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A Escola do Terror

Descrever é fazer um retrato com palavras, é desenhar, é pintar tudo, só com palavras, e isso é
muito chato, muito enfadonho, muito cansativo e, para o leitor, causa sono, bocejos e vontade
de interromper a leitura. O certo seria fotografar, filmar, de todos os ângulos, de todas as
alturas, vista aérea, inclusive, fotografada e filmada de um helicóptero. Mas, ninguém pode
fotografar e nem filmar o passado, além do que aquele cenário por inteiro não existe mais,
pois o hospital foi desactivado há muitos anos e, posteriormente, foi inteiramente demolido,
nada mais restando naquele lugar que hoje em dia é uma enorme área de pastagem e parte de
uma fazenda de criação de gado, Mas, naqueles tempos era um hospital psiquiátrico, o mais
famoso, o maior, o mais caro, o mais luxuoso hospital de tratamento de doenças mentais do
país. Ocupava uma área de um quilómetro quadrado, ou seja, cem hectares, era quase uma
cidade. Centenas de médicos clinicavam ali, mais de mil enfermeiros. Tinha espaço de
capacidade para alojar e tratar dez mil pacientes, mas funcionava, normalmente, com cerca de
quatro mil. Só atingiu a capacidade máxima quando ocorreram as ondas das grandes
internações de jovens de todas as idades, oriundos de todas as cidades da região, quando
esses jovens, como que tomados por uma epidemia de insanidade colectiva, passaram a
hostilizar os costumes, os regramentos, postos pela família, pela igreja, pela escola e pela
comunidade, de onde esses jovens se originaram. A primeira internação foi a de Rodrigo. Ele
entrou ali com 16 anos; fugiu dali com 18 anos.

Era final do mês de Março, cerca de dez horas da manhã, chovia cascatas de chuva, tempo
escuro, parecia noite. Vinha ele, o pai, a mãe e o chofer, no enorme carro da família. Viajaram
duzentos e cinquenta quilómetros, por estradas de terra, de barro, enlameadas, mas o carro
era imenso, potente, e o chofer era profissional exímio e muito experiente. Pararam na porta
principal do hospital, entraram, já eram esperados, e foram conduzidos por corredores,
corredores e corredores, até chegarem a uma sala de espera, grande, alta, espaçosa com
poltronas de couro, muitas poltronas.

Não havia ninguém naquela sala de espera, a não ser eles. Esperaram um tempo indefinido em
que ninguém consulta o relógio, ninguém fala nada, ninguém olha para ninguém, ninguém
pensa em nada. Veio uma enfermeira que conduziu pai, mãe e Rodrigo para o interior da sala
do médico.

Enorme, quase dois metros, mas não gordo, cerca de 40 anos, loiro, feio, muito feio, fala
arrastada, sotaque estrangeiro: alemão, holandês, sueco?! Nenhum sorriso, carrancudo.
Trocou algumas palavras com os pais e mandou que a enfermeira conduzisse o menino para a
sala de exames, ficando os pais de fora. A enfermeira tirou as roupas de Rodrigo, deixando-o
inteiramente nu e, após, deitou-o na cama de exames. O médico aproximou-se, sem dizer uma
palavra, com uma seringa de injecção na mão direita e agarrando o braço do menino, enfiou a
agulha em uma das veias e injectou o líquido.·
Rodrigo acordou no dia seguinte num quarto onde havia dormido quase vinte e quatro horas
pelo efeito da injecção. Nunca mais viu aquele médico feio e medonho. Nunca mais viu médico
nenhum. Em dois anos que esteve preso nesse hospital nunca foi recebido, tratado, por
médico nenhum, Só tinha contacto com enfermeiros e enfermeiras. Dois anos assim.

Rodrigo dividia o quarto com mais dois indivíduos, um alcoólatra de cerca de 50 anos e um
esquizofrénico de 35 anos, que tinha visões e alucinações e gemia, gritava e urrava cinquenta
vezes por dia.

