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M AS ETAPAS D PEReAMENTO SOCIOLOGICO Raymond Aron | wit Martins Fontes Soo Paulo 1997 Be Pode parecer surpreendente comecar uma histéria do pensamento socio \égjco pelo estudo de Montesquieu, Na Franga, esse autor geralmente € considerado um precursor da sociologia e se atribui a Augusto Comte 0 nérito de ter fundado essa eiéncia — 0 que é verdade, se fundador for aquele que criow o termo. Coniudo, se 0 socidlogo s¢ define por uma intengao espectfica, conhecer cientificamente o social enquanto tal, Mon teaquieu & a met ver, um socidlogo, tanto quanto Augusto Comte. interpreragio-da sociologia implicita em L'Esprit des lois (O Espirito das Leis) 6, com efeito, mais “moderna”, sob eertos aspectos, do que dle Augusto ‘Comic, O que nfo prova que Montesquieu tenha razdo, € “Augusto Comte nfo tenha, mas simplesmente que Montesquieu, a me modo de ver, nfo & apenas um precursor, mas um dos fandadores da sociologia. Consideras Monteequict coma sacidlaga & responder a uma pensuaita formulada por todos os historiadores: em que disciplina se insere Montes quivu? A que escola pertence? ‘A incertera é visivel na organizagdo universitéria francesa: Montes quiou pode figarar simultancamente no programa de graduagio em litera fura, em filosofiac até mesmo, em alguns casos, em histéria. Num nivel mais elevado, os historiadores das idéias sieuam Montes: quien ora entre os homens de letras, ora entre 0s tedricos da politica: is Yezes como historiadot do direito, outras vezes entre os idedlogos que, 2° Néc. XVIII, discutiram os fundamentos das institaigGes francesas e prepa taram a crise revolucionéria, e até mesmo entre os economistast). A frerdade € que Montesquieu foi ao mesmo tempo um escritor, wm jurista, tum fildsofo da politica e quase um romancista, Nao hé diivida, contudo, que, na sua obra, L'Esprit des lois ocupa a 2 AS ETAPAS DO PENSAMENTO SOGIOLGGICO uma posigio central. Ora, a intengao de L'Esprit de lois, pelo que me parece, é evidentemente sociolégica. Aliés, Montesquiew ndo faz mistério disso. Seu objetivo é tornar a histéria inceligivel: deseja compreender o dado histérico. Ora, este se apre- senta a seus olhos sob a forma de uma diversidade quase infinita de costu- ‘mes, idéias, leis ¢ instituigdes. O ponto de partida da sua investigacao 6 precisamente essa diversidade, que parece incoerente; a finalidade da pes- quisa deveria ser a substituigao desta diversidade incoerente por uma ordem conceitual, Exatamente como Max Weber, Montesquicu deseja passar do dado incoerente a uma ordem inteligivel, Ora, esse processo & proprio do sociélogo Mas as duas expresses que utilizei acima — diversidade incoerente, cordem inteligivel -- colocam evidentemente um problema. Como se che. gard a descobrit uma ordem inteligivel? Qual sera « natureza dessa ordem inteligivel que deve substituir a diversidade radical dos habitos e costumes? Parece-me que ha, na obra de Montesquieu, duas respostas que no so contraditérias, ou melhor, duas etapas de um mesmo processo de investigasao. A primeira consiste na afirmagao de que, além do caos dos acidentes, pode-se descobrir causas profundas, que explicam a aparente itracionali- dade dos acontecimentos, Em Considévations sur les causes de la grandeur et de la décadence des Romains (Consideragdes sobre as causas da grandesa e da decadéncia dos Romanos) Montesquieu escreve [Nilo € 0 acaso que domina 0 mundo. Pode-se perguntat aos romanos, que tive ram uma fase continua de prosperidade quando se govemavam de uma determi- ada forma, © uma sucesséo ininterrupta de reveses quando agicam de outa forma. HA causas gersis, morais ou fisicas, que agem em cada monerquig, evan- tando'a, mantendo-a ou destruindo-a, Todos os acidentes estio sujeitos 4 essad scausas, € se 0 acaso de uma batalha, isto é, uma causa particular, aruinow um Estado, havia uma causa geral que fazia com que este Estado devesse perecer em tuna Gnica batalhe. Numa palavra, a tendéncia principal traz consigo todos os acidentes particulares. (Cap. 18;0. Ct. 0, p. 173.) E, ein L'Esprit des lois: Nao foi Poltava que arruinow Carlos XII. Se ele nfo tiveste sido desteutdo num loca, teria sido em outro, Os acidentes do acaso sio facilmente repacad ‘Mas nfo é possivel evitar fatos que nascem continuamente da natutcas das coisas (Liv. X, cap. 13;0. C,,t. Ul, p. 387,) A iidéia subjacente a essas duas citagdes 6, a meu ver, a primeira idéia propriamente socioldgica de Montesquieu, Eu a formularia assim: é preciso captat, por tris da seqiiéncia aparentemente acidental dos acontecimentos, as caitsas profindas que os explicam. 2B MONTESQUIEU ‘Uma proposiggo desse tipo no implica, entretanto, que as causas profundas fenlam feito com que fosse necesstio acontecer cudo o que neontecet, A sociologia nio se define, no seu ponto de partida, pelo pos- tulado segando 0 qui os acidentes nfo tim efichia no curso da hstéria B uma questio, de fato, de saber se uma vitéria ov uma derrora mili tar foi provocada pela corrupeio do Estado ou por erros de técnica ou titica, Nao 6 evidente que uma vitéria militar, seja ela qual for, signifique a grandera de um Estado, ow uma demo, su rapt inda resposta de Montesquieu 6 mais interessante € vail mais tees Gee er tonnae diversidade dos habi- tos, dos costumes e das idéias num reduzido niimero de tipos e no que os acidentes podem ser explicados por causas profundas. Entre a diversidade infinita dos costumes e a nidade absoluta de uma sociedade ideal, hé um termo intermedirio, © prefiicio de 17r ial: rit des lois exprime elaramente essa idéia essen- ‘Examine! em primeiro lugar os homens, e vi que, nessa infnita diversidade de leis ¢ de costumes, eles no eram conduzidos exclusivamente por suas fantasias, ‘A f6rmula implica que a variedade das leis possa ser explicada, jf que fs leis préprias a cada sociedade sio determinadas por certas causas que ‘atuam As vezes, sem que os homens dela tenham consciéneia. Continua Montesquieu: logue ox principis, vi os casos particulars se enguadrarem como que pos a buamorsel as putin de toca es mages tendo apenas conten Jals;e vi cua lei paiticuar anoclads com sma outa lei, ou dependende de “yuma ura mals gra (0. Cts, p. 228) "assim, & possivel explicar de duas mancivas a diversidade dos costu: mes que se observa: de um lado, remontando as causis responsiveis pelas Teis particulars que se observam neste ou naquele caso; de outro, isolande ¢s prinefpios ou tipos que constituem um nivel intermedifrio encre a diver sidade ineoerente e um esquema universalmente vilido, Tornamos inteligh vel 0 even pg apreendemes as causes profundas que dernninaram 8 andamento gerl dos aconteimentos. Tornames a dversidade inslighe quando a organizamos dentro de um pequeno némero de tipos ou de conceitos.

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