“Este é um livro de autodesajuda, que é o melhor de
se ajudar a quem não queira apenas apaziguar e cultuar suas fraquezas”. (Kothe)
Neste texto, encontraremos um perfil significativo das
preocupações de Nietzsche: seu caráter precursor em relação à psicanálise. Várias teses atribuídas a Freud já estavam formuladas por Nietzsche, com a amplitude filosófica que o “inventor da psicanálise” não alcançou.
Há também diferenças fundamentais: o conceito de
“vontade e poder” é mais amplo que o de “desejo”, mesmo que este não seja reduzido ao desejo sexual.
No texto, encontraremos uma crença absoluta na forma
e uma descrença no conteúdo. Essa versão se contrapõe a Hegel para quem: “a grande arte se caracteriza pelo fato de toda forma ser conteúdo, e todo conteúdo ser forma, como se fosse possível uma síntese perfeita”.
Retrabalhar a forma é uma maneira de reformular o
conteúdo. A ironia é a forma de dizer algo pelo avesso, sem que o literalmente dito seja fique eliminado como um passaporte. Nietzsche diz que não se deve levar totalmente a sério o que ele afirma como exploração de um novo espaço do pensamento, pois em outro momento ele já estará em outro ponto.
Isso não anula, porém, o fato que foi dito antes.
Por isso, uma maneira importante de ler este texto, seria
primeiro crer no que ele diz e, depois, ler pelo avesso.
Certas palavras, interpretadas de forma tão diversas,
ganham especial atenção nesta obra. Tratemos inicialmente da expressão Erkennender que caracteriza não apenas o conhecedor nem o reconhecedor, não é só o estudioso ou o pesquisador, mas todo aquele que busca o conhecimento, que enfrenta preconceitos .
Para Nietzsche, os profissionais da filosofia mais
parecem teólogos e mulheres velhas, burocratas repetidores, incapazes de pensar o que deve ser questionado, sem coragem de enfrentar os preconceitos.
Para Nietzsche, em vez de duvidar, dogmatizam, em vez
de avançar regridem, em vez de pensar fingem que pensam e buscam impedir que realmente se pense.
Tornam importante o desimportante para eu não se
discuta o que importaria discutir. Outro termo básico é Schaffender: significa aquele que faz, o fazedor, no sentido mesmo de poeta. Mas não é apenas o que escreve versos. É o sujeito produtivo, aquele que é capaz de fazer de modo criativo.
Como revés inevitável, ele é também destrutivo: primeiro
ele desconstrói para depois construir outra coisa em seu lugar.
“todo fazedor criativo, tem um gesto destrutivo em sua
produção”
Outro termo importante é o Übermensch que, no geral,
tem sido traduzido como super-homem. Para Kothe, esta tradução literal é uma aberração, pois ele não deveria ser a repetição ampliada do homem, mas sua total superação.
Importa ressaltar que o termo não trará de uma divisão
entre masculino e feminino, embora Nietzsche suspeitasse do rancor e da vontade das mulheres serem iguais aos homens (ele dizia que o movimento feminista só servia para duas coisas: efeminar os homens e masculinizar as mulheres).
O termo significa a proposta de um ser-acima-do-
humano. Seria sua transcendência, assim como o ser humano pretender transcender a natureza. Tal ser humano acima do humano é o novo deus da religião de Nietzsche.
Não é um deus como o deus cristão, mas parece com ele
na medida em que serve para negar todo o existente, afirmando o real homem histórico só como via de transição para este novo ente.
Não é como um deus antigo grego ou romano que potencia
dimensões humanas.
Um questionamento: como pode o real ser o caminho para
o ideal, se ele constitui sua plena negação? Quando Nietzsche nega que qualquer homem tenha sido um Übermensch, quando nega que qualquer gênio da humanidade tenha sido este ente.
Dessa forma, Nietzsche faz dele uma entidade
metafísica.
Não se trata de um ideal de homem, nem de um homem
ideal. Trata-se de uma utopia negativa, uma divindade que só se afirma como negação.
A partir disso é possível mensurar o humano como
demasiado humano.
