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O USO DE TRILHA NO POVOADO DO MANGUE, ALAGOAS, COMO

INSTRUMENTO DE INSERÇÃO SOCIAL E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Fátima Regina de Saboya Salgado1


José Sabino2

Eixo temático: O Homem - Trilhas em comunidades tradicionais e preservação

Resumo: Esta investigação teve como objetivo evidenciar a importância do uso de


trilhas como instrumento de inserção social e educação ambiental. Adotou-se a
abordagem metodológica interdisciplinar, por permitir relacionar ambiente, cultura e
sociedade. Foram feitas pesquisas bibliográficas, levantamento sócio-econômico e
visitas técnicas ao Povoado do Mangue, que se situa à margem da Lagoa do Roteiro,
no município de Barra de São Miguel, Alagoas. A comunidade local tem como
atividade principal a coleta de mariscos, seja para comercialização, seja para
alimentação própria. Caracterizada a comunidade e feito o reconhecimento da área,
observou-se que a região comporta a implantação de trilha, atividade essa que
demanda pessoal especializado para que sejam minimizados os impactos ambientais
decorrentes da visitação. O local a ser utilizado é dotado de beleza cênica, com
animais e vegetação típicos de ecossistemas conservados, situados entre o
manguezal e a Mata Atlântica. A implantação de trilhas e a absorção do morador como
condutor local de ecoturismo transforma-o em agente multiplicador de conhecimento,
além de ser fator agregador da comunidade, visto que possibilita a valorização do
homem sob os aspectos cultural, social e econômico. Esta atividade permite, ainda, o
aproveitamento das capacidades locais, elevando a auto-estima por meio da
percepção da importância de seus conhecimentos tradicionais, bem como a percepção
do ambiente como patrimônio a ser preservado.

Palavras-chave: desenvolvimento regional, conservação da biodiversidade, turismo


sustentável, manguezal

1
UNIDERP, fatimasaboya@uol.com.br – Mestranda em Meio Ambiente e Desenvolvimento
Regional
2
UNIDERP, sabino-jose@uol.com.br - Docente do Programa de Mestrado em Meio Ambiente e
Desenvolvimento Regional. Rua Ceará, 333. CEP 79003-010 Campo Grande – MS
Introdução

A educação ambiental é importante estratégia para a compreensão da


interdependência entre os vários aspectos ―ecológico, social, econômico e político―
que movimentam o mundo UNESCO (2006). Por outro lado, a degradação das
condições de vida de grande contingente populacional brasileiro (e por que não dizer
mundial), nos leva a pensar na utilização de instrumentos que conduzam essas
populações à inserção social. Foi nesse sentido que se pensou na utilização de
atividades educativas e turísticas em trilhas como instrumento para inserção social e
educação ambiental de populações que se encontram à margem do sistema social. O
alcance desse tema se revela importante para tais populações, visto que muitas vezes
elas dispõem dos recursos naturais que possibilitariam tal inserção, mas não têm
orientação ou não sabem como utilizá-los de forma sustentável (GARAY & DIAS,
2001). Assim, o tema foi tratado de forma a evidenciar a possibilidade do uso de trilhas
como instrumento efetivo de educação ambiental e inserção das populações (para
uma ampla revisão sobre ecoturismo de base comunitária veja MITRAUD, 2003).

Objetivos

O objetivo geral deste trabalho foi o de evidenciar a importância do uso de


trilhas como instrumento de inserção social e educação ambiental. Os objetivos
específicos foram a valorização do conhecimento tradicional, a união da comunidade
em torno da atividade de condução de visitantes em trilhas e a promoção da educação
ambiental por meio da percepção do ambiente como patrimônio a ser preservado.

