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ANÁLISE MATEMÁTICA I

TEORIA E EXERCÍCIOS

ANA SÁ
BENTO LOURO

2003
Índice

1 Noções Topológicas, Indução Matemática e Sucessões 1


1.1 Noções topológicas em R . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Indução matemática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.3 Sucessões de números reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

2 Funções Reais de Variável Real: Limites e Continuidade 13


2.1 Generalidades sobre funções reais de variável real . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2 Limites. Limites relativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.3 Continuidade: propriedades das funções contı́nuas. Teorema de Bolzano . . 23
2.4 Continuidade uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

3 Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial 37


3.1 Derivadas. Regras de derivação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.2 Teoremas Fundamentais: Rolle, Darboux, Lagrange e Cauchy. . . . . . . . 46
3.3 Indeterminações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
3.4 Teorema de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
3.5 Aplicações da fórmula de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

4 Funções Reais de Variável Real: Primitivação 67


4.1 Primitivas imediatas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
4.2 Primitivação por partes e por substituição . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
4.3 Primitivação de funções racionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
4.4 Primitivação de funções algébricas irracionais . . . . . . . . . . . . . . . . 85
4.5 Primitivação de funções transcendentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

5 Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral 95


5.1 Integral de Riemann: Definição e propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . 95
5.2 Classes de funções integráveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
5.3 Teoremas Fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
5.4 Áreas de figuras planas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
5.5 Integrais impróprios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
ii ÍNDICE

6 Exercı́cios 139
6.1 Funções Trigonométricas Inversas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
6.2 Noções Topológicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142
6.3 Indução Matemática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
6.4 Sucessões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146
6.5 Continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152
6.6 Continuidade Uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
6.7 Diferenciabilidade. Teoremas de Rolle, Lagrange e Cauchy . . . . . . . . . 157
6.8 Fórmula de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163
6.9 Estudo de uma função . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165
6.10 Primitivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 168
6.11 Integrais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173
6.12 Cálculo de áreas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177
6.13 Integrais Impróprios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 178
Capı́tulo 1

Noções Topológicas, Indução


Matemática e Sucessões

1.1 Noções topológicas em R


Definição 1.1.1 Sejam a ∈ R, ε > 0. Chama-se vizinhança ε de a ao conjunto V ε (a) =
]a − ε, a + ε[.

Definição 1.1.2 Sejam a ∈ R e A um conjunto de números reais. Diz-se que a é inte-


rior a A se existir uma vizinhança de a contida em A. Diz-se que a é fronteiro a A se
toda a vizinhança de a intersecta A e R \ A. Diz-se que a é exterior a A se existir uma
vizinhança de a contida em R \ A.

NOTA: Um ponto é exterior a A se, e só se, é interior a R \ A.

Definição 1.1.3 O conjunto dos pontos interiores a A chama-se interior de A e repre-


senta-se por int(A). O conjunto dos pontos exteriores a A chama-se exterior de A e
representa-se por ext(A). O conjunto dos pontos fronteiros a A chama-se fronteira de
A e representa-se por fr(A).

NOTA: Qualquer que seja A ⊂ R tem-se: int(A) ∩ ext(A) = ∅, int(A) ∩ fr(A) = ∅,


fr(A) ∩ ext(A) = ∅ e int(A) ∪ fr(A) ∪ ext(A) = R.

EXEMPLO 1: Sejam A =]0, 1], B = [0, 1], C = [0, 1[, D =]0, 1[. Então int(A) =
int(B) = int(C) = int(D) =]0, 1[, fr(A) = fr(B) = fr(C) = fr(D) = {0, 1}, ext(A) =
ext(B) = ext(C) = ext(D) =] − ∞, 0[∪]1, +∞[.
½ ¾
1
EXEMPLO 2: Seja A = , n ∈ N . Então int(A) = ∅, ext(A) = R \ (A ∪ {0}) e
n
fr(A) = A ∪ {0}.

EXEMPLO 3: Seja A = Q. Então int(A) = ext(A) = ∅, fr(A) = R.


2 1. Noções Topológicas, Indução Matemática e Sucessões

Definição 1.1.4 Seja A um subconjunto de R. Diz-se que A é aberto se A = int(A).

Definição 1.1.5 Seja A um subconjunto de R. Chama-se fecho ou aderência de A ao


conjunto A = A ∪ fr(A). Diz-se que x é aderente a A se x ∈ A. A diz-se fechado se
A = A.

NOTAS:

1. Das definições, conclui-se facilmente que A = int(A) ∪ fr(A).

2. A é fechado se, e só se, fr(A) ⊂ A.

3. A é fechado se, e só se, R \ A é aberto, isto é, R \ A = int(R \ A) = ext(A).

EXEMPLO 1: Sejam A =]0, 1], B = [0, 1], C = [0, 1[, D =]0, 1[. B é fechado, D é
aberto, A e C não são fechados nem abertos.
½ ¾
1
EXEMPLO 2: A = , n ∈ N não é fechado nem aberto (note que fr(A) = A ∪ {0}).
n
½ ¾
1
EXEMPLO 3: A = , n ∈ N ∪ {0} é fechado.
n

Definição 1.1.6 Sejam a ∈ R e A um subconjunto de R. Diz-se que a é ponto de


acumulação de A se toda a vizinhança de a intersecta A \ {a}. Ao conjunto dos pontos
de acumulação de A chama-se derivado de A. Diz-se que a é ponto isolado de A se
a ∈ A e existe uma vizinhança de a que não intersecta A \ {a}.
½ ¾
1
EXEMPLO 1: Seja A = , n ∈ N . 0 é ponto de acumulação de A. Todos os pontos
n
de A são isolados.

EXEMPLO 2: Seja A = [0, 1[∪{2}. O conjunto dos pontos de acumulação de A é [0, 1].
2 é ponto isolado de A.

NOTA: Se a ∈ int(A), então a é ponto de acumulação de A.

Definição 1.1.7 Sejam x ∈ R e A um subconjunto de R. Diz-se que x é majorante de


A se x ≥ a, ∀a ∈ A. Diz-se que x é minorante de A se x ≤ a, ∀a ∈ A.

Definição 1.1.8 Seja A um subconjunto de R. Diz-se que A é majorado se admitir


majorantes. Diz-se que A é minorado se admitir minorantes. Se A for majorado e
minorado, diz-se que A é limitado.
1.1 Noções topológicas em R 3

EXEMPLO 1: A = {x ∈ R : x2 < 1} é limitado.

EXEMPLO 2: ] − ∞, 1[ é majorado.

EXEMPLO 3: [1, +∞[ é minorado.

EXEMPLO 4: A = {x ∈ R : |x| > 1} não é majorado nem minorado.

Teorema 1.1.1 A é limitado se, e só se, ∃M > 0, |x| ≤ M, ∀x ∈ A.

Demonstração: Se A for limitado, sejam ν um minorante de A e µ um majorante de A; se


M for o maior dos dois números |ν| e |µ|, então |x| ≤ M, ∀x ∈ A (se µ = ν = 0, toma-se
M > 0, qualquer).
Reciprocamente, se ∃M > 0, |x| ≤ M, ∀x ∈ A, isto é, −M ≤ x ≤ M, ∀x ∈ A, então M
é majorante de A e −M é minorante de A.

Definição 1.1.9 Seja A um subconjunto majorado de R. Diz-se que β é o supremo de


A se β for majorante de A e for menor que todos os outros majorantes de A (isto é, se β
for o menor dos majorantes de A); representa-se por β = sup(A). Se β, supremo de A,
pertencer a A, diz-se que β é o máximo de A; neste caso, representa-se por β = max(A).

Definição 1.1.10 Seja A um subconjunto minorado de R. Diz-se que α é o ı́nfimo de


A se α for minorante de A e for maior que todos os outros minorantes de A (isto é, se
α for o maior dos minorantes de A); representa-se por α = inf(A). Se α, ı́nfimo de A,
pertencer a A, diz-se que α é o mı́nimo de A; neste caso, representa-se por α = min(A).

EXEMPLO 1: Seja A = {x ∈ R : x2 < 1}. Então inf(A) = −1 e sup(A) = 1. A não tem


máximo nem mı́nimo.

EXEMPLO 2: Seja A =] − 1, 1]. Então inf(A) = −1 e sup(A) = max(A) = 1.

EXEMPLO 3: sup(] − ∞, 1[) = 1. Não existe ı́nfimo deste conjunto.

Teorema 1.1.2 Em R, todo o conjunto majorado tem supremo e todo o conjunto mino-
rado tem ı́nfimo.

Não daremos aqui a demonstração do Teorema. Isso levar-nos-ia a um estudo mais


profundo do conjunto dos números reais, que não está nos propósitos deste curso.

Teorema 1.1.3 Seja A um subconjunto de R. Então β = sup(A) se, e só se, β é majo-
rante de A e ∀ε > 0, ∃x ∈ A : x > β − ε. Analogamente, α = inf(A) se, e só se, α é
minorante de A e ∀ε > 0, ∃x ∈ A : x < α + ε.
4 1. Noções Topológicas, Indução Matemática e Sucessões

Demonstração: Demonstraremos a propriedade para o supremo. Para o ı́nfimo proceder-


-se-ia de modo análogo.
Vamos primeiro demonstrar que se β = sup(A) então β é majorante de A e
∀ε > 0, ∃x ∈ A : x > β − ε. Fá-lo-emos pela contra-recı́proca, isto é, negando a
tese chegaremos à negação da hipótese (trata-se da bem conhecida proposição da lógica
formal A ⇒ B equivalente a ∼ B ⇒ ∼ A). Se β não for majorante de A, β não é o supre-
mo de A (definição de supremo) e o problema fica resolvido. Se ∃ε > 0, ∀x ∈ A, x ≤ β−ε,
então β não é o supremo de A visto que β − ε é majorante de A e β − ε < β.
Reciprocamente, vamos mostrar que se β é majorante de A e ∀ε > 0, ∃x ∈ A : x >
β − ε, então β = sup(A). Usamos, de novo, a contra-recı́proca. Se β não for o supremo de
A, então ou não é majorante ou é majorante mas existe, pelo menos, outro majorante de
A menor que β. No último caso, seja γ esse majorante. Então, fazendo ε = β − γ (> 0)
temos ∀x ∈ A, x ≤ γ = β − ε, que é a negação da hipótese.
1.2 Indução matemática 5

1.2 Indução matemática


Para demonstrar que certas propriedades são válidas no conjunto dos números natu-
rais, N, usa-se o Princı́pio de Indução Matemática que passamos a enunciar:
Uma propriedade é válida para todos os números naturais se:
1. A propriedade é válida para n = 1,
2. Para todo o n natural, se a propriedade é válida para n, então ela é válida para
n + 1.
EXEMPLO 1:Vamos mostrar, usando o Princı́pio de Indução Matemática, a fórmula da
soma de uma progressão geométrica:
n
X 1 − an
se a 6= 1 então p
a =a , ∀n ∈ N
p=1
1−a

1−a
1. Se n = 1, a fórmula é trivial: a = a1 = a .
1−a
2. Se admitirmos que a propriedade é válida para n, então:
n+1 n µ ¶
X
p
X
p n+1 1 − an n+1 1 − an n
a = a +a =a +a =a +a =
p=1 p=1
1−a 1−a

1 − an + an − an+1 1 − an+1
=a =a
1−a 1−a
EXEMPLO 2: Usando o Princı́pio de Indução Matemática, vamos demonstrar a seguinte
igualdade (Binómio de Newton):
n
X
(a + b) = n n
Cp an−p bp , ∀a, b ∈ R, ∀n ∈ N
p=0

1) Se n = 1, a propriedade é válida: a + b = 1 C0 a + 1 C1 b.
2) Vamos agora admitir que a propriedade é válida para n; então
n
X
n+1 n n
(a + b) = (a + b) (a + b) = (a + b) Cp an−p bp =
p=0

n
X n
X
n n+1−p p n
= Cp a b + Cp an−p bp+1 =
p=0 p=0

(fazendo p + 1 = s)
n
X n+1
X
n n+1−p p n
= Cp a b + Cs−1 an−s+1 bs =
p=0 s=1
6 1. Noções Topológicas, Indução Matemática e Sucessões

(como s é variável muda, podemos substituı́-la por p)


n
X n+1
X
n n+1−p p n
= Cp a b + Cp−1 an−p+1 bp =
p=0 p=1

n
X n
X
n+1 n n+1−p p n+1 n
=a + Cp a b +b + Cp−1 an−p+1 bp =
p=1 p=1
n
X
n+1 n+1
=a +b + ( n Cp + n Cp−1 ) an+1−p bp =
p=1
n
X
n+1 n+1 n+1
=a +b + Cp an+1−p bp =
p=1

n+1
X
n+1
= Cp an+1−p bp
p=0
1.3 Sucessões de números reais 7

1.3 Sucessões de números reais


Definição 1.3.1 Chama-se sucessão de números reais a toda a aplicação de N em R. Os
elementos do contradomı́nio chamam-se termos da sucessão. Ao contradomı́nio chama-se
conjunto dos termos da sucessão.

NOTA: É usual designarem-se os termos da sucessão por un , em detrimento da notação


u(n), habitual para as aplicações em geral.

Definição 1.3.2 A expressão designatória que define a sucessão chama-se termo geral
da sucessão.

EXEMPLO 1: un = n2

EXEMPLO 2: un = cos(n).

NOTA: Podem-se definir sucessões sem explicitar o termo geral. É o caso da definição
por recorrência. Exemplo: u1 = 1, u2 = 2, un+2 = un+1 + un (sucessão dos números de
Fibonacci).
Por vezes dão-se apenas alguns termos da sucessão que induzem o leitor a “inferir” os
restantes. Exemplo: 1, 1, 2, 1, 2, 3, 1, 2, 3, 4, . . .

Definição 1.3.3 Uma sucessão diz-se limitada superiormente se o conjunto dos seus
termos for majorado; diz-se limitada inferiormente se o conjunto dos seus termos for
minorado; diz-se limitada se o conjunto dos seus termos for limitado.

EXEMPLO 1: un = n2 é limitada inferiormente, mas não superiormente.

EXEMPLO 2: un = −n é limitada superiormente, mas não inferiormente.

EXEMPLO 3: un = (−n)n não é limitada superiormente nem inferiormente.

EXEMPLO 4: un = cos(n) é limitada.

Definição 1.3.4 Dadas duas sucessões de números reais u e v, chama-se soma, dife-
rença e produto de u e v às sucessões u+v, u−v e uv de termos gerais, respectivamente,
un + vn , un − vn e un vn . Se vn 6= 0, ∀n ∈ N, chama-se sucessão quociente de u e v à
sucessão u/v de termo geral un /vn .

Definição 1.3.5 Uma sucessão u diz-se crescente se un ≤ un+1 , ∀n ∈ N; diz-se estri-


tamente crescente se un < un+1 , ∀n ∈ N; diz-se decrescente se un ≥ un+1 , ∀n ∈ N;
diz-se estritamente decrescente se un > un+1 , ∀n ∈ N; diz-se monótona se for cres-
cente ou decrescente; diz-se estritamente monótona se for estritamente crescente ou
estritamente decrescente.
8 1. Noções Topológicas, Indução Matemática e Sucessões

EXEMPLO 1: un = n2 é estritamente crescente.

EXEMPLO 2: un = −n é estritamente decrescente.

EXEMPLO 3: un = (−n)n não é monótona.

Dadas duas sucessões u e v, se v é uma sucessão de números naturais, a composição


u ◦ v ainda é uma sucessão, de termo geral uvn . Por exemplo, se u é a sucessão 1, 2, 1,
3, 1, 4, . . . e vn = 2n − 1, então uvn = 1; se zn = 2n, então uzn = n + 1; se sn = 4, então
usn = 3.
Definição 1.3.6 Dadas duas sucessões u e w, dizemos que w é subsucessão de u se
existir v, sucessão de números naturais, estritamente crescente, tal que w = u ◦ v.
EXEMPLOS: Das sucessões consideradas anteriormente, u ◦ v e u ◦ z são subsucessões de
u, mas u ◦ s não é subsucessão de u.

NOTAS:
1. Toda a subsucessão de uma sucessão limitada é limitada.
2. Uma sucessão pode não ser limitada e ter subsucessões limitadas. Exemplo:
(
n, se n par
un = 1
, se n ı́mpar
n
3. Toda a subsucessão de uma sucessão monótona é monótona.
Definição 1.3.7 Diz-se que a sucessão u é um infinitamente grande (ou que tende
para +∞), e representa-se un → +∞, se
∀L ∈ R+ , ∃p ∈ N : n > p ⇒ un > L.
Diz-se que u é um infinitamente grande em módulo se |un | → +∞, isto é,
∀L ∈ R+ , ∃p ∈ N : n > p ⇒ |un | > L.
Diz-se que u tende para −∞, e representa-se un → −∞, se
∀L ∈ R+ , ∃p ∈ N : n > p ⇒ un < −L.

EXEMPLO 1: un = n2 → +∞.

EXEMPLO 2: un = −n → −∞.

EXEMPLO 3: Seja un = (−n)n . Então |un | = nn → +∞.


1.3 Sucessões de números reais 9

NOTAS:
1. Se u é tal que un → +∞, un → −∞ ou |un | → +∞ então u é não limitada. A
recı́proca não é verdadeira. Por exemplo, a sucessão
(
n, se n par
un = 1
, se n ı́mpar
n
é não limitada e un 6→ +∞, un 6→ −∞, |un | 6→ +∞

2. O facto de un → +∞ não implica que u seja crescente (nem que exista uma ordem
a partir da qual seja crescente). Exemplo: un = n + (−1)n .
Das definições, conclui-se imediatamente que
Teorema 1.3.1 Sejam u e v sucessões tais que, a partir de certa ordem, un ≤ vn . Então,
a) un → +∞ ⇒ vn → +∞,
b) vn → −∞ ⇒ un → −∞.

Definição 1.3.8 Sejam u uma sucessão e a ∈ R. Diz-se que u converge para a (ou
tende para a ou, ainda, que o limite da sucessão é a), e representa-se u n → a, se

∀ε > 0 ∃p ∈ N : n > p ⇒ |un − a| < ε.

µ ¶
1 1
EXEMPLO: un = → 0. De facto, seja ε > 0, qualquer; se tomarmos p = Int (se
n ε
x ∈ R, chamamos parte inteira de x ao maior inteiro menor ou igual a x e representamo-la
1 1
por Int(x)) então, para n > p tem-se ≤ < ε.
n p+1
NOTAS:
1. Em linguagem de vizinhanças, a definição é equivalente a:

∀ε > 0 ∃p ∈ N : n > p ⇒ un ∈ Vε (a).

2. Poderı́amos escrever ainda, de forma equivalente,

∀ε > 0 ∃p ∈ N : |un − a| < ε, ∀n > p.

3. Consideremos o conjunto R = R ∪ {−∞, +∞}, em que −∞ e +∞ são dois objectos


matemáticos, não reais e distintos um do outro. Podemos introduzir, neste conjunto,
a relação de ordem:
i) se x, y ∈ R, x < y em R se, e só se, x < y em R.
ii) −∞ < x < +∞, ∀x ∈ R.
10 1. Noções Topológicas, Indução Matemática e Sucessões

O conjunto R, com esta relação de ordem, designa-se por recta acabada.


Podemos estender a noção de vizinhança a R. Seja ε ∈ R, ε > 0. Se a ∈ R, chama-
-se vizinhança ε de a ao conjunto Vε (a) =]a − ε, a + ε[ (que coincide, pois,
¤ 1 com ¤a
vizinhança em R). Chama-se vizinhança ε de +∞ ao conjunto
£ V (+∞)
ε£ = ε
, +∞ .
1
Chama-se vizinhança ε de −∞ ao conjunto Vε (−∞) = −∞, − ε .
Com as definições dadas atrás, podemos unificar, do ponto de vista formal, as defi-
nições 1.3.7 e 1.3.8:

xn → a (a ∈ R) se, e só se, ∀ε > 0 ∃p ∈ N : n > p ⇒ un ∈ Vε (a).

Definição 1.3.9 Diz-se que a sucessão u é um infinitésimo se un → 0.

NOTA: É evidente, a partir das definições, que un → a é equivalente a un − a é um


infinitésimo.
Teorema 1.3.2 (Unicidade do limite) Se un → a e un → b então a = b.

Teorema 1.3.3 Se un → 0 e v é uma sucessão limitada, então un vn → 0.

Demonstração: Seja M > 0 tal que |vn | ≤ M, ∀n ∈ N. Dado δ > 0, qualquer, seja p ∈ N,
tal que |un | < δ/M, ∀n > p. Então |un vn | < δ, ∀n > p.

Teorema 1.3.4 Toda a sucessão convergente é limitada.

NOTA: A recı́proca não é verdadeira. Por exemplo, a sucessão un = cos(nπ) é limitada,


mas não é convergente.
Teorema 1.3.5 (Teorema das sucessões enquadradas) Se un → a, vn → a e, a partir de
certa ordem, un ≤ wn ≤ vn , então wn → a.
Demonstração: Seja ε > 0, qualquer. Então
∃p1 ∈ N : n > p1 ⇒ a − ε < un < a + ε,
∃p2 ∈ N : n > p2 ⇒ a − ε < vn < a + ε,
∃p3 ∈ N : n > p3 ⇒ un ≤ wn ≤ vn .
Seja p = max{p1 , p2 , p3 }. Se n > p, então
a − ε < un ≤ wn ≤ vn < a + ε.
Teorema 1.3.6 Toda a subsucessão de uma sucessão convergente é convergente para o
mesmo limite.

Teorema 1.3.7 Sejam u e v duas sucessões convergentes, un → a, vn → b. Então u + v,


u − v e uv são convergentes e un + vn → a + b, un − vn → a − b e un vn → a b. Se
vn 6= 0, ∀n ∈ N e b 6= 0, então u/v é convergente e un /vn → a/b.

Teorema 1.3.8 Um conjunto X ⊂ R é fechado se, e só se, todos os limites das sucessões
convergentes, de elementos de X, pertencem a X.
1.3 Sucessões de números reais 11

Teorema 1.3.9 Toda a sucessão monótona limitada é convergente.

NOTA: A recı́proca não é verdadeira, isto é, há sucessões não monótonas que são con-
1
vergentes. Exemplo: a sucessão un = (−1)n converge para 0 e não é monótona.
n
Teorema 1.3.10 Toda a sucessão limitada tem subsucessões convergentes.

Definição 1.3.10 Diz-se que a ∈ R é sublimite da sucessão u se existir uma subsucessão


de u que converge para a.

1
EXEMPLO: −1 e 1 são sublimites da sucessão un = (−1)n + .
n
NOTAS: Seja S o conjunto dos sublimites da sucessão u.

1. Pelo Teorema 1.3.10, se u é limitada, S 6= ∅;

2. S pode ser vazio; exemplo: un = n;

3. Se u for convergente, S é um conjunto singular (isto é, só com um elemento).

4. S pode ser singular e u não ser convergente; exemplo:


( 1
, se n par
un = n
n, se n ı́mpar.

5. S pode ser um conjunto infinito; por exemplo, dada a sucessão

1, 1, 2, 1, 2, 3, 1, 2, 3, 4, 1, 2, 3, 4, 5, . . .

então S = N.

Teorema 1.3.11 O conjunto dos sublimites de uma sucessão limitada tem máximo e
mı́nimo.

Definição 1.3.11 Sejam u uma sucessão limitada e S o conjunto dos sublimites de u.


Chama-se limite máximo ou limite superior de u ao máximo de S e representa-se
lim un = lim sup un = max(S). Chama-se limite mı́nimo ou limite inferior de u
ao mı́nimo de S e representa-se lim un = lim inf un = min(S). Se u não for limitada
superiormente, define-se lim un = +∞. Se u não for limitada inferiormente, define-se
lim un = −∞. Se un → +∞ define-se lim un = lim un = +∞. Se un → −∞ define-se
lim un = lim un = −∞.

Teorema 1.3.12 Uma sucessão limitada é convergente se, e só se, lim un = lim un .
12 1. Noções Topológicas, Indução Matemática e Sucessões

Definição 1.3.12 Uma sucessão u diz-se de Cauchy (ou fundamental) se

∀ε > 0 ∃p ∈ N : m, n > p ⇒ |un − um | < ε.

1 ¯1 1¯
EXEMPLO: un = é sucessão de Cauchy. De facto, sejam m, n > p; então ¯ − ¯ ≤
n n m
1 1 1 1 2 2
+ < + = . Seja ε > 0, qualquer; para concluir, basta tomarmos p > .
n m p p p ε
NOTA: Na definição de sucessão convergente, introduzimos um elemento externo à su-
cessão, o limite. A sucessão converge se, a partir de certa ordem, todos os elementos da
sucessão “estão perto” do limite. Na definição de sucessão de Cauchy apenas comparamos
os elementos da sucessão uns com os outros. Dizemos que a sucessão é de Cauchy se, a
partir de certa ordem, todos os elementos da sucessão “estão perto” uns dos outros.

Teorema 1.3.13 Uma sucessão real é convergente se, e só se, for de Cauchy.

NOTA: Este teorema permite-nos mostrar que uma sucessão é convergente sem ter que
calcular o seu limite. Consideremos a sucessão:
1 1 1
un = 1 + 2
+ 2 + ··· + 2
2 3 n
Podemos tomar, sem perda de generalidade, n > m; então
¯ 1 1 1¯ 1 1 1
|un − um | = ¯ 2
+ 2
+ ··· + 2¯ = 2
+ 2
+ ··· + 2 ≤
(m + 1) (m + 2) n (m + 1) (m + 2) n
1 1 1
≤ + + ··· + =
m(m + 1) (m + 1)(m + 2) (n − 1)n
µ ¶ µ ¶ µ ¶
1 1 1 1 1 1 1 1 1
= − + − + ··· − = − ≤
m m+1 m+1 m+2 n−1 n m n m
1
Se p > e n ≥ m > p, obtemos |un − um | < ε pelo que a sucessão é de Cauchy, portanto
ε
convergente.
Capı́tulo 2

Funções Reais de Variável Real:


Limites e Continuidade

2.1 Generalidades sobre funções reais de variável real


Definição 2.1.1

a) Dados dois conjuntos A e B chama-se função definida em A com valores em B, a


toda a correspondência entre A e B que a cada elemento de A faça corresponder um
e um só elemento de B. Ao conjunto A chama-se domı́nio da função.

b) Representa-se a função por y = f (x) em que x é a variável independente e toma


valores em A (x ∈ A) e y é a variável dependente, pois os seus valores dependem
dos valores que toma a variável x, que toma valores em B (y ∈ B).

c) À expressão ou fórmula que traduz o modo como a variável y depende da variável x


chama-se expressão analı́tica ou representação analı́tica da função f .

d) Uma função f diz-se real de variável real quando A ⊂ R e B ⊂ R.

Definição 2.1.2 Seja f uma função real de variável real.

a) Chama-se domı́nio de definição ou de existência de f ao conjunto dos valores


reais que têm imagem pela função f , isto é, ao conjunto dos números reais para os
quais a expressão analı́tica de f está bem definida.

b) Chama-se contradomı́nio de f ao conjunto dos valores reais que são imagem pela
função f dos elementos do domı́nio.

Definição 2.1.3 Dada uma função f : D ⊂ R → R, chama-se gráfico da função f ao


conjunto
{(x, y) : x ∈ D, y ∈ R, y = f (x)}.
14 2. Funções Reais de Variável Real: Limites e Continuidade

Definição 2.1.4 Uma função f : D ⊂ R → R diz-se:

a) crescente se x < y =⇒ f (x) ≤ f (y).

b) estritamente crescente se x < y =⇒ f (x) < f (y).

c) decrescente se x < y =⇒ f (x) ≥ f (y).

d) estritamente decrescente se x < y =⇒ f (x) > f (y).

Definição 2.1.5 Uma função diz-se

a) monótona se é crescente ou decrescente.

b) estritamente monótona se é estritamente crescente ou estritamente decrescente.

Definição 2.1.6 Uma função f : D ⊂ R → R diz-se:

a) par se f (x) = f (−x), ∀x ∈ D.

b) ı́mpar se f (x) = −f (−x), ∀x ∈ D.

Definição 2.1.7 Sejam f : D ⊂ R → R e c ∈ D. Diz-se que f (c) é um máximo de f


se f (x) ≤ f (c), ∀x ∈ D. A c chama-se ponto de máximo.

Definição 2.1.8 Sejam f : D ⊂ R → R e c ∈ D. Diz-se que f (c) é um mı́nimo de f


se f (x) ≥ f (c), ∀x ∈ D. A c chama-se ponto de mı́nimo.

Estes valores têm a designação comum de extremos de f . A Figura 2.1 ilustra as


definições anteriores.

Figura 2.1: Extremos de uma função.


2.1 Generalidades sobre funções reais de variável real 15

Definição 2.1.9 Uma função f : D ⊂ R → R diz-se limitada se

∃M ∈ R+ : |f (x)| ≤ M, ∀x ∈ D.

Por outras palavras, f é função limitada se o seu contradomı́nio é um conjunto limi-


tado.

Definição 2.1.10 Chamam-se zeros da função f os elementos x do domı́nio tais que


f (x) = 0.

Definição 2.1.11 Sejam f : D ⊂ R → R e A ⊂ D. A restrição de f a A, designada


por f|A , é a aplicação de A em R tal que f|A (x) = f (x) para cada x ∈ A.

Definição 2.1.12 Uma função f : D ⊂ R → B ⊂ R diz-se:

a) injectiva se x 6= y =⇒ f (x) 6= f (y).

b) sobrejectiva se ∀y ∈ B, ∃x ∈ D : f (x) = y.

c) bijectiva se é injectiva e sobrejectiva.


16 2. Funções Reais de Variável Real: Limites e Continuidade

2.2 Limites. Limites relativos


Definição 2.2.1 Seja f : D ⊂ R → R e a um ponto aderente ao domı́nio de f . Diz-se
que b é limite de f no ponto a (ou quando x tende para a), e escreve-se lim f (x) = b,
x→a
se
∀δ > 0 ∃ε > 0 : x ∈ D ∧ |x − a| < ε ⇒ |f (x) − b| < δ.

Em termos de vizinhanças:

lim f (x) = b ⇔ ∀δ > 0 ∃ε > 0 : x ∈ Vε (a) ∩ D ⇒ f (x) ∈ Vδ (b).


x→a

A Figura 2.2 sugere a interpretação geométrica de lim f (x) = b.


x→a

b+d
b
b-d

a-e a a+e x

Figura 2.2: Interpretação geométrica de lim f (x) = b.


x→a

Definição 2.2.2 Seja f : D ⊂ R → R e suponhamos que D não é majorado. Diz-se que


o limite de f quando x → +∞ é b se
1
∀δ > 0 ∃ε > 0 : x ∈ D ∧ x > ⇒ |f (x) − b| < δ
ε
e escreve-se lim f (x) = b.
x→+∞

Definição 2.2.3 Seja f : D ⊂ R → R e suponhamos que D não é minorado. Diz-se que


o limite de f quando x → −∞ é b se
1
∀δ > 0 ∃ε > 0 : x ∈ D ∧ x < − ⇒ |f (x) − b| < δ
ε
e escreve-se lim f (x) = b.
x→−∞
2.2 Limites. Limites relativos 17

Definição 2.2.4 Seja f : D ⊂ R → R e a um ponto aderente ao domı́nio de f . Diz-se


que o limite de f em a é +∞ se
1
∀δ > 0 ∃ε > 0 : x ∈ D ∧ |x − a| < ε ⇒ f (x) >
δ
e escreve-se lim f (x) = +∞.
x→a

Definição 2.2.5 Seja f : D ⊂ R → R e a um ponto aderente ao domı́nio de f . Diz-se


que o limite de f em a é −∞ se
1
∀δ > 0 ∃ε > 0 : x ∈ D ∧ |x − a| < ε ⇒ f (x) < −
δ
e escreve-se lim f (x) = −∞.
x→a

NOTA: As definições de lim f (x) = +∞, lim f (x) = +∞, lim f (x) = −∞ e
x→+∞ x→−∞ x→+∞
lim f (x) = −∞, podem dar-se de forma análoga. Em todo o caso, se tivermos em
x→−∞
conta a definição de vizinhança em R (ver página 9), podemos unificar todas as definições
do seguinte modo: se a, b ∈ R, diz-se que lim f (x) = b se
x→a

∀δ > 0 ∃ε > 0 : x ∈ Vε (a) ∩ D ⇒ f (x) ∈ Vδ (b).


Teorema 2.2.1 Se f : D ⊂ R → R e a ∈ R é um ponto aderente a D, então lim f (x) = b
x→a
se, e só se, para cada sucessão (xn ) de limite a, (xn ) ⊂ D, a sucessão (f (xn )) tem por
limite b.
NOTA: Observe-se que não exigimos que a seja ponto de acumulação de D. Se a é ponto
isolado de D então f tem limite igual a f (a) quando x → a. De facto, as únicas sucessões
de pontos do domı́nio que tendem para a são as sucessões que, a partir de certa ordem,
são constantemente iguais a a.
Teorema 2.2.2 O limite de f em a, quando existe, é único.
NOTAS:
1. Este teorema permite-nos usar a expressão “b é o limite de f (x) quando x tende
para a”, em vez de “b é limite de f (x) quando x tende para a” e permite que se use
a notação lim f (x) = b.
x→a

2. Se a ∈ D (isto é, f está definida em a), o limite b, se existe, coincide com f (a).
Com efeito, neste caso, a verifica as condições a ∈ D e |a − a| < ε ∀ε > 0, o que
implica que |f (a) − b| < δ, ∀δ > 0, ou seja, f (a) = b.

EXEMPLO: Consideremos a função f : R → R definida por


½ 2
x , se x 6= 0
f (x) =
1, se x = 0
(ver Figura 2.3).
18 2. Funções Reais de Variável Real: Limites e Continuidade

Figura 2.3

Não existe lim f (x). Como o domı́nio de f é R o limite, se existisse teria de ser igual
x→0
a f (0), como vimos na observação anterior. Terı́amos então de provar que

∀δ > 0 ∃ε > 0 : |x| < ε ⇒ |f (x) − 1| < δ.

Mas, se δ = 21 , qualquer que seja ε > 0, existe sempre x tal que |x| < ε e f (x) < 12 , o
que implica que |f (x) − 1| > 12 .

Teorema 2.2.3 Se lim f (x) = b e lim g(x) = c então:


x→a x→a

a) lim [f (x) + g(x)] = b + c;


x→a

b) lim [f (x) − g(x)] = b − c;


x→a

c) lim [f (x)g(x)] = b c;
x→a

f (x) b
d) Se c 6= 0, lim = .
x→a g(x) c

Teorema 2.2.4 Se lim f (x) = 0 e g é uma função limitada numa vizinhança de a então
x→a
lim [f (x)g(x)] = 0.
x→a

1
NOTA: O facto de g ser limitada é essencial. Por exemplo, se f (x) = x e g(x) = ,
x
lim f (x)g(x) = 1 6= 0, o que não contradiz o teorema, visto g não ser limitada.
x→0

Teorema 2.2.5 Sejam f : D ⊂ R → R e g : E ⊂ R → R tais que g(E) ⊂ D. Se


lim g(x) = b e lim f (x) = c então lim (f ◦ g)(x) = c.
x→a x→b x→a
2.2 Limites. Limites relativos 19

Definição 2.2.6 Sejam f : D ⊂ R → R e B um subconjunto próprio de D (isto é,


B ⊂ D e B 6= D). Suponhamos que a é um ponto aderente a B. Diz-se que f tem limite
b, quando x tende para a, segundo B, ou que b é o limite relativo a B de f quando x
tende para a, se o limite da restrição de f a B quando x tende para a é b. Designa-se
este limite por
lim f (x) = b ou lim f (x) = b.
x→a x→a, x∈B
x∈B

São importantes os limites relativos que se seguem:


1. B = D \ {a}. Diz-se então que f (x) tende para b quando x tende para a por
valores diferentes de a:
lim f (x) = b.
x→a
x 6= a

2. B = {x : x ∈ D ∧ x < a}. Neste caso escreve-se

lim f (x) = b ou lim f (x) = b ou f (a− ) = b


x→a x→a−
x<a

e diz-se limite à esquerda de f no ponto a.


3. B = {x : x ∈ D ∧ x > a}. Neste caso escreve-se

lim f (x) = b ou lim f (x) = b ou f (a+ ) = b


x→a x→a+
x>a

e diz-se limite à direita de f no ponto a.


Os limites à esquerda e à direita recebem a designação comum de limites laterais.
Para se poderem definir estes limites, o ponto a tem que ser ponto de acumulação de B.

NOTAS:
1. lim− f (x) = lim+ f (x) = b ⇔ lim f (x) = b. Mas pode existir só um dos limites
x→a x→a x→a
x 6= a
laterais (ou os dois com valores distintos) sem que exista lim f (x).
x→a
x 6= a

2. lim− f (x) = lim+ f (x) = b não implica que lim f (x) = b a não ser que f (a) = b. No
x→a x→a x→a
exemplo da página 17, f (0− ) = f (0+ ) = 0 e f (0) = 1.
3. lim f (x) não se distingue de lim f (x) quando a 6∈ D, devendo então a ser ponto
x→a x→a
x 6= a
de acumulação de D.
20 2. Funções Reais de Variável Real: Limites e Continuidade

EXEMPLO 1: Consideremos a função f : R → R definida por


½
0, se x < 2
f (x) =
1, se x ≥ 2

(ver Figura 2.4)

Figura 2.4

Verifica-se que lim− f (x) = 0 e lim+ f (x) = 1. Portanto, lim f (x) não existe, e
x→2 x→2 x→2
x 6= 2
consequentemente, também não existe lim f (x).
x→2
Se a < 2 então lim+ f (x) = lim− f (x) = lim f (x) = lim f (x) = 0.
x→a x→a x→a x→a
x 6= a
Se a > 2 então lim+ f (x) = lim− f (x) = lim f (x) = lim f (x) = 1.
x→a x→a x→a x→a
x 6= a

EXEMPLO 2: Consideremos a função f : R → R definida por


½
|x − 4|, se x 6= 4
f (x) =
2, se x = 4

(ver Figura 2.5)

Figura 2.5
2.2 Limites. Limites relativos 21

Verifica-se que lim− f (x) = 0 e lim+ f (x) = 0. Portanto, lim f (x) = 0, mas não
x→4 x→4 x→4
x 6= 4
existe lim f (x) porque f (4) = 2 6= 0.
x→4

EXEMPLO 3: Em R temos:
1 1 1
a) lim− = −∞ e lim+ = +∞; lim não existe.
x→a x − a x→a x − a x→a x − a

1 1 1
b) lim− 2
= +∞ e lim+ 2
= +∞; lim = +∞.
x→a (x − a) x→a (x − a) x→a (x − a)2

1 1
c) lim = 0 = lim .
x→+∞ x x→−∞ x
µ ¶y
1 1
d) lim+ (1 + x) x = lim 1 + = e.
x→0 y→+∞ y

Teorema 2.2.6 Seja f : D ⊂ R → R uma função monótona limitada. Então existem os


limites laterais f (a− ) e f (a+ ) em todo o ponto a onde esses limites possam ser definidos.
Demonstração: Suponhamos, por exemplo, que f é crescente. Seja
A = {x : x ∈ D ∧ x < a}.
Se a ∈ A queremos provar que existe f (a− ), isto é, queremos provar que existe um
b ∈ R tal que ∀δ > 0 ∃ε > 0 |x−a| < ε ∧ x < a ⇒ |f (x)−b| < δ. Como, por hipótese, f
é limitada, isto é, f (D) é um conjunto limitado e A ⊂ D, temos que f (A) é um conjunto
limitado. Pelo Teorema 1.1.2, f (A) tem supremo. Seja b = sup f (A) = sup f (x). Pelo
x∈A
Teorema 1.1.3,
∀δ > 0 ∃x0 ∈ A : f (x0 ) > b − δ.
Como f é crescente
f (x) ≥ f (x0 ) > b − δ ∀x ∈]x0 , a[ ∩ A.
Podemos então escrever
|f (x) − b| < δ ∀x : x ∈ A ∧ |x − a| < a − x0 .
Fazendo ε = a − x0 , concluı́mos que
∀δ > 0 ∃ε > 0 : x ∈ A ∧ |x − a| < ε ⇒ |f (x) − b| < δ,
isto é, lim− f (x) = b.
x→a
Para provar que existe f (a+ ) considera-se o inf f (x) e conclui-se que f (a+ ) =
x∈D
x>a
inf f (x).
x∈D
x>a
22 2. Funções Reais de Variável Real: Limites e Continuidade

Teorema 2.2.7 É condição necessária e suficiente para que f tenha limite finito no ponto
a que
∀δ > 0 ∃ε > 0 ∀x, y ∈ Vε (a) |f (x) − f (y)| < δ.
2.3 Continuidade: propriedades das funções contı́nuas. Teorema de Bolzano 23

2.3 Continuidade: propriedades das funções contı́-


nuas. Teorema de Bolzano
Definição 2.3.1 Sejam f : D ⊂ R → R e a ∈ D. Diz-se que f é contı́nua em a se
existir lim f (x).
x→a

Como vimos anteriormente, o facto de a ∈ D implica que lim f (x) = f (a). Podemos
x→a
escrever f é contı́nua em a se

∀δ > 0 ∃ε > 0 : x ∈ D ∧ |x − a| < ε ⇒ |f (x) − f (a)| < δ,


ou, em termos de vizinhanças

∀δ > 0 ∃ε > 0 : x ∈ Vε (a) ∩ D ⇒ f (x) ∈ Vδ (f (a)).


