As fracturas distais do rádio são responsáveis por cerca de 20% de todas as fracturas
tratadas em serviços de urgência.
Tem uma distribuição bimodal, com 2 picos de incidência, o primeiro no sexo masculino
entre os 20-30 anos, devido a traumatismos de alta energia, e o segundo no sexo feminino
entre os 60-69 anos, devido a traumatismos de baixa energia.
Parece existir um aumento de 2 vezes, do risco de fracturas de colo do fémur em mulheres
com fracturas distais do rádio, mas o mesmo não acontece no sexo masculino.
Uma parte destas fracturas são instáveis, existindo critérios de instabilidade como a
cominução dorsal extensa, angulação dorsal > 20º, ou envolvimento intra-articular, fractura
associada do cúbito (incluindo a apófise estilóide), as quais têm em principio indicação para
estabilização/fixação cirúrgica.
Uma das opções terapêuticas para o seu tratamento é a fixação percutânea com fios de
Kirschner, advogando-se várias técnicas (Sauvé-Kapandji, De Palma, etc.) para a sua
fixação.
Material e métodos
O presente estudo efectua a avaliação clínica dos doentes com fractura distal do rádio
tratados num serviço de Ortopedia de um hospital central no período de um ano (2006).
A avaliação foi efectuada através do protocolo de Quick-Dash, complementado com a
análise dos processos clínicos e radiográficos, sendo os dados processados em computador.
Neste período foram tratados no nosso serviço 342 doentes com fracturas distais do rádio.
O tratamento efectuado foi conservador (redução incruenta e imobilização gessada em tala
antebraquio-palmar por 4 a 5 semanas) em 298 doentes, optando-se pelo tratamento
cirúrgico em 44 doentes, dos quais 13 foram submetidos a fixação percutânea com fios de
Kirschner e 27 submetidos a osteossíntese rígida com placa palmar.
As fracturas foram classificadas segundo as classificações de Frykmann e AO.
Na avaliação radiológica foram avaliados, em pré e pós-redução/cirurgia o ângulo palmar, o
encurtamento radial, a inclinação radial e a incongruência da superfície articular.
Resultados
A idade média foi de 62,4 anos (16-96), com predomínio do sexo feminino (2:1).
Houve um discreto predomínio do lado não dominante.
Os tipos de fractura mais frequente foram os tipos I e II da classificação de Frykman, com
cerca de 53% do total, e as do tipo A da classificação AO.
94 86
(2 7.5 % ) (2 5.4% )
41 28 229
(1 1.9 % (8 .2 % )
)
29 30 A
(8.5 % ) (8 .8 % 78
)
B 35
C
15 19
(4.1 % ) (5 .6% ) Extra-articular Articular parcial Articular completa
ut
l
t
n
n
v
z
o
ov
ar
ai
Ju
Ab
Se
Fe
De
Ag
Ju
Ja
O
M
M
Discussão
Em termos radiológicos considera-se que se obteve uma boa redução da fractura quando o
perfil tem uma inclinação palmar < 11-12º, quando a inclinação radial é de cerca de 22-23º
(AP) e existe um encurtamento radial menor de 2 mm ou quando a incongruência da
superfície articular é inferior a 2 mm, sabendo-se que incongruências iguais ou superiores a
1 mm evoluem em 90% dos casos para uma artrose rádio-cárpica no prazo inferior a 10
anos.
As complicações destas fracturas podem incluir: a disfunção do nervo mediano, a
consolidação viciosa, a artrose rádio-cárpica, a algoneurodistrofia de Sudeck, etc.
Lenoble refere maior frequência de dor e aparecimento de algoneurodistrofia em doentes
tratados pela técnica de Kapandji sem imobilização posterior, comparativamente com a
fixação transestiloideia (De Palma) associada a imobilização entre 4 a 6 semanas.
A redução radiológica e a mobilidade precoce foram superiores nos doentes submetidos a
Kapandji inicialmente, mas aos 3 meses a mobilidade era idêntica nos dois grupos e o
encurtamento radial era significativamente superior nos doentes submetidos a Kapandji.
Homem de 42 anos com fractura instável do rádio tratado por fixação percutânea, com um
progressivo desvio dorsal do fragmento distal, obtendo-se uma consolidação com 30º de
desvio dorsal.
O mesmo caso em perfil, apresenta uma báscula dorsal progressiva com um desvio dorsal
final de 30º e uma limitação importante da flexão do punho.
Homem de 58 anos, tratado inicialmente com fios de Kirschner, sofreu desmontagem dos
mesmos e é submetido a osteossíntese rígida com placa, já com encurtamento do rádio e
sem aparente conflito cúbito-cárpico.
Mesmo caso em radiografia de perfil.
Conclusões
As fracturas distais do rádio são facturas falsamente benignas, em que uma parte
significativa destas fracturas é instável, devendo ser submetidas a uma estabilização cirúrgica
nestes casos.
Actualmente o método com melhores resultados parece ser a utilização de osteossíntese
rígida com placa palmar. A utilização de fixadores externos e de placas dorsais deve ser
limitada a casos específicos, devido á taxa de complicações que lhe está associada a estes
métodos.
