As Categorias do Jornalismo
In: ERBOLATO, Mário L. Técnicas de codificação em jornalismo.
Petrópolis : Vozes, 1978, p. 27-45.
A necessidade de interpretar e explicar as notícias é manifesta. A vida se tornou tão
complicada e variada nas múltiplas atividades que mesmo os especialistas se
desorientam em seus próprios campos de conhecimento.
F. FRASER BOND
A televisão não desce à intimidade das questões, nem permite a recuperação das
informações, o que facilita à imprensa aprofundar-se nas notícias, interpretando-as e
explicando-as — O furo e a edição extra deixaram de existir — Vantagens e
desvantagens do jornalismo impresso — A falta de compreensão por parte do público
pode criar desinteresse pelas notícias — As ocorrências devem ser projetadas
jornalisticamente de forma a que o leitor conheça os antecedentes e as
consequências possíveis dos fatos – A informação e a interpretação não devem ser
apresentadas com a opinião, no mesmo texto — Humanização consiste em levar o
informe Até o leitor, para que ele sinta o que ocorreu — Clareza e ilustração, as
metas do jornalismo interpretativo — Jornalismo informativo, interpretativo,
opinativo e diversional.
São muitos os veículos que levam a notícia ao publico. A multiplicação dos meios
informativos é um fenômeno do seculo XX. Até fins da Primeira Guerra Mundial, não
havia ameaças para os jornais (impressos), que praticamente detinham o monopólio
da divulgação de qualquer noticiário. O ano de 192o viu surgir a rádiodifusão nos
Estados Unidos e, em 1923, foi publicada naquele país a primeira revista noticiosa
semanal (Time). Entre as duas guerras, os filmes cinematograficos iniciaram a
tentativa de levar à tela determinadas classes de notícias. A televisão, por sua vez,
intensificou-se logo apóso termino do ultimo conflito (1939/1945). A imprensa
começava a ter sérios concorrentes.
1
Conforme acentua Alberto Dines “a imagem no vídeo (TV) não provocou a revolução
da informação. Ela obrigou o resto da veiculação a apressar-se para entrar em seu
ritmo e satisfazer as novas necessidades que criou”
1
Alberto Dines. O Papel do Jornal. Rio, Editora Artenova S.A.
Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)
site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
Página 1 de 20
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
O rádio e a televisão roubaram dos jornais duas iniciativas que eles mantinham com
orgulho e praticamente as mataram no setor da notícia impressa: o furo (informe
dado em primeira mão) e a edição extra (sempre que algum fato sensacional a
justificasse). Nenhuma oficina de composição e impressão, por mais moderna, pode
competir com a velocidade da palavra levada pelas ondas hertzianas e captadas no
mesmo instante da emissão, em qualquer receptor, ainda que minusculos e com
funcionamento à base de pilhas.
2
Thereza Catharina de Goes Campos escreve: “O que realmente caracteriza a TV é o
impacto provocado pela mensagem visual e sonora, que apresenta ao telespectador,
com atualidade e de forma muito mais complexa, do que pelo rádio, jornal ou
revista” (...) “Pela TV um fato chega ao conhecimento do público antes de estar na
banca dos jornaleiros. Ainda quando a informação também está sendo transmitida
naquele momento pelo rádio, o teleiornal mostra-se superior, porque, colocando a
cena ante o telespectador, complementando-a com o texto lido pelo apresentador,
dá ao publico a impressão de estar participando do evento que, mais tarde, será
focalizado pelos jornais e cinema”.
2
Thereza Catharina de Goes Campos. A TV nos Tornou Mais Humanos? Princípios de
Comunicação pela TV. Recife, Universidade Federal de Pernambuco.
3
R.A. Amaral Vieira. O Futuro da Comunicação. Rio, Cadernos Didáticos.
Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)
site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
Página 2 de 20
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
4
José Marques de Melo. Comunicação, Opinião e Desenvotvimento. Petrópolis,
Editora Vozes Ltda.
Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)
site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
Página 3 de 20
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
sobre a distribuição per capita da tiragem dos jornais dirios, para chegar a essa
conclusão”.
