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Interpretação Clínica

do Hemograma nas Infecções

NEWTON KEY HOKAMA A simples observação da decantação dos


Médico hematologista-hemoterapeuta da Divisão Hemocentro eritrócitos em sangue anticoagulado in vitro
da Faculdade de Medicina (Unesp) - Botucatu, São Paulo.
(velocidade de hemossedimentação ou VHS)
PAULO EDUARDO DE ABREU MACHADO começou a ser utilizada como parâmetro de
Professor titular de Hematologia do Departamento de Clínica atividade de doença no início deste século.
Médica da Faculdade de Medicina (Unesp) -
Botucatu, São Além do fascínio que o sangue sempre exerceu
Paulo. sobre a curiosidade humana, a facilidade em
obter amostras para análise, seja através da
punção digital. venosa. arterial ou até por sangria
cruenta, permitiu sua instrumentalização na análise
laboratorial.
Mas a utilidade do hemograma (a análise
citológica do sangue através de parâmetros
laboratoriais qualitativos e quantitativos) na prática
médica se baseia nas seguintes constatações:
Por que analisar o sangue?
· Com freqüência as alterações sangüíneas
No PaleolíticoSuperior. um hominídeo (quantitativas e qualitativas) ocorrem
registrou, nas paredes de uma caverna (em secundariamente a.2s processos patológicos (de
Trois-Frêres. França).o que interpretamos como a natureza local ou sIStêmica).
primeira evidência (pré) histórica da relação entre o · As alterações sangüíneas podem ser
sangue e os fatos da vida: um animal ferido por monitorizadas, permitindo a análise evolutiva
inúmeras setas e pedras, sangrando pela pele, dos processos patológicos.
boca e nariz.
Na Antiguidade, os médicos gregos notaram
· As doenças primárias do sangue se manifestam
predominantemente por alterações qualitativas
que o sangue de algumas pessoas doentes (morfológicas)e(ou) quantitativas.
coagulava rapidamente, e formava uma lenta
crusta phlogistica. considerada como o humor
responsável pelas doenças, base "fisiopatológica" O que é sangue?
das sangrias como "medida terapêutica" . É um tecidoconstituído de:
No século XVII, Anton van Leeuwenhoek, ao
desenvolver o microscópio. inaugura a análise
citológica do sangue.Sahli. no século passado. /Eritrócitos
desenvolveu método para dosagem de · Células-Plaquetas /Linfócitos
hemoglobina, com base na propriedade pigmentar '-Leucócitos,Monócitos /Eosinófilos
desta molécula. Paul Ehrlich, também no século Granulócitos" Neutrófilos
Basófilos
passado, com suas pesquisas. desenvolveu
colorações para os leucócitos. permitindo a
identificação das células sangüíneas como as · Plasma (água,nutrientes, eletrólitos.
conhecemos até os dias de hoje. catabólitos, hormônios. proteínas. lipídeos, etc.)

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Como o sangue é produzido? de alterações como resposta do hospedeiro frente