Tal aposta na dialética faz supor que quantos piores
forem o passado e o presente, maior a chance de um futuro radioso. No entanto, para Nietzsche, a teoria do quanto pior melhor não tem, necessariamente, que dar certo.
O pior pode ter como alternativa boa o menos ruim, mas
daí a supor que desponte mecanicamente o melhor, tem o otimismo de uma reza à santa dialética. Negativo com negativo não se multiplicam apenas em positividade, mas podem somar os negativos num total ainda pior.
Nenhuma situação é tão ruim que não possa piorar.
Nietzsche nega o imperativo kantiano de que cada um
deve agir de tal modo que deve surgir como um modelo para todos na mesma situação: isso é querer ser eterno modelo universal, beira a megalomania, o narcisismo, o doentio, não pode ser paradigma de virtude.
Nietzsche busca o horizonte dos moralistas, pois eles
pregaram sempre a moral de um determinado cronotopos, como sendo a moral universal. Aí o particular que impor-se como universal. (página 11)
Nesse sentido, não haveria a ciência da moral: a pseudo-
universalização de certos usos e costumes não conseguiria sequer constituir-se como sociologia de uma moral, pois teria a pretensão de ser “a Moral” e não um levantamento sociológico. Daí a necessidade de fazer uma busca no “além do bem e do mal”. Por esta perspectiva, a única moral a única moral seria que, cada um, determine a sua própria norma: seria a moral da liberdade individual.
Ela teria, no entanto, uma insolúvel contradição interna:
o que um sujeito considera correto para si deve fazer com que outros sigam também, mas isto influencia na liberdade alheia.
Para Nietzsche, não há justiça. Cada código é uma
moralidade limitada que pretende ser absoluta.
“a justiça do Estado é a socialização da vingança pelo
poder”.
Representa a vontade de poder instituída como direito
de dominar e impor.
Para Nietzsche, a maior sinceridade obriga a reconhecer
que se mente sempre.
Antes de haver uma percepção consciente, há uma
inconsciente.
Há um julgamento do corpo para saber se vai ser
permitida a conscientização.
Caso haja permissão, define-se, também, a maneira como
esta vai ser estruturada. Pode haver a conscientização que não é conscientizada
Esta se apresenta através de um duplo juízo de valor.
Isso valoriza o corpo e o reconhece como tão mentiroso
quanto a mente.
O mentiroso consciente precisa, no entanto, ser
respeitado.
Ele, pelo menos, sabe a verdade.
A maior parte das mentiras ocorre sem o sujeito saber
que está mentindo.
O bom mentiroso mente apenas uma vez: em seguida
passa a acreditar na própria mentira.
A mentira é uma necessidade social.
Não há uma sociedade que sobreviva sem mentiras
institucionalizadas.
A verdade é insuportável para a maioria das pessoas. Não
há ninguém que agüente a verdade todo o tempo.
Daí a necessidade do estilo: a crença absoluta na forma e
a descrença absoluta no conteúdo. Há nos sujeitos uma dimensão que quer perceber, uma que não quer tomar conhecimento e a terceira que quer uma versão mais conveniente.
O conflito é inerente a toda percepção.
Isso vai além da postulação kantiana de que na estética,
“aquilo sem conceito agrada”.
Pode não haver a conceituação da percepção, mas a
própria percepção contém um juízo corpóreo, que a estrutura de uma determinada forma.
Ampara-se, para isto, em pressupostos culturais.
A ética é inerente a estética. A estética manifesta a
ética. Toda construção do conhecimento é um juízo de valor, não há conhecimento puro.
Niilista, não é para Nietzsche quem não acredita em
nada, mas quem acredita no nada como se fosse tudo.
Deus, vida após a morte, reencarnação, Nietzsche
chamaria isso de nihil, por serem entes ficcionais.
Mentiras em que as pessoas e comunidades acreditam
como verdades absolutas, mas que expressam, antes de tudo, o medo da morte. Nenhum filósofo do século XX escreveu uma grande ética explícita como Nietzsche em seus “Fragmentos do Espólio”.