Os pontos em que uma função não é contı́nua dizem-se pontos de descontinuidade.

Definição 2.3.2 Sejam f : D ⊂ R → R e a ∈ D.

a) f é contı́nua à esquerda em a se f (a− ) = lim− f (x) = f (a).


x→a

b) f é contı́nua à direita em a se f (a+ ) = lim+ f (x) = f (a).


x→a

NOTAS:

1. Se f for contı́nua à esquerda e à direita no ponto a então f é contı́nua em a.

2. Se a for um ponto isolado, resulta da definição que f é contı́nua em a.

Teorema 2.3.1 Toda a função constante é contı́nua em todos os pontos do seu domı́nio.

Do Teorema 2.2.3, conclui-se facilmente:

Teorema 2.3.2 Se f e g são contı́nuas no ponto a então f + g, f − g e f g são contı́nuas


f
nesse ponto; se g(a) 6= 0 então também é contı́nua em a.
g

Analogamente, do Teorema 2.2.5 se deduz:

Teorema 2.3.3 Sejam f : D ⊂ R → R e g : E ⊂ R → R tais que g(E) ⊂ D. Se g é


contı́nua no ponto t0 e f é contı́nua no ponto x0 = g(t0 ), então f ◦ g é contı́nua em t0 .

Definição 2.3.3 Uma função f diz-se contı́nua no conjunto B ⊂ D se é contı́nua


em todos os pontos de B.
24 2. Funções Reais de Variável Real: Limites e Continuidade

Teorema 2.3.4 (Teorema do valor intermédio de Bolzano)


Seja f uma função contı́nua num intervalo I, a e b dois pontos de I tais que f (a) 6=
f (b). Então, qualquer que seja o número k estritamente compreendido entre f (a) e f (b),
existe pelo menos um ponto c, estritamente compreendido entre a e b, tal que f (c) = k.

Demonstração: Podemos supor, sem perda de generalidade, que a < b. Consideremos o


intervalo [a, b]. Como f (a) 6= f (b) teremos f (a) < f (b) ou f (a) > f (b). Admitamos que
f (a) < f (b). Seja k tal que f (a) < k < f (b).
Seja o conjunto C = {x : x ∈ [a, b] ∧ f (x) < k}. Como f (a) < k, a ∈ C, pelo que
C 6= ∅. Visto que b é um majorante de C podemos afirmar, pelo Teorema 1.1.2 que existe
c = sup C. Como C ⊂ [a, b], c ∈ [a, b]. Dado que f é contı́nua em [a, b] e c é aderente a
C, existem todos os limites relativos tendo-se, em particular,

lim f (x) = lim f (x) = f (c).


x→c x→c
x∈C

Mas se x ∈ C, f (x) < k, o que implica que lim f (x) = lim f (x) ≤ k, donde
x→c x→c
x∈C

f (c) ≤ k (2.1)

Por outro lado, c é um ponto aderente a [a, b] \ C. Como b ∈ [a, b] \ C este conjunto é
não vazio e
lim f (x) = lim f (x) = f (c).
x→c x→c
x ∈ [a, b] \ C

Mas se x ∈ [a, b] \ C, então f (x) ≥ k, o que implica que

lim f (x) = lim f (x) ≥ k,


x→c x→c
x ∈ [a, b] \ C

donde
f (c) ≥ k. (2.2)
De (2.1) e (2.2) conclui-se que f (c) = k.

NOTA: Se f não for contı́nua em [a, b], pode existir k ∈ [f (a), f (b)] tal que 6 ∃c ∈ [a, b] :
f (c) = k (ver Figura 2.6).

EXEMPLO: Seja f (x) = x3 − x2 + x. Usando o teorema anterior podemos provar que


existe c tal que f (c) = 10. De facto, como f é contı́nua em R podemos considerar a sua
restrição ao intervalo [0, 3] e facilmente se verifica que f (0) = 0 < 10 < f (3) = 21.
2.3 Continuidade: propriedades das funções contı́nuas. Teorema de Bolzano 25

f(b)

k
f(a)

a b x

Figura 2.6

Corolário 1 Se f é contı́nua em [a, b] e f (a) · f (b) < 0, então existe c ∈]a, b[ tal que
f (c) = 0.

Demonstração: Podemos supor, sem perda de generalidade, que f (a) < 0 e f (b) > 0.
Então f (a) < 0 < f (b). Como f é contı́nua em [a, b], o teorema anterior permite afirmar
que ∃c ∈]a, b[: f (c) = 0.

Corolário 2 A imagem de um intervalo, por uma função contı́nua, é também um inter-


valo.

Demonstração: Seja f : I ⊂ R → R. Se f (x) = c, ∀x ∈ I, isto é, se f é constante, o seu


contradomı́nio reduz-se a um ponto, intervalo do tipo [c, c], não havendo, portanto, nada
mais a provar.
Como facilmente se verifica, um conjunto J que contenha, pelo menos, dois pontos, é
um intervalo se, e só se, verifica a propriedade:

α, β ∈ J ∧ α < β =⇒ [α, β] ⊂ J

que é ainda equivalente a:

α, β ∈ J ∧ α < k < β =⇒ k ∈ J.

Suponhamos que f não é constante, que α, β ∈ f (I) e α < k < β; por definição,
existem a, b ∈ I tais que α = f (a) < k < f (b) = β. Pelo Teorema de Bolzano existe c,
estritamente compreendido entre a e b (portanto, c ∈ I), tal que f (c) = k, isto é, k ∈ f (I).

NOTA: O intervalo f (I) pode ser de tipo diferente do intervalo I como se pode ver nos
seguintes exemplos:
26 2. Funções Reais de Variável Real: Limites e Continuidade

1) f :] − ∞, +∞[→ [−1, 1], f (x) = sen(x)

1
2) f :] − ∞, +∞[→]0, 1], f (x) =
x2 +1

3) f :] − π2 , π2 [→] − ∞, +∞[, f (x) = tg(x)

Teorema 2.3.5 (Teorema de Weierstrass)


Se f é uma função contı́nua num intervalo fechado e limitado I, então f (I) é também
um intervalo fechado e limitado.
Demonstração: Pelo Corolário 2 do Teorema de Bolzano sabemos que f (I) é um intervalo.
Resta-nos então provar que é fechado e limitado. Dividimos a demonstração em duas
partes.
2.3 Continuidade: propriedades das funções contı́nuas. Teorema de Bolzano 27

a) f (I) é limitado.
b) f (I) é fechado.
a) Suponhamos que f (I) não é limitado. Então para cada n ∈ N existe xn ∈ I tal que
|f (xn )| ≥ n. Como I é limitado a sucessão (xn ) também é limitada, portanto, (xn ) tem
uma subsucessão (xnk ) convergente (Teorema 1.3.10). Seja x = lim f (xnk ); x ∈ I porque
n
I é fechado. Visto que f é contı́nua, lim f (xnk ) = f (x), mas esta conclusão é incompatı́vel
n
com a suposição |f (xn )| ≥ n ∀n ∈ N (Teorema 1.3.4)
b) Temos de provar que existem x0 e x1 ∈ I tais que f (x0 ) = sup f (x) e f (x1 ) =
x∈I
inf f (x).
x∈I
Suponhamos que não existe x0 ∈ I tal que f (x0 ) = sup f (x), isto é, L = sup f (x) não
x∈I x∈I
é atingido. Então L − f (x) 6= 0, ∀x ∈ I. Portanto,
1
g(x) =
L − f (x)
é uma função contı́nua em I. Provámos em a) que toda a função contı́nua num intervalo
limitado é limitada o que implica que g é limitada.
Pelo Teorema 1.1.3 temos que
∀δ > 0 ∃c ∈ I : f (c) > L − δ
⇒ ∀δ > 0 ∃c ∈ I : L − f (c) < δ
1 1
⇒ ∀δ > 0 ∃c ∈ I : g(c) = >
L − f (c) δ
o que contradiz o facto de g ser limitada. Analogamente, se prova a existência de x1 ∈ I
tal que f (x1 ) = inf f (x). Portanto, f (I) é fechado.
x∈I

Corolário 1 Toda a função contı́nua num intervalo fechado e limitado tem, nesse inter-
valo, um máximo e um mı́nimo.

NOTAS:
1. Os dois resultados anteriores mantêm-se válidos se substituirmos “intervalo fechado
limitado” por “conjunto fechado limitado não vazio”.
2. A hipótese intervalo (ou conjunto) fechado é necessária como se pode ver pelos
exemplos seguintes:
1) Seja f (x) = x. f é contı́nua em ] − 1, 1[ e não tem nesse intervalo máximo nem
mı́nimo.
( 1
, se x 6= 0
2) A função g(x) = x é contı́nua em ]0, 1], mas não tem máximo
0, se x = 0
nesse intervalo.
28 2. Funções Reais de Variável Real: Limites e Continuidade

µ ¶
1 1
3) A função h(x) = sen é contı́nua em ]0, 1] e não tem máximo nem mı́nimo
x x
nesse intervalo.

Teorema 2.3.6 Se f é uma função contı́nua e injectiva num intervalo I, então a função
inversa é também contı́nua.

Definição 2.3.4 Sejam F e f duas funções de domı́nios DF e Df , respectivamente. Diz-


-se que F é um prolongamento de f se Df ⊂ DF e F (x) = f (x), ∀x ∈ Df .

Definição 2.3.5 Seja a um ponto aderente a D (domı́nio de f ). Diz-se que f é pro-


longável por continuidade ao ponto a se existir um prolongamento F de f , com
domı́nio D ∪ {a}, sendo F contı́nua em a.

Teorema 2.3.7 Para que uma função f seja prolongável por continuidade ao ponto a, é
necessário e suficiente que tenha limite nesse ponto.

Existindo o limite, o prolongamento por continuidade é a função

g : Df ∪({a} → R
f (x), se x ∈ Df
g(x) = lim f (x), se x = a
x→a

sen(x)
EXEMPLO: Consideremos a função f : R \ {0} → R definida por f (x) = (ver
x
Figura 2.7). Sabemos que lim f (x) = 1.
x→0

Figura 2.7

Pelo teorema anterior f é prolongável por continuidade ao ponto 0 e o prolongamento


é a função g : R → R definida por:
(
sen(x)
g(x) = , se x 6= 0
x
1, se x = 0

Definição 2.3.6 Diz-se que f tem uma descontinuidade removı́vel no ponto a se


existir uma função g contı́nua em a, que apenas difere de f em a.
2.3 Continuidade: propriedades das funções contı́nuas. Teorema de Bolzano 29

EXEMPLO: Seja 
 x2 − 2x − 3
, se x 6= 3
f (x) =
 3, x − 3 se x = 3
Como lim f (x) = 4, f tem uma descontinuidade removı́vel em x = 3. A função
x→3
x 6= 3

 x2 − 2x − 3
, se x 6= 3
g(x) =
 4, x − 3 se x = 3
é contı́nua no seu domı́nio.
30 2. Funções Reais de Variável Real: Limites e Continuidade

2.4 Continuidade uniforme


Seja f uma função definida e contı́nua em D ⊂ R. Por definição de continuidade sabemos
que para cada x0 ∈ D se tem

∀δ > 0 ∃ε > 0 x ∈ D ∧ |x − x0 | < ε ⇒ |f (x) − f (x0 )| < δ.

Sabemos também que para um δ > 0 e x0 ∈ D o ε > 0 que existe não é único, pois se
0 < ε1 < ε então |x − x0 | < ε1 ⇒ |x − x0 | < ε e, portanto,

|x − x0 | < ε1 ⇒ |f (x) − f (x0 )| < δ.

Seja δ > 0 um número fixo. Consideremos o subconjunto de D formado pelos


pontos x1 , x2 , . . . , xk . Por definição de continuidade sabemos que existe um conjunto
{ε1 , ε2 , . . . , εk }, εi > 0, ∀i = 1, 2, . . . , k, tais que

x ∈ D ∧ |x − x1 | < ε1 ⇒ |f (x) − f (x1 )| < δ


x ∈ D ∧ |x − x2 | < ε2 ⇒ |f (x) − f (x2 )| < δ
..
.
x ∈ D ∧ |x − xk | < εk ⇒ |f (x) − f (xk )| < δ.

Dado que é finito, o conjunto {ε1 , ε2 , . . . , εk } tem mı́nimo ε > 0. Para este valor são
verdadeiras as implicações:

x ∈ D ∧ |x − xi | < ε ⇒ |f (x) − f (xi )| < δ, i = 1, 2, . . . , k,

isto é, conseguimos arranjar vizinhanças “uniformes” (de amplitude 2ε) dos pontos x 1 ,
x2 , . . . , xk de tal modo que as imagens dos pontos dessas vizinhanças estão a uma distância
inferior a δ do f (xi ) correspondente.
E se o conjunto dos pontos escolhido fosse infinito? Seria ainda possı́vel, dado δ > 0,
escolher um número ε > 0 nas condições anteriores? A resposta é, em geral, negativa.
Vejamos um exemplo.
1
Seja f (x) = e D =]0, 2[ (veja-se a Figura 2.8).
x

Figura 2.8
2.4 Continuidade uniforme 31

Figura 2.9
32 2. Funções Reais de Variável Real: Limites e Continuidade

1
Consideremos o conjunto {xn : xn = , n = 1, 2, 3, . . .} e seja δ > 0. Observando
n
δ
a definição de limite, para cada n, o maior εn que podemos tomar é εn =
n(n + δ)
δ
(Figura 2.9). Ora inf{εn : εn = } = 0, pelo que não existe ε > 0 tal que
n(n + δ)
|x − xn | < ε ⇒ |f (x) − f (xn )| < δ, n = 1, 2, 3, . . .

Concluı́mos assim que dado δ > 0 não podemos escolher ε > 0 que, na definição de
limite, seja válido simultaneamente para todos os xi , i = 1, 2, 3, . . ..

Definição 2.4.1 Sejam f : D ⊂ R → R e A ⊂ D. Diz-se que f é uniformemente


contı́nua em A se

∀δ > 0 ∃ε > 0 ∀x, y ∈ A, |x − y| < ε ⇒ |f (x) − f (y)| < δ.

EXEMPLO 1: A função f (x) = sen(x) é uniformemente contı́nua em R, isto é, é verda-


deira a proposição

∀δ > 0 ∃ε > 0 ∀x, y ∈ R, |x − y| < ε ⇒ |sen(x) − sen(y)| < δ.

De facto, sendo δ > 0 bastará escolher ε = δ e sabendo que |sen(x)| ≤ |x| ∀x ∈ R


temos: ¯ µ ¶ µ ¶¯
¯ x + y x − y ¯
|sen(x) − sen(y)| = ¯¯2 cos sen ¯
2 2 ¯
¯ µ ¶¯ ¯ µ ¶¯
¯ x + y ¯¯ x − y ¯
= 2 ¯¯cos ¯ ¯sen ¯
2 ¯¯ 2 ¯
¯ µ ¶¯
¯ x − y ¯
≤ 2 ¯¯sen ¯
2 ¯
¯ ¯
¯x − y ¯
≤ 2¯
¯ ¯ = |x − y|.
2 ¯
1
EXEMPLO 2: A função f (x) = não é uniformemente contı́nua em ]0, 2[, como vimos
x
atrás.

EXEMPLO 3: A função f (x) = x2 (Figura 2.10) não é uniformemente contı́nua em R,


isto é, é falsa a proposição

∀δ > 0 ∃ε > 0 ∀x, y ∈ R, |x − y| < ε ⇒ |x2 − y 2 | < δ.

Da igualdade |x2 − y 2 | = |x − y||x + y| podemos concluir que x e y podem estar tão


próximos quanto se queira e a diferença entre as suas imagens ser arbitrariamente grande
2.4 Continuidade uniforme 33

Figura 2.10

(basta pensar em pontos x e y cuja diferença seja sempre inferior a ε, mas que estejam
arbitrariamente longe da origem).
Os gráficos da Figura 2.11 procuram ilustrar esta situação.

Figura 2.11
34 2. Funções Reais de Variável Real: Limites e Continuidade

EXEMPLO 4: Provemos, a partir da definição, que a função f (x) = 7 − x2 é uniforme-


mente contı́nua em [−10, 1], isto é, que é verdadeira a proposição

∀δ > 0 ∃ε > 0 ∀x, y ∈ [−10, 1], |x − y| < ε ⇒ |7 − x2 − (7 − y 2 )| < δ.

Seja δ > 0. Como

|7 − x2 − (7 − y 2 )| = | − x2 + y 2 | = |x − y||x + y| ≤ 20|x − y|,

teremos
|x − y| < ε ⇒ |7 − x2 − (7 − y 2 )| < δ
δ
se ε < .
20

Definição 2.4.2 Sejam f : D ⊂ R → R e A ⊂ D. Diz-se que f é lipschitziana em A


se
∃M > 0 : |f (x) − f (y)| ≤ M |x − y|, ∀x, y ∈ A.

Teorema 2.4.1 Sejam f : D ⊂ R → R e A ⊂ D. Se f é lipschitziana em A, então f é


uniformemente contı́nua em A.
δ
Demonstração: Usando a definição, basta tomar ε = .
M

EXEMPLO 1: A função f (x) = x2 é lipschitziana em [0, 1]. De facto,

|x2 − y 2 | = |x + y| |x − y| ≤ (|x| + |y|) |x − y| ≤ 2 |x − y| ∀x, y ∈ [0, 1].

A função é pois uniformemente contı́nua em [0, 1]. Vimos atrás que f (x) = x2 não é
uniformemente contı́nua em R.
O facto da função ser uniformemente contı́nua depende do conjunto. É claro que se
uma função for uniformemente contı́nua num conjunto C é uniformemente contı́nua em
todos os subconjuntos de C.

EXEMPLO 2: Os cálculos efectuados atrás permitem-nos concluir que f (x) = 7 − x2 é


lipschitziana em [−10, 1].

Teorema 2.4.2 Sejam f : D ⊂ R → R e A ⊂ D. f é uniformemente contı́nua em A se,


e só se, para quaisquer sucessões (xn ) e (yn ) de elementos de A tais que lim (xn − yn ) = 0
n
se tem também lim (f (xn ) − f (yn )) = 0.
n

1
EXEMPLO 1: Consideremos novamente a função f (x) = no intervalo ]0, 1]. Sejam
x
1 1
xn = e yn = , n ∈ N. São sucessões de elementos do intervalo ]0, 1] e lim(xn − yn )
n 2n
2.4 Continuidade uniforme 35

µ ¶
1 1 1
= lim − = lim = 0. No entanto, lim(f (xn ) − f (yn )) = lim(n − 2n) =
n 2n 2n
lim(−n) = −∞, o que implica, pelo teorema anterior, que f não é uniformemente contı́nua
no intervalo considerado.

2

EXEMPLO
√ 2: Seja f (x) = x . Considerando as sucessões de números reais xn = n+1
e yn = n temos
√ √
lim(xn − yn ) = lim( √n + 1 − n) √
√ √
( n + 1 − n)( n + 1 + n)
= lim √ √
( n + 1 + n)
n+1−n
= lim √ √ =0
n+1+ n
e ¡√ √ ¢
lim(f (xn ) − f (yn )) = lim ( n + 1)2 − ( n)2
= lim (n + 1 − n) = 1,
portanto, f não é uniformemente contı́nua em R como tı́nhamos visto.

É evidente que se f é uniformemente contı́nua em A então a restrição de f a A é


contı́nua em A. A recı́proca não é verdadeira, tendo-se, no entanto, o seguinte teorema:

Teorema 2.4.3 (Teorema de Cantor)


Toda a função contı́nua num conjunto fechado limitado é uniformemente contı́nua.

Demonstração: Suponhamos que f é contı́nua, mas não uniformemente contı́nua, em X,


fechado limitado. Sendo falsa a proposição

∀δ > 0 ∃ε > 0 ∀x, y ∈ X, |x − y| < ε ⇒ |f (x) − f (y)| < δ

podemos afirmar que existe δ > 0 tal que, para qualquer ε > 0, existem x, y ∈ X, para
os quais se verifica

|x − y| < ε ∧ |f (x) − f (y)| ≥ δ.


Fixemos ε nos valores ε1 = 1, ε2 = 12 , . . . , εn = n1 . Teremos então

∃x1 , y1 ∈ X : |x1 − y1 | < 1 ⇒ |f (x1 ) − f (y1 )| ≥ δ


∃x2 , y2 ∈ X : |x2 − y2 | < 12 ⇒ |f (x2 ) − f (y2 )| ≥ δ
...
∃xn , yn ∈ X : |x2 − y2 | < n1 ⇒ |f (xn ) − f (yn )| ≥ δ.

Como (xn ) é uma sucessão de elementos de X e este conjunto é limitado podemos


concluir que (xn ) é limitada. Pelo Teorema 1.3.10, (xn ) tem uma subsucessão (xnk )
36 2. Funções Reais de Variável Real: Limites e Continuidade

convergente para um certo x ∈ R; além disso, x ∈ X porque X é fechado. Mas |xnk −ynk | <
1
, o que implica que ynk → x. Como f é contı́nua em X temos
nk
lim f (xnk ) = lim f (ynk ) = f (x),

o que implica que


lim (f (xnk ) − f (ynk )) = 0,
o que contradiz
|f (xnk ) − f (ynk )| ≥ δ > 0.

EXEMPLO: Seja f uma função contı́nua em R. Provemos que f é uniformemente


contı́nua em todo o subconjunto limitado de R.
Seja A ⊂ R um conjunto limitado. Se A for fechado, estamos nas condições do Teorema
de Cantor. Suponhamos que A não é fechado e l = inf(A) e L = sup(A). Consideremos o
intervalo [l, L]. É um subconjunto fechado limitado de R. Como f é contı́nua em R, f é
contı́nua em [l, L]. Pelo Teorema de Cantor, f é uniformemente contı́nua nesse intervalo,
sendo, portanto, uniformemente contı́nua em A ⊂ [l, L].
Capı́tulo 3

Funções Reais de Variável Real:


Cálculo Diferencial

3.1 Derivadas. Regras de derivação.


Definição 3.1.1 Sejam f : D ⊂ R → R e a um ponto interior a D. Chama-se derivada
de f no ponto a ao limite, se existir (em R),

f (x) − f (a)
lim
x→a x−a
f (a + h) − f (a)
ou, fazendo x − a = h, lim ·
h→0 h
df
Designa-se a derivada de f no ponto a por f 0 (a) ou (a). Se f tem derivada finita no
dx
ponto a, diz-se que f é diferenciável em a.

Designando por P e Qi , i = 1, 2, 3, 4, respectivamente, os pontos do gráfico de f que


têm abcissas a e xi , a razão
f (xi ) − f (a)
xi − a
é o declive da recta P Qi , secante ao gráfico de f (veja-se a Figura 3.1).
Se f é diferenciável no ponto a, chama-se tangente ao gráfico de f no ponto (a, f (a))
à recta que passa por este ponto e tem declive igual a f 0 (a); a recta tangente terá então
a equação:
y = f (a) + f 0 (a)(x − a).

Definição 3.1.2 Sejam f : D ⊂ R → R e a um ponto interior a D. Chama-se derivada


à esquerda de f no ponto a ao limite, se existir (em R),

f (x) − f (a)
lim−
x→a x−a
38 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial

Figura 3.1: Interpretação geométrica da derivada.

ou, fazendo x − a = h,
f (a + h) − f (a)
lim− ,
h→0 h
e designa-se por f 0 (a− ).
Chama-se derivada à direita de f no ponto a ao limite, se existir (em R),

f (x) − f (a)
lim+
x→a x−a
ou, fazendo x − a = h,
f (a + h) − f (a)
lim+ ,
h→0 h
e designa-se por f 0 (a+ ).

NOTA: É evidente que f 0 (a) existe se, e só se, existem e são iguais f 0 (a+ ) e f 0 (a− ).

EXEMPLO 1: Consideremos a função f : R → R definida por


½
x, se x ≥ 0
f (x) = |x| =
−x, se x < 0

cujo gráfico se apresenta na Figura 3.2.

f (x) − f (0) x
f 0 (0+ ) = lim+ = lim+ = 1;
x→0 x−0 x→0 x
f (x) − f (0) −x
f 0 (0− ) = lim− = lim− = −1.
x→0 x−0 x→0 x
Como f 0 (0+ ) 6= f 0 (0− ), f não tem derivada no ponto 0.
3.1 Derivadas. Regras de derivação. 39

Figura 3.2

EXEMPLO 2: A função f : R → R definida por


( ¡ ¢
x sen x1 , se x 6= 0
f (x) =
0, se x = 0

não tem derivadas laterais em x = 0 (ver Figura 3.3). De facto, a função definida por
¡ ¢ µ ¶
f (x) − f (0) x sen x1 1
= = sen
x−0 x x
não tem limite quando x → 0, não existindo sequer limites laterais.

Figura 3.3

EXEMPLO 3: A função f : R → R definida por f (x) = 3
x (ver Figura 3.4) tem derivada
+∞ em x = 0, pois
40 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial

√ r
0 + x 3
x 1
f (0 ) = lim+ = lim+ 3
= lim+ √ = +∞
x→0 x x→0 x3 x→0
3
x2
√ r
0 −
3
x x 1
f (0 ) = lim− = lim− 3
= lim− √ = +∞
x→0 x x→0 x3 x→0
3
x2
f não é, pois, diferenciável em 0.

Figura 3.4

EXEMPLO 4: A função f : R → R definida por f (x) = x2 , e cujo gráfico se apresenta
3

na Figura 3.5, não tem derivada em 0. De facto,



3
r
x 2 2
3 x 1
f 0 (0+ ) = lim+ = lim+ 3
= lim+ √ = +∞
x→0 x x→0 x x→0 3
x

3
r
x 2 2
3 x 1
f 0 (0− ) = lim− = lim− 3
= lim− √ = −∞
x→0 x x→0 x x→0 3
x

Figura 3.5
3.1 Derivadas. Regras de derivação. 41

Teorema 3.1.1 Sejam f : D ⊂ R → R e a um ponto interior a D. Se f é diferenciável


no ponto a, então f é contı́nua em a.
f (x) − f (a)
Demonstração: Podemos escrever f (x) = f (a) + (x − a) ∀x ∈ D \ {a}.
x−a
Então
µ ¶
f (x) − f (a)
lim f (x) = lim f (a) + (x − a) = f (a) + 0.f 0 (a) = f (a),
x→a x→a x−a
ou seja, f é contı́nua no ponto a.

NOTAS:
1. Uma função pode ser contı́nua num dado ponto e não ter derivada nesse ponto (ver
o exemplo anterior).

2. Se a derivada for infinita, a função pode não ser contı́nua.

Teorema 3.1.2 Se f e g são funções diferenciáveis em a, então f + g e f · g são funções


diferenciáveis em a, e
(f + g)0 (a) = f 0 (a) + g 0 (a)
(f · g)0 (a) = f 0 (a) · g(a) + f (a) · g 0 (a).
Se, além disso, g(a) 6= 0, então f /g é diferenciável em a e
µ ¶0
f f 0 (a) · g(a) − f (a) · g 0 (a)
(a) = .
g (g(a))2

Demonstração: Sendo finitas as derivadas f 0 (a) e g 0 (a), teremos no caso da soma:

(f + g)(x) − (f + g)(a)
(f + g)0 (a) = lim
x→a x−a

f (x) + g(x) − f (a) − g(a)


= lim
x→a x−a
µ ¶
f (x) − f (a) g(x) − g(a)
= lim +
x→a x−a x−a

f (x) − f (a) g(x) − g(a)


= lim + lim
x→a x−a x→a x−a

= f 0 (a) + g 0 (a)

o que mostra que f + g é diferenciável em a.


42 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial

Para o produto, temos


(f · g)(x) − (f · g)(a)
(f · g)0 (a) = lim
x→a x−a

f (x) · g(x) − f (a) · g(a)


= lim
x→a x−a

f (x) · g(x) − f (a) · g(x) + f (a) · g(x) − f (a) · g(a)


= lim
x→a x−a

(f (x) − f (a)) · g(x) + f (a) · (g(x) − g(a))


= lim
x→a x−a
µ ¶
f (x) − f (a) g(x) − g(a)
= lim g(x) · + f (a) ·
x→a x−a x−a

f (x) − f (a) g(x) − g(a)


= lim g(x) · lim + f (a) · lim
x→a x→a x−a x→a x−a

= g(a) · f 0 (a) + f (a) · g 0 (a)

onde se usou o facto de a diferenciabilidade de g em a implicar a sua continuidade no


mesmo ponto.
Finalmente, para o quociente podemos começar por considerar o caso particular de f
ser a função constante com o valor 1 em todos os pontos do seu domı́nio. Obtemos então:
µ ¶ µ ¶
1 1 1 1
µ ¶0 (x) − (a) −
1 g g g(x) g(a)
(a) = lim = lim
g x→a x−a x→a x−a

g(a) − g(x)
µ ¶
g(x) · g(a) g(x) − g(a) 1
= lim = lim · −
x→a x−a x→a x−a g(x) · g(a)

1 1 g(x) − g(a) 1 1
= − · lim · lim =− · · g 0 (a)
g(a) x→a g(x) x→a x−a g(a) g(a)

g 0 (a)
= − .
(g(a))2
f 1
Portanto, notando que = f · , temos:
g g
3.1 Derivadas. Regras de derivação. 43

µ ¶0 µ ¶ µ ¶0
f 0 1 1
(a) = f (a) · (a) + f (a) · (a)
g g g

f 0 (a) · g(a) − f (a) · g 0 (a)


= .
(g(a))2

Corolário 1 Se f1 , f2 , . . . , fp são funções diferenciáveis no ponto a, a sua soma e o seu


produto também o são e verificam-se as igualdades:

(f1 + f2 + · · · + fp )0 (a) = f10 (a) + f20 (a) + · · · + fp0 (a)


p
X
0
(f1 · f2 · · · fp ) (a) = f1 (a) · · · fi0 (a) · · · fp (a).
i=1

Em particular, se p ∈ N e f é diferenciável em a também o é a função h(x) = (f (x)) p


e tem-se
h0 (a) = p · (f (a))p−1 · f 0 (a).

Teorema 3.1.3 Se g : E → R é diferenciável no ponto a e f : D → R é diferenciável no


ponto b = g(a), então f ◦ g é diferenciável em a e

(f ◦ g)0 (a) = f 0 (b) · g 0 (a) = f 0 (g(a)) · g 0 (a).

Teorema 3.1.4 Sejam I um intervalo, f : I → R uma função estritamente monótona e


contı́nua, g : J = f (I) → R a sua inversa. Se f é diferenciável no ponto a e f 0 (a) 6= 0,
então g é diferenciável em b = f (a) e

1 1
g 0 (b) = = .
f 0 (a) f 0 (g(b))

EXEMPLO 1: Consideremos a função g(x) = arc sen(x), função inversa da função f (x) =
sen(x) no intervalo [− π2 , π2 ]. Teremos então

1 1 1 1 1
g 0 (x) = = = =p =√ .
f 0 (g(x)) cos(g(x)) cos(arc sen(x)) 2
1 − sen (arc sen(x)) 1 − x2

EXEMPLO 2: Consideremos a função g(x) = arc cos(x), função inversa da função f (x) =
cos(x) no intervalo [0, π]. Teremos então

1 1 1
g 0 (x) = =− =−
f 0 (g(x))
sen(g(x)) sen(arc cos(x))
1 1
= −p = −√ .
1 − cos2 (arc cos(x)) 1 − x2
44 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial

De forma análoga se pode mostrar que


1
(arc tg(x))0 =
1 + x2
e
1
(arc cotg(x))0 = − .
1 + x2

Se f : D ⊂ R → R é uma função diferenciável em todos os pontos de A ⊂ D, podemos


definir a função que a cada x de A faz corresponder f 0 (x). Obtemos, assim, uma nova
função, de domı́nio A, que representamos por f 0 e a que chamamos função derivada (ou
apenas derivada) de f em A.
De modo análogo, se f 0 for diferenciável em A, definimos f 00 = (f 0 )0 (segunda derivada);
se f 00 for diferenciável em A, definimos f 000 = (f 00 )0 , . . . se f (n−1) (derivada de ordem n − 1)
for diferenciável em A, definimos f (n) = (f (n−1) )0 , derivada de ordem n de f em A.

Definição 3.1.3 Se f 0 for contı́nua em A, dizemos que f é de classe C1 em A e


representamos por f ∈ C 1 (A).
Se n ∈ N e f (n) é contı́nua em A, dizemos que f é de classe Cn em A e representamos
por f ∈ C n (A).
Se f ∈ C n (A), ∀n ∈ N, dizemos que f é de classe C∞ e representamos por f ∈
C ∞ (A).

EXEMPLO 1: As funções f (x) = cos(x), g(x) = sen(x) e h(x) = ex são de classe C ∞ em


R.

EXEMPLO 2: A função
 µ ¶
 x2 sen 1 , se x 6= 0
f (x) = x

0, se x = 0

é diferenciável em R,
 µ ¶ µ ¶
 2 x sen 1 − cos 1 , se x 6= 0
f 0 (x) = x x

0, se x = 0

e f 0 não é contı́nua em 0. Temos, assim, f ∈


/ C 1 (R).

EXEMPLO 3: Se f (n) (x) e g (n) (x) existem, tem-se obviamente,

(f + g)(n) (x) = f (n) (x) + g (n) (x).


3.1 Derivadas. Regras de derivação. 45

EXEMPLO 4: A derivada de ordem n do produto de duas funções obtém-se pela fórmula


de Leibnitz: n
X
(n) n
(f g) (x) = Cp f (p) (x) g (n−p) (x),
p=0

onde se convenciona f (0) (x) = f (x). A demonstração desta propriedade faz-se facilmente,
por indução em n, usando a regra de derivação do produto.

Definição 3.1.4 Seja f : D ⊂ R → R, diferenciável num ponto a interior a D. Chama-


se diferencial da função f no ponto a à aplicação linear df (a) : R → R dada por
df (a)(h) = f 0 (a) · h.

Teorema 3.1.5 Sejam f e g duas funções diferenciáveis. Então:

a) d(f + g) = df + dg

b) d(f g) = g df + f dg

c) d(f n ) = n f n−1 df
f g df − f dg
d) d( ) =
g g2
e) d((g ◦ f )(x)) = g 0 (f (x)) · df (x)
46 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial

3.2 Teoremas Fundamentais: Rolle, Darboux, La-


grange e Cauchy.
Definição 3.2.1 Seja f : D ⊂ R → R.

a) Diz-se que f tem um mı́nimo local (ou relativo) em a ∈ D (ou que f (a) é um
mı́nimo local, ou relativo, de f ) se existir uma vizinhança V de a tal que f (x) ≥
f (a), ∀x ∈ V ∩ D.

b) Diz-se que f tem um máximo local (ou relativo) em a ∈ D (ou que f (a) é um
máximo local, ou relativo, de f ) se existir uma vizinhança V de a tal que f (x) ≤
f (a), ∀x ∈ V ∩ D.

Aos máximos e mı́nimos relativos dá-se a designação comum de extremos relativos


(ver Figura 3.6).

Figura 3.6: Extremos relativos.

Teorema 3.2.1 Seja f : D ⊂ R → R. Se f (a) for mı́nimo relativo e existirem derivadas


laterais em a, então f 0 (a− ) ≤ 0 e f 0 (a+ ) ≥ 0. Se f for diferenciável em a, então f 0 (a) = 0.

Demonstração: Se f (a) é um mı́nimo relativo então, por definição, ∃ε > 0 : f (x) ≥ f (a)
∀x ∈ Vε (a) ∩ D. Mas

f (x) − f (a)
≤ 0 ∀x ∈]a − ε, a[ ∩ D,
x−a
o que implica que
f (x) − f (a)
lim− ≤ 0,
x→a x−a
0 −
isto é, f (a ) ≤ 0.
3.2 Teoremas Fundamentais: Rolle, Darboux, Lagrange e Cauchy. 47

Analogamente,
f (x) − f (a)
≥ 0 ∀x ∈]a, a + ε[ ∩ D,
x−a
o que implica que
f (x) − f (a)
lim+ ≥ 0,
x→a x−a
0 +
isto é, f (a ) ≥ 0.

Teorema 3.2.2 Se f (a) for máximo relativo e existirem derivadas laterais em a, então
f 0 (a− ) ≥ 0 e f 0 (a+ ) ≤ 0. Se f for diferenciável em a, então f 0 (a) = 0.

NOTA: Se f é diferenciável, a condição f 0 (a) = 0 é necessária, mas não suficiente para


que f tenha um extremo em a. Consideremos, por exemplo, a função f (x) = x3 ; f 0 (0) = 0
e f não tem extremo em 0.

Teorema 3.2.3 (Teorema de Rolle)


Seja f uma função contı́nua no intervalo [a, b] (a, b ∈ R, a < b) e diferenciável em
]a, b[. Se f (a) = f (b), então existe c ∈]a, b[ tal que f 0 (c) = 0.