Que vantagens oferecem os jornais impressos, além das que foram lembradas por
R.A. Amaral Vieira? A rapidez trabalha em favor da televisão e do rádio e o tempo,
paradoxalmente, contra eles. Por melhor que ambos tentem manejar a notícia, não
conseguirão fazer com que o dia tenha mais de 24 horas, das quais apenas algumas
são boas ou destinadas para se ver e ouvir programas radiofônicos ou televisionados.
A NOTÍCIA EM PROFUNDIDADE
Na luta contra o jornalismo falado, os jornais impressos tiveram que preparar a sua
estratégia. As notícias, que eram superficiais, limitando-se a narrar os
acontecimentos, sofreram alterações em sua estrutura. Baniu-se a fórmula
sacramental, que se exigia, até há algumas décadas, de qualquer bom repórter:
“Consoante havíamos noticiado, realizou-se ontem...” Hoje, novos esquemas são
adotados. O recurso foi o de se dar ao leitor reportagens que sejam complemento do
que foi ouvido no rádio e na televisão. Adotou-se para isso, a pesquisa, tendo como
fonte os arquivos dos jornais e as bibliotecas e, ao lado deles, a obtida através da
movimentação de equipes de repórteres, que coligem dados secundários ou que
ocorreram concomitantemente com o fato principal.
5
S. John Hohenberg. Manual de Jornalismo. Rio, Editora Pundo de Cultura.
Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)
site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
Página 5 de 20
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
6
F. Fraser Bond, Introdução ao Jornalismo. Rio, Livraria AGIR Editora.
Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)
site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
Página 6 de 20
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
Por sua vez, John Hohenberg destaca: “O novo jornalismo não só trata de explicar e
informar, mas se atreve também a ensinar, a medir e a valorizar. Em termos gerais,
seus métodos são uma adaptação de algumas das técnicas práticas de comunicação
com as massas. Seu proposito é o de oferecer uma interpretação, a mais ampla
possível, das notícias políticas e oficiais, levando-as ao conhecimento de todos os
níveis sociais e de maneira a valorizar a opinião pública. O fim colimado com essa
mudanca de orientação técnica dos jornais é melhorar a imprensa e criar um
eleitorado bem informado e um governo cada vez melhor”.
É evidente que nem todas as notícias exigem interpretação. Mas as que se referiam
a países estrangeiros, divulgadas pelas agências telegráficas, foram as prmeiras a
Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)
site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
Página 7 de 20
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
INFORMAÇÃO E OPINIÃO
Porém a evolução e a adoção de novas técnicas no jornalismo, elevado à profissão e
não mais praticado por simples diletantismo, levaram a uma conquista autêntica: a
separação entre, de um lado, o relato e a descrição de um fato, dentro dos limites de
objetividade permitidos pela natureza humana e, de outro, a análise e o comentário
da mesma ocorrência. O jomalismo ficou, a essa altura, dividido em dois grandes
grupos ou seções principais: o informativo e o opinativo (que incluía a análise e a
interpretação).
lnterpretação é uma palavra que, até certo ponto, significa mostrar o que está
debaixo da superficie. Em seu sentido mais puro, entende-se como uma
Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)
site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
Página 9 de 20
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
Visando evitar abusos de interpretação, alguns jornais americanos não admitem que
seus repórteres sejam especializados. The Milwaukee Journal manda os redatores de
esportes colherem informações sobre turismo ou aproveitamento e defesa de
riquezas naturais. A um editorialista determina que faça reportagem ligada aos
problemas de energia elétrica. The Washington Post dividiu sua redação local em
duas seções: uma, encarregada de pesquisas sobre antecedentes dos fatos e outra,
para ir além da notícia.
Alguns jornais, como The St. Louis Dispatch; The Kansas City Star e The Portland
Oregonian têm muitos anos de experiência e ganharam vários Prêmios Pulitzer,
como prova de habilidade de seu pessoal, para as reportagens investigativas.
