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Desde os primórdios da linguagem, o homem ousou viver em dois mundos.

Aquele
habitado pela realidade e aquele habitado pelo impossível. Para alcançar esse último, o
homem inventou as histórias. Contadas ou escritas, baseadas no real ou construídas a
partir do imaginário fantasioso, elas sempre permitiram ao homem sonhar. Além de
ajudá-lo a buscar a imortalidade através de palavras que perdurar além de sua morte.

Mas, quando lemos um conto maravilhoso – com os tipícos herói e vilões - estamos
vendo apenas um lado do que aconteceu. É da natureza humana se fixar em apenas um
ponto de vista. Lemos então sobre o herói, cheio de virtudes, que busca através de sua
jornada redimir alguma perda ou falta em sua vida e sobre o vilão, mal personificado,
ele vêm cheio de artimanhas para atrapalhar ao máximo o herói, para alcançar... Sua
motivação é obscura. Não conhecemos verdadeiramente esse personagem, cujo papel no
conto maravilhoso costuma ser de ferramenta. É o vilão que cria curvas na estrada
percorrida pelo herói. Ele é o peso que contrabalanceia o herói e torna possível que o
herói saia vitorioso no final.

Não devemos nos reter nessa simplicidade, no entanto. Mergulhar no lado que
permaneceu obscuro pode ser muitas vezes difícil, mas permite conhecer aspectos
completamente novos de uma história. Foi o que Gregory Maguire fez. O autor norte-
americano pegou o livro O Mágico de Oz (The Wonderful Wizard of Oz) e deu-nos uma
nova perspectiva sobre uma personagem há muito tempo conhecida, mas escassamente
explorada: a Bruxa Malvada do Oeste (Wicked Witch of the West). É sobre este seu
livro, Maligna (Wicked), que pretendo discorrer, analisando-o sobre o enfoque das
estruturas narrativas de Propp e das funções narrativas de Bremond. Além disso,
mergulharemos um pouco na psicologia dessa personagem tão complexa.

Ela não é isenta de culpa, mas a bruxa foi mais do que apenas uma vilã.

Tabela de conteúdo
[esconder]

• 1 Conto moderno
• 2 Narrativa
o 2.1 Análise da narrativa
o 2.2 Analisando a análise
• 3 Elphaba, a Bruxa Malvada do Oeste
o 3.1 Construção de um vilão
o 3.2 Desconstrução de um vilão
 3.2.1 Lurline x Kumbricia
 3.2.2 Mito da Santa Aelphaba
o 3.3 Mergulhando na psicologia de uma alma torturada

• 4 Referências
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Conto moderno
O hábito de ouvir e de contar histórias acompanha a humanidade em sua trajetória no
espaço e no tempo. Algo certo é que todos os povos, em todas as épocas,
desenvolveram seus contos. Muitos deles anônimos, eles foram preservados pela
tradição, uma maneira de manter os valores e costumes de sua época, de ajudar a
explicar a história e até iluminar as noites.

Isso pode ser facilmente verificado se olharmos Sherazade, contadora das histórias em
Mil e uma noites – e, portanto, responsável pela compilação dos contos mais conhecidos
no final da Idade. Novas
modalidades de contos, no
entanto, foram surgindo. O que
é conto, de Luiza de Maria
apresenta várias dessas
modalidades. “O conto como
forma simples, expressão do
maravilhoso, linguagem que
fala de prodígios fantásticos,
oralmente transmitido de
gerações a gerações e o conto
adquirindo uma formulação
artística, literária,
escorregando do domínio
coletivo da linguagem para o
universo do estilo individual
de um certo escritor”.

Contos de humor, contos fantásticos, contos de mistério e terror, contos realistas, contos
psicológicos, contos sombrios, contos cômicos, contos religiosos, contos minimalistas,
contos estruturados de acordo com as técnicas da narrativa são alguns tipos.

O conto mais clássico se organiza numa cadeia de acontecimentos. Ação, personagens,


diálogos. Caracteriza-se como narração de um episódio, uma única ação, com começo,
meio e fim, destacando-se por sua unidade de tempo e de ação.

