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Sinopse:

Um esbarrão na rua ou uma festa .Nunca se sabe o local onde


aquele novo grande amigo vai estar ,né ? “Nem sei se éramos felizes” é
um relato ágil como “Sex in The City”,pois reflete sobre a nossa
condição humana ,a partir de nós mesmos e de nossas descobertas de
cada dia :amores ,brigas tolas, quedas ,expectativas ...Quem de nós
não passa,por tudo isso ,todo os dias ?
Um grupo de 8 amigos vai se “esbarrando” por aí e entre tantas
singularidades – modelos ,radialistas,atrizes e até um analista de
sistema – acabam apreendendo que a vida é bem melhor ,quando não
queremos abraçar o mundo com as mãos ...
Nesse primeiro livro, o escritor Óligo Alterdei –ex-viciado em “Sex in
the City” -nos dá um relato engraçado ,único e comovente ás vezes
.Coisas que acontecem com os personagens ,mas que poderiam
acontecer também com você...

Carta de apresentação.

Conversa nossa;um leitor e um escritor :

Oi.
Pronto para embarcar nessa história? 8 amigos que tem suas
vontades e expectativas testadas apreendendo a lidar com outros
pensamentos...Eu mesmo,preciso de doses grandes de paciência para
entender que,nem todo mundo pensa,como eu penso...E você ,também
é assim ?Acho que todos nós...
Quando escrevi esse livro imaginei qual a minha maior
necessidade ...Daí percebi que os amigos eram uma das minhas maiores
riquezas ...
Quando você começar a ler essa história gostaria que percebesse
toda a fragilidade de cada um dos personagens que, se pudessem
fariam mais e errariam menos ,mas que como todo mundo,nem sempre
sabem qual a fórmula ...Ao ler essa história entre 8 amigos ,não julgue
nenhum deles ,pois acho que seria bem mais divertido se você se
sentisse como um deles ..

Bem vindo á: Nem sei,se éramos felizes ...


Sumário

Ato I

.1 Entre luzes e glamour ,há espaço pro vazio


. 2 Thereza ;seja bem vinda
. 3 Nigro; ele veio,sempre calmo
. 4 As cartas que guiam ....
. 5 Também triste ...?Vem Domingo
. 6 Nem sempre o tempo apaga...
. 7 A festa: a vida vira sem lógica ás vezes
. 8 Novas descobertas...
. 9 Angustia sai com chocolate ?
. 10 Toda festa que houver nessa vida
. 11 Mais glamour !!
. 12 Entre ruas longas e frias
. 13 Amigas ,mas não toda hora !!
. 14 Depois de tudo ... o afeto permanece.
. 15 Ìíííííí,não vai dar certo
. 16 Nigro o menino legal
. 17 É festa ?INtaumtá!
. 18 Então, eles se encontram...
. 19 O imprevisto
.20 Conversas de bar

Ato II

21 Uma noite muito longa


22 Daqui pro Cairo é longe ,Senhor ?
23 Falou .Tomou !!
24 A semana que não devia ter acontecido
25 Desculpa irmãozinho
26 Nem sempre é o peão quem cai
27 Intimidades que...
28 Xeque ,Mate !!

ATO III

29 Ao menos tenta,cara...
30 E agora menina ?
31 O que agente realmente quer ?
32 A despedida
33 Nem tudo é Savanah
34 J.C e Savanah
35 Diana e Savanah

Ato 1:

Entre luzes e glamour,há vazio...

Já passava das 22:00 horas .Savanah detestava sair tarde para


festas ,mas já não era de agora que,tinha de curvar-se a esses horários
tardios,para curtir festas,mesmo que tivesse que trabalhar no dia
seguinte com cara de múmia,em vez de Cleópatra.
Pensando alto com o secador no cabelo:
“ Se ainda fosse em “Milano” tudo bem,mas aqui,nessa cidade
roceira.
O telefone toca,toca. Savanah detesta mais do que 3 toques no
telefone e,somente por pirraça ,não vai atender, por saber quem é...
E, sabe que está atrasada ,logo não vai dar o mole de escutar sermão.
A secretária prepara-se para registrar o recado:
Com uma voz sutilmente alterada pelo teor do álcool,Cristal começa o
sermão:
– De: rainha das Terras Claras para... Macaca –filha da
Puta ...são 22:00 h e se você chegar muito atrasada,eu vou sem você
,ok?
Tudo bem,ali não era Milão ,mas em que lugar mais,em pleno
Janeiro,as coisas seriam tão divertidas?
Ela senta se e olha para o espelho de forma irregular, próximo á
cama. Encaixa o sapato da Ellus altíssimo,exatamente como gostava ...
e agradece a Deus por que seu carro vai deixa -la na frente da festa,
sem o inconveniente de ter de andar com algo tão performático.
Pronto,mais alguns retoques na franja lateral e ... sensacional!
Já na porta do museu,onde iría rolar a festa que,pararia a
cidade. A loira fatal com seus cabelos completamente desfiados e
grandes,salta disposta a incomodar a concorrência .Na sua cabeça,
apenas um pensamento: Que aquela maldita R.P tenha colocado meu
nome nessa lista – com um rosto levemente adoçado pela vingança-
,ela pensa que,assim quando Savanah chegar,eu já estarei ofuscando
na pista .
Com o seu melhor Carão,ela retira a franja do rosto e na escada da
entrada da festa,diz :
– Cristal.
Esse era o momento mais delicado para os amantes do glamour
por que,por uma diferença de segundos,sua noitada poderia ser um
fracasso. E,era isso que ela esperava.Não o fracasso ,mas a resposta do
“Hoster“...
- Cristal do que senhora?
Pronto, já estava começando errado.Como Cristal,do que? Alguém
que se chama Cristal,precisa de sobrenome,oras?
-Eu não tenho sobrenome .Cristal é como Highlander ,só pode
haver um.
Nessa altura,seu corpo tremia,pois ficar barrada na porta ,na frente
do toda aquela gente ...
Sem muita disciplina ,o que não era o seu forte. Uma forte voz
se posiciona:
- Savanah Amarillo Cristo. A menina loira é minha
convidada,assim como essa outra .
O R.P procura por seu nome que está bem visível .
– O nome de suas amigas ,senhora ?
Savanah fingi não ouvir,pois detesta gente que,não sabe com quem
fala ...
O R.P continua seu tortuoso questionamento.
Cristal começa a desconfiar que eles fazem isso por
prazer,somente para acabar com a diversão garantida,de inocentes
modelos .
-O nome das senhoras?
Nesse momento ,toda a Sicília incorpora no sangue de Savanah:
- Rapaz!,você não percebe que esses nomes não precisam
estar na lista ? –deslocando a franja com seus dedos finos e
acompanhados de finas pulseiras prateadas – Você prefere que eu
ligue para o dono da festa ?E,você,seja fuzilado pela insolência?
O relações públicas, com raiva nos olhos,consente a entrada.
Savanah não gostava da idéia de humilhação ,mas na vida,haviam os
que haviam nascido para obedecer e os que tinham que man-
dar ...E,definitivamente,ela não gostava de obedecer ...
O olhar de Cristal e Diana brilham,diante daquela iluminação a
laser toda azul e verde-limão,refletidos sob o lago do museu. E, olhando
tudo aquilo elas podiam jurar que ninguém sofria na vida ,ao
menos,não naquela noite...
Savanah com seus olhos questionadores,estranhamente tinham a
impressão de que aquilo já havia acontecido em algum lugar... talvez
em Milão. Isso!Como diriam seus queridos amigos parisienses: dejá vu
.Era uma grande sensação de reversão. Ela só não sabia explicar o
porquê...Quando ia fazer um comentário,sobre a obviedade da festa.
Savanah percebe que suas amigas estão se acabando na pista de
dança com suas músicas: Sexy. África. Latinidad.
Em sua cabeça,ao menos,havia gente bonita. A moça dos longos cabelos
cor de mel dançava de uma forma muito sensual. Savanah gosta disso.
Olhando precisamente para a moça ,ela pensa :
“Até que a festa, não está de toda perdida .
Não havia lugar onde Savanah passasse ,boate que fosse que,os
outros não ficassem impressionados com sua forma de dançar ,sua
forma “Sensuelle” como diriam seus amigos parisienses. A noite estava
começando .A moça de cabelos longos e vestido vermelho sorria
inocentemente quando encontrava os olhares de Savanah; vestida em
sua calça cinza-desconstruida -,blusa fúcsia e um chapéu preto
que,nesse momento,escondia sua franja - o que convenhamos -
deixava-a mais sensual...Pena que,parece que não era só Savanah que
observava a moça de vestido vermelho.Com todas aquelas luzes verdes
e azuis, ela não havia notado a presença de um determinado loiro que a
olhava penetrantemente .
O copo de Gin-Tônica permanecia na mesa, todo azul,mas seus olhos já
se cruzavam com os claros olhos alheios...A moça dos cabelos longos já
olhava Savanah com menos inocência e suas mãos reviravam os
cabelos cacheados .O jogo de olhares aquecia a festa ,tornando a bem
melhor do que Savanah pretendia ...
De um outro lado da festa,Cristal ,já bem altinha de álcool, escuta
a conversa de um cara que, insistia em colocar suas grossas mãos sob
o curto vestido prateado dela que,essa hora,estava adorando,mas sabia
que alguém não iria gostar ...
Como num final de um truque de mágica,alguém desperta
Savanah. Esse alguém,não podia ser ninguém mais do que,Diana,a
sonolenta .
- Olha patroa ,se você não sabe, amanhã tem campanha
fotográfica pra fazer.E, como vou convencer uma modelo a ser
maquiada,se eu pareço uma múmia,né?
Sem muita atenção,Savanah responde :
- Uhmm-rumm...
- Você não vai me dar aquela carona prometida,não?
Com uma voz decidida,ela responde :
- Só quando conseguir o que quero ...
As músicas passavam e algumas pessoas paravam perto de Sav para
dizer:
- Nossa,adorei seu último trabalho com a luz de fundo
verde.E,com o referencial do Man Ray. No que recebiam um:
- ‘brigada.
- Quando você vai se mudar para nossa revista,boneca?
E mais resposta e,até que,bem humoradas:
- Quando você me oferecerem mais Euros do que eu ganho nessa.
E ,olha que,eles me pagam muito bem...
– Ahhh, enjoada !!
– Apenas humilde e trabalhadora.
Quando Savanah foca sua atenção na busca do que ela,realmente
queria .Tarde. Muito tarde .Eles já não estão mais na pista. Quando
Savanah,já estava se acostumando com a idéia ...seus olhos focam uma
moça de vestido vermelho reclinada sob a mesa do bar escuro,sendo
devorada pelo homem loiro .Dentro daquele espaço quente,não parece
ter espaços para ...estranhos .
Com passos precisos e duros. Savanah rasga o chão da festa,
buscando alguém... alguém de vestido prata. Não muito longe, alguém
parece estar curtindo bem a festa ,com o moço das mãos grossas .
- Escuta o menina .O tempo acabou,ok ?
Cristal boceja:
- Íííííí, incorporou a estraga festa?
- Time is over, honey…
Com um olhar perdido no oba-oba da luxúria,Cristal,diz:
- Eu não vou ,pelo menos ,não agora .
Savanah ,ao perceber que, não iria convencer o seu alvo. Resolve
atacar,onde a corda é mais fraca.
-Escuta aqui o menino,agente não se conhece de algum lugar?
Com os olhos abaixados pela timidez ,ele diz:
- Só se for do inferno,onde a sua mãe é hoster.
Com um rosto muito contrariado,ela diz:
- Escuta ,essa aí...está em todas - provocando um falso choque
em Cristal - Não se preocupe,pois quinta ela vai estar no mesmo lugar
que você ,assim como:na sexta ,no sábado e no Domingo,logo se você
não quiser que,eu ligue para o fotógrafo de quem você é assistente e
diga para ele que,você estava acabando com ele nessa festa - ela
acrescenta com um rosto cínico-teatral- . Acho melhor você ir pegar um
copinho d’água pra mim ...
O rapaz não queria parecer dominado,mas o medo foi maior:
- Deu sorte, por que eu tinha que ir embora mesmo ,sua bruxa
!
Savanah ,com uma última dose de bom humor reserva, mexe o nariz
e simula o uso de uma falsa varinha mágica no ar .
- Não falei que era hora de ir embora,bonitinha ?
- Você é tão desagradável quando perde. Aposto que alguém te
rejeitou.
- Ninguém me rejeita ,simplesmente me perde ...Perde a
chance .
E ,se você ainda não sabe. Entrou comigo. Saiu comigo.
Num gesto rápido,ela saca o celular,do tamanho de uma colher de chá
e diz o nome de uma amiga.
Já do outro lado de fora da festa ...bem longe para ser mais preciso.
Diana atende o Cel – sem definições ,ok? -
- Oi ,cê tá ondi ?
– Saindo da festa com Cristal e tem uma vaga a mais no carro
pra você .E você onde está ?
- No ponto de ônibus ,se você seguir a rua por 30 minutos ,vai
me encontrar .
Isso merecia uma gargalhada ,mas Savanah achou
impróprio,esperando,ao menos,o telefone ser desligado.
– Ai,ai,Diana está no ponto de ônibus e... se você não mudar o
seu rostinho,vai fazer companhia pra ela ...
- Eu tenho dinheiro para o táxi,sua bruxa.
Com um olhar já mais aliviado,por agora, Sav,desafia:
- Olha que,eu podia jurar que ninguém havia pagado as suas
bebidas e... pela quantidade que você entornou .Acho isso meio difícil...
Savanah é olhada com um olhar de raiva ,mas sabe que vai passar
.Afinal ,aquela não era a primeira briguinha de ciúme ...
Um carro vai invadindo o espaço,sua cor prata vai contrastando
com o escuro da rua. Luzes fracas são amplamente aumentadas
naquelas condições. Diana pergunta-se como uns têm tanto e outros
tem tão pouco,ao ponto de,depois de uma festa-glamour terem que
ficar esperando o ônibus ,mas logo, ela lembra que esses que têm muito
,são seus amigos e ,a vida torna-se melhor ...
Ao abrir a porta da frente do carro ,Diana
diz :
- OI !
- Não fala com o cãozinho que, ela está de mau-humor .
– O que foi que você aprontou com a Cristal ?
- Eu? Nada ,mas acho que ela devia ser mais grata. Entrou na
festa comigo .Saiu comigo.
Lá do banco de trás,Cristal arremessa uma profecia:
- Tomara que sua vassoura quebre amanhã,quando você estiver
indo pro trabalho.
Parece que,excepcionalmente á aquela hora,ninguém mais estragaria
a noite de Savanah:Nenhum loiro,nenhuma morena, muito menos
Cristal...
Savanah responde,como quem não quer ser escutada,mas fala:
- Se quebrar,eu tiro outra do chapéu. - provocando risos abafados
de Diana - ou TIRO DINHEIRO DA CARTEIRA E PEGO UM TÁXI.
Mais alguns minutos de silêncio no carro e Sav,diz:
–Que horas são amiga?
– Tarde Muito tarde ,1:47 hs da madrugada .
- Ótimo ,ainda dá tempo de ligar para o J.C
Com um olhar brusco ,Diana diz :
- Não !! Ele é insuportável .
- Meu deus ,vocês se conhecem ,somente há três semanas e já
conseguem sentir isso,um pelo outro?
O que Savanah não sabia era que,a razão de tanta antipatia ,era a
divisão de seu amor. Ambos tinham medo de que ela cansa-se deles e
... de alguma forma,o mundo voltasse a ficar cinza .
Coisa que Savanah nunca soube e que nunca demonstrou,como eles
também eram importantes para ela.
- Alô J.C ?
Do outro lado da cidade, um homem abre seu celular desavisado, da
beira do balcão do bar.Com uma voz muito mal feita de sono,tenta
simular ...
- Aaaaaalôo.
-Para de show que, eu sei que você nunca dorme esse hora .
- Oi Sav,pensei que fosse algum cliente inconveniente,desculpa,tá
?.
–Espera um pouquinho J.C...
–Bom querida,basta você atravessar essas árvores e em 5 minutos
está em sua casa. Eu fico por aqui,para caso algum homem mal
intencionado tentar algum coisa...Diana rapidamente encosta seus
dedos nos lábios da amiga que,de certa forma, compreende que falou
um pouco demais...Com um rosto sensual,Diana diz:
- Que deus ponha esse homem no meu caminho,só assim,eu vou
lembrar o que eles fazem...
Com um sorriso ainda incrédulo pela frase escutada,Savanah diz:
- Aí ,meu deus ,só você anima uma noitada ruim ...Tenha uma
boa noite e agente se fala amanhã,ok?
– uhhrumm
Rapidamente Savanah lembra de seu amigo:
– Então J.C por que você não quis sair conosco para aquela
festa? Foi tudo de bom .
Cristal lá de trás grita:
-Mentira dela !!!
J.C assustado,pergunta :
– O que foi que eu escutei?Era a Cris
tal ? Ela não gostou de uma festa?
Poxa,fiz bem de ficar aqui na minha boate “trash”,vendo os meus shows
de drag-queen,de vez em quando,preciso tirar férias do glamour.
Savanah,sem graça,por ter sido descoberta ,diz que o trabalho é
amanhã,por volta das 9:00 hs ...
O carro vai se distanciando e depois de uns 33 minutos, Savanah
resolve estacionar o carro,um pouco antes de casa. Talvez , por ter
morado anos,em caras áreas de Milano ,ache que todo lugar ás 2:23 da
manhã,seja um lugar calmo para dar um passeio,regado a conversas
emocionais...
- Vamos, não fique assim. Acho que podemos conversar um
pouco, né?
Talvez por orgulho ou pirraça,Cristal acrescenta :
- Eu não saio daqui .
– Então, vai dormir no carrinho e acordar para fotografar amanhã
quebrada .O que você prefere ?
- Eu estou de salto 15 !!
- Tira .Nós vamos conversar por um tempo ...
Muito a contra gosto,Cristal desce do carro. Sabia,no íntimo
que,dessa vez ,não havia feito nada errado e estava pronta para que
reconhecessem isso. Descalça,ela vai olhando para o chão,para disfarçar
a irritação.
Milagrosamente Sav resolve admitir que passou um pouco do limite:
– Olha ,de vez em quando,eu tomo reações que não gosto,mas
eu tenho responsabilidades muito grandes,ás vezes,eu ataco,para não
ser atacada,sabe?
–E,escolhe a mim para atacar ,né ?
- Meu Deus ! Você fala como se aquele homem fosse mudar a
sua vida ... como eu mudei !
- Vai me lembrar quantas vezes que, eu era uma viciada em
heroína e que, graças a você ,eu me reergui?
- Quantas vezes você se demonstrar ingrata ...
Isso irrita Cristal de uma tal maneira... por quê,quando ela erra, todo
mundo grita com ela,mas quando os outros erram ,ela não tem coragem
de fazer o mesmo,talvez por educação...por fragilidade. Hoje,ela tinha
decidido que não seria educada...
A brisa da praia vai deixando Savanah mais calma ... mas não
Cristal .
- Sabe qual o seu problema Savanah ?
Antes que o humor inglês pudesse ser ativado,para afirmar sua
superioridade,Savanah escuta.
– Você é insensível com todos .Não sei se por prazer ou por
insegurança. Acho que você não tem educação emocional para qualquer
relacionamento que,não seja profissional–dominante e...
Ela teria continuado,se as lágrimas não a tivessem impedido.
Primeiro Savanah engole ,cada palavra,sentindo às nas víscera, pra
depois dizer :
- Quer saber de uma coisa ? Você ainda é uma menina e quando
você tiver o nível de responsabilidade que eu tenho ...
Cristal aumenta o tom de voz,consideravelmente,até por que,
aquela hora da manhã,na orla da praia ...
- Isso não passa e nunca passará pelo mundo da razão,sua
idiota !!
Savanah sabia ,de alguma maneira,que ela estava certa ,mas não
toleraria as coisas tão fáceis ...Nunca ninguém a havia colocado para
baixo e não seria agora que iriam faze-lo.
Parece que nem a brisa do mar,nem a proximidade de casa estavam
melhorando as coisas ...
Cristal pega uma nota de 1 real ,olha-a fixamente e a arremessa
no chão. Seus pés estão cansados,assim com seus olhos ...
O tempo vai passado por detrás de suas costas ,pelos lados e
continua seu percurso,assim como o vento. As lágrimas de Cristal
incomodam Savanah ; isso a faz,de certa forma,sentir-se melhor, pois
percebe que não é insensível .Cristal olha fixamente outra nota de 1
real e antes de atravessar a rua arremessa na calçada .
O prédio de Savanah está cada vez mais próximo e Cristal sabe que,
dormira na mesma cama,sob os meus lençóis,mas que fará um esforço
tamanho,para que seja um noite tranqüila,apenas um noite a mais.
Depois as mágoas se apagam e a vida prossegue. Ela acha que assim
deveria ser .Que toda essa chateação compensava o mundo de
diversão ,de pessoas legais e glamour...Cristal olha fixamente mais uma
nota de 1 real e a arremessa duas,de uma só vez .
Isso começa a incomodar Savanah que diz:
- Olha ,eu nunca faço isso,mas desculpe-me pela noite de
hoje,ta? Quando você está chateada,isso me entristece e ...
Cristal fingi não escutar,mas cada palavra de desculpa,ecoa no
seu coração .O que não a impede de buscar mais uma nota de 1 real
pela bolsa e quando a mesma é arremessada. Savanah se revolta .
- Você está louca?!O que deu em você ?!
E recebe a resposta louca:
- 1: Ao contrário de você,eu sou generosa.
2: Eu tenho pouca idade,mas já tenho responsabilidade social
3: Esse projeto ,chama-se “ acordando com alegria ;onde vários
trabalhadores chegam mais animados para o trabalho,depois de terem
encontrado pequenas fortunas pelas ruas .Isso prova o tamanho da
minha responsabilidade e prova pra você que,eu ainda tinha o dinheiro
do táxi.
Savanah ainda com dificuldade para falar,pelo riso contido ,diz?
– 5 reais ?!
Isso faz com que ela volta a rir sem controle. Ela abraça Cristal e
espera que o porteiro venha lhe abrir a porta. E,já em casa deita-se no
sofá. Hoje ,era melhor a distância.