Quando um repórter conta uma história, ele a situa no mundo dos leitores. O que é
informar a fundo? “Não há nada de misterioso nisso”, diz Tumer Catledge, que
acrescenta: “A palavra informar é completa por si mesma e exige que o repórter e o
jornal dêem ao leitor notícias tão exatas e profundas, como mereça a importância
dos fatos. Consideramos que informar a fundo é apresentar ao leitor todos os
aspectos essenciais sobre um assunto, os porquês, os motivos e tantos ângulos do
caso quanta seja possível. Temos que oferecer ao público muitos antecedentes”.
Nenhum diretor ou repórter deve sentir-se satisfeito com o simples enunciado dos
fatos que compõem uma informação. Robert Bottorff, diretor executivo de The World
Street Joumal (SIC), afirma que as reportagens em profundidade “tratam de oferecer
aos leitores tudo o que necessitam saber sobre um acontecimento. Devemos supor
que o leitor nada saiba, ainda, sobre o que vai ler. Temos sempre que responder a
estas duas perguntas: o que aconteceu? Por quê?”
O repórter deve elaborar um esboço prévio do seu trabalho. Preparar essa pauta
exige largo raciocínio criativo tanto da parte dele, como do respectivo editor.
Encontrar o tema ou o assunto é apenas o começo. O êxito da matéria depende de o
jornalista produzir uma das tarefas seguintes: 1º) Desenvolver e mostrar as várias
perspectivas, projeções e conseqüências de uma notícia local do momento. 2º)
Narrar uma boa história da própria cidade que, por qualquer razão ou negligência,
ainda não tenha sido escrita. 3º) Encontrar enfoques locais para as reportagens
nacionais.
Os diretores do Wall Street Joumal pedem aos funcionários que trabalhem em uma
história completa. A matéria deverá ser cabal e profunda. Nada deve ficar sem
solução, se o assunto for de importância. E facílimo chegar a conclusões erradas,
Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)
site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
Página 11 de 20
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
As três maiores vantagens dos jornais sobre o rádio e a televisão são: tempo, espaço
e durabilidade. Tempo - o leitor decide quando e onde deve ler o seu periódico.
Espaço - Para dar profundidade e extensão às reportagens que o rádio e a televisão
apresentam como simples boletins. Durabilidade – A notícia impressa está ao nosso
dispor enquanto o jornal não for rasgado, queimado, ou jogado fora. A pesquisa,
portanto, se converte em arma poderosa da imprensa, pois o leitor quer a notícia a
fundo.
The Wall Street Joumal não considerou desperdício que um escritor de renome
tivesse levado seis semanas para redigir uma só reportagem. A interpretação e
difícil. E criadora. Exige pesquisas e cuidadosa organização. James S. Pope, antigo
diretor de The Louisville Courier Joumal e de The Louisville Times, tem a seguinte
expressão: “o que pretendemos é que haja as melhores reportagens. Creio que a
palavra informar e uma das mais nobres da língua. Oponho-me ao uso da expressão
reportagem profunda, porque, de certa forma, isso implicaria em reconhecer que
pode haver reportagem superficial. Mas, se é superficial, não é reportagem”.
Humanização quer dizer levar a informação até o ambiente do leitor, de maneira que
ele a sinta. Não é escrever para o leitor, mas redigir de tal forma que a notícia tenha
um sentido para ele. The Wall Street Joumal, que alcançou rapidamente grande
circulação, demonstrou a importância de se escreverem notas financeiras à altura da
compreensão e das possibilidades econômicas dos seus leitores. Em tópicos bem
desenvolvidos orientava o norte-americano, inclusive o da classe média, sobre como
aplicar as suas economias. Humanizar uma história seria, também, enquadrar o
personagem de um acontecimento no mesmo cenário que a maioria dos leitores. Se
um homem foi encontrado morto, assassinado ou atropelado, o jornal poderia
mostrar que ele era um mecânico que, nas suas horas de folga, nos sábados e
domingos, ajudava as crianças, suas vizinhas, a construírem carrinhos feitos com
tábuas de caixotes.
Anthony Lewis, do The New York News, ganhador do Premio Pulitzer, diz: “Ao
descrever qualquer reportagem importante, penso primeiro em toda a história, para
decidir que pontos devo tratar e em que ordem. Se tenho tempo, faço um esquema”.