Demonstração: Pelo Teorema de Weierstrass, a função f , contı́nua no intervalo [a, b], tem
máximo M e mı́nimo m neste intervalo. Se M = m então f é constante em [a, b] e,
portanto, f 0 (x) = 0 ∀x ∈]a, b[, não havendo mais nada a provar.
Se M 6= m, a hipótese f (a) = f (b) implica que ou o máximo ou o mı́nimo é atingido
num ponto c ∈]a, b[. Então, pelos teoremas anteriores, f 0 (c) = 0.

Geometricamente, o teorema afirma que na representação gráfica da função há pelo


menos um ponto em que a tangente é paralela ao eixo dos xx (ver Figura 3.7).

Figura 3.7: Interpretação geométrica do Teorema de Rolle.

Corolário 1 Entre dois zeros de uma função diferenciável num intervalo há, pelo menos,
um zero da sua derivada.
48 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial

Corolário 2 Entre dois zeros consecutivos da derivada de uma função diferenciável num
intervalo existe, no máximo, um zero da função.

Teorema 3.2.4 (Teorema de Darboux)


Seja I ⊂ R um intervalo aberto, f : I → R uma função diferenciável em I. Se
existirem a, b ∈ I, a < b, tais que f 0 (a) 6= f 0 (b) então, para todo o k entre f 0 (a) e f 0 (b),
existe c ∈]a, b[ tal que f 0 (c) = k.

Demonstração: Começamos por fazer a demonstração num caso especial e, usando este,
passaremos ao caso geral.
Suponhamos que
f 0 (a) < k = 0 < f 0 (b). (3.1)
Como f é diferenciável em I, é contı́nua em I, pelo que é contı́nua em [a, b] e, portanto,
f (x) − f (a)
f tem um ponto de mı́nimo em [a, b]. Visto que f 0 (a) = lim < 0, existe
x→a x−a
f (x) − f (a)
ε1 > 0 tal que < 0, ∀x ∈]a, a + ε1 [, pelo que f (x) < f (a), ∀x ∈]a, a + ε1 [.
x−a
Analogamente se mostra que existe ε2 > 0 tal que f (x) < f (b), ∀x ∈]b − ε2 , b[. Conclui-se,
assim, que nem a nem b são ponto de mı́nimo de f em [a, b], isto é, existe c ∈]a, b[ onde f
atinge o seu mı́nimo em [a, b]; como f é diferenciável, f 0 (c) = 0. Fica assim demonstrado
o teorema no caso especial de (3.1).
Obviamente, a demonstração no caso

f 0 (a) > k = 0 > f 0 (b) (3.2)

seria semelhante (mostrar-se-ia, neste caso, que existe um ponto de máximo diferente de
a e b).
Passemos ao caso geral. Suponhamos que

f 0 (a) < k < f 0 (b). (3.3)

A função g(x) = f (x)−kx é diferenciável em I (g 0 (x) = f 0 (x)−k) e g 0 (a) = f 0 (a)−k <


0 < f 0 (b) − k; estamos assim nas condições do caso (3.1): existe c ∈]a, b[ tal que g 0 (c) = 0,
isto é, f 0 (c) = k.
O caso
f 0 (a) > k > f 0 (b) (3.4)
resolve-se com a mesma técnica, usando (3.2).
3.2 Teoremas Fundamentais: Rolle, Darboux, Lagrange e Cauchy. 49

NOTAS:

1. Apenas com a condição de diferenciabilidade no intervalo (não se pede que a derivada


seja contı́nua!), mostra-se que a derivada verifica uma propriedade semelhante à do
Teorema de Bolzano.

2. A derivada pode não ser contı́nua. Por exemplo, a função:


 µ ¶
 2 1
x sen , se x 6= 0
f (x) = x

0, se x = 0

é diferenciável em R:
 µ ¶ µ ¶
 1 1
0 2 x sen − cos , se x 6= 0
f (x) = x x

0, se x = 0

e f 0 não é contı́nua em 0.

Teorema 3.2.5 (Teorema de Lagrange)


Seja f uma função contı́nua no intervalo [a, b] (a, b ∈ R, a < b) e diferenciável em
]a, b[. Então existe c ∈]a, b[ tal que

f (b) − f (a)
f 0 (c) = .
b−a
Demonstração: A função
f (b) − f (a)
ϕ(x) = f (x) − x
b−a
é contı́nua em [a, b] e diferenciável em ]a, b[. Além disso, ϕ(a) = ϕ(b). Pelo Teorema de
Rolle existe c ∈]a, b[ tal que ϕ0 (c) = 0. Mas

f (b) − f (a)
ϕ0 (x) = f 0 (x) − ,
b−a
o que implica
f (b) − f (a) f (b) − f (a)
ϕ0 (c) = 0 ⇔ f 0 (c) − = 0 ⇔ f 0 (c) = .
b−a b−a
Geometricamente, o teorema anterior afirma que na representação gráfica da função
há pelo menos um ponto em que a tangente é paralela à corda que une os pontos (a, f (a))
e (b, f (b)) (ver Figura 3.8).

NOTA: O Teorema de Rolle é um caso particular deste teorema. Trata-se do caso em


que f (a) = f (b).
50 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial

Figura 3.8: Interpretação geométrica do Teorema de Lagrange.

Corolário 1 Se f tem derivada nula em todos os pontos de um intervalo, então é cons-


tante nesse intervalo.
Corolário 2 Se f e g são duas funções diferenciáveis num intervalo I e se f 0 (x) =
g 0 (x), ∀x ∈ I, então a diferença f − g é constante em I.
Corolário 3 Se I é um intervalo e f 0 (x) ≥ 0 (respectivamente, f 0 (x) ≤ 0), ∀x ∈ I,
então f é crescente (respectivamente, decrescente) em I; se f 0 (x) > 0 (respectivamente,
f 0 (x) < 0) ∀x ∈ I, então f é estritamente crescente (respectivamente, decrescente) em I.
Teorema 3.2.6 (Teorema do valor médio de Cauchy)
Se f e g são funções contı́nuas em [a, b], diferenciáveis em ]a, b[ e g 0 (x) não se anula
em ]a, b[, então existe c ∈]a, b[ tal que
f 0 (c) f (b) − f (a)
0
= .
g (c) g(b) − g(a)
Demonstração: Consideremos a função
f (b) − f (a)
ϕ(x) = f (x) − g(x).
g(b) − g(a)
Pelo Teorema de Rolle, g(a) 6= g(b) visto que g 0 (x) 6= 0 ∀x ∈]a, b[, pelo que ϕ está bem
definida; além disso, ϕ é contı́nua em [a, b] e diferenciável em ]a, b[. Como ϕ(a) = ϕ(b),
pelo Teorema de Rolle existe c ∈]a, b[ tal que ϕ0 (c) = 0. Mas
f (b) − f (a) 0
ϕ0 (x) = f 0 (x) − g (x)
g(b) − g(a)
o que implica
f (b) − f (a) 0 f (b) − f (a) 0
ϕ0 (c) = 0 ⇔ f 0 (c) − g (c) = 0 ⇔ f 0 (c) = g (c).
g(b) − g(a) g(b) − g(a)
3.2 Teoremas Fundamentais: Rolle, Darboux, Lagrange e Cauchy. 51

Como g 0 (x) 6= 0 ∀x ∈]a, b[ e c ∈]a, b[ temos

f 0 (c) f (b) − f (a)


0
= .
g (c) g(b) − g(a)

NOTA: O Teorema de Lagrange é um caso particular deste teorema com g(x) = x.


52 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial

3.3 Indeterminações
A partir do Teorema de Cauchy pode-se demonstrar a seguinte regra que é muito usada
f 0 ∞
no cálculo do limite de um quociente quando assume a forma ou .
g 0 ∞

Teorema 3.3.1 (Regra de Cauchy)


Sejam f e g duas funções diferenciáveis em ]a, b[ (a < b) tais que

a) g 0 (x) 6= 0, ∀x ∈]a, b[,

b) lim f (x) = lim g(x) = 0 ou lim f (x) = lim g(x) = +∞;


x→a x→a x→a x→a

f 0 (x) f (x)
então, se existir lim 0
, também existe lim e estes limites são iguais.
x→a g (x) x→a g(x)

Corolário 1 Sejam I um intervalo aberto, c ∈ I, f e g duas funções diferenciáveis em


I \ {c}. Se g 0 (x) 6= 0, ∀x ∈ I \ {c}, e lim f (x) = lim g(x) = 0 ou lim f (x) = lim g(x) =
x→c x→c x→c x→c
+∞, então
f (x) f 0 (x)
lim = lim 0
x→c g(x) x→c g (x)
x6=c x6=c

sempre que o segundo limite exista (em R).

f (x) f 0 (x)
NOTA: Convém notar que pode existir lim e não existir lim 0 . É o que
x→a g(x) x→a g (x)
acontece com as funções
µ ¶
2 1
f (x) = x cos , g(x) = x.
x
µ ¶ µ ¶ µ ¶
f (x) 1 f 0 (x) 1 1
De facto, lim = lim x cos =0e 0 = 2x cos + sen pelo que não
x→0 g(x) x→0 x g (x) x x
f 0 (x)
existe lim 0 .
x→0 g (x)

sen(x)
EXEMPLO 1: Consideremos a função h definida por . Ao calcular lim h(x) en-
x x→0
0
contramos a indeterminação . Sendo f (x) = sen(x) e g(x) = x, estamos nas condições
0
da regra de Cauchy. Como

f 0 (x)
lim = lim cos(x) = 1,
x→0 g 0 (x) x→0

podemos concluir que lim h(x) = 1.


x→0
3.3 Indeterminações 53

ex − 1 ex − 1 0
EXEMPLO 2: Seja h(x) = . No cálculo de lim surge a indeterminação .
x x→0 x 0
Tomando f (x) = ex − 1 e g(x) = x estamos nas condições da regra de Cauchy. Como

(ex − 1)0
lim = lim ex = 1
x→0 (x)0 x→0

ex − 1
podemos concluir que lim = 1.
x→0 x

tg(x) − 5 ∞
EXEMPLO 3: Ao calcular limπ h(x) = limπ obtemos a indeterminação ·
x→ 2 x→ 2 sec(x) + 4 ∞
Considerando f (x) = tg(x) − 5 e g(x) = sec(x) + 4, estamos nas condições da regra de
Cauchy. Como

f 0 (x) sec2 (x) sec(x) 1


limπ 0 = limπ = limπ = limπ = 1,
x→ 2 g (x) x→ 2 sec(x) tg(x) x→ 2 tg(x) x→ 2 sen(x)

podemos concluir que


tg(x) − 5
limπ = 1.
x→ 2 sec(x) + 4

3x − 2 x 3x − 2 x
EXEMPLO 4: Seja h(x) = . Ao calcular lim encontramos a indetermi-
x x→0 x
0
nação . Considerando f (x) = 3x − 2x , g(x) = x e aplicando a regra de Cauchy obtemos
0
µ ¶
3x − 2 x 3
lim = log ,
x→0 x 2
pois µ ¶
f 0 (x) 3
lim 0 = lim (3x log(3) − 2x log(2)) = log(3) − log(2) = log .
x→0 g (x) x→0 2

EXEMPLO 5 : A indeterminação 0 × ∞ surge ao calcularmos lim+ h(x) = lim+ xα log(x),


x→0 x→0
com α > 0. Como
log(x)
lim+ h(x) = lim+ xα log(x) = lim+ 1
x→0 x→0 x→0

e
1
(log(x))0 x xα
lim+ ¡ 1 ¢0 = lim+ α = − lim+ = 0,
x→0 x→0 − xα+1 x→0 α

podemos concluir que lim+ h(x) = 0.


x→0
54 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial

NOTAS:

1. Pode-se demonstrar a partir da Regra de Cauchy o seguinte resultado, útil quando se


pretende estudar a diferenciabilidade de uma função: Sejam f uma função contı́nua
num intervalo I e a um ponto de I. Se f é diferenciável num intervalo ]a, b[⊂ I e
existe lim+ f 0 (x) então f tem derivada à direita no ponto a e f 0 (a+ ) = lim+ f 0 (x).
x→a x→a
0 + f (x) − f (a)
Para tal basta notar que f (a ) = lim+ e aplicar a regra de Cauchy.
x→a x−a
Obviamente, existe um resultado análogo para a derivada à esquerda.

2. Os sı́mbolos 0 × ∞ e ∞ − ∞ que podem surgir no cálculo do limite de um produto


0 ∞
f · g ou de uma soma f + g reduzem-se a ou pelas transformações:
0 ∞
1 1
+
f g f g
f ·g = = e f +g =
1 1 1
g f f ·g

Outra regra importante no estudo de limites, mas que é aplicável somente ao sı́mbolo
0
, é a seguinte:
0

Teorema 3.3.2 (Regra de l’Hospital)


Sejam f e g duas funções definidas num intervalo I, diferenciáveis em a ∈ I e
f (x)
g(x) 6= 0, ∀x ∈ I \ {a}. Se f (a) = g(a) = 0 e g 0 (a) 6= 0, então tem limite
g(x)
no ponto a e
f (x) f 0 (a)
lim = 0 .
x→a g(x) g (a)

As indeterminações 1∞ , 00 e ∞0 surgem do cálculo de limites de funções f g e reduzem-


se às indeterminações do tipo 0 × ∞ fazendo:
g
f g = e log(f ) = e g · log(f ) .

Da continuidade da função exponencial conclui-se que:


h
g(x)
i lim g(x) · log(f (x))
lim (f (x)) = e x→a .
x→a

EXEMPLO 1: Consideremos a função h(x) = xx . A indeterminação que surge ao calcular


lim+ h(x) é do tipo 00 que podemos converter numa do tipo 0 × ∞:
x→0
3.3 Indeterminações 55

lim x log(x)
lim+ xx = e x→0+ = e0 = 1,
x→0

tendo em conta o que mostrámos atrás (exemplo 5 da página 53).

sen(x)
EXEMPLO 2: Vimos num exemplo anterior que lim = 1, portanto, ao calcular
x→0 x
µ ¶ 1
sen(x) x2
lim surge a indeterminação 1∞ .
x→0 x

¶1
µ ¶
µ 1 sen(x)
sen(x) x2 lim 2 log
lim = e x→0 x x ;
x→0 x

0
neste último limite surge a indeterminação 0 × ∞ que podemos converter em fazendo
0
³ ´
µ ¶ sen(x)
1 sen(x) log x
lim log lim
e x→0 x2 x =e x→0 x 2
.

Como
³ ´
³ ³ ´´0 sen(x) 0
sen(x) x
log x sen(x)
x cos(x)−sen(x) x
x cos(x) − sen(x)
lim x x2 sen(x)
lim
x→0 (x ) 2 0 lim lim 2x2 sen(x)
e =e x→0 2x =e x→0 2x = e x→0 ,

0
temos novamente a indeterminação . Considerando f (x) = x cos(x) − sen(x) e g(x) =
0
2x2 sen(x) obtemos
f 0 (x) −sen(x)
lim 0
= lim
x→0 g (x) x→0 4 sen(x) + 2x cos(x)
0
aparecendo ainda a indeterminação . Tendo em conta que
0

(−sen(x))0 − cos(x) 1
lim 0
= lim =− ,
x→0 (4 sen(x) + 2x cos(x)) x→0 6 cos(x) − 2x sen(x) 6

podemos concluir que


µ ¶1
sen(x) x2 1
lim = e− 6 .
x→0 x
56 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial

µ ¶tg(x)
1
EXEMPLO 3: No cálculo de lim+ surge a indeterminação ∞0 . Como
x→0 x
µ ¶ ¡ ¢
µ ¶tg(x) 1 log x1
1 lim tg(x) log lim
x = ex→0+ cotg(x)
+
lim = ex→0
x→0+ x

e neste limite a indeterminação é primeiro do tipo 0 × ∞ e depois do tipo temos que

o limite pedido é 1 pois

¡ ¡ ¢¢0 1
log x1 −
x sen2 (x)
lim 0
lim 2 lim −
ex→0+ (cotg(x)) = ex→0+ cosec (x) = ex→0+ x = e0 = 1.
3.4 Teorema de Taylor 57

3.4 Teorema de Taylor


Teorema 3.4.1 (Teorema de Taylor)
Seja f uma função definida num intervalo [a, b] (a < b), com derivadas contı́nuas até
à ordem n − 1 em [a, b] e com derivada de ordem n definida em ]a, b[. Então, existe um
ponto c ∈]a, b[ tal que

(b − a)2 00 (b − a)n−1 (n−1) (b − a)n (n)


f (b) = f (a)+(b−a) f 0 (a)+ f (a)+· · ·+ f (a)+ f (c) (∗)
2! (n − 1)! n!

Demonstração: Consideremos a função

0 (b − x)2 00
ϕ(x) = f (b) − [f (x) + (b − x)f (x) + f (x)+
n−1
2! n
(b − x) (b − x)
+··· + f (n−1) (x) + A],
(n − 1)! n!
sendo A uma constante escolhida por forma que ϕ(a) = 0.
ϕ está nas condições do Teorema de Rolle: por construção, é uma função contı́nua em
[a, b], diferenciável em ]a, b[ e ϕ(a) = 0 = ϕ(b). Então existe c ∈]a, b[ tal que ϕ 0 (c) = 0.
Mas

(b − x)n−2 (n−1)
ϕ0 (x) = −[ f 0 (x) − f 0 (x) + (b − x)f 00 (x) − (b − x)f 00 (x) + · · · − f (x)+
(n − 2)!
(b − x)n−1 (n) (b − x)n−1
+ f (x) − A]
(n − 1)! (n − 1)!
· ¸
(b − x)n−1 (n) (b − x)n−1
= − f (x) − A
(n − 1)! (n − 1)!

(b − x)n−1 £ ¤
= A − f (n) (x)
(n − 1)!
Então
(b − c)n−1 £ ¤
ϕ0 (c) = 0 ⇔ A − f (n) (c) = 0 ⇔ (b − c)n−1 = 0 ∨ f (n) (c) − A = 0.
(n − 1)!

Como c ∈]a, b[ vem f (n) (c) = A. Por construção de ϕ temos ϕ(a) = 0, portanto,

(b − a)2 00
0 = ϕ(a) = f (b) − [f (a) + (b − a)f 0 (a) + f (a)+
n−1
2! n
(b − a) (b − a) (n)
+··· + f (n−1) (a) + f (c)],
(n − 1)! n!

e obtemos assim (∗).


58 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial

NOTA: A hipótese a < b é desnecessária, como facilmente se observa na demonstração.


Apenas foi introduzida para facilitar o enunciado.

A expressão (∗) chama-se fórmula de Taylor de ordem n de f . Fazendo no


enunciado do teorema b = a + h, vem
h2 00 hn−1 hn (n)
f (a + h) = f (a) + h f 0 (a) + f (a) + · · · + f (n−1) (a) + f (a + θh),
2! (n − 1)! n!
sendo 0 < θ < 1.
hn (n) (b − a)n (n)
Ao termo f (a + θh) ou f (c) chama-se resto de Lagrange da fórmula
n! n!
de Taylor.
No caso em que a = 0, a fórmula de Taylor é conhecida por fórmula de MacLaurin:

x2 xn−1 xn
f (x) = f (0) + f 0 (0) x + f 00 (0) + · · · + f (n−1) (0) + f (n) (c) ,
2! (n − 1)! n!
sendo 0 < c < x ou x < c < 0.

EXEMPLO 1: Vamos escrever a fórmula de MacLaurin, com resto de ordem 4, da função

f (x) = ex sen(x).

Como f é uma função de classe C ∞ (R) podemos escrever a sua fórmula de MacLaurin de
qualquer ordem. Em particular, para n = 4 existe c entre 0 e x tal que
x2 x3 x4
f (x) = f (0) + f 0 (0) x + f 00 (0) + f 000 (0) + f (IV ) (c) .
2! 3! 4!
Calculemos as derivadas de f .

f 0 (x) = ex (sen(x) + cos(x)) ⇒ f 0 (0) = 1


f 00 (x) = 2ex cos(x) ⇒ f 00 (0) = 2
f 000 (x) = 2ex (cos(x) − sen(x)) ⇒ f 000 (0) = 2
f (4) (x) = −4ex sen(x) ⇒ f (4) (c) = −4ec sen(c)
Logo,
x2 x3 x4 x3 x4
ex sen(x) = x + 2 +2 − 4ec sen(c) = x + x2 + − ec sen(c)
2! 3! 4! 3 6
com c entre 0 e x.

EXEMPLO 2: Calculemos, usando a fórmula de Taylor, o limite


(x − π)2
log(| cos(x)|) +
lim 2 ·
x→π (x − π) 2
3.4 Teorema de Taylor 59

Consideremos a função f (x) = log(| cos(x)|). É uma função de classe C ∞ em D =


{x ∈ R : cos(x) 6= 0}. Como π ∈ D, podemos escrever a fórmula de Taylor de ordem 3 de
f em potências de x − π: existe c entre x e π tal que

(x − π)2 (x − π)3
f (x) = f (π) + f 0 (π) (x − π) + f 00 (π) + f 000 (c)
2! 3!
Como f (π) = 0 e

sen(x)
f 0 (x) = − = −tg(x) ⇒ f 0 (π) = 0
cos(x)
1
f 00 (x) = − 2
⇒ f 00 (π) = −1
(cos(x))
2 sen(x) 2 sen(c)
f 000 (x) = − 3
⇒ f 000 (c) = −
(cos(x)) (cos(c))3
temos
(x − π)2 2 sen(c) (x − π)3 (x − π)2 sen(c) (x − π)3
f (x) = − − · = − − ·
2! (cos(c))3 3! 2 (cos(c))3 3

Calculemos o limite pedido.

(x − π)2 (x − π)2 sen(c) (x − π)3 (x − π)2


log(| cos(x)|) + − − · +
2 2 (cos(c))3 3 2
lim 2
= lim 2
x→π (x − π) x→π (x − π)
sen(c) (x − π)3
− · µ ¶
(cos(c))3 3 sen(c) x − π sen(π) π − π
= lim 2
= lim − 3
· =− · =0
x→π (x − π) x→π (cos(c)) 3 (cos(π))3 3

visto que quando x → π também c → π.

EXEMPLO 3: Escrevamos a fórmula de Taylor de ordem 2 da função


1
f (x) =
1 + log(x)

em torno do ponto 1 e mostremos que

(x − 1)2
f (x) < 1 − (x − 1) + 3 ∀x > 1.
2
A função f é de classe C ∞ em D = {x ∈ R+ : 1 + log(x) 6= 0}. Como 1 ∈ D podemos
escrever a fórmula de Taylor de ordem 2 de f em potências de x − 1: existe c entre x e 1
tal que
(x − 1)2
f (x) = f (1) + f 0 (1) (x − 1) + f 00 (c)
2!
60 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial

Como f (1) = 1 e
1
f 0 (x) = − ⇒ f 0 (1) = −1
x (1 + log(x))2
3 + log(x) 3 + log(c)
f 00 (x) = 2 ⇒ f 00
(c) =
x (1 + log(x))3 c2 (1 + log(c))3
temos
3 + log(c) (x − 1)2
f (x) = 1 − (x − 1) + ·
c2 (1 + log(c))3 2!
Podemos escrever
3 + log(c) 2 + 1 + log(c) 2 1
= 2 = 2 + 2
c2 (1
+ log(c)) 3 c (1 + log(c)) 3 c (1 + log(c)) 3 c (1 + log(c))2

Se x > 1 então 1 < c < x, pelo que 1 + log(c) > 1 + log(1) = 1, c2 (1 + log(c))3 > 1 e
c2 (1 + log(c))2 > 1. Então
2 1
<2 e <1
c2 (1 + log(c))3 c2 (1 + log(c))2
portanto,
(x − 1)2
f (x) < 1 − (x − 1) + 3 ∀x > 1.
2
3.5 Aplicações da fórmula de Taylor 61

3.5 Aplicações da fórmula de Taylor à determinação


de extremos, sentidos de concavidade e pontos
de inflexão
Sabemos que os máximos e os mı́nimos de uma função diferenciável podem ser calculados
recorrendo à primeira derivada, tendo em atenção que derivada positiva implica função
crescente e derivada negativa implica função decrescente.
A fórmula de Taylor também nos permite calcular os extremos de uma função a partir
das derivadas de ordem superior.

Teorema 3.5.1 Seja f : D → R uma função contı́nua num ponto a, interior a D.

a) Se f (a) > 0, então existe uma vizinhança V de a tal que f (x) > 0, ∀x ∈ V .

b) Se f (a) < 0, então existe uma vizinhança V de a tal que f (x) < 0, ∀x ∈ V .

Demonstração: Faremos apenas a demonstração da alı́nea a).


Se f é contı́nua em a então, por definição,

∀δ > 0 ∃ε > 0 : |x − a| < ε ⇒ |f (x) − f (a)| < δ.

Como f (a) > 0, fazendo δ = f (a), obtemos

∃ε > 0 : |x − a| < ε ⇒ |f (x) − f (a)| < f (a).

Mas
|f (x) − f (a)| < f (a) ⇔ −f (a) < f (x) − f (a) < f (a)
⇔ −f (a) + f (a) < f (x) < f (a) + f (a)
⇔ 0 < f (x) < 2f (a),
ou seja, f (x) > 0 ∀x ∈ Vε (a).

Definição 3.5.1 Diz-se que a é um ponto de estacionaridade de f se f 0 (a) = 0.

Teorema 3.5.2 Seja f uma função classe C n num intervalo I e a um ponto interior a
I. Se
f 0 (a) = f 00 (a) = · · · = f (n−1) (a) = 0 e f (n) (a) 6= 0
então

a) se n é ı́mpar, f não tem extremo relativo em a;

b) se n é par, f tem máximo relativo em a se f (n) (a) < 0 e tem mı́nimo relativo em a
se f (n) (a) > 0.
62 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial

Demonstração: Se queremos provar a existência de extremo relativo no ponto a, temos


de estudar o sinal de f (x) − f (a). Sabemos que se existir uma vizinhança de a onde
f (x) − f (a) mantém o sinal então f (a) é extremo relativo de f , e que se tal não acontecer
então f (a) não é extremo relativo.
Como f (n) (x) é contı́nua e f (n) (a) 6= 0, existe uma vizinhança V de a, V ⊂ I, onde
f (x) toma o sinal de f (n) (a), isto é, se f (n) (a) > 0 então f (n) (x) > 0 ∀x ∈ V , se
(n)

f (n) (a) < 0 então f (n) (x) < 0 ∀x ∈ V .


Seja x ∈ V . Visto que f é n vezes diferenciável em I e V ⊂ I, pelo Teorema de Taylor
existe c ∈ V tal que

0 (x − a)2
00 (n−1) (x − a)n−1 (n) (x − a)n
f (x) = f (a)+f (a) (x−a)+f (a) +· · ·+f (a) +f (c) .
2! (n − 1)! n!

Por hipótese, f 0 (a) = f 00 (a) = · · · = f (n−1) (a) = 0, portanto,

(x − a)n
f (x) = f (a) + f (n) (c) ,
n!
ou seja,
(x − a)n
f (x) − f (a) = f (n) (c) ·
n!
Se n é ı́mpar e f (n) (a) > 0 então f (x) − f (a) < 0 se x < a, x ∈ V , e f (x) − f (a) > 0
se x > a, x ∈ V , ou seja, f (a) não é extremo relativo.
Se n é ı́mpar e f (n) (a) < 0 obtemos relações análogas, com as desigualdades invertidas.
Se n é par e f (n) (a) > 0 então f (x) − f (a) > 0 ∀x ∈ V \ {a}, o que implica que f (a)
é mı́nimo relativo.
Se n é par e f (n) (a) < 0 então f (x) − f (a) < 0 ∀x ∈ V \ {a}, o que implica que f (a)
é máximo relativo.
3 2
EXEMPLO 1: Seja f (x) = x3 − x.
2
f 0 (x) = 0 ⇔ 3x2 − 3x = 0 ⇔ 3x(x − 1) = 0 ⇔ x = 0 ∨ x = 1.

Como f 00 (x) = 3(2x − 1) temos f 00 (0) = −3 e f 00 (1) = 3. Pelo teorema anterior concluı́mos
que f (0) é um máximo relativo e f (1) é um mı́nimo relativo.
1
EXEMPLO 2: Seja f (x) = x − sen(x).
2
1 1 π π
f 0 (x) = 0 ⇔ − cos(x) = 0 ⇔ cos(x) = ⇔ x = + 2kπ ∨ x = − + 2kπ, k ∈ Z.
2 2 3 3
√ √
Como f 00 (x) = sen(x) temos f 00 ( π3 + 2kπ) = 23 e f 00 (− π3 + 2kπ) = − 23 . Pelo teorema
anterior concluı́mos que f ( π3 + 2kπ) é mı́nimo relativo ∀k ∈ Z e f (− π3 + 2kπ) é máximo
relativo, ∀k ∈ Z.
3.5 Aplicações da fórmula de Taylor 63

x4 + 1
EXEMPLO 3: Seja f (x) = .
x2
2(x4 − 1)
f 0 (x) = 0 ⇔ = 0 ⇔ x4 − 1 = 0 ⇔ x = −1 ∨ x = 1.
x3
x4 + 3
Como f 00 (x) = 2 > 0, ∀x ∈ R \ {0} temos que f (−1) = f (1) é mı́nimo relativo.
x4
EXEMPLO 4: Seja f (x) = x2 (x − 1)3 .
2
f 0 (x) = 0 ⇔ x(x − 1)2 (5x − 2) = 0 ⇔ x = 0 ∨ x = 1 ∨ x = ·
5
Como f 00 (x) = 2(x − 1)(10x2 − 8x + 1) temos f 00 (0) = −2 e f 00 ( 25 ) = 2518
· Pelo teorema
2
anterior concluı́mos que f (0) é um máximo relativo e f ( 5 ) é um mı́nimo relativo. Mas
f 00 (1) = 0, portanto, temos de calcular f 000 . Como f 000 (x) = 6(10x2 − 12x + 3), f 000 (1) = 6
o que implica que f (1) não é extremo de f .

EXEMPLO 5: Seja f (x) = 2 cos(x) + sen(2x).


f 0 (x) = 0 ⇔ −2 (2 sen2 (x) + sen(x) − 1) = 0
1
⇔ −4 (sen(x) + 1)(sen(x) − ) = 0
2
1
⇔ sen(x) = −1 ∨ sen(x) =
2
3 π 5
⇔ x = π + 2kπ ∨ x = + 2kπ ∨ x = π + 2kπ, k ∈ Z.
2 6 6
√ √
Como f 00 (x) = −2 cos(x)(4sen(x) + 1) temos f 00 ( π6 + 2kπ) = −3 3 e f 00 ( 65 π + 2kπ) = 3 3,
o que implica que f ( π6 +2kπ) é máximo relativo de f e f ( 56 π +2kπ) é mı́nimo relativo de f ,
qualquer que seja k ∈ Z. Mas f 00 ( 23 π + 2kπ) = 0 pelo que recorremos à terceira derivada:
f 000 (x) = 16 sen2 (x) + 2 sen(x) − 8, portanto, f 000 ( 32 π + 2kπ) = 6, podendo concluir-se que
f ( 23 π + 2kπ) não é extremo.

Definição 3.5.2 Dadas duas funções f e g, definidas num intervalo I, diz-se que o gráfico
de f fica acima do gráfico de g num ponto a ∈ I se f (a) > g(a) e fica abaixo do gráfico
de g num ponto b ∈ I se f (b) < g(b).
Se J ⊂ I e f (x) > g(x), ∀x ∈ J, diz-se que o gráfico de f fica acima do gráfico de g
em J e se f (x) < g(x), ∀x ∈ J, diz-se que o gráfico de f fica abaixo do gráfico de g em
J.

Seja f uma função definida e diferenciável num intervalo I. Queremos determinar


a posição do gráfico de f em relação à tangente a esse gráfico num ponto a ∈ int(I).
Trata-se, portanto, de estudar a diferença

r(x) = f (x) − (f (a) + f 0 (a) (x − a)).


64 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial

y
f(a)+f ´(a) (x-a)

f(a) f

f(b)

f(b)+f ´(b) (x-b)

b a x

Figura 3.9

Definição 3.5.3 Seja f uma função definida num intervalo I, diferenciável em a ∈ I e


seja r(x) = f (x) − (f (a) + f 0 (a) (x − a)).
a) Se existir uma vizinhança V de a, V ⊂ I, tal que r(x) > 0, ∀x ∈ V \ {a}, diz-se que
f tem a concavidade voltada para cima em a;

b) Se existir uma vizinhança V de a, V ⊂ I, tal que r(x) < 0, ∀x ∈ V \ {a}, diz-se que
f tem a concavidade voltada para baixo em a.

c) Se existir uma vizinhança V = ]a − ε, a + ε[ ⊂ I de a tal que

r(x) > 0 ∀x ∈ ]a − ε, a[ e r(x) < 0 ∀x ∈ ]a, a + ε[ ou


r(x) < 0 ∀x ∈ ]a − ε, a[ e r(x) > 0 ∀x ∈ ]a, a + ε[,

diz-se que o gráfico de f tem um ponto de inflexão em (a, f (a)).

A Figura 3.9 sugere a interpretação gráfica das definições anteriores.

Teorema 3.5.3 Sejam I um intervalo e f ∈ C 2 (I). O gráfico de f tem a concavidade


voltada para cima (respectivamente, para baixo) em todos os pontos x, interiores a I, tais
que f 00 (x) > 0 (respectivamente, f 00 (x) < 0).

Demonstração: Seja a um ponto interior a I tal que f 00 (a) 6= 0. Como f ∈ C 2 (I) e


f 00 (a) 6= 0, existe uma vizinhança V de a, V ⊂ I, onde f 00 (x) toma o sinal de f 00 (a), isto
é, se f 00 (a) > 0 então f 00 (x) > 0, ∀x ∈ V , se f 00 (a) < 0 então f 00 (x) < 0, ∀x ∈ V .
Seja x ∈ V . Pelo Teorema de Taylor, existe c ∈ V tal que
(x − a)2
f (x) = f (a) + f 0 (a) (x − a) + f 00 (c) ·
2!
Queremos estudar o sinal de r(x):
3.5 Aplicações da fórmula de Taylor 65

r(x) = f (x) − (f (a) + f 0 (a) (x − a))


(x − a)2
= f (a) + f 0 (a) (x − a) + f 00 (c) − (f (a) + f 0 (a) (x − a))
2!
(x − a)2
= f 00 (c) ·
2!
O sinal de r(x) depende apenas do sinal de f 00 (c) que, por sua vez, tem o sinal de
00
f (a).
Se f 00 (a) > 0 então r(x) > 0, o que significa que f tem a concavidade voltada para
cima.
Se f 00 (a) < 0 então r(x) < 0, o que significa que f tem a concavidade voltada para
baixo.
Corolário 1 Se f ∈ C 2 (I) e tem um ponto de inflexão num ponto a, interior a I, então
f 00 (a) = 0.
Teorema 3.5.4 Sejam I um intervalo e f ∈ C n (I), n > 2. Se a é um ponto interior a
I tal que
f 00 (a) = f 000 (a) = · · · = f (n−1) (a) = 0 e f (n) (a) 6= 0
então
a) se n é par, f tem a concavidade voltada para cima se f (n) (a) > 0 e tem a concavidade
voltada para baixo se f (n) (a) < 0;
b) se n é ı́mpar, a é ponto de inflexão.
Demonstração: Como f (n) (x) é contı́nua e f (n) (a) 6= 0, existe uma vizinhança V de a,
V ⊂ I, onde f (n) (x) toma o sinal de f (n) (a), isto é, se f (n) (a) > 0 então f (n) (x) > 0,
∀x ∈ V , se f (n) (a) < 0 então f (n) (x) < 0, ∀x ∈ V .
Seja x ∈ V . Como f é n vezes diferenciável em I e V ⊂ I, pelo Teorema de Taylor
existe c ∈ V tal que
(x − a)2 (x − a)n−1 (x − a)n
f (x) = f (a)+f 0 (a) (x−a)+f 00 (a) +· · ·+f (n−1) (a) +f (n) (c) ·
2! (n − 1)! n!
Por hipótese, f 00 (a) = f 000 (a) = · · · = f (n−1) (a) = 0, portanto,
(x − a)n
f (x) = f (a) + f 0 (a) (x − a) + f (n) (c) ·
n!
Queremos estudar o sinal de r(x):

r(x) = f (x) − (f (a) + f 0 (a) (x − a))


(x − a)n
= f (a) + f 0 (a) (x − a) + f (n) (c) − (f (a) + f 0 (a) (x − a))
n!
(x − a)n
= f (n) (c)
n!
66 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial

a) Se n é par então (x − a)n > 0, ∀x ∈ V \ {a}, o que implica que o sinal de r é o sinal
de f (n) (c). Assim, se
f (n) (a) > 0, r(x) > 0 e f tem a concavidade voltada para cima;
f (n) (a) < 0, r(x) < 0 e f tem a concavidade voltada para baixo.

b) Se n é ı́mpar então (x − a)n > 0, ∀x > a e (x − a)n < 0, ∀x < a.


Mas isto implica que o sinal de r muda quando se passa de valores menores do que a
para valores maiores do que a. Portanto, a é ponto de inflexão.

EXEMPLO 1: Seja f (x) = x + sen(x). Como f 0 (x) = 1 + cos(x) temos

f 00 (x) = 0 ⇔ sen(x) = 0 ⇔ x = kπ, k ∈ Z.


Mas f 000 (x) = − cos(x), portanto, f 000 (kπ) = 1 se k é ı́mpar e f 000 (kπ) = −1 se k é par.
Concluı́mos, pelo teorema anterior, que kπ, k ∈ Z é ponto de inflexão.

EXEMPLO 2: Consideremos novamente a função f (x) = x2 (x − 1)3 . Como f 00 (x) =


2(x − 1)(10x2 − 8x + 1) temos
√ √
00 4+ 6 4− 6
f (x) = 0 ⇔ x = 1 ∨ x = ∨x= ·
10 10
Mas f 000 (x) = 6(10x2 − 12x + 3), portanto,
√ √
000 6− 6 6+ 6
f (x) = 0 ⇔ x = ∨x= ,
10 10
√ √
o que implica que f 000 (1) 6= 0, f 000 ( 4−10 6 ) 6= 0 e f 000 ( 4+10 6 ) 6= 0. Pelo teorema anterior
concluı́mos que estes três pontos são pontos de inflexão.
Capı́tulo 4

Funções Reais de Variável Real:


Primitivação

4.1 Primitivas imediatas


Definição 4.1.1 Sejam f e F duas funções definidas num intervalo I. Diz-se que F é
uma primitiva de f em I se F 0 (x) = f (x), ∀x ∈ I.

EXEMPLO 1: Como (sen(x))0 = cos(x) temos que sen(x) é primitiva de cos(x).

EXEMPLO 2: De (x2 )0 = 2x concluı́mos que x2 é primitiva de 2x.

Definição 4.1.2 Uma função f diz-se primitivável num intervalo I se existir uma
primitiva de f , definida em I.

NOTA: Há funções que não são primitiváveis. Por exemplo, a função f : R → R definida
por ½
0, se x < 2
f (x) =
1, se x ≥ 2
não é primitivável em R. De facto, a existência de uma função F : R → R tal que
F 0 (x) = f (x), ∀x ∈ R, contradiz o Teorema de Darboux: f não toma nenhum valor entre
0 e 1.