Thereza ;
seja bem vinda .

Que horas deveriam ser? Nos lençóis de cetim, ela olha para o lado
e agradece por não ter nenhum estranho,daqueles que te perguntam:
“ Qual é mesmo o seu nome,gatinha ?”, Na sua mesa de café da
manhã...
No seu íntimo, ela sabe que já passou das 7:36 da manhã e que hoje,
Savanah fará apenas fotos para uma modelo nova
.Dia fácil .Humor fácil .
Como uma rainha,o último suspiro e dado sob os lençóis e ela pula
direito para o chuveiro,com muita água fria. Estranhamente naquele dia
,ela havia acordado com disposição...para tudo. Parecia que o dia lhe
traria coisas novas.
Quando ela acordava assim ,apenas algumas músicas podiam tocar
durante seu banho. Então,o rádio é ligado e as primeiras batidas de “ I
am slave 4 you “começam .A água gelada que, jamais encostava nos
cabelos escovados profissionalmente, parece mais agradável hoje .
Savanah canta :
– All the people look at me ,just like a little girl ....Após a
torneira fechada,ela encosta sob a secretária eletrônica e vai
escutando a seqüência de recados,enquanto se veste .Uma voz
facilmente reconhecível, começa ao som da triunfal House Music:
- Sanaaaah!Sou eu Cristal .Está festa está tudo de bom ...Tira a
mão do meu peito seu metro-viado .Pena que você queira enganar os
outros,com essa imagem de mulher culta. Tá perdendo, se o telefone
cair ,são os crédi... tum,tum,tum,tum....

Savanah ri,pois nem brincadeirinhas contra sua disciplina-samurai


iriam tira-la do seu bom humor matinal .Outro recado prossegue:
“Oi Savanah, não sei se você vai lembrar,mas é o cara do “Berinjela”
se você poder,me liga. Beijos.”
Ela ri docemente,pois não sabe se ele vai entrar em sua vida ou... se ela
vai evitar essa problema.
- Savanah,sou eu Diana. Eu não sei se você saiu ontem,mas
hoje é dia de fotografar aquela modelo de cabelos longos .Eu não sabia
se você ia se lembrar. Era ás 9:30 ou 11:00 hs ? Liga pro meu cel
,beijos ...
A toalha já acariciava o seu corpo e ela tentava achar a calcinha
branca. Nessas horas,ela gostaria de ser: casada,submissa e ter uma
empregada,pra perguntar onde estava cada coisa .
Um último recado:
- Alô é do açougue ? – voz de criança facilmente reconhecida –
Então, por que tem uma vaca falando na secretária ?Desliga ,desliga!!
...ki,ki,ki,kiki...
Ela senta-se à cama ,ao seus pés, um salto alto muito vermelho. Ela vê
a bina e redisca o mesmo número.
- Alô bom dia,é da fazendo te-peguei ?
Com uma voz indecisa,a criança responde:
- Não tia .
- Então por que de um burro no telefone?
Antes de desligar,as gargalhadas de Savanah parecem
rasgar o mundo .
Definitivamente,aquele era o seu dia .No carro,o mesmo som do
“Portishhead”,com aquela cantora super gata -Savanah pensa .Suas
lembranças começam a voltar e... vem aquela saudade de Milão,mas ela
havia escolhido. E,se havia alguma coisa que ela já sabia,de alguma
forma,é que nessa grande vida, tudo era um amontoado de
escolhas...
No velho prédio onde funcionava o estúdio, o porteiro olhava para o
nada,como se algum dia,as coisas fossem mudar...
– Bom dia ,Zé!
O porteiro sai do transe e responde com um voz cordial:
– Bom dia, Dona Savanah. Eles já estão lá em cima ,mas com
uma moça diferente hoje .
Isso era o suficiente para que ela entendesse tudo .
Subindo os primeiros lances de escada,ela diz:
– Bom dia! Estavam esperando por mim?Já disse que existem
coisas que não dependem de mim... Por favor Carlos,escove os cabelos
de Cláudia,para que comecemos com algo mais clássico. Savanah busca
pela modelo no estúdio:
- Olá Claúdia .Tudo bom ?Nervosa ?
- Ai,senhora Savanah,eu nunca fiz isso e...
J.C vem de mansinho,pois sabe que,geralmente Savanah acorda de
mau-humor...Bem dócil,ele pergunta:
– Você trouxe o salto alto para a Cláudia usar com esse vestido?
Savanah ,até lembra-se do pedido,mas responde:
–Eu pensei que você, fosse o meu produtor de moda ...
– Mas você me disse que ia trazer !!
Sem nem mesmo olhar em seus olhos ,ela diz :
– Pois é ,trabalhar com incompetente .Dá nisso .
J.C sente-se tão injustiçado que,resolve revidar,mesmo achando
arriscado para o humor matinal da patroa:
- Pois é Savanah ,errar é humano !
Savanah o espanta com a mão,mas J.C arremessa:
- Mas culpar os outros é divino !!
– J.C, você já sabe como se trabalha comigo,se você acha que
eu sou aquelas produtoras “floscia*” que você trabalhava em
Milão,morra!
J.C retira-se de cena,mas resmunga alto o suficiente ...
– Ei, grossenza *!!
Passando a mão nos cabelos,Savanah observa suas possibilidades e
diz:
– Bom,Claúdia fique parada aqui no fundo branco. Carlos Ajeite
o cabelo dela mais pra frente - com uma certe irritação –Toma ,meus
saltos para completar a imagem. Diana ,mais batom dourado nos lábios
dela.

 floscia = displecencia ,sem controle


 Grosseza = grosseria.