A concepção hegeliana de que a verdade é a percepção
do objeto em suas múltiplas determinações pode estar correta, mas, contém algo insolúvel: não se consegue chegar às determinações que o fazem ser como é.
A mente pode ter a pretensão de ter conseguido, mas
não passa de um autoritarismo e pretensão do sujeito.
O dogmatismo é proporcional a ignorância, pois Le força
a exclusão do que questionaria sua assertiva.
Isso faz da verdade uma utopia, pois não se consegue
chegar, jamais, a totalidade das determinações.
A verdade é relativa. Toda a verdade que se pretende
absoluta, não é verdadeira.
Conceito de alentheia supera o conceito tradicional de
verdade.
Não se tem nenhum órgão que permita dizer como a coisa
seria como tal, fora da redução do sujeito cognoscente. Ao formular o conceito de verdade como alentheia, que se baseia em letes como olvido (rio letes era o rio do esquecimento no qual os gregos acreditavam que a sombra dos mortos eram transportadas) vem o conceito de verdade como não-ouvido, como retirada do esquecimento.
Tal perspectiva traz a idéia de que no passado já se
soube a verdade essencial, tendo sido ela apenas esquecida.
Para o autor, esta é uma versão reacionária da verdade.
Para a tradição metafísica, a concepção mimética
(mimese enquanto uma concepção aristotélica e socrática de imitação) é estratégica a fim de manter a crença que o mundo real deve sua existência ao transcendental.
Aristóteles – a poesia é mais filosófica que a história.
Motivo: a poesia seria a imitação do que poderia ter
acontecido enquanto a história seria a reprodução do fato singular que aconteceu.
Posição do autor: a historiografia não é exatamente a
reprodução do fatos, pois ela determina o que seja histórico e impõe versões ela pode ser pensada, portanto, como uma representação. Contradições da teoria mimética: como outras mentiras convenientes, ela tem se mantido porque interessa que se mantenham.
EX: quer se crer que o que é relatado na Bíblia aconteceu
conforme o relatado; que a história ocorreu como se diz ter ocorrido.
Para o autor, pela mimese, impõem-se os valores e a visão
de mundo de país hegemônico.
EX: aos colonizadores interessa os procedimentos
miméticos devido ao fato de que suas ideologias sejam adotadas sem questionamentos.
Problematização: descobrimento e desmontagem das
estruturas básicas que determinam as visões de mundo.
Objetivo: descobrir mecanismos que levam as pessoas a
acreditarem em absurdos.
Crenças como: existência de Deus e deuses, ressurreição
dos mortos, em uma alma imortal, no casamento como promessa de amor eterno, na justiça como aplicação da lei, por que não irão mentir para si mesmo e para os outros em coisas menores?
Ao contrário do que a pessoa de fé crê e quer fazer
crer, não é uma pessoa melhor na qual se pode confiar, mas uma pessoa sem sinceridade. Para Nietzsche, quem for sincero deve admitir que mente sempre.
As pessoas e a sociedade acreditam em mentiras porque
lhes é conveniente.
Querem que algo seja verdadeiro só porque acreditam.
Daí fazem acontecer a mentira como se fosse verdade.
O que fazem os governantes fazem os homens comuns.
É preciso, portanto, desconfiar daquilo que se chama de
virtude.
Toda vida vive da morte da vida alheia, portanto, aquele
que se apresenta como “bonzinho” é antes de tudo um hipócrita.
A vida sobrevive da maldade que ela faz as outras vidas.
Isto pode ter uma avaliação oposta (um leão mata uma corsa, ótimo para o leão, péssimo para a corsa)
Dessa forma, qualidades caracterizadas como negativas
em um ente pode ser o que lhe permite sobreviver.
Não há nada bom ou mal em si, tudo depende do
interesse de quem julga. Para o autor: só quem não toma a moralidade dominante em seu grupo e sua época, como padrão de julgamento de tudo e de todos pode começar a pensar em moral.
O autor crítica quem apenas obedece a mandamentos
ditos divinos ou a códigos oficiais do estado como aqueles que ainda não adentraram o território da ética.
