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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO


Jor

As Categorias do Jornalismo
In: ERBOLATO, Mário L. Técnicas de codificação em jornalismo.
Petrópolis : Vozes, 1978, p. 27-45.
A necessidade de interpretar e explicar as notícias é manifesta. A vida se tornou tão
complicada e variada nas múltiplas atividades que mesmo os especialistas se
desorientam em seus próprios campos de conhecimento.
F. FRASER BOND

A televisão não desce à intimidade das questões, nem permite a recuperação das
informações, o que facilita à imprensa aprofundar-se nas notícias, interpretando-as e
explicando-as — O furo e a edição extra deixaram de existir — Vantagens e
desvantagens do jornalismo impresso — A falta de compreensão por parte do público
pode criar desinteresse pelas notícias — As ocorrências devem ser projetadas
jornalisticamente de forma a que o leitor conheça os antecedentes e as
consequências possíveis dos fatos – A informação e a interpretação não devem ser
apresentadas com a opinião, no mesmo texto — Humanização consiste em levar o
informe Até o leitor, para que ele sinta o que ocorreu — Clareza e ilustração, as
metas do jornalismo interpretativo — Jornalismo informativo, interpretativo,
opinativo e diversional.

São muitos os veículos que levam a notícia ao publico. A multiplicação dos meios
informativos é um fenômeno do seculo XX. Até fins da Primeira Guerra Mundial, não
havia ameaças para os jornais (impressos), que praticamente detinham o monopólio
da divulgação de qualquer noticiário. O ano de 192o viu surgir a rádiodifusão nos
Estados Unidos e, em 1923, foi publicada naquele país a primeira revista noticiosa
semanal (Time). Entre as duas guerras, os filmes cinematograficos iniciaram a
tentativa de levar à tela determinadas classes de notícias. A televisão, por sua vez,
intensificou-se logo apóso termino do ultimo conflito (1939/1945). A imprensa
começava a ter sérios concorrentes.
1
Conforme acentua Alberto Dines “a imagem no vídeo (TV) não provocou a revolução
da informação. Ela obrigou o resto da veiculação a apressar-se para entrar em seu
ritmo e satisfazer as novas necessidades que criou”

“Começava a era do jornalismo interpretativo, analítico, avaliador. Ao mesmo tempo,


tinha início a fase da melhoria visual dos jornais. Não apenas mais bem paginados,
os jornais passaram a organizar o seu conteudo, dando a informação aspecto mais

1
Alberto Dines. O Papel do Jornal. Rio, Editora Artenova S.A.
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profundo e mais permanente” (...) “Nesse momento, o lead clássico, contendo as


cinco questões primarias de Kipling (Quem? Quê? Quando? Onde? Por quê? Como?),
avancou, para buscar circunstâncias mais profundas, como a dimensão, a remissão e
a explicação dos fatos, já que a TV satisfazia as iniciais”.

O rádio e a televisão roubaram dos jornais duas iniciativas que eles mantinham com
orgulho e praticamente as mataram no setor da notícia impressa: o furo (informe
dado em primeira mão) e a edição extra (sempre que algum fato sensacional a
justificasse). Nenhuma oficina de composição e impressão, por mais moderna, pode
competir com a velocidade da palavra levada pelas ondas hertzianas e captadas no
mesmo instante da emissão, em qualquer receptor, ainda que minusculos e com
funcionamento à base de pilhas.
2
Thereza Catharina de Goes Campos escreve: “O que realmente caracteriza a TV é o
impacto provocado pela mensagem visual e sonora, que apresenta ao telespectador,
com atualidade e de forma muito mais complexa, do que pelo rádio, jornal ou
revista” (...) “Pela TV um fato chega ao conhecimento do público antes de estar na
banca dos jornaleiros. Ainda quando a informação também está sendo transmitida
naquele momento pelo rádio, o teleiornal mostra-se superior, porque, colocando a
cena ante o telespectador, complementando-a com o texto lido pelo apresentador,
dá ao publico a impressão de estar participando do evento que, mais tarde, será
focalizado pelos jornais e cinema”.

VANTAGENS E DESVANTAGENS DO JORNALISMO


IMPRESSO
À imprensa coube, então, verificar as suas possibilidades, diante da televisão e do
rádio, pesando as desvantagens e vantagens, para poder aperfeiçoar e ampliar o que
lhe fosse favorável. Somente assim conseguiria vencer a concorrencia e sair
vitoriosa, quando muitos previam que os jornais iriam falir e morrer, com o
desenvolvimento do noticiário falado e com imagens movimentadas no vídeo.
3
Vale transcrever um trecho de R.A. Amaral Vieira : “Sobre a imprensa, a televisão
apresenta vantagens inigualáveis: é contemporânea do fato; ao invés de
simplesmente dizer que tal fato ocorreu de tal maneira, pode mostrá-lo em toda a
sua integridade; ela não se limita, por exemplo, a documentar um acidente na
corrida de Le Mans e a ilustrar a informação com fotografias; projeta o filme que o

2
Thereza Catharina de Goes Campos. A TV nos Tornou Mais Humanos? Princípios de
Comunicação pela TV. Recife, Universidade Federal de Pernambuco.
3
R.A. Amaral Vieira. O Futuro da Comunicação. Rio, Cadernos Didáticos.
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registrou; atinge a mais sentidos que a mensagem escrita, mobilizando a audição e a


visão do espectador. É cômoda: não exige qualquer esforço do telespectador,
nenhuma imaginação e fornece o retrato de corpo inteiro; exibe a imagem e utiliza-
se ainda de texto e som. Atingindo camadas mais vastas da população, a televisão
chega Até aos analfabetos, público sem acesso a livros e jornais, junto dos quais
forma opinião. De outra forma surge o jornal, símbolo da comunicação escrita.
Incapaz de oferecer a notícia de ultima hora, a notícia em flagrante, que é a grande
arma da televisão, tende a abandonar o noticiário informativo, limitando-se ao
comentário do fato. A notícia chega ão leitor pelo menos 12 horas após ter sido
recebida pelo telespectador. O jornal precisa ser adquirido diariamente. Dentre suas
inumeras paginas, de tamanho geralmente incomodo, de manuseio desconfortavel, o
leitor tera de localizar a materia de seu interesse e conseguir tempo para lê-la. A
televisão, ao contrário, poderá ser vista e ouvida enquanto se faz a barba, ao vestir-
se, na hora do café, em meio a visitas, nos escritórios, a qualquer momento, sem
exigir uma atenção que anule a possibilidade de qualquer outra atividade simultânea,
embora requeira hora certa, ao contrário do jornal, que poderá ser guardado, para
leitura oportuna.