Metodologia

Na fase inicial da pesquisa, foram realizadas duas visitas técnicas ao Povoado


do Mangue, com o intuito de analisar os recursos naturais existentes, que
possibilitariam a implantação de atividade de educação ambiental em trilhas
interpretativas (cf. metodologia sugerida por LINDBERG & HAWKINS 1993). Nestas
visitas a trilha foi inteiramente percorrida, com a participação de dois moradores.
Durante o percurso, os condutores foram questionados sobre as espécies da fauna e
flora ali existentes, bem como sobre a impressão que aquele ambiente natural
causava neles e nos visitantes. Foram, ainda, esclarecidos sobre o objetivo da
pesquisa. Os condutores informaram que a trilha podia ser percorrida de duas formas:
no sentido tabuleiro-Povoado do Mangue ―percurso por nós escolhido― e no sentido
Povoado do Mangue-tabuleiro. Em ambas as situações o veículo que traz os
visitantes, os leva ao ponto de partida. O percurso da trilha foi registrado
fotograficamente, inclusive quanto a aspectos que a margeiam, apontados como
relevantes pelos condutores ou observados pelos pesquisadores. Constatada a
existência de recursos naturais que permitem a realização da atividade proposta,
passou-se à realização de entrevistas a indivíduos da comunidade, que forneceram
dados sobre o local, segundo seus saberes tradicionais, e que também foram
informadas sobre os objetivos da pesquisa.
Após esta fase exploratória, realizou-se pesquisa bibliográfica que relacionasse
a atuação da população local em atividades de natureza à inserção social e à
educação ambiental. A maioria dos estudos encontrados vincula a educação ambiental
aos benefícios que esta proporciona ao visitante. São raras as publicações que
relacionam os benefícios para a população local e a educação ambiental (e.g., DI
TULLIO, 2005), e ainda assim com enfoque apenas aproximado ao que se pretendia
para este trabalho.

Resultados/ Discussão

Justificativa

O litoral do nordeste brasileiro, notadamente o de Alagoas, é dotado de


recursos naturais ainda pouco conhecidos e relativamente bem preservados, como os
manguezais da Lagoa do Roteiro, situada no litoral sul de Alagoas. Apesar da
abundância de recursos naturais, a população que vive em seu entorno é carente de
recursos econômicos, não se beneficiando das riquezas oriundas da atividade turística
intensa existente na sede do município, notadamente na alta temporada, quando a
população da Barra de São Miguel sextuplica, conforme dados da Prefeitura Municipal
em seu sítio oficial na internet (PREFEITURA MUNICIPAL DA BARRA DE SÃO
MIGUEL, 2006).
O baixo IDH-M (0,430) apresentado no município de Barra de São Miguel, onde
se situa o Povoado do Mangue é outro motivo que justifica a presente pesquisa.
Apesar do elevado nível de recursos naturais na região, que poderia ser utilizado de
forma sustentável na melhoria das condições de vida da população local, a pobreza é
uma marca social determinante no Povoado do Mangue. Alternativas que apontem
caminhos de inserção da sociedade são necessárias à melhoria das condições sócio-
econômicas da população local.

Caracterização da área

O município de Barra de São Miguel (Figura 1) tem 77 km², 7.274 habitantes


(IBGE, 2005) e está situado no litoral Sul de Alagoas, distante 32 km da capital,
Maceió, na mesorregião da mata alagoana e na microrregião dos tabuleiros de São
Miguel dos Campos (PREFEITURA MUNICIPAL DA BARRA DE SÃO MIGUEL, 2006).
A principal atividade econômica do município é o turismo.
O Povoado do Mangue, localizado no município de Barra de São Miguel, teve
início em 1956, à beira do manguezal, na margem direita da Lagoa do Roteiro (Figuras
2 e 3), quando duas famílias ali fixaram residência, em casas de taipa. Atualmente é
um assentamento regulamentado, em área cedida pelo Serviço do Patrimônio da
União, Gerência Regional de Alagoas.

Figura 1- Região da Barra de São Miguel e Lagoa do Roteiro, Alagoas.


Fonte: http://maps.google.com
Figura 2 – Região do Povoado do Mangue, Alagoas.
Fonte: http://maps.google.com

Figura 3 – Região do Povoado do Mangue, Alagoas.


Fonte: http://maps.google.com

A área está atualmente classificada como Reserva Ecológica de Manguezais


da Lagoa do Roteiro, de acordo com o Decreto Estadual n° 32.355/87. Foi requerida,
em 18/05/2005, a reclassificação da área para Reserva de Desenvolvimento
Sustentável, considerando que há mais de 50 anos vive naquele local comunidade
tradicional que sobrevive da coleta de mariscos e crustáceos extraídos do manguezal
e da Lagoa do Roteiro, bem como para adequar-se à nova legislação acerca das
Unidades de Conservação, que não mais contempla a modalidade Reserva Ecológica.
Caracterização da comunidade envolvida