Parecia ser um dia simples aquele e se tudo corresse bem,ela, até


iria para a boate depois. Mas rápido com uma notícia ruim, ela lembra
que hoje era dia de leilão na sua galeria favorita de fotografia urbana.
Savanah,apenas diz :
– Por favor ,depois das 14:00 h quero estar na rua .
As fotos vão acontecendo ,primeiro com timidez ,depois com mais
fluxo. Savanah liga o som e coloca um disco de Daniela Mercury,se
havia alguma cantora brasileira,essa era Daniela que fazia o ato de
escutar Axé,possível...
As horas passam e Savanah apenas pensa nas fotos que vai
ganhar no leilão.
Algumas horas mais tarde,seu carro vai ganhando as ruas na
direção do leilão. Grande Sorte,última vaga perto da galeria e
era dela .Ela sabia que aquele dia era especial...
Com uma dessas temperaturas que aquecem e acariciam
nossos rostos,Savanah vai observando as paredes de vidro da
galeria. Uma mulher de cabelos brancos está há alguns passos
seus. Savanah a observa. Como alguém pode ser tão segura para
poder usar Jeans ,naquela idade,blusa vermelha transpassada e
um pano que Savanah só havia visto no Egito,com sua
temperaturas variantes ...
Na mudança d’um segundo,ela observa um loiro muito gostoso
entrar na galeria;desses que parecem acordar de terno e
desconhecer a palavra instabilidade finan-
ceira. Savanah sempre havia amado homens poderosos que
sabem qual o lugar de sua mulher. Não,nada de homem que
deixava recadinho afetuoso na sua Séc Eletrônica; para isso ela
tinha papai. Sem perceber,ela já se encontrava na galeria. No
salão de vendas, estranhamente seu loiro parecia ter sumido
.Talvez,a parte mais interessante de um leilão de fotos,fosse as
pessoas que,ali se encontravam. Savanah tinha certeza de
que,ali, ninguém culparia o neo-liberalismo por seu emprego
está uma merda .Ninguém diria que,nos anos 60 trabalhava-se
muito menos e ganhava-se muito mais...Não! Definitivamente
,todos ali haviam visto
“ Les intimeté “,de Cherreau e haviam ,como ela,amado. Os
garçons vão distribuindo água tônica e prosseco. Savanah pensa
que, num dia tão leve ,não havia justificativa para se beber outra
coisa que não,água
tônica ...Ao longe ,o loiro gostoso parece não se desligar do
trabalho. Ele a olha de supetão e sorri com quintas intenções.
Savanah... não precisa nem dizer que, ama tudo: dia leve+foda
Express+ boate. Meu deus ,alguém desejaria algo mais?
Uma voz amigável convida os clientes a se posicionarem para
começar o “jogo”.Anunciado o primeiro
lote : fotografia de moda .
Leiloeiro,diz:
- Senhoras e senhores,a primeira foto da noite é um dos
últimos trabalhos de Helmut Newton, onde o artista usa o corpo
da mulher para mostrar as condições eróticas latentes do
eterno comportamento da conquista masculina. Começaremos
com um lance de 37mil.
Ouvi 38 ?
Savanah em seus canto,murmura :
–Detesto vulgaridade disfarçada de Porn-Chic .
Foi tarde .
Atrás de Savanah ,uma voz quase sussurrante complementa :
– Amém.
Para sua surpresa,a senhora do “Egito” havia sentado
atrás. Savanah ri do comentário espirituoso.
Leiloeiro:
- A segunda foto da noite é um trabalho de Richard
Avedon que,com sua busca incessante por uma nova estética,buscava
através de suas lentes trazer mais que o belo...Comecemos por 35 mil
.tenho 36 mil ?
Savanah sempre amara as fotografias desse homem .Uma vez, em
um supermercado em N.Y,ela o vira comprando - ás 2:18 a.m - alguns
legumes,uma garrafa de água tônica e uma revista, da qual ela não se
lembrava ; ficou observando suas compras,mas não teve coragem de
perguntar-lhe nada .
“ Esse foi cedo ,pensa ela :”
Leiloeiro:
– Tenho 36.Tenho 37 mil ?
Savanah se manifesta. A contra gosto ,o leiloeiro anuncia mais
100 reais no lance.
Savanah não puxava dinheiro de árvore. E, achava que a parte
mais interessante,era a competição.
Leiloeiro:
- Tenho 37.100 .Tenho 38 mil ?
Savanah diz :
Aqui ! 37,200.
Provocando um leve riso da moça do Egito. Ironicamente ,a foto
é vendida por aqueles cem reais.
Leiloeiro continua :
- Nessa série sobre Cuba: Miguel Rio Branco busca nos fazer
lembrar do lúdico no espaço .Da alegria de sonhar ,mesmo que
estejamos acordados no cotidiano. Começaremos com 15 mil .Ouvi 16
mil ?
O loiro gostoso parece ter bom gosto .Com uma voz forte, porém
forçada pela imposição entre todos ali presentes,ele diz :
– 16.500.
Não ! Aquela fotografia linda da bicicleta,era dela .E ,ela iria lutar
por ela.
– 16.600 ,aqui.
Infelizmente parece que a brincadeira do + 100, não ia rolar com seu
amante de final de tarde. Ele a olha e dá a entender que aquela foto
pode ser dela.
Loiro-gostoso:
– 19 .000 mil ,aqui.
Savanah não ia deixar um homem,nem um homem,gostoso, tomar o
que era seu. Perguntado-se quantas bolsas ela iria ter que rodar
depois,Savanah anuncia:
– 19.100,aqui.
O leiloeiro parece querer falar alguma coisa sobre aqueles lances,mas
a ética do trabalho não o deixava .
O loiro dá o golpe fatal :
– 22.000,aqui
Savanah olha para cima e pensa:
“ Tudo bem ,não havia espaço para um fotografia tão grande em
minha casa...”
E,naquele momento, o loiro-gostoso vira um grande frango assado
da Angola,pronto para ao despacho...
As fotos vão sendo anunciadas,mas Savanah perdeu o interesse
em comprar ;na verdade,nunca ninguém havia tido tempo de lhe
ensinar que,a vida é cíclica e,ás vezes, muitas vezes,agente perde
também...
O leiloeiro diz :
- Ante penúltima fotografia leiloada desse bloco hoje,pertence a
uma fotógrafa francesa .Conhecida por suas fotografias densas,no
sentido de poéticas Caroline Champetier parece desconhecer os
limites,entre o óbvio e o poético...
Também conhecida por colaborar nos filmes de André Techinè.
Bom,comecemos com
8.000 mil .Tenho 9.000?
Savanah espera os afobados demonstrarem suas economias de
colchão,para depois dar o bote. O “frango de Angola pronto-para-o-
despacho” inflaciona o lance. Provocando mais irritações em Sav.
Loiro-gostoso:
- Eu ! 12,000.
Parece que o cara não havia percebido que Sav não buscava
presentinhos...
Savanah oferta com uma terrível cara de mau-humor:
- 12.100 !
O que ela não esperava era pelo repentino interesse na senhora do
Cairo.
- Eu! 13.00 mil
Leiloeiro:
- Tenho 13.000.Tenho 14.000 ?
Savanah sabe que a quer .E,não quer perder.
Eu disse 14.100
A senhora do Cairo não dá moleza :
- Eu disse 15.000 mil.
– tenho 15.000.Tenho 16.000?
Savanah diz :
– 15.100.
Nesse instante uma moça de tailleur rosa-claro – balançando suas
milhões de pulseiras – tenta convencer seu marido,para ganhar o sinal
verde de oferta ...Então:
– 16.000.Eu falei 16.000 !!
Savanah começa a defender os caçadores de javali.
A moça do Cairo não parece ter entrado para perder:
–Eu disse 17.000 mil
Então,Savanah resolve provocar:
– Eu disse 17.001.
O leiloeiro a olha com um olhar mortal,mas... continua.
-Eu escutei 17.001.Tenho 18.000 ?
A moça do Cairo parece ter gostado da brincadeira ,pois ...
- Eu ! 17.002
Savanah não olha para trás,mas sabe que uma nova amiga de
infância está nascendo,porém diz:
- 17.003
Levando os presentes ao riso abafado .Assim mesmo o leiloeiro diz :
– Senhoras!! Tenho 18 .000 ?
A moça do tailleur rosa ,acompanhada do marido,ameaça chorar.
Diante de tal cena, o marido consente:
–Eu disse 18.000 !
Savanah,realmente não entende,como um javali conseguiu entrar
num tailleur rosa...Com uma voz impactante ,Savanah rasga as
expectativas da sala :
–EU,disse 23.000.
O leiloeiro á contra gosto sorri para Savanah e diz :
- Vendido para aquela senhora.
Uns 30 minutos depois,Savanah encontra-se sentada numa mesa
de aço escovado ,típicas de galeria .Savanah olha para o nada e percebe
que o loiro–de-despacho está vindo na sua direção. O pior,depois de ter
perdido o jogo para ele,vai ter que escutar que o gostosão também
estudou em N.Y e que chama-se Maurício,pros íntimos,apenas
mauricinho. Cada vez mais próximo,o Gostosão-despacho-Mauricinho
vem chegando com seu sorriso Colgate. Savanah começa a perguntar-
se por que toda a mesa tem que ter 2 lugares. Faltando dois passos
para o inevitável encontro,alguém toma o lugar e para o alívio de Sav é
alguém agradável ...
– Apesar de você ter tomado a “minha! Champetier”,eu vou te
salvar do loiro-idiota,diz a senhora do Cairo.
Savanah a olha docemente e pergunta:
- Muito obrigado .Qual o seu nome?
- Thereza e você?
- Savanah Amarillo Cristo,encantada.
O loiro mauricinho ronda a mesa, como um predador ronda a
presa,na esperança de que o medo a faça correr do seu
esconderijo,para a liberdade das garras alheias; definitivamente
daquela mesa ela não sairia ,até porque, não se troca um novo-amigo-
de-infância,por uma foda. Savanah já era bem grandinha para saber
que depois do desejo consumado: nada sobra.
Savanah questiona:
- Então,você também é uma admiradora de Techiné e de suas
fotógrafas?
Tereza responde:
– Contando ,talvez não pareça ,mas eu o assisti - seus primeiros
filmes - ainda mesmo em Paris. Os anos 90 chegaram e com eles “ As
rosas selvagens “– Savanah a interrompe com um suspiro,indicando ser
um dos seus preferidos -.
- Sabe que uma vez,eu o vi comprando legumes num
supermercado ,mas não tive coragem de lhe confessar como eu havia
amado “ Les roseaux sauvage* ? ”
Savanah fascinada, a pergunta ,quase afirmando:
– Meu deus ,por que a vergonha nos impede de fazer coisas
maravilhosas ?
–O medo da rejeição ,talvez ?,completa a nova amiga.
Savanah a olha com encanto por conversar sobre temas mais
íntimos que : As novas bolsas
Louis Vuitton ou como um corte de cabelo pode mudar o nosso humor
...
Savanah complementa:
– Engraçado que,com 17 anos eu conversava com qualquer
estranho,indo até mesmo para sua casa,se ele me convidasse.
E.. hoje ...
Tereza maliciosamente complementa:
– Hoje,você imagina com que tipo psicológico está lidando, pela
roupa que usa,que tipo de mal poderia lhe fazer,mesmo usando terno e
trabalhando para uma multinacional,né ?
Savanah com seus lábios no copo,confirma com os olhos, apenas
rindo e concordando.
– Thereza você gostaria de jantar lá em casa mais tarde ?
Eu te prometo que não há nenhum aparelho de tortura.
– Adoraria ,mas ,dessa vez estou por aqui até as 23:00 hs,
depois aeroporto. Olha,aqui está o meu cartão,prometa que vai me
escrever e quando voltar,terei certeza que terei uma nova amiga por
aqui,ok ?
- Ok.

Nigro;Ele veio ...sempre calmo

Ele veio como sempre,seus olhos dramáticos brilhantes,te cativava


num instante .Seu nome era Nigro,o menino dos cabelos claros e traços
finos. Seu olhos falavam mais do que todo o seu rosto junto,seus passos
gingados,porém moderados falavam muito de si. Seu velho jeito de ser:
blusa social branca + jeans ou social preta. Isso incomodava Savanah
,mas mesmo assim, ela parecia gostar do moço analista de sistemas.
Savanah mal sabia o que era isso ,na verdade,quase ninguém da turma
sabia o que era isso,pelo menos,até ele explicar cada passo
...acompanhado do seu velho wisky com um pouco a menos do que a
dose,como ele mesmo dizia:
- pra fazer menos mal.
Entre acontecimentos e reviravoltas que essa vida dá,ninguém
conhecia muito bem Nigro,apenas uma velha namorada de infância que
parecia entende- lo em instantes ...Savanah dizia que, a mesma, havia
feito um curso de interpretação de olhos azuis expressivos e que,após
esse curso,você poderia entender pessoas como ele.
Ele costumava se expressar com opiniões de jornal ou,ao menos,
nunca pareceu querer agredir ninguém com opiniões de
impacto,apenas respondia o que lhe era perguntado e parecia analisar
todo o resto do mundo,através daqueles olhos. Uma vez quando foi
perguntado qual a sua opinião sobre os homoeróticos – pessoas que
gostam do mesmo sexo - ,como Savanah havia apreendido
recentemente -,pareceu indiferente a precisar ter uma opinião sobre
o assunto.
Pensando mais,disse que não via problema ;opinião facilmente mudada
pela sua namorada de infância,da qual nunca ninguém havia
lembrando,se quer o nome,a não ser,no horário de trabalho. Era
impressionante como sua opinião mudava quando era pressionado.
E,isso irritava Savanah,a menina quase gênio.
Com uma grande alegria nos olhos,a face negra-iluminada de
Savanah expandia-se ... seus olhos parecia ter encontrado algo ou
alguém que contrastava com o restaurante moderno e silêncio–
Europa. Alguma coisa que a miopia de Diana não via ou não queria ver
...
Savanah comenta com uma leve felicidade nos olhos:
– Meu deus, é ele o menino estranho –simpático de que eu te falei
Diana .
Diana questiona :
– Onde,perto da parede branca -absoluta ?Desculpa,mas eu só
vejo branco . Essa era uma das características de Diana,o deboche
antes de tudo...
Com um olhar incrédulo e debochado ,Savanah comenta:
- Ìíííí,parece que depois daquelas cabines-bronzeadoras, você
nunca mais foi a mesma ,hein?
– Pois é,vou mudar meu nome para,maravilha do Caribe. O que
você acha de Inocência do Caribe...? Eu li numa revista feminina que os
homens gostam desse ar: perdida na selva .
Não importava o quão deprimida Savanah pudesse estar,ela sabia
daquela relação fantástica chamada amizade .
– Não sua tola,o menino que eu conheço, aquele que é namorado
da minha ex-assistente de produção. Não lembra do Nigro?
Nessa meia conversa ele chega:
Savanah diz:
– Oi menino bonito. Como você está ?
Se havia algo que Diana não gostava,era de estranhos. E...
estranhos que tinham intimidade excessiva com SUA melhor amiga,pior
...

As cartas que guiam ...

Na penúltima carta que havia chegado no Cairo. Havia muitas


mágoas,muitos ressentimentos e muitos questionamentos para
alguém,tão jovem como Savanah; ao menos,era isso que Thereza, sua
amiga-mãe achava.
Contrariada,Thereza olha para a janela á fora,onde muitas
mulheres andam escondidas,através de suas vestes .E... lembra do
passado,quando tinha medo da velhice e achava que as novidades
estavam reservadas somente a juventude. A primeira imagem que vem
á memória é a expectativa sobre a vida .A certeza de que tudo daria
certo– afinal,tudo estava começando- .Ela sorri ,não com saudades,mas
com um encanto;encanto das primeiras conversações em francês com
outros artistas que,como ela,não achavam ridícula a idéia de sonhar ...
O papel-resposta de Savanah continua sobre a mesa mais baixa,
junto do recipiente com pétalas de rosas e água gelada.
Seus olhos parecem querer atravessar o tempo e chegar até Savanah.
Ela,Thereza, sempre fora uma amante das palavras,da força que tinham
e que achava que poderiam mudar o mundo. Ela ri...por que de alguma
forma ,ainda acredita nisso. Seus cabelos longos e brancos,exalam a
certeza de que a vida não pára e que,esses questionamentos intensos
que nós fazemos é,de alguma forma,uma vontade de se tornar
melhor,mesmo que ao certo,
não saibamos como ...O vento muda a ordem das pétalas e desperta a
atenção de Thereza que,sem perceber ,havia deixado a noite
chegar.Ela segura a caneta e risca a primeira letra .
“ Brilhante e pequena Savanah .O tempo passou e a caneta continua
sob os meus dedos ,o que indica que você não ficará sem
resposta .Sabe que essa carta tocou –me ? Espero que minhas cartas
nunca pareçam um certo estilo ...sábio,pois enquanto viva estiver,
quero apenas trocar informações ...
Li seus questionamentos sobre as pessoas que te cercam e
achei divertido saber sobre Cristal e você ;torço para que vocês duas
consigam se entender,apesar de ver os relacionamentos com um pouco
mais de ...liberdade .Sabe,já me questionei sobre os mesmos e se eles
não funcionam melhor,apenas pela distância.
Ainda acredito que, por tudo o que passei ,tenha apreendido a respeitar
os desejos alheios.
Quando você me contou sobre as suas decepções e por tudo o que
havia abdicado,para chegar onde havia chegado e que, as pessoas que
você mais amava, não conseguiam compreender isso ou lhe apoiar
...Sabe, quando eu contei para minha mãe que seria uma cantora de
ópera em Paris e emocionaria a muitos cantando “How far this place “ -
com os olhos presos no passado ,ela continua - me lembro apenas de
um riso abafado ...amargo que,levei comigo por muitos anos .Mas
apreendi a perdoar,pois o medo da perda de quem amamos,para
terras distantes,geram reações chatas pra esquecer. Ainda não te disse
como me alegra a chegada de tuas cartas. Em vários lugares por que
passei ,poucas eram as pessoas que tinham paciência para escrever
cartas ...Eu as amo.
Brilhante e pequena Savanah sua vida começa,agora.
Quando apenas você responde pelos seus: medos,desejos e vontades.
Vá em frente,talvez sua mãe não entenda que cidades diferentes,não
diminuem o amor,mas – com um rosto reflexivo acrescenta –É a nossa
vida.
Seus planos,hoje confusos e estranhos; amanhã serão conquistas.
Amanhã outros,no começo,seguirão seus passos como eu amava Maria
Callas ... Acho que de tudo que vivi,não poderia esquecer de um único
amigo ,espero que não fique com ciúmes. Ele me ajudou quando achava
que todas as ruas levavam ao mesmo lugar e ... que só a tristeza podia
me consolar .Acho que ele ainda está vivo,apesar de morar um pouco
longe daqui,nada que você não possa recorrer quando precisar...
Foi ele quem ficou ao meu lado quando precisei. E,acho que só Deus
tem esse poder ,Sav. Quando o medo chegar, feche os olhos e reze,
pois há uma magia muito grande nisso ...
No mais ,estou aqui no Cairo ,um pouco longe ,mas meu afeto
permanece .

Beijos da sua Amiga .


Thereza

Também triste ? Vem ,Domingo....

Ela havia sempre,sempre,detestado os domingos,pois não conseguia


lembrar de nada que rimasse com domingo e fosse divertido. No seu
apartamento, ela pega-se rindo ao som da voz de Gal Costa
que,cantava maravilhosamente bem naquele acústico. Tudo bem, era
um disco velho e ,provavelmente a Vogue não o havia colocado na sua
lista “ compre se você for antenada”,mas dana-se ,realmente dana-se
por que na sua casa ... pose de mulher madura,era arremessada na
privada. Ela pára e pensa que uma palavra ou objeto tão feio,não era o
mais aplicável para uma moça fina como ela,definitivamente a
armadura de mulher madura ...vivia.
Ela olha á volta ,coça a cabeça e jura por Deus que não vai tornar-
se uma N.E.R.Ds dessas que,passa seus dias no computador,nem uma
burguesa que assiste tv à cabo,depois de um dia cansativo de trabalho
e acha que a vida é só isso. Ela sabe que a vida é mais,apesar de,nos
últimos meses de sua vida, apontar apenas para o ordinário .Ela bufa e
com um dedo aperta a tecla do computador... mais uma viagem ao
mundinho ilusionário tecnológico da Internet .
Caminha pelas paredes vermelhas,até chegar ao esconderijo do
sorvete: o congelador .Ela olha mais uma vez para a barriga e diz :
– Vá, sua porca,mais um 20 ou 30 quilos .E, você pode acordar
num açougue ;confundida com uma vaca ...
Como era bom poder falar sozinha sem que, ninguém acha-se
estranho. Olhando para trás ;havia valido a pena ter estudado tanto
,para ter seu lugar nesse mundo-cão. Tinha valido a pena, ter evitado
um pouco as boates,as festas e bares. Agora ,ela era Savanah Amarillo
Cristo. Ela olha para o sorvete,assim como uma fatia de torta que havia
comprado na noite anterior,definitivamente os insultos não freariam sua
vontade de comer doces ,muitos doces ...
Sentada, comendo sorvete Napolitano. Ela olha para janela com o seu
insistente dia acinzentado e confronta o computador.É ,parece que o
computador daria -lhe a melhor diversão para um domingo como
aquele, até por que,onde mais encontrar um papo sacana e sem
compromisso?
Bom,com um rosto duvidoso,ela arremessa-se no computador. Nos
primeiros segundos, já encontra frases tipo :
– Poxa loirinha ,eu sou um cara de 1,80 cm e tenho 23 cm
...Você quer ser minha amiga ?
Savanah bate na própria testa e sente vontade de intrometer –se para
“salvar “ a pobre loirinha, de tanta besteira .Ela ri e troca de sala
.Numa lista de opções,todas parecem idiotas, com a exceção de : 40 e
decepcionados... se havia algo que encantava Savanah; eram homens
que conseguiam saber mais do que ela e,geralmente nessa salas
havia alguns ....Na tela ela digita : seu apelido e idade ...aparecendo :
BETHANIA SOFRIDA 40-A. .ENTRA NA SALA :
Em uns 30 segundos umas três pessoas demonstram interesse em
conversar com ela ,mas ...,até Domingos fazer uma comentário
gostoso:
DOMINGOS ,MULHER NEM PERFEITA E COZINHEIRA ,DIZ:

– Deve ter sido uma glória ter sido registrada assim ,né ?

