PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
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ERGUNTE
Responderemos
(OIJTUBRO 1957
I. FILOSOFÍA E RELIGIAO
II. DOGMÁTICA
1,25: "E ele (José) nao a conheceu, enquanto ela nao deu á
luz o seu filho primogénito "(isto quer dizer que depois a
conheceu e déla teve filhos?)" ljj>
V. MORAL
VI. LITURGIA
— 2 —
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
I. FILOSOFÍA E RELIGIAO
1. A contingencia do movimcnto.
.3
de ser do movimento; tal serie se poderia comparar a um canal
que se prolongasse muito, mas fósse destituido de fonte; ora,
se nao há fonte, nao há nem intermediarios (ou canal) nem
há efeito. Um conjunto numeroso (diga-se: infinito) de es-
pelhos a refletir urna imagem nao dá conta, por si só, da ima-
gem néles refletida; cada um apresenta urna figura espelhada
dependente, a qual supóe a figura que se espelha, absoluta.
Poder-se-ia replicar que o processo do movimento se veri
fica desde toda a eternidade; por isto, nao tem principio. Neste
caso, porém, seria desde toda a eternidade que a serie dos mo-
ventes dependentes exigiría um Movente Absoluto, indepen-
dente; o simples fato de haver movimento o pede; o tempo ou
a duracáo é apenas medida do fato, mas nao constitui urna
fonte de energia.
Existe, portante um Principio de todo movimento, o qual
por si mesmo pcssui a sua atividade, sem depender de outro.
E tal Movente Absoluto é chamado Deus.
— 4 —
que a bondade é, por sua própria esséncia, a maldade,... que
a beleza é, por sua esséncia, a feiura, etc. Se, portante, existe
no mundo bondade, mas bondade restrita; se existe beleza,
mas beleza restrita déste ou daquele modo; se existe vida, mas
vida limitada em tais e tais seres reais, estes seres supoem ne-
Géssáriamente outro que néles tenha limitado a bondade, a be
leza, a vida, e que por nenhum outro seja limitado. Em outros
termos: supoem outro que néles tenha feito a composigáo da
bondade, da beleza... com aquilo que as restringe, pois tal
composi?ao nao se explica pela natureza da bondade
mesma nem pela da beleza mesma. E ésse Composi
tor há de ser a Bondade Absoluta, irrestrita, a Beleza Absoluta,
a Justica Absoluta — medida e causa eficiente dos seres li
mitados.
c) Existe, pois, a Perfeicáo Ilimitada.
O parágrafo b), ácima, levava a concluir: existe o abso
lutamente Belo, o absolutamente Bom, o absolutamente Ve
raz, etc.
Contudo, se se reflete mais um pouco, verifica-se que Bon
dade, Beleza, Verdade nao sao senao modalidades do ser; signi-
ficam o ser sob determinado aspecto (o ser comparado á in
teligencia, o ser comparado á vontade, o ser comparado ao
senso estético...). Em conseqüéncia, afirmar-se-á: há um Ser
que é ao mesmo tempo Bom sem limite (a Bondade mesma),
Veraz sem limite (a Verdade mesma), Belo sem limite (a Be
leza mesma). Éste Ser nao recebe sua Bondade nem sua Vera-
cidade nem sua Existencia de urna fonte extrínseca, mas file
as tem de per si, por sua própria entidade; se as recebesse de
fora, file so as poderia receber de maneira limitada, partici
pada (ou em parte). Por conseguinte, ésse Ser nao tem, mas é,
sua própria Perfeicáo. A Ele se atribui o nome de Deus.
— 5 —
mente, do sistema solar; as minúsculas dimensóes e as enor
mes velocidades dos corpúsculos que giram dentro de um
átomo atingem por sua vez cifras astronómicas.
— 6 —
.. O ser inteligente que por via déstes raciocinios se chega a
descobrir há de ser absoluto, ilimitado, incriado, pois a Ele
se deve nao apenas o ato de dispor em ordem alguns ou muitos
seres preexistentes (deixando de parte outros, como poderia
fazer um homem), mas igualmente o de conceber e realizar
o plano do universo inteiro e de cada um de seus componen
tes. A inteligencia que concebe e dá existencia real a cada
ente desde as raízes do seu ser (das quais emanara suas pro-
priedades e atividades), só pode ser o Ser simplesmente dito,
o Infinito, que por definigáo se chama Deus.
Dir-se-á, porém: quem sabe se todas essas estruturas e
suas atividades nao poderiam ser igualmente produto do
acaso?
7
de bilhoes de células de proteína e que, segundo a linguagera
dos fósseis, bilhoes de seres vivos tiveram origem sobre a térra
em lapso de tempo notávelmente breve. É o que leva a rejeitar
perentoriamente a origem aleatoria do mundo.
Os tres grandes argumentos ácima, de índole metafísica,
sao confirmados pelo testemunho da natureza humana mes-
ma:
_ 8 —
II. DOGMÁTICA
— 9 _
Apesar disto, Aristóteles (f322 a.C), que se assentou na
escola de Platáo, nao possuia a consciéncia de "pecado —
culpa moral". No setor da Ética, julgava que o pecado nao é-
injustica, mas um ato pouco hábil, golpe de vista infeliz, que*
alguém executa de boa fé; reduz-se a ignorancia inculpada,
(cf. Et. Nic. II p 1106b 28ss; Et. Eud. VIII 1 p 1246a 32ss;
Polit. III 11 p 1231b 28).
Qual a razáo de ser de táo manca nogáo de pecado em um.
filósofo que tanto se elevou na Metafísica?