O conto contemporâneo, resultado de uma nova narrativa que se foi construindo nas
últimas décadas, substituiu a estrutura clássica pela construção de um texto curto, com o
objetivo de conduzir o leitor para além do dito, para a descoberta de um sentido do não-
dito. A ação se torna ainda mais reduzida, surgem monólogos, a exploração de um
tempo interior e psicológico. A linguagem pode, também, chocar pela rudeza, pela
denúncia do que não se quer ver. Política, sexo, drogas, corrupção, etc.

Apesar dessa diferença, é possível perceber, nos contos maravilhosos modernos, algo
remanescente do clássico. Talvez nem tanto na forma, mas no conteúdo - o mesmo teor
descrito por Vladimir Propp nas suas estruturas narrativas. Talvez nenhum exemplo seja
melhor do que Shrek (2001), que tem as estruturas e os papeis básicos de um conto:
herói, princesa, vilão, adjuvante, uma jornada para longe de casa, um final triunfante.
Mesmo que esses papéis tenham sido, no filme da DreamWorks e no livro que o
inspirou, altamente modificados ou invertidos.

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Narrativa
Narrar é contar uma história, descrever uma situação, relatar uma acontecimento.
Generalizando, as narrativas são acompanhadas de alguns elementos que podem
ser considerados básicos, como narrador, cenário e personagens. Há diversas
distribuições possíveis para esses elementos. Em contos de ficção, os
personagens são mais do que essenciais.

"Quando você se lança numa jornada e o fim parece cada vez mais distante, então
você percebe que o verdadeiro fim é o percurso" - Karlfried Graf Dürckheim

Nesta parte da análise do livro Maligna, no entanto, vamos mergulhar na estrutura


narrativa do conto, deixando um pouco de lado os personagens. Para isso, é necessário
conhecer sobre o trabalho de Propp e Claude Bremond. Sendo um conto moderno,
Maligna pode não seguir sempre a seqüência proposta pelo fundamentalista russo. Para
isso servirá esta análise, para verificar as semelhanças e as diferenças presentes na
narrativa.

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Análise da narrativa
O conto começa com a apresentação de uma situação inicial. Essa introdução permite
que o leitor conheça os personagens e o contexto de suas vidas. Em Maligna, isso é feito
através de duas cenas: uma da bruxa já crescida e outra de seu nascimento. A primeira
liga esta narrativa ao livro que a inspirou, O Mágico de Oz, já que mostra a bruxa
vigiando Dorothy e seus amigos na Estrada de Tijolos
Amarelos. A segunda cena introduz a bruxa como uma
personagem esférica. Nascida de uma família meio
desestruturada, Elphaba é rapidamente rejeitada pela cor
de sua pele e outras peculiaridades não consideradas
normais.

O resto da primeira parte do livro, Munchkinlanders,


aprofunda essa situação inicial da personagem,
desenvolvendo sobre a personalidade inata da criança.
Inquisitiva e quieta, Elphaba parece aprender desde
pequena a se defender dos outros. E também mostra as
influências externas que agem sobre ela: uma mãe
ausente e um pai obcecado com religião. No final deste
ato, um novo elemento da narrativa é apresentado: um afastamento intensificado – a
morte de sua mãe. Elemento importante que será revisitado mais adiante.

A segunda parte introduz Galinda e Dillamond, que têm suas narrativas paralelas. Ao
mesmo tempo em que elas são independentes, é inevitável sua interligação com a
narrativa de Elphaba (Claude Bremond). Essa última, alías, pode ser considerada como
espinha dorsal de todas as outras, já que é o único ponto que todas as outras têm em
comum. Por esse motivo - a diferente perspectiva adotada - Elphaba não é considerada
vilã, mas herói.

Elphaba, já crescida, está na Universidade de Shiz. É nesse ponto de sua vida que
encontra a primeira proibição imposta pela sociedade tradicionalista. Como mulher, ela
não tem acesso a Biblioteca da Faculdade dos Garotos, muito mais completa que a das
Garotas. Envolvida com o trabalho do Doutor Dillamond, Elphaba não se deixa abalar
por essa adversidade e acha um meio de burlar a regra – eis a transgressão. Seu amigo
Boq, estudante também, concorda em fazer a pesquisa sobre o assunto que a garota
verde precisa e depois trazer a informação ou o próprio livro até ela durante encontros
clandestinos. Boq é, nesse caso, um adjuvante.