A televisão, porém, é superficial por natureza. O custo de sua transmissão não


permite o aprofundamento e, malgrado sua contundência e poder de penetração,
destina-se, qual meio de comunicação de massa, ao entretenimento e à informação
instantânea. Não desce à intimidade das questões, nem permite a recuperação da
informação. Deverá ser captada, entendida e fixada em determinado horário e
compreendida na ocasião em toda a sua profundidade. Não há o recurso de deixar
para ver mais tarde (o jornal pode ser lido quando e onde o leitor quiser), não há
como voltar atrás (reler), rever determinado ponto, conferir determinada
informação, averiguar certos dados. Não pode transformar-se em documentação,
com o recorte de jornal, desde que flui no tempo. O jornal permite a consulta
permanente e a recuperar da informação: a linguaem escrita está fixada (...) A
televisão mostra o fato com um poder de sintese extraordinário, mas sem cpacidade
de aprofundamento.

Mas a quem se destlha a imprensa? A que classe de público? O professor José


Marques de Melo, renomado pesquisador e líder-pioneiro dos estudos de jornalismo
4
comparado no Brasil, escreve : “Nos países e regiões de baixo nível econômico e,
consequentemente, de baixo nivel cultural, a imprensa assume o papel de um meio
de comunicação de elite, se comparado aos outros meios de comunicação social. O
caso do Brasil e da grande maioria dos países do chamado terceiro mundo, onde a
leitura dos jornais, por exemplo, é feita regularmente apenas pelas classes
abastadas e por setores da classe media. Basta analisar as estatisticas da Unesco

4
José Marques de Melo. Comunicação, Opinião e Desenvotvimento. Petrópolis,
Editora Vozes Ltda.
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sobre a distribuição per capita da tiragem dos jornais dirios, para chegar a essa
conclusão”.

Que vantagens oferecem os jornais impressos, além das que foram lembradas por
R.A. Amaral Vieira? A rapidez trabalha em favor da televisão e do rádio e o tempo,
paradoxalmente, contra eles. Por melhor que ambos tentem manejar a notícia, não
conseguirão fazer com que o dia tenha mais de 24 horas, das quais apenas algumas
são boas ou destinadas para se ver e ouvir programas radiofônicos ou televisionados.

Os jornais, porém, podem aumentar —para amplos limites— o número de páginas,


de acordo com a quantidade de matérias que devem apresentar. A televisão, embora
consiga reunir as notícias, não oferecerá nunca um bom trabalho. Na maioria dos
casos apenas dará aos ouvintes meia duzia de parágrafos sobre reportagens de
importância e, mesmo com toda essa esquematização, não passará de um simples
boletim de notícias, ainda que com qualquer outro nome pomposo (Grande Jornal,
Jornal da Noite, O Mundo em Revista, Jornal Internacional etc.) O noticiário que a
televisão oferece nas últimas horas de suas transmissoes é e continuará sendo um
estímulo, que excitará o apetite jornalístico do telespectador, que irá procurar os
jornais do dia seguinte, para saciar o seu desejo de informar-se.

A televisão e o rádio não podem competir em profundidade, colorido, dramaticidade


e na busca de antecedentes de um fato, com qualquer boa reportagem escrita.
Gastariam uma hora, ou mais, na narrativa da história e não encontrariam
patrocinador para um programa tão caro. Quem ficaria tanto tempo imóvel, diante
do video, ouvindo o locutor? Qualquer informativo da televisão morre pouco depois
de projetado. Nos jornais, porém, as histórias continuarão provocando interesse.
Enquanto não se jogar fora o exemplar, ele poderá ser mostrado constantemente e
servirá de argumento para qualquer debate ou discussão sobre o que foi publicado.

Os meios de comunicação de massa se destinam, fundamentalmente, a informar, a


influir (ou persuadir) e a divertir. O fato é levado ao conhecimento do receptor,
mostrando-o em seus diversos aspectos ou enfoques e há ainda a preocupação de
motivar o leitor (ou ouvinte) a seguir uma recomendação, a comprar um produto ou
a aceitar um movimento, campanha ou doutrina. Existe, por fim, o escopo de
divertir, através de textos leves e amenos.

Assim, o jornalismo poderia ser dividido em quatro categorias: Informativo,


Interpretativo, Opinativo e Diversional.

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A NOTÍCIA EM PROFUNDIDADE
Na luta contra o jornalismo falado, os jornais impressos tiveram que preparar a sua
estratégia. As notícias, que eram superficiais, limitando-se a narrar os
acontecimentos, sofreram alterações em sua estrutura. Baniu-se a fórmula
sacramental, que se exigia, até há algumas décadas, de qualquer bom repórter:
“Consoante havíamos noticiado, realizou-se ontem...” Hoje, novos esquemas são
adotados. O recurso foi o de se dar ao leitor reportagens que sejam complemento do
que foi ouvido no rádio e na televisão. Adotou-se para isso, a pesquisa, tendo como
fonte os arquivos dos jornais e as bibliotecas e, ao lado deles, a obtida através da
movimentação de equipes de repórteres, que coligem dados secundários ou que
ocorreram concomitantemente com o fato principal.

Dessa forma surgiu o chamado jornalismo interpretativo, também conhecido como


jornalismo em profundidade, jornalismo explicativo ou jornalismo motivacional.
Concorre ele com o jornalismo informativo, o jornalismo opinativo e o jornalismo
diversional. Atualmente, procura-se combater a expressão “interpretativo”, por
entender-se que há excessos quando o repórter mostra os vários ângulos de uma
notícia, pois transporta a sua ideia, ou as de quem entrevistou, para o texto
entregue ao público. Não se poderia, a rigor, falar em interpretação, sem que se
oferecesse ao leitor algo de opinião. E opinar é privilégio, por exemplo, dos
editoriais, que representam o pensamento da direção de qualquer matutino ou
vespertino.

Os jornais (impressos) manejam a notícia com mais pormenores e extensão do que


qualquer outro veículo de comunicação de massa. A imprensa futura deverá adquirir
nova dimensão, para tornar compreensível o noticiário, que será cada vez mais
complexo. Há os que admitem um jornalismo motivacional, cujo objetivo seria o de
expllcar “as verdadeiras razões que levaram à ação, grupos ou indivíduos”.
5
John Hohenberg descreve o surgimento do jornalismo interpretativo nos Estados
Unidos, da seguinte forma: Há muito tempo, os sagazes diretores de jornais
chegaram à conclusão de que a falta de compreensão fundamental por parte do
público era uma das principais razões do decrescente interesse em ler notícias. Foi
por isso que, antes do conflito de 1939/1945, surgiu a tendência de se explicarem as
notícias, para se dizer o que havia atrás dos acontecimentos e mostrar por que eles
ocorriam. Porém, somente a partir da Segunda Guerra Mundial e que foi aceito, de
maneira geral, o Jornalismo de lnterpretação das noticlas.

