Resumo
Palavras-chave
democratização da comunicação no Brasil surgiram em fins dos anos 1970, ainda sob a
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Trabalho apresentado no IV Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, promovido pela Associação
Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), de 5 a 7 de novembro de 2006 na Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre (RS).
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Jornalista, professora dos cursos de Rádio e TV e Jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo,
mestre em Ciências da Comunicação pela ECA-USP, e-mail para contato gisele.sayeg@gmail.com
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Beltrán destaca a crescente confusão entre os termos comunicação e informação, o que provocaria a redução de
sentido do primeiro. Destacando que comunicação envolve reciprocidade, e informação, disseminação, o autor lança
mão de Noseda para explicar que “comunicação não é ato, mas processo pelo qual o indivíduo entre em cooperação
mental com outro até que ambos alcancem uma consciência comum. (...) Informação, pelo contrário, é qualquer
transcrição unilateral da mensagem de um emissor a um receptor. (...) A irradiação de mensagens sem retorno de
diálogo, proveniente de informantes centralizados, não pode ser identificada com a co-atividade intra-subjetiva
característica da comunicação” (NOSEDA, Ricardo C. apud BELTRÁN, Luis Ramiro. Adeus a Aristóteles: Comunicação
horizontal. In: Comunicação e Sociedade: Comunicação Alternativa – Cultura Popular, São Paulo, ano III, nº 6, p. 5-
35, set.,1981).
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gerou demandas que passaram a ser respondidas por soluções de sentido
libertário, não raro de cunho anarquista, com perspectivas imediatistas e
particularizadas. Capitulava-se à falta de um projeto abrangente em troca da
satisfação produzida por um ativismo pretensamente “mais concreto”.4 (FNDC).
“importante acúmulo”, por outro lado, podem ter prejudicado o avanço do debate
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democratização da comunicação e informação. O requisito para atingir tal propósito é o
claro o papel fundamental das RadCom como uma alternativa ao monopólio das
Essa discussão não se restringe ao Brasil. Criada em 1986, no Canadá, com uma
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Tradução nossa do original em espanhol. ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE RÁDIOS COMUNITÁRIAS - AMARC. ¿Qué es
Amarc? Disponível em: <http://alc.amarc.org/page.php?topic=home_ES>.
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na soberania popular”; e a teoria moderna, onde o conceito de Democracia se confunde
com o de república. Destacando que, por essa razão, o conceito de democracia não pode
ignorar uma revisão das tradições históricas, o autor entende que há atualmente, “nos
que seriam, resumidamente: um governo eleito pelo povo, por meio de sufrágio
eleitores são livres para votar segundo sua própria opinião, sendo que o voto de todos os
Como se vê, todas essas regras estabelecem como se deve chegar à decisão
política e não o que decidir. Do ponto de vista do que decidir, o conjunto de
regras do jogo democrático não estabelece nada, salvo a exclusão das decisões
que de qualquer modo contribuiriam para tornar vãs uma ou mais regras do
jogo.7 (BOBBIO, 2000: 327).
7
Grifos dos autores.
4
Ao assim esboçar uma noção de democracia, entre as várias possíveis, Ferrari
coloca o direito à informação livre como um item do menu dos direitos fundamentais. 8
direito de recepção e escolha das fontes sem interferências de qualquer natureza, isentas
de qualquer tipo de censura. Uma vez que Ferrari considera que o direito à informação
livre seja condição sine qua non, deveria “predominar” o debate sobre a liberdade de
8
Para Ferrari, in-formação “não é somente o „ato de informar‟ como diz o vocabulário, mas em geral é parte
essencial do processo de formação de conhecimentos, de opiniões e, portanto, da própria personalidade do indivíduo:
a parte que age mediante a interação do sujeito com o mundo externo. A falta de informação bloqueia o
desenvolvimento da personalidade tornando-a asfixiada”. (FERRARI , 2000: 165).
