“Os Lusíadas de Luís de Camões contados às crianças e lembrados ao
povo”, João de Barros
Um povo de marinheiros e heróis quis descobrir o caminho
marítimo para a Índia (terra de esplendor e riqueza onde era difícil chegar). Quatro naus comandadas por Vasco da Gama lançaram-se através do Atlântico só conhecido até ao Cabo da Boa Esperança. O vento era brando e o mar sereno e a viagem correra bem até ali mas haveria perigos, a travessia seria arriscada, a viagem longa e ninguém sabia ao certo onde seguir. Os barcos já iam na costa de Moçambique e a viagem concretizar- se-ia se os ventos e o mar fossem favoráveis. No entanto, teriam que vencer as forças da natureza e a inveja dos homens. Até os próprios deuses discutiam se haviam de os auxiliar ou não. Júpiter, Baco, Marte, Apolo, Neptuno, e Vénus argumentavam sobre se deixariam ou não os navegadores continuarem viagem. Baco era tonto e mau; Vénus e Marte eram favoráveis pois os portugueses eram afectuosos e valentes. A decisão foi assim, ajudar os navegadores. Nesse momento, aportam numas ilhas para descansarem. Os seus habitantes eram mouros mas o seu relacionamento foi aparentemente cordial. Estes fingiram-se amigos e prometem um piloto, alimentos frescos e água doce. O rei Mouro pede a Gama que lhe diga de onde vinha, o que pretendia, que lhe mostrasse o livro da sua fé e as suas armas. Contudo, o objectivo era atrair os portugueses para uma cilada, pois Baco transformou-se em Mouro e inventou mentiras sobre os portugueses, chamando-lhes “ladrões e assassinos”. O piloto tinha intenção de os levar a Quiloa, onde Mouros cruéis os receberiam. No entanto, os ventos contrários levaram as naus para longe. Baco e os Os Mouros venceriam os portugueses se Vénus e as outras deusas do mar não impelissem as caravelas para o alto mar. Vénus dirige-se, então, a Júpiter pedindo que a ajude. Júpiter concorda com a sua filha, afirmando que os Lusitanos praticarão no oriente proezas que farão esquecer todos os outros povos do mundo, que edificarão cidades e darão novos mundos ao mundo, derrotarão mouros e governarão sabiamente. Júpiter ordenou então a Mercúrio que aparecesse em sonhos a Vasco da Gama e lhe indicasse um porto seguro e acolhedor (Melinde). O Rei de Melinde era humano e generoso e, apesar de serem mouros, os habitantes não eram falsos nem cruéis. O Rei louvou a coragem por tão longa e difícil viagem e promete ir a bordo visitar o capitão. O seu maior desejo era saber de onde vinham os portugueses, a que país pertenciam, o que tinha feito o seu povo e que religião seguiam. Vasco da Gama começou, assim, a contar a grande e famosa história de Portugal – a história dos nossos feitos, nossas conquistas, grandezas e actos sublimes. Este começou por dizer que Portugal se situa onde a Terra e o Mar começa. O primeiro ilustre que referiu foi Viriato que lutou contra os romanos. Seguiram-se D. Henrique, D. Afonso Henriques e D. Sancho que lutaram para conquistar terra aos mouros e seguiram os reis portugueses e os seus feitos até D. Manuel I. Conta depois que ele próprio foi chamado para comandar a frota destinada a encontrar o caminho marítimo para a Índia auxiliado por Paulo da Gama e Nicolau Coelho. Ninguém acreditou que conseguissem conquistar o sonho. Todos os choraram à sua partida, nomeadamente um velho da praia do Restelo, que afirmou que era uma loucura e que amaldiçoou quem deu aos homens o anseio de navegar. Estavam em Julho (já tinham passado 4 meses desde a partida de Lisboa). Já tinham passado a Mauritânia, a Madeira, o Sara e já estavam nas regiões “cujos habitantes o sol queima e torna negros”. Já tinham sofrido grandes perigos mas o pior ainda estava para vir. Do mar surgiu uma figura “robusta, fortíssima, gigantesca, de rosto pálido e zangado, de barba suja, de olhos encurvados, em atitude feroz. Os cabelos eram crespos e cheios de terra. A boca era negra, os dentes amarelos.” Esta figura amaldiçoou os portugueses dizendo que todas as naus que fizessem esta viagem sofreriam horrores de tormentos desmedidos. Vasco da Gama encheu-se de coragem e perguntou quem ele era e porque estava assim zangado. Ele explicou que era o cabo a quem chamaram Tormentório e que ninguém além dos portugueses descobriu. Ele disse que se tinha transformado em penedo por amor a Tétis. Vasco da Gama rezou a Deus que os livrasse dos perigos profetizados por Adamastor. Contornaram o cabo e seguiram para Norte. Estavam com fome, exaustos da viagem por climas e mares desconhecidos; os mantimentos apodreciam; a água faltava e os marinheiros estavam revoltados. Até que surgiu uma doença que vitimou alguns navegadores. A partir daí, chegaram até Melinde, o porto seguro, onde se encontravam agora.Terminada a narração do Vasco da Gama, os navegadores foram recebidos com danças, jogos e outras festas. No entanto, resolveram continuar depressa a sua viagem ao sonhado Oriente.Baco, por sua vez, não está agradado com o desenvolvimento da viagem e dirige-se a Neptuno. Este mora no fundo do mar.Baco diz a Neptuno que os navegadores portugueses querem atravessar o oceano só para humilhar e desrespeitar os seus guardas naturais. Neptuno convenceu-se e mandou que Eolo (Deus dos Ventos) soltasse os ventos que trazia presos, provocando um temporal furioso. Entretanto, Vasco da Gama que contava a história do Magriço que venceu os ingleses, apercebe-se que se aproxima uma tempestade. Rompe-se a vela grande