5
S. John Hohenberg. Manual de Jornalismo. Rio, Editora Pundo de Cultura.
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Houve, no mundo moderno, uma revolução nas comunicações, que se processou em


ritmo de crescimento e de complexidade total. O transporte aéreo e o rádio (e mais
recentemente os satélites) reduziram a distância e o tempo Enquanto isso, todas as
atividades humanas se ampliaram. As ciências e os novos conhecimentos foram
surgindo e se desenvolvendo tão aceleradamente, que já não é possível a nenhum
homem, por mais diligente que seja (e muto menos ao cidadão comum, destinatário
médio da notícia), vangloriar-se de ser versado em mais de uns poucos aspectos da
vida.

Foi depois da Primeira Guerra Mundial que os diretores de jornais, ao examinarem os


seus produtos, em face das necessidades do publico, deram conta de que algo lhes
faltava. Esta busca ou indagação foi estimulada quando, em 1923, dois jovens de
pouca experiência jornalistica, porém de enorme visão, inventaram a revista Time,
que foi fundada para mostrar o alcance das notícias, sua interpretação, suas
implicações ocultas e, em resumo, suas novas dimensões. Muitos dos primeiros
esforcos jornalísticos, que foram ao encontro destes objetivos, concretizaram-se na
coluna interpretativa: análises ou comentários das notícias, feitos por um
especialista, geralmente residente na capital do país, que procurava oferecer sua
opinião autorizada sobre um fato, além de apresentar os antecedentes dos assuntos
nacionais e internacionais correntes.

No começo da década de 3o, os comentários desse gênero tinham lugar assegurado


em toda a imprensa norte-americana e, poucos anos depois, proliferavam também
os comentaristas de rádio.

Com a Segunda Guerra Mundial, fez-se sentir, ainda mais, o problema da


compreensão das notícias. Os jornais diários ofereceram ao seu público os escritos
de Walter Lippmann, Marquis Childs, Howard W. Blakeslee e Hanson Baldwin. Os
comentários eram exatamente como se denominavam: apreciações e opiniões sobre
o alcance dos acontecimentos diários. Homens como Lippmann eram essencialmente
editorialistas, que apresentavam a interpretação e a opinião, apoiadas por fatos
concretos, ao explicarem as notícias. Outros, como Childs, combinavam a exposição
real dos fatos, em maior ou menor proporção, com as análises e explicações
próprias. Alguns, especialmente as figuras mais conhecidas do rádio, eram cronistas
e davam suas proprias versões sobre as notícias. Fulton Lewis, Upton Close e George
E. Satolsky foram qualificados com frequência como jornalistas cujas opiniões
pessoais sobre o significado dos fatos ocorridos conduziam a uma falta de
objetividade, pois fugiam a realidade.
6
Frazer Bond afirma: “A necessidade de interpretar e explicar as notícias é manifesta.
A vida se tornou tão complicada e variada, nas múltiplas atividades, que mesmo os

6
F. Fraser Bond, Introdução ao Jornalismo. Rio, Livraria AGIR Editora.
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especialistas se desorientam em seus próprios campos de conhecimento. O homem


mortal comum, perdido no labirinto da economia, da ciência e das invenções, pede
que alguém lhe dê a mão e o acompanhe em seus passos, através de tanta
complexidade. Por isso, o jornalismo moderno se encarrega não só de noticiar os
fatos e as teorias, mas proporciona ainda ao leitor uma explicação sobre eles,
interpretando e mostrando seus antecedentes e suas perspectivas. Tudo isso com o
propósito de ajudar o homem a compreender melhor o significado do que lê e ouve.

Por sua vez, John Hohenberg destaca: “O novo jornalismo não só trata de explicar e
informar, mas se atreve também a ensinar, a medir e a valorizar. Em termos gerais,
seus métodos são uma adaptação de algumas das técnicas práticas de comunicação
com as massas. Seu proposito é o de oferecer uma interpretação, a mais ampla
possível, das notícias políticas e oficiais, levando-as ao conhecimento de todos os
níveis sociais e de maneira a valorizar a opinião pública. O fim colimado com essa
mudanca de orientação técnica dos jornais é melhorar a imprensa e criar um
eleitorado bem informado e um governo cada vez melhor”.

German Ornes, diretor de El Caribe, da Republica Dominicana, assim define o


jornalismo interpretativo: o que leva ao leitor uma ideia cabal sobre a importância de
uma informação para a vida social, econômica e cultural da comunidade a que está
radicado. É o jornalismo que dá ao leitor os antecedentes e as implicações de uma
notícia, proporcionando a ele a advertência de que não existem fatos isolados, mas
sim que cada um deles é parte de uma concatenação de ocorrências, ou seja, algo
que realmente tem raízes e projeções.

Rafael Herrera, outro jornalista dominicano, declara: “Entendo por jornalismo


interpretativo o que trata de dar significado e sentido às ocorrencias que relata,
projetando-as em três direções: os antecedentes de um fato (nada surge
isoladamente); o respectivo contexto social (um acontecimento sempre é parte de
uma situação geral) e as conseqüências do que houve. Jornalismo interpretativo é o
que estabelece conexões entre um fato e uma situação ou contexto mais amplo.

Freddy Gaton Arce concebe o jornalismo interpretativo da seguinte forma: “É o


esforço para situar o leitor entre os acontecimentos, levando em conta os
antecedentes das ocorrências, as repercussões e as reações que podem provocar. É,
em outros termos, levar ao leitor o lado histórico da notícia”.

Em todas as definições há uma coincidência sobre quais devem ser as características


do jornalismo interpretativo: explicação das causas de um fato, locatização dele no
contexto social (ou histórico) e suas consequências.

É evidente que nem todas as notícias exigem interpretação. Mas as que se referiam
a países estrangeiros, divulgadas pelas agências telegráficas, foram as prmeiras a
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impor a necessidade desse tipo de jornalismo. Em sentido estrito, alguns


doutrinadores entendem que o jornalismo interpretativo existiu sempre, desde que
os repórteres, ao notíciarem um fato, davam a ele a interpretação própria,
procurando influenciar os leitores e mostrando-lhes a sua opinião pessoal.

INFORMAÇÃO E OPINIÃO
Porém a evolução e a adoção de novas técnicas no jornalismo, elevado à profissão e
não mais praticado por simples diletantismo, levaram a uma conquista autêntica: a
separação entre, de um lado, o relato e a descrição de um fato, dentro dos limites de
objetividade permitidos pela natureza humana e, de outro, a análise e o comentário
da mesma ocorrência. O jomalismo ficou, a essa altura, dividido em dois grandes
grupos ou seções principais: o informativo e o opinativo (que incluía a análise e a
interpretação).

O jornalismo interpretativo não pretende, porém, regressar aos velhos tempos,


quando as notícias, os comentários e as opiniões eram publicados em um só texto,
de forma entremeada. O novo jornalismo, mesmo ao contrário do que julgam alguns
jornalistas americanos, deseja aprofundar-se na análise das ocorrências e
complementa-las com matérias paralelas, mas sem que seja emitida qualquer
opinião.