Naquela mesma noite o alcoólatra veio para a cama de Rodrigo e enfiou o pinto no cú de
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Rodrigo, e ficou a noite inteira assim, comendo o Rodrigo e gozando e esguichando porra sem
parar dentro de Rodrigo que gozou inúmeras vezes e sentiu um enorme alívio, pois fazia dois
meses que não dava o cu para ninguém e já estava enlouquecendo de tesão.

Rodrigo nunca fora veado e nunca tinha dado o cu, e sempre repelira as tais trocas-trocas com
outros meninos. Até os 15 anos de idade, era um menino puro, casto e embora sentisse muito
tesão pelas meninas, nunca comera nenhuma delas. Ele era um menino muito bonito e as
meninas da escola caiam em cima dele feito loucas. Agarravam-no, beijavam-no, seguravam o
pinto dele, mas ele nunca comeu nenhuma delas. O máximo que ele fazia era tocar punheta, à
noite, no quarto, pensando nelas. Tocava duas, três, punhetas e depois dormia. Havia outros
meninos como ele que nunca comiam as meninas, mesmo que elas quisessem dar para eles.
Eles não comiam por diversas razões, sendo a mais importante, o medo de engravidar a
menina e depois ter que casar. Naquele tempo não havia pílula anticoncepcional e se a menina
engravidasse, os pais obrigavam o menino a casar com ela. Uns cinco ou seis colegas nossos
tiveram que casar com 16 ou 17 anos. Esses casamentos não duraram nem três anos, mas
destruíram a vida dos rapazes. Por esse motivo, a maioria dos rapazes não comia as meninas
da escola embora elas vivessem numa tara que parecia terem fogo nas bucetas. O máximo que
eles faziam era comer o cu delas e elas viciavam tanto em dar o cu que depois de adultas,
casadas, não conseguiam gozar na buceta e só gozavam dando o cu. Rodrigo não comia nem o
cu e nem a buceta das meninas, mesmo tendo um tremendo tesão por elas e ter que tocar
punheta todas as noites. Mas os motivos de Rodrigo não eram os temores de engravidar
alguma menina e depois ter que casar com ela. Os motivos de Rodrigo é que ele queria ser
padre. Ele era católico-apostólico-romano, fervoroso e fanático. Confessava e comungava
todos os domingos, pertencia a Irmandade dos Congregados Marianos, queria porque queria ir
para o seminário católico, mas os pais não deram permissão e sendo ele menor de idade, teria
que esperar até completar 21 anos para se libertar dessa proibição. Como escolheu ser padre,
não podia cair na tentação da carne e se render aos ataques das colegas de escola, que, a
pedido dos pais dele, viviam tentando demovê-lo de seguir a carreira religiosa e nessas
tentativas, ficavam nuas diante dele, provocavam-no de todas as maneiras, masturbavam-se
na frente dele, imploravam para que ele as penetrasse, tentavam chupar o pau dele, mas ele
nunca cedia e nunca se rendeu. Queria se padre, até que aconteceu um acontecimento que o
fez desistir para sempre dessa vocação e também da religião.

Havia um padre. Era o padre predilecto de Rodrigo. Quase dois metros de altura, 40 anos,
magro, musculoso, enorme. Alemão, falava o português com sotaque arrastado, mas ensinara
latim e grego para o Rodrigo. Era o confessor, o confidente, o amigo, de Rodrigo, quase um
pai. Foi por influência dele que Rodrigo decidiu ser padre.

Era um dia chuvoso de fim de Março. A aula de grego tinha terminado, mas Rodrigo estava
sem guarda-chuva e o padre pediu-lhe que esperasse a chuva passar. A chuva não passou e já
era quase noite e, então, o padre convidou Rodrigo para irem até os porões da igreja onde
havia um aposento de objectos perdidos e esquecidos pelos fiéis que nunca vieram buscá-los.·
Os dois desceram as escadas, cento e dez degraus, uma profundeza, nesse subsolo, a vários
metros abaixo da superfície, Rodrigo divisou um vasto corredor de pedra, ladeado de muitas
portas, tudo vazio, tudo em silêncio. Rodrigo sentiu um calafrio, mas não medo, pois estava
muito bem acompanhado pelo seu amigo protector.