à agressão, que se denomina resposta de fase
As células sangüíneas são produzidas na aguda.
medula óssea, originárias, em comum, de uma
população de células pluripotentes (célulastronco).
que produzem células progenitoras específicas
para as séries mielóide (eritróide, granulocítica,
monocitária, plaquetáría)e linfóide, recrutadas a
partir de estímulos especificos que controlam a
_~ s células sangüíneas são produzidas na
medula óssea, originárias, em comum, de
proliferação. A diferenciação ocorre através da uma população de célulaspluripotentes
expressão gênica diferenciada de cada célula (célulastronco), que produzem células
progenitora específica. progenitoras específicaspara as séries
Devido à sobrevida relativamente curta destas mielóide {eritróide, granulocítica,
células, a taxa de proliferação na medula óssea é a monocitária, plaquetáriaJ e linfóide,
maior do organismo. Além disso, a produção das recrutadas a partir de estímulos
células pode aumentar em até seis a 10 vezes, em específicosque controlam a proliferação.
circunstâncias de maior demanda. A diferenciaçãoocorre através da
expressãogênica diferenciada de cada
Quais são os dados do hemograma? célula progenitora específica
Eritrograma
Contagem de glóbulos vermelhos - Milhões por Esta resposta envolve o organismo como um
mm3 de sangue. todo, independentemente do tecido injuriado.
Dosagem de hemoglobina - g/1OOmlde sangue. Embora o fígado seja órgão importante, devido à
Hematócrito - Relação(%) volume produção das principaisproteínas que regulam
globular/volume sangüíneo. esta resposta (ex.: proteína C-reativa).a medula
Volume corpuscular médio - Fentolitro. óssea tem contribuição fundamental na efetivação
Hemoglobina corpuscular média - Picograma. do processo inflamatório,através da liberação e
Concentração de hemoglobina corpuscular média aumento na produção dos leucpcitos,
- g/1OOmlde sangue. principalmente os neutrófilos. E esta resposta
Percentual de reticulócitos - % em relaçãoao medular que podemos observar no hemograma.
total de glóbulos verm~lhos.
Descrição morfológica dos eritrócitos. Como o tecido infectado se comunica com a
medula óssea?
Leucograma
Os monócitos são células mononucleares
Contagem de leucócitos - Milhares por mm3 de produzidas na medula óssea. Quando
sangue. amadurecem, são liberados para o sangue e, após
Contagem diferencial dos leucócitos (relativa e algumas horas em circulação (de 36 a 106 horas).
absoluta). entram nos diversos tecidos do organismo e se
Descrição morfológica dos leucócitos. transformam em macrófagos teciduais. Estes
Plaquetograma macrófagos podem sobreviver meses nos tecidos.

Contagem de plaquetas - Milhares por mm3 de Macrófagos teciduais


sangue.
Descrição morfológica das plaquetas. Fígado: células de Kupffer.
Macrófagos do baço, linfonodos e sinusóides
Comentários medulares.
Sistema nervoso central: microglia.
Descrição do observado no esfregaço e sobre o Rim: células mesangiais.
conjunto de descrições. Osso: osteoclastos.
Pleura: macrófagos pleurais.
Qual a relação entre infecção e hemograma7 Pulmão: macrófagos alveolares.
A proliferação de microrganismos A morte tecidual secundária à invasão dos
desencadeará. no tecido infectado, um conjunto microrganismos e a própria presença dos

