Entretanto, a graça não tem goela de baleia. Este pensamento miúdo e estreito
não faz parte dos limites da graça. Por definição, graça é a dádiva incondicional
de Deus aos desconceituáveis. É Deus dando e fazendo tudo para o indigno.
Graça é favor imerecido. É a plena suficiência de Deus, para a total
incapacidade do homem. É a menção honrosa para os desqualificados. É o
pódio dos falidos. É o brilhante de muitos quilates para um anel de metal
barato. Graça é um Deus justo e santo imputando gratuita e favoravelmente
sua justiça e santidade a um pecador vil e rebelde.
Santo Agostinho dizia que a graça não encontra homens aptos para a
salvação, mas torna-os aptos para recebê-la. Na verdade, a graça encontra os
homens na desgraça ou na anti-graça. O nosso mundo funciona na base de
impertinentes cobranças e a religião é muito sem graça. O mundo exige e
reclama do desempenho das pessoas e a religião envergonha o fracasso dos
trôpegos. Neste contexto infeliz de imposições e vexames, surge uma
mensagem sublime da graça plena, que assume a responsabilidade do castigo
e transfere gratuitamente os benefícios da aceitação. Porquanto a graça de
Deus se manifestou salvadora a todos os homens, a fim de que, justificados
por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna.
Tito 2:11 e 3:7. O ser humano não conquista a graça de Deus, pelo contrário, a
graça de Deus invade a falência humana.
O doente carece do médico porque está doente. Jesus disse que os sãos não
precisam de médico, e sim os doentes. Não vim chamar justos, e sim
pecadores ao arrependimento. Lucas 5:31-32. Ninguém se arrepende para ser
chamado, mas porque é chamado se arrepende. A vocação divina antecede a
decisão humana. O morto precisa ser vivificado para poder se levantar. O
pecador necessita ser regenerado para crer e arrepender-se. Jesus, como
médico da alma, veio em busca do doente espiritual. Neste caso, não é o
doente quem busca o médico, mas é o médico quem procura o doente. Isto é
graça. A Bíblia mostra que, não há quem entenda, não há quem busque a
Deus. Romanos 3:11. Foi Deus, em Cristo, quem buscou o homem no pecado.
Jesus, como médico gracioso, veio salvar o pecador independentemente de
qualquer iniciativa deste. A ação da graça de Deus precede qualquer reação do
ser humano. Apesar de Deus nunca salvar um espectador, Ele não salva um
executivo, isto é: alguém que realiza primeiro, para receber depois. A salvação
de Deus não é uma permuta. No reino da graça não existe câmbio. Como disse
Dr. Pink: Nenhum pecador jamais foi salvo por ter dado o coração a Jesus. Não
somos salvos por termos dado, mas sim pelo que Deus deu.