Como heroína, Elphaba precisa de um personagem que contrabalanceie a narrativa, ou


seja, um vilão. Mesmo que o Mágico de Oz seja considerado um antagonista, fonte de
vários problemas para ela, o vilão dessa narrativa é Madame Morrible. Parceira do
Mágico, ela é um alvo mais fácil porque é uma vilã concreta, com quem Elphaba tem
contato direto. É a personificação palpável das dificuldades enfrentadas.

De Morrible, parte o interrogatório e o ardil.


Após o funeral da Ama de Glinda, a diretora
reúne Nessa, Glinda e Elphaba. Com o uso de
magia e coerção, Morrible tenta manipular as
três por dois motivos. Um, para saber mais
sobre a pesquisa de Dillamond e o quanto
Elphaba sabia sobre essa pesquisa. Elphaba não
revela informação alguma. Dois, para propor
que as três garotas viessem a se tornar
cúmplices do Mágico de Oz. Elphaba é a única
com a capacidade de lutar, mesmo que um tanto
insuficientemente, contra o controle da vilã. A
dúvida, no entanto, irá perturbar a paz de
Elphaba até sua morte: será que suas vidas
teriam sido influenciadas pelo feitiço da vilã? É
possível, portanto, identificar um pouco de
cumplicidade inocente de Nessa, Glinda e até
Elphaba no desenrolar da narrativa a partir
deste ponto.

A clara tentativa de manipulação enfurece tanto


a garota verde, que ela decide partir para a
Cidade de Esmeraldas, onde o Mágico de Oz reside. Longa viagem e longa espera. O
encontro com o Mágico é indireto – ele se esconde atrás de uma montagem de ossos
dançantes e efeitos especiais – e realmente frustrante. Ele não está interessando em
ajudar ninguém e comanda a volta de Elphaba para a universidade. Ela promete unir-se
a Resistência, movimento anti-Mágico e assim o faz. Sua ação resulta na perda de tudo
que Elphaba conhecia... Sua família, sua posição como futura governante de
Munchkinland e sua liberdade. De uma maneira implícita, temos um dano, uma
mediação e uma decisão do herói. Esse prejuízo dá movimento a narrativa, ao mesmo
tempo em que encaminha Elphaba numa jornada por justiça.

O reencontro de Elphaba com Fiyero é mais difícil de categorizar. Ele irá se comportar
como mediador não com sua presença, mas na sua ausência, e será analisado mais
adiante. Da narrativa que se desenrola dentro da Cidade de Esmeraldas, destaca-se o
trabalho de Elphaba na Resistência. O plano máximo é queda do Mágico de Oz e cada
membro é designado uma prova. A tarefa de Elphaba é matar Morrible. Quebrando o
molde das estruturas de Propp, Elphaba enfrenta a prova, mas não consegue realizá-la.
Isso irá descarrilar a vida da jovem ainda mais, principalmente pela conseqüente morte
de Fiyero.

A ausência do amado irá resultar em uma suspensão da narrativa. Em silêncio e fora de


atividade por sete anos, passados no Convento da Santa Glinda, Elphaba só irá retomar
a narrativa quando partir em nova jornada. Antes disso, no entanto, ela irá receber um
novo adjuvante – uma vassoura -, de Yackle. Alías, a personagem da velha é muito
misteriosa, todos desconhecem sua origem, e pode ser considerada uma mediadora em
mais do que uma situação. Ela aparece onde é necessária. Vassoura em mãos e Liir a
tiracolo, Elphaba desloca-se para o Vinkus a procura de perdão. Não consegue sequer
confessar sua falta.

O tempo passado em Kiamo Ko não move a narrativa do ponto de vista das funções.
Pelo menos não até o deslocamento de Elphaba do
oeste para o leste, quando a bruxa vai visitar a irmã.
A surpresa está na volta. A família real foi levada
embora pelos soldados do Mágico de Oz. Uma
manobra política, como Elphaba irá aprender mais
tarde, para manter a bruxa sob controle.