A raiz da deficiencia é o conceito que de Deus tinha Aris
tóteles. Embora haja reconhecido a existencia de um Primeiro
Motor Imóvel, o filósofo grego julgava que éste move os-
demais seres de maneira inconsciente ou apenas como causa,
final, como objeto que, contemplado pelos entes inferiores, os-
atrai pelo simples fato de existir, e existir como tipo do ser
perfeito. A Divindade, portanto, nao tem conhecimento dos;
homens nem lhes impóe as leis da Ética, que os encaminham.
para o seu Ideal Supremo; é- sim. o próprio homem que, na
base de seu raciocinio e experiencia, tem de formular
as normas da sua conduta neste mundo. Estes princi
pios tiram á Moral o seu caráter transcendente, tornando-a,
muito dependente da habilidade do homem, que só aos poucos.
(sem poder evitar tropegos) vai aprendendo a arte de cami-
nhar na vida. Em urna tal filosofia entende-se que o pecado-
se reduza a impericia, longe de ser violacáo de urna- ordem di
vina ou de ser urna ofensa a Deus. Toda a Ética de Aristóteles-
tem que ser antropocéntrica, pois visa apenas tornar o homem.
perfeito (sem levar em conta a gloria de Deus); se, pois, tal
ou tal individuo humano nao se quer elevar na prática da vir-
tude, é ele só quem sofre as conseqüéncias da sua recusa.
Posteriormente a Aristóteles, os estoicos envolveram no>
conceito de pecado a nocao de Deus. Faziam-no, porém, na.
base do seu panteísmo: identificando o logos ou a razáo hu
mana com a Divindade, concluiam naturalmente que despre-
zar as normas da razáo era desprezar a Divindade. É de notar'
que, para afirmar isto, o estoico tinha que deprimir ou des
virtuar espantosamente a idéia de Deus apregoando o pan
teísmo.
Por fim, no limiar da era crista, urna religiosidade nova, a.
dos "cultos de misterios (de Cibele, Isis, Mitra..,)", vinda do»
Oriente, avivou nos pagaos a consciéncia de que o pecado h
nódoa hedionda e obstáculo á salvagáo. Tendiam, porém, a
identificá-lo com impureza ritual, cúltica, nao dando suficién-
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te atenc.áo ao aspecto moral do ato, á responsabilidade da
consciéncia.
Foi sobre éste fundo de idéias que surgiu o Cristianismo,
acarretando profunda mudanza ñas concepgoes religiosas da
género humano.
Para o cristáo, urna verdade básica é que Deus se identi
fica com o Amor, e o Amor que primeiro amou os homens; fé-
-los imagem e semelhanga sua e imprimiu-lhes na conscién
cia as normas universáis para conseguirem o seu Fim Último;
pela consciéncia o único Deus fala a todo homem, de qualquer
época ou nagáo que seja, chamando-o, atraindo-o a Si. Dista
se segué que burlar a voz da consciéncia nao equivale simples-
mente a transgredir urna lei da sabedoria humana, mas é
repulsa de um chamado do Amor, e do Amor que tem absoluto
direito a ser o primeiro amado. O pecado é um ato que atinge
a natureza humana (como de certo modo já o percebia o pa-
gáo) e, além disto, atinge também a Deus. com a diferenga,
porém, de que a natureza humana é maltratada, punida pelo
seu próprio pecado, ao passo que Deus nao sofre detrimento
em conseqüéncia da revolta do homem (Deus nada perde nem
ganha, nem tem sentimentos ou paixSes); mas, na medida
mesma (medida plena) em que Deus é Valor (o Primeiro
Valor), pode-se dizer que Deus é o primeiro injuriado e ofen
dido pelo pecado; éste equivale a um atentado contra os di-
reitos do Sumo Bem, visando rebaixá-lo e colocar um ser
inferior no lugar do Supremo.
É dentro desta perspectiva que a Sagrada Escritura,
desde os seus livros mais antigos, inculca insistentemente que
Deus tem horror ao pecado (cf. Dt 12,31; 17,1; 18,12; Prov
3.32; ll,l.2O; 12,22; 15,3s.26). Nao se trata, porém, de um
horror que leve simplesmente a condenar e criar distancia
entre o Santo e o réu. Ao contrario, o Deus que repudia o pe
cado, nao repudia o pecador; por isto o Criador se quis fazer
também o Redentor do homem culpado, numa efusao de
amor aínda mais estupenda do que a que deu origem ao mun
do. É ao contemplar Cristo sofrendo os horrores da agonia
no horto das Oliveiras que se compreende quanto e como
Deus horroriza a culpa: o pecado vem a ser morte, e Deus é a
Vida mesma; mas nem por isto Deus feito homem se recusou
a experimentar a morte a fim de libertar os que esta detinha
cativos sob o seu imperio.
Destas verdades se depreende que o concertó cristáo de
pecado envolve estritamente a idéia de Deus, e Deus que é
surpreendentemente bom. Por causa de tal pressuposto é qu&
_ 11 —
por vézes custa ao homem crer no pecado e conceber a autén
tica nocáo do mesmo. Se Deus fósse apenas Primeiro Motor
Imóvel, frió e fechado em sua majestade, seria lícito acreditar
que o pecado nao O ofende; mas Deus, além de ser o Movente
Absoluto dos filósofos, é também o Pai de Nosso Senhor Je
sús Cristo e dos irmáos adotivos do Salvador. Ninguém ne
gará seja misterio (o misterio da iniqüidade; cf. 2 Tes 2,7) o
fato de que o homem possa dizer Nao ao seu Deus, pois até
a última fibra de seu ser e agir a criatura é dependente do
Todo-Poderoso; o seu Nao, ele só o profere prevalecendo-se do
Amor que o sustenta; o pecado é, pois, a revolta da criatura
contra o Amor sem o qual ela nao existiria. é contradicho fla
grante localizada no mais íntimo do homem. Eis o que dá ao
pecado o seu caráter táo trágico e terrível.
