos.
Numa visão antológica, constituição semântica seria aquela utilizada pelos dirigentes do Estado para
sua permanência no poder, havendo um desvirtuamento da finalidade constitucional: em vez de a
Constituição limitar a ação dos Governantes em benefício dos indivíduos, seu verdadeiro fim, seria
utilizada por estes para a manutenção do próprio poder.
Em outra frente, considera-se constituição semântica aquela em que sua interpretação depende da
valoração de seu conteúdo significativo, sociológico, visando uma maior aplicabilidade político-
normativa-social do seu texto. Esse conceito contrapõe-se àquele de constituição nominalista, que é
aquela cujo texto contém direcionamentos para situações concretas, a serem resolvidas mediante
aplicação pura e simples das normas constitucionais, com o uso tão-só da interpretação gramatical-
literal.