Há combate na narrativa, mas distorcido. Elphaba e


o Mágico de Oz se enfrentam pessoalmente durante
a segunda visita da bruxa a Munchkinland,
barganham e fica clara a animosidade entre os dois,
mas nada é resolvido. Elphaba, então, procura
Morrible para terminar a tarefa do passado, mas
chega tarde demais. Morrible acabara de morrer de
velhice. Portanto, outro combate frustrante. Há um
estigma, mesmo que ele seja psicológico. Não há
reparação alguma. Elphaba retorna ao Vinkus e o
Mágico manda Dorothy para matá-la. Há uma
perseguição nisso. Ou, ao menos parece. Dorothy não veio matá-la de fato, apenas
pedir perdão.

A figura do falso herói, muito presente em contos maravilhosos, está ausente nesta
narrativa. Dorothy não pode ser considerada uma heroína nesta versão, como foi em O
Mágico de Oz, tão pouco se aproxima da figura do vilão. Honesta sobre suas intenções
desde o primeiro momento em que encontra a Bruxa, também está longe de ser falsa
heroína; a garota de Kansas não tenta pegar para si as ações do herói.

É possível identificar um tipo de perseguição, também de maneira indireta e desviada.


E, neste ponto retorna a figura do Príncipe Fiyero. Elphaba, motivada pela crença – um
tanto infundada – de que o Espantalho que acompanha Dorothy seria Fiyero disfarçado,
envia vários empecilhos para os viajantes. Seu foco é muito mais o desmascaramento
do Espantalho do que a chegada de Dorothy. A dúvida, e a esperança, perseguem-na
dolorosamente. No entanto, a perda dessa esperança, quando fica claro que o Espantalho
não é mais do que um simples espantalho, é uma solução definitiva para Elphaba. Ela
pára de adiar aquilo que considera inevitável: sua morte. “Eu te salvarei!”

"Suspeitar de sua própria mortalidade é conhecer o início do terror, aprender


irrefutavelmente que você é mortal, é conhecer o fim do terror." - Frank Herbert

Prêmio e castigo andam de mãos dadas no desfecho desta narrativa. Por acidente,
Dorothy joga água na Bruxa, que é alérgica, e morre. A morte da nossa heroína seria
considerada tragédia em qualquer outra circunstância. No caso de Elphaba, é o alcance
de uma liberdade há muito esperada. Liberdade da angústia de sua vida, da loucura dos
últimos anos e de uma batalha que ela considerava já perdida. Partindo disso, morte
como prêmio, ainda podemos identificar castigo no sentido pretendido por Propp. É a
descoberta, pelo Mágico, que Elphaba era sua filha. Isso o instiga a deixar Oz. Talvez a
dor dessa verdade supere o seu extermínio iminente pela Resistência, que invadiria o
castelo no mesmo dia.

Como morte foi salvação para Elphaba, não faria sentido conceder ao vilão a mesma
cortesia.

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Analisando a análise
Mais um romance do que um conto, o livro Maligna traz grandes partes que não são
previstas pelas funções de Vladimir Propp. Essas partes são mini-narrativas estáticas,
que ajudam a desenvolver os personagens e sem as quais, eles não possuiriam
profundidade psicológica e esfericidade. Complexidade essa que também é necessária
para a narrativa geral, reiterando a importância de personagens no bom
desenvolvimento da história.

Não foi difícil, no entanto, aplicar as funções de Propp sobre a narrativa geral e é
possível considerar essa análise um sucesso. Muitos pontos da narrativa dos contos
ainda vivem na maneira como a narrativa moderna de Maligna foi construída. A
dificuldade imposta ao herói, o enfrentamento desse problema e uma resolução final.

A pós-modernidade, contudo, não pode ser ignorada e sua influência sobre a narrativa
pode ser considerada a maior culpada pelas ‘distorções’ de algumas funções clássicas de
Propp. Tradicionalmente, os personagens principais eram categorizados em dois lados
antagônicos, o “bem” e o “mal”. Não mais. A narrativa literária recente e a narrativa
cinematográfica buscam com certo ardor uma verossimilhança com a realidade e isso se
traduz pelo cuidado maior que é empregado no detalhamento nas características de cada
personagem. Há motivação para tudo, razão que explique qualquer ação. O mundo
deixa de ser visto de maneira maniqueísta. Exatamente esse novo contexto cultural que
distorce algumas das funções clássicas, como verificado na análise da narrativa acima.

