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Trechos do discurso do presidente da Bienal de Veneza

A Bienal é como uma máquina de vento. A cada dois anos, ela sacode a
floresta, revela verdades escondidas, dá força e ilumina os novos brotos, ao
mesmo tempo em que coloca em uma perspectiva diferente os ramos
conhecidos e os mais antigos troncos (e neste ano os troncos serão realmente
muito antigos, dada a intenção do curador para abrir a mostra com
Tintoretto).
A Bienal é como que uma grande peregrinação graças à qual, seja nas obras
dos artistas e no trabalho dos curadores, pode-se encontrar as vozes do
mundo que nos falam do nosso futuro e do futuro do mundo.
A arte é aqui entendida como uma atividade em constante evolução.
Se um museu se qualifica principalmente pelas obras que possui (embora não
mais exclusivamente por isso, visto que hoje se pede aos diretores de museus
que também sejam gestores e empresários), uma instituição como a Bienal
qualifica-se antes de mais nada pelo seu "modus operandi", pelos métodos que
utiliza, pela natureza dos sujeitos que dela participam, pela escolha dos
métodos e pelos princípios e regras que inspiram a sua organização, pelos
espaço de que dispõem, etc.: em suma, pela Forma da instituição que se
reflete na Forma dada à Mostra que ocorre a cada dois anos. E é da qualidade
desta Forma que depende o alcance do nosso principal objetivo: obter o
reconhecimento e a estima de todo o mundo.
Depois de 116 anos de vida da Bienal, a Forma da atual exposição é aquela
mesma definida em 1999 e confirmada e aperfeiçoada ao longo dos anos
seguintes. Digo isso porque só a partir daquele ano é que às exposições
organizadas por pavilhões se junta, de forma clara e distinta, a mostra que o
curador nomeado pela Bienal deve organizar-se como "exposição
internacional", com uma tarefa clara que o desincumbe da seleção dos artistas
que participarão do Pavilhão Italiano.
[...]
Assim, em paralelo à série de pavilhões por países, ocorrerá a exposição
Internacional a cargo da curadora Curiger Bice, que escolheu como título
ILLUMInations (os artistas serão 82 ). Ao curador foi pedido, explicitamente,
que criasse uma mostra "sem fronteiras". [...]
Mencionei a importância do papel do curador e a responsabilidade a ele (ela)
atribuído.
O curador deve ter olho experiente, espírito independente, generosidade para
com os artistas, capacidade rigorosa de seleção, forte lealdade para com a
misteriosa deusa que é a qualidade.
Deve ter um olhar livre sobre o mundo.
[...]
Concordamos com a curadora Curiger Bice. Em uma época em que a arte há
muito deixou de enfatizar as provocações da anti-arte, buscamos os caminhos
do diálogo entre a obra do artista e a nossa visão e o nosso espírito.
Entendemos e sentimos que, mais do que a arte generosamente nos dá e
sussurra, o que queremos é ser iluminados seja como visitantes, como
amantes da arte, como indivíduos e como membros da comunidade humana.
E que se faça a Luz!
Paolo Baratta, presidente da Bienal de Veneza
Introdução de Bice Curiger [curadora da 54ª Bienal de Veneza e
idealizadora do tema ILLUMInazioni]

A Bienal de Veneza é um dos mais importantes fóruns de divulgação e reflexão


[“iluminação”] sobre o estado atual da arte internacional.

O titulo da 54ª Exposição, ILLUMInazioni, literalmente “dirige os refletores”


para a importância dessa função da Bienal em um mundo globalizado. Como a
mais prestigiosa e antiga de todas as bienais, a Bienal de Veneza sempre foi
impulsionada por um espírito que transcende as fronteiras nacionais, numa
época em que os próprios artistas apresentam uma identidade multifacetada
e tornaram-se migrantes conscientes e turistas culturais.

Questões de identidade e herança cultural há algum tempo têm sido cruciais


para a arte contemporânea, e é pouco provável que a intensidade das
investigações artísticas sobre essas questões vá diminuir no futuro próximo. A
arte é um terreno fértil para a experimentação de novas formas de
"comunidade" e para o estudo das diferenças e afinidades que servirão de
modelo no futuro. O título, porém, vai além dessas questões e também sugere
um amplo leque de associações: desde as descontroladamente poéticas
"Iluminations" de Arthur Rimbaud e as "Profane Illuminations" sobre as
experiências surrealistas de Walter Benjamin, até a reverenciada arte das
iluminuras medievais e a filosofia “iluminacionista” na Pérsia do século XII.

ILLUMInazioni também quer celebrar o poder da intuição, a possibilidade de


experimentar e vivenciar algo através do pensamento e das idéias,
possibilidade esta favorecida pelo encontro com a arte e com a sua
capacidade de aperfeiçoar os instrumentos de percepção. Enquanto a última
Bienal “Making Worlds" [“criando mundos”] destacava a criatividade
construtiva, ILLUMInazioni incidirá sobre a "luz" gerada pelo encontro com a
arte, sobre as experiências iluminadoras, sobre as epifanias decorrentes da
comunicação mútua e da compreensão intelectual. No título também ressoa o
eco da Idade das Luzes, atestando a vitalidade e o legado vital que ela nos
deixou. Embora nos últimos anos a idealização da razão iluminista e o
pensamento acadêmico esclarecido – especialmente o eurocêntrico e de estilo
ocidental – tenha sido alvo de muitos ataques, não podemos deixar de
respeitar e até mesmo defender os seus valores, especialmente no que diz
respeito ao debate sobre os direitos humanos.

