O propósito essencial e leitmotiv desta nova série de artigos que passamos a escrever é
levar o leitor à reflexão – e, conseqüente, discussão – sobre o mundo em que vivemos,
tomando-se em consideração, especialmente, os fundamentos culturais e valorativos que
conformam o (in)consciente individual e coletivo da nossa sociedade.
A idéia também é tentarmos desvelar os valores que motivam as nossas ações e as causas
e fundamentos do contexto existencial e cultural no qual, queiramos ou não, estamos
inseridos ou, mais que isso, verdadeiramente, submersos, subjugados.
Não é à toa que os chamados sete pecados capitais (São Tomas de Aquino, in “Suma
Teológica”, publicada em 1.273) – luxúria, avareza, soberba, ira, inveja, gula e preguiça (e
acrescentaríamos aí a “rebelião”, no sentido de insubmissão total e de “quem manda em
mim sou eu!”) –, mais do que nunca, em alto grau e medida, têm feito parte da
individualidade humana e têm se tornado elementos recorrentes de ligação na teia das
relações sociais e institucionais. É como se vivêssemos um estágio de anarquia do
indíviduo, das instituições e da sociedade. Falta-nos: igualdade, fraternidade,
solidariedade, caridade e dignidade. Sobra-nos: egocentrismo, letargia, conformismo,
arrogância, corrupção em todos os níveis, “jeitinhos”, desonestidade, falta de sinceridade
e etc. Enfim, vivemos a era do discurso, da maquiagem, da engabelação. E o pior disso
tudo: nós não somos apenas vítimas, somos também atores sociais, sujeitos que repetem
essas mesmas condutas viciosas que, contra nós, diuturnamente, são cometidas.
Por que assim o é? Por que assim tem sido? Por que, em vez dos sete pecados capitais,
não conhecemos e praticamos as setes virtudes fundamentais “humildade, disciplina,
amor, castidade, paciência, generosidade e temperança”?
Não é à toa, também, que hoje, mais do que nunca, não temos mais referenciais absolutos
a serem evidenciados e tomados como padrão de conduta. Tudo é relativo e depende do
prisma do observador, de modo tal como se o homem, individualmente, por si só, fosse a
medida de todas as coisas, como afirmou o sofista Protágoras cerca de 500 anos antes de
Cristo e como pregaram e levaram, tal idéia, às últimas conseqüências, os iluministas, a
partir do século XVIII da era Cristã. Aliás, conforme veremos nesta nova série de artigos,
esse pensamento sofista e ateísta levado à cabo, como mentor e motor da história, nos
últimos 200 anos, por intelectuais, por governos e instituições, explica, essencialmente, o
que somos hoje e os porquês do estado de mazela moral e social em que nos
encontramos.
Em verdade, vivemos hoje uma dicotomia existencial que precisa ser compreendida em
nossas mentes, a fim de que nos posicionemos e saibamos pautar as nossas ações. Tal
dicotomia existencial se constitui porque, olhando o mundo pelo prisma cultural, científico
e filosófico, estamos vivendo sob os fundamentos valorativos do chamado pós-
modernismo. Por outro lado, olhando, agora, o mundo pelo prisma moral-religioso e
institucional, estamos, ainda, vivendo sob a égide e os fundamentos valorativos da
chamada “Era Cristã”.
Nós não fomos sempre assim. Quem nós éramos? Quem nós somos? Quem nós estamos
nos tornando? O que é o “Pós-modernismo” e quais são os valores que o fundamentam?
Ainda sabemos quais os valores do Cristianismo, ou sabemos apenas os valores e dogmas
de uma religião? E mais que isso: vivemos o que sabemos sobre Cristo ou o relativismo
cultural já atingiu e falseou, em nosso imaginário, a obra da Cruz?
E mais: o homem, é sim, a medida de todas as coisas, das que são e das que não são ou
existe um Caminho, uma Verdade e uma Vida? Numa época como essa, em que estamos
prestes a refletir e comemorar o “Natal” precisamos entender bem o significado de todas
essas coisas. Exatamente por isso, a todas essas questões, tentaremos responder nesta
nova série de artigos.