Há necessidade de separarmos os três aspectos da divulgação de um fato:


informação, interpretação e opinião. Há os que resistem à prática do jornalismo
interpretativo, alegando que, com ele, se pretende transmitir aos leitores opiniões
disfarçadas em forma de análises e interpretações.

Em conferência no Instituto Internacional da lmprensa, do qual foi o primeiro


presidente, Lester Markel, editor dominical de The New York Times, mostrou que a
interpretação das notícias pode ser feita sem qualquer prejuízo e citou alguns
exemplos, que diferenciam as diversas modalidades de jornalismo: 1º) É noticia,
informar que o Kremlim esta lançando uma ofensiva de paz. 2º) É interpretação,
explicar por que o Kremlin tomou essa atitude. 3º) É opinião, dizer que qualquer
proposta russa deve ser rechaçada sem maiores considerações. A interpretação –
acentuou Lester Markel - é parte essencial das colunas de notícias. Porém a opinião
deve ficar confinada, quase religiosamente, nas colunas editoriais. Esse e um ponto
importante.

Nenhum jornalista duvida que interpretar objetivamente é mais difícil do que


informar, já que, no processo de pesquisa, de investigação e de análise dos
acontecimentos, os fatores subjetivos têm mais oportunidade de se manifestar, do

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que quando simplesmente são descritos os fatos. Contudo, a simples informação, às


vezes, também e difícil de ser redigida, dentro de rigorosa objetividade.

James A. Linen, editor da revista Time, falando a um grupo de empresários de


Chicago, em 195o, disse: “Que é notícia exatamente? Ela não é, em nossos dias, o
que foi outrora. Não é referir-se apenas ao que ocorreu em um setor ou centro de
informação de rotina ou a uma pessoa, em determinado lugar, embora todas essas
coisas integrem a notícia. A curiosidade continua tendo importância radical. O
jornalista indaga: o que aconteceu aqui? Quais as consequências? Essas perguntas
expressam a eterna curiosidade profissional. Todavia, os novos critérios do
jornalismo exigem que as respostas sejam analisadas. Em que sentido mudou o
conceito?”

RESTRIÇÃO AOS EXCESSOS


Nunca se irá encontrar um computador que emita explicações aceitáveis sobre as
notícias, ao simples toque de um botao. Nem é possivel inventar uma fórmula
mágica, que esclareça, rapidamente, o sentido que têm as pessoas e os valores dos
anos do século XX. A interpretação deve ser pessoal e precisa e não só ser
desenvolvida, mas tambem protegida contra abusos e excessos. Não se pode admitir
que todo o mundo, dentro da imprensa, tenha automaticamente o direito de
interpretar a seu modo as notícias, simplesmente alegando ser jornalista.

Os editores conscientes tratam, com razão, de restringir os exageros de


interpretação daqueles que possuem habilidade, formação e experiência para realiza-
la. Mas, mesmo assim, encontram obstáculos. O que é verdade um dia, não será
necessariamente no dia seguinte, desde que a situação tenha mudado com rapidez.

Não se pode dizer onde se situa o trabalho de interpretar, entre as funções de


informação de um lado e as da editoração de outro. Todo jornalista capaz, ao
interpretar, usa tanto a técnica da reportagem como a da redação dos editoriais,
sem que o resultado seja uma reportagem meramente informativa ou um artigo de
fundo.

A identidade do comentarista e a honestidade do jornal a que pertence sao as únicas


garantias que podem ser dadas ao público sobre a boa-fé da interpretação. A
delimitação entre interpretação e opinião praticamente não existe. Não há uma linha
divisória fixa. O jornalismo não é uma profissão que se utiliza de calibradores ou de
réguas de calculo.

lnterpretação é uma palavra que, até certo ponto, significa mostrar o que está
debaixo da superficie. Em seu sentido mais puro, entende-se como uma
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superdefinição de algo. O verbete está inserido no Dicionario Webster como:


“interpretar - explicar o significado: traduzir, aclarar. Analisar à luz de uma ciência,
juízo ou interesse individual”.

Tumer Catledge, diretor do New York Times, considera as expressões reportagem


interpretativa e reportagem profunda como sinônimas. No entanto, nos últimos 3o
anos, alguns jornalistas dão à palavra interpretação a conotação de opinião pessoal.
Catledge não se refere à opiniao. Ele afirma: “a experiência e o adestramento
ensinam aos reporteres capazes qual a ênfase que deverão dar a cada um dos
pormenores de uma matéria, pois sabem que suas próprias opiniões têm pouco
valor. Se os jornalistas não sabem essas normas, cabe ao editor fazer com que as
conheçam”. Quando a interpretaçao significa a opinião do repórter, os diretores de
prestígio a repudiam. As reportagens interpretativas vieram, em muitos casos,
converter as seções de notícias em seções editoriais. Por isso, os jornais devem
informar o maximo possível e com neutralidade, a fim de que cada leitor possa ser o
seu próprio intérprete e seu próprio editorialista.

Para muitos repórteres, a interpretação significa terem liberdade para expressar a


sua própria opinião. Consideram que, como são peritos em jornalismo, podem expor
o seu ponto de vista sem terem títulos de especialistas ou de técnicos. Não se pode
admitir que isso ocorra, em um mundo tão complicado como o de hoje e no qual há
pessoas que passam toda a vida especializando-se em pequena parte de
determinada ciência ou arte. Existe, pois, muita confusão a respeito de
interpretação, observação e opinião.

Visando evitar abusos de interpretação, alguns jornais americanos não admitem que
seus repórteres sejam especializados. The Milwaukee Journal manda os redatores de
esportes colherem informações sobre turismo ou aproveitamento e defesa de
riquezas naturais. A um editorialista determina que faça reportagem ligada aos
problemas de energia elétrica. The Washington Post dividiu sua redação local em
duas seções: uma, encarregada de pesquisas sobre antecedentes dos fatos e outra,
para ir além da notícia.

A interpretação é superdefinição. A observação significa descrição dos fatos. A


opinião dá idéias, apoiadas em conclusões pessoais, a respeito dos mesmos fatos. A
observação, a interpretação e a opinião são partes legítimas da reportagem em
profundidade. Quanto a expressão reportagem investigativa, ela se explica por si
mesma e pode ser aplicada a quase todos os temas. Esse tipo de reportagem traz à
luz fatos que estavam debaixo da superfície, enterrados, desconhecidos. Pode-se
dizer que são descrições científicas. As descrições se amontoam, umas sobre as
outras, mas não ha nenhuma conclusão.

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Alguns jornais, como The St. Louis Dispatch; The Kansas City Star e The Portland
Oregonian têm muitos anos de experiência e ganharam vários Prêmios Pulitzer,
como prova de habilidade de seu pessoal, para as reportagens investigativas.