Para ele, que assim age está apenas obedecendo, sem
questionar as normas e as versões oficiais das normas. O mais comum é a vida inautêntica e alienada.
O advento da cultura de massa serve para tornar mais
amplo o engodo e a alienação.
Heidegger (Martin Heidegger, filosofo alemão do século
XX) fala no homem como um ser para a morte como uma ironia.
Já que todos vão morrer a única finalidade efetiva da
vida é a morte.
O temor por este fato faz com que todos procurem
negá-lo inventando sentido para o que não tem.
Para Heidegger, todos devem assumir o próprio morrer
como algo intransferível, para viver de modo mais livre e autentico.
A verdade costuma a ser o fantasma mais horripilante.
A personalidade é a mascara mais conveniente a ser utilizada nas circunstâncias vigentes.
A hipocrisia é a regra geral, encenando a mentira como
se fosse verdade.
Caso seja reconhecida, torna-se o exercício do cinismo.
Os maiores atores não estão nos palcos, mas nos
palácios, nos tribunais, nos púlpitos, nas mesas de conferências.
Ninguém pode atirar a primeira pedra, pois teríamos
tantos alvos quanto atiradores.
Procura-se matar a morte inventando algo como alma
imortal.
Para Nietzsche, Deus está morto, mas, ressuscita na
forma de mil fantasmas.
Pode ser chamado de pátria, futuro, glória, igualdade,
fraternidade, comunismo etc.
O niilismo transcende qualquer religião conhecida e
nenhum adepto se reconhece como niilista.
O espírita que acredita na reencarnação, o budista que
aprende a não desejar nada como fórmula da felicidade, o cristão que acredita que todos são filhos de Deus, o católico que adota a filosofia de que a vida é um vale de lágrimas todos têm nele seu ponto comum.
Quando este é percebido, é possível perceber a limitação
da crença, sua inverdade.
A religião não é apenas o ópio de quem é tão infeliz que
precisa acreditar num mundo celestial porque quase não tem segurança nem alegria na vida terrena.
Atender as necessidades básicas como moradia,
alimentação, saúde e educação não acaba com a credulidade religiosa.
Ao contrário do que acreditam os sociais democratas, a
felicidade não se restringe ao atendimento delas.
A necessidade de sentir poder leva as pessoas
grandemente à religião.
Quem na igreja acredita ser representante de Deus tem
uma ânsia infinita de poder, por mais que se declare um “humilde” servo de Deus.
Quem muito bate no peito e pede perdão, tem mais culpa
do que acredita ter.
Confessam-se pecados menores para não se reconhecer
os maiores. A duplicação metafísica do mundo, sempre privilegia um termo em detrimento do outro: o céu vale mais do que a terra, o corpo vale mais do que a alma etc.
Quem acredita em mentiras institucionalizadas tem a
vida mais fácil.
UEM não se submete e ousa a dizer o que lhe parece mai
verdadeiro acaba se tornando inconveniente e sendo excluído.
O materialismo histórico não se submeteu apenas aos
fatos: quis a metamorfose do real no seu ideal.
Foi uma forma de idealismo que procurou negar a história
ao fazer dela algo superável e tratou de ignorar a contradição substituindo o rigor da dialética pela ideologia do partido.
A contraposição entre ideal e real, permite que cada
termo seja percebido mediante sua negação.
A contraposição decorre de um julgamento do real em
que a virtude inventa o ideal como crítica ao real.
Niilista passivo: submete-se ao real e fica sonhando com
um ideal.
Niilista ativo: trata de refazer o real conforme seu
ideal. Para Nietzsche, o princípio da igualdade baseia-se na concepção religiosa de que todos os homens são filhos de Deus, descendendo de Adão e Eva; a fraternidade, de que todos são irmãos em Cristo; o da liberdade, de que é preciso atribuir ao homem em forma de livre arbítrio para eu Le possa optar pela salvação no céu ou a condenação no inferno.
Para o autor, não há igualdade. O princípio da igualdade
deveria levar ao reconhecimento das desigualdades e não a perseguição do que é melhor e a elevação do eu é pior.
