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Revista eltronica de musicologia
Revista eletrénica de
musicologia
A historiografia como ferramenta para contar a
historia da musica
Leandr rtner*
Resumo: A histéria tem um papel de destaque na formacdo dos mais
variados profissionais, sendo também uma érea de conhecimento
independente e ndo apenas uma etapa do curriculo, Na musica isto
ocorre nas mais variadas instdncias, desde os esforgos de apreciacdo
artistica até a aquisicdo da expertise instrumental. Porém, nao é raro
que, na transmisséo do discurso histérico, oS questionamentos
historiograficos passem despercebidos. Este artigo tem como principal
objetivo explicar os modelos tedricos de histéria, 0 modelo nomoldgico,
compreensivo, conceitual e narrativo, através de exemplos tradicionais
do discurso histérico da musica ocidental.
Palavras-Chave: Historiografia; Teoria da histéria; Historia da
masica.
Historiography as a tool for music history
Abstract: History has a prominent role in several fields of education,
being an independent field of knowledge. In music it ranges from the
efforts involved in music listening to instrumental expertise acquisition.
However, it is not rare that historiography questions are forgotten in
the historical discourse. The main objective of this paper is to explain
the theoretical models of history, the nomologic, comprehensive,
conceptual and narrative models, through traditional examples from the
historical discourse of western music.
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Revista eltronica de musicologia
Keywords: Historiography, Theory of history, Music history.
1. Introdugao
A grande parte dos estudantes de praticamente todos os campos de
conhecimento inicia seus cursos através dos aspectos histéricos. Quase
todos os professores dos cursos de graduacéo e pds-graduacdo
preocupam-se em dimensionar seus alunos sobre suas respectivas
areas, sobre 0 que aconteceu ao longo dos tempos até o exato
momento da aula. Este fato mais do que um padrdo pode ser tomado
como regra, que de uma forma ou outra surge nas etapas iniciais dos
curriculos. | Partindo destas afirmagdes, onde a histéria esta
evidentemente destacada na formacao dos mais variados profissionais
e de que a histéria é também uma drea de conhecimento independente
€ n&o apenas um procedimento curricular, é de se esperar que ocorra
um grande nimero de idiossincrasias no método e no discurso dos
professores.
Este artigo tem como principal objetivo explicar os modelos teéricos de
histéria através de exemplos tradicionais do discurso histérico da
musica ocidental. Esta aproximacdo entre a narrativa dos eventos
musicais sob o olhar historiogrdfico néo pretende ser uma analise
critica definitiva ou fechada sobre como o musico deve posicionar-se
quanto ao objeto do passado, mas sim propor algumas observacées
generalistas para que se desenvolvam melhores meios de compreensdo
do discurso histérico em professores de misica, intérpretes,
compositores e apreciadores.
Como fios condutores deste trabalho serdo utilizados os modelos
tedricos da hist6ria explicados por José Carlos REIS (2003) no texto “A
especificidade légica da historia”: 0 modelo nomolégico, o modelo
compreensivo, 0 modelo conceitual e 0 modelo narrativo. Primeiramente
serao feitas observagées introdutérias quanto a problemas inerentes ao
conhecimento histérico, sua cientificidade e sua possibilidade,
explicados no inicio do texto de REIS e, em seguida, ocorrera o didlogo
entre os modelos teéricos e algumas passagens pertinentes do discurso
da histéria da musica.
2. Os problemas da historia
A condig&o natural e maior problema do conhecimento histérico é 0
dbvio distanciamento entre os observadores do presente e 0 objeto
observado no passado. Na produg&o do seu discurso o historiador nado
utiliza uma linguagem especifica e sim sua lingua matema, cheia de
anacronismos, preconceitos, arcaismos, dificultando o reconhecimento
das verdades e mentiras. REIS (2003, p.100) ressalta que o
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Revita cetrnica de misicolsia
conhecimento histérico “olha o passado com os olhos e as cores do seu
presente, apagando a diferenca que deveria preservar e conhecer entre
presente e passado”.
Outro ponto abordado pelo autor, a partir de Descartes, é o simples
distanciamento temporal entre observador e objeto. Os fatos histéricos
assim sdo fantasmagéricos, indecifraveis e misteriosos, pois deixam de
existir. “A histéria nao chegaria a produzir nem erro, mas confusdo”
(2003, p.100). Apés apontar estes problemas inerentes ao
conhecimento histérico a pergunta é: 0 que é a histéria e qual o
trabalho do historiador? REIS (2003, p.101) responde que a historia “é
um conhecimento que pretende obter a verdade do seu objeto através
da investigacéo, da interrogacdo e do controle das fontes... é o
conhecimento cientificamente conduzido do passado humano”.
Existe também o fator histérico nos outros saberes, por onde as
mudancas s3o mostradas; nem sempre as coisas foram deste jeito,
houve transformagées. A propria historia sofreu e sofre este processo,
ela ja foi contada através de registros, crénicas, compilacdes,
genealogias, teologia, filosofia, ciéncia, ciéncia social, romances
veridicos, etc. Além destas transformagdes do pensamento histérico,
ainda ocorre um fator que deixa tudo mais incerto e impreciso; 0 fato
do conhecimento histérico se confundir com sua matéria e de nao poder
constituir um conhecimento Unico total e sim uma soma de elementos
conhecidos, Para exemplificar REIS cita a Revolucdo Francesa como uma
série de eventos ocorridos na Franca no final do século XVIII e ndo um
grande evento isolado localizado precisamente no tempo.
Contar a histéria passa por uma construg&o de juizos para que possa
ser atribuido um sentido aos fatos. NIETZSCHE (1983) fala nas
“atitudes negativas” que o observador pode cometer quando pensa no
passado. O historiador pode contar uma “historia monumental”, que vai
resgatar no passado somente os grandes modelos, como o Curriculum
Vitae, uma histéria monumental de si mesmo. Uma “histéria
antiquéria”, como a adoracéio dos detalhes do passado, ao modo de um
colecionador de pequenos objetos. Uma “histéria critica”, que estuda os
fatos com objetividade excluindo a subjetividade, ou seja, a Razdo
pode passar por cima da vida.
Em outra definigéo do conhecimento histérico, Michel de CERTEAUX
(1987) posiciona a historia entre a ciéncia e a ficcdo. E ciéncia
enquanto objetiva e analitica, porém ficticia “quando esconde em sua
refiguragio do passado, o presente que a organiza” (REIS, 2003,
p.105).
HISTORIA
CIENCIA FICCAO
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