Quando um repórter conta uma história, ele a situa no mundo dos leitores. O que é
informar a fundo? “Não há nada de misterioso nisso”, diz Tumer Catledge, que
acrescenta: “A palavra informar é completa por si mesma e exige que o repórter e o
jornal dêem ao leitor notícias tão exatas e profundas, como mereça a importância
dos fatos. Consideramos que informar a fundo é apresentar ao leitor todos os
aspectos essenciais sobre um assunto, os porquês, os motivos e tantos ângulos do
caso quanta seja possível. Temos que oferecer ao público muitos antecedentes”.

A opinião de Harris, de The St. Petersburg Times, é a seguinte: “Buscamos oferecer


aos leitores o que os atraia. A reportagem profunda, em minha opinião, é
simplesmente reportagem boa, sólida, cheia de substâncias, em contraposição à
superficial, que com tanta freqüência aparece nas paginas de informações”.

Qualquer reportagem em profundidade deve seguir a orientação resumida nos


seguintes itens: 1º) Dar ao leitor os antecedentes completos dos fatos que
originaram a notícia. 2º) Mostrar o alcance que tiveram as circunstâncias, no
momento em que os fatos ocorreram, e dizer o que poderá resultar no futuro, em
conseqüência delas. 3º) Comentar todos esses fatos e situações anteriormente
descritos, o que consistiria em uma analise.

Nenhum diretor ou repórter deve sentir-se satisfeito com o simples enunciado dos
fatos que compõem uma informação. Robert Bottorff, diretor executivo de The World
Street Joumal (SIC), afirma que as reportagens em profundidade “tratam de oferecer
aos leitores tudo o que necessitam saber sobre um acontecimento. Devemos supor
que o leitor nada saiba, ainda, sobre o que vai ler. Temos sempre que responder a
estas duas perguntas: o que aconteceu? Por quê?”

O repórter deve elaborar um esboço prévio do seu trabalho. Preparar essa pauta
exige largo raciocínio criativo tanto da parte dele, como do respectivo editor.
Encontrar o tema ou o assunto é apenas o começo. O êxito da matéria depende de o
jornalista produzir uma das tarefas seguintes: 1º) Desenvolver e mostrar as várias
perspectivas, projeções e conseqüências de uma notícia local do momento. 2º)
Narrar uma boa história da própria cidade que, por qualquer razão ou negligência,
ainda não tenha sido escrita. 3º) Encontrar enfoques locais para as reportagens
nacionais.

Os diretores do Wall Street Joumal pedem aos funcionários que trabalhem em uma
história completa. A matéria deverá ser cabal e profunda. Nada deve ficar sem
solução, se o assunto for de importância. E facílimo chegar a conclusões erradas,
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quando se abrevia a preparação de uma notícia. É ponto pacífico, entre os editores


norte-americanos, que a reportagem em profundidade tanto pode ser obtida com
êxito, ou se desmoronar com facilidade, ainda na fase das investigações.

As três maiores vantagens dos jornais sobre o rádio e a televisão são: tempo, espaço
e durabilidade. Tempo - o leitor decide quando e onde deve ler o seu periódico.
Espaço - Para dar profundidade e extensão às reportagens que o rádio e a televisão
apresentam como simples boletins. Durabilidade – A notícia impressa está ao nosso
dispor enquanto o jornal não for rasgado, queimado, ou jogado fora. A pesquisa,
portanto, se converte em arma poderosa da imprensa, pois o leitor quer a notícia a
fundo.

The Wall Street Joumal não considerou desperdício que um escritor de renome
tivesse levado seis semanas para redigir uma só reportagem. A interpretação e
difícil. E criadora. Exige pesquisas e cuidadosa organização. James S. Pope, antigo
diretor de The Louisville Courier Joumal e de The Louisville Times, tem a seguinte
expressão: “o que pretendemos é que haja as melhores reportagens. Creio que a
palavra informar e uma das mais nobres da língua. Oponho-me ao uso da expressão
reportagem profunda, porque, de certa forma, isso implicaria em reconhecer que
pode haver reportagem superficial. Mas, se é superficial, não é reportagem”.

A reportagem em profundidade exige antecedentes e humanização.

Antecedentes é, talvez, a primeira das palavras que denota o antisuperficialismo.


Para a maioria dos jornalistas significa agregar, adicionar informações
complementares às notícias do dia. Pode-se tratar de uma história antiga ou atual a
ser acrescida, mas que dê perspectiva ao leitor. Em geral, os antecedentes se
limitam ao fato principal e não constituem esforço para encaixar as notícias do
momento, em um quadro maior de fatos.

Humanização quer dizer levar a informação até o ambiente do leitor, de maneira que
ele a sinta. Não é escrever para o leitor, mas redigir de tal forma que a notícia tenha
um sentido para ele. The Wall Street Joumal, que alcançou rapidamente grande
circulação, demonstrou a importância de se escreverem notas financeiras à altura da
compreensão e das possibilidades econômicas dos seus leitores. Em tópicos bem
desenvolvidos orientava o norte-americano, inclusive o da classe média, sobre como
aplicar as suas economias. Humanizar uma história seria, também, enquadrar o
personagem de um acontecimento no mesmo cenário que a maioria dos leitores. Se
um homem foi encontrado morto, assassinado ou atropelado, o jornal poderia
mostrar que ele era um mecânico que, nas suas horas de folga, nos sábados e
domingos, ajudava as crianças, suas vizinhas, a construírem carrinhos feitos com
tábuas de caixotes.

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Anthony Lewis, do The New York News, ganhador do Premio Pulitzer, diz: “Ao
descrever qualquer reportagem importante, penso primeiro em toda a história, para
decidir que pontos devo tratar e em que ordem. Se tenho tempo, faço um esquema”.
Rod Van Emery, de The Milwaukee Joumal, não faz esboços propriamente ditos, mas
vale-se de anotações sobre os pontos a focalizar e logo organiza as reportagens, de
acordo com a sua própria técnica. Diz ele: “Tenho visto, com freqüência, que
escrevemos com mais facilidade, se nos sentarmos diante da maquina de escrever e
narrarmos a historia, como se a estivéssemos contando a nossa esposa, sem
consultar notas e fazer citações”.