Sófocles na peça AJAX: os homens seriam iguais por
serem frágeis diante da doença e impotentes diante da morte não reconhece que, mesmo neste caso, alguns são fortes e outros não.
Engels no Anti-Dühring: a consolidação das cidades teria
feito surgir a contradição entre burguesia e proletariado e daí a exigência da igualdade como condição de existência. Primeiro como exigência religiosa nas guerras camponesas e depois como ideologia burguesa com Rosseau.
O surgimento das cidades não fez aparecer uma
contradição entre burguesia e proletariado.
A milhares de anos houve cidades sem que houvesse uma
burguesia no sentido de proprietários de capital. Se burguesia é quem habita o burgo, a cidade, então os pobres seriam burgueses.
O surgimento das cidades fez que aumentasse a
distância social entre as pessoas e não que, por habitarem perto elas exigissem logo a igualdade.
Achar que tudo passa pelas guerras camponesas ou por
Rosseau é ter uma visão eurocêntrica de história.
Muito antes das lutas religiosas do século XVI o
cristianismo propagou-se como ideologia de escravos e miseráveis, conveniente para canalizar seus interesses sociais.
É a desigualdade que faz surgir a ficção de uma
igualdade básica.
A proposição do princípio da igualdade é anterior ao
proletariado industrial.
No mito de Caim e Abel, na pretensão judaica de ser um
“povo escolhido”, tem sempre a afirmação da diferença e não da igualdade.
A fraternidade como afeto positivo entre os seres
humanos procura ignorar que os maiores ódios existem dentro das famílias. Na “mitologia bíblica” a primeira dupla de irmãos acaba quando um mata outro.
Como princípio, a fraternidade decorre da lógica da
igualdade, como esta não se sustenta, aquela sucumbe.
Para Nietzsche, o princípio da liberdade foi, sobretudo,
uma necessidade teológica para superar as contradições existentes na concepção de um “Deus do amor”.
Se Deus e bom. Como poderia gerar o diabo e o mal.
Na lógica popular, tudo o que ocorre de bom e graça de
Deus e ruim é castigo merecido.
Deus ganha sempre. Todos querem ter Deus a seu lado,
não se ousa questionar, pois ele envia o mal aos bons. (página 23)
Pregava-se o livre arbítrio por um impasse teológico o
Deus do amor não teria sido totalmente amoroso com sua dileta criatura?
A todos é atribuída a liberdade para que o homem possa
se auto-condenar sem que tenha, necessariamente que responsabilizar a divindade.
O amor terrestre do socialismo utópico “a cada um suas
necessidades” geraria um absoluto caos administrativo. Cada um inventaria um infinito número de necessidades e, ao ver as necessidades que os outros inventariam para si, também as reivindicaria.
O capitalismo inventa a toda hora novas necessidades
sugerindo a cada um que todas elas poderiam ser atendidas.
Não há sistema que consiga atender todas as
necessidades de todos, pois elas são infinitas.
Tem-se o cinismo de tornar os setores dominantes
modelares para todos.
Cria-se um sistema de deuses que podem ter tudo com os
quais a plebe é convidada a se identificar.
Ainda que a massa aceite este fato, isto gera ainda mais insatisfação.
É um sistema hipócrita, que tanto finge poder tornar
todos felizes quanto menos está habilitado para tanto.
Cria-se a hipocrisia do contente: cada um, no entanto,
tratando de apontar o defeito dos outros sem assumir
que tenha qualquer. (p.23)
Histufac2007@yahoo.com.br O capitalismo como economia, precisa dos princípios da liberdade, igualdade e fraternidade para funcionar.
Liberdade – direito de oferecer qualquer mercadoria
lícita no mercado e direito de comprar o que quiser
Fraternidade – alternativa de discurso a um sistema que
explora os trabalhadores.
A igualdade parece apelar para um inexistente espírito
de justiça.
Marx e Nietzsche foram contemporâneos mas nunca se
encontraram ou citaram um ao outro.
Embora tenham tratado dos mesmos temas, sugeridos
pelo espectro da modernidade.