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patógenos desencadearã9 a produção de As células endoteliais, estimuladas pela IL-l e
glicoproteínas IL-l (interleucina-l) e FNT-a (fator FNT, expressam selectinas E e P e ICAM-l
de necrose tumoral a) pelos macrófagos teciduais, (intercellular adhesion molecule-1), que fixam o
que atuarão em nível local e a distância, através da granulócito neste local e iniciam sua ativação.
liberação destas moléculas para o sangue. Estas Aderidos ao endotélio, os neutrófilos destruirão a
substâncias estimularão células mesenquimais integridade da membrana basal subendotelial com
(células endoteliais, fibroblastos), linfócitos e a liberação de proteases e a penetrarão.
outros monócitos para produzirem IFN (interferon), O tecido injuriado também produzirá
GM-CSF (granulocytic and monocytic - colony substâncias quimiotáticas solúveis, tais como
stimulating factor) e G-CSF(granulocytic - colony peptídeos bacterianos, fragmento C5a, IL-8 e
stimulating factor), fatores de crescimento que LTB4,que sinalizam e controlam a movimentação
incrementarão a produção de monócitos e dos neutrófilos em direção ao processo
neutrófilos pela medula óssea. inflamatório.
A fagocitose da bactéria pelo neutrófilo ocorre
pela mediação de opsoninas (imunoglobulinas e
fragmentos C3b do complemento). A palavra
opson, derivada do grego, traduz sua natureza:
o s monócitos são células mononucleares
produzidas na medula óssea. Ouando
aperitivo! ! !
A bactéria fagocitada permanecerá no interior
de uma vesícula fagocítica, revestida pela
amadurecem, são liberados para o sangue membrana do granulócito. A fusão com as
e, após algumas horas em circulação vesículas que contêm os grânulos e as enzimas
(de 36 a 106 horas), entram nos diversos formará o vacúolo digestivo, destruindo o
tecidos do organismo e se transformam microrganismo.
em macrófagos teciduais. Estes De maneira inversa ao eritrócito, que utiliza a
macrófagos podem sobreviver meses nos produção de NADPH pela via das pentoses como
tecidos agente redutor, o neutrófilo consome este NADPH
para a produção de radicais reativos (oxidantes),
através de reduções parciais do oxigênio. A
transformação de O2em O2-(radicalsuperóxido),
H202 (peróxido) e OH- (radicalhidroxila) no interior
Por que aumentar a produção de neutrófilos? dos vacúolos digestivos levará à oxidação dos
componentes celulares dos microrganismos, ao
Os neutrófilos segmentados ou maduros são mesmo tempo que lesará o neutrófilo
células móveis, fagocíticas, com a função irreversivelmente.
especializadade destruir microrganismos. São A tradução clínica deste processo de aumento
constituídos de três tipos principais de grânulos de neutrófilos no tecido e a fagocitose, digestão e
(primários, secundários e terciários), que contêm a morte destas células é: pus.
enzimas digestivas. Morfologicamente apresentam
núcleo filiforme, segmentado e sem capacidade Como os neutrófilos são produzidos?
de replicação; a coloração habitualmente utilizada
(Wright e derivados) revela cor levemente A primeira célula (vérFigura)que pode ser
cinza-rosadado citoplasma, que difere da acidofilia reconhecida morfologicamente como pertencente
(eosina)dos grânulos dos eosinófilos, e da à linhagem granulocíticaé o mieloblasto, derivado
basofilia dos grânulos dos basófilos, característica da populaçãode células-tronco comprometidas
que justifica o seu nome (grânulos com afinidade com a produção de granulócitos.
neutra para corantes). A mitose do mieloblasto produz dois
Os neutrófilos são, verdadeiramente, os promielócitos, células grandes com grande
soldados (Infantaria) do processo inflamatório. quantidade de grânulos azurófilos (primários).A
Produzidos e armazenados na medula óssea, são mitose de promielócitos produzirá os mielócitos,
liberados para o sangue periférico através de estágio em que se inicia a produção dos grânulos
mediadores químicos produzidos pelo processo secundários ou específicos, que diferenciam o
inflamatório. Receptores presentes em sua conteúdo dos grânulos dos neutrófilos dos
superfície permitem a entrada e migração dos eosinófilos e dos basófilos.
granulócitos nos tecidos lesados através das Os metamielócitos, produtos da mitose de
vênulas pós-capilares adjacentes ao tecido mielócitos, não têm capacidadede replicação. O
inflamatório. amadurecimento dos metamielócitos (aumento do

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número de grânulos secundários e alongamento Os neutrófilos normais, egressos da medula


com posterior segmentação do núcleo) formará o óssea, podem circular (populaçãocirculante) ou
que distinguimos morfologicamente como permanecer marginados ao endotélio dos vasos
bastonetes e neutrófilos segmentados ou sangüíneos (populaçãomarginal).
maduros. Estas células podem ser liberadas para o Fisiologicamente, apenas metade da população
sangue periférico ou permanecer na medula óssea total dos neutrófilos no sangue periférico está
como populaçãode reserva. circulando. Portanto, é esta a parcela dos
neutrófilos que mensuramos no hemograma.
Certos estímulos podem mobilizar a população
marginal. produzindo neutrofilia, sem
~--ô--@ necessariamente estar envolvida maior liberação
pela medula óssea. A adrenalinae os
/{J)<~--~ corticosteróides, tanto em situações de estresse
(em alguns casos, decorrentes de processos
/<0) '>. (j)<0-~~ infecciosos) como farmacologicamente, podem
induzir a mobilizaçãoda população neutrofílica
()) @ --~-