No séc. 17 houve doutores cristáos que quiseram, por
assim dizer, mitigar a nocáo crista, distinguindo entre pecado
filosófico e pecado teológico. Aquéle seria um ato contrario á
natureza humana e á reta razáo; por muito vultuoso que
fósse, nao seria ofensa a Deus, desde que o pecador,, ao come-
té-lo, nao pensasse no Senhor; tal culpa nao rompería a ami-
zade com Deus nem seria merecedora do inferno. Sómente o
pecado teológico ou urna transgressáo livre da lei divina re-
conhecida como tal separaría do Pai celeste e acarretaria a
ruina da alma. Essa distincáo foi condenada pelo Papa Ale-
xandre VIII em 1690 (cf. Dz 1290) como contraria á doutrina
do Evangeiho. Nao se pode, pois, ofender a natureza humana
ou a lei natural sem ofender também a Deus. Disto aínda se
segué urna verdade muito bela: a sanc,áo infligida ao pecador
nao decorre de urna sentenca arbitraria e reformável de Deus,
mas é, antes, a reacao, o protesto existencial da nalureza hu
mana e das demais criaturas violentadas pelo livre arbitrio
do pecador.
A fim de ainda melhor evidenciar a significado do pe
cado na teología católica, seja permitido referir como o Isla
mismo (única religiáo que professa um Deus único e pessorl,
fora do Cristianismo) concebe o mesmo ponto de doutrina.
O Isláo considera o homem lamentável muito mais por causa
de sua insignificancia física ou metafísica do aue por motivo
de sua miseria moral; inculca que Deus é grande e o homem
pequeño mais do que o fato de que Deus é- o Santo e o homem
o nao-santo. Em conseqüéncia, nao tem cabimento, para o
muculmano, a idéia de um Deus que procure a ovelha desgar
rada. Diz-se. alias, que nisto está a diferenca psicológica
essencial entre o maometano e o cristáo. O Islamismo nao dá
i
— 12 _
grande atencáo ao pecado; considera só haver uma falta im
portante; a de nao crer na unidade de Deus e na divina mis-
sáo dos profetas. É éste o kofr ou o chirk, o pecado caracte
rístico dos infiéis. Qualquer outra falta é tida como infracáo
de um interdito (haram), remissível com facilidade; somente
os infiéis seráo entregues ao fogo do inferno.
Como se vé, o Cristianismo tem do pecado uma concep§áo
muito mais pungente, dilaceradora. É que nela entra o grande
paradoxo: a nocao de um Deus que é Amor..., e naturalmen
te Amor Perfeito, forte como a morte (cf. Ct 8,6) ou, melhor,
mais forte do que a morte!
_ 13 —
mano e o Divino em Cristo; a nossa Redengáo implica uma
consagracáo muito mais rica do humano. Em conseqüéncia,
os bispos e teólogos da Igreja reunidos no concilio geral de
Éfeso (Asia Menor) em 431 declararam, inspirando-se na fé
tradicional, haver em Cristo duas naturezas, sim, (a divina
e a humana), mas uma só Pessoa (a Divina).
Que significa exatamente esta fórmula?
Por "natureza" entende-se a esséncia de um ser, aquela
estrutura íntima que faz que ele seja tal e atue como tal; é,
pois, em linguagem técnica, o principio radical da atividade
de um ser. A natureza do homem, por exemplo, aquilo que faz
que ele seja nomem. nao é nem a sua estatura ereta, nem a
sua linguagem, mas a sua racionalidade; é desta que decorre
o modo de agir característico do homem no conjunto das cria
turas. Todos os homens tém necessáriamente a mesma natu
reza, como se entende; em caso contrario, deixariam de ser
homens.
Sabemos, porém, que na realidade concreta nao se encon-
tram animáis racionáis simplesmente ditos, indiferenciados
uns dos outros; o ser racional só subsiste revestido de notas
que o individualizam e o distinguem dos outros individuos
possuidores da mesma natureza. Sim; Pedro, Paulo e Joao sao
homens, tém a mesma natureza humana, mas cada um tem
sua personalidade própria, que o individualiza; é sómente
debaixo de tais personalidades individuáis que a natureza se
encontra no mundo.
Distingue-se, portanto, da natureza a personalidade. Esta
é o que da subsistencia real aquela; é o Eu que, com suas
modalidades individuáis, utiliza as faculdades da natureza
ou do fundo comum a todos os homens.
Pois bem; a fé ensina que em Cristo havia duas nature
zas ou dois principios de ac.áo — o Divino e o humano — nao
mutilados, mas íntegros. Acrescenta, porém, que a natureza
humana em Cristo nao subsistía por efeito de uma persona
lidade humana e, sim, porque a Segunda Pessoa da Santís-
sima Trindade Ihe dava subsistencia ou personalidade; esta
mesma Pessoa, em virtude da Encarna§a.o, passou a subsistir
em duas naturezas: a Divina, na qual se achava desde toda
a eternidade, e a humana, que ela tomou no seio de Maria
Santíssima. Táo íntima era a uniáo do humano com o Divino
em Cristo que o Eu de Jesús nao era um Eu humano, mas Eu
divino.
Destas premissas se concluí que Maria pode e deve ser
dita Mác de Deus. De fato, pelo S. Evangelho sabemos que
— 14 —
«la gerou a Cristo, ésse individuo que subsistia em virtude de
oima personalidade divina. Ora, visto que quem gera, gera
urna pessoa, nao urna natureza abstraía, Maria, gerando a
•natureza humana de Cristo, gerou também a personalidade
divina que lhe estava unida; gerou-a nao de maneira a lhe
■dar o ser simplesmente, mas gerou-a como Pessoa Divina
subsistente na natureza humana.
Nao basta, portanto, dizer que Maria é Máe de Cristo ;(na
acepgáo nestoriana). Quem lhe denega o título de Máe de
Deus, nega ao mesmo tempo o misterio de Cristo e a sublime
.maneira pela qual o Pai Eterno quis realizar a Redencáo do
nosso género; esta nao implica menos do que a divinizagSo
da natureza humana, segundo a bela concepgáo dos Santos
Doutores:
— 15 _
des. C outro se achava em uso na florescente colonia judaica
de Alexandria no Egito; era o catálogo ampio, que re:onhecia
es escritos ácima mencionados.