Gorki – Nietzsche que um retorno a moral dos senhores
em oposição ao cristianismo que defenderia a moral dos escravos.
Gorki foi simplório – Nietzsche reconhecia a existência
de senhores entre os cristãos e o próprio cristianismo como uma ideologia de dominação.
Para Nietzsche o socialismo com sua pregação de
igualdade era basicamente cristão. ] Preferia o pior como se fosse melhor.
“é fácil caricaturar o inimigo para combater a caricatura
como se assim ele o fosse”.
Mehring – achou que Nietzsche poderia ser um estágio
intermediário para os jovens burgueses encontrarem o bom caminho do marxismo.
Problema – não percebeu que a preocupação do pensador
estava nos pressupostos teológicos cristãos do socialismo.
Lukács – Nietzsche só via os sintomas da supraestrutura
do capitalismo
Chegou a exorcizá-lo como um dos principais pensadores
do reacionarismo.
Não se abriu a dialética e com isso não admitiu o debate
sobre os pressupostos teológicos do socialismo.
Heiner Muller – o capitalismo seria a liberdade sem
igualdade e o comunismo seria a igualdade sem liberdade.
Nietzsche – viu no capitalismo a forma econômica e na
democracia de massas a forma política de realização moderna dos postulados do cristianismo. Por mais que o marxismo tenha se considerado materialista histórico ateu ele era um idealismo reducionista que ignorou a história como prova reiterada da maldade irredutível à propriedade dos meios de produção.
Ele queria salvar a sociedade por meio de uma nova
paixão de Cristo que seria a revolução proletária.
Embora afirmasse ser uma doutrina dialética o sonho do
marxismo era conseguir a extinção da dialética. Começando com a extinção das contradições sociais.
Nietzsche não citou Marx nominalmente, mas tratou com
freqüência das teses básicas do socialismo problematizando seus pressupostos cristãos, principalmente a liberdade, igualdade e fraternidade.
Marx faleceu em 1883 no exílio, um dos últimos anos de
lucidez de Nietzsche, que também se viu obrigado a viver fora da Alemanha.
Das obras de Marx os pontos refutados por Nietzsche
não são as análises da política francesa ou do modo de produção capitalista. Mas, a utopia socialista.
Fundamental neste ponto é o conceito de igualdade.
Ao significar, no comunismo de estado, a igualação de
todos Igualando os que mais e menos e com diferentes padrões de qualidade produzem.
Nietzsche: o princípio da igualdade deve ser, antes de
tudo, o reconhecimento da desigualdade do desiguale não o rebaixamento do mais levado a condição inferior.
Marx não queria a mera igualdade dos desiguais, mas o
bater de asas do anjo que ele supunha existir em cada homem.
Mas, como disse Lênin, a revolução proletária deveria ser
feita contra o proletariado, e não apenas contra a burguesia.
Desaparecendo um pólo, deveria desaparecer o outro
Os postulantes do socialismo tiveram como referência o
operário inglês na época de Marx.
Retomando uma divisão entre bens necessários e luxo.
Com isso, o partido que dizia ser materialista e até
dialético quis estacionar a história e não considerou a matéria frágil que é o homem. Os marxistas substituíram o crescente espiritual por um crescimento da produtividade econômica a rigor, eles tinham ideal capitalista.
A teologia de Hegel: o império da razão.
Máxima: o maior número de pessoas enquadrada na
definição aristotélica do homem como um animal racional.
Marx a revolução deve ocorrer quando as relações de
produção não permitirem mais o desenvolvimento das forças produtivas.
Para que? Aumentar a capacidade produtiva?
De qualquer forma em O CAPITAL a diferença entre
trabalho produtivo e improdutivo continua sendo feita nos padrões dos clássicos liberais. Ou seja: se o trabalho gera, ou não, extração de mais-valia.
O problema está na busca de um sentido para a história.
Se a história tivesse um sentido ele já teria sido feito.
Segundo Freud, os judeus acreditaram ser o povo
escolhido. Embora escolhidos pelos sacerdotes de athon para salvar uma religião que não era a deles.