8-~ ~
marginal. Freqüentemente ocorrerá ausência de
Mielobla~ (Ô)-(ô) -G3
- G- ~
eosinófilos no sangue periférico nas situações
acima citadas.
Pró-mielócito ~ ~ ~ Situemo-nos em uma ocorrência comum na
prática médica, como a coleta de exames de
(Q)-~-~-~
Mielócito""" ~ -
Metamielócito
<Ir) -- @
Bastonete
segmentado
sangue em uma criança de .três anos de idade,
com suspeita de infecção. E uma experiência
estressante tanto para a criança e seus pais,
assim como para as quatro pessoas ou mais que a
seguram na maca - além de ser ensurdecedora
Figura - Granulocitopoesp. (devido aos gritos). Certamente será difícil decidir
se a neutrofilia é decorrente do componente de
A medula óssea é constituída, portanto, de uma estresse envolvido na coleta de sangue ou do
populaçãogranulocítica de células em proliferação, processo infeccioso.
amadurecimento e de reserva.
A produção de neutrófilos de um adulto é de O que é desvio à esquerda?
aproximadamente 1011/dia.A reserva na medula
óssea é da ordem de 8 x 109.Nos processos Tradicionalmente, os esquemas didáticos que
inflamatórios, além da liberação das células de ilustram o processo de maturação dos granulócitos
reserva, a produção pode aumentar em até 10 posicionam as células mais jovens à esquerda, de
vezes o nível normal. maneira que a direção da maturação ocorre da
esquerda para a direita.
A neutrofilia reflete a liberação da reserva dos O desvio à esquerda ou desvio maturativo é o
neutrófilos na medula óssea? jargão utilizado quando da presença de maior
quantidade de bastonetes e(ou) de células mais
Sim e não!!! jovens da série granulocítica (metamielócitos,
A neutrofilia é definida como o aumento do mielócitos, promielócitos e mieloblastos).
número de neutrófilos circulantes, isto é, A faixa de normalidade de valores absolutos
presentes em um dado momento (o da coleta) no para os bastonetes é de 150 a 400 bastonetes por
sangue periférico. mm3.
Parao cálculo deste valor necessita-se de dois A resposta inicial da medula óssea frente ao
dados do hemograma: a leucometria (número de processo infeccioso é de liberação da população
glóbulos brancos circulalJtes por mm3)e a de neutrófilos de reserva. O estímulo para o
percentagem de neutrófilos (contagem diferencial): aumento da produção ocorrerá simultaneamente,
resultando na resposta proliferativa. Além do
Leucometria x % de neutrófilos aumento da populaçãogranulocítica, ocorrerá a
Valor absoluto de neutrófilos = aceleraçãodo processo de maturação e liberação
(em neutrófilos/mm3) 100 das células, com conseqüente desvio à esquerda
no sangue periférico.
Os valores normais situam-se entre 2.000 e Contudo, o desvio à esquerda, reacional ao
7.500 neutrófilos/mm3. processo infeccioso, é caracteristicamente

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escalonado. isto é. com proporção de células neutrófilos. que não apresentam a característica
maduras maior que as células jovens, refletindo a multissegmentação. do núcleo, predominando as
hierarquia que ocorre na produção dos neutrófilos. formas bilobadas. E transmitida por genes
Dados citológicos dos neutrófilos quase sempre autossômicos dominantes, com freqüência de um
estarão presentes no desvio à esquerda: em cada 6 mil nascimentos, não acarretando
granulações tóxicas ou grosseiras, corpos de qualquer alteração funcional. Laboratorialmente,
D6hle e vacuolizações citoplasmáticas estes neutrófilos maduros são facilmente
(analogicamente. imagine que este é o confundíveis com bastonetes e, portanto, com a
equipamento do soldado para a guerra). potencialidade de levar um indivíduoportador
desta anomalia com gastroenterocolite para uma
laparotomia exploratória.quando. erroneamente, o
julgamento laboratorialse sobrepõe ao clínico.