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No entanto, se até muito recentemente, antes da exigência de licitação em 1997, a radiodifusão comercial era
freqüentemente sacudida por acusações de ser usada com objetivos políticos ou como moeda de barganha política,
hoje, esse papel cabe à radiodifusão comunitária. Veja, por exemplo: LOPES, C.A. Brasil, um país de todos? A
influência de políticos profissionais na outorga de rádios comunitárias nos dois primeiros anos do Governo Lula.
Paper apresentado no III Seminário Internacional Latino-Americano de Pesquisa da Comunicação. USP, São Paulo,
maio de 2005.
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elementos culturais, tradições, hábitos locais, estimulando o lazer, a integração e o
utilidade pública”.
um único canal de RadCom é destinado a cada município. Para garantir que cada
comunidade possa ouvir a sua emissora, sem interferência das demais, é imposto um
sede na comunidade em que pretendem prestar o serviço e que tenham definido em seu
fundação ou associação candidata a prestar o serviço não deve, de forma alguma, ter
ligação de qualquer tipo e natureza com outras instituições (político ou religiosas, por
exemplo).
horas. Os textos dos programas, inclusive dos noticiosos, devem ser autenticados pelos
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Qualquer cidadão da comunidade tem o direito garantido em lei (Art. 4º § 3º) de
sempre divulgar as diversas opiniões sobre o mesmo assunto, sem privilegiar uns em
detrimento de outros. Caso qualquer um dos princípios acima descritos não seja
caso de reincidências.
entanto, não deixa claro se as transmissões (técnica e conteúdo) deveriam estar sob a
transmissão de conteúdo.
Além disso (e apesar disso), para esta análise, é importante notar que O Manual
profissional do jornalismo.
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Em pesquisa realizada com 22 dirigentes de RadCom legalizadas da região
Noroeste do Estado de São Paulo 10 – o que corresponde 62% das outorgas concedidas
relações de poder na dinâmica das RadCom. A região de São José do Rio Preto foi
escolhida por abrigar várias emissoras comunitárias com outorga definitiva, algumas
atuando legalmente há mais de cinco anos. Também foi relevante o fato de que, na
maior parte dos municípios com outorga na região, a rádio comunitária é a única
comunidade, como o mais importante meio de comunicação diário local: em 67% dos
cidadão na programação e nos processos de gestão, traçar a visão dos dirigentes sobre
10
A pesquisa integra dissertação de mestrado com o tema “Rádios Comunitárias e Poder Local: estudo de caso das
emissoras legalizadas da Região Noroeste do Estado de São Paulo”, por mim defendida em abril de 2006, no
Departamento de Jornalismo da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, sob orientação do
Prof. Dr. Luiz Fernando Santoro.
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Para evitar a identificação, as emissoras e as lideranças comunitárias são designadas por um algarismo. Um total de
21 RadCom integram a pesquisa composta de 22 entrevistas. Isso porque, durante a realização do trabalho, uma das
RadCom (Rádio 1) foi “vendida” por R$ 45 mil. Assim, incluímos na pesquisa o antigo e o novo “proprietário”,
dividindo as informações em Rádio 1A e Rádio 1B.
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O questionário original, desenvolvido pela secretária geral do Conrad/TS, Dagmar Camargo, está disponibilizado
no sítio do FNDC como Tese de nº 4, com o tema “Propostas para posicionamento do Fórum em relação aos grandes
temas da área das comunicações em debate na atual conjuntura”: http://www.fndc.org.br.
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democracia, comunidade e cidadania, além de mapear as relações de poder que a partir
delas e dentro delas se estabelecem, bem como de levantar elementos que nos permitam
permite traçar um panorama que pensamos ser o mais próximo possível do que
realmente ocorre no interior das RadCom legalizadas. A partir dos dados levantados,
criadas por pequenos empreendedores locais que, sem recursos financeiros suficientes
para atenderem aos requisitos de uma licitação comercial (e desejosos de realizarem sua
é feito primeiro com um político da localidade que, por sua vez, encaminha o pedido de
correligionário local, o deputado federal, por exemplo, busca garantir apoio para sua
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Trabalho interessante, nesse sentido, é a dissertação de mestrado de Cristiano Aguiar Lopes, defendido na
Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, com o título “Política Pública de Radiodifusão Comunitária
no Brasil: exclusão como estratégia de contra-reforma”, em abril de 2005.