Teorema 4.1.1 Se F é primitiva de f , num intervalo I, então, qualquer que seja C ∈ R,


a função G(x) = F (x) + C é também primitiva de f em I.

Demonstração: Basta notar que G0 (x) = F 0 (x) + C 0 = F 0 (x) = f (x).

Teorema 4.1.2 Se F e G são duas primitivas de f num intervalo I, então F − G é


constante em I.
68 4. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

Demonstração: Usa-se o Corolário 2 do Teorema de Lagrange, notando que F 0 (x) =


G0 (x) = f (x), ∀x ∈ I.

NOTAS:
1. Como consequência dos teoremas anteriores temos que todas as primitivas de f são
da forma F + C com F uma primitiva de f e C ∈ R.
2. Se F é uma primitiva de f no intervalo I, designamos por P f qualquer primitiva
de f em I, isto é, P f = F + C, com C ∈ R, qualquer.
Geometricamente:

Figura 4.1

Definição 4.1.3 Chamam-se primitivas imediatas as que se deduzem directamente


de uma regra de derivação.
A partir das regras de derivação obtém-se facilmente:
Teorema 4.1.3 Sejam f e g duas funções primitiváveis num intervalo I e a ∈ R. Então
a) P a f (x) = a P f (x);
b) P (f (x) + g(x)) = P f (x) + P g(x).

Apresentamos a seguir uma tabela com algumas primitivas imediatas.

f (x) P f (x)

α xα+1
x , α 6= −1 +C
α+1
(u(x))α+1
(u(x))α u0 (x), α 6= −1 +C
α+1
1
log(|x|) + C
x
4.1 Primitivas imediatas 69

f (x) P f (x)

u0 (x)
log(|u(x)|) + C
u(x)

ex ex + C

eu(x) u0 (x) eu(x) + C

ax
ax , (a > 0) +C
log(a)
au(x)
au(x) u0 (x), (a > 0) +C
log(a)

cos(x) sen(x) + C

cos(u(x)) u0 (x) sen(u(x)) + C

sen(x) − cos(x) + C

sen(u(x)) u0 (x) − cos(u(x)) + C

1
√ arc sen(x) + C
1 − x2
u0 (x)
p arc sen(u(x)) + C
1 − (u(x))2
1
−√ arc cos(x) + C
1 − x2
u0 (x)
−p arc cos(u(x)) + C
1 − (u(x))2
1
arc tg(x) + C
1 + x2
u0 (x)
arc tg(u(x)) + C
1 + (u(x))2

sec2 (x) tg(x) + C

sec2 (u(x)) u0 (x) tg(u(x)) + C


70 4. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

f (x) P f (x)

cosec2 (x) −cotg(x) + C

cosec2 (u(x)) u0 (x) −cotg(u(x)) + C

EXEMPLOS:
x3 x2
P (x2 + x + 1) = P x2 + P x + P 1 = + + x + C;
3 2
µ ¶
2 1 + cos(2x) 1 1 sen(2x)
P cos (x) = P = (P 1 + P cos(2x)) = x+ + C;
2 2 2 2
1
√ 1 (x2 + 3) 3 +1 3 √
+ C = (x2 + 3) x2 + 3 + C;
3 2 2 3
P 2x x + 3 = P 2x(x + 3) 3 = 1
3
+ 1 4

3x2
P 3
= log |x3 + 1| + C;
x +1
1 1
P e5x = P 5 e5x = e5x + C;
5 5
P 10x cos(5x2 + 7) = sen(5x2 + 7) + C;
2
P = arc tg(2x) + C;
1 + (2x)2
2
P (cos(x) − 2 e3x ) = P cos(x) − 2P e3x = sen(x) − e3x + C;
3
1
x2 2 3 − 13 1 (x3 − 1)− 3 +1 1p3
P √ = P x (x − 1) = · 1 + C = (x3 − 1)2 + C.
3 3
x −1 3 − 3
+ 1 2

Teorema 4.1.4 Seja f uma função primitivável num intervalo I. Então, para cada
x0 ∈ I e cada y0 ∈ R, existe uma, e uma só, primitiva F de f tal que F (x0 ) = y0 .
Em particular, existe uma, e uma só, primitiva de f que se anula em x0 .

EXEMPLO 1: Calculemos f sabendo que f 0 (x) = x x e f (1) = 2.
Comecemos por calcular as primitivas F de f 0 , pois f é uma dessas funções.
2 5
F (x) = x 2 + C.
5
4.1 Primitivas imediatas 71

Mas
2 8
f (1) = 2 ⇔ +C =2⇔C = ,
5 5
2 5 8
portanto, f (x) = x 2 + ·
5 5

EXEMPLO 2: Pretendemos calcular f sabendo que f 00 (x) = 12x2 + 6x − 4, f (0) = 4 e


f (1) = 5.
A função f pertence ao conjunto das funções F tais que

F 0 (x) = 4x3 + 3x2 − 4x + C

e, portanto, será uma função da forma F (x) = x4 + x3 − 2x2 + Cx + C1 . Como


½ ½
f (0) = 4 C1 = 4

f (1) = 5 C = 1
então f (x) = x4 + x3 − 2x2 + x + 4.
72 4. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

4.2 Métodos gerais de primitivação: Primitivação por


partes e por substituição
Teorema 4.2.1 (Primitivação por partes) Sejam I um intervalo, F uma primitiva
de f em I e g uma função diferenciável em I. Então

P (f g) = F g − P (F g 0 )

Demonstração: Pela regra da derivação do produto (F g)0 = F 0 g + F g 0 = f g + F g 0 , o que


implica que f g = (F g)0 − F g 0 e, portanto, P (f g) = F g − P (F g 0 ).

EXEMPLO 1: Seja h(x) = x log(x). Calculemos a primitiva de h por partes: considere-


mos f (x) = x e g(x) = log(x).
µ 2 ¶
x2 x 1 x2 1 x2 x2
P (x log(x)) = log(x) − P · = log(x) − P (x) = log(x) − + C.
2 2 x 2 2 2 4

EXEMPLO 2: Podemos primitivar a função h(x) = log(x) usando este método. Sejam
f (x) = 1 e g(x) = log(x).
µ ¶
1
P (log(x)) = P (1. log(x)) = x log(x) − P x = x log(x) − P (1) = x log(x) − x + C.
x

EXEMPLO 3: Seja h(x) = cos(x) log(sen(x)). Sejam f (x) = cos(x) e g(x) = log(sen(x)).
Então
µ ¶
cos(x)
P (cos(x) log(sen(x))) = sen(x) log(sen(x)) − P sen(x)
sen(x)

= sen(x) log(sen(x)) − P (cos(x))

= sen(x) log(sen(x)) − sen(x) + C.

EXEMPLO 4: Para calcular a primitiva de h(x) = cos(log(x)) consideremos f (x) = 1 e


g(x) = cos(log(x)). Então

P (cos(log(x))) = x cos(log(x)) + P sen(log(x)).

Esta última primitiva calcula-se novamente por partes obtendo-se

P (cos(log(x))) = x cos(log(x)) + x sen(log(x)) − P cos(log(x)),

e, portanto,
2 P (cos(log(x))) = x cos(log(x)) + x sen(log(x)),
4.2 Primitivação por partes e por substituição 73

ou seja,
x
P (cos(log(x))) = (cos(log(x)) + sen(log(x))) + C.
2

EXEMPLO 5: Sejam h(x) = log3 (x), f (x) = 1 e g(x) = log3 (x).

P (1. log3 (x)) = x log3 (x) − P (3 log2 (x)).

Primitivando novamente por partes, e usando o resultado obtido anteriormente para


P (log(x)), obtemos

P (1. log3 (x)) = x log3 (x) − 3 (x log2 (x) − P (2 log(x)))


= x log3 (x) − 3x log2 (x) + 6x log(x) − 6x + C.

Teorema 4.2.2 (Primitivação por substituição) Sejam f uma função primitivável


num intervalo J e ϕ uma função bijectiva e diferenciável no intervalo I tal que ϕ(I) = J.
Seja Φ(t) = P (f (ϕ(t))ϕ0 (t)). Então a função F (x) = Φ(ϕ−1 (x)) é uma primitiva de f
em J.

Demonstração: Seja F uma primitiva de f . Como, por hipótese, x = ϕ(t) temos F (x) =
F (ϕ(t)). Pela regra de derivação da função composta

(F (ϕ(t)))0 = F 0 (ϕ(t))ϕ0 (t) = f (ϕ(t))ϕ0 (t) = Φ0 (t),

porque designámos por Φ(t) uma primitiva de f (ϕ(t))ϕ0 (t).


Como F (ϕ(t)) e Φ(t) são ambas primitivas de f (ϕ(t))ϕ0 (t) sabemos que

F (ϕ(t)) − Φ(t) = C, C constante real,

ou ainda,
F (ϕ(t)) = Φ(t) + C,
o que implica que
F (x) = Φ(ϕ−1 (x)) + C.

x3 √
EXEMPLO 1: Seja f (x) = √ . Para calcular a primitiva de f façamos x − 1 = t,
x−1
isto é, ϕ(t) = 1 + t2 = x.

(1 + t2 )3 t5 t7
P (f (ϕ(t)).ϕ0 (t)) = P 2t = 2 P (1+t2 )3 = 2 P (1+3t2 +3t4 +t6 ) = 2(t+t3 +3 + ).
t 5 7
Assim,
µ ¶
x3 √ √ 3 3 √ 5 1 √ 7
P√ =2 x − 1 + ( x − 1) + ( x − 1) + ( x − 1) + C.
x−1 5 7
74 4. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

1
EXEMPLO 2: Consideremos f (x) = · Podemos calcular a sua primitiva fazendo
ex + e−x
ex = t, isto é, ϕ(t) = log(t).
1 1 1
P (f (ϕ(t)).ϕ0 (t)) = P −1
· =P = arc tg(t).
t+t t 1 + t2
Consequentemente,
P f (x) = arc tg(ex ) + C.
NOTA: Usamos, por vezes a notação

P f (x) = {Pt f (ϕ(t))ϕ0 (t)} t=ϕ−1 (x) .


4.3 Primitivação de funções racionais 75

4.3 Primitivação de funções racionais


Sejam
P (x) = an xn + · · · + a1 x + a0
e
Q(x) = bm xm + · · · + b1 x + b0 ,
n, m ∈ N0 , an 6= 0, bm 6= 0, dois polinómios com coeficientes aj , bj ∈ R; n e m os graus
de P e Q, respectivamente.

Definição 4.3.1 Chama-se função racional toda a função f : D ⊂ R → R que pode


ser expressa na forma
P (x)
f (x) =
Q(x)
em que P e Q são polinómios e D = {x ∈ R : Q(x) 6= 0}.

Definição 4.3.2 Dois polinómios P e Q dizem-se iguais, e escreve-se P = Q, se P (x) =


Q(x), ∀x ∈ R.

Verifica-se facilmente que, sendo P (x) = an xn + · · · + a1 x + a0 e Q(x) = bm xm + · · · +


b1 x + b0 , se tem

P (x) = Q(x), ∀x ∈ R ⇔ n = m ∧ an = bm , . . . , a1 = b1 , a0 = b0 .

Dados dois polinómios P e Q, de graus n e m, respectivamente, n > m, existem


polinómios M e R tais que P (x) = M (x) Q(x) + R(x) e grau de R < grau de Q. M diz-se
o polinómio quociente e R o polinómio resto.

Definição 4.3.3 Um polinómio P de grau maior ou igual a 1 diz-se redutı́vel se existem


polinómios P1 e P2 tais que grau de Pi < grau de P (i = 1, 2) e P (x) = P1 (x)P2 (x). O
polinómio P diz-se irredutı́vel se não for redutı́vel.

É possı́vel determinar quais são precisamente os polinómios irredutı́veis. Considere-se,


sem perda de generalidade, os polinómios unitários (com coeficiente an = 1): P (x) =
xn + an−1 xn−1 + · · · + a1 x + a0 .

• Todos os polinómios de grau 1, P (x) = x − a, são irredutı́veis.

• Um polinómio de grau 2, P (x) = x2 + bx + c é irredutı́vel se, e só se, não tem


raı́zes reais, isto é, b2 − 4ac < 0. Assim os polinómios de grau 2 irredutı́veis são
precisamente os polinómios da forma P (x) = (x − α)2 + β 2 , α, β ∈ R, β 6= 0,
associado às duas raı́zes complexas conjugadas α ± iβ.
76 4. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

• Os únicos polinómios irredutı́veis são os considerados e mostra-se que todo o po-


linómio P (x) com grau maior ou igual a 1 é produto de polinómios irredutı́veis:

P (x) = (x − a1 )n1 · · · (x − ap )np [(x − α1 )2 + β12 ]m1 · · · [(x − αq )2 + βq2 ]mq

em que ni , mj ∈ N representam o grau de multiplicidade do correspondente


factor em P .

P (x)
Definição 4.3.4 Uma função racional f (x) = diz-se irredutı́vel se P e Q não
Q(x)
tiverem raı́zes comuns.

Dada uma função racional irredutı́vel, podemos ter dois casos:

1o O grau do polinómio P é maior ou igual ao grau do polinómio Q.

2o O grau do polinómio P é menor do que o grau do polinómio Q.

No primeiro caso, fazendo a divisão dos polinómios obtemos

P (x) = M (x) Q(x) + R(x),

em que M e R são polinómios, sendo M o quociente e R o resto (que tem grau inferior
ao grau de Q). Temos então
P (x) R(x)
= M (x) +
Q(x) Q(x)
o que implica que µ ¶ µ ¶
P (x) R(x)
P = P (M (x)) + P ·
Q(x) Q(x)
A primitiva de M é imediata por ser a primitiva de um polinómio. A segunda é a
primitiva de uma função racional, em que o grau do numerador é menor do que o do deno-
minador. Concluı́mos, assim, que basta estudar o caso das funções racionais irredutı́veis
em que o grau do numerador é menor do que o grau do denominador, isto é, ficamos
reduzidos ao 2o caso atrás considerado. Os teoremas seguintes, que não demonstraremos,
permitem-nos decompor uma função racional irredutı́vel do 2o caso na soma de funções
racionais cujas primitivas são “fáceis” de calcular (ou mesmo primitivas imediatas). A
primitivação de funções racionais irredutı́veis fica, pois, completamente resolvida.
Comecemos por analisar os casos em que Q admite apenas raı́zes reais. Temos o
seguinte teorema:

P (x)
Teorema 4.3.1 Se é uma função racional irredutı́vel, se o grau de P é menor que
Q(x)
o grau de Q e se
Q(x) = a0 (x − a1 )n1 (x − a2 )n2 . . . (x − ap )np ,
4.3 Primitivação de funções racionais 77

com a1 , a2 , . . . , ap números reais distintos e n1 , n2 , . . . , np ∈ N, então a função é decom-


ponı́vel numa soma da forma

P (x) A n1 A1 B np B1
= n
+ ··· + + ··· + n
+ ··· +
Q(x) (x − a1 ) 1 x − a1 (x − anp ) p x − a np

onde An1 , . . . , A1 , . . . , Bnp , . . . , B1 são números reais.

NOTA: Nas condições do Teorema 4.3.1, qualquer das parcelas em que se decompõe a
função tem primitiva imediata:

A A 1
P p
= · , se p 6= 1
(x − a) 1 − p (x − a)p−1

A
P = A log |x − a|
x−a
1o caso: Q tem raı́zes reais de multiplicidade 1, isto é, Q decompõe-se em factores do tipo
A
x − a com a ∈ R. A cada raiz a de Q associa-se uma parcela do tipo , com A
x−a
constante a determinar.

4x2 + x + 1
EXEMPLO: Calculemos a primitiva da função f definida por f (x) = ·
x3 − x
Como o número de raı́zes de um polinómio não ultrapassa o seu grau e x3 − x admite
as raı́zes x = 0, x = −1 e x = 1, podemos concluir que estas raı́zes têm multiplicidade 1.
Então
4x2 + x + 1 A B C
3
= + +
x −x x x−1 x+1

A(x2 − 1) + Bx(x + 1) + Cx(x − 1)


=
x3 − x

(A + B + C)x2 + (B − C)x − A
=
x3 − x
Pelo método dos coeficientes indeterminados temos
  
 A+B+C = 4  B+C = 5  B = 3
B−C = 1 ⇔ B−C = 1 ⇔ C = 2
  
−A = 1 A = −1 A = −1

Assim:
4x2 + x + 1 −1 3 2
= + +
x3 − x x x−1 x+1
78 4. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

e µ ¶ µ ¶ µ ¶ µ ¶
4x2 + x + 1 −1 3 2
P = P +P +P
x3 − x x x−1 x+1

= − log |x| + 3 log |x − 1| + 2 log |x + 1| + C


µ¯ ¯ ¶
¯ (x − 1)3 ¯ 2
= log ¯
¯
¯ (x + 1) + C.
¯
x

2o caso: Q tem raı́zes reais de multiplicidade p, p > 1, isto é, Q admite x − a, com
a ∈ R, como divisor p vezes. Na decomposição, a cada raiz a de Q de multiplicidade p
vai corresponder uma soma de p parcelas com a seguinte forma:

Ap Ap−1 A1
p
+ p−1
+ ··· + ,
(x − a) (x − a) x−a

com Ap , Ap−1 , . . . , A1 constantes a determinar.

2x3 + 5x2 + 6x + 2
EXEMPLO: Calculemos a primitiva da função f definida por f (x) = ·
x(x + 1)3
Como x(x + 1)3 admite as raı́zes x = 0, x = −1 e x + 1 aparece 3 vezes na factorização
do polinómio, podemos concluir que estas raı́zes têm multiplicidade 1 e multiplicidade 3,
respectivamente. Então

2x3 + 5x2 + 6x + 2 A B C D
= + + +
x(x + 1)3 x (x + 1)3 (x + 1)2 x + 1

A(x + 1)3 + Bx + Cx(x + 1) + Dx(x + 1)2


=
x(x + 1)3

(A + D)x3 + (3A + C + 2D)x2 + (3A + B + C + D)x + A


=
x(x + 1)3

Pelo método dos coeficientes indeterminados temos


 

 A + D = 2 
 D = 0
 
3A + C + 2D = 5 C = −1


 3A + B + C + D = 6 
 B = 1
 
A = 2 A = 2

Assim:
2x3 + 5x2 + 6x + 2 2 1 −1
3
= + 3
+
x(x + 1) x (x + 1) (x + 1)2
4.3 Primitivação de funções racionais 79

e µ ¶ µ ¶ µ ¶ µ ¶
2x3 + 5x2 + 6x + 2 2 1 1
P = P +P −P
x(x + 1)3 x (x + 1)3 (x + 1)2

1 1 1
= 2 log |x| − + +C
2 (x + 1)2 x + 1

1 1 1
= log (x2 ) − 2
+ + C.
2 (x + 1) x+1

Vejamos agora os casos em que o polinómio Q admite raı́zes complexas.

P (x)
Teorema 4.3.2 Se é uma função racional irredutı́vel, se o grau de P é menor que
Q(x)
o grau de Q e se α + iβ (α, β ∈ R) é uma raiz de Q, de multiplicidade r, então

P (x) Mr x + N r M1 x + N 1 H(x)
= 2 2 r
+ ··· + 2 2
+ ∗
Q(x) [(x − α) + β ] (x − α) + β Q (x)

onde H e Q∗ são polinómios tais que o grau de H é menor que o grau de Q∗, Mr ,
Nr , . . . , M1 , N1 , são números reais e nem α + iβ nem α − iβ são raı́zes do polinómio Q ∗ .

1o caso: Q tem raı́zes complexas de multiplicidade 1, isto é, Q admite como divisores
polinómios de grau 2, (uma única vez cada polinómio), que não têm raı́zes reais. Na
decomposição, a cada par de raı́zes (α + iβ, α − iβ) vai corresponder uma parcela com a
seguinte forma:
Ax + B
(x − α)2 + β 2
com A e B constantes a determinar.

x2 + 2
EXEMPLO: Calculemos a primitiva da função f definida por f (x) = ·
(x − 1)(x2 + x + 1)
Como √
1 3
(x − 1)(x2 + x + 1) = 0 ⇔ x = 1 ∨ x = − ± i
2 2
podemos concluir que estas raı́zes têm multiplicidade 1. Então

x2 + 2 A Bx + C
= +
2
(x − 1)(x + x + 1) x − 1 (x + 12 )2 + 3
4

A(x2 + x + 1) + (Bx + C)(x − 1)


=
(x − 1)(x2 + x + 1)

(A + B)x2 + (A − B + C)x + A − C
=
(x − 1)(x2 + x + 1)
80 4. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

Pelo método dos coeficientes indeterminados temos


 
 A+B = 1  A = 1
A−B+C = 0 ⇔ B = 0
 
A−C = 2 C = −1
Assim:
x2 + 2 1 −1
= +
2
(x − 1)(x + x + 1) x − 1 (x + 12 )2 + 34
e µ ¶ µ ¶ µ ¶
x2 + 2 1 −1
P = P +P
(x − 1)(x2 + x + 1) x−1 (x + 12 )2 + 34
µ ¶
1
= log |x − 1| − P 1 2 3 .
(x + 2 ) + 4
A primitiva µ ¶
1
P
(x + 12 )2 + 34
√ √
1 3 3 1
calcula-se fazendo a substituição x + = t, isto é, ϕ(t) = t − · (No caso geral,
2 2 2 2
sendo a + ib a raiz, a substituição é x − a = bt). Então
à √ !
0 1 3 2 1 2
P f (ϕ(t)).ϕ (t) = P √ · =√ P 2 = √ arc tg(t),
3 2
( t) + 3 2 3 t +1 3
2 4

portanto, µ ¶ µ ¶
1 2 2 1
P 1 2 3 = √ arc tg √ x+ √ .
(x + 2 ) + 4 3 3 3
Finalmente, µ ¶
2 2 1
P f (x) = log |x − 1| − √ arc tg √ x+ √ + C.
3 3 3

2o caso: Q tem raı́zes complexas de multiplicidade p, p > 1, isto é, Q admite como divisores
polinómios de grau 2 que não têm raı́zes reais, aparecendo p vezes cada polinómio na
factorização de Q. Na decomposição, a cada par de raı́zes (α+iβ, α−iβ) vai corresponder
uma soma de parcelas com a seguinte forma:
Ap x + B p Ap−1 x + Bp−1 A1 x + B 1
2 2 p
+ 2 2 p−1
+ ··· +
((x − α) + β ) ((x − α) + β ) (x − α)2 + β 2
com Ap , Ap−1 , . . . , A1 , Bp , Bp−1 , . . . , B1 constantes a determinar.

EXEMPLO: Calculemos a primitiva da função f definida por


x4 − x3 + 6x2 − 4x + 7
f (x) = ·
(x − 1)(x2 + 2)2
4.3 Primitivação de funções racionais 81

Como √
(x − 1)(x2 + 2)2 = 0 ⇔ x = 1 ∨ x = ±i 2
e (x − 1)(x2 + 2)2 tem grau 5, podemos concluir que estas raı́zes têm multiplicidade 1 e
multiplicidade 2, respectivamente. Então

x4 − x3 + 6x2 − 4x + 7 A Bx + C Dx + E
2 2
= + 2 2
+ 2
(x − 1)(x + 2) x − 1 (x + 2) x +2

A(x2 + 2)2 + (Bx + C)(x − 1) + (Dx + E)(x − 1)(x2 + 2)


=
(x − 1)(x2 + 2)2

Pelo método dos coeficientes indeterminados temos




 A = 1

 B = 1

C = −1



 D = 0

E = −1

Assim:
x4 − x3 + 6x2 − 4x + 7 1 x−1 −1
2 2
= + 2 2
+ 2
(x − 1)(x + 2) x − 1 (x + 2) x +2
e
µ ¶ µ ¶ µ ¶ µ ¶
x4 − x3 + 6x2 − 4x + 7 1 x−1 −1
P = P +P +P
(x − 1)(x2 + 2)2 x−1 (x2 + 2)2 2
x +2
µ ¶ Ã !
1
x−1 2
= log |x − 1| + P −P x2
(x2 + 2)2 1+ 2

 
√1
µ ¶
x−1 1   2
= log |x − 1| + P −√ P  ³ ´2 
(x2 + 2)2 2 1 + √x2
µ ¶ µ ¶
x−1 1 x
= log |x − 1| + P − √ arc tg √ .
(x2 + 2)2 2 2

A primitiva à !
µ ¶
x−1 x−1
P =P √ 2
(x2 + 2)2 (x2 + 2 )2
√ √
calcula-se fazendo a substituição x = 2 t, isto é, ϕ(t) = 2 t. Então
82 4. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

Ã√ !
2t − 1 √
P f (ϕ(t)).ϕ0 (t) = P · 2
(2t2 + 2)2

√ Ã√ !
2 2t − 1
= P
4 (t2 + 1)2

√ Ã √ !
2 2t 1
= P −
4 (t2 + 1)2 (t2 + 1)2

√ Ã √ !
2 2t 1
= P 2 −P 2
4 (t + 1)2 (t + 1)2

√ Ã√ !
2 2 2 −2 1
= P 2t(t + 1) − P 2
4 2 (t + 1)2

√ Ã √ 2 2
!
2 2 2 1 + t − t
= − (t + 1)−1 − P
4 2 (t2 + 1)2
√ µ ¶
1 1 2 1 + t2 t2
= − 2 − P 2 −P 2
4t +1 4 (t + 1)2 (t + 1)2
√ µ ¶
1 1 2 1 t 2t
= − 2 − P 2 −P
4t +1 4 t +1 2 (t2 + 1)2
√ µ µ ¶¶
1 1 2 1 t 1 1
= − 2 − arc tg(t) − − 2 +P
4t +1 4 t +1 2 2 t2 + 1
√ √ √
1 1 2 2 t 2
= − 2 − arc tg(t) − 2
+ arc tg(t)
4t +1 4 4 2(t + 1) 8
√ √
2t + 2 2
= − 2 − arc tg(t),
8(t + 1) 8
portanto, µ ¶ √ µ ¶
x−1 x+2 2 x
P =− − arc tg √ .
(x2 + 2)2 4(x2 + 2) 8 2
Finalmente,
√ µ ¶
5 2 x x+2
P f (x) = log |x − 1| − arc tg √ − + C.
8 2 4(x2 + 2)
4.3 Primitivação de funções racionais 83

P (x)
NOTA: Se admite uma decomposição da forma que aparece neste teorema, a sua
Q(x)
primitiva pode ser calculada recorrendo a primitivas de funções da forma
Ax + B Cx + D
e , p > 1.
(x − α)2 + β 2 [(x − α)2 + β 2 ]p
Temos no primeiro caso, usando a substituição x − α = βt,
½ ¾
Ax + B A(α + βt) + B
P = Pt ·β
(x − α)2 + β 2 β 2 t2 + β 2 t= x−α β

A (α + βt) + B A α + B + A βt
Pt 2 2 2
·β =P
β t +β β(t2 + 1)

Aα+B A βt
=P + P
β(t2 + 1) β(t2 + 1)

Aα+B 1 t
= P 2 +AP 2
β t +1 t +1

Aα+B A
= arctg(t) + log(t2 + 1)
β 2
Portanto,

µ ¶ "µ ¶2 #
Ax + B Aα+B x−α A x−α
P = arctg + log + 1 + C.
(x − α)2 + β 2 β β 2 β

No segundo caso, usando a mesma substituição,


½ ¾
Cx + D C(α + βt) + D
P = Pt ·β .
[(x − α)2 + β 2 ]p (β 2 t2 + β 2 )p t= x−α β

C (α + βt) + D C α + D + C βt
Pt 2 2 2 p
·β =P
(β t + β ) β 2p−1 (t2 + 1)p

C α+D C βt
=P + P 2p−1 2
β 2p−1 (t2
+ 1) p β (t + 1)p

C α+D 1 C t
= 2p−1
P 2 p
+ 2p−2 P 2
β (t + 1) β (t + 1)p

C α+D 1 C 1 1
= 2p−1
P 2 p
− 2p−2 · · 2
β (t + 1) 2β p − 1 (t + 1)p−1
84 4. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

1
Resta-nos calcular P ·
(t2 + 1)p
Mas

1 1 + t 2 − t2 1 t2
= = −
(t2 + 1)p (t2 + 1)p (t2 + 1)p−1 (t2 + 1)p
o que implica que

1 1 t2
P = P − P
(t2 + 1)p (t2 + 1)p−1 (t2 + 1)p

1 t 2t
=P −P · 2
(t2 + 1) p−1 2 (t + 1)p

1 t 1
=P + −P
(t2 + 1) p−1 2
2(p − 1)(t + 1) p−1 2(p − 1)(t2 + 1)p−1

t 2p − 3 1
= 2 p−1
+ P 2 ,
2(p − 1)(t + 1) 2p − 2 (t + 1)p−1
1
isto é, o cálculo da primitiva de ficou apenas dependente do cálculo da primitiva
(t2 + 1)p
1
de , que por sua vez pode, de modo análogo, fazer-se depender do cálculo da
(t2
+ 1)p−1
1 1
primitiva de 2 p−2
, e assim sucessivamente até chegarmos à primitiva de que
(t + 1) 1 + t2
é imediata.
P (x)
Teorema 4.3.3 Se é uma função racional irredutı́vel, se o grau de P é menor que
Q(x)
o grau de Q e se

Q(x) = a0 (x − a)p · · · (x − b)q [(x − α)2 + β 2 ]r · · · [(x − γ)2 + δ 2 ]s

então a função é decomponı́vel numa soma da forma


P (x) Ap A1 Bq B1
= p
+ ··· + + ··· + q
+ ··· + +
Q(x) (x − a) x−a (x − b) x−b
Mr x + N r M1 x + N 1
+ + · · · + + ···+
[(x − α)2 + β 2 ]r (x − α)2 + β 2
Vs x + Z s V1 x + Z 1
+ 2 2 s
+ ··· +
[(x − γ) + δ ] (x − γ)2 + δ 2
onde Ap , . . . , A1 , Bq , . . . , B1 , Mr , Nr , . . . , M1 , N1 , Vs , Zs , . . . , V1 , Z1 são números reais.
4.4 Primitivação de funções algébricas irracionais 85

4.4 Primitivação de funções algébricas irracionais


Vejamos agora alguns tipos de funções cuja primitivação pode reduzir-se à primitivação
de funções racionais com uma substituição adequada. Introduza-se em primeiro lugar a
noção de polinómio e função racional em várias variáveis.

Definição 4.4.1 Designa-se por polinómio em duas variáveis , x e y, com coefici-


entes reais, a aplicação P : R × R → R, dada por

P (x, y) = amn xm y n + · · · + a11 xy + a10 x + a01 y + a00 ,

com m, n ∈ N0 , aij ∈ R. Define-se o grau de P como o maior inteiro i + j tal que aij 6= 0.
Mais geralmente define-se, de modo análogo, polinómio em p variáveis u 1 , . . . , up ,
como a aplicação P : R · · × R} → R, dada por
| × ·{z
p vezes
X
P (u1 , . . . , up ) = ai1 ...ip ui11 . . . uipp ,
i1 ,...,ip
X
i1 , . . . , ip ∈ N0 , ai1 ...ip ∈ R e uma soma finita em i1 , . . . , ip .
i1 ,...,ip

Definição 4.4.2 Se P (u1 , . . . , up ) e Q(u1 , . . . , up ) são dois polinómios em p variáveis,


chama-se função racional em p variáveis a uma aplicação da forma
P (u1 , . . . , up )
R(u1 , . . . , up ) =
Q(u1 , . . . , up )
definida nos elementos (u1 , . . . , up ) ∈ R · · × R} tais que Q(u1 , . . . , up ) 6= 0.
| × ·{z
p vezes
Analisemos então algumas classes de funções susceptı́veis de serem racionalizadas por
convenientes mudanças de variável. No que se segue R designa uma função racional dos
seus argumentos.

Expressão Substituição

m p r
f (x) = R(x n , x q , . . . , x s ) x = tµ
µ = m.m.c.{n, q, . . . , s}

³ ¡ ¢ m ¡ a x+b ¢ pq ¡ x+b ¢ rs ´
f (x) = R x, ac x+d
x+b n
, c x+d , . . . , ac x+d a x+b
= tµ
c x+d
µ = m.m.c.{n, q, . . . , s}

f (x) = xα (a + b xβ )γ xβ = t
86 4. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

1 1
EXEMPLO 1: Consideremos a função f (x) = √ √ = 1 1 · A substituição a
x+ x
3
x2 + x3
usar é x = ϕ(t) = t6 e a primitiva a calcular é
µ ¶
0 1 5 6t5 t3 2 1
P f (ϕ(t))ϕ (t) = P 3 · 6t = P 2 =6P =6 P t −t+1−
t + t2 t (t + 1) t+1 t+1
µ 3 ¶
t t2
=6 − + t − log |t + 1| = 2t3 − 3t2 + 6t − 6 log |t + 1|
3 2
tendo-se assim
1 √ √ √ √
P√ √ = 3 x − 3 3 x + 6 6 x − 6 log( 6 x + 1) + C.
x+ x 3


2x + 3
EXEMPLO 2: Seja f (x) = √ · A substituição 2x + 3 = t4 permite resolver o
1 − 4 2x + 3
problema. Temos
µ ¶
0 t2 3 t5 4 3 2 1
P f (ϕ(t))ϕ (t) = P · 2t = −2 P = −2P t + t + t + t + 1 +
1−t t−1 t−1
µ 5 ¶
t t4 t3 t2
= −2 + + + + t + log |t − 1|
5 4 3 2
e
µ √ √ √ √
( 4 2x + 3)5 ( 4 2x + 3)4 ( 4 2x + 3)3 ( 4 2x + 3)2 √
P f (x) = −2 + + + + 4 2x + 3
5 ¶ 4 3 2

+ log( 4 2x + 3) + C
p√ 2
3
EXEMPLO 3: Seja f (x) = x x2 + 2. Façamos a substituição x 3 = t. Obtemos:
3 1 3 1 3 √
P f (ϕ(t))ϕ0 (t) = P t 2 (2 + t) 2 t 2 = P t2 2 + t
2 2
que, como vimos anteriormente (exemplo 2), se resolve fazendo a substituição 2 + t = z 2 ,
isto é,
3 √ 3© ª
P t2 2 + t = Pz (z 2 − 2)2 · z · 2z z=√2+t
2 2
3© ª
= Pz 2(z 6 − 4z 4 + 4z 2 ) z=√2+t
2
½ 7 ¾
z z5 z3
= 3 −4 +4
7 5 3 z=√2+t

3 ³√ ´7 12 ³√ ´5 ³√ ´3
= 2+t − 2+t +4 2+t
7 5
4.4 Primitivação de funções algébricas irracionais 87

tendo-se finalmente
q√ µq ¶7 µq ¶5 µq ¶3
3
2
3 2 12 2 2
Px x +2= x3 + 2 − x3 + 2 +4 x3 + 2 + C.
7 5

Expressão Substituição

√ √
a x2 + b x + c = ax + t
se a > 0

√ √
a x2 + b x + c = t x + c

f (x) = R(x, a x2 + b x + c) se c > 0


a x2 + b x + c = t (x − α)

ou a x2 + b x + c = t (x − β)
se α e β são zeros reais
distintos de a x2 + b x + c

1
EXEMPLO 1: Consideremos a função f (x) = √ . Como a = 3 podemos
2
x 3x − x + 1
√ √
usar a substituição 3x2 − x + 1 = 3 x + t, tendo-se:

3x2 − x√+ 1 = 3x2 + 2 3xt + t2
−x − 2 3xt = t2 − 1
1 − t2
x= √ = ϕ(t)
1 + 2 3t
√ √
0 −2 3t2 − 2t − 2 3
o que implica ϕ (t) = √ ·
(2 3t + 1)2
A primitiva a calcular é
√ √
1 −2 3t2 − 2t − 2 3
P µ ¶· √
1 − t2 √ 1 − t2 (2 3t + 1)2
√ 3· √ +t
1 + 2 3t 1 + 2 3t
√ √
−2 3t2 − 2t − 2 3
= P√ √
3(1 − t2 )2 + t(1 − t2 )(2 3t + 1
√ √
−2( 3t2 + t + 3)
= P √ √ √
( 3 − 3t2 + 2 3t2 + t)(1 − t2 )
88 4. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

µ 1 1 ¶
1 2 2
= −2P = −2P +
1 − t2 1−t 1+t
¯ ¯
¯1 − t¯
= log |1 − t| − log |1 + t| = log ¯¯ ¯
1 + t¯
o que implica que
¯ 1 − √3x2 − x + 1 + √3x ¯
¯ ¯
1 ¯ ¯
P √ = log ¯ √ √ ¯ + C.
2
x 3x − x + 1 ¯ 2
1 + 3x − x + 1 − 3x ¯

1
EXEMPLO 2: Primitivemos a função f (x) = √ · Tendo em conta que
x −x2 + 4x − √ 3
−x2 + 4x − 3 = 0 ⇔ x = 1 ∨ x = 3 podemos usar a substituição −x2 + 4x − 3 = t(x − 3).