A razáo de ser desta dupla recensáo é provávelmente a se-
guinte: até o inicio da era crista os judeus, tanto da Palestina
como da Diáspora (Dispersáo), muito estimavam todos os seus
escritos sagrados, inclusive os sete ácima recenseac'íos. No
século 1.° da nossa era, porém, quiseram definir oficialmente
o catálogo bíblico (empreendimento que até entáo nao os
preocupara). Os fariseus entáo, que orientavam a opiniáo pú
blica na Térra Santa, fizeram prevalecer seu espirito reacio-
nário contra qualquer influxo estrangeiro (como se sabe, em
ccnseqüéncia da tentativa de paganizacáo que Israel sofreu
per parte dos sirios em meados do séc. 2.° a. C. os Farisaus cul-
tivavam urna religiosidade nacionalista, fechada em si, ten
dente a esterilidade espiritual). Parece, pois, que. inspirados
pela hostilidade ao helenismo e, em particular, aos Hasmo-
neus (dinastía liberal que governou Israel durante o séc. 2.°/
1.° a.C.), estipularam quatro condic.6es para que um livro
fósse reconhecido como inspirado por Deus:
1) fósse conforme com c Feniateuco ou a Leí ds Moisés
(entendida no sentido assaz formalista dos fariseus):
2) fósse antigo, isto é, nao posterior a Esdras <séc.
5.°/4.° a.C);
3) tivesse sido redigido e conservado em hebraico, nao
nao em aramaico (sirio) nem em grego;
4) tivesse tido origem na Palestina, nao no estrangeiro.
Aplicando estes criterios, os fariseus quase eliminaram do
catálogo bíblico o livro de Ezequiei, por fríes parecer destoar
da Lei de Moisés. Excluiram o Eclesiástico, o 1.° e o 2.° dos
Macabeus, por serem posteriores a Esdras. Por motivo de idio
ma, rejeitaram a Sabedoria, ás referidas seccoes de Ester e
taníbém o 2.° dos Macabeus. escritos em grego; Tobías e Ju-
dite, provávelmente redigidos em aramaico após os tempos de
Esdras. Por ter-se originado fora da Palestina, nao reconhe-
ceram, a novo título, o livro da Sabedoria. Quanto á profecía
de Baruque, á epístola de Jeremías e aos mencionados frag
mentos de Daniel, no inicio da era crista só eram conservados
em grego, por se haver perdido o seu texto original.
Em Alexandria, ao contrario, nao se verificou a reagáo
dos Fariseus; por conseguinte, a colonia israelita, de menta-
lidade muito mais simples e aberta, nao consebeu dificuidades.
para recenhecer oficialmente como inspirados os seis mencio
nados livros que eram lidos com os demais do Antigo Testa-
— 16 —
meneo e faziam parte da ed'.cáo da Sagrada Escritura intitu
lada ".. .dos Setenta Intérpretes" (edigáo grega confecciona
da em Alexandria por tradutores e escritores diversos, entre
300 e 130 a.C.)
É esta a sentenca que com mais probabilidade explica a
existencia de dois catálogos bíblicos em uso entre os judeus.
Ora os cristáos, desde o inicio da sua historia, usaram a
edigáo grega dos LXX; os Apostólos mesmos, escrevendo os S.
Evangelhos e suas epístolas, reíerem o Antigo Testamento
nao segundo o texto hebraico, mas recorrendo á versáo dos
LXX; das 350 citacoes do Antigo Testamento que ocorrem no
Novo, 300 sao tiradas do texto dos LXX (mesmo quando éste
diverge acitíentalmente do hebraico; cf. p. ex. Hebr 10,5-7). A
traducáo grega dos LXX gozava de extraordinaria autorida-
de entre os próprios judeus (mesmo na Palestina). Em conse-
qüéncia, também o catálogo de livros sagrados estipulado iv>
sa edicáo"— catálogo ampio — foi naturalmente adotado pe
los cristáos (embora um ou outro escritor manifesta ose suas
dúvidas a respeito) e sancionado pela autoridade da Igreja,
á qual o Espirito Santo assiste. Tal catálogo representa a li-
nha auténtica da fé judaica, ao passo que a recensáo restrita
dos fariseus da Palestina se parece ressentir dos exageras de
urna faegáo reacionária.
Por toda a antigüidade até fins da Idade Media estsve
em voga na Igreja o catálogo ampio. Eis, porém, que no séc.
16 Lutero o rejeitou, dando preferencia á lista restrita. Se-
guiram-no os outros ps.-reformadores (Calvino, Zwingli e os
modernos fundadores de seitas). É esta a razáo principal poi
que a Biblia editada pelos protestantes difere da católica.
Deve-se, além disto, observar que a "Biblia protestante"
nao costuma ter notas explicativas do texto, mas apenas refe
rencias a textos da Sagrada Escritura paralelos a determinada
passagem. A Igreja Católica, porém, exige que toda edicáo
dos livros sagrados seja ilustrada por breves observac.6es que
ajudem a en*^nder os versículos mais dificéis, removendo os
possíveis erros de interpretado.
17
Canon (em grego. kanón) significava "medida, norma"
■e, por extensáo, "catálogo, índice, registro". A partir do séc.
4.° aplicou-se o vocábulo ao catálogo dos livros inspirados por
Deus no Antigo e no Novo Testamento.
Dos livros canónicos (isto é, catalogados) ou inspirados
por Deus, era preciso na antiga Igreja distinguir outros, que,
embora tivessem grande semelhanca de estilo com as Escri
turas Sagradas, eram obra meramente humana, por vézes
-edificante, por vézes herética ou fantasista. Para estes li
vros se reservou o título de "apócrifos" (apókryphoi, em gre
go) , isto é, ocultos, nao lidos no culto público oficial (embora
fóssem lidos em caráter particular); tais eram a "Ascensáo
de Isaías", o "Evangelho de Pedro", o "de Nicodemos", os "Atos
de Tomé", os "de Paulo com Tecla", etc.