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reeleição e um espaço de mídia local. O político da cidade deseja o mesmo: espaço no
A pesquisa constata ainda que: em 19% dos casos a RadCom surgiu a partir de
seja, as emissoras foram criadas por políticos profissionais com objetivos fortemente
elementos que compõem a programação irradiada pelas RadCom legalizadas, bem como
previamente estabelecida, com uma média aritmética de dez programas por emissora
pesquisada. Em pontos extremos: a Rádio 20, com apenas 3 programas diários e a Rádio
5, com 23 programas.
(com doze) – reconhecemos uma similaridade entre elas, ou seja, o vínculo estreito com
instituições religiosas: as três primeiras foram montadas e são administradas pela Igreja
Católica e a última está ligada a igrejas evangélicas, tendo à frente a Igreja Batista. Tal
maior, o que parece sinalizar, por sua vez, numa maior diversidade de conteúdo.
10
A “intuição” se confirma quando questionamos os dirigentes de RadCom sobre
diversidade é uma das bandeiras que constituiu a luta histórica das rádios comunitárias
Outros: 3
Serviços, Utilidade Pública 21
Geração de trabalho, emprego e renda 18
Esporte 18
Educação 18
Ecologia 12
Religião 15
Cooperativismo 9
Sindicalismo 7
tipo de conteúdo
Saúde 19
Associativismo 9
Direitos do consumidor 10
Política 17
Jornalismo 19
Agenda cultural 19
Idoso 15
Mulher 18
Comunidade Negra 6
Adolescente 19
Criança 18
Direitos Humanos 16
0 5 10 15 20 25
o
n de respostas de entrevistados
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esportivos (presentes em 86% das emissoras pesquisadas) e os programas voltados para
música variada, voltada para o público jovem), que possuem a maior audiência, segundo
mais cedo ou mais tarde se concretizaria, uma vez que a informática recobre, na
agilizar o contato com outras emissoras e com os ouvintes. Pode organizar o ambiente
músicas. A RadCom pode buscar informações e montar seu programa jornalístico. E seu
relativamente longo manteve a emissora no ar sem sequer estar presente na cidade onde
RadCom, que hoje vende para emissoras de todo País, tendo sido adquirido, inclusive,
por uma rádio portuguesa. Tudo isso, sem estar presente na comunidade onde a
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dirigentes optam por deixar a programação por conta do computador. Somente duas
emissoras pesquisadas, por exemplo, têm 100% de programação ao vivo toda a semana:
a Rádio 3 e a Rádio 17. Nas demais, é comum a programação gravada, sobretudo nos
fins-de-semana.
sociedade virtual. De que forma o uso da Internet estaria interferindo nos conteúdos
Tabela 1
A Internet é usada na emissora?
Sim 81%
Não 19%
Tabela 2
Baixa notícias?
Sim 88%
Não 12%
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realizar pesquisas;
receber áudio de locutores de outras localidades e enviar áudio de locutores da
emissora,
disponibilizar a própria emissora na web etc.
inclusive, ser acessadas pela web: Rádio 5, Rádio 6, Rádio 15 e Rádio 20. Apenas
quatro emissoras pesquisadas (19%) não usam Internet (Rádios 2 – 3 – 8 – 17). Ainda
assim, na maioria das vezes, os locutores dessas emissoras acessam a rede em outros
diversas agências de notícias. Vale dizer que montar um programa jornalístico para
atender as diretrizes legais é cada vez mais fácil. A Agência Radio2 e a Central de
Com 350 emissoras atendidas e mais de 70 mil downloads por mês, a Agência
reportagens especiais e programas noticiosos, que resultam em material pronto para ser
oferecem desde programas semanais e mensais até listagem com as músicas mais
O acesso aos sites noticiosos permite, sem nenhum ônus financeiro, que a
RadCom traga informações do Brasil e do mundo para a sua comunidade, o que pode
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Veja em anexo uma relação com os principais sites utilizados pelas emissoras pesquisadas.