−x2 + 4x − 3 = t(x − 3)
p
−(x − 3)(x − 1) = t(x − 3)

−(x − 3)(x − 1) = t2 (x − 3)2

−(x − 1) = t2 (x − 3)
3t2 + 1
x= = ϕ(t)
t2 + 1
4t
o que implica ϕ0 (t) = ·
(t2
+ 1)2
A primitiva a calcular é

1 4t
P 2
µ 2 ¶· 2
3t + 1 3t + 1 (t + 1)2
· t − 3
t2 + 1 t2 + 1
4
= P 2
(3t + 1)(3t2 + 1 − 3t2 − 3)
−2 2 √
= P 2 = − √ arc tg( 3t)
3t + 1 3
o que implica que

1 2 √ −x2 + 4x − 3
P √ = − √ arc tg( 3 · ) + C.
x −x2 + 4x − 3 3 x−3
4.4 Primitivação de funções algébricas irracionais 89

Expressão Substituição

a2 − x 2 x = a cos(t) ou x = a sen(t)

x2 − a 2 x = a sec(t) ou x = a cosec(t)

x2 + a 2 x = a tg(t) ou x = a cotg(t)


9 − x2
EXEMPLO 1: Seja f (x) = · Façamos a substituição x = 3 sen(t) = ϕ(t). Temos
x2
ϕ0 (t) = 3 cos(t) e
p p
0 9 − 9 sen2 (t) 1 − sen2 (t)
P f (ϕ(t))ϕ (t) = P · 3 cos(t) = P · cos(t)
9 sen2 (t) sen2 (t)
cos2 (t)
= P = P cotg2 (t) = P (cosec2 (t) − 1)
sen2 (t)
= −cotg(t) − t

e, assim,
√ √
9 − x2 x x 9 − x2 x
P 2
= −cotg(arc sen( )) − arc sen( ) + C = − − arc sen( ) + C
x 3 3 x 3

1
EXEMPLO 2: Consideremos a função f (x) = √ e a substituição x = 4 sec(t) =
x3 x2 − 16
ϕ(t). Temos ϕ0 (t) = 4 sec(t) tg(t) e

1
P f (ϕ(t))ϕ0 (t) = P p · 4 sec(t) tg(t)
43 sec3 (t) 16 sec2 (t) − 16
tg(t) tg(t)
= P p =P 3 2
43 sec2 (t) sec2 (t) − 1 4 sec (t) tg(t)
1 1 1
= 3P = P cos2 (t)
4 sec2 (t) 43
µ ¶
1 t sen(2 t)
= 3 +
4 2 4

e, assim, µ ¶
1 1 1 x sen(2 arc sec( x4 ))
P √ = 3 arc sec( ) + +C
x3 x2 − 16 4 2 4 4
1
EXEMPLO 3: Para calcular as primitivas de f (x) = √ podemos fazer a subs-
x2 x2 + 4
90 4. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

tituição x = 2 tg(t) = ϕ(t). Temos ϕ0 (t) = 2 sec2 (t) e

1
P f (ϕ(t))ϕ0 (t) = P 2
p
2
· 2 sec2 (t)
4 tg (t) 4 tg (t) + 4
sec2 (t) sec2 (t)
= P p = P
4 tg2 (t) tg2 (t) + 1 4 tg2 (t) sec(t)
1 sec(t) 1
= P 2 = P cotg(t) cosec(t)
4 tg (t) 4
1
= − cosec(t)
4
e, assim, √
1 1 x 1 x2 + 4
P √ = − cosec(arc tg( )) + C = − +C
x2 x 2 + 4 4 2 4 x
4.5 Primitivação de funções transcendentes 91

4.5 Primitivação de funções transcendentes

Expressão Substituição

f (x) = R(sen(x), cos(x)) tg( x2 ) = t

f (x) = R(sen(x), cos(x)) tg(x) = t


R(−y, −z) = R(y, z), ∀y, z

f (x) = R(ex ) ex = t
³x´
A substituição tg = t conduz a uma função racional de t. De facto, de
2
¡x¢
³x´ ³x´
2
tg 1
sen(x) = 2 sen . cos =2q ·q
2 2 ¡
1 + tg2 x2
¢ ¡ ¢
1 + tg2 x2
¡ ¢
tg x2 2t
= 2 ¡ ¢=
2 x
1 + tg 2 1 + t2
e ¡ ¢
³x´ ³x´ 1 tg2 x2
cos(x) = cos2 − sen2 = ¡ ¢− ¡ ¢
2
¡ ¢
2 1 + tg2 x2 1 + tg2 x2
2 x
1 − tg 2 1 − t2
= ¡ ¢ =
1 + tg2 x2 1 + t2
conclui-se, tendo em conta que
³x´ 2
tg = t ⇒ x = 2 arc tg(t) = ϕ(t) ⇒ ϕ0 (t) = ,
2 1 + t2
½ µ ¶ ¾
2t 1 − t2 2
P f (x) = Pt R , .
1 + t2 1 + t2 1 + t2 tg( x2 )=t

A substituição indicada serve no caso geral, mas em certos casos particulares são
preferı́veis outras substituições. Assim, por exemplo, se R(sen(x), cos(x)) é função par em
sen(x) e cos(x) (isto é, se não se altera ao mudarmos simultaneamente sen(x) para −sen(x)
e cos(x) para − cos(x)), pode fazer-se a substituição tg(x) = t, ou seja, ϕ(t) = arc tg(t) e

t 1
sen(x) = √ e cos(x) = √ ·
1 + t2 1 + t2

1
EXEMPLO 1: Calculemos as primitivas de f (x) = · A substituição indicada
2 cos(x) + 1
92 4. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

³x´
é tg = t:
2
1 2 2
P 2 · 2
=P
1−t 1+t 3 − t2
2 + 1
1 +µt2 ¶
1 1 1
= √ P √ +√
3 3−t 3+t ¯√ ¯
1 √ √ 1 ¯ 3 + t¯
¯ ¯
= √ (− log | 3 − t| + log | 3 + t|) = √ log ¯ √ ¯
3 3 ¯ 3 − t¯

o que implica que


¯√ ³ ´¯
¯ 3 + tg x ¯
1 1 ¯ 2 ´ ¯¯ + C.
P = √ log ¯¯ √ ³x
2 cos(x) + 1 3 ¯ 3 − tg
¯
¯
2
1
EXEMPLO 2: Para calcular as primitivas de f (x) = fazemos a substi-
cos2 (x) − sen2 (x)
tuição tg(x) = t e obtemos

1 1 1
P 2 · 2
=P
1 t 1+t 1 − t2
2

1 +µt 1 + t2 ¶
1 1 1
= P +
2 1−t 1+t
¯ ¯
1 1 ¯1 + t¯
= (− log |1 − t| + log |1 + t|) = log ¯
¯ ¯
2 2 1 − t¯
e, portanto, ¯ ¯
1 1 ¯ 1 + tg(x) ¯
P = log ¯¯ ¯+C
cos2 (x) − sen2 (x) 2 1 − tg(x) ¯
1
EXEMPLO 3: Para primitivar a função f (x) = usa-se a substituição ex = t:
+1 ex
¯ ¯
1 1 −1 1 ¯ t ¯
P · =P + P = − log |1 + t| + log |t| = log ¯
¯ ¯
t+1 t 1+t t 1 + t¯
e µ ¶
1 ex
P x = log + C.
e +1 ex + 1
As funções do tipo f (x) = sen(ax)sen(bx), com a e b constantes, |a| 6= |b|, podem
primitivar-se tendo em conta que
1
sen(ax).sen(bx) = [cos(a − b)x − cos(a + b)x]
2
4.5 Primitivação de funções transcendentes 93

e conclui-se que
sen(a − b)x sen(a + b)x
P sen(ax).sen(bx) = − +C
2(a − b) 2(a + b)
De modo análogo,
sen(a − b)x sen(a + b)x
P cos(ax). cos(bx) = + +C
2(a − b) 2(a + b)
Se pretendermos primitivar um produto de vários factores sen(am x) e cos(bn x) po-
demos começar por substituir por uma soma o produto de dois dos factores; depois
substituem-se por somas os novos produtos obtidos por associação de novos pares de
factores; e assim sucessivamente até esgotar todos os factores.

EXEMPLO:

P sen(3x) cos(5x)sen(6x)
1
= P (sen(8x) + sen(−2x)) sen(6x)
2
1 1 1 1
= P (cos(2x) − cos(14x)) − P (cos(−4x) − cos(8x))
2 2 2 2
1 1 1 1
= P cos(2x) − P cos(14x) − P cos(4x) + P cos(8x)
4µ 4 4 4¶
sen(14x) sen(4x) sen(8x)
= 18 sen(2x) − − + +C
7 2 4
As funções do tipo f (x) = p(x)eax , onde p é um polinómio de grau n em x e a é uma
constante, primitivam-se por partes:
1 1
P p(x)eax = eax p(x) − P eax p0 (x).
a a
A primitiva que aparece no segundo membro é ainda do mesmo tipo, mas mais simples,
pois o grau de p0 (x) é inferior em uma unidade ao grau de p(x). Aplicando novamente o
mesmo processo até chegar a um polinómio de grau zero, obtém-se
µ ¶
eax p0 (x) p00 (x) np
(n)
(x)
P f (x) = p(x) − + 2 + · · · + (−1) + C.
a a a an

EXEMPLO: Primitivemos a função f (x) = (x2 + 2x + 1)e3x .


1 1
P (x2 + 2x + 1)e3x = (x2 + 2x + 1)e3x − P (2x + 2)e3x
µ 3 3 ¶
1 1 1
= (x2 + 2x + 1)e3x − (2x + 2)e3x + P 2e3x
3 3 3
µ ¶
1 3x 1 2
= e (x2 + 2x + 1) − (2x + 2) + + C.
3 3 9
94 4. Funções Reais de Variável Real: Primitivação

As primitivas que obtivemos foram sempre funções elementares, isto é, funções algé-
bricas, a função exponencial, as funções trigonométricas e as trigonométricas inversas e,
de um modo geral, as funções que se possam obter por composição destas em número
finito. Por outras palavras, aprendemos a calcular primitivas de funções elementarmente
primitiváveis. Nem todas as funções estão nesta situação. No entanto,

Teorema 4.5.4 Toda a função contı́nua num intervalo [a, b] é primitivável nesse inter-
valo.
Capı́tulo 5

Funções Reais de Variável Real:


Cálculo Integral

5.1 Integral de Riemann: Definição e propriedades


Definição 5.1.1 Sejam a, b ∈ R, a < b. Dados n + 2 pontos a = x0 < x1 < x2 < · · · <
xn−1 < xn < xn+1 = b, ao conjunto dos subintervalos da forma [xi , xi+1 ], i = 0, 1, . . . , n,
chama-se partição de [a, b].
NOTAS:
1. A partição é um conjunto de subconjuntos, mais precisamente:
P = {[xi , xi+1 ] : i ∈ N0 , 0 ≤ i ≤ n}.
O nome partição resulta de ∪ni=0 [xi , xi+1 ] = [a, b] e do facto de dados dois quaisquer
elementos de P a sua intersecção ou é vazia ou se reduz a um ponto.
2. A partição P fica bem definida pelo conjunto P = {a = x0 , x1 , x2 , . . . , xn−1 , xn , xn+1 =
b} pelo que podemos identificar a partição P com o conjunto P . É claro que,
pelo modo como definimos a partição, consideramos o conjunto P ordenado, isto é,
xi < xi+1 , i = 0, 1, . . . , n.
Definição 5.1.2 Sejam a, b ∈ R, a < b. Dadas duas partições P1 e P2 , diz-se que P1 é
mais fina que P2 se todos os elementos de P1 estão contidos em elementos de P2 .
NOTA: Tendo em conta a Nota 2, a seguir à definição anterior, se P1 e P2 forem os
conjuntos de pontos que definem P1 e P2 , respectivamente, a Definição 5.1.2 poderia ser
enunciada do seguinte modo: P1 é mais fina que P2 se P2 ⊂ P1 .
Proposição 1 Sejam a, b ∈ R, a < b. Dadas duas partições de [a, b], P 1 e P2 , existe
uma partição de [a, b], P3 , mais fina que P1 e P2 .
Demonstração: Tendo em conta a Nota 2 a seguir à Definição 5.1.1 e a nota a seguir à
Definição 5.1.2, se P1 e P2 são os conjuntos de pontos que definem P1 e P2 , basta tomar
a partição P3 definida por P3 = P1 ∪ P2 .
96 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

Definição 5.1.3 Sejam a, b ∈ R, a < b, f : [a, b] → R uma função limitada e P uma


partição de [a, b]. Chama-se soma inferior de Darboux de f , relativa à partição P a
n
X
sP (f ) = (xi+1 − xi ) inf f (x).
x∈[xi ,xi+1 ]
i=0

Chama-se soma superior de Darboux de f , relativa à partição P a


n
X
SP (f ) = (xi+1 − xi ) sup f (x).
i=0 x∈[xi ,xi+1 ]

NOTAS:
1. As somas superior e inferior estão bem definidas. Como f é limitada em [a, b], f
é limitada em [xi , xi+1 ], isto é, o conjunto {f (x) : x ∈ [xi , xi+1 ]} é limitado e,
portanto, tem ı́nfimo e supremo.

2. É óbvio que sP (f ) ≤ SP (f ). Veremos que esta propriedade se pode generalizar: para


uma função limitada em [a, b], qualquer soma superior é maior ou igual a qualquer
soma inferior.

3. Se f é uma função não negativa em [a, b], dada uma partição P, a soma inferior
de Darboux é igual à soma das áreas dos rectângulos cujos lados têm comprimento
xi+1 − xi e inf f (x) (ver Figura 5.1).
x∈[xi ,xi+1 ]

a x 1 x 2 x 3 x 4 x5 x 6 x 7 x 8 x 9 x 10 b x

Figura 5.1: Soma inferior de Darboux.

Analogamente, a soma superior de Darboux é igual à soma das áreas dos rectângulos
cujos lados têm comprimento xi+1 − xi e sup f (x) (ver Figura 5.2).
x∈[xi ,xi+1 ]
5.1 Integral de Riemann: Definição e propriedades 97

Figura 5.2: Soma superior de Darboux.

Proposição 2 Sejam a, b ∈ R, a < b, f : [a, b] → R uma função limitada, P 1 e P2 duas


partições de [a, b], P1 mais fina que P2 . Então: sP2 (f ) ≤ sP1 (f ) ≤ SP1 (f ) ≤ SP2 (f ).

Demonstração: Da Definição 5.1.2, para cada [xi , xi+1 ] ∈ P2 , existem [yj , yj+1 ] ∈ P1 , j =
ki , . . . , pi , tais que ∪pj=k
i
i
[yj , yj+1 ] = [xi , xi+1 ]. Então

inf f (x) ≤ inf f (x), j = ki , . . . , pi ,


x∈[xi ,xi+1 ] x∈[yj ,yj+1 ]

pelo que
pi pi
X X
(yj+1 − yj ) inf f (x) ≥ (yj+1 − yj ) inf f (x) =
x∈[yj ,yj+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]
j=ki j=ki
pi
X
= inf f (x) (yj+1 − yj ) = (xi+1 − xi ) inf f (x).
x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]
j=ki

Somando estas expressões (de i = 0 a i = n) obtém-se sP2 (f ) ≤ sP1 (f ). Analogamente se


obtinha SP1 (f ) ≤ SP2 (f ). A proposição fica demonstrada tendo em conta que sP1 (f ) ≤
SP1 (f ) (ver Nota 2 a seguir à Definição 5.1.3).
Proposição 3 Sejam a, b ∈ R, a < b, f : [a, b] → R uma função limitada, P 1 e P2 duas
partições de [a, b]. Então: sP1 (f ) ≤ SP2 (f ) e sP2 (f ) ≤ SP1 (f ).
Demonstração: Pela Proposição 1 existe uma partição P3 mais fina que P1 e P2 . Pela
Proposição 2, sP1 (f ) ≤ sP3 (f ) ≤ SP3 (f ) ≤ SP2 (f ) e sP2 (f ) ≤ sP3 (f ) ≤ SP3 (f ) ≤ SP1 (f ).

NOTA: Resulta desta proposição que se a, b ∈ R, a < b, f : [a, b] → R é uma função


limitada, o conjunto das somas superiores é minorado (todas as somas inferiores são
minorantes) e o conjunto das somas inferiores é majorado (todas as somas superiores são
majorantes); estes conjuntos têm, pois, ı́nfimo e supremo, respectivamente.
98 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

Definição 5.1.4 Sejam a, b ∈ R, a < b e f : [a, b] → R uma função limitada. Ao


ı́nfimo do conjunto das somas superiores de f chama-se integral superior de f em
Rb
[a, b] e representa-se por a f (x) dx. Ao supremo do conjunto das somas inferiores de f
Rb Rb
chama-se integral inferior de f em [a, b] e representa-se por a f (x) dx. Se a f (x) dx =
Rb
a
f (x) dx, diz-se que f é integrável à Riemann em [a, b]; a este número chama-se in-
Rb Rb Rb
tegral de f em [a, b] e representa-se a f (x) dx = a f (x) dx = a f (x) dx.

NOTAS:

1. Sejam a, b ∈ R, a < b e f : [a, b] → R uma função limitada. O integral superior de


f em [a, b] e o integral inferior de f em [a, b] existem (ver nota antes da definição).
No entanto a função pode não ser integrável; consideremos, por exemplo, a função



 1, x ∈ [0, 1] ∩ Q
f (x) =


 0, x ∈ [0, 1] \ Q

Como entre quaisquer dois pontos existem racionais e irracionais,Z dada uma par-
1
tição qualquer, P, inf f (x) = 0 e sup f (x) = 1, pelo que f (x) dx = 0 e
x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ] 0
Z 1
f (x) dx = 1.
0

2. Se f é contı́nua, não negativa e integrável em [a, b], o integral de f é igual à área da


figura limitada pelo gráfico de f e pelas rectas x = a, x = b e y = 0 (eixo dos xx)
(ver Figura 5.3). Para nos convencermos deste facto, basta ter em conta as figuras
5.1 e 5.2 e a definição. O integral é o ı́nfimo do conjunto das somas superiores, que
são todas maiores ou iguais que aquela área (ver Figura 5.2), portanto o integral é
maior ou igual que a área da figura referida. Por outro lado, o integral também é
o supremo do conjunto das somas inferiores, que são todas menores ou iguais que
aquela área (ver Figura 5.1) portanto o integral é menor ou igual que a área da
figura referida. Conclui-se assim que o integral é igual à área da figura.

Rb
Proposição 4 Se a < b e f (x) = c, ∀x ∈ [a, b], então a
f (x) dx = c (b − a)

Demonstração: Qualquer que seja a partição P, sP (f ) = SP (f ) = c (b − a).

Proposição 5 Se a < b e f, g : [a, b] → R são duas funcões integráveis em [a, b] tais que
Rb Rb
f (x) ≤ g(x), ∀x ∈ [a, b], então a f (x) dx ≤ a g(x) dx.
5.1 Integral de Riemann: Definição e propriedades 99

Figura 5.3: O integral é igual à área da figura indicada.

Demonstração: Qualquer que seja a partição P, sP (f ) ≤ sP (g) pelo que, os integrais,


(que, por hipótese, existem e são iguais aos supremos dos conjuntos das somas inferiores)
verificam a desigualdade.

Proposição 6 Sejam a, b ∈ R, a < b e f : [a, b] → R uma função limitada. f é integrável


se, e só se, para todo o ε > 0 existe uma partição P tal que SP (f ) − sP (f ) < ε.

Demonstração: Suponhamos que f é integrável e seja ε > 0, qualquer. Visto que o integral
é o supremo do conjunto das somas inferiores, existe uma partição P1 tal que
Z b
sP1 (f ) > f (x) dx − ε/2; (5.1)
a

analogamente, visto que o integral é o ı́nfimo do conjunto das somas superiores, existe
uma partição P2 tal que
Z b
SP2 (f ) < f (x) dx + ε/2. (5.2)
a
Rb
Então, SP2 (f ) − ε/2 < a f (x) dx < sP1 (f ) + ε/2 donde obtemos SP2 (f ) < sP1 (f ) + ε.
Se tomarmos uma partição P, mais fina que P1 e P2 então, pela Proposição 2, SP (f ) ≤
SP2 (f ) < sP1 (f ) + ε ≤ sP (f ) + ε.
Reciprocamente, suponhamos que para todo o ε > 0 existe uma partição P tal que
Rb
SP (f ) − sP (f ) < ε, isto é, SP (f ) < sP (f ) + ε. Então, a f (x) dx ≤ SP (f ) < sP (f ) + ε ≤
Rb Rb Rb
a
f (x) dx + ε, pelo que, para todo o ε > 0, 0 ≤ a f (x) dx − a f (x) dx ≤ ε, o que só é
Rb Rb
possı́vel se a f (x) dx = a f (x) dx.

Proposição 7 Se a < b e f, g : [a, b] → R são duas funcões integráveis em [a, b] então


Rb Rb Rb
f + g é integrável em [a, b] e a (f + g)(x) dx = a f (x) dx + a g(x) dx.
100 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

Demonstração: Visto que, para cada i,

inf f (x) ≤ f (x) ≤ sup f (x), ∀x ∈ [xi , xi+1 ]


x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]

e
inf g(x) ≤ g(x) ≤ sup g(x), ∀x ∈ [xi , xi+1 ],
x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]

então

inf f (x)+ inf g(x) ≤ f (x)+g(x) ≤ sup f (x)+ sup g(x), ∀x ∈ [xi , xi+1 ],
x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]

pelo que
inf f (x) + inf g(x) ≤ inf (f (x) + g(x)) ≤
x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]

≤ sup (f (x) + g(x)) ≤ sup f (x) + sup g(x)


x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]

Usando estas desigualdades e recorrendo à definição, obtemos, para qualquer partição,

sP (f ) + sP (g) ≤ sP (f + g) ≤ SP (f + g) ≤ SP (f ) + SP (g) (5.3)

Seja ε > 0, qualquer. Pela Proposição 6 (desigualdades 5.1 e 5.2) existem partições
P1 , P2 , P3 e P4 tais que
Z b Z b
ε ε
f (x) dx − ≤ sP1 (f ) ≤ SP2 (f ) ≤ f (x) dx +
a 2 a 2
e Z Z b
b
ε ε
g(x) dx − ≤ sP3 (g) ≤ SP4 (g) ≤ g(x) dx +
a 2 a 2
Se considerarmos uma partição P mais fina que P1 , P2 , P3 e P4 , as últimas desigualdades
continuam válidas, com as Pi substituı́das por P e, adicionando,
Z b Z b Z b Z b
f (x) dx+ g(x) dx−ε ≤ sP (f )+sP (g) ≤ SP (f )+SP (g) ≤ f (x) dx+ g(x) dx+ε
a a a a

Usando agora as desigualdades 5.3, obtemos


Z b Z b Z b Z b
f (x) dx + g(x) dx − ε ≤ sP (f + g) ≤ SP (f + g) ≤ f (x) dx + g(x) dx + ε.
a a a a
Rb Rb
Concluı́mos assim que a f (x) dx + a g(x) dx é o supremo das somas inferiores e o
Rb Rb Rb
ı́nfimo das somas superiores de f + g, isto é, a f (x) dx + a g(x) dx = a (f (x) + g(x)) dx.

Proposição 8 Se a < b, se f : [a, b] → R é integrável em [a, b] e c ∈ R, então c f é


Rb Rb
integrável em [a, b] e a (c f )(x) dx = c a f (x) dx.
5.1 Integral de Riemann: Definição e propriedades 101

Demonstração: Se c = 0, cf ≡ 0 em [a, b] e aplica-se a Proposição 4.


Se c > 0, seja P uma partição de [a, b]. Como, para cada i,

inf (cf (x)) = c inf (f (x)) e sup (cf (x)) = c sup (f (x)),
[xi ,xi+1 ] [xi ,xi+1 ] [xi ,xi+1 ] [xi ,xi+1 ]

então sP (cf ) = c sP (f ) e SP (cf ) = c SP (f ). Tomando o supremo das somas inferiores e o


ı́nfimo das somas superiores, obtemos:
Z b Z b Z b Z b Z b
(c f )(x) dx = c f (x) dx = c f (x) dx = c f (x) dx = (c f )(x) dx
a a a a a

Se c = −1, inf (−f (x)) = − sup (f (x)) e sup (−f (x)) = − inf (f (x)), pelo
[xi ,xi+1 ] [xi ,xi+1 ] [xi ,xi+1 ] [xi ,xi+1 ]
que sP (−f ) = −SP (f ) e SP (−f ) = −sP (f ); então,
Z b Z b Z b Z b
(−f )(x) dx = − f (x) dx e (−f )(x) dx = − f (x) dx
a a a a

Rb Rb
e destas igualdades concluı́mos que a (−f )(x) dx = − a f (x) dx.
Tendo em conta os casos estudados a proposição fica demonstrada (se c < 0, basta
observar que c = −1 (−c) e aplicar o que se mostrou anteriormente).

Proposição 9 Se a < b, se f : [a, b] → R é integrável em [a, b] e se g difere de f apenas


Rb Rb
num ponto, então g é integrável em [a, b] e a f (x) dx = a g(x) dx.

Demonstração: Seja M > 0 tal que |f (x)| ≤ M ∧ |g(x)| ≤ M, ∀x ∈ [a, b].


Dado ε > 0 qualquer, consideremos uma partição P1 de [a, b] tal que
Z b Z b
ε ε
f (x) dx − ≤ sP1 (f ) ≤ SP1 (f ) ≤ f (x) dx + .
a 2 a 2
ε
Tomemos uma partição P, mais fina que P1 , tal que xi+1 − xi < , i = 0, . . . , n. Como
8M
f e g diferem apenas num ponto, digamos c, as respectivas somas superiores e inferiores
diferem (eventualmente) apenas nas parcelas que contêm c (duas no caso de c ser um dos
xi , uma no caso contrário). Como |f (c) − g(c)| ≤ 2M , as somas superiores e inferiores
diferem, quando muito de ε/2. Então,
Z b Z b
f (x) dx − ε ≤ sP (g) ≤ SP (g) ≤ f (x) dx + ε,
a a

donde deduzimos o resultado.

Corolário 1 Se a < b, se f : [a, b] → R é integrável em [a, b] e se g difere de f apenas


Rb Rb
num número finito de pontos, então g é integrável em [a, b] e a f (x) dx = a g(x) dx.
102 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

Demonstração: Se g difere de f em m pontos, p1 , p2 , . . . , pm , basta aplicar a proposição m


vezes: considera-se a função f1 que é igual a f excepto em p1 , onde é igual a g, e aplica-se
a proposição; considera-se a função f2 que é igual a f1 excepto em p2 , onde é igual a g, e
aplica-se a Proposição; assim sucessivamente, até chegarmos a fm , que é igual a g.

Proposição 10 Se a ≤ c < d ≤ b e se f : [a, b] → R é integrável em [a, b], então f é


Rd Rb
integrável em [c, d] e c f (x) dx = a g(x) dx onde



 f (x), se x ∈ [c, d]
g(x) =


 0, se x ∈
/ [c, d]

Demonstração: Dado ε > 0 qualquer, consideremos uma partição P1 de [a, b] tal que
SP1 (f ) − sP1 (f ) < ε/2 (Proposição 6). Se ao conjunto dos pontos que definem P1 acres-
centarmos c e d, obtemos uma partição P, mais fina que P1 , pelo que SP (f )−sP (f ) < ε/2.
Se considerarmos agora a partição P 0 de [c, d], que se obtém de P por considerar
apenas os elementos contidos em [c, d], verifica-se obviamente SP 0 (f ) − sP 0 (f ) < ε/2. Pela
Proposição 6, deduzimos que f é integrável em [c, d].
Falta-nos demonstrar a igualdade dos integrais. Supomos que a < c < d < b. Se
a = c ou d = b, as adaptações (de facto, simplificações) são evidentes. Procedemos,
agora, de modo semelhante ao da demonstração da Proposição 9. Sejam M tal que
|g(x)| ≤ M, ∀x ∈ [a, b] e P2 uma partição de [a, b], mais fina que P, tal que os elementos
de P2 em que c é extremo direito e os elementos de P2 em que d é extremo esquerdo
têm comprimento menor ou igual a ε/(2M ). Se P20 é a partição de [c, d] que se obtém de
P2 por considerar apenas os elementos contidos em [c, d], sP20 (f ) e sP2 (g) apenas diferem
(eventualmente) em duas parcelas: as que correspondem ao elemento de P2 em que c é
extremo direito e ao elemento de P2 em que d é extremo esquerdo. O mesmo acontece
em relação a SP20 (f ) e SP2 (g). Então,

sP20 (f ) − ε ≤ sP2 (g) ≤ SP2 (g) ≤ SP20 (f ) + ε


Z d Z b
pelo que concluı́mos que f (x) dx = g(x) dx.
c a
Rb
Proposição 11 Se a < c < b e f : [a, b] → R é integrável em [a, b], então a
f (x) dx =
Rc Rb
a
f (x) dx + c f (x) dx.

Demonstração: Consideremos as funções


 

 

 f (x), x ∈ [a, c]  0, x ∈ [a, c[
g(x) = e h(x) =

 

 0, x ∈]c, b]  f (x), x ∈ [c, b]
5.1 Integral de Riemann: Definição e propriedades 103

Obviamente, f = g + h. Pelas Proposições 10 e 7:


Z b Z b Z b Z b Z c Z b
f (x) dx = (g + h)(x) dx = g(x) dx + h(x) dx = f (x) dx + f (x) dx
a a a a a c

Definição 5.1.5 Sejam a, b ∈ R, a < b e f : [a, b] → R uma função integrável. Define-se


Z a Z b Z a
f (x) dx = − f (x) dx e também f (x) dx = 0
b a a

Z b Z c Z b
Proposição 12 Quaisquer que sejam a, b, c ∈ R, f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx,
a a c
sempre que os três integrais existam.

Demonstração: Se a < c < b, trata-se da Proposição 11. Se c < a < b, então, pela
Rb Ra Rb Rc Rb
Proposição 11, c f (x) dx = c f (x) dx + a f (x) dx = − a f (x) dx + a f (x) dx, donde
obtemos o resultado. Os restantes casos resolvem-se do mesmo modo.

Proposição 13 Sejam a, b ∈ R e a < b. Se f, g : [a, b] → R são duas funções integráveis


em [a, b], então f g é integrável em [a, b].

Não demonstraremos esta proposição. A sua demonstração, embora possı́vel a este


nı́vel, seria demasiado longa para os propósitos deste curso.
104 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

5.2 Classes de funções integráveis


Teorema 5.2.1 Sejam a, b ∈ R, a < b. Se f é contı́nua em [a, b] então é integrável em
[a, b].

Demonstração: Pelo Teorema de Cantor, f é uniformemente contı́nua em [a, b]. Dado


ε > 0, qualquer, existe θ > 0 tal que ∀x, y ∈ [a, b], |x − y| < θ ⇒ |f (x) − f (y)| < ε/(b − a).
Se tomarmos uma partição, P, em que todos os seus elementos tenham comprimento
menor que θ, então |f (x) − f (y)| < ε/(b − a), ∀x, y ∈ [xi , xi+1 ], i = 0, . . . , n pelo que
sup f (x) − inf f (x) = max f (x) − min f (x) < ε/(b − a), i = 0, . . . , n.
x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]
Daqui se conclui que
n
X
SP (f ) − sP (f ) = (xi+1 − xi ) ( sup f (x) − inf f (x)) <
x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]
i=0

n
X ε ε
< (xi+1 − xi ) = (b − a) = ε.
i=0
b−a b−a
Pela Proposição 6, f é integrável em [a, b].

Teorema 5.2.2 Sejam a, b ∈ R, a < b, f : [a, b] → R uma função limitada. Se f é


contı́nua em [a, b], excepto num número finito de pontos, então é integrável em [a, b].

Demonstração: Suponhamos que f é contı́nua em [a, b] excepto num ponto c ∈]a, b[.
Sejam ε > 0, qualquer e M > 0 tal que |f (x)| ≤ M, ∀x ∈ [a, b]. Então pelo Teorema
5.2.1, f é integrável em [a, c − ε/(12M )] e em [c + ε/(12M ), b] (podemos sempre tomar
ε suficientemente pequeno para nenhum destes intervalos ser vazio ou se reduzir a um
ponto), pelo que, pela Proposição 6, existem partições P1 e P2 de [a, c − ε/(12M )] e
[c + ε/(12M ), b], respectivamente, tais que SP1 (f ) − sP1 (f ) < ε/3 e SP2 (f ) − sP2 (f ) < ε/3.
Se considerarmos a partição P, de [a, b], formada pelos elementos de P1 , por C = [c −
ε/(12M ), c + ε/(12M )] e pelos elementos de P2 , então SP (f ) − sP (f ) < ε (note-se que
sup f (x) − inf f (x) ≤ 2 M e que o comprimento de C é ε/(6M )). Tendo em conta a
x∈C x∈C
Proposição 6, f é integrável em [a, b].
Se f não for contı́nua num dos extremos do intervalo, procede-se do mesmo modo,
com as adaptações evidentes. O mesmo acontece para o caso em que há vários pontos
de descontinuidade. Apenas temos que considerar vários conjuntos “C”, um para cada
ponto de descontinuidade, e adaptar as constantes.

Teorema 5.2.3 Sejam a, b ∈ R, a < b e f : [a, b] → R uma função limitada. Se f é


monótona em [a, b], então é integrável em [a, b].

Demonstração: Vamos fazer a demonstração supondo que f é crescente. Para f decres-


cente, as técnicas são as mesmas com as adaptações evidentes.
5.2 Classes de funções integráveis 105

Sejam ε > 0 e M = sup f (x) − inf f (x) = f (b) − f (a). Se M = 0, então f é


x∈[a,b] x∈[a,b]
constante em [a, b], pelo que é integrável. Se M > 0, seja P uma partição de [a, b] tal que
todos os seus elementos têm comprimento menor que ε/M .
Como f é crescente, então inf f (x) = f (xi ) e sup f (x) = f (xi+1 ), pelo que
x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]

n
X n
X
sP = (xi+1 − xi ) f (xi ) e SP = (xi+1 − xi ) f (xi+1 )
i=0 i=0

donde (note-se que f (xi+1 ) − f (xi ) ≥ 0)


n n
X X ε
SP − s P = (xi+1 − xi ) (f (xi+1 ) − f (xi )) ≤ (f (xi+1 ) − f (xi )) =
i=0 i=0
M

n
ε X ε
= (f (xi+1 ) − f (xi )) = (f (b) − f (a)) = ε.
M i=0 M
Pela Proposição 6, f é integrável em [a, b].

EXEMPLO: A função



 0, se x = 0,
f (x) =
 1 1 1

 , se <x≤ , n∈N
n n+1 n
tem uma infinidade de descontinuidades em [0, 1], mas é integrável, visto ser crescente.
106 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

5.3 Teoremas Fundamentais


Teorema 5.3.1 (Teorema da média)
Sejam a, b ∈ R e a < b. Se f : [a, b] → R é contı́nua, então existe c ∈ [a, b] tal que
Z b
f (x) dx = f (c) (b − a)
a

Demonstração: Como f é contı́nua, sabemos que é integrável e que tem máximo e mı́nimo
em [a, b]: existem x0 ∈ [a, b] e x1 ∈ [a, b] tais que

f (x0 ) = min f (x) ≤ f (x) ≤ max f (x) = f (x1 ), ∀x ∈ [a, b]


x∈[a,b] x∈[a,b]

Pelas Proposições 4 e 5,
Z b Z b Z b
f (x0 ) (b − a) = f (x0 ) dx ≤ f (x) dx ≤ f (x1 ) dx = f (x1 ) (b − a)
a a a

isto é, Z b
f (x) dx
a
f (x0 ) ≤ ≤ f (x1 ).
b−a
Pelo Teorema de Bolzano existe c, entre x0 e x1 , tal que
Z b
f (x) dx
a
f (c) =
b−a
Teorema 5.3.2 (Teorema Fundamental do Cálculo Integral) Z x
Sejam a, b ∈ R, a < b. Se f : [a, b] → R é contı́nua, então a função F (x) = f (t) dt
a
é diferenciável em [a, b] e F 0 (x) = f (x), ∀x ∈ [a, b], isto é, F é uma primitiva de f
(também conhecida por integral indefinido de f ).

Demonstração: Sejam x ∈ [a, b] (qualquer) e h ∈ R tal que x + h ∈ [a, b]. Então

Z x+h Z x
F (x + h) − F (x) = f (t) dt − f (t) dt
Za x a
Z x+h Z x Z x+h
= f (t) dt + f (t) dt − f (t) dt = f (t) dt.
a x a x
Z x+h
Pelo Teorema 5.3.1, existe c ∈ [x, x+h] tal que F (x+h)−F (x) = f (t) dt = f (c) h
x
pelo que
F (x + h) − F (x)
F 0 (x) = lim = lim f (c) = f (x)
h→0 h c→x
5.3 Teoremas Fundamentais 107

(note-se que, para cada h, c está entre x e x + h, pelo que, quando h tende para 0, c tende
para x).

NOTA: Do Teorema anterior obtemos, em particular, que toda a função contı́nua em


[a, b] é primitivável em [a, b].

Corolário 1 (Regra de Barrow) Sejam a, b ∈ R, a < b. Se f : [a, b] → R é contı́nua e


G é uma primitiva de f em [a, b], então
Z b
f (x) dx = G(b) − G(a) = [G(x)]ba
a
Rx
Demonstração: Vimos no Teorema 5.3.2 que a função F (x)R= a f (t) dt é uma primitiva
a
de f . Então G(x) − F (x) = c, ∀x ∈ [a, b]; mas F (a) = a f (t) dt = 0, pelo que c =
G(a) − F (a) = G(a). Por outro lado, c = G(a) = G(b) − F (b) donde se conclui que
Rb
a
f (t) dt = F (b) = G(b) − G(a).

Teorema 5.3.3 (Integração por partes) Sejam a, b ∈ R, a < b. Se f : [a, b] →


R é contı́nua em [a, b], se F é uma primitiva de f em [a, b] e se g ∈ C 1 ([a, b]) então
Z b Z b
b
f (x) g(x) dx = [F (x) g(x)]a − F (x) g 0 (x) dx
a a

Demonstração: Como o produto de funções contı́nuas é uma função contı́nua, tanto f g


com F g 0 são integráveis em [a, b].
Como (F g)0 (x) = F 0 (x) g(x) + F (x) g 0 (x) = f (x) g(x) + F (x) g 0 (x), pela Regra de
Rb Rb
Barrow, [F (x) g(x)]ba = a f (x) g(x) dx + a F (x) g 0 (x) donde se conclui o resultado pre-
tendido.

Teorema 5.3.4 (Integração por substituição) Sejam a, b ∈ R, a < b, f : [a, b] → R


uma função contı́nua em [a, b] e φ : [α, β] → [a, b] uma função de classe C 1 tal que
φ(α) = a e φ(β) = b. Então
Z b Z β
f (x) dx = f (φ(t)) φ0 (t) dt
a α

Demonstração: Sejam G : [a, b] → R uma primitiva de f e H : [α, β] → R a função


definida por H(t) = G(φ(t)). Então H 0 (t) = G0 (φ(t)) φ0 (t) = f (φ(t)) φ0 (t), pelo que, pela

Regra de Barrow, α f (φ(t)) φ0 (t) dt = H(β) − H(α) = G(φ(β)) − G(φ(α)) = G(b) − G(a)
Rb
e a f (x) dx = G(b) − G(a).
108 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

5.4 Áreas de figuras planas


1o CASO
Se f é integrável em [a, b] e f (x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b], a área da figura plana limitada
pelas rectas x = a, x = b, pelo eixo dos xx e pelo gráfico de f (figura 5.3) é dada por
Rb
a
f (x) dx, como vimos atrás.

π
EXEMPLO: A área da figura plana limitada pelas rectas x = 0, x = , pelo eixo dos xx
4√
Rπ π 2
e pelo gráfico de cos(x) é dada por: 04 cos(x) dx = sen( ) − sen(0) = .
4 2
2o CASO
Se f é integrável em [a, b] e f (x) ≤ 0, ∀x ∈ [a, b], a área da figura plana limitada
pelas rectas x = a, x = b, pelo eixo dos xx e pelo gráfico de f (figura 5.4) é dada por
Rb
− a f (x) dx. De facto, se considerarmos a simetria em relação ao eixo dos xx, obtemos
uma figura com a mesma área (a simetria em relação a uma recta mantém as áreas
invariantes), que é limitada pelas rectas x = a, x = b, pelo eixo dos xx e pelo gráfico de
−f (figura 5.5). Visto que a função −f é não negativa em [a, b], estamos reduzidos ao 1 o
Rb Rb
caso e a área é dada por a −f (x) dx = − a f (x) dx.
π
EXEMPLO: A área da figura plana limitada pelas rectas x = , x = π, pelo eixo dos xx
2
Rπ π π
e pelo gráfico de cos(x) é dada por: − π cos(x) dx = −(sen(π) − sen( )) = sen( ) = 1.
2 2 2

Figura 5.4
5.4 Áreas de figuras planas 109

Figura 5.5

NOTAS:
1. Não esquecer que a área de uma figura não degenerada (isto é, não reduzida a um
ponto ou segmento de recta ou curva, etc.) é um número positivo.
Rb
2. Em ambos os casos, 1 e 2, a área é dada por a |f (x)| dx.