Ao organizar uma exposição internacional de arte, hoje, é essencial ter em


mente que a arte contemporânea se caracteriza por tendências coletivas e
identidades fragmentadas, por alianças temporárias e objetos nos quais o
transitório está inscrito – mesmo que tenham sido fundidos em bronze. A
pressão expansiva que serviu como força motriz para a arte a partir dos anos
sessenta, hoja já implodiu. A Arte há algum tempo não cultiva mais o
“pathos” [“entusiasmo”] da anti-arte. A percepção foca-se agora sobre os
fundamentos da cultura e da arte, a fim de iluminar significados
compartilhados, decorrentes da nossa interioridade. Por uma lado, o artefato
deu lugar à ênfase no processo; por outro, a redescoberta [“revival”] dos
gêneros “clássicos” – tais como a escultura, a pintura, a fotografia e o vídeo –
foi motivada pelo interesse em dissecar seus códigos e em despertar seu
potencial latente. Essas questões andam de mãos dadas com outro aspecto
que é hoje extremamente importante: a arte engaja e compromete
fortemente o seu público.

Muitos dos trabalhos submetidos à 54ª Exposição Internacional de Arte foram


especialmente criados para a ocasião, por artista como Monica Bonvicini,
James Turrell, Nicholas Hlobo, Norma Jean, R.H. Quaytman, Haroon Mirza,
Loris Gréaud, Carol Bove, Gelitin, Dayanita Singh, Christopher Wool, muitas
vezes se referindo diretamente ao tema da ILLUMInação.

As obras do pintor veneziano Jacopo Tintoretto (1518-1594) irão desempenhar


papel proeminente, estabelecendo uma relação de valor artístico, histórico e
emocional com o contexto local. Essas pinturas exercem forte fascínio
atualmente por conta de sua luz quase febril, extática [êxtase], e de sua
quase temerária abordagem de composição que subverte a clássica e bem
definida ordem do Renascimento. Apesar de a auto-reflexão ser um fator
determinante da arte contemporânea, raramente esta se move para fora do
território abrangido pela história do Modernismo. A incorporação das obras de
Tintoretto, do século XVI, em uma bienal de arte contemporânea transmite
sinais inesperados e estimulantes e lança luz sobre as convenções do sistema
de arte antiga e contemporânea. Esta abordagem não deriva tanto de
analogias de natureza formal, mas é antes pensada como reforço mútuo,
acabando por enfatizar a importância das obras de arte como veículos visuais
de energia.

A 54ª Exposição Internacional de Arte deve configurar-se e desenvolver-se em


um processo de troca inspirada e estimulação mútua entre todos os que nela
estiverem envolvidos. Com isso em mente, pedimos a quatro artistas (Monika
Sosnowska, Franz West, Song Dong e Oscar Tuazon) que criassem
"parapadiglioni" [parapavilhões], obras arquitetônicas e esculturais capazes de
acomodar o trabalho de outros artistas. Embora ILLUMInazioni vá se
concentrar na apresentação de jovens artistas, uma geração mais velha
também estará representada, cuja obra vibrante e altamente contemporânea
merece ser mostrada e colocar-se no centro do debate. Dentre estes, Llyn
Foulkes (*1934), Luigi Ghirri (*1943-1992), Jack Goldstein (1945-2003),
Gedewon (*1939-1995), Jeanne Natalie Wintsch (*1871-1944).

A arte é um campo altamente auto-reflexivo, que fomenta uma abordagem


lúcida para o mundo externo. O aspecto comunicacional e inter-relacional é
fundamental para as idéias que estão na base de ILLUMInazioni, como
demonstra a arte contemporânea em seu interesse pela vida e seu dinamismo.
Isso é muito mais importante agora do que nunca, numa época em que nosso
senso de realidade está sendo profundamente desafiado por mundos virtuais e
simulados.
Bice Curiger, março 2011
Outras citações feitas por Bice Curriger:

O termo “nação” contida em ILLUMInazioni associa-se metaforicamente às


recentes evoluções da arte em todo o mundo, com a formação de grupos de
artistas que representam uma ampla variedade das tendências e atividades
mais pequenas e mais locais. Além do mais, somos favoráveis a uma Biennale
separada em Pavilhões, pois abre uma oportunidade extraordinária de diálogo
entre os artistas.

Muitas vezes, os pavilhões da Bienal foram definidos como "anacrônicos ",


embora eles sejam, realmente instrumentos de reflexão sobre a identidade.
Quero reforçar este sentimento de unidade entre a Mostra Internacional e as
representações nacionais, pedindo aos artistas de todos os países, bem como
aos artistas de ILLUMInazioni, que respondam cinco questões:
1. Onde você se sente em casa?
2. Será que o futuro falará inglês ou outra língua?
3. A comunidade artística é uma nação?
4. Quantas nações você sente dentro de você?
5. Se a arte fosse uma nação, o que deveria estar escrito em sua
Constituição.

Estou particularmente interessada no desejo de muitos artistas


contemporâneos em estabelecer um diálogo intenso com aquele que olha a
obra e em desafiar as convenções por meio das quais olhamos a arte
contemporânea.

O trabalho do pintor veneziano Tintoretto vai desempenhar importante papel


simbólico em ILLUMInazioni. Encontro em muitos artistas contemporâneos
(naqueles que mais me interessam) a mesma pesquisa sobre a luz, a um só
tempo racional e febril, que anima algumas das últimas obras de Tintoretto, e
o desejo de um relacionamento mais intenso com o espectador.

Tintoretto também estava interessado em ultrapassar as convenções de seu


próprio tempo, apontando diretamente para a mente e a emotividade. Me
interessa a luz de seus quadros, que não é uma luz racional, mas sim uma luz
extática [êxtase].

A presença de Tintoretto também servirá para estabelecer uma conexão


artística, histórica e emotiva com Veneza.

[Tradução e seleção: Newton Sodré]

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