O conceito de metafísica na visão de Aristóteles é muito complexo, pressupõe uma ciência que
se ocupa com realidades que estão além das realidades físicas e que possuem fácil e imediata
apreensão sensorial sobre a natureza, deveres e propriedades no âmbito filosófico.
Num primeiro momento, Aristóteles distingue vários níveis de conhecimento como: sensações
isoladas, experiência e ciência, sendo essa última fruto da segunda, onde através das
observações empíricas (experiência), é formada uma noção universal a respeito de coisas
semelhantes. Para Aristóteles, a ciência é superior à experiência, como ele afirma: “Nós
julgamos que há mais saber e conhecimento na arte (ciência) do que na experiência. Isto
porque uns conhecem a causa e outros não. Com efeito, os empíricos sabem o quê, mas não o
porquê; ao passo que os outros sabem o quê e a causa”. Para Aristóteles, a metafísica é
considerada como verdadeira ciência, porque ela é o conhecimento das causas, no que diz
respeito às causas primeiras e aos princípios de todas as coisas. Aristóteles pontua quatro
definições fundamentais para a ciência:
Para Aristóteles, as causas fundamentais em relação a existência de algo, das quais se ocupa a
metafísica, são quatro:
Em função de Aristóteles considerar a metafísica como uma ciência teórica e não prática, ele
acaba considerando como uma ciência divina por dois motivos: o primeiro porque a ciência é
de plena posse de Deus e a segunda porque diz respeito as coisas divinas. Para ele, Deus é a
causa e princípio de todas as coisas, ele conclui dizendo: “As outras ciências podem ser mais
necessárias do que esta, mas nenhuma é mais excelente”.
Agora, num segundo momento, Aristóteles apresenta uma definição mais adequada da
metafísica afirmando que: “há uma ciência que estuda o ser e as propriedades do ser
enquanto tal. Não se identifica com nenhuma das ciências particulares, porque nenhuma delas
se ocupa do ser enquanto tal, mas de alguma parte determinada do ser, da qual estuda
aspectos particulares como fazem as matemáticas”. Ele procura mostrar que a metafísica se
distingue da física e da matemática. O ponto de partida agora, é a divisão do ser em móvel e
imóvel (sujeito ou não sujeito à mudança ou corrupção), o ser imóvel divide-se em material ou
imaterial, apartir deste conceito, pode-se estabelecer que a física estuda apenas o ser móvel
(aquele sujeito a mudanças), já a matemática, estuda o ser imóvel de ordem imaterial, e por
fim, a metafísica estuda o ser imóvel de ordem imaterial, considerado por Aristóteles como o
ser divino, o ponto de partida de todas as coisas.
Em relação a crítica da doutrina Platônica das idéias, Aristóteles passa a considerar a essência
de todas as coisas, sendo ela constituída por algo transcendente, como pensava Platão, ao
propor a teoria da idéias. Para Aristóteles, a teoria das idéias não explica o ser e o vir-a-ser das
coisas. Para que seja possível explicar sobre o ser das coisas, as idéias devem existir antes de
tudo nas próprias coisas e não fora delas, e quanto ao vir-a-ser, as idéias não podem explicar o
devir. Para Aristóteles, as idéias são uma réplica inútil.
Quanto ao estudo da substância material e os seus princípios constitutivos, Aristóteles diz que
a explicação da realidade não pode ser procurada fora da realidade, para ele, a realidade é
constituída de substância e acidentes, quanto a natureza da substância em relação ao acidente
precede quatro modos: lógico, epistemológico, histórico e ontológico. Entre todos os seres, a
substância é “primeira”, tanto no que se refere ao conceito como no que se refere ao
conhecimento e ao tempo.
1º. Quanto ao conceito: ela é anterior, porque o conceito de substância está implicado no
conceito das outras categorias (todas acidentais);
2º. Quanto ao conhecimento: tendo o conhecimento de uma coisa, o que ela é, conhecemo-la
melhor do que se conhecêssemos dela somente a sua qualidade, quantidade ou
posicionamento. Até a partir dessas determinações, nós chegamos a conhecê-las somente
quando afirmamos o sujeito (substância) que as possui;
3º. Quanto ao tempo: Tanto no passado quanto no presente o problema em torno do qual se
pesquisa, a saber, que coisa é o ser?, não significa, por acaso, que coisa é a substância?
4º. Quanto ao ser: O ser dos acidentes depende do ser da substância;
A partir do estudo meticuloso sobre a substância, Aristóteles enumera seus tipos mais
importantes que são: substâncias materiais corruptíveis (matéria e forma), incorruptíveis e
imateriais. Para ele, toda substância material é corruptível, a matéria e a forma não existem,
nem podem existir, separadas uma da outra, mas somente juntas, a este conceito, Aristóteles
chama de “Sínolo”.
O tratado sobre a metafísica de Aristóteles encerra-se com um tratado sobre Deus, chamado
de Existência e Natureza de Deus. Para ele, é Deus quem sustenta toda a criação, chama-o de
Motor imóvel, sendo imóvel, Deus é ato puro, único, ilimitado, eterno, inteligente etc. Deus
move o mundo somente como objeto conhecido e desejado, não como causa agente, ele
move o mundo sem ser movido, somente o inteligível move sem ser implicado ao movimento,
ele move o mundo como causa final e não como causa eficiente. Para Aristóteles, a operação
de Deus é o pensamento sempre em ato, que tem por objeto a si mesmo. Esse sistema tem
muito haver com o axioma hermético “O TODO é MENTE; O Universo é Mental”. O Caibalion.
Para concluir, Aristóteles tem uma concepção extremamente profunda de Deus, mas julga
necessário, para salvar a sua transcendência, privá-lo de três operações importantíssimas:
Criação, providência e conhecimento do mundo. A concepção Aristotélica de Deus representa
uma grande conquista do pensamento religioso grego, onde ele supera os devaneios
mitológicos e da religião pública, que tinham humanizado os deuses ao ponto de os reduzirem
a simples homens, Aristóteles liberta a imagem de Deus de todo antropomorfismo e coloca-o
em posição soberana.
Bibliografia:
MONDIN, Batista – Curso de Filosofia – Volume 1 – Coleção Filosofia – Paulus – SP – 1981
VERGEZ, André – História dos Filósofos Ilustrada pelos Textos – Freitas Bastos – RJ - 1988