3o CASO

Figura 5.6

Se f é integrável em [a, b], a área da figura plana limitada pelas rectas x = a, x = b,


Rb
pelo eixo dos xx e pelo gráfico de f (figura 5.4) é dada por a |f (x)| dx (note-se que
os casos anteriores são casos particulares deste). De facto, se f muda de sinal em [a, b]
(figura 5.6), consideramos os subintervalos em que f é positiva (nestes subintervalos a área
é dada pelo integral de f , isto é de |f |) e os subintervalos em que f é negativa (nestes
subintervalos a área é dada pelo integral de −f , isto é de |f |); a área total, que é a soma
Rb
de todas estas áreas é, pois, dada por a |f (x)| dx (Proposição 11).
110 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

EXEMPLO: A área da figura plana limitada pelas rectas x = 0, x = 2 π, pelo eixo dos xx
R 2π R π/2 R 3π/2
e pelo gráfico de cos(x) é dada por: 0 | cos(x)| dx = 0 cos(x) dx + π/2 − cos(x) dx +
R 2π
3π/2
cos(x) dx = sen(π/2) − sen(0) + (−sen(3π/2) + sen(π/2)) + sen(2π) − sen(3π/2) =
1 − 0 − (−1) + 1 + 0 − (−1) = 4.

4o CASO

f1

f2

Figura 5.7

Se f1 e f2 são integráveis em [a, b] e f1 (x) ≥ f2 (x), ∀x ∈ [a, b], a área da figura plana
limitada pelas rectas x = a, x = b, pelo gráfico de f1 e pelo gráfico de f2 (figura 5.7) é dada
Rb Rb
por a (f1 (x) − f2 (x)) dx (= a |f1 (x) − f2 (x)| dx visto que f1 (x) − f2 (x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b]).
Vamos justificar este resultado. Seja k ∈ R tal que f2 (x) + k ≥ 0, ∀x ∈ [a, b]; então
f1 (x) + k ≥ f2 (x) + k ≥ 0, ∀x ∈ [a, b] e a área pretendida é igual à área da figura plana
limitada pelas rectas x = a, x = b, pelo gráfico de f1 +k e pelo gráfico de f2 +k (trata-se de
uma translação da figura anterior). Mas a figura plana limitada pelas rectas x = a, x = b,
pelo eixo dos xx e pelo gráfico de f1 + k contém a figura plana limitada pelas rectas x = a,
x = b, pelo eixo dos xx e pelo gráfico de Rf2 + k. ARárea pretendida R b é, pois, a diferença
b b
entre as áreas destas duas figuras, isto é, a f1 (x) − a f2 (x) dx = a (f1 (x) − f2 (x)) dx.

EXEMPLO: A área da figura plana limitada R 1 pelas rectas x = 0, x = 1, pelo gráfico de


f (x) = ex e pelo gráfico de cos(x) é dada por 0 (ex −cos(x)) dx = e1 −sen(1)−e0 +sen(0) =
e − sen(1) − 1.

5o CASO

Se f1 e f2 são integráveis em [a, b], a área da figura plana limitada pelas rectas x = a,
Rb
x = b, pelo gráfico de f1 e pelo gráfico de f2 (figura 5.7) é dada por a |f1 (x) − f2 (x)| dx.
Raciocinamos de modo idêntico ao do 3o caso. Se f1 − f2 muda de sinal em [a, b] (figura
5.8), consideramos os subintervalos em que f1 ≥ f2 (nestes subintervalos a área é dada
pelo integral de f1 − f2 , isto é de |f1 − f2 |) e os subintervalos em que f1 < f2 (nestes
5.4 Áreas de figuras planas 111

Figura 5.8

subintervalos a área é dada pelo integral de f2 − f1 , isto é de |f2 − f1 |); a área total, que
Rb
é a soma de todas estas áreas é, pois, dada por a |f1 (x) − f2 (x)| dx (Proposição 11).

EXEMPLO: A área da figura plana limitada pelas rectas x = 0, x = π, pelo gráfico


Rπ R π/4
de cos(x) e pelo
Rπ gráfico de sen(x) é dada por: 0
|sen(x) − cos(x)| dx = 0
(cos(x) −
sen(x)) dx + π/4 (sen(x) − cos(x)) dx = sen(π/4) + cos(π/4) − sen(0) − cos(0) − cos(π) −
√ √ √ √ √
sen(π) + cos(π/4) + sen(π/4) = 2/2 + 2/2 − 0 − 1 − (−1) − 0 + 2/2 + 2/2 = 2 2.

6o CASO

Figura 5.9

Se f1 e f2 são integráveis, a área da figura plana limitada pelos gráficos de f1 e f2


(figura 5.9) é calculada do seguinte modo: em primeiro lugar calculamos os pontos de
intersecção dos gráficos; consideramos as abcissas destes pontos, isto é, os y ∈ R tais
que f (y) = f2 (y); sejam a o menor dos y e b o maior; a área pretendida é dada por
Rb 1
a
|f1 (x) − f2 (x)| dx (trata-se do 5o caso, porque as rectas x = a e x = b têm, cada uma,
um ponto comum com a figura). Note-se que a existência de a e b é garantida pelo facto
de a figura ser limitada.
112 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

EXEMPLO:
R1 A área da figuraR plana limitada pelos gráficos das funções x2 e 2 − x2 é dada
1
por −1 ((2 − x2 ) − x2 ) dx = −1 (2 − 2x2 ) dx = 2 · 1 − 2 · 1/3 − (2 · (−1) − 2 · (−1)/3) =
4 − 4/3 = 8/3.
5.5 Integrais impróprios 113

5.5 Integrais impróprios


Na definição de integral de Riemann de uma função f num intervalo I, exige-se que
o intervalo seja fechado limitado e que f seja limitada nesse intervalo. Vamos estudar
generalizações da noção de integral quando não se verifica alguma destas condições.
Para motivar a via que adoptámos nesta generalização do conceito de integral, supo-
nhamos que, sendo a, b ∈ R e a < b, a função f é integrável em qualquer intervalo [a, x]
com x ∈ [a, b[. Nestas condições, se a função f for limitada em [a, b], será integrável em
[a, b] e tem-se
Z b Z x
f (t) dt = lim− f (t) dt,
a x→b a
devido à continuidade do integral indefinido.
Pode, no entanto, acontecer que, não sendo f limitada em [a, b], o integral indefinido
Z x
f (t) dt
a

tenha limite finito quando x → b− . Então podemos fazer por definição


Z b Z x
f (t) dt = lim− f (t) dt.
a x→b a

De modo análogo, se g for uma função integrável no intervalo [a, x], ∀x > a, e se o
integral indefinido Z x
g(t) dt
a
tem limite finito quando x → +∞, poderemos escrever
Z +∞ Z x
g(t) dt = lim g(t) dt.
a x→+∞ a

A. Integrais impróprios de 1a espécie: definição e critérios de


convergência

Definição 5.5.1 Sejam a ∈ R e f uma função definida no intervalo [a, +∞[. Suponha-
mos que f é integrável em qualquer intervalo [a, x] com x > a. Seja, para cada x > a,
Z x
F (x) = f (t) dt.
a

Chama-se integral impróprio de 1a espécie de f em [a, +∞[ a


Z x
lim f (t) dt
x→+∞ a
114 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

e designa-se por Z +∞
f (t) dt.
a
a) Se F (x) tem limite finito quando x → +∞, diz-se que f Zé integrável (em sentido
+∞
impróprio) no intervalo [a, +∞[ ou que o integral impróprio f (t) dt existe, tem
a
sentido ou é convergente.
b) Se F (x) não tem limite ou tem limite infinito quando xZ→ +∞, diz-se que f não
+∞
é integrável no intervalo [a, +∞[ ou que o integral impróprio f (t) dt não existe ou
a
é divergente.
Z +∞
EXEMPLO 1: Consideremos o integral cos(x) dx. Este integral é divergente porque:
0
Z x
lim f (t) dt = lim [ sen(t) ]x0 = lim sen(x)
x→+∞ 0 x→+∞ x→+∞

e este limite não existe.


Z +∞
1
EXEMPLO 2: Consideremos o integral dx. É um integral impróprio de 1a espécie.
1 x
Como Z +∞ Z x
1 1
dx = lim dt = lim [ log(t) ]x1 = lim log(x) = +∞
1 x x→+∞ 1 t x→+∞ x→+∞

o integral impróprio é divergente.


Z +∞
EXEMPLO 3: O integral e−x dx é um integral impróprio de 1a espécie convergente:
0
Z +∞ Z x
−x
£ ¤x
e dx = lim e−t dt = lim −e−t 0
= lim (−e−x + 1) = 1.
0 x→+∞ 0 x→+∞ x→+∞

Z +∞
Nota: Se o integral f (x) dx é convergente então
a
a) o limite de f quando x → +∞, se existir, é igual a zero;
b) qualquer que seja h > 0, o integral de f no intervalo [x, x + h] (ou o valor médio de f
no mesmo intervalo), tende para zero quando x → +∞.
Z +∞ Z +∞
Teorema 5.5.1 Se f e g são tais que os integrais f (t) dt e g(t) dt são con-
Z +∞ a a

vergentes e se α, β ∈ R, então o integral (α f + β g)(t) dt é convergente e


a
Z +∞ Z +∞ Z +∞
(α f + β g)(t) dt = α f (t) dt + β g(t) dt.
a a a
5.5 Integrais impróprios 115

Z +∞
Teorema 5.5.2 Se o integral f (t) dt é convergente e se b > a então o integral
Z +∞ a

f (t) dt é convergente e
b
Z +∞ Z b Z +∞
f (t) dt = f (t) dt + f (t) dt.
a a b

Nem sempre nos interessa saber o valor do integral impróprio e outras vezes não é
possı́vel calculá-lo porque
Z a função não é elementarmente primitivável (considere-se, por
+∞
2
exemplo, o integral e−x dx). Precisamos então de critérios que nos permitam saber
0
se um determinado integral impróprio é ou não convergente. Esses critérios chamam-se
critérios de convergência.
Z +∞
a
Teorema 5.5.3 O integral impróprio de 1 espécie f (t) dt, com f (t) ≥ 0, ∀t ≥ a,
a
é convergente se, e só se, existe uma constante M tal que
Z x
f (t) dt ≤ M, ∀x > a.
a

O valor do integral impróprio não excede M .


Z x
Demonstração: Seja F (x) = f (t) dt. Como f (t) ≥ 0 ∀t ≥ a, F (x) ≥ 0, ∀x ≥ a. Por
Z +∞ a

definição, o integral f (t) dt é convergente se existir e for finito o limite lim F (x).
a x→+∞
A função F é crescente, pois se a ≤ x ≤ y vem
Z y Z x Z y
F (y) − F (x) = f (t) dt − f (t) dt = f (t) dt ≥ 0
a a x

porque f (t) ≥ 0 ∀t ≥ a.
Suponhamos que F é limitada superiormente, isto é, existe uma constante M tal que
F (x) ≤ M , ∀x ≥ a. Como F é crescente, existe e é finito o limite lim F (x) 1 . Além
x→+∞
disso, lim F (x) ≤ M .
x→+∞
Se F não é limitada superiormente então para cada M existe sempreZum x tal que
+∞
F (x) > M . Como F é crescente lim F (x) = +∞, o que significa que f (t) dt é
x→+∞ a
divergente.
Toda a função real f limitada e monótona numa parte não majorada X de R tem limite quando
1

x → +∞ e lim f (x) = sup f (x) ou lim f (x) = inf f (x) conforme f é crescente ou decrescente.
x→+∞ x∈X x→+∞ x∈X
116 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

Z +∞ Z +∞
Teorema 5.5.4 Sejam f (x) dx e g(x) dx dois integrais impróprios de 1a
a b
espécie com funções integrandas não negativas e suponhamos que existe c ∈ R tal que
f (x) ≤ g(x), ∀x > c.
Z +∞ Z +∞
a) Se g(x) dx é convergente então f (x) dx é convergente.
b a
Z +∞ Z +∞
b) Se f (x) dx é divergente então g(x) dx é divergente.
a b

Demonstração: Seja d = max {a, b, c}. Consideremos os integrais


Z +∞ Z +∞
f (x) dx e g(x) dx.
d d

Sendo x > d temos


Z x Z x
0≤ f (t) dt ≤ g(t) dt. (5.4)
d d
Z +∞
Se o integral g(t) dt é convergente, pelo Teorema 5.5.3 existe M1 tal que
d
Z x
g(t) dt ≤ M1 , ∀x > d.
d
Z x Z x Z +∞
Mas por (5.4), f (t) dt ≤ g(t) dt, ∀x > d, pelo que f (t) dt é convergente,
d d d
usando,Z novamente o Teorema 5.5.3. Z x
+∞
Se f (t) dt é divergente então, pelo Teorema 5.5.3, f (t) dt não é limitada, o
d Z x d Z +∞
que implica, por (5.4), que g(t) dt também não é limitada e, portanto, g(x) dx
d d
é divergente.
Z +∞ Z +∞
Corolário 1 Sejam f (x) dx e g(x) dx dois integrais impróprios de 1a espécie
a b
com funções integrandas não negativas e suponhamos que existem c, k ∈ R tais que f (x) ≤
k g(x), ∀x > c.
Z +∞ Z +∞
a) Se g(x) dx é convergente então f (x) dx é convergente.
b a
Z +∞ Z +∞
b) Se f (x) dx é divergente então g(x) dx é divergente.
a b
5.5 Integrais impróprios 117

Demonstração: Basta notar que


Z x Z x Z x
lim k g(t) dt = lim k g(t) dt = k lim g(t) dt
x→+∞ c x→+∞ c x→+∞ c
Z +∞ Z +∞
pelo que k g(x) dx é convergente se, e só se, g(x) dx é convergente; termina-se
c c
aplicando o Teorema.
Z +∞
1
EXEMPLO 1: Consideremos o integral dx. É um integral impróprio de 1a

3
1+x 3
0
espécie e a função integranda é positiva no intervalo [0, +∞[. Como
√ 1 1
(1 + x)3 ≥ 1 + x3 , ∀x ≥ 0 ⇒ 1 + x ≥
3
1 + x3 , ∀x ≥ 0 ⇒ 0 < ≤ √ , ∀x ≥ 0
1+x 3
1 + x3
e
Z +∞ Z x
1 1
dx = lim dt = lim [ log(1 + t) ]x0 = lim log(1 + x) = +∞,
0 1 + x x→+∞ 0 1 + t x→+∞ x→+∞

Z +∞
1
isto é, o integral dx é divergente, concluı́mos, pelo Teorema 5.5.4, que o
0 1+x
integral em estudo é divergente.

Como se pode ver pelo exemplo anterior, é útil conhecer a natureza de alguns integrais
impróprios de modo a facilitar o uso dos critérios de convergência. Um exemplo de tais
integrais é o seguinte:

EXEMPLO 2: Estudemos o integral impróprio de 1a espécie


Z +∞
1
dx
a xα
sendo a > 0 e α ∈ R.
Se α = 1 Z x
1
dt = [ log(t) ]xa = log(x) − log(a)
a t
e se α 6= 1 Z · ¸x
x
1 t−α+1 x−α+1 a−α+1
dt = = −
a tα −α + 1 a −α + 1 −α + 1
tendo-se 


Z x
1  +∞, se α ≤ 1
lim dt =
x→+∞ a tα 
 a−α+1
 − , se α > 1
−α + 1
118 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

Então o integral converge se, e só se, α > 1.


Z +∞
1
EXEMPLO 3: Consideremos o integral √ dx. É um integral impróprio de 1a
1 + x 3
0
espécie e a função integranda é positiva no intervalo [0, +∞[. Como
√ √ 1 1
1 + x3 > x3 , ∀x > 0 ⇒ 1 + x3 > x3 , ∀x > 0 ⇒ 0 < √ < √ , ∀x > 0
1+x 3 x3
Z +∞
1
e √ dx é convergente, podemos concluir, pelo Teorema 5.5.4, que o integral em
1 x3
estudo é convergente.
Z +∞ Z +∞
Teorema 5.5.5 Sejam f (x) dx e g(x) dx dois integrais impróprios de 1a
a b
espécie com funções integrandas positivas e suponhamos que o limite

f (x)
lim
x→+∞ g(x)

existe finito e diferente de zero. Então os integrais são da mesma natureza, isto é, são
ambos convergentes ou ambos divergentes.

f (x)
Demonstração: Seja lim = L, L ∈ R+ . Por definição,
x→+∞ g(x)

¯ ¯
¯ f (x) ¯
∀δ > 0 ∃M > 0, x ≥ M ⇒ ¯
¯ − L¯¯ < δ.
g(x)

L
Seja δ = . Então existe M > 0 tal que
2
¯ ¯
¯ f (x) ¯ L
¯
¯ g(x) − L ¯ < , ∀x ≥ M,
¯ 2

ou seja, ∀x ≥ M ,
L f (x) L

< −L<
2 g(x) 2
L f (x) 3L
⇔ < <
2 g(x) 2
L 3L
⇔ g(x) < f (x) < g(x).
2 2
Pelo Teorema 5.5.1 e pelo Corolário do Teorema 5.5.4 temos o resultado pretendido.
5.5 Integrais impróprios 119

Z +∞ Z +∞
Teorema 5.5.6 Sejam f (x) dx e g(x) dx dois integrais impróprios de 1a
a b
espécie com funções integrandas positivas. Se
f (x)
lim = 0,
x→+∞ g(x)
então
Z +∞ Z +∞
a) se g(x) dx é convergente, f (x) dx é convergente.
b a
Z +∞ Z +∞
b) se f (x) dx é divergente, g(x) dx é divergente.
a b

Se
f (x)
lim = +∞,
x→+∞ g(x)

então
Z +∞ Z +∞
a) se g(x) dx é divergente, f (x) dx é divergente.
b a
Z +∞ Z +∞
b) se f (x) dx é convergente, g(x) dx é convergente.
a b

Demonstração:
¯ ¯
f (x) ¯ f (x) ¯
lim = 0 ⇔ ∀δ > 0 ∃M > 0 x ≥ M ⇒ ¯¯ ¯ < δ.
x→+∞ g(x) g(x) ¯
Mas como as funções são ambas positivas,
¯ ¯
¯ f (x) ¯ f (x)
¯ g(x) ¯ < δ ⇔ g(x) < δ ⇔ f (x) < δg(x).
¯ ¯

O resultado é consequência do Corolário do Teorema 5.5.4.


Z +∞
x+1
EXEMPLO 1: O integral 4
dx é um integral impróprio de 1a espécie
1 3x − x + 2 Z +∞
4 1
(note-se que 3x − x + 2 > 0, ∀x ≥ 1). Como dx é convergente e
1 x3
x+1
3x4 − x + 2 = lim x4 + x 3 1
lim = ,
x→+∞ 1 x→+∞ 3x4 − x + 2 3
x3
pelo Teorema 5.5.5 podemos concluir que o integral dado é convergente.
120 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

Z +∞ Z +∞
1
EXEMPLO 2: Consideremos os integrais x e α −x
dx, α ∈ R, e dx. São
1 1 x2
integrais impróprios de 1a espécie sendo o segundo convergente. Como

xα e−x xα+2
lim = lim = 0, ∀α ∈ R,
x→+∞ 1 x→+∞ ex
x2
Z +∞
o integral xα e−x dx é convergente.
1
Z +∞
2
EXEMPLO 3: O integral e−x dx é um integral impróprio de 1a espécie. Como
0
1 Z +∞
e x2 x2 1
lim = lim x2 = 0 e dx é convergente, podemos concluir que o integral
x→+∞ 1 x→+∞ e 1 x2
x2
em estudo é convergente.
Z +∞
Teorema 5.5.7 Se o integral |f (x)| dx é convergente então o mesmo acontece ao
Z +∞ a

integral f (x) dx e verifica-se a desigualdade:


a
¯Z +∞
¯ Z +∞
¯ ¯
¯
¯ f (x) dx¯¯ ≤ |f (x)| dx.
a a

Demonstração: 0 ≤ |f (x)| − f (x) ≤ 2|f (x)|, ∀x ≥ a. Seja g(x) = |f (x)| − f (x). Visto que
Z +∞ Z +∞
o integral |f (x)| dx é convergente, o mesmo acontece ao integral 2 |f (x)| dx e,
a Z +∞ Z +∞ a

pelo Teorema 5.5.4, também converge o integral g(x) dx = (|f (x)| − f (x)) dx.
Z +∞ a a

Como f (x) = |f (x)| − g(x) o integral f (x) dx é convergente (Teorema 5.5.1).


a
Da desigualdade −|f (x)| ≤ f (x) ≤ |f (x)|, ∀x, deduzimos
Z +∞ Z +∞ Z +∞
− |f (x)| dx ≤ f (x) dx ≤ |f (x)| dx,
a a a

ou seja, ¯Z ¯ Z
¯ +∞ ¯ +∞
¯
¯ f (x) dx¯¯ ≤ |f (x)| dx.
a a
5.5 Integrais impróprios 121

Z +∞
Definição 5.5.2 Diz-se que o integral f (x) dx é absolutamente convergente se
Z +∞ a Z +∞
o integral |f (x)| dx é convergente. Diz-se que o integral f (x) dx é simples-
a Z +∞ a

mente convergente se for convergente e |f (x)| dx divergente.


a
EXEMPLO: A função integranda no integral impróprio de 1a espécie
Z +∞
sen(x)
dx
1 x2
não é sempre positiva. Mas ¯ ¯
¯ sen(x) ¯ 1
¯ x2 ¯ ≤ x2 , ∀x ≥ 1
¯ ¯
Z +∞
1
e o integral dx é convergente. Pelo Teorema 5.5.4 o integral
1 x2
Z +∞ ¯ ¯
¯ sen(x) ¯
¯ x2 ¯ dx
¯ ¯
1

é convergente. Pelo Teorema 5.5.7 o integral em estudo é convergente e diz-se absoluta-


mente convergente.
Definição 5.5.3 Sejam a ∈ R e f uma função definida no intervalo I =] − ∞, a]. Supo-
nhamos que f é integrável em qualquer intervalo [x, a] com x < a. Seja
Z a
G(x) = f (t) dt.
x

a) Se G(x) tem limite finito quando x → −∞, diz-se Z a que f é integrável (em sentido
impróprio) no intervalo I ou que o integral impróprio f (t) dt existe, tem sentido ou
−∞
é convergente.
b) Se G(x) não tem limite ou tem limite infinito quando Z ax → −∞, diz-se que f
não é integrável no intervalo I ou que o integral impróprio f (t) dt não existe ou é
−∞
divergente.
A estes integrais também se dá o nome de integrais impróprios de 1a espécie.
É óbvio que o estudo dos integrais impróprios com intervalo de integração ] − ∞, a]
é idêntico ao dos integrais sobre intervalos do tipo [a, +∞[. De resto, qualquer
Z integral
+∞
daquela forma pode reduzir-se a um desta última: basta efectuar no integral f (x) dx
a
a substituição x = −t para se concluir que os integrais
Z a Z +∞
f (x) dx e f (−x) dx
−∞ −a

são ambos convergentes ou ambos divergentes e, na primeira hipótese, são iguais.


122 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

Definição 5.5.4 Seja f : R → R uma função integrável em qualquer intervalo limitado.


Diz-se que o integral de f em R é convergente se existe a ∈ R tal que os dois integrais
Z a Z +∞
f (x) dx e f (x) dx
−∞ a

são convergentes.

É evidente que em tal hipótese também convergem os integrais


Z b Z +∞
f (x) dx e f (x) dx
−∞ b

qualquer que seja b ∈ R e verificar-se-ão as igualdades:


Z b Z +∞
f (x) dx + f (x) dx
Z−∞
a Zb b Z a Z +∞
= f (x) dx + f (x) dx + f (x) dx + f (x) dx
Z−∞
a Z a
+∞
b a

= f (x) dx + f (x) dx
−∞ a

Este facto legitima que, em caso de convergência, o integral seja definido pela ex-
pressão: Z +∞ Z a Z +∞
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx
−∞ −∞ a

com a ∈ R arbitrário. A este integral também se chama integral impróprio de 1 a


espécie.
Z +∞ Z 0 Z +∞
−ax −ax
EXEMPLO 1: Sendo a > 0, e dx = e dx + e−ax dx. Como
−∞ −∞ 0
Z x · ¸x µ ¶
−at 1 1 1 1
lim e dt = lim − e−at = lim − e−ax + =
x→+∞ 0 x→+∞ a 0
x→+∞ a a a
e Z · ¸0 µ ¶
0
−at 1 1 1
lim e dt = lim − e−at = lim − + e−ax = +∞
x→−∞ x x→−∞ a x
x→−∞ a a
o integral dado é divergente.

EXEMPLO 2: Seja a > 0.


Z +∞ Z 0 Z +∞ Z 0 Z +∞
−a|x| −a|x| −a|x| ax
e dx = e dx + e dx = e dx + e−ax dx
−∞ −∞ 0 −∞ 0
5.5 Integrais impróprios 123

Como
Z x Z 0 · ¸0 µ ¶
−at 1 at 1 at 1 1 ax 1
lim e dt = e lim e dt = lim e = lim − e =
x→+∞ 0 a x→−∞ x x→−∞ a x
x→−∞ a a a

o integral considerado é convergente e


Z +∞
2
e−a|x| dx = .
−∞ a
−2 Z
1
EXEMPLO 3: √ dx é um integral impróprio de 1a espécie. Consideremos o
x 2−1
Z −2 µ −∞¶
1
integral − dx, que sabemos ser divergente. Como
−∞ x
1

x2−1 −x
lim = lim √ =1
x→−∞ 1 x→−∞ x2 − 1

x
o integral dado também é divergente.

EXEMPLO 4: Consideremos o integral impróprio de 1a espécie


Z +∞
x−1
4 2
dx.
−∞ 2x + 5x + 3

Como o integral se pode escrever


Z 1 µ ¶ Z +∞
x−1 x−1
− − 4 dx + dx,
−∞ 2x + 5x2 + 3 1 2x4 + 5x2 + 3
a
temos dois integrais
Z −1 µ ¶impróprios de 1 espécie com funções integrandas não negativas. O
1
integral − 3 dx é convergente e
−∞ x
x−1
− x4 − x 3 1
lim 2x4 + 5x2 + 3 = lim = ,
x→−∞ 1 4 2
x→−∞ 2x + 5x + 3 2
− 3
x
Z 1
x−1
portanto, o integral dx é convergente.
−∞ + 5x2 + 32x4
Z +∞
x−1
De modo análogo se conclui que o integral dx é convergente. Da
1 2x + 5x2 + 3
4
convergência dos dois integrais conclui-se a convergência do integral dado.
124 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

Z 0
x
EXEMPLO 5: Consideremos o integral dx. A função integranda é
−∞ 1 + x2
sen2 (x)
negativa ou nula no intervalo de integração, tendo-se 1 + x2 sen(x) 6= 0, ∀x ∈ ] − ∞, 0].

0 ≤ sen2 (x) ≤ 1 ⇔ 0 ≤ x2 sen2 (x) ≤ x2

⇔ 1 ≤ 1 + x2 sen2 (x) ≤ 1 + x2
1 1
⇔1≥ 2 2

1 + x sen (x) 1 + x2
−x −x
⇔ −x ≥ 2 2

1 + x sen (x) 1 + x2
Z 0 Z −1
−x −1
Estudemos o integral dx. Este integral é divergente porque dx é
−∞ 1 + x2 −∞ x
divergente e
−x
2 x2
lim 1 + x = lim =1
x→−∞ −1 x→−∞ 1 + x2
x
Dada a última desigualdade podemos concluir que o integral em estudo é divergente.
Z +∞
Nota: Seja f integrável em qualquer intervalo limitado. Diz-se que f (x) dx é
−∞
convergente em valor principal se existe (em R) o limite quando x → +∞ da função
Z x
F(x) = f (t) dt.
−x

É a este limite, se existir, que se chama


Z +∞ Z +∞ valor principal de Cauchy do integral
f (x) dx, e que se designa por vp f (x) dx.
−∞ −∞
Se o integral for convergente teremos
Z +∞ Z 0 Z +∞
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx
−∞ Z −∞ Z 0
0 x
= lim f (t) dt + lim f (t) dt
x→−∞ −x x→+∞ 0
Z x
= lim f (t) dt
x→+∞ −x
Z +∞
= vp f (x) dx.
−∞
Portanto, se o integral converge então é convergente em valor principal, sendo este
valor igual ao integral. Mas a existência do valor principal de Cauchy não implica que o
5.5 Integrais impróprios 125

integral seja convergente. Por exemplo:


Z +∞
1 + x3
vp dx = π
−∞ 1 + x2
Z +∞
1 + x3
e o integral dx é divergente.
−∞ 1 + x2

B. Integrais impróprios de 2a espécie: definição e critérios de


convergência

Definição 5.5.5 Suponhamos que a função f é integrável em qualquer intervalo [a, b−ε],
Z não é integrável em [a, b]. Fica assim definida uma função F : [a, b[→ R,
ε > 0, mas
x
F (x) = f (t) dt.
a Z b
Ao integral f (x) dx chama-se integral impróprio de 2a espécie. Se existir
a
finito o limite Z x
lim f (t) dt
x→b− a

diz-se que o integral impróprio é convergente e escreve-se


Z b Z x
f (x) dx = lim− f (t) dt.
a x→b a

Se o limite não existir ou não for finito diz-se que o integral impróprio de 2 a espécie
é divergente.

Tal como no caso dos integrais impróprios de 1a espécie, é útil o conhecimento da


natureza de alguns integrais, como por exemplo:
Z b
1
EXEMPLO: α
dx, α ∈ R. Se α ≤ 0 trata-se de um integral de Riemann, mas
a (b − x)
se α > 0 a função integranda tem limite infinito quando x tende para b e o integral só
terá sentido se existir e for finito o limite
Z x
1
lim− α
dt.
x→b a (b − t)

Se α = 1 Z x
1
dt = [ − log(b − t) ]xa = − log(b − x) + log(b − a)
a b−t
126 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

e se α 6= 1
Z x · ¸x
1 (b − t)−α+1 (b − x)−α+1 (b − a)−α+1
dt = − =− +
a (b − t)α −α + 1 a −α + 1 −α + 1

tendo-se 
Z x

 +∞, se α ≥ 1
1
lim dx = −α+1
x→b− a (b − t)α  (b − a)

, se α < 1
−α + 1
Então o integral converge se, e só se, α < 1.

Definição 5.5.6 Suponhamos que a função f é integrável em qualquer intervalo [a+ε, b],
ε > 0, mas não é integrável em [a, b]. Fica assim definida uma função F : ]a, b] → R,
Z b
F (x) = f (t) dt.
x Z b
Ao integral f (x) dx chama-se integral impróprio de 2a espécie. Se existir
a
finito o limite
Z b
lim f (t) dt
x→a+ x

diz-se que o integral impróprio é convergente e escreve-se


Z b Z b
f (x) dx = lim+ f (t) dt.
a x→a x

Se o limite não existir ou não for finito diz-se que o integral impróprio de 2 a espécie
é divergente.
Z b
1
EXEMPLO: O integral α
dx, α ∈ R, é um integral impróprio de 2a espécie se,
a (x − a)
e só se, α > 0. Se α ≤ 0 trata-se de um integral de Riemann. O integral só terá sentido
se existir e for finito o limite Z b
1
lim+ α
dt.
x→a x (t − a)

Se α = 1 Z b
1
dt = [ log(t − a) ]bx = log(b − a) − log(x − a)
x t−a
e se α 6= 1
Z b · ¸b
1 (t − a)−α+1 (b − a)−α+1 (x − a)−α+1
dt = = −
x (t − a)α −α + 1 x −α + 1 −α + 1
5.5 Integrais impróprios 127

tendo-se 
x Z 
 +∞, se α ≥ 1
1
lim+ dx = −α+1
 (b − a)
α
x→a a (t − a) 
, se α < 1
−α + 1
Então o integral converge se, e só se, α < 1.

Definição 5.5.7 Suponhamos que a função f é integrável em qualquer intervalo [a +


ε1 , b − ε2 ], ε1 , ε2 > 0, mas não é integrável em [a, b − ε2 ] nem em [a + ε1 , b]. Define-se
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx, a < c < b.
a a c

Este integral é também um integral impróprio de 2a espécie. O integral do primeiro


membro é convergente se, e só se, os dois integrais do segundo membro forem convergentes.
Se algum dos integrais do segundo membro for divergente, então o integral do primeiro
membro é divergente.
Z 1
x
EXEMPLO: O integral √
dx é um integral impróprio
3
de 2a espécie nos dois
−1 1 − x2
limites de integração. Temos de estudar os dois integrais
Z 0 Z 1
x x

3
dx e √
3
dx.
1−x 2 1 − x2
−1 0

Z 0 · ¸0 µ ¶
t 3 2 32 3 3 2 3
lim + √ dt = lim + − (1 − t ) = lim + − + (1 − x2 ) 3 =−
x→−1 x
3
1−t 2 x→−1 4 x x→−1 4 4 4

Z x · ¸x µ ¶
t 3 2 32 3 2 23 3 3
lim− √ dt = lim− − (1 − t ) = lim− − (1 − x ) + =
x→1 0
3
1−t 2 x→1 4 0 x→1 4 4 4
Z 1
x
Portanto, o integral dado é convergente e √
3
dx = 0.
−1 1 − x2

Definição 5.5.8 Se c é um ponto interior do intervalo [a, b] e f é uma função integrável


em qualquer intervalo [a, c − ε1 ], ε1 > 0, e [c + ε2 , b], ε2 > 0, mas não é integrável em
[a, b], define-se o integral impróprio de 2a espécie
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c

O integral do primeiro membro é convergente se, e só se, os dois integrais do segundo
membro forem convergentes. Se algum dos integrais do segundo membro for divergente,
então o integral do primeiro membro é divergente.
128 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

Z 1
1
EXEMPLO: O integral √
3
dx é um integral impróprio de 2a espécie porque
−1 x2
1
lim √
3
= +∞. Temos de estudar os dois integrais
x→0 x2
Z 0 Z 1
1 1

3
dx e √
3
dx.
−1 x2 0 x2
Z x h √ ix
1 3
¡ √ ¢
lim √
3 2
dt = lim 3 t = lim 3 3
x + 3 =3
x→0− −1 t x→0− −1 x→0−

Z h √ i1
1
1 3
¡ √ ¢
√ lim+
3 2
dt = lim 3 t = lim 3 − 3 3
x =3
x→0 x t x→0+ x x→0+

Z 1
1
Portanto, o integral dado é convergente e √3
dx = 6.
−1 x2
Para os integrais impróprios de 2a espécie, os critérios de convergência são idênticos
aos obtidos para os integrais impróprios de 1a espécie. As demonstrações podem ser
efectuadas de maneira semelhante, com adaptações evidentes, pelo que as omitimos.

Teorema 5.5.8 O integral impróprio de 2a espécie no limite superior (inferior, respec-


Z b
tivamente) f (t) dt, com b > a e f (t) ≥ 0, ∀t ∈ ]a, b[, é convergente se, e só se, existe
a
uma constante M tal que
Z x
f (t) dt ≤ M, ∀a ≤ x < b
a

Z b
( f (t) dt ≤ M, ∀a < x ≤ b, respectivamente).
x

Z b Z b
Teorema 5.5.9 Sejam f (x) dx e g(x) dx dois integrais impróprios de 2a espécie
a a
(no mesmo limite de integração) com funções integrandas não negativas e suponhamos
que f (x) ≤ g(x), ∀a ≤ x < b (ou, ∀a < x ≤ b).
Z b Z b
a) Se g(x) dx é convergente então f (x) dx é convergente.
a a

Z b Z b
b) Se f (x) dx é divergente então g(x) dx é divergente.
a a
5.5 Integrais impróprios 129

Z b Z b
Teorema 5.5.10 Sejam f (x) dx e g(x) dx dois integrais impróprios de 2a espécie
a a
(no mesmo limite de integração) com funções integrandas positivas e suponhamos que o
limite µ ¶
f (x) f (x)
lim ou, lim+
x→b− g(x) x→a g(x)

é finito e diferente de zero. Então os integrais são da mesma natureza, isto é, são ambos
convergentes ou ambos divergentes.

EXEMPLO 1: O integral Z 1
1
√ dx
1
2
1 − x4
é impróprio de 2a espécie, porque para x = 1 a função integranda se torna infinita.
Consideremos o integral impróprio de 2a espécie convergente
Z 1
1
1 dx.
1 (1 − x) 2
2

Tendo em conta que


1
√ 1
1 − x4 (1 − x) 2 1 1
lim− = lim− 1 = lim 1 =
x→1 1 1 1
x→1 (1 − x) 2 (1 + x) 2 (1 + x2 ) 2
1
x→1− (1 + x) 2 (1 + x2 ) 2 2
1
(1 − x) 2

podemos concluir que os dois integrais têm a mesma natureza, ou seja, o integral dado é
convergente.

EXEMPLO 2: O integral Z 2
1
3 dx
0 (2x − x2 ) 2
é um integral impróprio de 2a espécie nos dois limites de integração. Estudemos os inte-
grais Z 1 Z 2
1 1
3 dx e 3 dx.
2 2
0 (2x − x ) 2 1 (2x − x ) 2
Z 1
1
Como o integral 3 dx é divergente e
0 x2

1
3 3
(2x − x2 ) 2 x2 1 1
lim+ = lim+ 3 3 = lim 3 =
x→0 1 x→0 x 2 (2 − x) 2 x→0 (2 − x) 2
+
3
22
3
x2
130 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

Z 2
1
o integral 3 dx é divergente. Podemos então concluir que o integral dado
(2x − x2 ) 2
1
inicialmente é divergente.
Z b Z b
Teorema 5.5.11 Sejam f (x) dx e g(x) dx dois integrais impróprios de 2a espécie
a a
(no mesmo limite de integração) com funções integrandas positivas. Suponhamos que
µ ¶
f (x) f (x)
lim =0 ou, lim+ =0 .
x→b− g(x) x→a g(x)

Z b Z b
a) Se g(x) dx é convergente então f (x) dx é convergente.
a a
Z b Z b
b) Se f (x) dx é divergente então g(x) dx é divergente.
a a

Suponhamos que
µ ¶
f (x) f (x)
lim− = +∞ ou, lim+ = +∞ .
x→b g(x) x→a g(x)

Z b Z b
a) Se g(x) dx é divergente então f (x) dx é divergente.
a a
Z b Z b
b) Se f (x) dx é convergente então g(x) dx é convergente.
a a

Z b
Teorema 5.5.12 Seja f (x) dx um integral impróprio de 2a espécie. Se o integral
Z b a Z b
|f (x)| dx é convergente o mesmo acontece ao integral f (x) dx.
a a

Z b
a
Definição 5.5.9 Diz-se que o integral impróprio de 2 espécie f (x) dx é absoluta-
Z b a Z b
mente convergente se o integral |f (x)| dx é convergente. Se o integral f (x) dx
Z b a Z b a

é convergente e |f (x)| dx é divergente, diz-se que o integral f (x) dx é simples-


a a
mente convergente.