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Elphaba, a Bruxa Malvada do Oeste


Apesar de Gregory Maguire ter pego um vilão e ter dado a ele – ou neste caso, ela –
uma chance de contar a história do seu ponto de vista, Elphaba é basicamente uma
heroína. Só que, ela não é uma heroína típica. Suas virtudes, que deveriam diferenciá-la
dos outros personagens, confundem-se
com defeitos. O apego que Elphaba tem
com os animais e Animais, para quem ela
devota todo o seu carinho e atenção,
significa que ela negligencia os seres
humanos. A devoção que ela tem por sua
causa afastou-a de seus amigos. O dom de
magia e profecia levaram-na a loucura.
Segue uma análise mais profunda do seu
personagem.

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Construção de um vilão
Vilão sempre foi uma figura clássica do
conto maravilhoso. Ele é mais do que um
personagem complementar. O vilão
oferece um verdadeiro oposto ao herói e é essencial para o desenrolar da narrativa. É
literalmente, um mal necessário. O motivo? Talvez nenhuma explicação seja melhor do
que o simples imperativo de dualidade que tanto assombra os seres humanos. Os
vencedores e vencidos, os fracos e fortes, as aceitações e rejeições e os heróis e vilões.
Fica mais fácil compreender o mundo quando podemos traduzir a realidade em
categorias bem delimitadas e absolutas.

Em um conto, ou narrativa, o vilão se apresenta como antagonista à figura do herói.


Esse personagem vive fora das regras que a sociedade considera éticas e é, portanto,
marginalizado. “O fato é que, numa cultura que tenha se mantido homogênea por
algum tempo, há uma quantidade de regras subentendidas, não escritas, pelas
quais as pessoas se guiam. Há um ethos ali, um costume, um entendimento segundo
o qual não o fazemos dessa maneira.” (Joseph Campbell, em entrevista)

O Mágico de Oz nos apresenta um vilão, a Bruxa Malvada do Oeste. Ela não é o único
empecilho na jornada de Dorothy - a heroína - e sua presença restringe-se a primeira
metade da narrativa do livro. Todavia, nenhum outro antagonista do livro personifica o
mal da maneira como a bruxa o faz. Ela é uma tirana que escravizou todo o povo do
leste e inimiga do Mágico de Oz. São as informações dadas a Dorothy. Na viagem da
menina até o castelo da bruxa, Dorothy experiência a vilania da Bruxa em primeira
pessoa. Animais mandados para atacá-los, macacos voadores para capturá-los e muito
artifício para conseguir o que ela mais deseja – os sapatos da Bruxa do Leste, que
Dorothy agora usa. A Bruxa Malvada tem tudo que se esperaria de uma vilã; prejudica a
heroína, se enfrenta com ela e é vencida.

O livro, Maligna, nos abre novas portas de compreensão e nos oferece novos pontos de
vista sobre essa vilã. Como a narrativa é centrada em Elphaba, a bruxa, essa
personagem passa a ser heroína. Mas, para Maguire, nada é assim tão simples. Muitas
vilanias são cometidas ou associadas à personagem. Características como sua aparência
estranha – pele verde -, sua anti-sociabilidade e sua fé na absoluta inutilidade da religião
e da não-existência de sua própria alma. Suas ações isolam-na ainda mais. Elphaba se
rebela contra o governo, comete adultério, é responsável pela morte de Manek, filho de
Fiyero, é considerada responsável pelo desaparecimento da família real do Leste,
assume a culpa pela morte de Morrible e persegue Dorothy.

Elphaba é uma heroína cheia de defeitos. Não exatamente uma vilã. Talvez mais
próxima de um anti-herói. Afinal, ela acredita na causa pelo qual luta e tem objetivos
morais e honráveis, mesmo que sua inabilidade se traduza em ações mais comumente
associadas a um vilão. Talvez ainda uma anti-vilã, dependendo do ponto de vista
empregado para julgar suas motivações. Impossível categorizá-la a uma única definição.