e o naufrágio parece certo. Tão perto estava da Índia e tão impossível lhes parece lá chegar. O oceano “engoliria” as naus e os marinheiros se a tempestade não amainasse. Sossega o mar, amainam as ondas e as naus retomam o rumo para a Índia. Baco, invejoso, fora vencido de novo e já não “poderia contrariar os desígnios da gente Lusitana. Avista-se terra e, o piloto exclama que se trata de Calecute, cidade da Índia. Era realmente a Índia. Vasco da Gama agradece à Providência. Esta era a recompensa do seu esforço e tenacidade. Tinham vencido temporais, guerras, sofrimentos, calor e frio, distâncias e medos, desprezando preguiças, falsas honras e dinheiro sem virtude. Estes marinheiros tinham feito tudo para conquistar fama e glórias próprias que depois são a glória da sua pátria e do seu povo. Calecute era a capital da Índia, onde vivia o imperador, ou Samarim e era governada pelo Catual.Foi enviado um mensageiro dizendo que trazia uma mensagem do Rei de Portugal e que vinha não para guerrear mas para acrescentar pacificamente o esplendor e a glória da sua Terra e da sua fé.Mais tarde, dirigiu-se à armada uma embaixada dos homens mais importantes da cidade.O Catual disse a Vasco da Gama que todo o mundo conhecerá e louvará as façanhas dos portugueses. Foi, então, proposto um pacto de amizade e comércio. O Catual queria saber mais sobre os portugueses e dirigiu-se a Monçaíde que pintou os portugueses como gente heróica e destemida, nunca vencida em nenhuma guerra contra os infiéis e sempre incapazes de faltar à verdade. Na armada os portugueses traziam os retratos dos seus heróis. Vasco da Gama explicou, então, ao Catual as figuras representadas na nau. Apresentou as figuras representadas, começando por Luso, passando por D. Afonso Henriques e Nuno Álvares Pereira entre muitos outros. Todos eles têm em comum o facto de serem gente de coragem sem fim que se tornavam indomáveis e vitoriosos devido ao seu amor à pátria. No entanto, enquanto este relato sucedia, o Rei mandara chamar os seus ministros (que eram bruxos e adivinhos) que afirmaram que os portugueses eram mentirosos e que destruiriam gente e riquezas. Tinha sido Baco, que não contente com a chegada das naus, aparecera em sonhos a um sacerdote que desperta o ódio mouro contra os portugueses. Entretanto, Vasco da Gama estava na cidade à espera de notícias sobre o tratado da aliança e comércio. Contentava-se em partir da Índia sem mais dificuldades e em levar consigo alguns produtos da região para mostrar em Lisboa. O Rei mandou-o, então, chamar declarando que o comandante era mentiroso e que só poderia ser desterrado ou pirata. Tudo isto Gama ouviu e contrapôs. Contudo, foi inevitavelmente preso. Acabou por ser libertado mais tarde pelo envio de presentes. Queriam os portugueses partir mas os indianos arrasavam-nos. Tinham preparado uma armadilha para os matar, mas Monçaíde prevenira Gama que, ardilosamente, arquitectou um plano e iniciaram a viagem de regresso a Lisboa, trazendo consigo especiarias. Monçaíde, por vontade própria acompanhou os portugueses e converteu-se ao Cristianismo.Iniciava-se a viagem de regresso a casa depois de tantos perigos e a alegria enchia-lhes os corações. Haveria ainda uma última aventura. Vénus conduziu a armada até a Ilha dos Amores onde residiam as nereidas, filhas do oceano, que os receberam e acarinharam com festas e banquetes.Aqui os marinheiros puderam descansar como prémio da sua audácia.A ilha era maravilhosa e os marinheiros foram conduzidos ao palácio de Tétis.Esta não só louvava os feitos passados dos portugueses como profetizava outros actos heróicos e mais vitórias futuras aos futuros valentes soldados da nossa pátria.Tétis disse, então, a Vasco da Gama que lhe apresentaria numa esfera lúcida o mundo e todos os seus continentes para ele saber melhor onde ia e onde desejava passar e navegar. A Terra estava imóvel (como antes se acreditava) e viam-se os mares dividindo os continentes e os continentes com os seus países.Acrescentou que os domínios portugueses iriam até à China e Timor (para Oriente) e também para Ocidente nomeando Pedro Álvares Cabral e Fernão Magalhães.Os portugueses descobririam e dominariam os mares até aos seus mais distantes confins.Tétis aconselhou, depois, Vasco da Gama a embarcar de regresso.Semanas depois chegaram a Lisboa e ninguém esperava o seu regresso, o que causou um entusiasmo sem par entre a multidão. Estavam enfim os portugueses no caminho de regresso depois de terem alcançado a longínqua e desejosa Índia e de terem corrido mares até ali. Nunca dantes navegadores, venceram perigos, temporais, maldades, traições e ciladas dos homens.
Personagens importantes: As minhas personagens preferidas são os
navegadores portugueses pois demonstraram serem fortes e corajosos ao enfrentar perigos terríveis, chegando mesmo a colocar a sua vida em risco pela pátria, no trajecto de Portugal à índia e no regresso do mesmo.
Apreciação global da obra: João de Barros adaptou, usando uma prosa
corrente e fácil, a epopeia maravilhosa de Camões com uma finalidade educativa e patriótica. Nele encontramos uma lição sobre os feitos heróicos dos portugueses contendo exemplos, conceitos e incentivos indispensáveis à formação e consciência da magnitude da história portuguesa. Estas proezas apenas foram conseguidas pela coragem e audácia de portugueses que se dispuseram a navegar “por mares nunca antes navegados”.