Uma regra adotada pelos jornalistas norte-americanos para obterem sempre uma
boa reportagem é a seguinte: 1º) Tenha sempre um esboço diante de você. Sua
historia correrá perigo, senão proceder assim. 2º) Escreva uma entrada (lead) que
seja razoavelmente boa para toda a matéria. 3º) Anote os pontos importantes, que
devam ser destacados. 4º) Pense bastante (ou fale consigo mesmo) até ficar seguro
de estar com todos os temas, na ordem em que irão aparecer. 5º) Procure o final.
Talvez você tenha que suprimir a descrição de um corredor, desde que diga aos
leitores onde os personagens da história deverão ir (ou já chegaram). 6º) Escreva
antecipadamente o final, se você acreditar que isso irá ajudá-lo. 7º) Verifique qual o
ponto culminante de sua história. Não deixe que a sua narração decaia, depois de
haver destacado o principal. 8º) Tenha cuidado com as passagens pesadas e, se
possível, amenize-as com algumas anedotas e bons exemplos. 9º) Há, na maioria
das matérias, pontos que exigem certas transições. Nas reportagens complexas, o
leitor se desinteressa por elas, algumas vezes, por falta de uma boa transição e você
perde o seu trabalho.

Bob Wells, do The Milwaukee Joumal, opina: “Quando escrevo uma historia, jamais
digo a mim mesmo que vou redigir para Fulano de Tal, que vive em um bonito
apartamento da rua Bolívar e cujo Q.I. e de 83 pontos. Trato de preparar uma
matéria para indivíduos de carne e osso do nível intelectual médio. Se eu os
aborrecer, eles deixarão de lado meu artigo ou reportagem e irão assistir televisão.
Creio que eles têm todo o direito de proceder assim, se eu não os agradar. O
jornalista pode penetrar profundamente em todos os fatos e temas. A profundidade é
a arma mais poderosa da palavra escrita sobre a palavra falada”.

A reportagem explicativa deve ser extensa e colher o receptor por etapas.

Deve dizer algo ao leitor, rapidamente e com honestidade. The Wall Street Joumal
mostrou como se pode tratar do interesse público, mesmo quando surja um fato
particular, quando estava prestes a ocorrer o divórcio de Nelson Rockefeller.
Enquanto os outros jornais se ocupavam da questão pessoal, isto e, sobre quem
teria dado motivos para a separação, se ele ou a mulher, The Wall Street Joumal
preocupou-se com o interesse geral, e a entrada da matéria foi esta: “Muitos dos
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políticos republicanos e democratas chegaram à conclusão, durante esta semana, de


que o divórcio pendente, de Nelson Rockefeller, veio acabar com as suas esperanças
de chegar à presidência”.

O repórter deve dar a mão aos leitores e levá-los pelos caminhos de uma história,
mesmo complicada, mas sem opinar. A explicação, contudo, é necessária. Quem lê
em um diário que “o índice de radioatividade na atmosfera duplicou nas últimas duas
semanas” quer saber se esse aumento significa algo para a sua saúde, qual a causa
da intensificação e o que vem a ser esse fenômeno. A apresentação das
circunstâncias em que algo ocorreu da elementos, ao leitor, para que ele mesma
opine e avalie os fatos.

Qual a diferença entre interpretar a notícia e editorializá-la? A pergunta é feita,


constantemente, pelos estudantes de jornalismo, mas é difícil de ser respondida,
porque às vezes não ha diferença alguma, na maneira como alguns órgãos da
imprensa oferecem a interpretação.

Os objetivos de uma e de outra podem ser tão-só os de esclarecer as situações


complexas, porém é possível discernir algumas poucas características que as
distinguem: 1º) A meta do jornalismo interpretativo é aquela que o termo sugere:
clareza e ilustração. Se for usado para dirigir ou condicionar a opinião do público,
afastar-se-á de suas finalidades especificas e poderá tornar-se falso e enganoso. 2º)
Os editoriais podem, legitimamente, esclarecer, ilustrar, formar opiniões, induzir a
ação e até entreter. O editorial é institucional. É o pensamento oficial do jornal como
instituição (ou órgão). A notícia interpretativa é ponto de vista e opinião pessoal
exclusivos de quem a redige. 3º) o editorial é anônimo, isto é, sem assinatura,
embora possa ser atribuído ao diretor ou ao redator-chefe. O autor da reportagem
interpretativa pode dar-se a conhecer e, se o seu trabalho expõe uma opinião, sabe-
se a quem atribuí-la, isto é, quem a externou. Lembre-se que e norma da imprensa
a inserção de uma advertência de que “a Redação não se responsabiliza pelos
conceitos emitidos em artigos assinados”.

Qualquer que seja a forma de apresentação da reportagem interpretativa, ela pode


externar um propósito editorialista. Há, porém, várias sugestões e contribuições para
combater a obscuridade de uma notícia e, ao mesmo tempo, mostrar ao leitor o que
é informação e o que revela opinião e interpretação: 1º) A inserção de parágrafos
interpretativos alternados com a informação pertinente, mas necessários para a
compreensão de um fato. Esse material pode preceder a reportagem propriamente
dita, em um parágrafo prévio, ou ser inserido entre parênteses ou em negrito ou
grifo, no corpo da notícia, sempre que o repórter quiser explicar. 2º) A publicação
regular, nas páginas de editoriais ou em todo o jornal, mas ao lado (ou
paralelamente) de cada notícia, de material interpretativo, destinado expressamente
a elas. O jornal Citizen, de Columbus, divulgou, durante muitos anos, uma coluna,
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escrita por seu pessoal de redação, com o título Revista das Notícias. O News
Chronicle, de Londres, proporciona informações, complementares das notícias em
uma seção intitulada o Mundo esta Manhã. A difusão de notícias suplementares às
consideradas principais, em colunas contíguas, e outro recurso.
7
Há duas décadas passadas - escreve Glauco Carvalho - o jornal era um quebra-
cabeças. Ninguém sabia onde encontrar o quê. Se não satisfazia o leitor, muito
menos aos redatores e ao diretor. Havia uma total dificuldade de obter as
informações distantes: o teletipo ainda não era utilizado pela maioria dos jornais e a
notícia chegava com atraso de dias, senão meses. Era a época também do nariz-de-
cera: o redator começava a matéria comentando o fato.

As coisas mudaram. O maior cuidado dos editores de hoje é saber como apresentar a
matéria, como induzir o publico a lê-la. Romancistas e poetas foram convocados
pelos jornais para escrever bons textos e artistas plásticos para desenhar as páginas.
Mas ainda é o repórter a alma da Redação: ele também mudou. Não é mais o janota
romântico e feérico que trazia informações a favor dos amigos e de suas admirações
e contra seus inimigos e seus preconceitos. Ele cursou a universidade; não só se
interessa pelo fato em si, mas pesquisa suas origens e suas conseqüências.
Preocupa-se com os detalhes. No ano passado, um redator da revista Newsweek
mandou pedir ao correspondente no Vietnam a marca do cigarro de Giap, o
comandante das forças norte-vietnamitas. Esse detalhe, aparentemente leviano,
pode influir na qualidade do texto. Uma das principais características do jornalismo
moderno é a abolição do personalismo. O jornal de hoje é um trabalho de equipe
(...) Fora da página dos editoriais qualquer opinião não tem sentido. A opinião
deforma a informação, que deve ser comunicada intacta. Permite-se apenas
interpretá-la, e informar interpretando é privilegio da imprensa competente, que
paga redatores especializados de alto nível.