No séc. 16 introduziu-se entre os teólogos católicos a dis-
tingáo meramente terminológica entre livros protocanonicos
•e deuterocanónicos. Ela se deve a Sixto de Sena (1520-1569),
judeu que, urna vez batizado, se tornou franciscano e depois
■dominicano. Éste autor, na sua "Bibliotheca Sancta", chamou
-"protocanonicos", em grego "primeiramente (introduzidos)
no canon", os livros sobre cujo valor inspirado nunca se re-
gistraram dúvidas; "deuterocanónicos", isto é, "em segundo
lugar (inseridos) no canon", aqueles escritos que só depois de
hesitares foram oficialmente recenseados no catálogo bí
blico. Como se vé, a distin§áo significa apenas diferenca crono
lógica, de modo nenhum implicando menor autoridade ou
menor grau de inspiracáo para os "deuterocanónicos".
Entre os deuterocanónicos, contam-se, além dos sete li
vros do Antigo Testamento nao incluidos no canon palesti-
nense (Baruque com a epístola de Jeremías, Tobias, Judite,
1.° e 2.° dos Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico), os sete se-
guintes escritos do Novo Testamento: a epístola aos Hebreus,
a de Sao Tiago, a 2.a de S. Pedro, a 2.a e a 3.a de Sao Joáo, a
de Sao Judas e o Apocalipse. As hesitacóes sobre o valor de
tais livros dos Apostólos eram devidas principalmente aos
abusos que désses documentos faziam os herejes; prolonga-
ram-se nesta ou naquela regiáo até os séc. 4."/5.°. Em 393,
porém, o concilio regional de Hipona (África Setentrional)
definia o catálogo dos livros sagrados, incluindo néie tanto os
protocanonicos como os deuterocanónicos do Antigo e do Novo
Testamento. Esta declaragáo foi repetidamente inculcada
pelo Magisterio da Igreja nos séculos subseqüentes até os
nossos dias.
_ 18 —
Os Protestantes, nao reconhecendo os livros deuteroca-
nónicos do Antigo Testamento, usam de outra nomenclatura,
que vai abaixo confrontada com a dos católicos:
Católicos Protestantes
LIVROS PROTOCANÓNICOS CANÓNICOS (simplesmente)
DEUTEROCANÓNICOS APÓCRIFOS
APÓCRIFOS PSEUDO-EPIGRAFOS
"Pseudo-epígrafos" significa "falsos títulos" ou livros fal
samente intitulados, falsamente atribuidos a tal ou tal homem
de Deus (Henoque, Sao Tomé, Nicodemos.. .)•
Donde se vé que, no concernente ao termo "apócrifos" em
particular, se requer especial atenerlo: quando os Protestantes
falam de "apócrifos", referem-se a livros que na verdade sao
inspirados por Deus; o mesmo nao se dá quando é um católico
que usa tal vocábulo.
Mais precisamente, eis as razóes por que no iníe'o da era crista fot posta
em dúvida a canonicidade de sote escritos do Novo Testamento:
a epístola aos Hebreus era nos séc. 2.°/3.° falsamente utilizada por
rigoristas (Montañistas e Novacianos), os quais, apelando para Heb 6,4
aíirmavam haver pecados irremissiveis. Os defensores da fé, em vez de
refutar o erro propondo a genuina exegese do texto, as vézes preferiam negar
a índole inspirada da epístola aos Hebreus;
o Apocalipse também era explorado por herejes, os quais do c. 20
deduziam que, entre a segunda vinda de Cristo e a consumacáo da his
toria, haverá na térra um reino glorioso do Senhor, protrafdo durante mil
anos. Em conseqiiéncia, alguns autores ortodoxos, visando tirar a ¡lutori-
dade ao texto mal interpretado, negavam ser Sao Joáo o autor do Apo
calipse; outros simplesmente excluiam éste livro do catálogo bíblico;
a epístola de Sao Tiago, principalmente em 2,14-26 (inculcando h inu-
tilidade da fé, sem as boas obras) parecía contradizer a Rom 3,27s: 4,1-íi
(o primado da té sobre as obras expresso em linguagem paulina...}, pelo
que alguns cristáos duvidavam da orlgem divina da carta de Sao Tiago;
a 2.a epístola de Sao Pedro, a 2.a e a 3.» de Sao Joáo sao documentos
breves, que nao apresen tam doutrina característica e raramente eram ci
tados;
a carta de Sao Judas, citando no seu v. 14 o fantasista livro "de He-
noque", parecía a alguns leitores pouco fidedigna.
I. T. A. (Carangola):
— 19 _
era um contrato realizado em vista déste; as leis rabínicas o
valorizavam altamente: a noiva infiel era punida pela lapi-
dagáo, á semelhanca da esposa culpada; era equiparada a
uma viúva, caso lhe morresse o noivo; o filho por ela conce
bido de seu noivo era considerado prole legítima. Contudo
noivo e noiva nao coabitavam, aguardando, para isto, o con
trato matrimonial (cf. Dt 20,7).
Subentendidos estes costumes, Sao Mateus dá a saber
que Maria concebeu durante o período de noivado, sem a par-
ticipacáo de José, por intervengo direta do Espirito Santo
(cf. 1,18). Acrescenta que, passada a perplexidade do varáo
justo, a quem o anjo tranqüilizou, os dois noivos contrairam
matrimonio e coabitaram, como o dá a entender a historia da
infancia de Jesús (cf. Mt 1,24; 2,13. 19-22).
Será que esta coabitacáo implicou consorcio carnal?
A sadia exegese dos textos bíblicos, corroborada pelo con
tinuo ensinamento da tradicáo crista, leva a afirmar que nao;
Maria nao teve filho além de Jesús, embora ha i a vivido sob o
mesmo teto com José, que fazia as vézes de tutor do Menino
Deus e de Maria. A respeito dos chamados "irmáos de Jesús",
veja-se "Pergunte e Responderemos" 3/1957 qu. 13.