Bethânia sofrida 40 a ,diz :

– Pois é ,papai adorava a canção de Vinicius : “ Foste na vida o


que tinha que ser ...”
– Putz! Nem fala nessa .Minha mulher detestava Bethânia por
que ela dizia que Bethânia era uma frustrada. Acho que mais burra que
ela ,só o Chacrinha.
Bethânia sofrida ,diz:
- Sua ex-mulher além de burra ,era tão insensível assim?
Domingos ,mulher nem perfeita e cozinheira ,diz :
- Ela nunca foi muita experta para música ,sabe? O que para
mim,era a morte - do outro lado do computador ,ele pára e após uns
segundos ... ,complementa:
Mas no começo,para mim era a melhor mulher do mundo; nem
sei,onde tudo foi parar ...
Bethânia-40anos, Sofrida ,diz:
-Se você não chamasse-se Domingo que, não rima com nada
divertido,eu até te daria o meu telefone para nós conversarmos ,mas
parece que seu pai não foi tão experto assim ,né?
Domingo ,mulher nem perfeita e cozinheira diz :
- Tudo bem,atualmente,a única mulher que eu admiro é a
minha faxineira ,isso por que ela não fala muito,limpa todo o meu
apartamento e vai embora .
Bethânia Sofrida rindo,diz :
- Olha,meu nome é Savanah e ,quem dera, eu chegasse perto
de Bethânia,mas eu sou lésbica .Será que isso me deixa perto de sua
faxineira?
Domingos ,mulher nem perfeita e cozinheira ,diz :
-Ai meu deus,só você,para me fazer rir,talvez ,vocês sejam
minhas novas perfeitas companheiras e assim eu consiga não sofrer
mais de amor... Sabe,pena que eu não goste de morder o
travesseiro,pois até gay, eu pensei em me tornar ...
Do outro lado da tela ,Savanah passa mal ... de rir .Ele poderia
chamar-se Domingos ,como o pior dia da semana ,mas era divertido.
Bethânia sofrida ,diz :
-Olha ,são 7:26 hs e eu não tenho nada para fazer .Que tal a
gente sair para um restaurante Birmanes que eu conheço?A lésbica
paga.
Domingos mulher nem perfeita... diz:
- Eu vou ,mas você deve me prometer que a gente não vai falar
de mulher ..., ok ?
Bethânia sofrida escreve na tela do computador :
– Ok . 8565.0061.”
Em alguns instantes o telefone toca, Savanah agradece com fé, por
ter dormido de toca .Em 25 minutos ela encontra-se na mesa do
restaurante,também vermelho com pequenos objetos dourados sob a
mesa.
Ele entra no restaurante como um turista que, está na cidade
pela primeira vez; torce no seu íntimo que,naquele restaurante não
sirvam carne de cachorro com algum nome em birmanes ou seja lá de
onde for...
Com seu cabelo brilhante, num corte infantil -,parecia que,por
uma questão de praticidade,eles e seus filhos haviam cortados todos
juntos, no mesmo dia - ,mas mesmo assim ,ele ficava uma gracinha.
Essa era a opinião de Savanah que o vira entrar em sua vida e mais
tarde conhecera o amigo intimamente,assim como, reconhecera-o pela
melodia assobiada,naquele dia. Ele pára educadamente pergunta por
alguém – Savanah se diverte com seu desnorteamento - ,mas não
obtém resposta. Savanah não havia identificado-se ,pois era uma
especialista em identificar chatos á distância .Ela começa a encantar-se
por aquele homem comum e quando a distância é quase inevitável ,ela
esforça-se ao máximo, para lembrar como se assobiava e declama :
“ Por que tu me chegaste ... E tuas mãos foram minhas com calma...”
Ele a olha ,a princípio ,com estranhamento e depois com um sorriso
Jovial, Domingos ,diz:
—Poxa ,para uma lésbica você é bonitona ...
Savanah responde com bom humor:
– Esqueci a minha pochete em casa ...
Eles riem e começam a conversar e conversar ,até serem interrompidos
pelo garçon com os cardápios. Savanah agradece e pede uma entrada:
– Para mim um Samossa .
Ele a olha com indecisão e pergunta:
– O que aqui, não leva carne de cachorro ou de macaco ?
Savanah percebe que algo de especial está acontecendo naquela
mesa. Tomando as rédeas ,ela diz :
– Traga para ele um Chapati ,mas cuidado com a fritura ,pois
depois de alguns segundos eles perdem o sabor.
O garçon concorda e se retira .
Domingos com seus olhos lindos ,pergunta :
– Como você entende da comida deles ?
– Costumo visitar países asiáticos desde a maior idade .
– Sua mãe é aeromoça ?
– Próximo ,sou filha de um diplomata e de uma escritora
ocupada demais ...
—Nossa ,você faz o que ?
– Sou stilysh .
–Se tá me xingando ?
Savanah olha com um sorriso leve e acrescenta.
- Desculpe,produtora de moda, melhor assim ?
- Bom, eu sou locutor de rádio e a partir de agora ,você deve me
prometer que nunca mais ,ás sextas as 22:00 hs você vai deixar de me
escutar na 108,1.Ok?
Ela ,realmente está encantada com um homem tão fino.
Domingos com um grande sorriso diz :
– Você sabe como começa a oração matinal polonesa ortodoxa ?
-- Savanah com muito interesse ,diz
Não .
Domingos rindo muito ,diz .
– Obrigado Meu Deus ,por que eu não sou um cachorro ,uma
mulher e nem um bandido...
Savanah o olha ,levemente contrariada e ... começa a questionar-
se se o lesbianismo não é realmente uma necessidade contemporânea
,mesmo assim resolve rebater no bom humor :
– Sabe como é a oração dos ortodoxos Tailandeses ?
Ainda rindo,Domingos nega :
Com um gesto típico de dança asiática,Savanah começa
a performace.
– Querido deus ,que a sua fúria caía sob a cabeça de todo
machão filho da puta que ,ainda acha que lugar de mulher é na cozinha
.
Com seus olhos ternos ,ele diz .
Tenho certeza de que não é assim .
Já menos contrariada ela complementa :
– É sim ,sou uma árdua praticante da filosofia Tai .
Domingos ainda sob o efeito do piada ,diz :
– Da qual você nem sabe o nome ,né ?
Só assim ,ela resolve levar na brincadeira ...
– O importante é ter fé e praticar .
Naquele restaurante vermelho ,bem ao gosto de Savana . Um
homem e uma mulher :Sorriem. Olham-se nos olhos,mas
estranhamente não parecem interessados no óbvio..De alguma maneira
,eles sabem que existe algo mais forte que deve ser preservado.
Quando Savanah,diz:
— Sabe ,você é todo lindinho ,mas acho que existe algo que não
vai nessa direção...
Domingos a olha com um rosto estranho,como se um pacto
houvesse sido quebrado. Agora, existe o cheiro de sexo na mesa.
E,definitivamente ele não quer mais dor em sua vida ...
Com os olhos contrariados ,Domingos, pergunta .
– Você não é lésbica ?
Savanah o olha com o seu olhar mais gatinha–Dior e diz:
– Eu sou uma lésbica... liberal,mas não se preocupe,pois o que eu
queria dizer era que você era todo lindinho tipo: amigo pros momentos
difíceis ; inclusive parece que você está em um deles e a sua gatinha
Dior está aqui ...se você quiser falar .
- Você promete que vai ter paciência ?
Savanah o olha com bom humor e diz:
–Conta só as partes principais, tá ?
– Ai ,meu deus ! Você já amou ? - com os olhos precisos -, mas ,ao
ponto de não se importar com mais nada?
Indecisa,ela olha para o saleiro e diz:
– Acho que não ... pelo menos ,não sei .
Domingos continua :
– Ao ponto de, querer adivinhar os pensamentos dela ,somente
para deixa-la mais feliz ?
Ele parecia concentrado ,como se cada palavra fosse uma jóia e
cada jóia tivesse que ser contemplada.
– Eu a conheci por intermédio de uma amiga que ,tinha por
passatempo principal, introduzir amigos em comum ,na esperança de
criar novos grandes casais .
Savanah não consegue se concentrar por tempo demais e diz :
- Tem certeza que,ela não era uma psicanalista de casais, com
muita visão?...
Domingos não entende a piada e prossegue:
– Ela me costumava dizer que, se o amor havia tirado féria no
seu nascimento que ,ao menos, outros pudessem conhece-lo. Eu a
conheci. E,para mim ... ela era a razão da vida. Com ela ,vi o meu
pequeno caminhar .Vimos a queda do Fernando Collor de Mello; e
vibramos por acreditar que por ali,um novo país estava para começar ...
Nessa hora ,todas as armaduras de Savanah caiam e de tão
encantada,ela começava a questionar-se, se um dia sua vida também
seria tão fácil o suficiente para acreditar naquela força misteriosa que
era capaz de mover montanhas....
— Quando foi que tudo acabou ,lindinho ?
— Sabe ,Savanah... um relacionamento não acaba assim...Ele é
progressivamente destruído pelas mentiras e egoísmos ,quando vemos
nossas cartas abertas. Quando tentam nos convencer de que é
proteção... Nós,até dos amigos nos afastamos por achar que,dessa
forma ,as coisas vão melhorar ...Mas nada adianta :quando o respeito
acaba,tudo acaba .Quando começamos a achar que, viver para o
outro, é tolice. Aí,nossos amigos já estão longe...Me prometa que, se eu
me apaixonar novamente,você vai e dizer?
Savanah o olha e nesse olhar todo o afeto,responde.
Domingos percebe algo novo naquele espaço:
- Olha ! ,até na Birmânia eles reconhecem a boa música de Milles
Davis ?
– É ele ?
- Reconheço dele, até as primeiros notas ...
Domingos pergunta :
– Qual o seu mês favorito?
- Setembro. Por que ?
- Aí ,sei lá !
— Tenho certeza que há uma razão. Lembre-se,não tenho pressa
.
Savanah volta a olhar seu amigo com encanto:
– Bom ,acho que é um mês onde o frio percebe que não é bem
vindo,mas,ainda não há aquele calor que, nos faz querer alcançar o
mundo com as pernas ...Setembro chove sob nossas cabeças e nos faz
despertar para o dia.Mesmo que nossos olhos teimosos cismem em
cultivar o passado...infértil e saudoso .Amo Setembro por suas
tardes,inacreditavelmente lentas que nos faz querer, transformar nos
em outros...em pessoas melhores .Acho que amo Setembro ,por suas
chuvas que anunciam primavera .
Domingos olha para aquela menina que ,poderia ser sua nova
namorada, mas que já está decidido:Será sua amiga querida .
Savanah sorri e afirma com os seus olhos ,ainda olhando para as
próprias mãos ...
– Agora é você ...
- Bom, mesmo que quisesse,não conseguiria ser tão belo ,mas
...Amo Julho,não por seu frio ,mas por suas chuvas .Afinal ,escutando a
chuva, é o único momento que posso afirmar que é meu, nesse mundo
tão rápido. Nele escuto minhas melhores canções e creio que dias
melhores estão vindo...Amo julho por que é um tempo onde Milles Davis
toca sempre,sempre e sempre. E, pela a chuva ser forte ,meus
pequenos correm para os meus braços e só assim eu acho que um
homem pode tentar ser feliz ,sabe ?
Eles pagam as contas e depois de cartões trocados ,abraçam-se
forte por um longo tempo. Savanah passa o dedo mindinho no canto
dos olhos e afirma ser a mudança de luz .As últimas palavras ?
– Se cuida meu lindinho,tá ?
—Foi a melhor noite das últimas milhões de semanas ...obrigado
amiga .

Nem sempre,o tempo apaga.


Era um dia lindo,daqueles em que o sol ilumina nossos rostos,mas
sem incomodar nossos olhos .
Savanah e Diana havia se encontrado na hora do almoço,para
fazerem uma necessidade vital,comprar artigos de luxo ;dentro de uma
loja da qual,Diana não sabia,nem pronunciar o nome ...
Elas conversam e enquanto experimentam xales,calças e tudo mais que
o dinheiro,vindo do trabalho árduo e cansativo,possa comprar, então
Diana diz :
- Ai,tudo o que eu precisava,era sentar numa dessas almofadas
grandes e tomar suco de tomate.
Savanah olha para sua amiga e começa a se questionar,se era
exatamente isso o que ela queria,mas para não deixar a amiga sem
resposta,sorri afetuosamente.
Uma vendedora chinesa e alta trás uma mensagem para Savanah:
– Senhora Amarillo-Cristo há uma pessoa querendo falar com a
senhora,basta dirigir-se ao lounge roxo da loja.
- Obrigado.
Mesmo assim,ela resmunga ao se levantar do Divã laranja.
- Meu deus,nem numa loja,meus clientes adivinham que eu não
quero atender(?)
– Alô ?
Sem resposta.
Savanah perde sua curta paciência e arremessa em francês:
– Alor !!? ...ce moi,qui est mon dieu?Alor !!
– Alô Savanah ? É o Domingos,o cara do jantar de domingo.
- Fala meu anjo,estou fazendo compras no meu horário de
almoço...
- Então,foi por isso que eu liguei .Você não me disse que
trabalhava com moda ?
– Eu não trabalhava...eu trabalho.- ,diz ela sorrindo do outro lado.
- É que eu precisava comprar um presente legal e imaginei que
você pudesse me ajudar ,sabe ?
- Ahmm,quem é pessoa ?Quantos anos ?Qual sua cor preferida e
qual foi o último filme que ela mais gostou ?
Domingos ri e diz:
– Minha irmã .28 anos. Laranja ou Dourado .Acho que seu filme
preferido é “ Terra Estrangeira.”
– Terra Estrangeira não vale.
- Ahhhmmm ?
Domingos fica alguns segundos perdido,mas é interpretado do outro
lado.
- Por que é em preto e branco e eu não posso me guiar pela
nuance dos figurinos ,sacou ?
Domingos diz rindo um pouco :
- Saquei .
- Faz o seguinte lindinho,vem aqui pra loja, se você demorar
muito,basta dizer seu nome na recepção e seu presente já estará te
esperando,ok ? Se não,eu vou ter o prazer de entrega-lo em mãos ...
-Poxa ,você é muito legal mesmo,hein?
Savanah lembra onde escondeu sua última dose de bom humor do dia e
diz:
– Que nada ,apenas humilde. Beijos, te espero aqui,ok?
– Ok.
Na volta,passando pela divisão de acessórios de Lino Villaventura,
Savanah acha que já encontrou o presente para qual foi escalada,um
xale laranja e rosa.Ótimo para o frio que vinha vindo e se ela tivesse
bom gosto,como sua consultora de moda,não tinham como não
gostar.Ela pega o acessório com uma mão e com a outra,outro sapato
alto vermelho muito alto.
Diana ao ver sua amiga chegando com algo,tão sua cara,diz:
– Fofa que, xale é esse,lindo !
– Fui escalada por um cliente especial para comprar um presente
para sua irmã. Não é um sonho esse acessório?
- Tudo !
– Vem cá fofa. Esse cliente é invertido?
- De onde você tirou essa palavra ?,diz Sav - ainda num misto
de choque e riso. -
– Lendo uma versão caquética de: O segundo Sexo, de Simone
Beauvoir.
– Arrammm. Agora traduz,lindinha.
—Tipo assim: é biba ?
– Não.
– É do bem ?
– Muito .
- Então,por que você não pega?
Como os olhos ainda sob o efeito do riso:
– Por que ele me parece um grande futuro amigo.
—Vai me apresentar ?
—Sempre.
As duas se olham,como duas melhores amigas de colégio; com
aquela doce sensação de que, aquela amizade, nunca vai ter fim ...
Depois que as roupas estão sendo embrulhadas. A pior parte para
Diana: o pagamento. Diana diz:
– Querida,passe o meu cartão de crédito e divida em 4 vezes.
A vendedora separa as três peças e faz o ordenado .Dirigindo se para
Sav ,diz
– Senhora Savanah esse mês clientes habituais,podem dividir sua
compras entre 2 a 5 vezes .O que a senhora gostaria?
Savanah distraída sopra sua franja lateral e diz:
– Ahhmmm,eu não parcelo compras querida .Toma o meu
cartão,débito,por favor .
A vendedora segue a ordem.
Um celular vibra ,Savanah ,diz:
– Acho que meu cliente especial está vindo. Sabe como é,né? Não
queria te deixar ansiosa.
Seguido de um carinhoso S.M.S:
“ Quando descobrir uma vaga para o meu carro ,chego logo em seguida
.Espero que você ainda esteja aí. beijos do seu amigo Domingos.”
Savanah sorri .
A vendedora pergunta:
– Senhora Savanah quanto a esse acessório aqui .O cliente vai
passar que horas?
– Aahhmm,passa no cartão também...
Elas até reclamavam da vida,mas depois de algumas horas de
compras,tudo parecia voltar ao normal.
Então,nessas horas batia uma “angustia” nas duas ,pois elas
percebiam que muitas criancinhas africanas, não podiam consumir
daquela jeito,tão impulsivo ...
Aí ,elas lembram que,essas criancinhas passam seus dias de frente ao
vento,brincando nos campos minados pelos ingleses...E,que ninguém
tem aquela responsabilidade absurda que elas têm ...
Savanah apóia a última bolsa no ombro,desejando ser Vishinu
com seus 4 braços .
Seus passos,são ouvidos pelos salto estalando contra o chão.
Naquele momento,elas poderiam jurar,de alguma forma,que o dinheiro
as fazia feliz.
Lá fora,apenas a luz do dia e um sorriso tímido do belo rapaz ...
Savanah adora a idéia de rever seu amigo falso-machista.
Ela sorri e olha para trás,em busca de sua amiga carente-potencial–
esposa-de-homem-frustrado-tímido.
Savanah sente uma energia estranha,como se a qualquer momento,a
harmonia tivesse que ser quebrada e...
- Oi! Essa é minha amiga Diana e Diana esse é...
O tempo parecia ter parado. Sempre a harmonia era destruída ,apesar
de Savanah desconhecer o por quê.
O possível casal,se entre olhava como amigos afastados pelo
tempo,talvez,como parentes que não devessem se reencontrar,até
Domingos quebrar o tempo:
– Oi Diana,quanto tempo .Você está tão diferente.
Diana com um olhar perdido no tempo,diz:
- É ,o tempo te deixou mais belo,meu pequeno.
Ele ri ,meio despreocupadamente . Savanah fica,ainda sem
compreender que tipo de relação há ou houve entre eles ...
Então,Savanah lembra que havia esquecido o presente de Domingos
sob o a mesa da loja.
– Ai !, seu presente ficou sob a mesa do balcão principal.
– Sem problema,eu vou pegar e agente se fala em 5 minutos ...
Nos primeiros passos de Domingos,Diana rompe o espaço, como
se buscasse outro lugar que não aquele...
– Diana vem cá,poxa !!