I radicionalmente, os esquemas
didáticos que ilustram o processo de
Pode ocorrer neutropenia no curso de uma
infecção?
maturação dos granulócitos posicionam Sim. por vários motivos.
as células mais jovens à esquerda, de O hemograma avalia o sangue periférico. Como
maneira que a direção da maturação já vimos anteriormente, no caso dos neutrófilos.
ocorre da esquerda para a direita. O avaliamos a populaçãocirculante.
desvio à esquerda ou desvio maturativo é Mesmo que a produção esteja aumentada.
o Jargão utilizado quando da presença de pode estar ocorrendo um consumo tecidual maior
maior quantidade de bastonetes eiou} de que a capacidadede liberação dos neutrófilos.
células mais jovens da série granulocítica como no agravamento dos processos infecciosos.
(metamielócitos, mielócitos, Nestes casos, é comum a neutropenia estar
promielócitos e mieloblastos} acompanhada de desvio à esquerda, escalonado.
evidenciando a proliferação granulocítica
preservada.Quando o agravamento do processo
infeccioso é acompanhado de coagulação
intravasculardisseminada, freqüentemente a
Exemplo de leucocitose (aumento de leucócitos) plaquetopenia estará associada, além de
com desvio à esquerda alterações nos eritrócitos (hemáciasfragmentadas.
esquistócitos, policromasia).
Leucometria = 20.000/mm3. O fenômeno de Shwartzman. que tem como
Bastonetes = 10%. resultante a agregaçãode neutrófilos mediada por
Valor absoluto de bastonetes = 2.000/mm3. complemento, principalmente do fragmento C5a.
pode ocorrer na síndrome da angústia respiratória
Exemplo de leucocitose com desvio à esquerda, do adulto, levando à vasculopatia oclusiva,
escalonado consumo de plaquetas e neutropenia.
A neutropenia também pode ocorrer devido a
Leucometria = 20.000/rnm3. alterações na produção dos neutrófilos. Alguns
Bastonetes = 10% - valor absoluto = 2.000/mm3. antibióticos (notadamente o cloranfenicol),
Metamielócitos = 6% -valor absoluto = 1.200/mm3. antiinflamatórios não-hormonais.drogas utilizadas
Mielócitos = 2% - valor absoluto = 400/mm3. no tratamento da Aids, quimioterapia oncológica e
Escalonamento: Bastonetes > metamielócitos > até mesmo antitérmicos (derivadosda
mielócitos. aminopterina, como a dipirona) podem afetar a
produção e a sobrevida de neutrófilos.
o desvio à esquerda não-escalonado traduz, complicando o processo infeccioso.
fisiopatologicamente, a liberação de granulócitos A tuberculosemiliar,assim como a forma
jovens em processo de produção não-hierarquizado, juvenil (visceral)da paracoccidioidomicose juvenil e
associado à disfunção da medula óssea. infecções associadasà Aids podem acometer a
medula óssea, levando à insuficiência na produção
Pode haver algum tipo de alteração que simule tanto dos neutrófilos como dos eritrócitos e das
o desvio à esquerda? plaquetas.
Em certas situações. como nas endotoxemias
A anomalia de Pelger-Hüet é um defeito por bactérias Gram-negativas.maior marginação
benigno no processo de diferenciação dos dos neutrófilos pode resultar em neutropenia.