EXEMPLO: Consideremos o integral


Z 1
cos(πx)
√ dx.
0 1 − x2
5.5 Integrais impróprios 131

É um integral impróprio de 2a espécie no limite superior de integração, mas a função


integranda muda de sinal no intervalo de integração. No entanto,
¯ ¯
¯ cos(πx) ¯ 1
¯√
¯ 1 − x2 ¯ ≤ √1 − x2 , ∀ 0 ≤ x < 1.
¯

Estudemos o integral
Z 1 Z 1
1 1
√ dx = 1 1 dx.
0 1 − x2 0 (1 − x) (1 + x) 2
2

Z 1
1
O integral 1 dx é convergente e
0 (1 − x) 2
1
1 1
(1 − x) (1 + x) 2 2 1 1
lim− = lim− 1 = √ ,
x→1 1 x→1 (1 + x) 2 2
1
(1 − x) 2
Z 1
1
o que implica que o integral √ dx é convergente. Pelo Teorema 5.5.9, o integral
0 1 − x2
Z 1¯ ¯
¯ cos(πx) ¯
¯√
¯ 1 − x2 ¯ dx
¯
0

é convergente. Pelo Teorema 5.5.12, o integral dado é convergente e diz-se absolutamente


convergente.

C. Integrais impróprios mistos

Podem ainda considerar-se integrais impróprios mistos: por exemplo, com algum li-
mite de integração infinito e em que a função integranda se torne ilimitada num número
finito de pontos do intervalo de integração. Neste caso, a definição do integral faz-se divi-
dindo o intervalo de integração por forma que se obtenham integrais dos tipos anteriores;
se os integrais assim obtidos são convergentes diz-se que o integral misto é convergente e
o seu valor é igual à soma dos valores dos integrais correspondentes aos subintervalos. Se
algum dos integrais obtidos é divergente o integral misto é divergente.
Z +∞
1
EXEMPLO 1: O integral 3+1
dx é um integral impróprio misto porque x3 + 1 =
−2 x
(x + 1)(x2 − x + 1), podendo fazer-se a decomposição
Z +∞ Z −1 Z 1 Z +∞
1 1 1 1
3
dx = 3
dx + 3
dx + 3
dx,
−2 x +1 −2 x + 1 −1 x + 1 1 x +1
132 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

o a a
sendo os dois primeirosZ −1integrais do 2 membro de 2 espécie e o último de 1 espécie.
1
Como o integral dx é divergente e
−2 −x − 1
1
3 1+x 1+x 1 1
lim − x + 1 = lim − 3 = lim − = lim − 2 =
x→−1 1 x→−1 x + 1 2
x→−1 (1 + x)(x − x + 1) x→−1 x − x + 1 3
1+x
Z −1
1
o integral 3
dx é divergente. Então o integral misto é divergente.
−2 x + 1
Z −1
1
EXEMPLO 2: O integral 3 dx é um integral impróprio misto, tendo-se
2
−∞ (x − 4) 5
Z −1 Z −3 Z −2 Z −1
1 1 1 1
3 dx = 3 dx + 3 dx + 3 dx.
2 2 2 2
−∞ (x − 4) 5 −∞ (x − 4) 5 −3 (x − 4) 5 −2 (x − 4) 5

O primeiro dos integrais do 2o membro é de 1a espécie e os outros dois são de 2a espécie.


Consideremos o integral de 1a espécie convergente
Z −3
1
6 dx.
−∞ x 5
Temos
1
3 6
2
(x − 4) 5 x5
lim = lim 3 = 1
x→−∞ 1 x→−∞ (x2 − 4) 5
6
x5
Z −3
1
o que implica que o integral 3 dx é convergente.
Z −∞ (x2 − 4) 5
−2
a 1
O integral de 2 espécie 3 dx é convergente e
−3 (−2 − x) 5
1
3
(x2 − 4) 5 −1 1
lim − = lim − 3 =
x→−2 1 x→−2 (x − 2) 5
3
45
3
(−2 − x) 5
Z −3
1
o que implica que o integral 3 dx é convergente.

Z (x2 − 4) 5
−2
−1
a 1
O integral de 2 espécie 3 dx é convergente e
−2 (x + 2) 5

−1
3
(x2 − 4) 5 −1 1
lim + = lim + 3 =
x→−2 1 x→−2 (x − 2) 5
3
45
3
(x + 2) 5
5.5 Integrais impróprios 133

Z −1
1
o que implica que o integral 3 dx é convergente.
(x2 − 4) 5 −2
Podemos então concluir que o integral dado é convergente.

D. A função Gama (Γ) e a função Beta (β)


Suponhamos que queremos estudar a natureza do integral
Z +∞
x3p
dx (5.5)
0 x2 − 2x + 5

para todos os valores do parâmetro real p.


Tendo em conta que x2 − 2x + 5 6= 0, ∀x ∈ R, este integral é de 1a espécie se p ≥ 0 e
misto se p < 0. Em qualquer caso podemos escrever
Z +∞ Z 1 Z +∞
x3p x3p x3p
dx = dx + dx,
0 x2 − 2x + 5 2
0 x − 2x + 5 1 x2 − 2x + 5

onde o segundo integral do 2o membro é sempre de 1a espécie e o primeiro é de Riemann


se p ≥ 0 e de 2a espécie se p < 0.
Suponhamos que p < 0.
Z 1 Z 1
x3p 1
2
dx = −3p 2
dx. (5.6)
0 x − 2x + 5 0 x (x − 2x + 5)
Z 1
1 1
O integral dx converge se, e só se, −3p < 1, isto é, p > − . Como
0 x−3p 3
1
x−3p (x2 − 2x + 5) 1 1
lim+ = lim+ 2 =
x→0 1 x→0 x − 2x + 5 5
x −3p

1
o integral (5.6) converge se, e só se, p > − .
3
Se p ≥ 0, o integral que acabámos de estudar é de Riemann. Podemos então concluir
1
que o integral (5.6) converge se, e só se, p > − .
Z +∞ 3
1 1
O integral 2−3p
dx converge se, e só se, 2 − 3p > 1, isto é, p < e
1 x 3

x3p
2 x2
lim x − 2x + 5 = lim 2 =1
x→+∞ 1 x→+∞ x − 2x + 5
x2−3p
134 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

1
pelo que podemos concluir que o integral de 1a espécie converge se, e só se, p < .
3
1 1
Então o integral (5.5) converge se, e só se, − < p < .
3 3
Consideremos o integral
Z 3
7
α β+1
dx. (5.7)
−2 (x + 2) (3 − x)

É um integral de Riemann se α ≤ 0 e β + 1 ≤ 0 e é um integral impróprio de 2a espécie


se α > 0 ou β + 1 > 0. Podemos escrever este integral na seguinte forma:
Z 0 Z 3
7 7
α β+1
dx + α β+1
dx.
−2 (x + 2) (3 − x) 0 (x + 2) (3 − x)
Z 0
1
Estudemos o primeiro integral. Como o integral α
dx converge se, e só se,
−2 (x + 2)
α < 1, e
7
(x + 2) (3 − x)β+1
α 7 7
lim + = lim + = β+1
x→−2 1 x→−2 (3 − x) β+1 5
(x + 2) α

podemos concluir que o Zintegral é convergente se, e só se, α < 1 e β ∈ R.


3
1
Dado que o integral β+1
dx converge se, e só se, β + 1 < 1, isto é, β < 0, e
0 (3 − x)

7
(x + 2)α (3 − x)β+1 7 7
lim− = lim− = α
x→3 1 x→3 (x + 2) α 5
(3 − x)β+1
podemos concluir que o segundo integral converge se, e só se, β < 0 e α ∈ R.
O integral (5.7) será convergente se, e só se, α < 1 e β < 0.
Entre os integrais com parâmetros há dois especialmente importantes:
Z +∞ Z 1
p−1 −x
Γ(p) = x e dx e β(p, q) = xp−1 (1 − x)q−1 dx,
0 0

p, q ∈ R. Estes integrais, quando convergentes, definem duas funções: a função Gama,


no primeiro caso, e a função Beta, no segundo. Pretendemos estudar o domı́nio destas
funções, isto é, saber para que valores dos parâmetros são convergentes os integrais que
as definem.
Comecemos por estudar o integral
Z +∞
Γ(p) = xp−1 e−x dx (5.8)
0
5.5 Integrais impróprios 135

Podemos escrever este integral do seguinte modo:


Z 1 Z +∞
p−1 −x
x e dx + xp−1 e−x dx.
0 1

O primeiro integral é de Riemann se p − 1 ≥ 0 e de 2a espécie se p − 1 < 0, enquanto o


Z +∞ que seja p ∈ R.
segundo é de 1a espécie qualquer
1
Sabemos que o integral dx é convergente. Dado que
1 x2
xp−1 e−x
lim = 0, ∀p ∈ R
x→+∞ 1
x2
podemos concluir que o integral de 1a Zespécie é convergente qualquer que seja p ∈ R.
1
1
O integral impróprio de 2a espécie 1−p
dx é convergente se, e só se, 1 − p < 1, isto
0 x
é, p > 0. Além disso,
xp−1 e−x
lim+ = lim+ e−x = 1,
x→0 1 x→0
x 1−p
a
o que implica que o integral de 2 espécie é convergente se,e só se, p > 0.
Então o integral (5.8) converge se, e só se p > 0, isto é, a função Γ tem domı́nio R + .
Consideremos o integral Z 1
xp−1 (1 − x)q−1 dx (5.9)
0
Podemos sempre escrever este integral como a soma
Z 1 Z 1
2
p−1 q−1
x (1 − x) dx + xp−1 (1 − x)q−1 dx
1
0 2

onde o primeiro integral é de Riemann se p − 1 ≥ 0 e de 2a espécie se p − 1 < 0 e o segundo


é de Riemann se q − 1 ≥ 0 e de 2a espécie se q − 1 < 0.
Z 1
2 1
O integral 1−p
dx converge se, e só se, 1 − p < 1, isto é, p > 0. Como
0 x

xp−1 (1 − x)q−1
lim+ = lim+ (1 − x)q−1 = 1
x→0 1 x→0
x1−p
podemos concluir
Z 1 que o primeiro integral é convergente se, e só se, p > 0.
1
O integral dx converge se, e só se, 1 − q < 1, isto é, q > 0. Como
1 (1 − x)1−q
2

xp−1 (1 − x)q−1
lim− = lim− xp−1 = 1
x→1 1 x→1
(1 − x) 1−q
136 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral

podemos concluir que o segundo integral é convergente se, e só se, q > 0.
Então o integral (5.9) converge se, e só se, p > 0 e q > 0, isto é, a função Beta tem
sentido para p > 0 e q > 0.

E. Áreas de domı́nios ilimitados


Vejamos alguns exemplos de aplicação dos integrais impróprios ao cálculo de áreas de
domı́nios planos ilimitados.

EXEMPLO 1: Calculemos a área do domı́nio determinado pela imagem da função f (x) =


1
e o eixo dos xx (ver Figura 5.10).
1 + x2

Figura 5.10

O valor da área é dado pelo valor do integral impróprio


Z +∞
1
2
dx.
−∞ 1 + x

Calculando esse integral obtemos


Z +∞ Z 0 Z +∞
1 1 1
2
dx = 2
dx + dx
−∞ 1 + x −∞ 1 + x 0 1 + x2

Z +∞ Z x
1 1
= 2 dx = 2 lim dt
0 1 + x2 x→+∞ 0 1 + t2

= 2 lim [ arc tg(t) ]x0 = 2 lim arc tg(x) = π


x→+∞ x→+∞
5.5 Integrais impróprios 137

EXEMPLO 2: Calculemos a área do domı́nio determinado pela imagem da função f (x) =


1
p , as rectas x = −3 e x = 2 e o eixo dos xx (ver Figura 5.11).
|x|

Figura 5.11

O valor da área é o valor do integral impróprio


Z 2
1
p dx.
−3 |x|

Z 2 Z 0 Z 2 Z x Z 2
1 1 1 1 1
p dx = p dx + p dx = lim √ dt + lim √ dt
−3 |x| −3 |x| 0 |x| x→0− −3 −t x→0+ x t

£ √ ¤x h √ i2
= lim− −2 −t −3 + lim+ 2 t
x→0 x→0 x

³ √ √ ´ ³ √ √ ´ √ √
= lim− −2 −x + 2 3 + lim+ 2 2 − 2 x = 2 3 + 2 2
x→0 x→0
138 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
Capı́tulo 6

Exercı́cios

6.1 Funções Trigonométricas Inversas


NOTA: Considere-se, em todos os exercı́cios, as restrições principais do seno, coseno,
tangente e cotangente.

1. Calcule:
µ √ ¶
(a) arc sen − 23 ;
³ ³ ´´
(b) cotg arc sen 12
13 ;
µ √ ¶
(c) 3 − arc tg − 33 ;
π
h ³ ´i
(d) sen 2 arc cotg 43 ;
1
h ³ ´i
(e) tg 3 arc tg − 32 ;
³ ´
1 .
(f) arc tg(x) + arc tg x

2. Calcule o número real designado por:


h ³ ´i
(a) sen arc cos − 12 ;
³ ¡√ ¢´
π
(b) tg 4 + arc cotg 3 ;
³ ³ ´´
(c) cos 6 − arc cos 53 ;
π
· ³ ´ µ √ ¶¸
(d) cos 2 arc tg 4 + arc sen − 23 .
3

3. Simplifique as seguintes expressões:


140 6. Exercı́cios

(a) sen (π + arc cos(x));


³ ´
(b) cos2 21 arc cos(x) ;
³ ´
(c) cotg 2 arc cotg( x
2 , x 6= 0.
)

4. Mostre que:

(a) arc sen( 45 ) + arc tg( 34 ) = π2;


(b) arc tg( 21 ) + arc tg( 15 ) + arc tg( 18 ) = π4;
³q ´ ³q ´
x 1
x + 1 , com x ∈ R ;
+
(c) arc sen x+1 = arc cos
³q
x
´ √
x + 1 − arc tg( x) = 0, com x ∈ R .
+
(d) arc sen

5. Considere as funções reais de variv́el real definidas por:


³ ´ ³ ´
π
f (x) = cos 2x + 3 + 3; π
g(x) = 2 sen 3x − 5 ;
³ ´
π x
h(x) = sen( 3 ) + 3 tg( 2 ); π
i(x) = 5 cotg x + 6 ;
j(x) = 3 arc sen(2x − 1); m(x) = 1 − 12 arc cos(2x + 1);
³ ´
p(x) = 34 arc tg( x
3 );
π x
q(x) = 2 − 2 arc cotg 2 − 1 .

Determine o domı́nio e o contradomı́nio de cada uma das funções.

6. Considere as funções f e g definidas em R por:


³π ´ ³x´ ³ π´
f : x 7−→ cos + 2 arc sen e g : x 7−→ 3 − 4 sen x + .
4 2 3
(a) Determine o domı́nio e o contradomı́nio de f ;
(b) Determine uma expressão designatória que defina a função inversa da restrição
principal de g.

7. Considere as funções f e g, reais de variável real, tais que:


µ ¶
π 3x
f : x 7−→ − 2 arc cos ,
3 2

1 π
g : x 7−→ arc cotg (x + 3) − .
2 4
(a) Determine o domı́nio e o contradomı́nio de f e de g;
(b) Para cada uma das funções, caracterize a inversa da restrição principal.
6.1 Funções Trigonométricas Inversas 141

8. Dada a função real de variável real, definida por:


π
f (x) = − 3 arc sen (2x) ,
4
e considerando a restrição principal do seno, determine:

(a) O domı́nio de f ;
(b) O contradomı́nio de f ;
(c) Uma expressão de f −1 ;
(d) Os zeros de f ;
n o
(e) x ∈ R : f (x) = π
4 .
9. Considere a função f (x) = π
3 + 2 arc sen(|2x − 1|).
(a) Calcule o domı́nio e o contradomı́nio de f ;
(b) Verifique que f não tem zeros.

10. Sejam f e g funções reais de variável real, tais que:

f : x 7−→ 1 + cos (2x) e g : x 7−→ 1 + sen (2x) .

Caracterize as funções inversas de f , g e f −g, considerando as respectivas restrições


principais.

11. Resolva as equações:


³ ´ µ √ ¶
3
(a) arc sen(x) = 2 arc tg 4 − arc cos − 22 ;
³ ³ ´´
(b) arc cos sen 7π 6 = 2x + π
2 , em [π, 2π[.
12. Determine as soluções de cada uma das seguintes equações:

(a) arc tg (x + 1) = arc sec( 2 − x);
³ ´ ³ ´
1
(b) arc tg x + 1 = arc cotg x − 1 ;
2
³ ´
(c) arc cos (2x2 − 1) = 2 arc cos 12 ;
(d) arc cos (2x) − arc cos(x) = π
3.
142 6. Exercı́cios

6.2 Noções Topológicas


1. Determine o interior, o exterior, a fronteira, o derivado, a aderência, o conjunto dos
minorantes, o conjunto dos majorantes, o supremo, o ı́nfimo, o máximo e o mı́nimo
(caso existam) dos seguintes conjuntos:

A = [ 2, 3 [ ∪ [ 4, 10 [,

B =] 5, 7 [ ∪ {15}.

2. Determine o interior, o exterior, a fronteira, o derivado e a aderência dos seguintes


conjuntos:
(a) A = {x ∈ R : x2 < 50};
(b) B = {x : x é irracional e x2 < 50}.
3. Considere o conjunto
½ ¾
(−1)n
A = x ∈ R : x = 1 + (−1) +
n
∧n∈N .
n
(a) Determine o interior, o exterior, o derivado, a fronteira e a aderência de A.
(b) Averigúe se o conjunto A é aberto ou fechado.
4. Determine o exterior, o interior, a fronteira e o derivado do conjunto:
n √ √ o
A = {x ∈ Q : |x + 3| < 5} ∪ x : x é irracional ∧ − 2 ≤ x ≤ 13 .

5. Dado o conjunto
½ ¾
(−1)n
i i
C = x ∈ R : x = 1 − n ∧ n ∈ N ∪ 31 , 34
½ ¾
(−1)n
∪ x∈R: x=2+ ∧n∈N
n2

(a) Determine a fronteira, o interior, o exterior e o derivado de C;


(b) Averigúe se o conjunto é limitado.
6. São dados os conjuntos
½ ¯ 2 ¯ ¾
¯ x ¯
A= x∈R: ¯x − 2¯ ≤ 1
¯ ¯

e ½ µ ¶ ¾
1
B = y ∈ R : y = (−1) n+1 n
+ (−1) 2 + ∧n∈N .
n
Determine:
6.2 Noções Topológicas 143

(a) int(A ∪ B);


0
(b) (A ∪ B) .

Relativamente a B indique quais os pontos fronteiros e averigúe se o conjunto é


limitado.

7. Dados os conjuntos
½ ¯ ¯ ¯ ¯ ¾
¯ 1 ¯¯ ¯1 ¯ 1
A= x∈R: ¯1 − ¯ + 1¯ <
¯ x2
¯ x¯ ¯x

e ½ ¾
1 + 2n
B= y∈R: y= ∧n∈N
2n
(a) Determine A sob a forma de intervalos de números reais.
(b) Determine, caso existam, o supremo e o ı́nfimo de A ∩ B.

8. Dado o conjunto
½ µ ¶ ¾ ( µ ¶3n )
1 2n + 1
B = x ∈ R : x = (−1)n+1 1 + ,n∈N ∪ x∈R: x= , n∈N
n 2n − 1

determine:
0
(a) B e B;
(b) int(B);
(c) ext(B).

Justifique que o conjunto B é limitado, indicando o ı́nfimo e o supremo de B.

sen2 (x −
³ xπ)´ .
9. Considere a função g : x 7−→
1 − cos
2
Determine Dg .

(a) A respeito de Dg determine o interior, o exterior, a fronteira e o derivado.


(b) Diga, justificando, se Dg é um conjunto aberto ou fechado.
³ ´ h i
10. Seja A o conjunto dos termos da sucessão un = sen n π 4 , n ∈ N e B = − 1, 1 .
2
Determine o supremo, o ı́nfimo, o interior e a fronteira do conjunto A ∪ B.

11. Sendo B o domı́nio da expressão 1 em R, determine a fronteira e o


log(cos2 (x))
exterior de B e indique, justificando, se B é aberto.
144 6. Exercı́cios

12. Dados os conjuntos


© ª
A = x ∈ R : |1 − 4x−1 | − 1 > 0 e

B = {x ∈ R : |1 + 2x| ≤ 3x}

(a) Prove que A ∩ B = [ 1, 2 [.


(b) Indique, caso existam, o conjunto dos majorantes, o conjunto dos minorantes,
o supremo, o ı́nfimo, o máximo e o mı́nimo de B.

13. Indique o supremo e o ı́nfimo, se existirem, do seguinte conjunto:


½ ¯ ¯ ¾
¯ 4x − 5 ¯
A = x ∈ R \ {0} : x − ¯¯ ¯≤0 .
x ¯
n o
14. Considere o conjunto B = x ∈ R : x = 1 2m +m ∧m∈N .

Indique, se existirem, os majorantes, o ı́nfimo e o máximo de B.

15. Considere, em R, as seguintes condições:


¯¯ 2 ¯ ¯
¯¯ x + 1 ¯ ¯
p(x) : |x| + |x − 1| < 3 e q(x) : ¯¯
¯ ¯ ¯ − 1¯¯ < 1.
x ¯

(a) Determine sob a forma de intervalo de R o conjunto

A = {x ∈ R : p(x)∧ ∼ q(x)} .

(b) Indique, caso existam, o supremo e o ı́nfimo de A.

16. Sendo ( )
15
X
S= x ∈ R : 12 |x + 1| ≥ ( k |x| ) ,
k=1

determine a fronteira e o interior de S.


6.3 Indução Matemática 145

6.3 Indução Matemática


1. Prove que
1 + 3 + 5 + · · · + (2n − 1) = n2 ∀n ≥ 1.

2. Prove que
1
(a) 12 + 22 + 32 + · · · + n2 = n(n + 1)(2n + 1) ∀n ≥ 1;
6
· ¸2
n(n + 1)
(b) 13 + 23 + 33 + · · · + n3 = ∀n ≥ 1.
2
3. Prove que n(n2 + 5) é divisı́vel por 6 qualquer que seja n ∈ N.

4. Prove que:

(a) n < 2n ∀n ∈ N;
(b) 1 + 2n ≤ 3n ∀n ∈ N;
1
(c) 1 + 2 + 3 + · · · + n < (2n + 1)2 ∀n ∈ N;
8
³ a ´n+1 ³ a ´n
(d) Se 0 < a < b, então < ∀n ∈ N.
b b
5. Prove que
log(a1 a2 . . . an ) = log a1 + log a2 + · · · + log an ,
para todo o n ≥ 2, onde cada ai é um real positivo.

6. Prove que
a(1 − rn )
a + ar + ar2 + · · · + ar n−1 = ,
1−r
6 1.
onde n é um inteiro positivo e a e r são reais, r =
146 6. Exercı́cios

6.4 Sucessões
1. Prove, por definição, que as seguintes sucessões (un ) são infinitamente grandes po-
sitivos, ou seja, que lim un = +∞:
n

(a) un = n;
(b) un = n2 ;

(c) un = n;
(d) un = 2n .

2. Prove, por definição, que as seguintes sucessões (un ) são infinitésimos, ou seja, que
lim un = 0:
n

1
(a) un = ;
n
1
(b) un = 2 ;
n
1
(c) un = √ ;
n
1
(d) un = n .
2
3. Se (un ) e (vn ) são sucessões convergentes, prove que:

(a) lim(un + vn ) = lim un + lim vn ;


(b) lim(un · vn ) = lim un · lim vn ;
(c) lim(un )p = (lim un )p , p ∈ N;
(d) lim uvnn = lim un
lim vn
, ∀n ∈ N e lim vn 6= 0;
(e) lim(un )1/p = (lim un )1/p , se p for par deverá ser un ≥ 0, ∀n ∈ N;
(f) lim |un | = | lim un |;
(g) (∃p ∈ N ∀n ≥ p : un > 0) ⇒ lim un ≥ 0;
(h) (∃p ∈ N ∀n ≥ p : un ≥ vn ) ⇒ lim un ≥ lim vn .

4. Sejam (un ) e (vn ) dois infinitamente grandes positivos e (wn ) um infinitamente


grande negativo, prove que:

(a) lim(un + vn ) = +∞;


(b) lim(un · vn ) = +∞;
(c) lim(un · wn ) = −∞;
(d) lim upn = +∞ ∀p ∈ N;
6.4 Sucessões 147

(e) lim wnp = ∞ ∀p ∈ N;


(f) lim |un | = lim |wn | = +∞;
(g) Sendo (zn ) uma sucessão tal que ∃p ∈ N ∀n > p zn ≥ un , prove que lim zn =
+∞.
5. Considere a sucessão de termo geral an , em que a ∈ R. Prove que:
(a) Se a > 1, lim an = +∞;
n
(b) Se a < −1, lim an = ∞;
n
(c) Se |a| < 1, lim an = 0;
n
(d) Se a = 1, lim an = 1;
n
(e) Se a = −1, a sucessão é divergente.
6. Calcule, se existir, o limite de cada uma das seguintes sucessões:
1−n
(a) un = ;
4n + 3
n2 + 2
(b) un = ;
3n + 1
3n
(c) un = ;
4n3 + 1
−n3 + 2
(d) un = ;
4n3 − 7
n2 + 3n n2 − 1
(e) un = − .
n+2 n
7. Sejam (xn ) ⊂ R uma sucessão, xn → ∞, P (x) = a0 xp + · · · + ap e Q(x) = b0 xq +
· · · + bq duas funções polinomiais de coeficientes reais, p, q ∈ N, a0 6= 0, b0 6= 0.
Mostre que
(a)
lim P (xn ) = lim a0 xpn = ∞.
(b)  a
0

 se p = q,
a0 xpn  b0

P (xn )
lim = lim = ∞ se p > q,
Q(xn ) b0 xqn 



0 se p < q.

8. Calcule, se existir, o limite de cada uma das seguintes sucessões:



n
(a) un = ;
4n + 1
148 6. Exercı́cios


n
(b) un = 1 √ ;
2
− n
√ √
(c) un = n2 − 1;
n2 + 1 −
³√ r
√ ´ 1
(d) un = n+1− n n+ ;
2
1 1 1
(e) un = √ +√ + ··· + √ .
2
n +1 2
n +2 2
n +n
un
9. Diz-se que a sucessão (un ) cresce mais rapidamente que a sucessão (vn ) se → +∞.
vn
(a) Prove que nn cresce mais rapidamente que n!.
(b) Prove que n! cresce mais rapidamente que en .
(c) Coloque por ordem decrescente, quanto à rapidez de convergência, as sucessões
de termos gerais:
√ √
2 n, 10 n, 2n , en , n!, log(n), n, n3 , nn .

10. Sejam (un ) e (vn ) dois infinitésimos, vn 6= 0 ∀n ∈ N. Diz-se que (un ) é de ordem
un
superior a (vn ) se lim = 0. Ordene os seguintes infinitésimos:
vn
1 1 1 1 1 1 1 1 1
, √ , , , , , √ , , .
2n 10 n 2n en n! log(n) n n3 nn

11. Calcule os limites de cada uma das seguintes sucessões :


¡ n+3 ¢2n
(a) un = n+1 ;
¡ n+5 ¢n
(b) vn = 2n+1 ;
¡ ¢n
(c) wn = 1 − n32 .

12. Mostre que


u1 + · · · + u n
(a) Se un → u (u ∈ R ) então → u.
n

(b) Se a ∈ R, a > 0, então lim n a = 1.
un+1 √
(c) Se un > 0, ∀n ∈ N e → b, (b ∈ R, b ≥ 0) então n un → b.
un √
Observação: em particular n n → 1.
√ un+1
(d) n un → b 6⇒ → b, (un > 0, ∀n ∈ N).
un
13. Calcule, se existir
6.4 Sucessões 149

1 p
n
(a) lim (n + 1)!;
2n
1p
(b) lim n n(n + 1) · · · 2n.
n
s
n!
14. Determine p ∈ R tal que lim n
= 3.
(p n)n

15. Calcule os limites das seguintes sucessões:


µ ¶
2 1
(a) cos (n) sen ;
n
n (n − 1) (n − 2) (n − 3)
(b) ;
(n + 1) (n + 2) (n + 3)
(c) (cos(x))n , x ∈ R;
s µ ¶
n
2
(d) n n! ;
n
r
n 1
(e) 1+ ;
n
p
(f) n (n + 1)! − n!;
1 1 1
(g) √ + √ + ··· + √ ;
n n+1 2n
1 1 1
(h) √ +√ + ··· + √ ;
2
n +1 2
n +2 2
n + 2n + 1
µ ¶n r
1 n n + 1
(i) 1 − ;
n n
1 1 1
(j) 2 + 2
+ ··· + ;
n (n + 1) (2 n)2
n n n
(k) √ +√ + ··· + √ .
4
n +1 4
n +2 4
n +n
16. Quando possı́vel dê exemplos de sucessões un → +∞ , vn → −∞ , wn → 0, que
verifiquem as condições indicadas nas alı́neas seguintes:

(a) un + vn → 1;
(b) un + vn → −∞;
(c) un + wn → 1;
(d) un × wn → 0;
(e) vn × wn → +∞;
150 6. Exercı́cios

un
(f) → −1.
wn
17. Sejam (xn ) e (yn ) duas sucessões de números reais tais que xn → x e yn → y. Mostre
que a sucessão de termo geral zn = min{xn , yn } converge e que zn → min{x, y}.

18. Estude, quanto à convergência, a sucessão real definida por



 u1 = 1,
 un = un−1 − 1 , ∀n > 1.
2
Indique, caso exista, o limite de un .

19. Considere a sucessão (un ) definida por recorrência



 u1 = 5
 un+1 = 5un − 4
un
(a) Prove por indução que ∀n ∈ N un > 4.
(b) Prove que a sucessão é convergente.
(c) Mostre que 4 é o ı́nfimo do conjunto dos termos da sucessão .

20. As sucessões (un ) e (vn ) verificam as seguintes condições:


i) ∀n ∈ N 0 < un < vn
ii) vn é decrescente
Diga, justificando, se são verdadeiras ou falsas as seguintes afirmações

(a) vn é convergente.
(b) un é convergente.
(c) un é decrescente.

21. Determine os limites superiores e inferiores das sucessões de termos gerais


n
(a) n(−1) ;
(b) cos(n π/3);
√ √
(c) n − (−1)n n − 1;
³n π ´
(d) sen ;
4
√ √
(e) n − (−1)n n − 1;
1 ³ n π ´ ³ ³ n π ´´n
(f) 2 cos + cos ;
n 10 2
6.4 Sucessões 151

(−1)n n2 + 3
(g) ;
n+1
³n π ´
(h) sen + a , a ∈ R;
2
µ ¶n
1 1
(i) + + 2 n ((−1)n 3 + 3);
3 2n
((−1)n+3 − (−1)n ) n3 + 2
(j) .
3n + 1
22. Mostre que as seguintes sucessões são de Cauchy em Q:
1
(a) ;
n2
1
(b) n .
2
1 1
23. Mostre que a sucessão de termo geral 1 + + · · · + não é de Cauchy em Q.
2 n
n+1
24. Considere a sucessão de termo geral un = n+2
. Estude a natureza da sucessão
usando a definição de sucessão de Cauchy.
3 xn 1
25. Mostre que a sucessão x1 = , xn+1 = + é uma sucessão em Q que verifica
2 2 xn
x2n → 2. Use este resultado para mostrar que (xn ) é uma sucessão de Cauchy em Q
que não converge em Q.
1
SUGESTÃO: i ) Mostre que vn = x2n − 2 verifica 0 ≤ vn ≤ n ;
4
x2n − x2m
ii ) use a relação xn − xm = .
xn + x m
152 6. Exercı́cios

6.5 Continuidade
1. Estude a continuidade da função f (x) :] −π , π [→ R definida por
2 2

 1, se x = 0
f (x) =
 tg(x) , se x 6= 0
sen(2x)

2. Considere a função real de variável real, definida por:





 2x + arc cos(x), se 0 ≤ x < 1

h(x) = 2, se x = 1,

 x + 5,


se 1 < x ≤ 4
3
(a) Mostre que h é contı́nua em todo o seu domı́nio.
(b) Aplicando o teorema de Bolzano, mostre que: ∃c ∈]2, 4[: h(c) = c.

3. Considere a função real f (x) = 1 − x sen( x1 ) definida em R \ {0}. Seja g um prolon-


gamento de f a R. Determine o valor a atribuir a g(0) de modo que g seja contı́nua
em x = 0.

4. Determine o valor de a e b que tornam contı́nuas as seguintes funções nos pontos


indicados:

 3x − 7, se x ≥ 3
(a) f1 (x) = , x = 3.
 ax + 3, se x < 3



 x + a, se x < −2

(b) f2 (x) = 3ax + b, se − 2 ≤ x ≤ 1 , x = −2, x = 1.



 ax + 3, se x > 1

 sen(x), se x ≤ 0
(c) f3 (x) = , x = 0.
 ax + b, se x > 0

5. Considere a função real definida por:




 x + 2a, se x ≤ 2
f (x) = x(x − 2)

 2 , se x > 2
x − 5x + 6
(a) Determine o valor de a de forma a que f seja contı́nua em x = 2.
6.5 Continuidade 153

(b) Mostre que apesar de se ter f (2) · f (4) < 0, não se pode aplicar o teorema do
valor intermédio de Bolzano no intervalo [2, 4].

sen(x)
6. Sabendo que lim = 1, estude a continuidade em x = 0 da função
x→0 x
 4 3 2
 x − 3x + x , se x 6= 0

f (x) = sen(x)

 0, se x = 0

Obs: Considere f apenas definida em [− π2 , π2 ].


r
1 − cos(x)
7. Sabendo que sen( x2 ) = ± , estude a continuidade em x = 0 da função
2

 2x − sen(x)
 p , se x 6= 0
f (x) = 1 − cos(x)
 √2,

se x = 0

Obs: Considere f apenas definida em [− π2 , π2 ].

8. Mostre, recorrendo à definição, que as seguintes funções são contı́nuas nos seus
domı́nios:

(a) f (x) = x2 ;
(b) g(x) = cos(x);
(c) h(x) = x + sen(x).

9. Sejam f e g funções contı́nuas em [a, b] tais que f (a) > g(a) e f (b) < g(b). Mostre
que os gráficos de f e g se intersectam num ponto de abcissa c ∈]a, b[.

10. Sejam f e g funções contı́nuas em [a, b] tais que f (a) = g(b), f (b) = g(a) e f (a) 6=
g(a). Mostre que f − g tem pelo menos uma raiz pertencente ao intervalo [a, b].

11. Seja f uma função real de variável real contı́nua em [a, b]. Sabendo que f (a) < a e
f (b) > b, prove que f tem pelo menos um ponto fixo no intervalo ]a, b[.
Obs: c é ponto fixo se f (c) = c.

12. Prove que se h : D ⊂ R → R é uma função contı́nua em x = b, ponto interior a D,


se tem:

(a) Se h(b) > 0 então existe uma vizinhança V de b tal que h(x) > 0, ∀x ∈ V .
(b) Se h(b) < 0 então existe uma vizinhança V de b tal que h(x) < 0, ∀x ∈ V .
154 6. Exercı́cios

13. Seja f : [a, b] → R uma função contı́nua, injectiva e tal que f (a) < f (b). Utilize o
teorema do valor intermédio de Bolzano para concluir que f é estritamente crescente
no seu domı́nio.
Sugestão: Comece por mostrar, utilizando o método de redução ao absurdo, que
não existe x ∈]a, b[ tal que f (x) < f (a) ou f (x) > f (b).
14. Seja f : [a, +∞[→ R uma função contı́nua. Suponha que existe b ∈ [a, +∞[ tal que,
para qualquer x > b se tem f (x) < f (a). Prove que f tem máximo em [a, +∞[.
f (x)
15. Seja f : R → R uma função com limite finito quando x → 0 e tal que >0
x
∀x ∈ R \ {0}. Indique, justificando, o valor de lim f (x).
x→0

16. Seja f uma função definida em R e verificando as seguintes condições:


i) ∀x ∈ R, f (x) ∈ Z;
ii) lim f (x) = c, c ∈ R.
x→+∞

Recorrendo à definição de limite, justifique que:


(a) c é um número inteiro.
(b) Existe a ∈ R tal que f (x) = c, sempre que x > a.
17. Considere a função f definida por:

 1 x2 + 2, se x 6∈ Z
f (x) = 2
 |1 + x| + |1 − x|, se x ∈ Z

Estude-a quanto à continuidade.


18. Seja f uma função definida num conjunto X ⊂ R. Mostre que se f é contı́nua em
a, existe uma vizinhança de a, na qual f é limitada.
19. (a) Sendo g : [0, +∞[→ R contı́nua no seu domı́nio, mostre que a função f (x) =
g(1 − x2 ) tem máximo e mı́nimo.
(b) Se na alı́nea a) considerássemos g definida em ]0, +∞[, poderı́amos continuar
a garantir para f a existência de máximo e mı́nimo? Justifique.
20. Seja f uma função contı́nua em R, com limites positivos quando x → −∞ e x → +∞
e tal que f (0) < 0. Nestas condições mostre que:
(a) a equação f (x) = 0 tem pelo menos duas raı́zes reais.
(b) ∃c ∈ R ∀x ∈ R f (c) ≤ f (x).
Dê um exemplo de uma função que verifique todas as condições exigidas no enun-
ciado – excepto na continuidade em R, que deve ser substituı́da pela continuidade
em R \ {0} – e para a qual as afirmações expressas nas alı́neas a) e b) sejam falsas.
6.6 Continuidade Uniforme 155

6.6 Continuidade Uniforme


1. Estude quanto à continuidade uniforme nos intervalos indicados as seguintes funções:

(a) f (x) = x em R;
(b) f (x) = sen2 (x) em R;

 0, se x < 0
(c) f (x) = em ]a, b[, a, b ∈ R, a < b;
 1, se x ≥ 0

1
(d) f (x) = em ]a, b[ com a ≥ 0;
x2
µ ¶
1
(e) f (x) = sen em ]a, b[ com a ≥ 0.
x
2. Mostre, usando a definição, que a função f definida por f (x) = (x − 1)|x + 2| é
uniformemente contı́nua em qualquer intervalo limitado de R.

3. Considere a função

 |x2 − 7x + 10|, se x > 3
g(x) =
 3 − x, se x ≤ 3

Justifique que ”g não é uniformemente contı́nua no intervalo [0, 5]”.

4. Mostre, usando a definição, que a função f (x) = 12 x2 − 1 é uniformemente contı́nua


no intervalo [2, 8].

5. Diz-se que uma função f definida num conjunto X ⊂ R verifica a condição de


Lipschitz, se existe um número k > 0 tal que se tem, para quaisquer x, y ∈ X:

|f (x) − f (y)| ≤ k|x − y|.

Mostre que toda a função lipschitziana é uniformemente contı́nua.

6. (a) Prove que o produto de duas funções lipschitzianas limitadas ainda é uma
função lipschitziana.

(b) Prove, usando a alı́nea a), que a função f (x) = x sen(x) é uniformemente
contı́nua em ]1, a[, ∀a ∈ R.
½ ¾
1 1
7. Seja α ∈ , , 2, 3 . Para que valores de α é uniformemente contı́nua no intervalo
3 2
[0, +∞[ a função f (x) = xα ?
156 6. Exercı́cios

8. Prove que, se f é uniformemente contı́nua

(a) A restrição de f a qualquer parte do seu domı́nio é uniformemente contı́nua.