14
enriquecer ainda mais o trabalho que desenvolve no local. É preciso, porém, considerar
o risco de oferecer informações sem qualquer relação com o contexto em que está
sem fronteiras, mas pode levar, em casos extremos, ao distanciamento cada vez maior
da comunidade.
Considerações finais
Para López Vigil, a informação tem uma tripla finalidade social, na qual reside
inconformar e para, então, transformar. (2003: 209-213). Analisando por esse viés,
marcada por uma série de limitações – e, justamente por isso, acusada de ter sofrido a
influência do lobby dos grandes grupos de comunicação do País –, por outro, não
podemos desconsiderar os avanços por ela proporcionados. A Lei, na esteira dos ideais
acesso às ondas sonoras de muitos que não teriam a mesma oportunidade em veículos
comerciais.
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Entre os vários pontos polêmicos que envolvem a Lei 9.612/98 destacam-se a limitação de potência e freqüência de
operação e a restrição ao apoio cultural.
15
A consideração de Lafer, que recusa a simplificação normativa, a redução do
“legítimo ao legal”, joga luz no debate. Para ele, a “democracia é uma tentativa de
organizar o poder numa sociedade, de tal forma que se dê essa mediação bem sucedida
Claro está que esse processo de mediação – cujo resultado mais visível são as normas e
Ainda assim, como alerta o jornalista Ismael Lopes, é preciso destacar que os
artigos da lei que tratam especificamente dos princípios, das obrigações de uma
RadCom e de suas finalidades (art. 3º, 4º, 8º, e 15º) “são adequados ao espírito das
(www.indecs.org.br/radcomtotal.doc).
16
e reclamações; e ainda, determinam que as RadCom devem abrigar o pluralismo de
dos meios. Segundo ele, “a democratização das comunicações tem relação direta com a
propriedade dos meios de comunicação”. (2002: 490). Sem dúvida, nos últimos anos
milhões de dólares, criando grupos que detém o controle mundial das comunicações.
De acordo com essa concepção, nem mesmo o Estado poderia arvorar para si a
propriedade do espectro radiofônico, visto que ele não é o proprietário, possui apenas
também por permitir e viabilizar a concessão a entidades sem fins lucrativos, portanto,
grupos e movimentos organizados que não teriam condições financeiras de montar uma
emissora comercial.
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serem garantidos pelo Estado. No entanto, ainda que a nossa Constituição seja explícita
muitas pessoas, a despeito das conquistas obtidas. A aplicação da lei tropeça nas
recursos e da riqueza são obstáculos, entre outros, que impedem a universalização dos
direitos. Os desafios são grandes e inúmeros para que as leis se tornem realidade. As
dos(as) cidadãs(os) e uma realidade social que nem sempre está afinada com os
princípios legais se torna ainda mais evidente quando entra em cena a democratização
estreitas entre rádio e poder político. Os resultados da pesquisa nos permitem perceber
assunto não pode ser formatado em uma única resposta. É preciso evitar os extremos:
cidadania previstos na Lei. Para Peruzzo, a importância dos movimentos sociais reside
sentido, a transformação já pode ser notada. Como pudemos observar acima, apesar das
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(lembremos dos artigos citados da lei) e, quase sempre, são respeitados pelos lideres
qualquer entidade pode ter seu espaço na programação da emissora; além disso, a
grande maioria das RadCom pesquisadas está realmente centrada em sua comunidade e
da mídia radical – somos otimistas ao acreditar que nossas RadCom, ainda que com
desvios, são mais uma das experiências que efetivam nosso processo democrático de
comunicação.
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