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Desconstrução de um vilão
Pode ser impossível categorizar
Elphaba, mas entendê-la não é. Ela não
se encaixa nos moldes previstos pela
sociedade, mas a descrição de sua
personagem pelo autor é rica e deveras
complexa e merece atenção. Muitos
objetos complementares da narrativa
ajudam a criar uma discussão que
indiretamente reflete na bruxa verde.
Heroína imperfeita ou vilã frustrada?
Boa ou má? Para talvez chegar a uma
conclusão, devemos desconstruir a
imagem pronta e estereotipada que nos
é apresentada.

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Lurline x Kumbricia
Desenho de Elphaba por Omni Lurline, no paganismo, é a fada
responsável pela criação de Oz. Linda e
poderosa, sua figura é associada a tudo que é bom e certo. Kumbricia é uma bruxa,
cujos poderes se igualam a Lurline. Adorada pelos adeptos da religião do prazer, sua
imagem é de uma mulher maquiavélica, sedutora e má. As duas personagens míticas são
lados opostos da mesma moeda e representam uma visão maniqueísta do mundo.
Maligna (“Wicked” no titulo original) refere-se a vários personagens.

No livro, elas encontram reflexos em Galinda e Elphaba. Galinda é loira, bonita e


aparentemente boazinha. Elphaba é morena, feia e aparentemente má. E, é através
dessas duas personagens, que Maguire põe em cheque o maniqueísmo; não há mal
absoluto, nem bem inquestionável. Galinda é preconceituosa com todos que não são
iguais a ela. Seu preconceito – contra Boq, que é um anão, e Fiyero, que é negro – não é
descarado, mas existe. A loira manipula situações para projetar-se na escala social e
preocupa-se demais com sua imagem. Ela não é má, claro. Tem, no entanto, facetas que
podem ser assim consideradas. Galinda vai passar o resto de seus dias tentando ser boa.
Elphaba não tem preconceitos em relação a gêneros, estaturas ou espécies. Não tem
medo de lutar a favor das causas que considera justas. Também não é má, apesar de ter
cometido muitos erros; os fez sem maldade ou intenção. Passou o resto de seus dias, que
não foram tantos quanto Galinda, tentando buscar reparação pelos seus erros.

"...porque a única maneira de você descrever verdadeiramente um ser humano é


através de suas imperfeições" - Joseph Campbell

A figura de Kumbricia também é posta a prova e é difícil escapar a subseqüente


referência sobre Elphaba. Há uma passagem em que Boq encontra um livro muito
antigo na biblioteca. Nele, um desenho de Kumbricia, cercada de águas que remetem à
inundação, usando sapatos prateados e gentilmente segurando um animal afogado.
Nenhuma explicação segue a descoberta desse retrato e Elphaba repudia sua veracidade.
É interessante, entretanto, que uma faceta de Kumbricia permanecesse desconhecida,
quando o mesmo ocorre com Elphaba. Poucos a conheceram verdadeiramente.

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Mito da Santa Aelphaba

Santa Aelphaba das Cachoeiras, conta a lenda, foi uma mulher extremante linda e
inteligente. Por anos, ela foi atormentada pelo apreço que os homens tinham pela sua
beleza e pelo ódio que isso inspirava nas outras mulheres. Aelphaba só queria aprender,
pensar e viver. Cansada de ser julgada pela aparência, ela se refugiou de baixo de uma
cachoeira apenas com um cacho de uvas e seus pensamentos e lá ficou durante mil anos.
Finalmente, quando ressurgiu, ela olhou a sua volta e ficou triste pelo caos do mundo.
Incapaz de viver nele, ela voltou para a sua cachoeira e não saiu mais de lá.

Elphaba recebeu seu nome graças a essa santa. É irônico pensar que a bruxa fosse
alérgica a água. Mas a associação não acaba ai. Elphaba era uma pessoa extremamente
descontente com o estado da sociedade de Oz e previu, em sonhos e premonições
aterrorizantes, o declínio completo de seu mundo. As duas, vendo que suas ações não
eram compreendidas, se refugiaram do mundo – no caso, evidenciado no tempo que
Elphaba passou no Convento da Santa Glinda e o tempo que passou em Kiamo Ko antes
do seqüestro da família real. É possível até estabelecer um paralelo com a santa no
quesito de sua saída: a linda santa se refugiou em água e através de água, que Elphaba
deixou o mundo. “Ela já saiu? Ainda não.” As palavras finais da narrativa ligam isso
com clareza.