A festa: vida vira sem lógica,às


vezes...

Todos estavam concentrados no estúdio fotográfico de Callato


naquela manhã;para todos,uma das últimas revelações do Mercado de
moda,por não acreditar em belezas clássicas e por fotografar sempre
ao som de Schumanm.
A concentração era constante,pois Callato não gostava muito de
falar.Logo Diana e J.C ficavam amordaçados ...sem direito a
brincadeiras. Ao longe,uma negra de óculos de grossas armações
escuras e cabelos presos escolhe roupas para a nova campanha
fotográfica da Fórum.Parecia ser mais um dia glamour-trabalho,até
Diana não resistido mais,dizer :

-Desculpe !!,mas se hoje era dia de enterro,não me avisaram e


para compensar esse silencio absolutamente cinza:FESTA NA MINHA
CASA HOJE !!E,até o J.C está convidado.
J.C olha para as grossas armações de Savanah e... continua sem
resposta,afinal não era todo dia que Diana era assim. Callato ri e em
sua primeira pergunta do dia:
-Os modelos e fotógrafo,também estão convidados ?
Diana olha aquele homem que,atrás de toda aquela seriedade e
riqueza,parecia ser alguém triste e antes de começar a questionar-
se,responde:
- Meu bem,se até o J.C foi convidado,imagina alguém do seu
nível ...todo mundo convidado!
Só para não perder o hábito,J.C implica:
– Tem certeza que vai caber,todo mundo,no seu apartamento?
Callato quase ri e volta a fotografar meninas que,quando sérias
pareciam mulheres ,naquela tarde cinza...
Não muito mais tarde,uma média de 25 pessoas vão chegando
aos poucos,naquele apartamento que,parecia uma simples casa
caribenha,se não fossem os sofás brancos que contrastavam com a
falta de móveis.Com o pretexto de ajudar a organizar as entradas
compradas prontas,Cristal vestida com um vestido frente única
pérola,cabelos presos em um coque havia chegado 40 minutos antes do
horário. Diana assustada,diante de tanta gentileza ,diz :
-Menina, não precisa se preocupar tanto assim,é só mais uma
festa,semana que vem tem mais ...
- Você tem certeza que convidou Callato ?
- Olha,convidado ele foi,se vem ...mas por que todo esse
interesse nele?
Com um olhar de deboche aristocrático,Cristal roda como num Tango e
diz :
– Eu e todas as modelos dessa cidade .Uma foto dele no meu
book e eu vou começar a cobrar mais,do que consiga gastar ...
Diana ri e observa a amiga que,realmente estava linda naquela
noite. O que ela não contava era que Callato desprezava belezas
clássicas...
Toda festa boa,naquela última temporada, tinha que ter Electro
como trilha sonora. Diana achavam um saco ter que fazer alguma coisa
,então chamara dois amigos dj’s que só tocavam latin House e Electro.
Dessa forma,nenhum cara pálida ficaria sentado .
Ás 23:10 com seu vestido vermelho Savanah agradece a moça que
havia lhe aberto a porta e acompanhada de uma
senhora ,vestida de uma forma quase exótica ,atravessam o corredor
em direção a,velha e conhecida cozinha,para descarregar cham-
panhe.Com um cigarro nos lábios,ela fecha a geladeira com as costas .

- Então Tereza ,como finalizou aquela história do artista egípcio


que você queria levar para Londres ?
- Eu trouxe,mas acho que os londrinos deveriam convidar menos
críticos franceses nas inaugurações... – com um leve rosto
contrariado,ela acrescenta –Eles são fixados em Cèzane e querem
encontrar Cèzane e Picasso em todo trabalho contemporâneo .Como se
a arte plástica estivesse acorrentada a uma eterna reverencia ao
passado ...
Naquela cozinha imunda ,típica de festa planejada de última hora
Savanah olha ternamente para sua amiga e agradece em silêncio,pela
conversa inteligente .
- Sabe que quando papai ia à Paris profissionalmente,eu sempre
o acompanhava ,mesmo que tivesse que perder aulas em Oslo...Mamãe
nunca entendeu que uma viagem a Paris,valia mais que um dia de aula .
Tereza pergunta com interesse :
- Não sabia que você havia morado na Noruega .Quanto tempo?
-Apenas um ano,papai pediu para ser transferido para lá,
acreditando que eu estaria mais protegida dos atentados terroristas ...
- Foi difícil a adaptação ?
Nesse momento,Cristal entra na cozinha em busca de mais
champanhe.E,no susto de ver a sua amiga,acompanhada daquela velha
maldita ,diz:
- Que bom Savanah ,trazendo os velhos para uma atividade
social ;faz bem para suas vidas...
Do mesmo jeito que entrou .Saiu. Sem a menor cortesia...
Savanah olha nos olhos de Tereza como se pedisse desculpas por andar
com pessoas tão mal-educadas,porém em algum lugar daquela
cena,Tereza já havia sacado tudo .Com um gesto terno e maternal, ela
repousa suas mãos sob os lábios de Savanah e diz :

- Eu já tive 20 anos e sei o que é uma crise de ciúmes ...


Em um outro canto do apartamento –talvez o quarto,ao menos era o
mais longe - jovens e editoras de moda falavam sobre as fabulosas
roupas do Ronaldo Fraga. Elegem os discos da Duba’s records como a
macumba-pra-gringo necessária parar um cotidiano mais alegre.
Na varanda do quarto,a visão de uma rua não tão movimentada do
Centro,com todos os seus carros e luzes que,estranhamente não
alcançavam o apartamento de Diana, no que lhe faz receber um elogio
de Callato :

– Poxa ,se eu achasse um apartamento fresco como esse me


mudava hoje .
Diana interagindo com a conversa:
– No começo ,amigos me disseram que poderia desabar enquanto
dormia – provocando o primeiro riso de Callato –,mas como eu não
tenho medo de desafios. Eu vim e daqui ninguém me tira.
Os olhos tristes de Callato começam a olhar mais demoradamente
para Diana e parece que ela não se incomodava com a situação.
A festa parecia que iria durar,até depois da 1:30 hs.
Diana já havia,até mesmo,criado um código de sobrevivência pós –
festas;para não ter que entrar madrugada à dentro lavando louças e
descobrindo catoco de cigarro na geladeira ou no Boxe .
Ela acionava o celular de sua vizinha escritora que nunca dormia antes
das 4:00 hs,entretida em seus roteiros.
Pedia ,carinhosamente que, ela viesse trancar o seu apartamento
depois do horário das 3:27 hs e...trancando qualquer mal educado
que cismasse em ficar depois das 3:15.Quanto a ela ?Seu lugar estava
garantido no quarto de hóspedes de sua amiga Savanah. Afinal,pra
que serviam os amigos?
A festa foi rolando,Cristal ao longe fazia pequenas caretas
inocentes para Callato na esperança que, o mesmo, a notasse. Tereza
já demonstrava sinais de cansaço. E,naquela festa já podiam se contar
os típicos 10 guerreiros habituais que ficavam até sol raiar.
Diana,carinhosamente olha seu apartamento,pela última vez e
acompanhada de Savanah e sua amiga,dão as costas para os
convidados e vão ganhando os corredores,até chegarem a porta.
Diana,levemente embriagada,pára de frente á porta como se estivesse
encarando-a. Savanah vai chamando o elevador e retirando as chaves
do carro. Tereza ,entre as duas, observa com um sorriso no rosto, o
comportamento brincalhão de Diana que diz :

- Adeus ,barraco-das-cidades .Eu vou dormir num palácio ,mas


amanhã nós nos veremos ,sempre.
Diana chuta com força a porta com os pés ,em parte,para assustar
aqueles convidados que dormem no sofá da festa ,por não ter -
acredita-se - casa para dormir...
Três mulheres,de tempos diferentes,mas conscientes dos valores
quase inexplicáveis daquilo que...Eles chamam de amizade. Elas riem
baixo da brincadeira de Diana. E,mesmo que amanhã o trabalho as
deixe 10 dias mais velhas. Elas sabem que haverão
festas,como aquelas,com pessoas muito agradáveis que escutarão
nossas histórias e nos contarão outras. E, que,dessa forma ,a vida vai
tornando-se um pouco mais fácil ...
Na saída daquele pequeno prédio no Centro ,uma fina chuva toma:
seus rostos,suas roupas,seus sorrisos que continuam baixos. Já no
carro,Diana vai fazendo pequenas perguntas para Tereza sobre como é
a viver no Cairo,lugar que para ela só tinha areia e pirâmides ...No
trajeto elas vão se conhecendo melhor e, estranhamente ,mesmo que
Diana saiba do amor de sua amiga por Tereza ,não há espaço para
ciúmes...

********************

Era mais um dia,por já passar das 14:38 hs e sua vizinha não ter
ligado,parece que tudo havia ocorrido bem ...
Ela estava contente aquele dia,afinal mesmo que Callato tivesse
olhos tristes,suas lembranças iam,pouco á pouco,lembrando-se
de...Callato.
Ela quase o havia feito sorrir. Diana indagava-se,olhando a agenda sob
a mesa do café ,o que faziam as pessoas gostarem uma das outras (?)
O que ele havia feito,para que ela ficasse olhando a agenda,mesmo que
sem trabalhos marcados para aquela manhã (?)Ela começa á achar que
o dia estava bem mais luminoso hoje.
A máquina cibernética e neurótica toca no bolso de Diana – logo
eles que,prometiam nos comercias,que era para facilitar nossa vida –os
bips vão ficando cada vez mais altos,até ela perceber a presença do
celular - Existe coisa mais chata do que celular tocando quando não
estamos no ritmo neurótico de trabalho ?- Diana aciona o
celular,mesmo não querendo .
- Bom dia , a vida é linda .Diana falando.
Do outro lado uma voz falha ou rouca de quem havia acordado há
pouco tempo ...
- Oi, Di ,sou eu,sua vizinha querida.
- Fala bem,você não trancou aqueles que ficaram depois das
3:38 hs ,né ?
- Ahmmmm, eu,eu...
- Que voz é essa de sono ?
- Não ,eu nem dormi essa noite .
Em um outro lado da cidade. A escritora ,pela primeira vez na
vida,busca as palavras certas ...
-Só me deixaram dormir ,depois das 10:00 da manhã...
Com uma voz bem humorada ,Diana arremessa:
– Bombaram até as 10:00 hs ?
- Mais ou menos ,eu só consegui dormir ,depois que o incêndio
foi controlado,Diana. Desculpe ! Não foi minha culpa,mas os bombeiros
não conseguiram controlar o fogo.Seu apartamento se foi ,nem mais
aquelas cartas ...
Por alguns instantes ,Diana observa tudo á sua volta e tudo parece
estar no lugar,mesmo sabendo que sua vida está se tornando um
inferno a cada segundo que passa...
- Se for mais um brin...diz que isso é brincadeira. Pelo amor
de deus ,diz que não foi comigo!
– Desculpa... eu preciso passar um semana na cidade do meu
editor,se você quiser a chave do apartamento,está no mesmo lugar...
De um jeito longínquo,ela diz :
– Obrigado.
Naquelas outras várias horas,o tempo,era inimigo .Diana continuava
olhando a xícara de café –frio...Ela levanta-se e despeja algumas notas
sob a mesa. Vai caminhando,estranhamente com o pensamento no
estúdio onde costumava trabalhar ,mesmo que hoje não tivesse
trabalho...
Ela passa naquela rua cinza e nada consegue deter sua atenção.
Ela passa pelo porteiro e por ser conhecida,nada a pára. Na sala,
também cinza,ela senta no sofá branco e assim fica. No íntimo,
esperando o tempo retornar ...A máquina neurótica volta a tocar e
Diana atende.
–Diana ? Sou eu Savanah, querida. Tudo bem?
- Tudo .
- Tem certeza ?
Tomada de uma fúria,ela responde:
- Já disse que sim!
- Você jamais seria grossa. Me conta o que aconteceu. O
porteiro já me ligou. E, eu sei que você não está bem ...
Com uma voz confusa,como um rio que arrasta as casas e
palavras,ela responde:
– Eles destruíram com tudo o que eu tinha ...
- Eles quem?
Dessa vez o rancor estoura .
- Eles. Os drogados,irresponsáveis-filhos-da-puta. Aqueles que
não tem casa; destroem a minha casa ...
Com uma voz preocupada,Sav diz:
- Fica exatamente aí. Eu estou indo te buscar.
– Vem,amiga ...
O carro vai atravessando a cidade,ao som de Portshead . Savanah
havia sempre se identificado com aquele som,mesmo que nunca
houvesse entendido tudo. Savanah vai observando o caminho,
lembrando todos os momentos difíceis da vida. Ela não sabe o que
aconteceu,nem como vai reagir quando souber,mas amizade era para
isso Repetia ao longo do caminho ...
– Oi José,Diana continua aí ?
Com um rosto preocupado,porém obediente o porteiro afirma com
os olhos ....
- Obrigado.
A porta é aberta com a chave de Savanah. Seus pés vão ganhando
o estúdio,até chegarem ao lado dos pés da amiga que,olha pra
janela,com um cigarro aceso,mas parecendo intocado.
Mesmo sabendo que essa não era a melhor hora,ternamente ela diz :
– Você está bem ?
– Acho que ,talvez ,sim ...
Savanah fixa a atenção em seus olhos e diz:
– Existe algo que eu possa fazer ?
Num gesto de quase instinto. O choro toma conta daquela sala,
como uma vontade de limpar todos os erros daquela vida.
Diana olha na direção dos olhos de Savanah e com um voz fraca,diz:
– Me abraça,apenas me abraça.
Savanah sente que,pela primeira vez ,que esta ajudando alguém de
alguma forma. Ela não sabe muito bem o que fazer ,mas está ali,está
ali.É,está.
Diana vai repetindo já nos braços alheios ...
– Não é justo. Não é justo. Não ...
Cada vez que as palavras vão sendo pronunciadas,vão ficando
mais fracas e cada vez mais,inúteis ...
Depois dali ,Savanah a leva para casa. E,naquele apartamento tão
grande,elas se olhavam e,de vez em quando,sorriem...