Pararam em frente a uma porta. O padre tirou uma chave do bolso da batina e abriu a porta.
Entraram e, sem que Rodrigo notasse o padre fechou a porta com a chave. O padre fingiu que
procurava um guarda-chuva ou uma capa para o menino, mas depois de algum tempo deu um
suspiro de decepção e desistiu dizendo que não havia nada ali. Rodrigo acenou com a cabeça e
fez menção de dirigir-se até a porta para sair. O padre o agarrou.
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Rodrigo deu risada, pensou que fosse uma brincadeira, mas não era uma brincadeira.

O padre levantou-o como se fosse uma pena, manteve-o no ar com o braço esquerdo e com a
mão direita puxou-lhe a cabeça e esmagou-lhe os lábios com um monstruoso beijo cheio de
lascívia, enfiando-lhe a língua na boca e mexendo a língua como uma cobra e gemendo
enquanto fazia tudo isso.

Rodrigo gritou, urrou, mas o lugar era uma tumba e ninguém no mundo lhe ouviria os gritos. O
menino esperneou de todas as maneiras, mas a força do padre era descomunal, gigantesca.

De repente, num gesto brusco, o padre jogou Rodrigo em cima de uma mesa, virou o menino
de bruços, desatou-lhe o cinto, baixou-lhe as calças, e aproximou do cu do jovem indefeso um
pinto de mais de dez polegadas de comprimento, cerca de vinte e seis centímetros, e grosso,
monstruosamente grosso, quase seis centímetros de diâmetro. O padre deu uma enorme
cusparada na cabeça daquele pinto, segurou com a enorme mão esquerda os braços de
Rodrigo para trás, torcendo-lhe os pulsos e fazendo gritar de dor. Com a mão direita, o padre
segurou o enorme pinto bem na portinha do cu de Rodrigo e então começou a empurrar. O
pinto foi entrando e rasgando o cu do menino. Entrou a cabeçorra inteira, depois foi entrando,
entrando, empurrando os intestinos, as tripas do menino. A dor era insuportável, o menino
sentiu vertigens, chegou quase a desmaiar, mas, pouco a pouco a dor foi diminuindo,
aliviando, tornando-se suportável até. E o padre gozou. Urrou e gemeu enquanto gozava e
despejou quase um litro de porra dentro do cu do Rodrigo.

Rodrigo ficou quieto, imóvel, em silêncio absoluto, com medo de que se fizesse um único
gesto, o monstro o mataria ali naquele mesmo instante. Achou que o padre tinha se saciado e
que iria tirar o pinto de dentro do cu dele e que o deixaria ir embora. Mas nada disso
aconteceu, pois o pinto continuou dentro do menino e continuou duro e imenso e enorme e o
padre começou de novo o movimento de vai e vem, metendo no menino, comendo o cu do
menino.

E então aconteceu uma coisa estranha, inexplicável, estonteante. A dor como que
desapareceu por completo. E no lugar da dor Rodrigo começou a sentir uma sensação
esquisita que pouco a pouco foi se definindo e quando se revelou por completo, mergulhou-o
o numa vertigem de pavor, de ódio, de angústia, de desespero. Ele estava sentindo prazer com
aquele enorme pinto no cu. O pinto entrava e saia, entrava e saia, e ele começou a sentir
vertigens de prazer e mais e mais, até que soltou um urro medonho e começou a gozar como
uma fêmea no cacete do macho. O padre sentiu o cu dele apertar e soltou outra enxurrada de
porra. Aí parou, tirou o pinto para fora, limpou-o com lenço e guardou-o dentro da batina.

Rodrigo foi para casa e não dormiu naquela noite tais eram as dores terríveis que sentia no cu
e nas tripas. O cu sangrou durante uma semana e ele teve que usar “absorventes” de mulher
para disfarçar.