2. Note-se ainda o sentido de Mt 1,25. A expressáo que
neste versículo se traduz por "enquanto ela nao deu á luz"
(na versáo de Ferreira de Almeida: "até que deu a luz..."),
corresponde ao grego heos hou e ao hebraico 'ad ki. Ora sao
conhecidas as passagens da Sagrada Escritura onde essas par
tículas ocorrem para designar apenas o que se deu (ou nao
se deu) no passado, sem se indicar o que se havia de dar no
futuro. Tenha-se em vista, por exemplo:
Gen 8,7: o corvo que Ñoé soitou no fim do diluvio, nao
voltou á arca "até que as aguas secassem". Significaría isto
que depois do diluvio a ave voltou á arca?
Salmo 109, 1: Deus Fai convida o Messias a sentar-se á
sua direita "até que Ele faga dos inimigos do Messias o supe
dáneo dos seus pés". Quer isto dizer que, depois de termi
nada a luta e vencidos os inimigos no fim da historia, o Mes
sias deixará de se assentar á direita do Fai?
Ainda hoje na vida cotidiana nao se recorre a semelhan-
te modo de falar, quando por exemplo se diz: "Tal homem
morreu antes de ter executado os seus planos" ou "ante; de
ter pedido perdáo"? Poderia alguém concluir disto que, de
pois da morte, o defunto executou os seus designios ou pediu
perdáo? Diz-se outrossim: "O juiz condenou o acusado antes
de o ter ouvido"; seria lícito deduzir destas paiavras que o
— 20 —
ouviu depcis de o ter condenado? — Estes sao casos em que
se faz referencia ao passado- prescindindo do futuro. Tal lo
cuelo era freqüente entre os semitas e constituí, sem dúvida,
a base pressuposta do texto de Mt 1,25, como alias bem reco-
nhecem críticos protestantes do valor de Klostermann. Em
conseqüéncia, a traducáo mais clara da passagem de Mt 1,25
seria: "Sem que ele (José) a tivesse conhecido (isto é, toma
do em consorcio carnal, marital), ela (Maria) deu á luz...".
Análogamente diríamos para explicar as frases ácima citadas:
"Tal homem morreu sem ter executado seus designios"; "o
juiz condenou o acusado sem o ter ouvido"; "as aguas do di-
iúvio secaram sem que o corvo regressasse á arca".
Quanto ao vocábulo "primogénito", ele nao se encontra
no original de Mt 1,25, mas ai foi introduzido por influencia
de Le 2.7: "Maria deu á luz seu filho primogénito, envolveu-o
em faixas e deitou-o nu'a mangedoura". O Evangelista su-
blinha o caráter milagroso, virginal dessa natividade, fazendo
notar que Maria mesma dispensou os primeiros cuidados ao
recém-nascido.
O termo "primogénito" nao significa que a Máe de Jesús
tenha tido outros filhos após Ele. Em hebraico bekor, primo
génito, pedia designar simplesmente o "bem-amado", pois o
primogénito é certamente aquéle dos filhos no qual durante
certo tempo se concentra todo o amor dos pais; além disto, o
primogénito era pelos hebreus iulgado objeto de especial amor
per parte de Deus, pois devia ser consagrado ao Senhor desde
es seus primeiros dias (cf. Le 2,22; Éx 13,2; 34.19). Mesmo
fora de Israel podia-se chamar "primogénito" o menino que
nao tivesse irmáo nem irmá mais iovem; é o que atesta urna
inscri(jáo descoberta em Tell el-Yedouhieh (Egito) no ano de
1922: lé-se ai que urna jovem mulher, chamada Arsinoé, mor-
veu "ñas dores do parto de seu filho primogénito". Nótese de
novo nestes textos o modo de falar que observamos a respeito
de Mt 1,25: "primogénito" vem a ser apenas o filho antes do
qua! nao houve outro, nao necessáriamente aquéle apes o
qual houve outros.
_ 21 —
8) "Qual é afinal a diferenga entre Igreja e Seita?"
— 22 —
Zwingli (1484-1531) na Suica alema (Zürich) e Joáo Calvino
(1509-1564) na Suica francesa (Genebra) e na Franca. As
doutrinas passaram para a Inglaterra pouco depois que o rei
Henrique VIII em 1534 se separou da Igreja Católica por mo
tivo de seu divorcio; lá constituiram o bloco anglicano. É a
estas modalidades da Ps.-Reforma oriundas da primeira rae-
tade do séc. 16 e ainda hoje existentes (o Zwinglianismo se-
fundiu em breve com o Calvinismo) que se costuma atribuir
o nome de Igrejas Protestantes (tenha-se. consciéncia, porém,
de que esta denominacáo é impropria, pois só pode haver urna
Igreja de Cristo: aqueía que remonta ininterruptamente até os
Apostólos e o próprio Cristo). Sao animadas por um espirito
assaz serio e tradicional; conservam certa etiqueta e nobreza
próprias do tipo angio-saxáo; seus adeptos tém contribuido
com estudos valiosos para o progressu da filología e da exe-
gese bíblicas.
Contudo o que no Brasil e no mundo contemporáneo em
geral tem chamado a atengáo por seu espirito proselitista nao
e o Protestantismo das Igrejas Protestantes; sao facc,5es reli
giosas que nos sáculos 17/20 (mormente no séc. 19) se separa-
ram de umá Igreja Protestante, produzindo urna "reforma da
Reforma", urna "heresia da heresia"; as vézes só tém de co-
mum com o Luteranismo, o Calvinismo ou o Anglicanismo o
repudio da tradigáo, o principio da livre interpretacáo da Bi
blia. Sao para o Protestantismo aquilo que as superstigóes e-
heresias sao para o Catolicismo.
A tais grupos dissidentes se atribui a denominado de sci-
tas; existem centenas destas (sómente nos Estados Unidos da.