A fixação percutânea, apesar das suas limitações e insuficiências aparece como uma boa
alternativa ao tratamento cirúrgico clássico, com a vantagem de se tratar de um método
passível de ser efectuado em regime de ambulatório e de ter, comparativamente com os
fixadores e as placas dorsais, uma menor taxa de complicações.
As taxas de consolidação viciosa com tratamento conservador rondam os 5 a 70 %
(dependente dos autores). Com tratamento cirúrgico a mesma taxa ronda os 10%.
Knirk e Júpiter(21), avaliaram 43 fracturas intra-articulares, tendo encontrado aos 10 anos
de seguimento uma taxa global de 65% de artrose rádio-cárpica, sendo que quando obtida
uma redução anatómica essa taxa era de 11% e que com uma incongruência articular de 1-2
mm era de 91% sendo de 100% em incongruências superiores a 2 mm!
Assim, não nos devemos deixar enganar pelo tratamento aparentemente fácil destas
fracturas, procurando identificar as fracturas com padrão instável, de forma a aumentar as
indicações cirúrgicas nestas fracturas, procedendo a uma redução o mais anatómica possivel.
Bibliografia
1. Andersen DJ, Blair WF, Steyers CM Jr, Adams BD, el-Khouri GY, Brandser EA. Classification of distal
radial fractures: An analysis of interobserver reliability and intraobserver reproducibility. J Hand Surg Am
1996;21A: 574-82.
2. Bowers WH. Distal radioulnar joint arthroplasty: the hemiresection-interposition technique. J Hand Surg
[Am]. 1985;10:169-78.
3. Boyd HB, Stone MM. Resection of the distal end of the ulna. J Bone Joint Surg. 1944; 26:313-21.
4. Bradway JK, Amadio PC, Cooney WP. Open reduction and internal fixation of displaced, conminuted
intra-articular fractures of the distal end of the radius. J Bone Joint Surg Am 1989;71A:839-47.
5. Braun RM, Gellman H. Dorsal pin placement and external fixation for correction of dorsal tilt in fractures
of the distal radius. J Hand Surg [Am]. 1994;19:653-5.
6. Catalano LW III, Cole RJ, Gelberman RH, Evanoff BA, Gilula LA, Borreli J Jr. Displaced intra-articular
fractures of the distal aspect of the radius: Long-term results in young adults after open reduction an internal
fixation. J Bone Joint Surg Am 1997;79A:1290-302.
7. Colles, A. The classic. On the fracture of the carpal extremity of the radius. Edinburgh Med. Surg. J.,
1814. Clin Orthop. 1972; 83:3-5.
8. Cooney WP. Fractures of the distal radius. A modern treatment-based classification. Orthop Clin North
Am 1993;24: 211-6.
9. Cooney WP, Berger RA. Treatment of complex fractures of the distal radius. Combined use of internal
and external fixation and arthroscopic reduction. Hand Clin. 1993;9:603-12.
10. Darrach W. Partial excision of lower shaft of ulna for deformity following Colles’s fracture. Ann Surg.
1913;57:764-5.
11. Dunning CE, Lindsay CS, Bicknell RT, Patterson SD, Johnson JA, King GJ. Supplemental pinning
improves the stability of external fixation in distal radius fractures during simulated finger and forearm
motion. J Hand Surg [Am]. 1999;24:992-1000.
11. Fernández DL, Geissler WB. Treatment of displaced articular fractures of the radius. J Hand Surg Am
1991;16A:375-84.
12. Fernandez DL, Jupiter JB. Fractures of the distal end of the radius. New York: Springer; 1996.
Malunion of the distal radius; p 263-316.
13. Geissler WB, Fernandez DL. Percutaneous and limited open reduction of the articular surface of the
distal radius. J Orthop Trauma. 1991; 5:255-64.
14. Green DP. Pins and plaster treatment of cominuted fractures of the distal end of the radius. J Bone Joint
Surg Am 1975;57A:304-10.
15. Habernek H, Weinstabl R, Fialka C, Schmid L. Unstable distal radius fractures treated by modified
Kirschner wire pinning: anatomic considerations, technique, and results. J Trauma. 1994;36:83-8.
16. Johnston GH, Friedman L, Kriegler JC. Computerized tomographic evaluation of acute distal radial
fractures. J Hand Surg Am 1992;17A:738-44.
17. Jupiter JB. Fractures of the distal end of the radius. J Bone Joint Surg Am 1991;73A:461-9.
18. Jupiter JB, Ring D. A comparison of early and late reconstruction of malunited fractures of the distal end
of the radius. J Bone Joint Surg Am. 1996;78:739-48.
19. Jupiter J, Fernandez D. Complications following distal radial fractures. Instr. Course Lec. J. Bone Joint
Surg. Am 2001, 83-A , 8.
20. Jupiter JB, Fernandez DL, Whipple TL, Richards RR. Intra-articular fractures of the distal radius:
contemporary perspectives. Instr Course Lect. 1998;47:191-202.