Nas aulas, Rodrigo sentava-se de lado para aliviar as dores na bunda. Mas não disse nada a
ninguém sobre o acontecido. Guardou segredo absoluto, tumular. E nem podia ser de outro
modo, bastava um saber, para que o escândalo se espalhasse e toda a família dele seria
marcada com a marca da vergonha e teriam que se mudar dali para sempre, e sabe-se lá para
onde. Além disso, Rodrigo não podia revelar o segredo maior, a revelação na qual nem ele
mesmo acreditava ou a aceitava acreditar, a revelação de que ELE ERA VEADO, isso mesmo,
VEADO, veado completo que adorou dar o cu, que gozou dando o cu, que gemeu de prazer
dando o cu. Pensou em se matar, não podia suportar essa revelação do seu próprio eu. Um
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amigo nosso tinha passado por isso. Foi estuprado pelas Ganges da escola e gostou e gozou
dando o cu. Foi o maior comentário na cidade inteira e até na região, e então, ele se matou
com um tiro de espingarda na boca.

Rodrigo não se matou, ou porque era religioso, ou porque tinha medo da morte. Não se matou
e continuou a dar o cu, durante muito tempo para o próprio padre, e, depois, para outros
padres, e depois, sei lá para quem.

Se Rodrigo era veado de nascença, ou se ficou veado por causa do estupro, isso eu não sei e
acho que ninguém sabe, nem ele mesmo. Existe um ditado que diz: “NUNCA DIGA, NESSA PICA
NÃO ME SENTAREI, POIS VOCÊ ACABA SENTANDO E GOSTANDO E QUERENDO MAIS”. Dizem
que dois terços dos homens do mundo são veados embutidos ou declarados. Há três bilhões
de homens no mundo, o que totaliza dois bilhões de veados. Porra! É veado que não acaba
mais, mas como a maioria corta dos dois lados, então não falta pica para nenhum. Eu não sei
dessas Matemáticas, mas acho que se o cara gosta de dar o cu, então dê, porra, não precisa se
matar.·
Rodrigo ficou quase um ano dando o cu para aquele padre e durante esse tempo deu o cu para
outros padres que comiam outros meninos da escola, meninos que Rodrigo jamais imaginava
que dessem o cu e gostassem disso. Havia reuniões lá naqueles subterrâneos da igreja, com
aquele enorme corredor com muitas portas. Diversas vezes fizeram bacanais, com muitos
padres comendo muitos meninos, uns na frente dos outros, todo mundo junto, muita, orgia.

Rodrigo não foi ser padre, perdeu a fé, perdeu a crença, perdeu a alma.

O Rodrigo era meu amigo e sempre foi meu amigo desde o início até o final. Quando o
Washington e a gangs dele me arrebentaram de pancadas e eu fiquei entrevado na cama, ele
vinha me ver todos os dias e ficava horas conversando comigo, mas nunca me dizia nada do
que tinha acontecido com ele próprio. Se tivesse dito eu, com certeza, teria arrancado o pintão
do padrão gigantesco e teria feito esse senhor da fé comer o próprio pau com saco e tudo, e
depois faria com que ele fosse enrabado por um cavalo, conforme fiz com o Washington. O
pau do cavalo iria rasgar o cuzão maldito desse padre do inferno que estuprou muitos outros
meninos como o Rodrigo. Mas o Rodrigo não me disse nada e ficou mudo, em silêncio, e só
anos depois é que eu vim a saber de tudo o que se passou com ele.

Rodrigo tomou parte e foi um dos principais líderes, um dos mais acirrados cabeças nas
rebeliões geral da juventude que quase demoliu as estruturas da autoridade familiar, escolar,
religiosa e até política da cidade e de toda a região.

Ele não tinha prática e nem teoria para organizar e conduzir, juntamente com outros líderes,
aquela multidão de jovens, rapazes e moças. Nenhum deles tinha nem essa prática e nem essa
teoria, mas todos, e principalmente ele, tinham garra, perseverança, força de vontade
inabalável, e ódio, e raiva, e revolta, muita revolta, imensa revolta. E sem preparo, nem treino,
nem organização, mesmo assim, desencadearam as continuadas e intermináveis campanhas
juvenis de desmoralização das instituições paternas, escolares, religiosas e comunitárias, que
já vimos e contamos, em outra parte desta história.