O cristianismo acha que a humanidade foi salva por
Cristo, ainda que o império do ódio seja maior a cada dia. Para Marx a história é negativa porque é baseada sempre em formas de espoliação social.
Para Nietzsche, o cristianismo é a consagração da
mentalidade de escravo.
Marx: suportava a dialética para acabar com a dialética.
Nietzsche: só suportava a humanidade porque ela era a
pedra bruta com a qual seria possível esculpir o ser- acima-do-humano A escola dos Annales ( Peter Burke)
O movimento dos Annales, em sua primeira geração,
contou com dois líderes March Bloch e Lucien Febvre.
Os anos iniciais
Lucien Febvre – aceito em 1897 na escola normal
superior.
Influencia do geógrafo Paul Vidal de La Blanche,
fundador da revista os annales da geografia, buscando uma aproximação com sociólogos e historiadores.
Influencia do filósofo Lucien Levi Bruhl – criador do
conceito de “mentalidade primitiva”.
Influência do historiador de arte Émile Male – um dos
primeiros a concentrar-se não na história das formas, mas nas imagens (iconografia).
Influencia di lingüista Antoine Meillet, interessado nos
aspectos sociais da língua.
Reconheceu também seu débito para com historiadores
anteriores. Reconhecendo, por exemplo, sua admiração por Michellet, Lois Courajod e também pelo político de esquerda, Jean jaures.
A influencia de Jaures pode ser percebida na tese de
doutoramento de Febvre que trata sobre um estudo de uma região da França em torno de Besaçon, no final do século XVI.
Preocupava-se não apenas com a revolta dos países
baixos, mas também com o conflito entre a burguesia e a nobreza.
Esse esquema se assemelha ao marxismo, porem, difere
de Marx ao descreve a luta entre dois grupos como um conflito de idéias e sentimentos, bem como um conflito econômico.
Outra característica importante era a introdução
geográfica que traçava um perfil dos contornos da região.
De outro modo, outro influencia foi de Ratzel.
Um dos pioneiros da geografia humana, atribuía,
diferente de Vidal de La Blache, maior influencia do meio físico sobre o destino humano.
Neste debate em que o determinismo geográfico opunha-
se a liberdade humana, Febvre apoiou Vidal. Bloch
Maior influencia – Emile Durkheim que iniciou sua
carreira de professor mais ou menos no período de ingresso de Bloch como docente.
Apesar de seu interesse por política contemporânea,
Bloch especializou-se em história medieval.
Assim como Febvre, Bloch pensava em uma perspectiva
de uma “história-problema”.
O compromisso de Bloch com a geografia era menor que
o de Febvre, embora fosse maior na sociologia.
Estrasburgo
O convívio de encontros diários entre Bloch e Febvre
durou treze anos (1920 – 1933).
Os reis Thaumaturgos de Bloch, merece ser considerada
uma das grandes obras de nosso século. Seu tema é a crença de que os reis tinham o poder de curar doentes de escrófulas, através do toque real.
Apesar de algumas críticas na década de 20, Bloch
considerou sua obra como uma importante contribuição a história política, pois analisava a idéia de monarquia. “o milagre real foi acima de tudo a expressão de uma concepção particular do poder político supremo”.
Os reis Thaumaturgos foi notável em pelo menos três
aspectos:
Primeiro – não se limitava a um período histórico
convencional, a idade média. Bloch escolheu o período para localizar o problema, o que significava que tinha que escrever a história de longa duração.
Tal perspectiva conduziu Bloch a conclusões
interessantes.
Uma delas, o toque régio não apenas sobreviveu ao século
XVII, como se expandiu.
Em segundo lugar o livro era uma contribuição ao que
Bloch denominava psicologia religiosa. Núcleo central: a história dos milagres e concluía com uma discussão explicita de como o povo acredita em tais ilusões coletivas.
Esse tipo de discussão sobre a psicologia da crença não
era algo que se podia esperar em um discurso histórico dos anos 20.
A terceira questão é a da história comparativa.
Acrescente-se que a comparação era feita de tal forma que possibilitasse perceber as diferenças. (p. 30)