Conversas nossas ; novas descobertas


.
Seus olhos ternos pareciam querer consolar aquela amiga,tão
querida. No fundo,ela sentia-se como num teste de Revista
Feminina,onde,não nos encaixamos em nenhuma das opções ...
O baque da perda do apartamento fora um pouco mais do que ela
podia suportar,mas Savanah entedia ,no seu íntimo, que...ela não era
responsável por problemas alheios,aquilo ressoava muito mal na sua
cabeça,mas ela não sentia-se chocada por pensar assim. Em sua
cabeça,milhões de coisas aconteciam;inclusive a insistência muito
charmosa de um rapaz a três ou quatro mesas dali. Seu olhar era
seguro, exatamente como Savanah se encantava ....doce...afetuoso. As
luzes brilhavam naquele bar,a partir daquele momento.
Quando Diana acrescenta sem muita vontade:
—Olha desculpa por essa noite,mas ...Eu precisava falar ,sabe?
— Claro,amiga é pra essas coisas.
— Eu precisava que alguém me escutasse ...Me compreendesse
e ...não que ficasse paquerando um FILHO da PUTA à quatro mesas
daqui!
Savanah fica completamente sem reação,afinal como ela mesmo
havia pensado antes ...,agora resolvera falar .
—Olha,se a sua espelunca pegou fogo,eu não peguei.
E,ainda exijo respeito,mesmo acreditando que isso deveria ser inerente
de você ...
Naquele momento,nem Deus arriscaria um palpite.
—Olha ,eu ando um pouco frágil,mas sabe o que eu mais gosto
em você ? – Diana diz com um olhar meigo que derrete o mais
antipático dos seres...
—É que agora nos estamos meio chateadas .Você acordará na
cama de mais um ...E ,eu,vou acordar no chão de qualquer rua ...
O que faz Savanah lembrar que seu apartamento tem quartos
demais e responda com bom humor:
–Sabe que eu ando precisando de uma faxineira nova?
Com um olhar risonho,Diana diz:
—Aí, sua filha da puta !
Com um rosto debochado,Savanah arremessa a chave do ap em
direção á Diana e diz :
—Cuide com carinho,nada de amiguinhos ,muito menos os
feinhos. Não se preocupe com o tempo,fique o quanto quiser. O seu
quarto é o de sempre,o terceiro no final do corredor .

Encontro de Guto e Sav .

Diana havia saído do bar,talvez um pouco mal,mas Savanah já havia


pensado sobre isso. Ela não era babá de ninguém. Sua abdicações,no
sentido de escolhas ,havia criado o que ela era hoje .
Sua orelha encostava no ombro e sem perceber alguém á
observava,não de muito longe. Ele não poderia ser considerado um
homem bonito,talvez,ela estivesse acostumada sua visão á fotografia de
moda;onde todos são felizes e jovens.
O copo arredondado aterrissa em sua mesa, e ela parece não se
incomodar,com a presença do homem-não-belo,talvez charmoso. O bar
ainda têm algumas pessoas,todas interessadas no mesmo que eles
...diversão sem culpa. Ela acha que já escutou demais dos outros,agora
precisa de mais ....
Ele pensa como uma garota tão interessante pode estar
sozinha;de longe pareciam amigas e assim o rapaz-não-belo desejou
que fossem,afinal nos dias de hoje ,ele tinha quer estar preparado para
tudo...Algo nela era encantador,sendo sincero,ele não a achava bonita
,mas ela era aquele tipo de garota que,era só a mamãe não saber que
ele estava saindo.
A menina parece querer,mas se depender dela,as coisas não vão
acontecer...Ele passa a mão sob os cabelos raspados e decide que seus
lábios vão toca-la.
Ela levanta os olhos,para ter certeza de que seus leves “driks“ não a
levariam a lugares difíceis de sair depois.
O rapaz,tão perto,com seus lábios entre abertos;quando as palavras não
descrevem o que queremos. Ela vai continuar esperando,mas ele quebra
o silêncio da vontade
Homem-não-belo,pergunta:
— Meu copo chegou a mesa. Será que eu posso fazer companhia
a ele?
Savanah ri,em parte, para deixar o jogo mais fácil. Essa noite,a
armadura de mulher-madura não teria necessidade.
Savanah apenas complementa:
— Acho que sim.
Ali,ele sente-se mais estimulado para ganhar o terreno e ganhar o
que quer. Sentado ao lado de Savana ,a primeira mão segura o copo e
a segunda desliza pelas pernas ocre-marrom dela que,vai rindo
docemente.
Homem não belo,pergunta:
— Qual o seu nome ?
Savanah ri levemente e responde em seu ouvido.
Ele continua:
—Sua mãe sabe que,você está aqui a essa hora ?
Por essa ela não esperava ,parece que o moço,além de sexy,era
espirituoso.
Savanah olha em seus olhos e sussurra.
–A carruagem vem me buscar,somente ás 2:00 hs am...
Dessa vez é ele quem ri. Além de ter seios desenhados na
blusa,parece que a menina era o tipo de garota que ele procurava.
Nessas horas ,eles achavam que já era tarde demais,para se
preocuparem com a opinião dos outros... .Ela ainda tenta conversar um
pouco,para saber onde e com quem acordaria...Suas mãos grossas vão
ganhando o corpo de Savanah pelas coxas .Elas fecha os olhos...que os
outros achem que é sono ...
Os lábios famintos do rapaz vão explorando cada parte dos seus lábios.
Ela por sua vez toca, como só uma garota sabe fazer...ela levanta ,por
debaixo da mesa,sua blusa marrom quase dourada e vai tocando
aquela barriga. Ele,sem parecer ter medo ou por estarem em uma mesa
afastada ,abre os primeiros botões da calça branca...
Savanah sente a necessidade de perguntar,até por que,em seus
códigos de moça decente,ela não podia ir para a cama com alguém de
quem não conhecia,nem o nome.
–Qual o seu nome ?
Ele tira a mão de sua coxas e ri:
–Augusto,mas nunca ninguém me chamou assim ...
Savanah ri e pergunta se deveria chama lhe de Augustinho.
—Guto.
Ela olha para os lados e percebe que,a qualquer momento,vão ser
expulsos do bar de ocre luz. Ele ajeita a franja lateral de Sav,ela toca
em seu lábios e diz:
–Olha, não é nem por mim,até por que minha carruagem só
chega as 2:00 hs,mas acho que Eles vão nos expulsar,junto com aquele
casal que,cisma,em cheirar cada gole de vinho...
Guto sorri e diz:
—Eles pagaram e ficam o quanto quiserem e não se
preocupem,pois eu peço para os meninos esperarem.
Savanah ainda não pegou, quem dá as ordens por ali.
Ela olha rindo para o cardápio da mesa e diz:
—Quem foi o imbecil que escreveu “ Beringela “
com G,burrice tem limite. E,parece que é o bar inteiro.
Guto tenta remediar:
—Tudo bem,o artesão era um imbecil e como eu não estava aqui
na chegada dos cardápios, acabamos decidindo rebatizar o bar todo
assim ...
Savanah olha para toda aquela extensão e apenas diz:
—Ahhmmm...
—Então,vamos sair daqui? Meu gerente pode cuidar do resto
e...eu tenho outras coisas pra te dar.
Savanah já havia passado da idade de ir para casa de qualquer
um,mas como ela já havia pensando... ,a armadura de mulher madura
havia ficado em casa...
Guto se levanta e com suas mãos grossas,vai re-abotoando os
botões de sua calça branca. Savanah ajeita suas pulseiras finas e
prateadas,torcendo para que ninguém do seu círculo profissional tivesse
ouvido falar daquele novo bar.
Ela olha pra trás e fica feliz por ter vindo de táxi. Seria uma
confusão embaraçosa uma garota ser pega,com o seu novo
namorado,acompanhada do seu carro blindado e brutalmente caro.
Naquela noite,o vento ia ficando forte ,em parte,para diminuir o
brilho de sua produção com direito a cabelo ultra-liso. Ela já está fora do
bar,Guto a embraçada por trás e Savanah procura lembrar a quanto
tempo ela não é segurada assim. Na frente deles uma moto .
Savanah pergunta :
—Onde está seu carro ?
—Carro? Eu bati feio há uns 3 anos atrás. E,agora,eu só uso
moto. Sobe,aí
No caminho ,com aquela maldita moto ,era impossível
conversar,logo ela que,já estava interessada em conversar com o rapaz
.
Já no elevador,seus corpos se encostam e ele vai beijando cada
parte daquele pescoço,deixando que suas mãos subam e deslizem
pelos seios redondos de Savanah.
As portas vão se abrindo e Savanah constata que,ao menos ,o rapaz
sabe morar sozinho naquele loft-sport.
Sentada no sofá ,Guto lhe prepara uma bebida e vai tomando um suco
que ,Savanah apenas sabe que é verde. Guto ordena:
—Vai esperando no quarto ,vai!
Ela ri e vai soltando o coque ,proveniente do passeio de bicicleta de
gente grande e vai andando relaxada.
Na janela do quarto escuro,a única luz vem da janela, com a lua que
parece refletir cada ponto daquele lugar. A porta se abre e com ela
Guto vai dominando o espaço do quarto,sem blusa ,Savanah sente cada
parte do seu corpo contra o dele. Suas mãos agora são mais
agressivas. Ela pensa que :
“Não há o que perder nessa noite.”
O trabalho podia esperar. Savanah recua seus braços,de uma forma que
suas mãos possam tocar á cabeça dele. Guto sussurra selvagemmente
nos ouvidos alheios;
o pescoço dela é reclinado para que cada parte de sua orelha possa ser
beijada. Savanah sussurra e sente-se dentro de uma trilha sonora
de:Barry White à Shade .Mãos quentes vem subindo e explorando
ferozmente cada
parte do seu corpo.Com as mãos, o vestido vem...Ela vira e chama alto
pelo amante/amado. Suas mãos finas buscam por algo...A mão direita
impulsiona a calça branca pra baixo ...Savanah olha para seu relógio:
2:26 am se dependesse dela,o tempo deveria parar .Guto sussurra
alto:sua mão quer,seu corpo quer e ele vai conseguir.Lá fora ,todos
dormem...
Angustia sai com chocolate ?

Savanah sempre havia detestado os domingos por que,mesmo trabalhando,nada


podia ser feito depois do trabalho...Nessas
ocasiões,até aquela palhaçada do bate papo na Internet funcionava. Afinal, não era
todo dia que,ela podia transforma-se em um garoto de 18 anos,provavelmente
assediado por muitos pederastas,também de 18 anos. Talvez uma doce ,frágil e
acomodada mulher á espera de um homem,para dar sentido á sua vida .
Ela olha para a sua sala e sem explicação é tomada de um angústia,pois
nesse momento muitos não têm onde dormir ...E,apenas sua sala abrigariam várias
pessoas ,talvez famílias... Ela não sabe como explicar,mas é como se ela fosse
culpada,em alguma parte, por isso tudo ...
Então,em mais alguns segundos,ela lembra que não agüentaria a novela das
oito todos os dias, aos berros,inclusive os comerciais; momentos esses que
Savanah não podia suportar ,pois com toda a sua educação musical ,não suportava
aqueles jingles do século 18...
Passando a mão sob os seus vastos cabelos castanhos,ela retira a parte da franja
sobre os olhos e conecta-se com : expectativas e bom humor,naquele mundo de
ilusão. Primeira diversão fica quando perguntam sua idade e onde gostaria de
estar:
lésbicas sedentas /sala 04 /
homens que querem as M casadas /sala 05
garotos punheteiros /sala 06.
Sim,os garotos eram melhores ,pois era isso que ela queria... muita diversão
.Perguntam de novo .”Qual o seu nome?”No que de pronto recebe:Lulu , a
estudante de física ;pensando melhor..., de educação física ,pois sabe que,uma
verdadeira mulherzinha jamais se interessaria por física... No seus primeiros
segundos a primeira pessoa para lhe divertir :
Garoto 23 cm ,fala :
– OI,Lulu .BLZ ? Que um pica de macho. Vou te comer!
Lulu ,a estudante de física,diz:
- Não sei,tenho muito medo de estranhos ...
Garoto 18 anos,23 cm diz:
- Então ,relaxa que o papai vai te ajudar ... Imagina que eu estou em uma
sala e que eu estou só de cueca e ...
Savanah acha isso muito estranho,pois como uma boa leitora ,sabe que toda a
história tem uma evolução...
O telefone toca,fazendo com que Savanah pare de ri.
– Alô ?,espere um instante.
Savanah escreve:
“ Ahmm,imagina que eu deixei cair a borracha e vou ter que me abaixar para
pegar,ficando com a bundinha bem empinada,na direção da sua cueca.”
Ela volta para o telefone e diz :
– Savanah de bom humor. Quem é?
Com uma voz rouca,uma resposta é bocejada do outro lado:
- Sou eu Cristal,pós –desperta. Tudo bom ?
- Oi !! Melhorou da bebedeira ?
– Que bebedeira?
– Ontem ,você estava falando sozinha na boite ,aí eu achei que você estava
pagando o maior mico e me afastei ...
Cristal não perdia seu leve bom-humor latino:
– Para todos os efeitos,era o meu celular de última geração,já com
Bluetooth.
– Ai!,você continua a mesma,sempre de bom -humor.
Como consegue?
- Humm...penso em você, nos nossos amigos .... e nas drogas que dão
sentido na minha vida ...
Rapidamente seu interesse se perde no bate-papo,mesmo assim,ela escreve:
- Olha ,eu vou ter que sair,pois meu pai tá me chamando...
Garoto 18 anos e 23 cm diz:
-Não vai me dar essa bucetinha apertada?
Lulu a estudante de educ- física,diz:
– Nem a bucetinha,nem mais nada. E,antes que você pergunte. Por que eu
não quero,ok?
Com uma intensidade selvagem,ele responde:
– Vai se fuder sua puta!Você não merece a minha porra !! Diz pro seu pai
que, ele tem um piranha em casa.
Com um gesto típico de mentalidade geniosa ,ela escreve:
– Fala isso pra minha mulher,seu idiota !
garoto 18 anos e 23 cm,escreve:
- Ìííííííí,fala sério que essa puta,é sapatão!
Com o sangue dançando quente nas veias,Savanah responde:
– Não!, é que eu gosto de comer a minha gata e uns menininhos de vez em
quando!
Savanah já esperava pelas piores ofensas ... mas apenas vê na tela do
computador :
GAROTO 18 ANOS E 23 CM ,SAI DA SALA:
Ótimo,pois dessa forma ela poderia dar atenção á sua amiga,sua boa amiga...
TUM,TUM,TUM,TUM...
Parece que na raiva de responder ao menino ,ela havia esquecido sua boa amiga
,no vácuo ...
Nem sei,se éramos felizes :

TODA FESTA QUE HOUVER NESSA


VIDA .

Mesmo de longe,aquele barulhinho irritante continuava a persistir.


Domingos costumava provocar a irritação geral quando afirmava
que,tudo era música,depois do Lounge.
Eles até já haviam tentando lhe mostrar “ New Funky Generation “ o
qual recebera a colocação de Funky sintetizado por canais,coisas de
quem trabalhava com música.
Com uma voz debochada,ele diz no meio da festa:
– Já falei. Louge é lixo. Música é Bethânia.
Num rebate instantâneo,J.C fuzila:
– Calma tio que,assim você assusta as gatinhas de 27
anos!
Domingos não costuma deixar barato,nem com os amigos fantásticos
de Savanah.
– É,realmente o deboche é o seu forte,já a inteligência...
Com um rosto de quem recusa a acreditar naquela grosseria,tão
insensível...,logo com ele,poxa.
J.C responde:
– Vamos parar,porque ninguém vai tirar meu bom
humor,hoje.
Festa de gente hippie ,conversar triviais e muitos – com um olhar
debochado – muitos contatos ...
Mesmo com todo o seu bom humor,ele não conseguia salvar seu
amigo do olhar opaco,quase nada o retirava daquele estado de tristeza.
Alguns diziam que o tempo cicatrizava as marcas de um
relacionamento. Domingos... esperava o tempo .O tempo em que ele
olharia pra trás,sem remorsos,sem trilhas sonoras cheias de Billie
Holiday...
Todos dariam o melhor de si ,para alegrar Domingos, mas o que
ninguém percebia era que,Ele não queria sair dali. Era o tempo dele.
E,ninguém poderia encostar naquela redoma de vidro. Ele sai da festa
abruptamente .Entra no carro e pisa no acelerador .É,ninguém o veria
chorar ...

**************
Música .Muito boa .Muito agito,enquanto para uns nada
interessava,para outros era a válvula de escape. Se existia algo que
tirava Savanah de sua armadura de mulher madura, era a
música,desde pequena,a música era seu universo paralelo; que a
protegia da ausência dos pais,sempre ocupados demais,recebendo
gente importante,em chatas diferentes línguas.Às vezes,ela se
questionava,se havia sido uma boa opção trocar todas as possibilidades
de Milão por uma vida de indecisões onde,ninguém,nenhum professor
poderia atestar que ela era muito criativa,apesar da necessidade de
provocar,sempre. Nesse instante,ela é despertada pelo suas
amigas:Cristal a inesquecível e Diana ,a impossível. Ela mesmo já havia
confessado que
sua vida seria insuportável sem a presença de todos eles... Num ritmo
de 3 em 3 tempos elas vem cantando na direção de Savanah.
“ Esse ano /eu me comportei/ /comi chuchu,até agrião /Agora, Papai
Noel / me-dá-esse-bofão/”
Os homens que escutavam a brincadeira não deixava de rir, assim como
Savanah :Diana era a mais engraçada .Cristal,a mais bela;sua herança
escandinava chamava atenção em todos os lados. Sabe aquele jeito
de quem gosta de ser garota (?) Os homens a veneravam e até as
mulheres a“ respeitavam” -se é que isso é possível -.
Elas riem ,cantam e dançam ,talvez o melhor de estar aberto
para coisas novas,pessoas novas ... era poder criar pequenos
momentos de felicidade que,ficariam na memória ...
Ninguém tolerava falta de classe em festas de moda, mas perto do
final do ano,tudo era possível .Essa era a razão da volta de Savanah. O
calor de sua pátria que,ela dificilmente sentia em qualquer outro lugar .
Alguns minutos depois da brincadeira,Diana volta com um rosto
teatral como se a 3 bomba atômica fosse acontecer e diz:
– Cristal querida,olha aquele macho que eu vou apresentar para a
Savanah !

continua no arquivo: 1 continuação.