Desvio de conduta, contestação das autoridades, afronta aos regramentos estabelecidos e


ciumentamente mantidos e conservados, tudo isso é sintoma escancarado de doença mental,
de escancarada insanidade que só pode ter um remédio: internação num hospital psiquiátrico,
o que equivale a uma prisão disfarçada e, o que é pior, uma prisão sem tempo definido de
cumprimento da pena. Da cadeia um condenado sabe quando vai sair, mas de um manicómio,
de um hospital psiquiátrico, poderá não sair nunca mais.
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Dois dias depois da internação começaram os tratamentos de Rodrigo. Diariamente ele


tomava choques eléctricos na cabeça. Deitavam-no numa cama, amarravam os pulsos e a
pernas dele com correias de couro, e punham uma tira de borracha para ele morder e depois
envolviam a cabeça dele com uma tira de material condutor e davam uma longa descarga. Ele
urrava, gemia, estrebuchava, esperneava, entrava em convulsões e finalmente desmaiava e
desmaiado ficava durante horas. No dia seguinte a sessão se repetia, e assim, durante cinco
dias por semana, de segunda à sexta-feira, havendo descanso aos sábados e domingos. Nas
primeiras semanas ele ficava inteiramente grogue, zonzo, abobadado, sem saber nem mesmo
onde estava e quem era. Depois o organismo foi se acostumando e neutralizando os efeitos
daquelas torturas e ele acordava completamente lúcido após cada sessão de eletro choque.
Ninguém nunca lhe explicou o porquê dessas barbaridades, e provavelmente nem os
enfermeiros e nem os próprios psiquiatras sabiam realmente o porquê daquilo.

Havia também remédios, comprimidos, injecções de insulina, todos com finalidade de


drogarem os doentes para deixá-los como zumbis, inertes, abobalhados. Os comprimidos, ele
os escondia debaixo da língua e depois cuspia fora. As injecções de insulina, ele subornava os
enfermeiros para que eles não as aplicassem nele. Desse modo ele conseguiu manter-se lúcido
e evitou enlouquecer naquele inferno, pois o tratamento tinha só e somente só essa
finalidade: manter os pacientes eternamente grogues para que eles nunca mais se
recuperassem e as famílias continuassem a pagar as caríssimas despesas durante anos e anos
até que o dinheiro acabava e o doente que, entrara é, e ali enlouquecera, era enviado para um
manicómio do governo onde em pouco tempo morria.

O convívio forçado com loucos de verdade era medonho. Loucos que cagavam, mijavam e
vomitavam na cama ou em qualquer lugar, e aquela imundície era deixada ali por horas, as
vezes dias, até que alguma faxineira viesse limpar. Uma vez ele quase foi estrangulado por um
louco e só se salvou porque se lembrou de uma torção de braço que eu tinha ensinado e que
ele aplicou no louco. O louco saiu com o braço quebrado e ele apanhou durante uma semana
inteira de cinco enfermeiros que vinham diariamente espancá-lo durante uma hora por dia.

Os pais vinham visitá-lo uma vez por mês, no começo, depois de três em três meses. Eles não
diziam nada e ele ficava em silêncio absoluto o que os levava a crer que ele ao invés de
melhorar, estava piorando, cada vez mais e estavam desistindo dele como se ele já fosse um
filho morto.

Os enfermeiros eram todos trogloditas, semi-analfabetos, grosseiros, mal encarados que só se


expressavam em gíria ou com palavrões quando não com safanões, tapas e empurrões.
Quando algum paciente se rebelava, recusava-se a tomar as horríveis pílulas, tentava sair
correndo pelos corredores, esses enfermeiros corriam atrás, derrubavam o paciente e
cobriam-no de pancadas, socos, chutes e depois o conduziam para uma solitária sem cama e
sem colchão onde o deixavam nu durante uma semana e duas vezes por dia, com uma
mangueira, esguichavam água fria no infeliz durante uma hora no mínimo.