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citotoxicidade (linfócitos TI. somente ocorre após o


reconhecimento de um determinado antígeno por
um linfócito, predeterminado a reconhecê-Io como
J neutropenia também pode ocorrer tal.
devido a alterações na produção dos A lesão tecidual (ou celular) e(ou) a presença de
neutrófilos. Alguns antibióticos microrganismo são estímulos para a resposta
{notadamente o cloranfenicol}, imune dos linfócitos. Estes antígenos são
antiinflamatórios não-hormonais, drogas apresentados aos linfócitos em nível local (o tecido
utilizadas no tratamento da Aids, infectado) e(ou) nos órgãos linfóides (linfonodos,
quimioterapia oncológica e até mesmo placa de Peyer, anel de Waldeyer, baço, fígado,
antitérmicos {derivados da aminopterina, etc.).
como a dipironaJpodem afetar a produção Através do reconhecimento do antígeno, os
e a sobrevida de neutrófilos, complicando linfócitos específicos são ativados, proliferam e
o processo infeccioso sofrem modificações estruturais que possibilitarão
efetuar a resposta imune (plasmócitos e linfócitos
T citotóxicos).
Na reação de fase aguda o hemograma
freqüentemente demonstrará linfocitopenia
Pacientes que apresentam neutropenia absoluta «1.500/mm3), refletindo a mobilização
secundária à produção inadequadapor disfunção dos linfócitos em nível tecidual para o
da medula óssea têm grande suscetibilidade a reconhecimento antigênico. Na fase de
infecções, geralmente de evolução grave, convalescença, a contagem de linfócitos pode se
principalmente quando os neutrófilos são elevar discretamente, retomando aos níveis
inferiores a 500/mm3, em valores absolutos. Nesta normais posteriormente.
situação a neutropenia é fator predisponente à A linfocitopenia absoluta também pode ocorrer
infecção e a principal atitude médica é a secundariamente ao próprio estresse ou ser
investigação do distúrbio medular. decorrente do uso de corticosteróides.
~r Muitas infecções virais (mononucleose
Que alterações posso encontrar nos infecciosa, citomegalovírus, varicela, hepatites,
monócitos? adenovírus, sarampo, parotidite epidêmica) e
doenças como a tuberculose, toxoplasmose e
Os monócitos têm grande importância no brucelose podem ap'resentarlinfocitose absoluta
processo inflamatório, em nível tecidual, devido a (> 5.000/mm3)no diagnóstico. Os pacientes com
sua importância na fagocitose, eliminação de mononucleose infecciosa ou coqueluche podem
microrganismos e, principalmente, como célula apresentar linfocitose extremamente elevada
apresentadora de antígenos. (> 15.000/mm3).
Na reação de fase aguda notamos poucas A presença de linfócitos atípicos acompanha
alterações na contagem absoluta dos monócitos. freqüentemente as linfocitoses secundárias a
Podemos observar a monocitose nos processos processos infecciosos. Na mononucleose
infecciosos agudos na fase de convalescença ou infecciosa a percentagem de linfócitos atípicos
devido à cronificação da doença. A monocitose pode ser superior a 20% do total de linfócitos.
(>500/mm3 em va10resabsolutos) pode ocorrer Estes linfócitos periféricos reacionaissão
nos processos inflamatórios de evolução crônica, predominantemente de origem T, embora o vírus
como ocorre em doenças infecciosas como a Epstein-Barr infecte apenas os linfócitos B.
tuberculose, paracoccidioidomicose,sífilis, Como a maioria das doenças infecciosas que
endocardite bacteriana subaguda,febre tifóide e apresentam linfocitose ao diagnóstico ocorrem na
por protozoários). faixa pediátrica, a presença concomitante de
A monocitopenia pode ocorrer secundariamente anemia, quadro purpúrico, plaquetopenia e(ou)
à endotoxemia ou no uso farmacológico de dores ósseas deve levantar a suspeita clínica de
glicocorticóides. leucemia linfoblástica aguda, devido a quatro
fatores importantes: a. manifestações clínicas
E nos Jinfócitos? semelhantes (febre, anorexia, emagrecimento,
adenomegalias, hepatosplenomegalia);b. grande
Os linfócitos são células que respondem de incidência desta doença entre os dois e 10 anos
forma específica aos antígenos. Em outras de idade; c. importância do diagnóstico clínico
palavras, a atuação do linfócito, através da precoce para melhor resposta terapêutica
produção de anticorpos (Iinfócitos B) ou por curativa; d. erros de interpretação citológica na