Continuação do ato 1

Meio distraída,ela olha sem compromisso:


– Qual? O vesgo ou o que eu mandaria o meu cachorro morder?
— Qual é o pior ?
– Olha,depende do ângulo de vista,como Sav é míope ela vai
perceber melhor o alvo do meu cachorro .
- Hummm...
No meio daquela música toda,só escutava-se brincadeiras
e,definitivamente Savanah não gostava de ser sacaneada ...
- Savanah minha boneca queimada ...
No que é recebida com um rosto fechado.
- Olha amiga, tem um cara do bem que você precisa ver,óóhhh!
Com os olhos alegres e curiosos,ela pergunta:
- Quem?
Quando aparece -sem ser convida- ,Cristal,pra incrementar a
brincadeira.
- Não vale Diana ,eu te falei que ele era meu.
Já denunciando o riso,ela diz:
– Não! Nossa amiga está no atraso de carne nacional ...
Sem Sav perceber,Cristal sorri para o monstro,aponta para amiga e
toca no coração.
Já curiosa ,ela diz :
– Quem é ele ,meu deus !! ?
– Ele está aqui pertinho ,oh!,olhando para você agora ,o moço do
lado do cara de camisa vermelha
Tadinha de Sav sempre fora péssima de humor e nunca havia
conseguido disfarçar a frustração,quando seus desejos não eram
realizados ...Enquanto seu rosto se contorcia em uma cara de medo;as
meninas não sabia onde se segurar Todos a sua volta,juravam que
tratar se de desqualificadas pra festa ...
– Eu não entendo isso. O que é que eu faço para ser tratada
assim?O que é que eu fiz para ser tratada assim ?
Eu não sou legal ?
O que aumentava mais as risadas ....
- Eu tenho cara de São Jorge ?
As duas desqualificadas,agora menos histéricas ficam se
entender;aliás inteligência metafórica,nunca fora o forte delas.
Já recuperada da brincadeira,Sav diz:
– Oras quem enfrenta o dragão é São Jorge !
Si tudo havia voltado ao normal,talvez o mais interessante da
amizade delas,fosse o fato de não guardarem rancores entre si.Sempre
voltando ao ponto de onde havia começado ...

Nei sei se éramos felizes .


Mais Glamour !!!

Quarta feira,dia de dormir cedo. Não para eles,eles não eram


normais...
Tudo havia começado com um telefonema de Cristal para Savanah
avisando sobre essa festa fechada,mas super exclusiva. Savanah,só
nessas horas,acreditava no socialismo e já ligara para J.C que,por sua
vez,já havia ligado para o recém-separado ou seria (?) Bebezão
carente. Eles haviam combinado ás 23:00 h e quem chegasse
atrasado,simplesmente não entrava.
Lá dentro,o mesmo de sempre: gente que cismava em não
envelhecer,“montadas” em suas roupas caras.
J.C parecia ser o único a dar atenção para isso,talvez por estar
começando a trabalhar à pouquíssimo tempo.
Savanah balançava bastante seus cabelos,como um pavão que faz
questão de demarcar seu terreno. Cristal já estava no bar. Domingos,o
pós separado estava lá por que adorava Savanah e também porque que
achava que,umas saídas só lhe poderiam fazer bem,na
verdade,qualquer coisa que o afastasse seu pensamento da ex-
mulher,já seriam um bom negocio .
Numa dessas balançadas de cabelo, Savanah escuta alguém lhe
falar perto dos ouvidos:
- Enjoada, Vem potranca minha,vem aqui pro seu tigrão.. !!
Com esse linguajar ultra ultrapassado,só podia ser ...Pablo ,o
maquiador das estrelas:
Pablo era um daqueles caras que tinham pavor a criança e que
tinha canalizado todo ,e qualquer tempo, de sua criatividade para o
trabalho,logo qualquer nova tendência no Mercado,era com ele com
quem Savanah iria apreender ...
— Como você está boneca ?
Savanah responde com seu bom humor de começo de festa :
- Aí,Pablo,tentando chamar mais atenção que todo mundo.
E,você ?
- Eu estou bem,sempre enjoado,cada vez cobrando mais caro por
tudo o que faço. Huummm,rica ,poderosa e feliz ..E,você? Me parece
que você tem novidades para contar,né?
– Até parece que você não sabe.
—Saber eu já sei ,mas quero os detalhes...
Com um leve sorriso,ela começa:
—Bom,depois de umas temporadas trabalhando em Milão.Eu...
Pablo a interrompe,algo inclusive muito comum,ao conversar com
alguém como ele. Depois de cumprimentar superficialmente um
passante da festa.
– Você morava em Milão,né?
—Sim,morei em Milão por 5 anos,mas precisava voltar para o
Brasil ... minha gente.
Com seu rosto benevolente e dramático,Pablo complementa:
—Então ,comente o resto,principalmente contractos.
– Bom ,depois de fazer uns editoriais meio visionários ,parece que
eu dei sorte;as tendências se concretizaram e,da noite para o dia,eu
comecei a ter meu trabalho reconhecido.Daí,veio a proposta para voltar
a trabalhar no Brasil como editora –chefe da revista Eclética.
– Como está sendo?
– Legal ,ás vezes eu tenho mais liberdade de criação que,nem sei
como lidar com isso ...
Pablo a olha com um olhar debochado e fala:
—Outro dia vi seu amigo o J... J o que ?Aquele que é engraçadinho
...
Savanah olha para os lados da festa e responde:
–Eu tenho vários amigos engraçadinhos. Você deve estar falando
do J.C,o meu produtor de moda.
– Ahhmm,eu pensei que ele fosse Drag-Queen !
—Não ,é que ele é bissexual e ...
Savanah de novo é interrompida por Pablo.
—Bierótico. Você quis dizer bierótico.
—Não ,Pablo,você escutou errado.Eu disse certo.
– Não,fofitcha,todos nós já dizemos bierótico,em vez de
bissexual...é a forma contemporânea.
Então o pavão,por alguns segundos,fica sem reação ...
—Ahhmmm...
—Não se preocupe Sav. Na sua idade a gente escuta muito, repete
pra si-mesmo e depois declama nas Rodas Sociais com cara de mau
humor ...
Eu,por exemplo,escutava tudo,repetia para mim mesmo. Daí apreendia
e depois,repetia pros mais burros,com cara de blazé .
Pablo era uns dos poucos que Savanah permitia escutar e não ficar na
defensiva. Ele sabia muito e,estranhamente ela não sentia se
incomodada com isso.
Festas fechadas são muito sofisticadas. Pessoas quase desfilam,ao
em vez de andar,falam e... falam alto,muito alto na opinião do pobre
Domingos,o recém separado. J.C havia conhecido Domingos por
intermédio de Savanah e logo de cara haviam se curtido,talvez por que
J.C só conseguisse lidar com pessoas mais experientes;pessoas que
compreendessem que ele era apenas um menino. J.C sentia que era a
sua obrigação alegrar seu amigo, como um palhaço que alegra a corte.
Domingos apenas respondia o que lhe era perguntado,a não ser quando
lhe perguntavam sobre o suas decepções,aí o homem de cabelos
brilhantes voltava a respirar...Sentado de costas para o bar brilhante,J.C
pergunta:
—E ,aí ,cara como estão as coisas?
Com os olhos desacreditados,ele responde:
- Ahhh,é assim mesmo,no começo é assim. Um dia você vai
gostar de alguém e depois de um tempo perceber que, já não é
possível viver ao mesmo lado,mesma ainda amando essa pessoa ...
J.C olha para o seu amigo,como uma criança olha uma equação no
quadro escolar.Ele vai perguntando,mais para entreter o amigo:
– Como estão as crianças ?Você pensa em deixa-los ?
—Olha ,meu amiguinho,meus pequenos parecem que ainda não
perceberam a minha saída,até por que eu faço questão de passar as
minhas tardes com eles;antes da mãe chegar do trabalho,antes de eu ir
trabalhar na rádio,sabe ...
– Então ,entre mortos e feridos,o balanço geral é positivo ?
—Como eu te disse ,já não é a primeira vez que eu me separo,
mas é primeira vez que ficam filhos pra trás ...
J.C continua olhando-o com um rosto que, só um avô pode dar.J.C
vai perguntando mais para que Domingos fale,fale,fale até cansar,como
se falando os maus momentos fossem,de alguma forma,apagados da
memória...
- Como os pequenos vão ficar,então?
—Olha ,eu acho isso tão recente que,nem quero pensar ainda em
batalhas ...
Numa idéia brilhante J.C tenta alegrar o amigo com:
– Sabe Domingos vou te levar num lugar,onde você vai esquecer
todos os problemas emocionais e, de quebra, encontrar a nova mulher
da sua vida.
Mesmo contrariado ,Domingos pergunta onde seria o lugar, sabendo
que no íntimo vinha brincadeira pela frente.
Com os olhos semi-fechados,ele pergunta:
– Qual seria o lugar ?
—Porta de pré-escola ,cara !!
—O que ?!!
—Veja bem,já está comprovado que os relacionamentos
contemporâneos duram no máximo 6 anos;retirando os três entre
namoro,noivado e lua de mel ,essas mulheres ainda não chegaram aos
37 anos e já são divorciadas,para lhe fazer companhia e com filhos
para fazer companhias aos seus ...Não é genial ?
Naquela noitada,onde nada importava para Domingos,ele ri e sabe
que só os amigos vão estar ao seu lado nos momentos difíceis...
Entre ruas longas e frias .
Ele sai do trabalho e já na garagem de seu apart-hotel,não sente a
menor vontade de voltar para o apartamento:de ver malas pelo chão,na
estante somente um som e velhos e queridos discos do: Milles Davis
e Elis Regina.Ele olha o carro e dá uma vontade de chorar,uma vontade
de voltar pra casa,mesmo pagando o preço de morar com alguém de
quem já não se consegue sorrir na chegada...Ele olha à volta na
garagem do apart-hotel e entra no carro.
Andando pelas ruas da madrugada,ele vai olhando pra trás.E,
relembrando os primeiros momentos ,quando a vida era mais fácil e
ele achava que fazer dinheiro,era a maior obrigação de um homem...
Ele já não sabia como lidar com aquela emoção;em seus planos,as
pessoas casavam e com o passar do tempo iam criando intimidade,onde
,talvez ao felicidade se escondesse.Ele vai repensando e percebe que
isso não havia acontecido com eles...Ele não sabia onde havia errado.
– Será que alguém sabe ?- de uma hora para a outra começou aquele
olhar de lado e no lugar do afeto de todo dia,a indiferença foi se
alastrando ...Domingos ri e percebe que,essa tal de maturidade,não fora
tão ruim assim.
Ele já tinha muita coisa,mas faltava algo que o animasse,mesmo que
ele não soubesse o que era... O carro vai ganhando as ruas e no cd ele
escuta um disco emprestado por J.C.
A tal da Leila Maria. Ele pensa e diz alto:
— É,até que esses contemporâneos são bem legais ...!

Amigas !!!,mas não toda hora ...

Diana demorou um tempo,talvez umas semanas pra voltar o ritmo.


Na quarta semana,ela teve coragem de visitar o apartamento e o que
havia sobrado dele. Naquele dia,Savanah com um mínimo de
sensibilidade,havia deixado ela ver quanto televisão quisesse .
As semanas foram passando e Savanah não sabia como lhe
ajudar. No íntimo,uma sensação estranha vivia dentro dela. Naquela
noite,sonhou com correntes que prendiam seu corpo no fundo do mar
e acordou com uma dor nas costas terrível,mas achou que o trabalho
estivesse muito forte;perto das Semanas de Moda,tudo ficava mais
cansativo. Savanah precisava viver com toda a sua força o papel de
mulher-madura–bem-resolvida.
Afinal,clientes não dão trabalho para jovenzinhos...
Diana já sabia onde ficavam os xampus italianos que Savanah
adorava. Já sentia-se animada para escutar seu cd de remixes da
Cristina Aguilera e,de alguma forma, já sentia-se em casa.
Savanah achava a Cristina Aguilera muito sexy;na sua opinião a
Madona que cantava ...muito ,mas definitivamente não na sua casa!
Boate custava R$ 20 reais e com sorte,com uma garrafa de cerveja
para os “inauguradores “...
Diana vai aumentando o som e,talvez por não entender nada do
que Cristina cantava,tava tudo bem.
Savanah que entendia tudo por ter estudado 4 anos em Nova
Iorque.Estava quase ,quase ...surtando !!!
Savanah grita:
–Meu Deus !!Minha casa agora é uma boate.E ,o pior,eu não lucro
nada com isso. Merda !! Abaixa essa vadia que engoliu a porra do
microfone.
Diana se faz de assustada,mas desliga o som com uma forma de
“reflexão“para com,aquele gesto autoritário.
–Se você não gosta da Cristina,agente pode escutar a
Cher;olha,esse aqui ela canta que seu homem foi embora por uma
longa... estrada de terra ...
Savanah sentada em uma cadeira,olhando perplexa,por se achar
insensível com uma amiga desabrigada .Depois do som
abaixado,Savanah diz :
—Olha,desculpa os meus rompantes,mas eu acho melhor você
procurar um hotel pra você e se você for agora,eu banco a primeira
semana ,ok ?
Como uma voz abafada ,Diana diz :
—È assim que você fala com alguém que não tem onde morar ?
—É assim que eu falo com uma maquiadora que deveria ser D.J ou
Drag-Queen...
Olhando para o lado,Diana diz:
—Meu deus!,que o tempo lhe mostre sua tamanha injustiça. Que os
céus caiam sob vos, com a culpa que deves sentir...
Savanah levanta-se da cadeira e,entre o percurso até a janela, vai
dizendo:
— Fofa ,Shakespear já era .Você está atrasada só uns 400 anos ...
Diana ainda tenta mais uma para permanecer no apartamento de
quartos
de frente à praia:
—Você acha que está sofrendo?
—Sim! ,eu não posso nem mais falar sozinha,pois eu tenho uma
visita eterna.Nenhum corretor me comentou sobre encosto.
E acrescenta mais:
—Minha fodas de boate não voltam mais,por que acham que a
gordinha–pequena,é meu caso ...Quando falo sozinha,sou suprimida
pela voz de Cristina Aguilera...Eu não agüento
mais !!,desabafa.
Diana há uns 4 metro de Savanah,vem caminhando em sua direção .
— Você acha que sofre?
— Sim.
— Você acha que sofre?
— Sim,Muito.
— O meu apartamento pegou fogo e você acha que sofre. Você
sabe o que é pedir um cd da Madona no amigo oculto da escola e
receber um pacotinho de Q-suco? Você sabe o que é isso ?Isso é sofrer!!
Por essa Savanah não esperava,até nos momento mais difíceis,
Diana era única.
Savanah diz:
—Que horas são?
Vamos tomar um drink naquele bar que eu gosto e depois –amanhã- a
gente resolve a situação .
—Ok.

Depois de tudo ... o afeto permanece .