Conforme pesquisa sócio-econômica realizada em março de 2005, residem no


Povoado do Mangue aproximadamente 320 pessoas, em 72 residências, que tiram
seu sustento, predominantemente, da coleta de mariscos. Do total de moradores, 142
são crianças (entre 0 e 12 anos). Cerca de 1/3 da população não é alfabetizada; em
36 residências (50%) a renda mensal familiar é inferior a um salário mínimo.
A comunidade é dotada de uma escola (até a 3ª série do ensino fundamental) e
uma biblioteca, ambas doadas pela iniciativa particular e administradas pela prefeitura
de Barra de São Miguel. Não dispõe de posto de saúde, porém um médico do
município atende na biblioteca uma vez por semana. Recentemente foi instalado um
telefone público. Em janeiro de 2005 foi implantada, no local, rede de energia elétrica.
Apenas as 18 (25%) residências de alvenaria, que foram construídas pelo poder
público, são dotadas de fossa séptica. Seus moradores exercem as mais diversas
atividades, sendo a maioria relacionada à pesca artesanal.

Recursos naturais

A região estudada é típica de manguezal, sobressaindo-se as espécies


Laguncularia racemosa (mangue-amarelo) e Rhizophora mangle (mangue-vermelho,
também conhecido localmente como gaiteira). O Povoado do Mangue localiza-se entre
o manguezal e a Mata Atlântica. Esporadicamente, dois moradores conduzem
visitantes e demais interessados por caminhada em trilha (Figura 4), com extensão
aproximada de 12 km (conforme informação prestada pelos condutores).
Considerando as várias paradas, o percurso é vencido entre 4 a 5 horas de
caminhada, em sentido único, saindo do tabuleiro (onde se encontra um canavial) em
direção ao Povoado do Mangue.
Figura 4 – Os condutores, Zé Biu e Waldick, na trilha em estudo, no Povoado do Mangue, Alagoas.
Fonte: Fátima Saboya

O Brasil não dispõe de padronização de classificação de trilhas. Porém,


encontra-se em fase de desenvolvimento pela ABNT, com participação da ABETA
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE TURISMO DE AVENTURA, 2006)
estabelecimento de normas técnicas para diversas atividades, inclusive aquelas
relativas às caminhadas (CE 54:003.10 – Cicloturismo, Turismo com atividades de
Caminhada e Cavalgada).
Analisando-se as várias classificações de trilhas, notadamente as
classificações propostas por Free Way Adventures, The Adventure Company e
Mountain Travel, apresentadas por Andrade (2003), a trilha do Povoado do Mangue
melhor se insere na classificação adotada por Free Way Adventures, sendo do nível C
(semipesada) quanto à intensidade, visto que demanda caminhada entre 4 a 5 horas,
e de nível 2 (com obstáculos naturais) quanto ao nível técnico, considerando a
declividade em alguns pontos da trilha. A trilha percorrida é do tipo “atalho”
(ANDRADE, 2003), ou seja, seu início e fim estão em diferentes pontos do Povoado.
Durante a trilha, os condutores apontaram várias espécies da flora local,
citando seus nomes populares: mororó (Bauhina forficata), murici (Byrsonima sericea),
jitaí (Apuleia leiocarpa), cocão (Apuleia leiocarpa), miolo-preto, birro, piranha (Pisonia
sp.), embiriba (Eschweilera sp.), embaúba (Cecropia sp.), sapucaia (Lecythis pisonis),
banana-de-papagaio (Himatanthus bracteatus), cupiúba (Tapirira guimensis), bulandim
(Platonia insignis), jaqueira (Artocarpus heterophillus), sabacuim (Shefflera
morototoni), peroba (Aspidosperma polyneuron), pau d’arco (Tecoma curialis), pau-
brasil (Caesalpinia echinata), dentre várias outras cujos nomes desconheciam, mesmo
popularmente. Além dessas foram identificados cajueiros, mangueiras, coqueiros e
jenipapeiros.
No percurso, os condutores chamaram a atenção para vários aspectos nas
margens da trilha, tais como borboletas (Figura 5), vestígios de animais (Figura 6),
bica (Figura 7), fungos (Figura 8), lagoa (Figura 9) e antiga casa de farinha (Figura 10).

Figura 5 – Borboleta do gênero Caligo, registrada na trilha do Povoado do Mangue, Alagoas.