Jornalismo diversional
Em 1960, George Gallup, o famoso pesquisador da opinião publica, já reclamava que
os jornais apresentavam as notícias sempre da mesma maneira formal e despidas de
interesse. Sugeria, assim, que a imprensa adotasse um estilo mais ameno e atrativo.

Poucos anos depois, em 1965, Truman Capote parecia atender indiretamente ao


apelo, pois ao publicar o livro In Cold Blood (A Sangue Frio) combinava a técnica do
romance com o estilo jornalístico, apresentando o que ele próprio classificaria de

7
Glauco Carvalho. “Jornal moderno”. In Quando a Imprensa é Notícia. Volume 2.
Rio, Editora Temário.
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uma novela não-fictícia, baseada em dados reais e na qual narrava o misterioso


assassinato da Família Clutter - o pai, a mãe, um rapaz e uma moça - ocorrido em
8
Holcomb, Kansas . o relato começava na data do crime, 14 de novembro de 1959, e
terminava seis anos mais tarde, com o enforcamento dos dois homicidas, Perry
Smith e Richard Hickock
9
Em entrevista a Playboy, Truman Capote diria depois que pretendera trazer para o
jornalismo a técnica da ficção “que se move tanto horizontalmente como
verticalmente, em forma simultânea: horizontalmente quanto ao aspecto da
narração e verticalmente penetrando nos personagens”. Lembrava ainda que se
podia fazer muito mais no jornalismo, que “constitui o único campo realmente serio e
criativo de experimentação literária”.

Conforme assinala Zevi Ghivelder, A Sangue Frio não trazia revelações novas ou
sensacionais, a não ser os exames psicológicos dos assassinos. Porém algumas
entrevistas do livro foram comentadas à medida que se desenrolavam. Até mesmo o
comportamento dos personagens era relacionado com as condições climáticas de
determinados dias.

Ao responder a uma pergunta de George Plimpton, redator de The New York Times,
que lhe indagou sobre o que havia feito, além de entrevistar as pessoas envolvidas
no assassinato da Família Clutter, acentuou Truman Capote: “Durante meses, fiz
pesquisas comparativas sobre o crime, criminosos e mentalidade criminosa.
Entrevistei inúmeros assassinos, com o fim de obter melhor perspectiva com relação
aqueles dois rapazes”.

Com Truman Capote, ou, como querem outros, mesmo antes, através de Gay
Talase, antigo repórter de The New York Times, teria surgido o chamado Novo
Jornalismo, aceito também como Jornalismo Diversional, que passou a oferecer
textos de muito agrado, abordando assuntos que, até a época, eram sempre
apresentados com aridez ou através de construções estereotipadas e formais,
despidas de interesse, conforme assinalara George Gallup. Era, agora, a descrição de
fatos reais, mas com o texto intercalado de diálogos e chegando a revelar os sonhos
e conjecturas de cada pessoa envolvida na narrativa.

Gay Talase explicou que procurava captar o que os personagens estavam pensando,
no momento em que escrevia sobre eles. Não se tratava, porém, de inventar, mas
sim de penetrar no íntimo dos indivíduos focalizados na reportagem.
8
Zevi Ghivelder. "A Lição de Truman Capote". In Bloch Comunicação. No 2. Rio,
Bloch Editores S.A.
9
9. Daniel Samper Pizano. "Sangre Fria en el Nuevo Periodismo". Volume I. No 3.
Comunicación Integral. Medellin, Colômbia.
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No Jornalismo Diversional, o repórter procura viver o ambiente e os problemas dos


envolvidos na história, mas não pode se limitar às entrevistas superficiais e sim
“descobrir sentimentos, anotar diálogos, inventariar detalhes, observar tudo e fazer-
se presente em certos momentos reveladores”.

A prática do Jornalismo Diversional demanda enorme tempo e poucos são os que


podem se dedicar semanas ou meses a uma só matéria. Por outra lado, a nova
técnica reaviva assuntos, torna-os sempre atuais e prende o leitor, ainda que ele já
tenha conhecimento de muitos dos pormenores divulgados. Esse gênero jornalístico
é muito usado pelas revistas ilustradas, que devem editar, no final de cada semana,
sob ângulos novos e descrições romanceadas, o que os jornais mostraram durante
vários dias seguidos.

No final deste capitulo transcrevemos a matéria “o pintor das bananas abandona


seus modelos”, publicada pelo Jornal da Tarde de 15 de novembro de 1970 e que se
classifica, pelo seu estilo leve, original e agradável, como jornalismo Diversional.

1. Grave um noticiário noturno, de rádio ou televisão, e compare-o com o que os


matutinos do dia seguinte publicarem. Verifique especialmente se os principais fatos
foram anunciados na véspera. Redija comentário a respeito.

2. Faça pesquisa entre pessoas das classes A, B e C, a fim de constatar se dão


preferência aos jornais impressos ou aos transmitidos pelo rádio e televisão.
Compare e analise os resultados.

3. De posse de uma notícia importante do dia, publicada nos jornais, pesquise o


seguinte, entre um grupo de pessoas: a) quando ficaram sabendo do fato? b) por
intermédio de que veículo de comunicação social? c) o interesse, que o assunto
porventura Lhes tenha despertado, levou os entrevistados a complementarem a
notícia inicial, com outras fontes de informação? Por quê?

4. Peça aos seus amigos para que exponham suas opiniões sobre o seguinte: a) os
noticiários da televisão são ótimos, bons, regulares, maus ou péssimos? Por quê? b)
cada notícia divulgada pela televisão deveria ser mais resumida ou mais extensa? c)
o tempo total dos noticiosos do rádio e da televisão (15 minutos, meia hora, 45
minutos, uma hora etc.) e pouco ou exagerado? d) esses jornais são assistidos
integralmente ou os telespectadores se aborrecem ou se distraem em virtude dos
textos longos ou por terem muitos anúncios?

5. Escolha algumas notícias dos jornais diários e faça uma análise de cada uma
resumindo o seguinte: a) a informação em si; b) a interpretação oferecida ao leitor:

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6. Selecione notícias, em periódicos do interior, e verifique se elas simplesmente


informam ou se também interpretam e opinam. Comente.

7. Leia atentamente pelo menos duas matérias e depois escreva o seguinte sobre
cada uma delas: a) qual a notícia fundamental? b) por que o fato ocorreu (ou a
declaração foi feita)? c) de que forma o acontecimento esta relacionado com outros
no tempo e no espaço? d) quais as conseqüências previstas (ou que já ocorreram)? '

8. Recorte uma pequena notícia (principalmente as inseridas em segundo clichê ou


anunciadas como de ultima hora) e faça uma relação, por escrito, do que você
gostaria de saber - interpretativamente - sobre elas.