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diferenciação entre linfócitos atípicos (reacionais) e O hemograma reflete o momento da sua


linfoblastos (tumoraisl. coleta. Quando analisamos as alterações nos
leucócitos. percebemos que analisamos a
E os eosinófilos? produção. liberação e o trânsito destas células
pelo sangue periférico em direção aos tecidos
Como citado anteriormente, os eosinófilos são onde. efetivamente. cumprirão sua função.
mobilizados para os tecidos no estresse. Portanto. Um paciente anteriormente saudável que
na reação de fase aguda, a ausência de eosinófilos desenvolve infecção fulminante pode apresentar.
é comum. em cinco ou seis coletas em um mesmo dia.
Nos processos alérgicos (asma, rinite, drogas, hemogramas com resultados completamente
alimentar, urticária) a eosinofilia (>250/mm3) é o diferentes. refletindo, dinamicamente. a evolução
dado do hemograma mais relevante. clínica.
Infestações parasitáriassão. provavelmente, a Outro objetivo desta abordagem foi evidenciar
maior causa de eosinofilia em nosso País. que as alterações provocadas por agentes
Pacientes com paracoccidioidomicose ou com infecciosos seguem-se à agressão tecidual
aspergilose broncopulmonar também podem conseqüente à proliferação dos microrganismos.
apresentar eosinofilia. da reação de defesa e do próprio estresse do
organismo frente à injúria.
Conclusõesfinais Concluindo. o hemograma não faz diagnóstico
de infecção. Muito menos revela o agente
Optamos. ao abordar este tema, por uma visão etiológico. O exame de sangue que certamente
geral, que possa ser útil para a interpretação do identifica a presença de microrganismos (bactérias
hemograma. notadamente do leucograma, na e fungos), ou quanto a reatividade ao Gram. é a
beira do leito de um paciente com quadro hemocultura.
infeccioso. O hemograma sempre será um dado
Esta opção justifica-se pela possibilidade que complementar à interpretação clínica. um dado
dispomos, na atualidade.de "dissecarmos" os complementar muito útil. quando adequadamente
eventos biológicos e analisá-Iossob o prisma do realizadoe corretamente interpretado.
clinico, embora tenhamos simplificado,
propositadamente. o conhecimento fisiopatológico Referências
sobre o assunto.
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o _ptamos, ao abordar este tema, por uma


visão geral, que possa ser útil para a
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basic prindples ar,t1pracrice. 2 ed.. ChJrchl1lLlvirgstone. 1995.
interpretação do hemograma,
notadamente do leucograma, na beira do
leito de um paciente com quadro
infeccioso. Esta opção justifica-se pela
possibilidade que dispomos, na
atualidade, de "dissecarmos" os eventos
biológicos e analisá-Ios sob o prisma do
clínico, embora tenhamos simplificado,
propositadamente, o conhecimento
fisiopatológico sobre o assunto

O esquema de trabalho utilizado no passado


baseava-sena tabulação dos dados do hemograma
mais comuns em determinada populaçãocom Endereço para correspondência
determinada doença ou infecção. Portanto. as DA NEWTON KEYHOKAMA
Facu'dadede MedIcina
conclusões tinham efeito de prática DIvisão Hemocen!ro - Unesp
epidemiológica. 18618.QOO - Botccatc-SP