Fonte: Fátima Saboya

Figura 6 - Toca de animal (provavelmente tatu), registrada na trilha do Povoado do Mangue,


Alagoas.
Fonte: Fátima Saboya
Figura 7 – Bica registrada na trilha do Povoado do Mangue, Alagoas.
Fonte: Fátima Saboya

Figura 8 - Fungo orelha-de-pau (vista superior), registrado na trilha do Povoado do Mangue,


Alagoas.
Fonte: Fátima Saboya
Figura 9 - Barra do rio São Miguel, registrada na trilha do Povoado do Mangue, Alagoas.
Fonte: Fátima Saboya

Figura 10 - Antiga casa de farinha (abandonada), registrada na trilha do Povoado do Mangue,


Alagoas.
Fonte: Fátima Saboya

Inserção social

A maioria dos estudos encontrados refere-se à importância das trilhas


interpretativas sob a ótica trilha-visitante, ressaltando seu caráter educativo, fato que é
inegável. O estudo mais próximo da abordagem que se pretende, ou seja, a relação
trilha-condutor, sendo este condutor pertencente à comunidade em que se insere a
trilha, foi realizado por Di Tullio (2005), em sua dissertação de mestrado, em que
focaliza a “abordagem participativa na construção de uma trilha interpretativa como
estratégia de educação ambiental em São José do Rio Pardo, SP”. Neste trabalho, a
autora ressalta a importância do processo participativo como instrumento efetivo de
educação ambiental e inserção social, por vincular os envolvidos às questões de seu
ambiente natural. Nos demais estudos, de forma genérica, são apontados os aspectos
socialmente benéficos relacionados à inserção de comunidade nativa em atividades
ecoturísticas.
Resultados de oficina sobre Diversidade Biológica e Turismo, realizada pela
Convenção para a Diversidade Biológica (UNEP, 2001), reconhecem a existência de
benefícios potenciais do turismo. De modo similar, o uso de trilhas interpretativas no
Povoado do Mangue possibilita alguns benefícios sócio-econômicos, conforme
apontado naquela oficina, tais como: geração de trabalho e renda, por meio do uso
alternativo da diversidade biológica, geração de fundos para o desenvolvimento e/ou
manutenção de práticas sustentáveis e educação ambiental.
Para Coriolano & Lima (2003), o turismo deve ser um processo que valoriza as
pessoas e as atividades devem ser planejadas de forma a respeitar o lugar e as
pessoas, com foco no desenvolvimento social e cultural do grupo.
A preocupação com a biodiversidade não afasta a preocupação com o Homem,
tanto que o Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica estabeleceu
algumas premissas em seu programa de ecoturismo, dentre elas a promoção da auto-
estima e da valorização da sócio-diversidade e cultura locais, ambas entendidas como
parte de um processo de resgate da cidadania local, dentro de uma perspectiva global
(AMBIENTEBRASIL, 2006).
Campos (2006), reconhece que atividades em trilhas interpretativas favorecem
o desenvolvimento local da comunidade, sendo alternativa ao verdadeiro
desenvolvimento sustentável que o ecoturismo segue, resultando em recuperação e
conservação da fauna e flora das comunidades naturais, com a utilização direta das
trilhas interpretativas. Para o European Travel & Tourism Action Group (2006), o
turismo tem, ainda, importante papel na ponta mais fraca do mercado de trabalho, por
fornecer um mecanismo social da inserção para trabalhadores sem qualificação.
Estudo de Heller, Price, Reinharz, Rigor, Wandersman e D’Aunno, citado por
Ross (2001), chegou à conclusão de que “a psicologia da comunidade produziu uma
grande diversidade de modelos, segundo os quais a estrutura e o funcionamento da
comunidade podem ser explorados e compreendidos”, indicando o modelo das
“representações sociais”, por abordar “a idéia de continuidade e de percepções e
formas de pensar no nível da comunidade”.
Desta forma, ainda segundo aqueles autores, houve uma mudança na
avaliação dos indicadores de qualidade de vida pelos próprios envolvidos, que
passaram a ter a percepção de que não somente as dimensões econômicas, mas
também as sociais, são importantes na previsão da satisfação geral com a vida da
comunidade. De modo similar, pode ocorrer a inserção social da comunidade do
Povoado do Mangue, quando a absorção do morador como condutor local de
ecoturismo transforma-o em agente multiplicador de conhecimento, ao mesmo tempo
em que utiliza seus conhecimentos tradicionais, não somente com os visitantes, mas
também com os demais moradores. Estudos similares, sobre importância do turismo
no desenvolvimento local, são apontados por Rodrigues (1997) e Serrano & Bruhns
(1997), além dos possíveis riscos e impactos culturais quando a atividade é mal
planejada.
Adicionalmente, a atividade de condução pode ser vista como fator agregador
da comunidade, porque os une em torno de um objetivo maior, que é a manutenção da
qualidade ambiental do manguezal. Ao mesmo tempo, a condução em trilhas
possibilita a valorização do Homem sob os aspectos cultural, social e econômico,
permitindo o aproveitamento das capacidades locais, elevando a auto-estima por meio
da percepção da importância de seus conhecimentos tradicionais, bem como a
percepção do ambiente como patrimônio a ser preservado. Assim, pode-se dizer que a
atividade de condução de visitantes em trilha mobiliza os moradores do Povoado do
Mangue, conferindo-lhes senso de responsabilidade em relação ao destino do
ambiente natural que os rodeia, além de, aos poucos, possibilitar mudanças sócio-
econômicas na dura realidade em que vivem.