Rodrigo apanhou muitas, muitas vezes daqueles enfermeiros e muitas vezes ficou nu na
solitária passando fome e frio. Nunca foi atendido por médico nenhum, nunca conversou com
médico nenhum. Tentou fugir duas vezes e foi apanhado e quase morto a pancadas.
Finalmente, depois de dois anos ali naquele cativeiro, fugiu, ganhou a liberdade. Os pais nunca
mais o viram, nunca mais. Eu o vi, muitas e muitas vezes, mas os pais dele, nunca mais.

Vermelho-Sangue
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Agosto 19, 2008

Ele desperta de um sono profundo e sem sonhos. E percebe – que horror – que seus
olhos fitam escuridão e seus dedos arranham madeira. Ele foi sepultado vivo.

Não se pergunta a razão. Apenas grita, e é o único a ouvir seu próprio terror. Tudo o que
ele sabe é que, agora, como um verme, deve cavar para viver.

E cava. Não sabe de onde vêm as forças que o tornam capaz de arrancar a tampa de seu
esquife ordinário, lasca por lasca, e destroçar a terra ainda fofa que cai sobre seus olhos.

Somente cava. A cova é rasa e o ar gelado da noite não tarda a castigar seu rosto. Está
sujo e estarrecido, mas livre.

Julgara-se morto; julgaram-no morto. Por um instante ou por uma eternidade, de fato,
esteve em outro lugar, onde seus sentidos de nada lhe serviam. O mundo se apagou.
Não viu paraíso, purgatório ou inferno. Agora, jaz de pé, olhando para o próprio túmulo
vazio, e teme cogitar que nenhuma dessas coisas realmente exista.

Afinal, então, não foram os céus que decidiram ser bons para com ele? Se Deus houve
por bem lhe dar mais dias na terra, por que questioná-lo? Este humilde homem sabe ser
grato às dádivas do Senhor. Está vivo; esse conhecimento lhe basta.

Não sabe quanto tempo se passou. Talvez alguns dias. A família decerto ainda o chora e
será feliz outra vez com o seu retorno, sob as graças divinas. Tudo o que ele quer é
abraçar novamente os dois filhos pequenos e beijar na boca sua terna esposa.

Ele ouve os lobos lamentarem tristemente nas colinas. Nunca a sua canção lhe pareceu
tão alta e próxima. Estão ganindo e uivando como se junto de seu ouvido. Apurando a
visão, ele quase pode enxergar seus pequenos olhos de rubi na noite. A música que eles
cantam é repleta de medo e pena.

As luzes da casa estão acesas e a porta está trancada. Nunca imaginou ter de bater para
entrar no próprio lar, mas ele o faz. Seu filho mais velho aparece para recebê-lo; de
pronto, é como se não o conhecesse. O menino não amadureceu e o homem sabe que
pouco tempo se passou desde que o viu pela última vez. Talvez não reconheça seu rosto.
Pode ser pela lama que lhe cobre as faces. Pode ser pelo inesperado que é ver voltar o
pai.

A mãe deixa cair a xícara que tem nas mãos ao chão. Não repara que estilhaços lhe
acertam os pés; é seu marido que está em casa.

Depois que ela o banha em silêncio, longamente, e o veste com roupas limpas, não é
cedo demais para jantar. A família ainda não sabe conter o pranto quando todos se
sentam. Lágrimas de alegria e de espanto. Mas não fazem perguntas à mesa. O homem
sorri. Contudo, a boa comida da casa não lhe apetece, muito embora seu apetite seja
grande. A comida é como barro e o vinho tem gosto de fel.
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Via se deitar cedo. Ele está feliz; para as crianças, é como se nunca tivesse partido. A
esposa, todavia, reza muito antes de ir para a cama, grata ou aflita.