21. Knirk JL, Jupiter JB. Intra-articular fractures of the distal end of the radius in young adults. J Bone Joint
Surg Am. 1986;68:647-59.
22. Lamey DM, Fernandez DL. Results of the modified Sauvé-Kapandji procedure in the treatment of
chronic posttraumatic derangement of the distal radioulnar joint. J Bone Joint Surg Am. 1998;80:1758-69.
23. Leibovic SJ, Geissler WB. Treatment of complex intra-articular distal radius fractures. Orthop Clin
North Am 1994;25: 685-706.
24. Lenoble E, Dumontier C. Fracture de l’extremitédistale de deux os de l’avant-bras chez l’adulte. Encycl
Méd Chir Appareil Locomoteur 1997;14-045-B-10.
25. Lipton HA, Wollstein R. Operative treatment of intraarticular distal radial fractures. Clin Orthop
1996;327:110-24.
26. Markiewitz AD, Gellman H. Five-pin external fixation and early range of motion for distal radius
fractures. Orthop Clin North Am. 2001;32:329- 35, ix.
27. Melone CP Jr. Articular fractures of the distal radius. Orthop Clin North Am 1984;15:217-36.
28. Melone CP Jr. Distal radius fractures: patterns of articular fragmentation. Orthop Clin North Am.
1993;24:239-53.
29. Munson GO, Gainor BJ. Percutaneous pinning of distal radius fractures. J Trauma. 1981;21: 1032-5.
30. Naidu SH, Capo JT, Moulton M, Ciccone W 2nd, Radin A. Percutaneous pinning of distal radius
fractures: a biomechanical study. J Hand Surg [Am]. 1997;22:252-7.
31. Owen RA, Melton LJ 3rd, Johnson KA, Ilstrup DM, Riggs BL. Incidence of Colles’ fracture in a North
American community. Am J Pub Health. 1982;72:605-7.
32. Palmer AK, Werner FW. Biomechanics of the distal radioulnar joint. Clin Orthop.1984;187:26-35.
33. Parry BR. Colles’ fracture: Efficacy of pins and plaster. Am J Orthop 1997;26:45-50.
34. Pogue DJ, Viegas SF, Patterson RM, Peterson PD, Jenkins DK, Sweo TD, Hokanson JA. Effects of distal
radius fracture malunion on wrist joint mechanics. J Hand Surg [Am]. 1990;15:721-7.
35. Rayhack JM. The history and evolution of percutaneous pinning of displaced distal radius fractures.
Orthop Clin North Am. 1993;24:287-300.
36. Ring D, Jupiter JB. Percutaneous and limited open fixation of fractures of the distal radius. Clin Orthop.
2000;375:105-15.
37. Rodriguez-Merchan EC. Plaster cast versus percutaneous pin fixation for comminuted fractures of the
distal radius in patients between 46 and 65 years of age. J Orthop Trauma. 1997;11:212-7.
38. Saffar P. Treatment of distal radial intraarticular malunions. In: Saffar P, Cooney WP 3rd, editors.
Fractures of the distal radius. Philadelphia: JB Lippincott; 1999. p 249-58.
39. Sarmiento A, Zagorski JB, Sinclair WF. Functional bracing of Colles’ fractures: a prospective study of
inmobilisation in supination vs pronation. Clin Orthop 1980;146:175-83.
40. Sauvé L, Kapandji M. Nouvelle technique de traitement chirurgical des luxations récidivantes isolées de
l’extrémité inférieure du cubitus. J Chir. 1936;47:589-94.
41. Simic P, Weiland A. Fractures of the distal aspect of the radius: Changes in treatment over the past two
decades. J. Bone Joint Surg. 2003. 85-A , 3
42. Short WH, Palmer AK, Werner FW, Murphy DJ. A biomechanical study of distal radial fractures. J
Hand Surg [Am]. 1987;12:529-34.
43. Stein AH, Katz SF. Stabilization of Conminuted fractures of the distal end of the radius: percutaneous
pinning. Clin Orthop 1975;108:174-81.
44. Swigart CR, Wolfe SW. Limited incision open techniques for distal radius fracture management. Orthop
Clin North Am. 2001;32:317-27, ix.
45. Trumble TE, Culp RW, Hanel DP, Geissler WB, Berger RA. Intra-articular fractures of the distal aspect
of the radius. Instr Course Lect. 1999; 48:465-80.
46. Trumble TE, Wagner W, Hanel DP, Vedder NB, Gilbert M. Intrafocal (Kapandji) pinning of distal
radius fractures with and without external fixation. J Hand Surg [Am]. 1998;23:381-94.
47. Wolfe SW, Austin G, Lorenze M, Swigart CR, Panjabi MM. A biomechanical comparison of different
wrist external fixators with and without K-wire augmentation. J Hand Surg [Am]. 1999; 24:516-24.
48. Villar RN, Marsh D, Rushton N, Greatorex RA. Three years after Colles’ fracture. A prospective review.
J Bone Joint Surg Br. 1987;69:635-8.