Educação ambiental

Em publicação especializada da UNESCO (2006) atesta que a educação


ambiental é um processo de aprendizagem permanente, que promove o conhecimento
da inter-relação entre ecologia, sociedade, economia e política, promovendo, ainda,
mudanças de atitude baseadas no compromisso e no desenvolvimento de habilidades
e valores que tornem os indivíduos capazes de buscar soluções para os problemas
ambientais.
No próprio conceito são encontradas as finalidades básicas da educação
ambiental: introdução de novas formas de conduta em relação ao ambiente, aquisição
dos conhecimentos, habilidades e valores necessários à proteção ambiental e
compreensão de que há interdependência entre conservação, sociedade, economia e
política.
A participação em atividade de condução de visitantes em trilhas proporciona à
comunidade do Povoado do Mangue excelente oportunidade para ampliar seus
conhecimentos quanto ao ambiente natural que os rodeia. A curiosidade natural em
relação às espécies não conhecidas por eles, e sua importância para aquele ambiente,
deve ser estimulada. Neste momento se faz mais importante a união entre poder
público e iniciativa privada, seja na capacitação de guias de natureza, seja na
implementação de infra-estrutura na trilha, de modo similar ao apontado por Mitraud
(2003).
Sobre a capacitação dos condutores, Drumm et al. (2004) ressaltam sua
importância, visto que são eles que proporcionam o elemento educativo à atividade
ecoturística e, ainda, que são sua capacidade e seu compromisso que asseguram que
os impactos negativos sejam minimizados, por estarem em posição privilegiada de
observar e reportar os impactos que percebam nas trilhas. Drumm et al. (2004)
enfatizam também que os condutores de trilha servem como importante modelo, seja
para os visitantes, seja para sua própria comunidade, visto que suas atitudes e seu
comportamento enviam importante mensagem sobre o conceito de ecoturismo: o guia
recolhe lixo ao longo da trilha? Coopera com as autoridades informando atividades
ilegais? O guia adapta os conceitos do ecoturismo às situações em sua casa e em sua
comunidade? Estas atitudes são observadas e muitas vezes copiadas, auxiliando na
multiplicação de práticas corretas.
Esta capacitação é facilitada porque já existe uma relação estreita entre a
comunidade e o ambiente natural, saindo dali seu sustento. Assim, no dizer de Kato
(2006), “a idéia da exploração sustentável e da preservação do meio ambiente em que
a comunidade tradicional vive é inerente e enraizada na cultura dessas populações”.
Deste modo, a importância da educação ambiental revela-se ao condutor da
atividade de condução em trilhas, de modo a desenvolver o senso de
responsabilidade, possibilitando e favorecendo ações dentro de parâmetros de
sustentabilidade (GARAY & DIAS, 2001).

Conclusão

A simples existência de recursos naturais no entorno de uma comunidade não


é suficiente para promover a educação ambiental da população local ou mesmo sua
inserção social. A valoração dos recursos naturais pelas populações tradicionais
decorre da constatação da possibilidade de sua utilização. Para facilitar o processo de
utilização dos recursos naturais, portanto, é necessário que haja capacitação destas
pessoas para condução em trilhas, fato que possibilita o uso de forma racional,
introduzindo práticas e conceitos relativos ao desenvolvimento sustentável .
Desta forma, a ampliação dos saberes, mais do que simples expansão do
conhecimento, traz consigo um novo modo de vida, fundamentado na consciência e no
reconhecimento de que seu saber também é importante. Para além dos benefícios
ambientais, a atividade de condução em trilha proporciona aos condutores auto-estima
e respeito social, bem como promove mudanças de atitude que servem de modelo aos
demais moradores do Povoado do Mangue.

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