Rod Van Emery, de The Milwaukee Joumal, não faz esboços propriamente ditos, mas
vale-se de anotações sobre os pontos a focalizar e logo organiza as reportagens, de
acordo com a sua própria técnica. Diz ele: “Tenho visto, com freqüência, que
escrevemos com mais facilidade, se nos sentarmos diante da maquina de escrever e
narrarmos a historia, como se a estivéssemos contando a nossa esposa, sem
consultar notas e fazer citações”.
Uma regra adotada pelos jornalistas norte-americanos para obterem sempre uma
boa reportagem é a seguinte: 1º) Tenha sempre um esboço diante de você. Sua
historia correrá perigo, senão proceder assim. 2º) Escreva uma entrada (lead) que
seja razoavelmente boa para toda a matéria. 3º) Anote os pontos importantes, que
devam ser destacados. 4º) Pense bastante (ou fale consigo mesmo) até ficar seguro
de estar com todos os temas, na ordem em que irão aparecer. 5º) Procure o final.
Talvez você tenha que suprimir a descrição de um corredor, desde que diga aos
leitores onde os personagens da história deverão ir (ou já chegaram). 6º) Escreva
antecipadamente o final, se você acreditar que isso irá ajudá-lo. 7º) Verifique qual o
ponto culminante de sua história. Não deixe que a sua narração decaia, depois de
haver destacado o principal. 8º) Tenha cuidado com as passagens pesadas e, se
possível, amenize-as com algumas anedotas e bons exemplos. 9º) Há, na maioria
das matérias, pontos que exigem certas transições. Nas reportagens complexas, o
leitor se desinteressa por elas, algumas vezes, por falta de uma boa transição e você
perde o seu trabalho.
Bob Wells, do The Milwaukee Joumal, opina: “Quando escrevo uma historia, jamais
digo a mim mesmo que vou redigir para Fulano de Tal, que vive em um bonito
apartamento da rua Bolívar e cujo Q.I. e de 83 pontos. Trato de preparar uma
matéria para indivíduos de carne e osso do nível intelectual médio. Se eu os
aborrecer, eles deixarão de lado meu artigo ou reportagem e irão assistir televisão.
Creio que eles têm todo o direito de proceder assim, se eu não os agradar. O
jornalista pode penetrar profundamente em todos os fatos e temas. A profundidade é
a arma mais poderosa da palavra escrita sobre a palavra falada”.
Deve dizer algo ao leitor, rapidamente e com honestidade. The Wall Street Joumal
mostrou como se pode tratar do interesse público, mesmo quando surja um fato
particular, quando estava prestes a ocorrer o divórcio de Nelson Rockefeller.
Enquanto os outros jornais se ocupavam da questão pessoal, isto e, sobre quem
teria dado motivos para a separação, se ele ou a mulher, The Wall Street Joumal
preocupou-se com o interesse geral, e a entrada da matéria foi esta: “Muitos dos
Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)
site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
Página 13 de 20
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
O repórter deve dar a mão aos leitores e levá-los pelos caminhos de uma história,
mesmo complicada, mas sem opinar. A explicação, contudo, é necessária. Quem lê
em um diário que “o índice de radioatividade na atmosfera duplicou nas últimas duas
semanas” quer saber se esse aumento significa algo para a sua saúde, qual a causa
da intensificação e o que vem a ser esse fenômeno. A apresentação das
circunstâncias em que algo ocorreu da elementos, ao leitor, para que ele mesma
opine e avalie os fatos.
escrita por seu pessoal de redação, com o título Revista das Notícias. O News
Chronicle, de Londres, proporciona informações, complementares das notícias em
uma seção intitulada o Mundo esta Manhã. A difusão de notícias suplementares às
consideradas principais, em colunas contíguas, e outro recurso.
7
Há duas décadas passadas - escreve Glauco Carvalho - o jornal era um quebra-
cabeças. Ninguém sabia onde encontrar o quê. Se não satisfazia o leitor, muito
menos aos redatores e ao diretor. Havia uma total dificuldade de obter as
informações distantes: o teletipo ainda não era utilizado pela maioria dos jornais e a
notícia chegava com atraso de dias, senão meses. Era a época também do nariz-de-
cera: o redator começava a matéria comentando o fato.