América do Norte se contam 343 reservadas á populacho de
ra§a branca; as seitas dos cidadáos de raga negra ainda sao
mais numerosas). As mais famosas sao as dos Batistas, Meto
distas, Presbiterianos, Adventistas, Testemunhas de Jeová,
Pentecostais, etc. Compreende-se muito bem ésse fraciona-
mento progressivo do bloco protestante; urna vez admitido o
principio de Lutero segundo o qual todo cristáo, por seu livre
exame, independentemente de algum magisterio tradicional,
é intérprete das Escrituras, "cada Protestante, tomando a Bi
blia ñas máos, se tornou Papa" (ou cabera de urna Ps.Igreja),
como diz Boileau (Sátira XII 224). As Federagóes Protestan
tes da Europa e da América geralmente nao admitem em seu
gremio as seitas; por sua vez, algumas destas se opóem tanto-
ao Catolicismo como ao Protestantismo tradicional.
Há na verdade sobe i o motivo para se manter a distingáo?
entre "Igrejas" e "seit.V' do Protestantismo, pois estas últi—
— 23 —
mas sao animadas por mentaüdade bem característica: em
geral originaram-se de urna reacáo contra o aburguesamiento
de um dos antigos blocos protestantes (a atitude psicológica
básica de um fundador de seita freqüentemente é a de reco-
mecar a partir do zero, como se ninguém entendesse mais o
Evangelho em sua época): seu entusiasme é, nao raro, des
pertado e alimentado peio anuncio de urna nova revelacáo,
que se justapoe á Revelacáo bíblica (e as vézes chega a sufo-
cá-la); também acontece que as seitas esperem o fim do mun
do para breve, baseando-se em exegesc rebuscada de textos
bíblicos; apresentam-se como a arca em meio á corrupeáo
universal; por vézes prcmetcm, e parecem realizar, curas ma-
ravilhosas; em geral seus membros se deixam guiar mais pela
experiencia subjetiva c pelo sentimento do que por sólida
cempreensáo das Escrituras e do Cristianismo!
Por fim, nao se uoderia deixar de notar que o pulular
das seitas modernas tem seu significado positivo: é urna aíir-
macáo vibrante da alma humana naturalmente religiosa, se-
quiosa do Místico e do Transcendente, em reacáo contra os
credos materialistas e mecanicistas que tém sido apresenta-
rios as geragóes dos séculos 19 e 20.
V. MORAL
CAPICHABA (Vitoria):
— 25 —
tributar. Independentemente das suas possibilidades de pro-
duzir, a criatura humana possui urna personalidade baseada
em sua natureza espiritual e destinada a um finí postumo; todo
e qualquer individuo tem o direito e o dever de passar por esta
vida temporal em demanda da eterna: "Os homens nao sao ge-
rados primariamente para a térra e o tempo, mas para o céu
e a eternidade", ensina Pió XI na encíclica "Casti connubü".
Ademáis, quem praticasse o aborto por eugenesia, nao teria
motivo para nao querer outrossim eliminar da sociedade os
doentes incuráveis, os anciáos, aqueles cuja existencia pareca
(segundo um criterio qualquer) carecer de valor.
A respeito da prenhez ectópica, veja "P. R." 8/1957
qu. 12.
— 26 —
claracao positiva, nos diz que pessoa nenhuma tem o direito de
continuar a ler um livro que ela perceba estar-lhe causando
efeitos nocivos; esta proibicáo do Direito natural foi parti
cularmente inculcada pelo Santo Oficio em 1943; a Santa Sé
deseja que os Srs. Bispos a recordem aos fiéis (cf. "Acta Apos-
tolicae Sedis" XXXV 144 s). Nao há dúvida, maior é o núme
ro de iivros proibidos pela lei natural do que o de obras vedadas
pelo índice da Igreja.
O desejo da preservar do erro (real ou presumido) pare
ce ditado pela mesma lei natural a toda sociedade que estima
seus valores. Foi, sim, posto em orática desde remota anti-
güidade pelas autoridades religiosas nao cristas: já antes de
Cristo, por exemplo, os rabinos proibiam aos jovens de Israel,
de menos de vinte anos de idade, a leitura do Cántico dos Cán
ticos, assim como a de varios capítulos do Génesis e de Eze-
quiel, por julgarem que tais textos poderiam excitar peri-
gosamente a imaginacáo dos adolescentes. Conforme refere o
historiador cristáo Eusébio de Cesaréia (t 339), o rei Ezequias
de Judá (716-687) mandou atirar ao fogo livros que, falsamen
te atribuidos a Salomáo, eram aptos a levar a idolatría. Entre
os pagaos, semelhantes cautelas estavam em vigor: referem
Cicero (De natura deorum 1,23) e Latáncio (t após 317 d. C,
De ira Bei 9) que o demagogo Protágoras de Abdera (t411 a.'
C.) foi banido de territorio de Atenas por haver publicado um
escrito com os seguinles dizeres: "A existencia dos deuses
eis algo que eu nao saberia nem afirmar nem negar". A obra
foi queimada em plena praca pública. Tito Lívio (L. XXV 1)
cita um decreto do pretor romano M. Attilius, que mandava
destruir os livros de profecías dos cartagineses. — No séc. 16,
os preprios "reformadores" protestantes nao hesitaran! em se
guir tal praxe: Lutero lancou ao fogo o 'Corpus Juris Canonici';
seus discípulos proscreveram as obras dos "reformados" zwin-
gliancs e calvinistas, provocando igual reacáo por parte déstes.