Eles não se amam esta noite. Ele a beija. Porém, não a quer, como não quis sua comida
e sua bebida. Sente o corpo lânguido. Sabe que está vivo, mas não muito. Os lobos ao
longe o assanham e o desafiam; só ele consegue ouví-los. O vento também canta.
Somente quando o sol boceja no horizonte ele é capaz de adormecer.

Não há quem o faça se levantar para a refeição do meio-dia ou mesmo para um repasto
qualquer à tarde. Ao pôr-do-sol, finalmente, ele se sente disposto. O jantar feito com
primor pela esposa uma vez mais o desagrada. Ele brinca com as crianças, que nada
desejam entender, enquanto ela chora no quarto o mal incurável do esposo, que lhe pôs
no destino uma morte mal-morrida e um sorriso esquisito e constante nos lábios.

Tarde da noite, olhos muito abertos, ele conversa com a mulher. Durante o dia, sonhou
que padecia de uma estranha doença trazida por um homem pestilento. Ele tinha raiva
do mundo. Queria espalhar sua praga por toda a parte e, assim, ter companhia em sua
vida amaldiçoada. No sonho, esse homem o atacava e o arranhava nas costas e o mordia
na garganta.

Ela se sobressalta. Na outra semana, quando o enterraram, ele tinha feias marcas nas
costas e no pescoço. Agora, já não as tem.

Ele quer amá-la esta noite. O corpo dela lhe dá vontades. É quente. Pulsa.

Mal se dá conta do que fez quando ela se debate contra ele, berrando imprecações, com
o tenro colo coberto de sangue. Ela leva a mão ao pescoço ferido. Grita muito. Do
quarto ao lado vem um choro infantil.

Tudo o que ele vê é o vermelho-sangue. A bonita camisola de rendas que deu a ela
quando completaram cinco anos de tranqüilo matrimônio. O colo arfante. Ele vê o
vermelho. O sangue.

Os lobos. A lua. As montanhas e o vale. Tudo à sua volta sussurra e parece cantar
vitória para o homem, e ele não sabe a razão. A natureza, entretanto, está ao seu lado.

Não se recorda bem; algo aconteceu. Ele estava em casa com sua esposa e seus filhos.

Deveria ter sido bom, mas foi calamitoso e deixou-o zangado. Ele só desejava voltar
para sua vida e vivê-la como sempre fez. Abraçar as crianças e beijar a mulher na boca.
Alguém gritou. Alguém se feriu, houve fuga e pavor. Nada é como ele quer!

Não se lembra de como fez o que precisava ser feito. Sabe apenas que, de alguma
forma, aplacou a histeria de sua mulher e as lágrimas de seus filhos. Ninguém mais está
sentindo dor agora. Disso, ele tem certeza.
Mas a noite foi ruim e ele está cansado. Passa a mão pela barriga; está contente, pois
não sente mais fome, sede ou ganas de abraços. Basta de abraços esta noite. Seu coração
está cheio de dúvida, mas também de satisfação. Ele poderá dormir de estômago cheio e
sem gritos ou choradeira a incomodá-lo.
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O túmulo que outrora rejeitou lhe parece aconchegante agora. Nascemos do barro;
dormir na terra já não lhe soa como má idéia. Ele se deita e ela o acolhe. Cobre-se bem
para não ser notado.

É frio e as trevas têm um beijo mais doce do que o de sua esquecida esposa. Tudo está
como devia estar.
Amanhã à noite, ele poderá, talvez, sair ao encontro de outras. Escolherá uma nova
amada e se fará amar por ela. Dar-lhe-á de presente uma camisola de rendas brancas. Irá
abraçá-la e amá-la como somente ele pode amar uma mulher, e irá saciar-se nela. Não
haverá gritos dessa vez, nem choro de crianças. Unicamente o vermelho-sangue.
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l.dotm
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Assunto:
Autor: Sissy
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Data de criação: 15-01-2009 12:52:00
Número da alteração: 3
Guardado pela última vez em: 15-01-2009 12:54:00
Guardado pela última vez por: Sissy
Tempo total de edição: 1 Minuto
Última impressão: 15-01-2009 12:54:00
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Número de páginas: 8
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