9. Selecione - retirando-as dos jornais do dia - cinco notícias que, a seu ver, não
necessitam de interpretação.

10. Analise uma grande matéria, extraída de jornal diário, e verifique se ela seguiu
uma seqüência 1ogica, isto e, se os fatos foram narrados de forma a proporcionar
rápido entendimento, ou se os mesmos enfoques constam de tópicos distantes um
do outro, causando confusão. Faça comentário a respeito.

11. Procure, nos jornais, matérias que possam ser classificadas de Jornalismo
Diversional.

12. Por que a época atual se chama de idade das comunicações de massa? Escreva
50 linhas a respeito.

O PINTOR DAS BANANAS ABANDONA SEUS MODELOS

SE as mulatas marcaram profundamente a obra de Di Cavalcanti e os cangaceiros a


de Aldemir Martins, Antonio Henrique Amaral está fazendo tudo para não continuar
sendo conhecido como "O pintor das bananas". A morte das bananas em suas telas
terminou - quem afirma e o artista - em 1974, data da última tela, de uma série
começada em 1968 e que teve êxito dentro e fora do Brasil.
A nova fase, sem título e com resquícios absolutamente visíveis das bananas será
mostrada na galeria Bonfiglioli (rua Augusta, 2995) dia 18 de novembro, juntamente
com gravuras só de bananas, muito pouco conhecidas pelo público, já que o artista
é, essencialmente, pintor. Preço dessas gravuras: Cr$ 1.500,00. E das pinturas,
agora 30% mais caras em relação à última amostra, realizada há um ano: entre Cr$
36 mil e Cr$ 120 mil cada uma.
Depois de alguns anos de relativo anonimato no início de sua carreira, Antonio
Henrique Amaral começou a se tornar um artista satírico e irônico e isso lhe garantiu
um sucesso crescente.

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Essa saída do anonimato aconteceu em 1963, com um irreverente álbum de


gravuras chamado o Meu e o Seu, onde ele misturava grotescas mulheres nuas em
atitudes bastante ambíguas ao lado de policiais ou bocas grudadas em microfones.
Fez ainda pinturas e gravuras nessa série que terminou em 1966. Dois anos mais
tarde, para censurar a censura e falar de opressão, tirania e outras violências
urbanas, Antonio transformou uma fruta pacata, a inocente banana nanica, em
símbolo de contestarão. Começou a tratá-las por falsas naturezas-mortas, depois
amarrou-as com cordas. A seguir colocou-lhes mordaças e, final mente, dilacerou-as
em pedaços com garfos e facas. Eram bananas verdes e amarelas reunidas sob um
título geral para uma aparentemente interminável serie de gravuras e pinturas:
Batalha no Prato.

Indo morar alguns meses em Nova York, o artista não abandonou as bananas e
quando voltou mostrou que continuava o mesmo pintor. A mudança radical surge
agora, depois de um estreito convívio com artistas latino-americanos e muito
incentivado por sua irmã Aracy Amaral, incansável pesquisadora da arte latino-
americana, sobretudo a atual.

Qual o título para essas novas telas barrocas, cheias de elementos, crivadas de
espinhos, acúleos ou vegetais pontiagudos, misturados com o corpo dilacerado de
bananas numa cor muito mais parecida com a carne do corpo humano sem a pele?
Nenhum. Antonio Henrique não quer ser o pintor das bananas e nem está aceitando
rótulos para o que faz.

- Arte Brasileira, como pretendem vários críticos? Não penso nisso; que é coisa
deles, os críticos...

Se não pensa em rótulos, Amaral não esconde o orgulho de exibir suas últimas
obras, desmancha várias vezes as pilhas de telas e as mostra eufórico e vencedor.

Espera reações, ri e sorri, fica feliz quando as pessoas (críticos inclusive) sentem
uma marcante presença de Tarsila Amaral (de quem é parente) nas telas atuais.
Sorri outra vez, concordando, aparentemente, quando se diz que há algo de
10
moralismo (SIC) mexicano nessas telas e não discorda quando alguém lembra que
a composição, cheia de elementos e o colorido intenso, sugerem tapeçaria. Ele só
interrompe a lista de afinidades vistas pelos outros e fica furioso quando alguém
lembra que há algo de Leger em pelo menos duas telas.

- Você está maluco!

10
Nota do professor: o correto é “muralismo”.
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Depois, Antonio retorna ao seu minúsculo estúdio, uma casa-quitinete no fundo de


uma vila do Jardim Paulistano, onde ele acomoda uma mesa, uma cadeira, uma
cama de casal coberta com colcha azul de chenile ordinário e papéis pregados na
porta principal. Ali existe um calendário para o pescador (com fases da Lua), um
mapa da America do Sul, um outro calendário do ano que vem fornecido pela Avícola
Fragão e recortes de jornais que falam de seus quadros apreendidos no Brasil. Ao
lado da cama de dormir há uma bússola que o pintor garante é para se orientar “em
caso de emergência...”

A vila é um cortiço branco, disfarçado com uma fachada que sugere uma só casa. A
de Amaral é a ultima de uma serie de cinco que mistura pessoas sem nenhuma
afinidade aparente: um hippie, uma fotógrafa, um professor da USP e uma francesa.
Como Antonio vive seu assistente Dativo (a tia dele era grande entusiasta do Latim),
mineiro de Belo Horizonte, 25 anos, sorriso fácil, muita eficiência. A Dativo cabe a
monótona função de pregar pregos nas molduras (baguettes) dos quadros do seu
patrão. São pregos de três centímetros de comprimento; necessários uns vinte em
cada tela grande.

Quando não há jornalistas, Antonio e Dativo ouvem musica. A ultima caixinha (suja
de tinta) de fita cassete mostra a musica necessária à criação das florestas e ex-
bananas: Festival de Sucessos antes do Barroco.

Depois dessa fase de muitos espinhos pintados em vegetais verdes e amarelos,


Antonio Henrique Amaral volta a Nova York, ao Soho, onde conviveu com artistas da
America Latina e onde fez esboços muito influenciados pelo trabalho artístico dos
Astecas. Talvez more lá ou fique ausente algum tempo, o tempo necessário para
criar fases novas e depois deslumbrar novamente críticos e compradores como
acontece em sua volta dos Estados Unidos. Por enquanto ele quer fornecer uma
definição definitiva sobre as bananas nanicas brasileiras que já o transformaram nos
corredores de museus e galerias no pintor das bananas: “Banana, para mim, é ponto
de partida e não de chegada".

Depois, outra elucidação: “Procurei nossas origens em São Paulo e no Carnaval


carioca e não encontrei. Chego à conclusão de que as origens estão, sempre, dentro
da gente”.

...Minha volta é um reencontro com a cor e a tragédia brasileiras. Uma tragédia


carnavalesca...

Jornal da Tarde, de 15 de Novembro de 1976.

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