(b) f é limitada se o seu domı́nio é limitado.
(c) f tem limite finito em qualquer ponto de acumulação (finito) do seu domı́nio.

9. Indique, das seguintes funções definidas em R, quais as que são uniformemente


contı́nuas:

(a) f (x) = x sen(x);


x3
(b) f (x) = .
1 + x2
6.7 Diferenciabilidade. Teoremas de Rolle, Lagrange e Cauchy 157

6.7 Diferenciabilidade. Teoremas de Rolle, Lagrange


e Cauchy
1. Seja f uma função diferenciável em R e g uma função definida por g(x) = f (ex ).

(a) Defina a função derivada de g.


(b) Supondo que f 0 também é diferenciável, determine g 00 (1).

2. Sendo f (x) = x4 , g uma função diferenciável em R e h tal que h(x) = (g ◦f )(sen(x)),


defina a função derivada de h.

3. Seja f uma função diferenciável e injectiva e g(x) = x3 . Aplicando as regras da


derivação da função inversa e da função composta, determine uma expressão para
a função derivada de (f ◦ g)−1 .

4. Calcule o diferencial das funções:

(a) f (x) = x5 + 4x3 ;


(b) f (x) = log(x);
(c) f (x) = ex x2 .

5. Calcule, utilizando o diferencial, valores aproximados de:

(a) 1.993 ;
(b) 25.02 .
2x − 1 p
6. Considere as funções f (x) = 2
e g(x) = 3 (x − 1)2 . Recorrendo ao teorema
x −1
de Rolle, que se pode afirmar sobre a existência de pontos c1 , c2 ∈]0, 2[ tais que
f 0 (c1 ) = g 0 (c2 ) = 0?

7. Mostre que f (x) = −x4 + 8x2 + 9 satisfaz as condições do teorema de Rolle no


intervalo [−3, 3]. Determine os valores c ∈] − 3, 3[ que satisfaçam f 0 (c) = 0.

8. Prove, recorrendo ao teorema de Rolle, que a equação 4x3 + 3x2 − 2x + 2 = 0 tem,


pelo menos, uma solução no intervalo ] − 2, 0[.

9. Seja f uma função contı́nua em [a, b], diferenciável em ]a, b[ e tal que f (a) =
f (b) = 0. Diga se a função g(x) = f (x)e−3x , no mesmo intervalo, obedece às
condições do teorema de Rolle. Mostre que existe c em ]a, b[ tal que f 0 (c) = 3f (c).

10. Prove que a equação x3 − 9x − 9 = 0 tem 3 raı́zes reais.

11. Mostre que a equação x3 + 2x − 1 = 0 tem apenas uma raiz real. Mostre ainda que
essa raiz se encontra no intervalo ]0, 1[.
158 6. Exercı́cios

12. Considere a função real de variável real definida por


f (x) = 2(x − 1)(x − 3)(x − 5)(x − 7).
Quantos zeros podemos garantir para f 0 e f 00 ?
13. Prove que, qualquer que seja k (real), a função f (x) = 2x3 − 6x + k não pode ter
dois zeros no intervalo ] − 1, 1[.
14. A função f está definida em [0, π2 ] por:

 tg(x), se 0 ≤ x < π
2
f (x) =
 1, se x = π2

(a) Verifique que f ( π2 ) = f ( π4 ).


(b) Mostre que f é contı́nua e diferenciável no intervalo ] π4 , π2 [.
(c) Neste intervalo f 0 não tem zeros. Isto contradiz o teorema de Rolle? Justifique.
15. Considere as funções f (x) = (x − 2)2 + 1 e

2
 x − 4x + 3 , se x 6= 2

g(x) = x−2

 5, se x = 2

(a) Mostre que, no intervalo [1, 3], a função f satisfaz as condições do teorema de
Rolle e que g não satisfaz.
(b) Determine as coordenadas do ponto do gráfico de f onde a tangente à curva é
horizontal.
16. Considere a seguinte função real de variável real,

 ex−1 , se x ≤ 1
f (x) =
 1 + log(x), se x > 1.

Mostre que:
(a) f é contı́nua em R;
(b) f tem derivada finita em R;
(c) em nenhum intervalo de R é aplicável a f o teorema de Rolle.
17. Considere a função real de variável real, definida por:

 ex2 −x−2 , se x ∈ [−1, 2]
f (x) = 6 ³x´
 arc sen , se x ∈]2, 4].
π 4
6.7 Diferenciabilidade. Teoremas de Rolle, Lagrange e Cauchy 159

(a) Averigúe se é possı́vel aplicar o teorema de Rolle ao intervalo [−1, 2] . Em caso


afirmativo determine o número de Rolle correspondente.
(b) Prove que f é limitada.

18. Seja f uma função definida e diferenciável num intervalo I e g(x) = f (cos(x))
f (sen(x)). Suponhamos ainda que I contém os pontos −1 e 1 por forma a que g
tenha por domı́nio R.

(a) Calcule g 0 (x) e mostre que, em qualquer ponto (a, b) do gráfico de g tal que
tg(a) = 1, a tangente a esse gráfico é horizontal.
(b) Admitindo que f era duas vezes diferenciável em I, o que poderı́amos dizer
sobre o número de raı́zes da equação g 00 (x) = 0?

19. Em cada um dos seguintes casos verificar se o teorema do valor médio de Lagrange
f (b) − f (a)
se aplica. Em caso afirmativo encontrar o número c em tal que f 0 (c) = .
b−a
1
(a) f (x) = , a = 2, b = 3
x
1
(b) f (x) = , a = −1, b = 3
x
π
(c) f (x) = cos(x), a = 0, b =
2
π 3π
(d) f (x) = tg(x), a= , b=
4 4

(e) f (x) = 1 − x2 , a = −1, b = 0

(f) f (x) = 3 x, a = −1, b = 1
(g) f (x) = |x|, a = −1, b = 1
2 −4
20. Considere a função g(x) = ex + x.

(a) Determine as coordenadas dos pontos do gráfico da função que têm abcissa
-1, 1.
(b) A função está nas condições do teorema de Lagrange no intervalo [−1, 1]?
(c) Determine uma equação da recta tangente ao gráfico de g, paralela à recta
definida pelos pontos considerados em a).

21. Seja f : R → R a função definida por:



 5 − x2 , se x ≤ 1
f (x) =
 3 + x, se x > 1.
x
(a) Mostre, a partir da derivada de f , que a função é contı́nua em R.
160 6. Exercı́cios

(b) Aplique o teorema do valor médio de Lagrange ao intervalo [0, 3]. Determine
os valores de c a que se refere o teorema.

22. Seja f : R → R a função definida por f (x) = sen(x) − cos(x).



(a) Mostre que para cada x ∈ [0, π2 ], 1 ≤ f 0 (x) ≤ 2.
(b) Utilize o teorema de Lagrange para verificar que, para cada x ∈ [0, π2 ],

−1 + x ≤ f (x) ≤ −1 + x 2.

23. Utilizando o teorema de Lagrange mostre que:

(a) arc tg(x) ≤ x, ∀x ∈ R+


0;

(b) log(x + 1) < x, x > 0;


µ ¶
1+x 1
(c) log < , x > 0;
x x
(d) ex > x + 1, x > 0;
x−a x−a
(e) 2
+ arc tg(a) < arc tg(x) < arc tg(a) + , x > a;
1+x 1 + a2
(f) |sen(θ) − sen(α)| ≤ |θ − α|, ∀θ, α ∈ R;
(g) |sen(θ)| < |θ|, ∀θ ∈ R.

24. Aplicar, caso seja possı́vel, o teorema de Cauchy às seguintes funções nos intervalos
indicados.
2 −1
(a) f (x) = ex + x e g(x) = 2x em [−1, 1].
(b) f (x) = cos(2x) e g(x) = sen(x) em [− π3 , π3 ].
(c) f (x) = x3 e g(x) = x2 em [−2, 2].

25. Sejam f e g funções diferenciáveis em R tais que f 0 (x) > g 0 (x) > 0, ∀x ∈ R e
f (a) = g(a). Utilizando o Teorema de Cauchy, demonstre que:

(a) f (x) > g(x), ∀x > a.


(b) f (x) < g(x), ∀x < a.

26. Calcule, aplicando o teorema do valor médio de Cauchy, o seguinte limite:

tg(a + x) − tg(a − x)
lim .
x→0 arc tg(a + x) − arc tg(a − x)
6.7 Diferenciabilidade. Teoremas de Rolle, Lagrange e Cauchy 161

27. Seja f uma função contı́nua em [a, b] e diferenciável em ]a, b[. Demonstre as seguintes
afirmações:

(a) Se f 0 (x) 6= 0, ∀x ∈]a, b[, então f é injectiva em [a, b].


(b) Se f 0 (x) ≤ 0 (resp. f 0 (x) ≥ 0), ∀x ∈]a, b[ então f é função decrescente (resp.
crescente).

28. Sejam f e g duas funções contı́nuas num intervalo [a, b] e diferenciáveis em ]a, b[.
Mostre que:

(a) se f 0 (x) ≤ g 0 (x), ∀x ∈]a, b[, então f (b) − f (a) ≤ g(b) − g(a).
(b) se |f 0 (x)| ≤ g 0 (x), ∀x ∈]a, b[, então |f (b) − f (a)| ≤ g(b) − g(a).

29. Calcule os seguintes limites:

(a) lim (1 + 3 tg2 (x))cotg(x) ;


x→0
µ ¶log (1+ 12 )
1 x
(b) lim ;
x→+∞ x
x − tg(x)
(c) lim ;
x→0 x − sen(x)
¡ ¢
log x+2
(d) lim ¡ x ¢;
x→+∞ log x−2
x
1
ex
(e) lim+ ;
x→0 cotg(x)
(f) lim xsen(x) ;
x→0
1
(g) lim (x + 1) log x ;
x→+∞
1
(h) lim | cos(x)| x−π ;
x→π

log(sen(4x))
(i) lim ;
x→0 log(sen(3x))
h ³ π ´i
(j) lim x tg (1 − x) ;
x→0 2
· ¸
log x −x ex
(k) lim √ + (1 − e ) ;
x→+∞ 4
x
· µ ¶x ¸
1 2
(l) lim x x + 1 − ;
x→+∞ x
· ¸
x−1 log x
(m) lim (log x) + ;
x→1 sen(πx)
162 6. Exercı́cios

¶ sen(x) −1
sen(x) ( x−sen(x) )
µ
(n) lim ;
x→0 x
µ x ¶1
a + bx + cx x
(o) lim , a, b, c ∈ R+ .
x→0 3
30. Determine os números reais a e b tais que

sen(ax) − x
lim
x→0 x3 + bx2

seja um número real diferente de zero.

31. Determine os números reais a e b de forma que


µ ¶
cos(x) ax + b
lim − = 0.
x→0 log(x + 1) x
6.8 Fórmula de Taylor 163

6.8 Fórmula de Taylor


1. Desenvolva os polinómios P1 (x) = x4 e P2 (x) = x3 − 2x2 + 3x + 5 em potências
inteiras de (x − 3) e (x − 2), respectivamente.

2. Escreva a fórmula de Taylor de ordem n no ponto a dado, das seguintes funções:


1
(a) f (x) = , a = 1, n = 3;
x2 + 3
2
(b) f (x) = ex , a = 0, n = 4;
(c) f (x) = sen2 (x), a = 0, n = 4;
(d) f (x) = tg(x), a = 0, n = 4;
1
(e) f (x) = , a = 1, n = 4.
x
3. Utilize a fórmula de Taylor para aproximar a função f (x) = cos(x) por um polinómio
de grau 4. Use esse polinómio para calcular uma aproximação de cos(0.5). Obtenha
uma estimativa para o erro da aproximação.

4. Use a fórmula de Taylor para estabelecer as seguintes desigualdades:


x2 x3 x4
(a) log(1 + x) ≥ x − + − , x > 0;
2 3 4
1
(b) sen(a + h) − sen(a) − h cos(a) ≤ h2 , ∀h ∈ R;
2
3
1 x
(c) 2
≤ 1 + 2x + 3x2 + 4 , x < 0.
(1 − x) (1 − x)5
5. Escreva a fórmula de Mac-Laurin de ordem n de cada uma das seguintes funções:
1−x
(a) f (x) = ;
ex
1
(b) f (x) = ;
1+x
(c) f (x) = sen(x);
(d) f (x) = cos(x);
1
(e) f (x) = √ .
1+x
6. Observe que as funções f (x) = sen(x) e g(x) = kx, com k pequeno, se intersectam
nas proximidades de x = π. Aplicando a fórmula de Taylor de ordem 3 no ponto π
à função g(x) = sen(x) − kx, determine uma solução aproximada de sen(x) = kx.

7. Utilize a fórmula de Taylor para calcular os seguintes limites:


164 6. Exercı́cios

sen(x) − x
(a) lim ;
x→0 x2
ex−π + cos(x) − (x − π)
(b) lim ;
x→π (x − π)2
1 − cos(x)
(c) lim ;
x→0 x2
log(x) − x + 1
(d) lim .
x→1 (x − 1)2
8. Seja g(x) = αe−kx + ax, com a < 0, α < 0, k > 0, constantes. Determine os
extremos relativos da função g.
6.9 Estudo de uma função 165

6.9 Estudo de uma função


1. Considere a função 
 xex , se x ≤ 0
f (x) =
 x log4 (x), se x > 0

(a) Estude a continuidade de f .


(b) Estude a diferenciabilidade de f .
(c) Determine os extremos e a monotonia de f .
(d) Determine os pontos de inflexão e concavidades de f .
(e) Determine o contradomı́nio de f .

2. Considere a função  2x
 , se x ≤ 0
f (x) = 1 + x2
1 − e3x , se x > 0

(a) Estude a continuidade de f .


(b) Estude a diferenciabilidade de f .
(c) Determine os extremos e a monotonia de f .
(d) Determine os pontos de inflexão e concavidades de f .
(e) Determine o contradomı́nio de f .

3. Seja f definida por





 x2 − 4, se x ≤ −2

f (x) = | 21 (x2 + x − 2)|, se −2 < x ≤ 1

 ex

 , se x > 1
2
(a) Estude analiticamente f quanto à continuidade e derivabilidade.
(b) Determine os extremos relativos de f .
(c) Mostre, por definição, que f é uniformemente contı́nua no intervalo ]0, 1].

4. Considere a função definida por


2
|x|e1−x + 2
f (x) = .
5
(a) Estude f do ponto de vista da continuidade, derivabilidade, monotonia e ex-
tremos.
166 6. Exercı́cios

(b) Indique, justificando, se a função é uniformemente contı́nua no intervalo ]−1, 2[.

5. Seja f definida por





 πx + π2 , se x < − 12

f (x) = cos(πx), se − 12 ≤ x < 3
2



 2 − x2 , se x ≥ 3
2

(a) Estude analiticamente f quanto à continuidade e derivabilidade.


(b) Determine os extremos relativos de f .
(c) Esboce o gráfico da função.
(d) Mostre, usando a definição, que f não é uniformemente contı́nua no intervalo
[2, +∞[.

6. Seja f definida por





 a sen(x) + 1, se x ≤ 0

f (x) = x2 log(x) + b, se 0 < x < 2



 x4 + 3, se x ≥ 2

(a) Determine a e b de modo que f tenha derivada finita no ponto x = 0.


(b) Mostre, por definição, que f é uniformemente contı́nua no intervalo [3, 4].

7. Considere a função f definida por



 |x − 1|ex , se x ≤ 2
f (x) =
 (x − 2)2 + e2 , se x > 2

(a) Estude analiticamente f quanto à continuidade e derivabilidade.


(b) Determine os extremos relativos, intervalos de monotonia e pontos de inflexão
de f .
(c) Mostre, por definição, que f é uniformemente contı́nua no intervalo ]3, 4].

8. Seja f definida por





 cos(π(x − 1)), se x < 1

f (x) = 2x3 − 15x2 + 36x − 28, se 1 ≤ x ≤ 4



 x, se x > 4
6.9 Estudo de uma função 167

(a) Estude analiticamente f quanto à continuidade e derivabilidade em todos os


pontos do seu domı́nio.
(b) Determine os extremos relativos de f .
(c) A função f é uniformemente contı́nua no intervalo [0, 2]? E no intervalo ]2, 5]?
Justifique a resposta.
168 6. Exercı́cios

6.10 Primitivação
1. Determine as primitivas das funções definidas pelas expressões analı́ticas seguintes:

(a) 2x 3 x2 + 3;
(b) 5x4 + 2x2 + 3;
(c) ax5 , a constante não nula;
ex
(d) √ ;
1 − e2x
(e) cos(6x);
2
(f) ;
3x
(g) sen(2x − 3);
3x
(h) ;
5 + x2

(i) x x2 + 9 ;
(j) cos x − 5e2x ;
x
(k) 2
+ cos(2x);
2x + 5
1
(l) √ ;
1 − 5x2
3 5 2
(m) − 2 + + √ ;
2x x x
(n) sen(x) cos2 (x);
sen(x) 1
(o) + ;
1 + 2 cos(x) sen2 (x)
(p) (cos2 (x) + 2 cos(x)) sen(x);
kx
(q) , k 6= 0, ab 6= 0;
a + bx2
(r) asen3 (x) + x, a 6= 0;
log |x|
(s) ;
x
1
(t) .
x log x
2. Primitive, por partes, as funções definidas pelas expressões analı́ticas seguintes :

(a) arc tg(x);


(b) x cos(x);
6.10 Primitivação 169

(c) (x2 + x + 1) ex ;
(d) (x2 + 1) cos(x);
x
(e) ;
cos2 (x)
log |x|
(f) .
x2
3. Primitive, por substituição, usando em cada caso a substituição indicada, as funções
definidas por :
x3 √
(a) √ ( x − 1 = t);
x−1
x2
(b) √ (x = 2 sen(t));
4 − x2
r µr ¶
1 x+2 x+2
(c) =t ;
x+4 x+4 x+4
1
(d) (ex = t);
e + e−x
x

1 ³x´
(e) (tg = t).
sen(x) + cos(x) 2
4. Determine as primitivas das funções racionais definidas pelas expressões analı́ticas
seguintes :
x5
(a) ;
2x + 1
x2 + 1
(b) ;
12 + 3x2
x+2
(c) 2
;
3x − 12x + 12
1
(d) 2
;
x −9
2x
(e) ;
(x + 2)(x − 3)
x3 + x 2 + x + 3
(f) ;
x4 + 2x2 − 3
x4
(g) ;
2x3 − 4x2 + 8x − 16
3x
(h) 2
;
−x + x + 6
t+1
(i) 4 ;
t + t2
170 6. Exercı́cios

2x3
(j) .
(x2 + 1)2
5. Determine a primitiva da função x → x2 ex que toma o valor 1 para x = 0.
3 5π
6. Determine a primitiva da função x → que toma o valor para x = 0.
9x2 + 6x + 2 4
3
7. Determine a primitiva da função x → (cos(x)) 5 sen3 (x) + x2 ex que toma o valor 7
para x = 0.
8
8. Determine a função f tal que f ”(x) = , f 0 (1) = −1 e lim f (x) = 1.
(x + 1)3 x→+∞
µ ¶
1
9. (a) Mostre que, com a substituição log x = t , o cálculo de P R(log x) , onde
x
R designa uma função racional do seu argumento, pode fazer-se depender do
cálculo da primitiva de uma função racional em t.
4
(b) Primitive f (x) = 3
.
x[(log x) − 3 log x − 2]
10. Sendo g(x) = cosn (x)R(sen(x)), com n ı́mpar, onde R designa uma função racional
do seu argumento , mostre que a substituição sen(x) = t permite primitivar g através
da primitiva de uma função racional.

11. Primitive as funções definidas pelas expressões analı́ticas seguintes :

(a) x sen(2x − 1);


(b) x arc tg(x);
x
(c) √ ;
1+x
t+1
(d) √ ;
2
t + 2t + 3
(e) (x + 1)ex ;
3x
(f) √ + tg(9x);
x2 + 5
x3 + 1
(g) ;
5x2 − 10x + 50
2
(h) √ ;
9 − x2
ex + e−x
(i) 2x ;
e − 2ex + 1
1
(j) √ ;
x x2 + 4x − 4
6.10 Primitivação 171

(k) arc tg(5x);


1
(l) √ ;
2 + x − x2
1
(m) √ √ ;
x+1+ 4x+1
(n) cos4 (ax) , a 6= 0;
p
(o) x5 3 (1 + x3 )2 ;
1
(p) ;
5 + 4 cos(x)

x − x 3 ex + x2
(q) ;
x3
(r) (log x + 1)2 ;
sen(x)
(s) ;
cos(x)(1 + cos2 (x))
3x + 5
(t) ;
2x3 − 2x2 − 2x + 2
x3 (x + 3)
(u) ;
3x3 + 9x2 − 12
(v) (x + 1)3 e2x ;
x3 − 3x − 4
(w) ;
−4x + 2x2 − 16
2x + 1
(x) √ ;
3x + 2
2t − 1
(y) 4 ;
t − 2t + 2t2 − 2t + 1
3

tg(x)
(z) .
1 + cos(x)

12. Mostre por primitivação que:


1
(a) P [(sen(x))n−1 sen((n + 1)x)] = (sen(x))n sen(nx);
n
1
(b) P [(cos x)m cos(nx)] = [cosm (x)sen(nx) + mP [cosm−1 (x) cos((n − 1)x)]].
m+n
13. Estabeleça a seguinte fórmula de recorrência :

(tg(x))n−1
P (tg(x))n = − P (tg(x))n−2 , n ≥ 2.
n−1
172 6. Exercı́cios

xn
14. Seja fn (x) = √ . Mostre que :
a + bx

2xn a + bx 2na
P fn (x) = − P fn−1 (x).
(2n + 1)b (2n + 1)b
6.11 Integrais 173

6.11 Integrais
1. Tendo em conta que toda a função contı́nua em [a,b] é integrável nesse intervalo,
use a definição de integral para mostrar que se tem :
Z b
b 2 a2
(a) x dx = − ;
a 2 2
Z b
(b) sen(x) dx = cos(a) − cos(b).
a

2. Seja f a função definida por



 0 se x ∈ Q
f (x) =
 1 se x 6∈ Q

Mostre que a função x → |f (x) − 21 | é integrável no intervalo [0, 1] , mas o mesmo


não acontece com a função x → f (x) − 21 .
3. Calcule os seguintes integrais:
Z −3
1
(a) 2
dx;
−2 x − 1
Z 1
x
(b) 2
dx;
0 x + 3x + 2
Z π
4
(c) sec2 (x) dx;
π
6
Z e2
1
(d) dx;
e x log x
Z π
4
(e) tg(x) dx;
−π
4
Z 1
ex
(f) dx;
0 1 + e2x
Z π
2
(g) (1 + cos2 (x)) dx;
0
Z 1/2
(h) arc sen (x) dx;
0
Z π
4
(i) (sen(2x))3 dx;
0
Z π
3
(j) tg3 (x) sec(x) dx;
0
174 6. Exercı́cios

Z 1 √
(k) x2 4 − x2 dx;
−1
Z π
(l) |sen(x)| dx;
−π
Z π
(m) (sen(x) + | cos(x)|) dx;
−π
Z π
2
(n) sen(2x) cos(x) dx;
0
Z 4
1
(o) √ dx;
0 1+ x
Z log 2 √
(p) ex − 1 dx;
0
Z π
2 1
(q) dt;
0 3 + 2 cos t
Z 3
t+1
(r) √ dt;
2 t2 + 2t
Z 4
x
(s) √ dx;
1 2 + 4x
Z 4/3
1
(t) √ dz;
3/4 z z2 + 1
Z 2
e3x + e2x + 1
(u) dx;
1 ex − e−x
Z 0 √
u + 2u + 1
(v) √ du.
−1/2 1 + 2 2u + 1

4. Calcule os seguintes integrais:


Z π
2
(a) (x2 cos(x) + 1) cos(x) dx;
0
Z e
(b) cos(log x) dx;
1
Z 1
(c) (x3 + x2 + x + 1)ex dx;
0
Z π
(d) ex sen(x) dx;
0
Z 4
2x − 1
(e) dx;
2 3x3 + 3x + 30
6.11 Integrais 175

Z π
3
(f) (| cos(3x)| − xsen(x)) dx;
0
Z π Z π
2 2
n−1
(g) [(sen(x)) sen((n + 1)x)] dx + [sen(3x) cos(5x)] dx.
0 0

5. Seja f uma função de classe C 0 em [−a, a]. Mostre que:


Z a Z a
(a) Se f (x) = f (−x) então f (x) dx = 2 f (x) dx;
−a 0
Z a
(b) Se f (x) = −f (−x) então f (x) dx = 0.
−a

6. Sejam m e n dois inteiros . Mostre que:



Z π  0 se m 6= n
(a) sen(mx)sen(nx) dx =
0  π se m = n
2
Z π
(b) sen(nx) cos(mx) dx = 0.
−π

7. (a) Seja f uma função contı́nua e crescente em [1, +∞[. Mostre que:
Z x
(x − 1)f (1) < f (t) dt < (x − 1)f (x).
1

(b) Utilizando o resultado da alı́nea anterior e sendo f (t) = log(t) mostre que
ex−1 < xx < (ex)x−1 .

8. Sendo f uma função real definida e diferenciável em [0, 1], mostre que
Z 1 Z 1
0
xf (1 − x) dx = f (x) dx − f (0).
0 0

9. Determine as derivadas das funções F definidas por :


Z 3x+2
(a) F (x) = tet dt, no ponto em que x = 1;
0
Z kb(x)
(b) F (x) = f (u) du, k constante;
a(x)
Z x2 +x+1
sen(t)
(c) F (x) = dt, no ponto em que x = 1.
1 t
Z x2 + 3 t 7
4 e (t − )
4
10. Considere a função f (x) = dt. Determine:
1 t
176 6. Exercı́cios

(a) O seu domı́nio e a equação da recta tangente à linha que é a sua representação
gráfica no ponto em que x = 1/2.
(b) Os pontos em que a função tem extremo relativo e, em cada ponto, a natureza
do extremo.

11. Calcule Z x
sen(t3 ) dt
0
lim .
x→0 x4
12. Calcule Z
1 x √
lim+ 3t2 + 5 dt.
x→0 x 0
Z π
2
13. Seja n um inteiro não negativo e seja In = (sen(x))n dx.
0

n+1
(a) Mostre que In+2 = In .
n+2
(b) A partir do resultado da alı́nea anterior conclua que com k inteiro positivo se
tem Z π
2 (2k − 1)(2k − 3)....3 × 1 π
(sen(x))2k dx = ×
0 2k(2k − 2)....4 × 2 2
e Z π
2 2k(2k − 2)....4 × 2
(sen(x))2k+1 dx = .
0 (2k + 1)(2k − 1)...3 × 1
π
(c) Usando a substituição x = 2
− t , mostre que
Z π
2
In = (cos(x))n dx.
0
6.12 Cálculo de áreas 177

6.12 Cálculo de áreas


1. Determine a área de cada um dos seguintes domı́nios:

(a) Domı́nio limitado pela parábola y 2 = 2x − 2 e pela recta y − x + 5 = 0.


(b) Domı́nio limitado pelas parábolas y 2 = 4ax + 4a2 e y 2 = −4bx + 4b2 , a, b ∈ R+ .
(c) Domı́nio limitado pelas representações gráficas das funções f (x) = −x3 e
g(x) = −(4x2 + 12x).
(d) Domı́nio limitado pelas representações gráficas das funções f (x) = x3 −6x2 +8x
e g(x) = x2 − 4x.
(e) Domı́nio limitado pelas representações gráficas das funções f (x) = ex e
g(x) = e−x e por x = −1 e x = 2.
(f) Domı́nio limitado pelas representações gráficas das funções f (x) = x3 − x e
g(x) = sen(πx) e x ∈ [−1, 1].
1
(g) Domı́nio limitado pelas representações gráficas das funções f (x) = ,
x
g(x) = ax, h(x) = bx, a, b ∈ R+ .

2. A parábola y 2 = x + 1 determina no cı́rculo limitado pela circunferência x2 + y 2 = 3


dois domı́nios. Determine a área de cada um deles.
178 6. Exercı́cios

6.13 Integrais Impróprios


1. Calcule, se existir, o valor de cada um dos seguintes integrais impróprios:
Z +∞
2
(a) x e−x dx
0
Z +∞
log x
(b) dx
1 x
Z 6
1
(c) p dx
2
3
(4 − x)2
Z 2
1
(d) 2
dx
1 x −1
Z −3
x
(e) 2 6/5
dx
−∞ (x − 4)
Z +∞
log(3 t)
(f) dt
1 2 t2
Z 1
(g) 2 x3 (x4 + 1)−3/2 dx
−∞
Z a
1
(h) √ dx ; a ∈ R+
a 2 − x2
a/2
Z 3a
2x
(i) 2 2 )2/3
dx ; a ∈ R+
0 (x − a
Z 2
x
(j) √ 3
dx
2
x −4
−2
Z π/2
1
(k) dx
−π/2 1 − cos(x)
Z +∞
(l) t e−t dt
−∞

2. Estude quanto à convergência os seguintes integrais impróprios:


Z +∞
2t + 3
(a) dt
0 4 t3 + 1
Z +∞
sen(x)
(b) √ dx
1 x 1 + x2
Z +∞
log x
(c) √ dx
2 x2
Z 1/2
6
(d) x5 ex dx
−∞
6.13 Integrais Impróprios 179

Z π
x
(e) dx
3 (x2 − 9)1/4
Z 1
1
(f) p dx
0 sen(x)
Z 3
cos(x)
(g) √
√ dx
0 x − 1 4 9 − x2
3

Z 1
log(x + 1)
(h) dx
0 x−1
Z +∞ −x
e
(i) 2
dx
2 x −1
Z +∞
arctg(t)
(j) dt
1 t2
3. Estude pormenorizadamente para que valores dos parâmetros reais p e q tem sentido
cada um dos seguintes integrais:
Z +∞
(a) e−x xp dx
e
Z +∞
log2 (x)
(b) dx
1 x1+p
Z 1
(c) x3 (1 − x)p dx
0
Z 1
1
(d) dx
0 x2 −p
Z +∞
xp+1
(e) dx
0 x2 − 4 x + 13
Z π/2
(f) (cos(x))p dx
0
Z 2 µ ¶p+1
2−x 1
(g) dx
1 x−1 x
Z 0
(−x)p
(h) dx
−2 (x + 2)q
4. Seja f uma função contı́nua não negativa para x > a > 0 e suponha que existem
constantes reais M > 0 e K > 1 tais que
M
f (x) ≤ , ∀x > a
xK
Z +∞
(a) Mostre que, nestas condições, o integral impróprio f (x) dx é convergente.
a
180 6. Exercı́cios

(b) Aplique
Z +∞ o resultado da alı́nea anterior para mostrar que o integral impróprio
1
√ √ dx é convergente.
1+x 2 1 + x3
1
Z x
5. Determine uma representação analı́tica da função F (x) = g(t) dt
−∞
onde 
 2, se |x| ≥ 1
g(x) = x2
 2, se |x| ≤ 1

6. Determine, se existir, a área do domı́nio plano ilimitado definido por:


1 1 2
(a) a imagem das funções f (x) = e g(x) = x e pelo semi-eixo positivo
1 + x2 2
dos xx;
(b) o eixo dos xx, as rectas x = −2 e x = 5 e a representação gráfica da função
1
h(x) = p .
|x|

7. Determine, se existir, a área de cada um dos seguintes domı́nios planos ilimitados:

(a) S = {(x, y) : x ≤ 0 ∧ 0 ≤ y ≤ ex }
© ª
(b) S = (x, y) : x ≥ −2 ∧ 0 ≤ y ≤ e−x/2

8. Exame de Recurso de Análise Matemática I (15 Fev 1995):


Z +∞
1
(a) Calcule o valor do integral impróprio dx
0 (x2 + 1) (x + 1)
Z 1
1
(b) Estude a convergência do integral 1/3
dx
−1 (sen(x))

9. Exame de 2a chamada de Análise Matemática I (3 Fev 1995):

(a) Estude,
Z 1 em função do parâmetro real α, a convergência do integral

√ dx
2 1 − x2
0 (1 + x )
Z +∞
1
(b) Estude a convergência do integral dx
0 (x − 1) (x + 1)1/3
2 1/3

10. Exame de 1a chamada de Análise Matemática I (27 Jan 1995):


Z π/2
cos(x)
(a) Calcule o valor do integral impróprio p dx
0 sen(x)
6.13 Integrais Impróprios 181

(b) Estude, em função do parâmetro real α, a convergência do integral


Z +∞
(x − 1)α x2 α dx
1

11. Exame de Recurso de Análise Matemática I (15 Abr 1994):

(a) Calcule a área do domı́nio plano ilimitado definido pelo gráfico da função
1
y= e pelo eixo dos xx.
1 + x2
(b) Estude, em função do parâmetro real α, a convergência do integral
Z 2
x1−2α (2 − x)α/2 dx
0

12. Exame de 2a chamada de Análise Matemática I (21 Fev 1994):


Indique, justificando, se são ou não convergentes os seguintes integrais
Z +∞ −x
e
(a) √ dx
0 x
Z 1
log x
(b) √ dx
0 x
(Nota: Na alı́nea (b), pode usar quer um critério de comparação, quer a definição).

13. Exame de 1a chamada de Análise Matemática I (7 Fev 1994):


Indique, justificando, se são ou não convergentes os seguintes integrais
Z 2
ex
(a) 3 1/5
dx
0 x (1 − x)
Z +∞ p 3
1/x
(b) √ dx
5
x +1
0

14. Exame de 1a chamada de Análise Matemática I (7 Fev 1994):


Estude, em função do parâmetro real α, a convergência do integral
Z +∞
(x − 1)α e−x dx
1
182 6. Exercı́cios
Bibliografia

[1] APOSTOL, T. - Calculus, Blaisdell, 1967.

[2] CAMPOS FERREIRA, J. - Introdução à Análise Matemática, Fundação Calouste


Gulbenkian, 1982.

[3] ELLIS, R.; GULLICK, D. - Calculus with Analytic Geometry, 5a edição, Saunders
College Publishing, 1994.

[4] FIGUEIRA, M. - Fundamentos de Análise Infinitesimal, Textos de Matemática,


vol. 5, Departamento de Matemática, Faculdade de Ciências da Universidade de
Lisboa, 1996.

[5] HUNT, R. - Calculus, 2a edição, Harper Collins, 1994.

[6] LARSON, R.; HOSTETLER, R.; EDWARDS, B. - Calculus with Analytic Geometry,
5a edição, Heath, 1994.

[7] SANTOS GUERREIRO, J. - Curso de Análise Matemática, Livraria Escolar Editora,


1989.

[8] SARRICO, C. - Análise Matemática, Leituras e Exercı́cios, Gradiva, 1997.

[9] SPIVAK, M. - Calculus, World Student Series Edition, 1967.

[10] STEWART, J. - Calculus, 3a edição, Brooks/Cole Publishing Company, 1995.

[11] SWOKOWSKI, E. W. - Cálculo com Geometria Analı́tica, vol. 1, 2a edição, Makron


Books, McGraw-Hill, 1994.

[12] TAYLOR, A.; MANN, R. - Advanced Calculus, 2a edição, Xerox College Publishing,
1972.
Índice Remissivo

R, 9 ı́mpar, 14
bijectiva, 15
aderência, 2 contı́nua, 23
à direita, 23
binómio de Newton, 5
à esquerda, 23
conjunto no conjunto B, 23
aberto, 2 crescente, 14
dos termos da sucessão., 7 decrescente, 14
fechado, 2 diferenciável, 37
limitado, 2 estritamente crescente, 14
majorado, 2 estritamente decrescente, 14
minorado, 2 estritamente monótona, 14
contradomı́nio, 13 injectiva, 15
critérios de convergência, 115 limitada, 15
monótona, 14
derivada, 37 par, 14
à direita, 38 primitivável, 67
à esquerda, 37 prolongável por continuidade, 28
de ordem n, 44 racional, 75
segunda, 44 real de variável real, 13
derivado, 2 sobrejectiva, 15
descontinuidade removı́vel, 28 uniformemente contı́nua, 32
domı́nio, 13 de classe C 1 , 44
de definição, 13 de classe C n , 44
expressão analı́tica, 13 de classe C ∞ , 44
exterior, 1 derivada, 44
extremos, 14 integrável, 98
extremos relativos, 46 função Beta, 134
função Gama, 134
fórmula de Leibnitz, 45 função racional
fórmula de MacLaurin, 58 em p variáveis, 85
fórmula de Taylor, 58 irredutı́vel, 76
fecho, 2
fronteira, 1 gráfico, 13
função, 13 grau de multiplicidade, 76
ÍNDICE REMISSIVO 185

indeterminações, 52 máximo, 3
Indução matemática, 5 minorante, 2
ı́nfimo, 3
infinitésimo, 10 partição, 95
infinitamente grande, 8 mais fina, 95
infinitamente grande em módulo, 8 polinómio, 75
Integração em duas variáveis, 85
por partes, 107 em p variáveis, 85
por substituição, 107 grau de um, 75
integral, 98 irredutı́vel, 75
impróprio de 1a espécie redutı́vel, 75
divergente, 114 ponto
impróprio de 1a espécie, 113, 121, 122 aderente, 2
absolutamente convergente, 121 de acumulação, 2
convergente, 114 exterior, 1
simplesmente convergente, 121 fronteiro, 1
impróprio de 2a espécie interior, 1
convergente, 126 isolado, 2
impróprio de 2a espécie, 125–127 ponto de estacionaridade, 61
convergente, 125 ponto de inflexão, 64
divergente, 125, 126 ponto de máximo, 14
impróprio misto, 131 ponto de mı́nimo, 14
inferior, 98 primitiva, 67
superior, 98 imediata, 68
interior, 1 primitivação
de funções irracionais, 85
limite, 16 de funções racionais, 75
à direita, 19 por partes, 72
à esquerda, 19 por substituição, 73
lateral, 19 prolongamento, 28
relativo, 19
limite inferior, 11 recta acabada, 10
limite máximo, 11 recta tangente, 37
limite mı́nimo, 11 Regra
limite superior, 11 de Barrow, 107
lipschitziana, 34 Regra de Cauchy, 52
Regra de l’Hospital, 54
máximo, 14 representação analı́tica, 13
local, 46 resto de Lagrange, 58
relativo, 46 restrição, 15
mı́nimo, 3, 14
local, 46 soma inferior de Darboux, 96
relativo, 46 soma superior de Darboux, 96
majorante, 2 subsucessão, 8
186 ÍNDICE REMISSIVO

sucessão, 7
convergente, 9
crescente, 7
de Cauchy, 12
decrescente, 7
estritamente crescente, 7
estritamente decrescente, 7
estritamente monótona, 7
fundamental, 12
limitada, 7
limitada inferiormente, 7
limitada superiormente, 7
monótona, 7
supremo, 3

Teorema
de Bolzano, 24
de Cantor, 35
de Cauchy, 50
de Darboux, 48
de Lagrange, 49
de Rolle, 47
de Taylor, 57
de Weierstrass, 26
da média, 106
Fundamental do Cálculo Integral, 106
termo geral, 7

valor principal de Cauchy, 124


variável
dependente, 13
independente, 13
vizinhança, 1

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