As coisas mudaram. O maior cuidado dos editores de hoje é saber como apresentar a
matéria, como induzir o publico a lê-la. Romancistas e poetas foram convocados
pelos jornais para escrever bons textos e artistas plásticos para desenhar as páginas.
Mas ainda é o repórter a alma da Redação: ele também mudou. Não é mais o janota
romântico e feérico que trazia informações a favor dos amigos e de suas admirações
e contra seus inimigos e seus preconceitos. Ele cursou a universidade; não só se
interessa pelo fato em si, mas pesquisa suas origens e suas conseqüências.
Preocupa-se com os detalhes. No ano passado, um redator da revista Newsweek
mandou pedir ao correspondente no Vietnam a marca do cigarro de Giap, o
comandante das forças norte-vietnamitas. Esse detalhe, aparentemente leviano,
pode influir na qualidade do texto. Uma das principais características do jornalismo
moderno é a abolição do personalismo. O jornal de hoje é um trabalho de equipe
(...) Fora da página dos editoriais qualquer opinião não tem sentido. A opinião
deforma a informação, que deve ser comunicada intacta. Permite-se apenas
interpretá-la, e informar interpretando é privilegio da imprensa competente, que
paga redatores especializados de alto nível.
Jornalismo diversional
Em 1960, George Gallup, o famoso pesquisador da opinião publica, já reclamava que
os jornais apresentavam as notícias sempre da mesma maneira formal e despidas de
interesse. Sugeria, assim, que a imprensa adotasse um estilo mais ameno e atrativo.
7
Glauco Carvalho. “Jornal moderno”. In Quando a Imprensa é Notícia. Volume 2.
Rio, Editora Temário.
Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)
site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
Página 15 de 20
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
Conforme assinala Zevi Ghivelder, A Sangue Frio não trazia revelações novas ou
sensacionais, a não ser os exames psicológicos dos assassinos. Porém algumas
entrevistas do livro foram comentadas à medida que se desenrolavam. Até mesmo o
comportamento dos personagens era relacionado com as condições climáticas de
determinados dias.
Ao responder a uma pergunta de George Plimpton, redator de The New York Times,
que lhe indagou sobre o que havia feito, além de entrevistar as pessoas envolvidas
no assassinato da Família Clutter, acentuou Truman Capote: “Durante meses, fiz
pesquisas comparativas sobre o crime, criminosos e mentalidade criminosa.
Entrevistei inúmeros assassinos, com o fim de obter melhor perspectiva com relação
aqueles dois rapazes”.
Com Truman Capote, ou, como querem outros, mesmo antes, através de Gay
Talase, antigo repórter de The New York Times, teria surgido o chamado Novo
Jornalismo, aceito também como Jornalismo Diversional, que passou a oferecer
textos de muito agrado, abordando assuntos que, até a época, eram sempre
apresentados com aridez ou através de construções estereotipadas e formais,
despidas de interesse, conforme assinalara George Gallup. Era, agora, a descrição de
fatos reais, mas com o texto intercalado de diálogos e chegando a revelar os sonhos
e conjecturas de cada pessoa envolvida na narrativa.
Gay Talase explicou que procurava captar o que os personagens estavam pensando,
no momento em que escrevia sobre eles. Não se tratava, porém, de inventar, mas
sim de penetrar no íntimo dos indivíduos focalizados na reportagem.
8
Zevi Ghivelder. "A Lição de Truman Capote". In Bloch Comunicação. No 2. Rio,
Bloch Editores S.A.
9
9. Daniel Samper Pizano. "Sangre Fria en el Nuevo Periodismo". Volume I. No 3.
Comunicación Integral. Medellin, Colômbia.
Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)
site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
Página 16 de 20
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
4. Peça aos seus amigos para que exponham suas opiniões sobre o seguinte: a) os
noticiários da televisão são ótimos, bons, regulares, maus ou péssimos? Por quê? b)
cada notícia divulgada pela televisão deveria ser mais resumida ou mais extensa? c)
o tempo total dos noticiosos do rádio e da televisão (15 minutos, meia hora, 45
minutos, uma hora etc.) e pouco ou exagerado? d) esses jornais são assistidos
integralmente ou os telespectadores se aborrecem ou se distraem em virtude dos
textos longos ou por terem muitos anúncios?
5. Escolha algumas notícias dos jornais diários e faça uma análise de cada uma
resumindo o seguinte: a) a informação em si; b) a interpretação oferecida ao leitor:
7. Leia atentamente pelo menos duas matérias e depois escreva o seguinte sobre
cada uma delas: a) qual a notícia fundamental? b) por que o fato ocorreu (ou a
declaração foi feita)? c) de que forma o acontecimento esta relacionado com outros
no tempo e no espaço? d) quais as conseqüências previstas (ou que já ocorreram)? '
9. Selecione - retirando-as dos jornais do dia - cinco notícias que, a seu ver, não
necessitam de interpretação.
10. Analise uma grande matéria, extraída de jornal diário, e verifique se ela seguiu
uma seqüência 1ogica, isto e, se os fatos foram narrados de forma a proporcionar
rápido entendimento, ou se os mesmos enfoques constam de tópicos distantes um
do outro, causando confusão. Faça comentário a respeito.
11. Procure, nos jornais, matérias que possam ser classificadas de Jornalismo
Diversional.
12. Por que a época atual se chama de idade das comunicações de massa? Escreva
50 linhas a respeito.
Indo morar alguns meses em Nova York, o artista não abandonou as bananas e
quando voltou mostrou que continuava o mesmo pintor. A mudança radical surge
agora, depois de um estreito convívio com artistas latino-americanos e muito
incentivado por sua irmã Aracy Amaral, incansável pesquisadora da arte latino-
americana, sobretudo a atual.
Qual o título para essas novas telas barrocas, cheias de elementos, crivadas de
espinhos, acúleos ou vegetais pontiagudos, misturados com o corpo dilacerado de
bananas numa cor muito mais parecida com a carne do corpo humano sem a pele?
Nenhum. Antonio Henrique não quer ser o pintor das bananas e nem está aceitando
rótulos para o que faz.
- Arte Brasileira, como pretendem vários críticos? Não penso nisso; que é coisa
deles, os críticos...
Se não pensa em rótulos, Amaral não esconde o orgulho de exibir suas últimas
obras, desmancha várias vezes as pilhas de telas e as mostra eufórico e vencedor.
Espera reações, ri e sorri, fica feliz quando as pessoas (críticos inclusive) sentem
uma marcante presença de Tarsila Amaral (de quem é parente) nas telas atuais.
Sorri outra vez, concordando, aparentemente, quando se diz que há algo de
10
moralismo (SIC) mexicano nessas telas e não discorda quando alguém lembra que
a composição, cheia de elementos e o colorido intenso, sugerem tapeçaria. Ele só
interrompe a lista de afinidades vistas pelos outros e fica furioso quando alguém
lembra que há algo de Leger em pelo menos duas telas.
10
Nota do professor: o correto é “muralismo”.
Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)
site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
Página 19 de 20
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
A vila é um cortiço branco, disfarçado com uma fachada que sugere uma só casa. A
de Amaral é a ultima de uma serie de cinco que mistura pessoas sem nenhuma
afinidade aparente: um hippie, uma fotógrafa, um professor da USP e uma francesa.
Como Antonio vive seu assistente Dativo (a tia dele era grande entusiasta do Latim),
mineiro de Belo Horizonte, 25 anos, sorriso fácil, muita eficiência. A Dativo cabe a
monótona função de pregar pregos nas molduras (baguettes) dos quadros do seu
patrão. São pregos de três centímetros de comprimento; necessários uns vinte em
cada tela grande.
Quando não há jornalistas, Antonio e Dativo ouvem musica. A ultima caixinha (suja
de tinta) de fita cassete mostra a musica necessária à criação das florestas e ex-
bananas: Festival de Sucessos antes do Barroco.