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Mergulhando na psicologia de
uma alma torturada
Elphaba foi rejeitada – pela sua família e pela
sociedade – desde o dia em que nasceu. Sua
aparência verde e seus dentes afiados foram
vistos como sinais. Cada um interpretou de uma
maneira. Seu pai, Frex, acreditou ser isso uma
punição divina por ter sido um ministro inapto e
essa interpretação influenciou o modo como ele
via e tratava sua filha. Em todas as cenas com Frex e Elphaba ressoa a carência de uma
filha desprezada.
Órfã de mãe desde os 7 anos, Elphaba cresceu
escutando os sermões do pai sobre o bem e o
mal e isso a traumatizou de tal maneira, que a
bruxa passa a repudiar religião. “Não tenho
alma”, ela afirma de maneira assertiva, sem
espaço para discussão. Fica claro, no entanto,
que a angústia que ela sente pelo isolamento e
pelo sofrimento dos outros, não lhe permite
descanso. Ao final da narrativa, a verdade. Sim,
ela tinha uma alma. Elphaba lutou com paixão
pela Resistência, amou Fiyero e angustiou por
sua morte, sentiu ódio por Morrible.

Talvez sua alma atormentada fique mais clara,


quando chegamos à quarta parte do livro. Após
anos de clausura e silêncio no Convento da
Santa Glinda, Elphaba se reintroduz no mundo.
Ou tenta. O fato é que as dores do passado não
permitem sua completa inserção. Ela foge da
realidade quando renuncia seu nome ou
qualquer tipo de identidade e passa a ser
chamada de “titia” ou “bruxa”. Possuir um nome é ser alguém com sentimentos,
memórias e um futuro; Elphaba não admite nenhum destes. Sua vida não tem sentido ou
valor.

“Dizem que o que todos procuramos é um sentido para a vida. Não penso que seja
assim. Penso que o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos, de
modo que nossas experiências de vida, no plano puramente físico, tenham
ressonância no interior do nosso ser e da nossa realidade mais íntimos, de modo que
realmente sintamos o enlevo de estar vivos.” (Joseph Campbell)

O problema de fugir da realidade é que não podemos fugir para sempre. O mundo
externo se reintroduziu no mundo fechado de Elphaba e o confronto entre seus
sentimentos e sua consciência deles foi uma experiência terrivelmente assustadora. Ela
não deveria querer e não poderia sonhar. Só que o fez; sonhou que Fiyero ainda
estivesse vivo. A agonia que tudo isso provocou em seu ser já profundamente
angustiado pela perda, pela rejeição e pelo tempo, levou-a a insanidade.

"Insanidade é a única resposta sã a uma sociedade insana" – Thomas Szasz

Foi nesse estado instável que Elphaba se encontrava quando enfrentou Dorothy. A
narrativa de Maligna é, portanto, uma tese sobre a personagem da bruxa. Como num
trabalho científico, Maguire nos mostrou, passo a passo, todo o processo de vida que
transformou Elphaba na Bruxa Malvada do Oeste.

Não uma vilã má, mas uma anti-heroína que foi, aos poucos, tomada pela loucura.
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Referências
• Morfologia do Conto Maravilhoso, Vladimir I. Propp

• Morfologia do Conto Maravilhoso, Daniel Moreira S. Pinna

• O Conto, Clarmi Regis

• O papel social do vilão: leituras e usos sociais do vilão no cotidiano de


receptores de telenovela, Milton Soares de Souza

• Wicked: The Life and Times of the Wicked Witch of the West, Gregory
Maguire

• O Mágico de Oz, L.F. Baum

• Semiótica Narrativa & Textual, Claude Chabrol et al.

• O Poder do Mito, Joseph Campbell

• Entrevistas com Bill Moyers, Joseph Campbell

• Dune, Frank Herbert

• O trabalho de Thomas Szasz

Maria Carolina R. Rodrigues - Minha experiência WIKI

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