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diferenciação entre linfócitos atípicos (reacionais) e o hemograma reflete o momento da sua


linfoblastos (tumorais). coleta. Quando analisamos as alterações nos
leucócitos. percebemos que analisamos a
E os eosinófilos? produção. liberação e o trânsito destas células
pelo sangue periférico em direção aos tecidos
Como citado anteriormente. os eosinófilos são onde. efetivamente. cumprirão sua função.
mobilizados para os tecidos no estresse. Portanto. Um paciente anteriormente saudável que
na reação de fase aguda. a ausência de eosinófilos desenvolve infecção fulminante pode apresentar.
é comum. em cinco ou seis coletas em um mesmo dia.
Nos processos alérgicos (asma. rinite. drogas. hemogramas com resultados completamente
alimentar. urticária) a eosinofilia (>250/mm3) é o diferentes. refletindo, dinamicamente. a evolução
dado do hemograma mais relevante. clínica.
Infestações parasitárias são. provavelmente. a Outro objetivo desta abordagem foi evidenciar
maior causa de eosinofilia em nosso País. que as alterações provocadas por agentes
Pacientes com paracoccidioidomicose ou com infecciosos seguem-se à agressão tecidual
aspergilose broncopulmonar também podem conseqüente à proliferação dos microrganismos.
apresentar eosinofilia. da reação de defesa e do próprio estresse do
organismo frente à injúria.
Conclusões finais Concluindo. o hemograma não faz diagnóstico
de infecção. Muito menos revela o agente
Optamos. ao abordar este tema, por uma visão etiológico. O exame de sangue que certamente
geral, que possa ser útil para a interpretação do identifica a presença de microrganismos (bactérias
hemograma. notadamente do leucograma, na e fungos), ou quanto a reatividade ao Gram. é a
beira do leito de um paciente com quadro hemocultura.
infeccioso. O hemograma sempre será um dado
Esta opção justifica-se pela possibilidade que complementar à interpretação clínica. um dado
dispomos, na atualidade,'pe "dissecarmos" os complementar muito útil. quando adequadamente
eventos biológicos e analisá-Iossob o prisma do realizadoe corretamente interpretado.
clinico.embora tenhamos simplificado,
propositadamente. o conhecimento fisiopatológico Referências
sobre o assunto.
1. RIUS.F.C.& VALENTI.i>.F.- EstJdiode a sa~gre.In D,agnosrieo /lemaro/agleo.
3. eo. 1972.
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pedeiro. 1mFisioparoJogia:Smirh.ffnier. 2. ed., Panamercana. 1990
4. BOXER.LA. - Func:ion01reJtrop1l's anomoro"\Udearphago,.')'lesIn:CecJTexrbook

Ovisão
_ptamos, ao abordar este tema, por uma
geral, que possa ser útil para a
of MedICine.20. ed., W.B. Saunders Comca~y. 1006.
5. 3AGBY JA., G.C.- Dlsorde-s of neutrophll production. 1/1Cecil T9J<rbookof Med~
cine. 20. eo.. W.B SaundersCompany, 1996.
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basic prinCipIesanr1pracriee. 2 ed., ChJrchdl Llvirgslone, 1995.
interpretação do hemograma,
notadamente do leucograma, na beira do
leito de um paciente com quadro
infeccioso. Esta opção justifica-se pela
possibilidade que dispomos, na
atualidade, de "dissecarmos" os eventos
biológicos e analisá-Ios sob o prisma do
clínico, embora tenhamos simplificado,
propositadamente, o conhecimento
fisiopatológicosobre o assunto

O esquema de trabalho utilizado no passado


baseava-sena tabulação dos dados do hemograma
mais comuns em determinada populaçãocom Endereço para correspondência
determinada doença ou infecção. Portanto, as DR NEWTON KEYHOKAMA
Facu'dadede Medicina
conclusões tinham efeito de prática Divisão Hemocenlro - Unesp
epidemiológica. 18618-000- Botccatc-SP

MARÇO. 1997 m VOl. 72 · N~' 3


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