Na Igreja Católica a condenagáo de livros, ao menos sob
forma esporádica, é oraticada desde os primeiros tempos. Co-
nhece-se o chamado •Fragmento de Muratori", documento re-
digido por volta do ano de 196, em que, ao lado de livros bíbli
cos e outros edificantes/sao mencionadas obras herejes, "as
quais nao podem ser aceitas na Igreia". No séc. 5.° o "Decreto
Gelasiano" apresentava semelhante catálogo. Foi, porém, a
partir do séc. 15, após a descoberta da imprensa, que se mul-
liplicaiam es livros nocivos, exigindo vigilancia mais assídua
por parte das autoridades: o Imperador Carlos V, recorrendo
á colaboracáo dos teólogos da Universidade de Lovánia, man-
— 27 —
dou em 1529 redigir um catálogo de livros a ser proibidos nos
Países Baixos. O Papa Paulo IV por sua vez publicou em 1557 e
1559 um índice de livros vedados. Para assegurar a tarefa de
censura, o santo Pontífice Pió V em 1571 fundou em Roma a
dita "Congregacáo do índice", a qual exerceu suas atribuigoes
até que em 1917 o novo Código de Direito Canónico as trans-
ferisse para a Congregacáo do Santo Oficio (á qual toca a cen
sura das doutrinas e dos costumes em geral).
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sados consultem seu Pároco ou seu confessor, que lhes dará a
orientado precisa a seguir.
V. LITURGIA
JULIA (Barbacena):
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sete bracos. Por fim, sao sete candelabros que Sao Joáo no
Apocalipse (note-se bem: temos aquí um texto do Novo Tes
tamento) vé em torno do Filho do homem, realzando a Ma-
jestade do Senhor Jesús (cf. Apc l,12s).
Instruidos por estes precedentes, os cristáos nao hesita-
ram, desde os inicios da Igreja, em fazer uso de velas, lampa-
rinas e candelabros para exprimir a fé e o ardor de sua alma.
Junto ao altar, principalmente por ocasiáo do S. Sacrificio da
Missa, as velas acesas atestam a adoracáo prestada a Deus.
Quando se acendem diante de imagens de santos ou simples-
mente em honra déstes, as velas e lamparinas significam a
atitude de alma congruente, ou seja, veneraeáo (nao adora-
cao) aos amigos de Deus. Junto aos cadáveres ou túmulos dos
defuntos, exprimem o respeito dos vivos perante o misterio
da morte, sobre o qual só Deus tem poder; para os católicos,
equivalem a uma profissáo de fé na imortalidade da alma e na
ressurreicáo dos corpos. Nem mesmo os liberáis se recusam a
exprimir reverencia aos mortos mediante uma lamparina
sempre arden te; é o que se verifica em mais de uma n&qao,
por exemplo, junto ao túmulo do "Soldado desconhecido".
Deve-se mencionar ainda o costume, vigente em familias
católicas, de colocar ñas máos do moribundo uma vela acesa.
Que pode significar isto? — Supce-se que a veia tenha sido
benta na igreja; tornou-se destarte um sacramental, isto é,
objeto que a Santa Igreja seqüestrou do uso profano, pedindo
ao Senhor que todos aqueles que déle usem com fé e devogáo
obtenham gragas para a alma e para o corpo; sobre tal objeto
pesa, por assim dizer. o valor da prece da Igreja, a qual nao
pode deixar de ser agradável a Deus e meritoria para os ho-
mens. Por conseguinte a fé e a devocáo dos fiéis que, diante
da morte, recorrem ao sacramental da vela benta, se revestem
de nova eficacia para impetrar as gracas de um santo desen
lace. De modo semelhante, alias, a agua benta, o pao bento, a
medalha benta (que sao outros tantos sacramentáis...),
usados com piedade, dáo novo esteio á oragáo dos fiéis; a
Santa Igreja mesma como que se empenha de modo especial
juntamente com quem usa dos sacramentáis, por obter efeitos
salu tares.
Vé-se, pois, que o uso de velas nada tem que ver com su-
perstigáo. É claro, porém, que se podem verificar abusos; as
almas simples lhes atribuem as vézes efeitos desproporcionáis;
é ' que se deve de todo modo evitar nos santuarios católicos.
— 30 —
E RRA TA
Pág. 16, 1. 29); em vez de Por ter originado, ler Por se ter ori
ginado.
Pág. 17, 1. 13: em vez de ígreja; a qual ler Igreja, á qual.
Pág. 18, 12: ler "Bibliotheca Sancta".
19: ler de modo nenhum implicando.
22: em vez de incluido, ler incluidos.
32: no fim: ler como os deuterocanónicos.
Pág. 19, 3: ler Nicodemos.
1. 25: ler inutüidade da fé sem as boas obras),
parecía ■ ■ •
Pág. 20, 1. 18 no fim: ler 3/1957, qu. 13.
" 1. 30: ler Salmo 109, 1:
Pág. 22, 1. 10: em vez de Biblia doútrina, ler Biblia, doutrina.
" " 1. 25: em vez de pretendida, ler pretensa.
" 1. 36: em vez de Ihes, ler Ihe.
Pág. 23, 1. 30: em vez de "Cada, ler "codo.
" 1..4 de baixo para cima: em vez de seitas, ler seita.
Pág. 25, 1. 26: em vez de nenhum aborto, ler nenhum o aborto.
1. 7 de baixo para cima: em vez de Ihes, ler Ihe.
Pág. 27, 1. 12: ler historiador cristáo Ensebio de Cesaréia.
" 1. 33/34: após Igreja", ler No séc. 5." o "Decreto Gela-
siano" apresentava semelhante catálogo. Foi, porém,
a partir..."
" " 1. 38: em vez de Jovánia, ler Lovánia.
" 1. 40/41: em vez de 1557 o, ler 1557 e.
Pág. 29, penúltima linha: em vez de com, ler cottio.
Pág. 30, 1. 1: ler Novo Testamento) vé em torno...
" 1. 14: ler para os católicos, equivalem a urna profissdo...
., A REDACÁO
"Pergunte e Responderemos"
Caro amigo, nao há quena nao se ponha a pensar e nao
conceba sem demora importantes problemas ("Afinal que faco
ueste mundo? Qual o sentido da vida presente? Que se lhe
seguirá?"). Nao sufoque nem despreze cssas questóes. Scm luz
sobre tais assunlos ninguém se pode sentir plenamente tranquilo
e feliz.
«PERGÜXTE E RESPONDEREMOS"
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