No âmbito das interações, enquanto a cado foi de 6,050 vezes em relação aos ocu-
chance de ser diabético pré-diagnosticado, pados; já na população feminina, esta chance
sendo homem e sem ocupação, foi de 6,760 foi de 0,443 vezes, ou seja, pesou a ocupa-
vezes por referência aos ocupados, esta ção. Por outro lado, a chance de ser diabéti-
chance foi de 1,048 entre as mulheres, na co recém-diagnosticado entre os homens,
condição de sem ocupação. No caso da es- com oito ou menos anos de escolaridade,
colaridade, a chance de ser diabético pré- foi de 0,243 vezes, pesando, por conseguin-
diagnosticado na população masculina, ten- te, os níveis mais altos de escolaridade, em
do oito ou menos anos de escolaridade, foi contraposição às mulheres, cuja chance nes-
de 0,350, enquanto que entre as mulheres tas condições foi de 1,750.
esta OR foi de 1,920.
O modelo final da regressão logística para Discussão
o diabetes recém-diagnosticado evidenciou,
entre os principais determinantes, a idade, Na amostra expandida, observamos pe-
área, naturalidade e cor, bem como a ocu- quena variação dos valores gerais de
pação e a escolaridade modificadas pelo gê- prevalência de DM em relação aos resulta-
nero (Tabela 4). dos publicados anteriormente3,4.
Neste caso, a chance de ser diabético re- A prevalência de diabetes encontrada
cém-diagnosticado foi de 4,305 vezes nas para a cidade de São Paulo seria classificada
idades acima de 50 anos, em relação aos mais como sendo de nível intermediário (3 a 10%),
jovens; 7,977 entre os residentes em Santo segundo critérios de King e Rewers8. De acor-
Amaro, em detrimento das áreas de melho- do com os referidos autores, chama a aten-
res condições de vida; 2,737 vezes entre os ção a constatação da prevalência de recém-
migrantes em relação aos nativos da capital; diagnosticados da ordem de 50%, indicando
e de 2,428 vezes sendo de cor não branca. proporção de desconhecimento semelhan-
Na população masculina, sem ocupação, te aos resultados obtidos nos EUA e na Eu-
a chance de ser diabético recém-diagnosti- ropa.
A busca ativa evidenciou elevada preva- estudo4, apontava para o maior desconheci-
lência de diabetes na população masculina, mento da doença entre os homens; o “ex-
revertendo a primazia feminina observada cesso” da doença entre as mulheres teria
na prevalência do diabetes pré-diagnostica- como explicação maior acesso aos serviços
do. Este resultado veio confirmar a hipótese de saúde.
norteadora deste estudo, bem como a Estes resultados seriam consistentes
assertiva complementar que previa o desa- com estudos antropológicos14-16, que indi-
parecimento das diferenças de prevalência cavam, no âmbito da divisão sexual do tra-
total entre os sexos. balho, que caberia à mulher, dona de casa,
A literatura tem apontado para a varia- das famílias de trabalhadores mais pobres, o
ção na prevalência da doença entre sexos, gerenciamento do cuidado da saúde da fa-
no tempo e no espaço, sem que se possa mília, providenciando assistência a seus in-
afirmar a existência de uma tendência clara tegrantes. Este papel garantiria às mulheres
a respeito. Ressaltando a associação com a maior acesso aos serviços de saúde, enquan-
obesidade, disponibilidade e acesso aos ser- to ao homem caberia o sustento da casa. Se
viços e à realização de exercícios físicos - isto constituiria uma justificativa para as di-
enquanto expressões sócio-culturais - que ferenças encontradas na perspectiva de gê-
variam de sociedade para sociedade, os au- nero, também sugeria a expectativa de
tores enfatizam que a freqüência entre se- contraposição do comportamento da
xos constitui, mais do que de diferenciais prevalência nos segmentos estudados, dian-
genéticos, um produto da presença de fato- te da busca ativa.
res de risco1,8-13. Neste sentido, foram significativos os re-
A publicação sobre a prevalência do dia- sultados encontrados no tocante à ocupação.
betes mellitus auto-referido (DMAR) dimen- Na população masculina, em que pese a
sionada na consideração da primeira fase do constatação do dobro da prevalência da do-
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