Com a mão no cabelo cor de sol,Diana vai olhando,
meticulosamente para cada canto do bar como se as paredes tivessem
ouvidos. Estranhamente naquele dia,as piadas haviam ficado em casa.
E,Savanah achou que ela ficava mais bonita, quando séria. Na cabeça
de Diana aquele “lounge” poderia se repetir eternamente que,ela,nem
notaria.
Todos os comentários eram respondidos com sorrisos e olhos de
interesse...Savanah sempre interrompida por “amigos” que,
perguntando como ela estava,deixavam cartões de apresentação, E,o
mais interessante,ao menos o que Diana notava,era que sempre se
perguntava mais ou menos as mesmas coisas:
“ Como está ?E o trabalho? Londres,Paris,Etiópia e China!!
Os lugares mudavam,as pessoas não. Sempre com seus comentários
que não moviam sua atenção,mas que pareciam encantar sua
amiga.Definitivamente,ao lado de Savanah,ela achava que precisava
apreender muito,não os 18 idiomas
- ou seriam 35? - que Savanah falava...
Ela se pega rindo, pela primeira vez na noite ...tão lenta para ela.
Savanah com seu rosto inocente,pergunta:
— O que foi amiga?Você parece cansada,hoje.
— Talvez ,não sei explicar ao certo,sabe quando você quer falar
alguma coisa... ,mas ...
Tarde demais,a editora da Gestalt já havia pego Savanah para falar de
um projeto fascinante –suas mãos complementavam as frases – com
Carol Franscichini e mais duas modelos “new-faces” do Egito que ela
havia conhecido,numa festa em Paris ...Para Diana os mesmos
papos,apenas novas locações .
—Pronto, quem chegar agora ,eu digo que não sou Savanah, mas
alguém parecida ...Conte me tudo ,não esconda nada.
Era engraçado como Savanah sozinha conseguia ser afetuosa. O
gelo d’agua tônica derretia-se claramente sob a luz das velas da mesa.
- Sabe,quando eu te disse que estava bem,era só pra não te
preocupar,pois depois de toda essa carga profissional que você vem
passando,né ?
— Isso não me impede de te escutar, quando for necessário.
Isso de alguma forma aquece o coração de Diana que,com um riso
desfocado,olha o horizonte e diz:
—Sabe,a minha vida nunca foi fácil.Eu sempre quis o melhor e...
não estou falando de sapatos Prada.Eu sabia que havia algo melhor
para mim,mesmo não sabendo o quê, eu deixei toda a agressividade da
minha casa materna,onde eu era uma garota ainda;pelo menos, é assim
que eu me vejo, hoje ...
Savanah continua a olhar-lhe nos olhos ,como uma criança
encantada,com um truque novo ...
— É engraçado como eu achava que a vida era fácil. Achava que
todas as estrelas de televisão haviam assim nascido,para assim
ser.Eu...saí de casa,não para ser uma delas ...Mas hoje,eu vejo que
tudo que eu queria,era sair daquele jogo
emocional-sujo,onde esperava o doce carinho dos meus pais,pra talvez
... –Ela coloca a mão sob seu rosto –pra fazer com que eles
entendessem que eu tinha uma opinião própria,que eu sentia
também,sabe ?
- Sei .
Estranhamente as pessoas pararam de levar projetos luxuosos para
Savanah;como se a força daquela confissão,cria-se um campo
magnético que as levasse bem longe dali;longe do óbvio e mais perto do
coração,onde o afeto dita as regras e nos faz acreditar que uma vida
melhor,ainda é possível.
—Eu saí de casa em pleno 17 anos .Você sabe o que é isso ?
- Acho que sei. -com um ar afetuoso .-
—Na minha cabeça ,eu só queria ser livre dos gritos de
repressão,toda vez que eu falasse algo diferente.
As luzes mudavam.Novos clientes chegavam com suas roupas
lindas,porém o copo de água tônica permanecia imóvel.
Diana olha para o lado, como se quisesse confessar algo que jamais
faria...
- É engraçado,onde o caminho do orgulho nos leva.
Às vezes,nós achamos que,o Mundo nos obedecerá e que nunca mais
sentiremos tristeza.Então a depressão nos toma,sem ter sido
convidada,nos derruba no chão e parece nos olhar com sua
superioridade estúpida;estúpida,por acharmos que nossos desejos são
grande coisa...E,o pior é que,mesmo falando tudo isso.Eu sei que na
próxima semana,vou estar desejando uma nova cartela de maquiagem
...”
Sua conversa vai caminhando para o lado mais doce e,bruscamente
torna-se triste novamente. Savanah,com seus longos cabelos,não olha
pra ninguém,pois,esta noite sua amiga precisa dela...
Diana continua:
-Depois de dois anos trabalhando como caixa de uma boate gay eu
...Eu comecei a perceber a falta do estudo;estudo que o orgulho me
fizera afastar ...
Parecendo um pouco nervosa com as mãos irrequietas,ela
confessa.
—Desculpa se deságuo em você,como um rio que busca o
oceano,mas é que eu não queria que você achasse que eu não gosto do
seu amigo Domingos...
—Imagina! Eu em pensei nisso.
Como se as palavras pudessem mudar ...
-Quando eu tinha 19 anos,achei que se volta-se para uma casa
de família,meus estudos estariam garantidos.Foi aí que eu conheci a
família de Domingos.Seu pai era doutor ,homem das leis que mostrava
para os outros o certo no seu tribunal.Sua mãe cantava em lugares
bonitos que,eu só conheci depois dos 36...Eu achava que depois de um
tempo,tudo voltaria ao normal,afinal cuidar de um adolescente e duas
crianças pequenas,não podia ser tão difícil assim... Assim, eu voltei para
escola e ... depois larguei .
—Por que ?
—Por que o filho da puta do pai do Domingos, achava que eu era
empregada e ...puta nas horas vagas.O homem das leis que mostrava o
certo pros outros.Queria salvar seu casamento medíocre desaguando
sobre meu corpo!
—Meu Deus,é daí que você o conhece ?
—É.
—Então,depois de algumas semanas das aulas começarem,eu já
não era presente entre os demais. Será que é pedir demais ter uma vida
normal?
Naquela noite ,os chatos se afastaram para deixar as amigas se
conhecerem melhor.E,perceberem que,nada pode ser mais doce do que
um ouvido amigo...

Ííííííííí,não vai dar certo.

No dia seguinte,tudo transcorria normal,nem Christina,nem Cher


...porém os xampus continuavam a serem usados .
Savanah,carinhosamente lia o jornal e deixava a parte de “aluga -se”
bem aberta sob à mesa,afinal amigos sim,mas o bom senso tinha o seu
lugar.
A noite chega e,naquele dia,Savanah havia ficado um longo dia
pesquisando sob a estética belga/Anthuérpia;coisa que ela nunca havia
entendido,mas dera sempre a entender que era uma especialista.Ao
longe,Diana escutava músicas familiares em seu “diskman”.Isso não
incomoda Savanah,mas de repente,ela reconhece a voz de Cher
cantando suas carências sexuais-mentais. Savanah pergunta-se como
uma mulher,pode esperar tanto de um homem. Será que elas não
sabiam que,nenhum homem tinha esse poder? Infantilmente,ela vai
lembrando de seu pai que, tinha história gloriosas e ri,talvez ela
estivesse sendo dura demais consigo mesma,talvez Cher pudesse cantar
sim,aquilo mesmo, muitas mulheres poderiam estar passando agora
por desilusões amorosas...
E,pensa mais: -bem feito!
queriam o que,também?Achar papai de novo?Sem perceber ela começa
a rir de novo e diz:
—Aposto que esse homem,não pagou o seu aluguel
esse mês !Agora chora ou pede empréstimo pro banco á 3,9 % ao mês
Com a voz mais alta,Savanah balança sua mão esquerda e com a
voz cada vez mais alta,fala ,como se estivesse dando conselhos para
uma mulher teimosa de 23 anos ...
- Eu por exemplo,não deixo homem pagar as minhas contas, ,nem
meu pai me dava tanto.Pra que eu vou esperar isso dos outros...Aprendi
na vida que,nada vem de graça ,de ninguém...
Sem perceber,suas mãos gesticulam,como se uma multidão aguarda-
se seus conselhos ...como se dependesse apenas de seus conselhos,pra
que o mundo mudasse. Nesse momento,Diana já não consegue disfarçar
o espanto,de ver sua amiga comportando se como uma doida. Ela por
sua vez,continua,talvez sem saber o por quê ou por demonstrar
que,em sua casa,nem tudo era tão...fino.
Diana levanta-se e vai escutar sua Cher em outro canto.
Que bom,pensa Savanah,pois agora,aos poucos,ela conhecia a
verdadeira Savanah.
Na cozinha de chão frio,a geladeira é aberta por Savanah que
busca por sua latinha de água tônica,saciada a sede,ela vai em direção à
Diana que está calada,na pequena cama do quarto de
empregada...imóvel. No chão,somente o resto de sol que
estranhamente cismara em aparecer ...Savanah olha para os pés da
amiga,depois para sua barriga deitada,até chegar aos olhos. Então,ela
senta-se ao seu lado e ri:
-Olha Diana ontem eu fui um pouco dramática,mas eu não faço isso
por mal,sabe?
Sem olhar em seus olhos ,Diana demonstra estar escutando.
É um momento delicado em sua vida,pois como maquiadora,não vai ser
em três meses que o dinheiro de uma vida inteira de restrições,vai
aparecer ...Ela precisava aceitar aquele jogo,
mesmo achando que o destino não fora justo com ela; que em sua
idade,as coisas tão difíceis,não deveriam vir assim...
Savanah continua olhando em seus olhos,sobe para seus cabelos
vermelhos,contorna seus olhos,com seus olhos.E,como um animal
pequeno,procura demonstrar seus afeto...
- Sabe Savanah,se eu pudesse,eu não estaria na sua casa toda
essa eternidade,mas a vida é desagradável ás vezes,e eu acho que... –
Então ela limpa as pequenas lágrimas – Deus tinha que nos mostrar um
caminho para nos tornarmos melhor ....
Eu ...mandava pra merda todas essas festas ,todas as compras,se eu
pudesse respirar aliviada...
Savanah continua olhando-a,apenas sorrindo; como um tio legal
que chega para às férias de verão.
—Desculpa as músicas pra dançar,mas há algumas semanas
atrás,eu tinha uma escritora noturna como vizinha e uma velha surda
no andar de cima –as duas começam a rir baixinho – tudo era mais
fácil.Agora o tempo fechou. E,eu não quero mais fazer o que eu fazia
no passado.
Savanah-filhote parece ter todo o tempo do mundo,naquela tarde
onde o sol desmanchava-se no chão.
— O que você fazia no passado,Diana?
Diana olha Savanah,pela primeira vez,em seus olhos,agora já de frente
para Savanah .
—Você vai ter paciência... ?
—huummmh.
—Quando eu era mais jovem -Diana balança a cabeça e numa
negativa–Desse jeito parece que eu vou fazer idade pra plano de
saúde....
Savanah parece encantada por aquele momento.
- Há um tempo atrás,eu trabalhava em vários empregos pra
pagar o aluguel dividido e mandar dinheiro para minha f... É, parentes
em Mato–Grosso.Eu era uma ótima vendedora de ótica no Centro.Aí
,veio o plano Collor e,de uma noite para outra, eu comecei a achar,até
a passagem do ônibus cara de mais...Daí,falei para dona da loja
que,nós tínhamos que comprar uma máquina de xerox pra Ótica.
Savanah tira seus olhos dos curtos cabelos vermelhos e faz cara
de quem não entendeu .
Diana a contempla e pergunta :
—Você tem certeza de que não pegou o truque ?”
Savanah continua com o mesmo rosto .
—Aí meu deus ,- com um rosto mais alegre agora ,ela diz – Aí,era
só reduzir a intensidade da xérox,quando ,o cliente reclamava .A dona
da loja era a primeira a perguntar :
—Tem certeza de que o senhor está enxergando bem ?”
Quando Diana recomeça a outra frase .As mãos de Savanah já
estão sob as faces segurando o riso gostoso ,daqueles que agente só
dá quando estamos relaxados ,sendo agente mesmo ...Nesse momento
,Savanah,ainda rindo,percebe que nem sempre roupas caras são tudo.
—Amiga .
Nem sei,se éramos felizes...

Nigro ,o menino legal .


Por toda a cidade ,pessoas faziam suas coisas...Diana ,por exemplo,
resolvera pintar seu novo AP alugado ,ás 23:07 jurando que tudo
estaria acabado, no máximo, ás 2:30 hs.
Nigro estava em casa lembrando do passado ;como era feliz
quando adolescente ,quando sua mesada dava pra comprar o mundo
todo e ainda pagar o cinema das garotas .Depois de anos em um
longo relacionamento ,ficar sozinho não era fácil ...Nigro perguntava-se
o que faria agora que ,todos os seus amigos eram amigos de sua ex
.Música. Nigro não contava pra ninguém ,mas como toda a sua família
,eles achavam João Gilberto o máximo ;pena que as pessoas não
conhecessem sua história de persistência, para depois chegar ao
sucesso. Ele passa a mão sob os cabelos claros e deitado sob o sofá fica
com apenas um leve short. Ele questiona-se:o que seria de sua vida
agora?,depois de um grande amor ...Daí,ele lembra que dentro da
agenda social de sua ex, eles haviam sido convidados para uma bebida
“after work ” com Savanah Amarillo Cristo .Nigro sempre a achará muito
exótica ,talvez fantástica,pois se ela terminasse um relacionamento ou
tivesse uma grande perda ...No dia seguinte,já estaria trabalhando ...Ele
queria ser assim,sem dar bola para os problemas...Queria não
depender de ninguém,mas ele fora educado para respeitar ,até mesmo
as formiguinhas e o Senhor Grilo .Definitivamente só restava o tempo
.Esse sim ,sábio que renovaria cada: choro ,cada soluço ;só o tempo
seria amigo... Então, em poucos instantes ele toma uma decisão .Não
vai perder o drink pós trabalho que Savanah havia os convidado
e,além do mais, ele não agüentava mais aqueles filmes bosta do
Telecine .São 23:08 ,de uma terça feira. Dois dias depois do
rompimento,ele queria sofrer pouco. No sofá, ele decide que será um
novo homem ,com menos expectativas sob relacionamentos e que
agora as garotas conheceriam seu lado cachorrão-controlado .Ele
espreguiça-se no sofá e começa a sentir um calor nas pernas ,uma leve
contração no abdômen e pensa que não é nada mal para alguém que
não queria ver meninas de mini-saia á pouco instantes ...Ele põe a
mão pra dentro do short e calmamente sabe que dali vai ter um
soninho bem agradável ,ali mesmo .O trabalho que esperasse ,afinal
horário nunca fora problema para sua produção.

È festa ? Intaumtá !!!


Pra Savanah havia sido um dia muito chato. Na revista em que
trabalhava toda sua responsabilidade semanal já havia sido feita e
estranhamente não haviam clientes para projetos
especiais ...Definitivamente só livrinhos de ficção. Seus olhos estavam
perdidos quando o telefone toca:
— Savanah falando. Como posso ajudar lhe?
— Vindo pra minha festa de tops ...
-- Desculpe me. Quem é?
— La belle du noir. Não lembra ?
Meu deus,isso era um empurrão em sua memória .La Belle de Noir
era uma das bichas mais agitadas de N.Y. Não havia festa em que ela
não soubesse ,nem telefone que ela não tivesse,em seus contactos.
Aquele telefone significava festa.E,ela,nem se importava,de ter seu
telefone cotado como cigarros paraguaios baratos,ao menos,a noite
estava garantida .
- Olha fofa,vou dar uma festa de tops,onde tudo vai ser top:top
salgadinhos,top cerveja +top caipirinha e top profissionais. Aí,eu
imaginei que a minha top amiga quisesse vir. Que tal ?
Savanah responde com um,quase carinho na voz:
— Oohhh bem que,pena que amanhã eu vou estar no aeroporto
para buscar a Carol Francischini no aeroporto ...sabe como são
campanhas fotográficas,né?
Vocês querem saber a verdade do futuro de Savanah?

Mentira!! Ela ia acordar e esperar “Godot“,mas sob hipótese


maneira,admitiria isso para uma das bichas mais fofoqueiras do planeta
Terra,além do mais,ninguém convida gente desesperada por festa .
—Aí,fofa ...vem ...
—Promete que eu vou poder sair antes das 2:15 am?
—Você pode tudo .Top- Top !!
Savanah chacoalha o cabelo com um pouco de mousse e coloca
um vestido ultra curto com cristais em relevo. Ela pensa:
- Em festa de bichas ,ninguém vai se incomodar.
Olha de novo para a bina e retorna a ligação,apenas para confirmar o
endereço.
—Belle ,bem você ainda está naquele endereço perto da praia?
—Não!,fofa ,agora eu moro na Zona da Carniça ,descobri que é por
aqui que o fervo acontece.
—Belle,não é aí,onde ficam aquelas travestis violentas?
—Ai,liga não fofa, é só você não vir com uma roupa muito curta.
Sabe como é,né (?)podem pensar que você quer outra coisa ...
— Sei...
Savanah pensa em duas coisas antes de sair:pegar o sobretudo,a
bolsa com o mínimo do possível e o dinheiro do táxi .
É,mais ou menos,como diria o Dalaí Lama: “confie em Deus ,mas
tranque o carro.”
Depois de 52 minutos cronômetrados, a deusa africana desce do
táxi de: Sobretudo-médio, saltão-agulha + óculos escuros e chapéu
Sophia Loren. Estranho que uma biba que morasse em N.Y estivesse
morando em um lugar tão mal,mas o importante é que ela estava indo
para uma festa de tops.
A porta se abre e... para a surpresa dela ,uma meia dúzia,num quase
velório,estão na sala .A bicha vem com tudo:
—Mais uma top ééé eeeelaaa. Saaavaaanaaa!!
A situação não podia ser mais constrangedora.Uma louca de
sobretudo cinza ,salto 15 e chapelão,rodeada de: imbecis,bichinhas que
acham que ver televisão é O local pra se manter informadas.
O apartamento,estranhamente decorado - todo- com luzes de 40
watts .Savanah sente-se perguntando,como havia caído numa trapaça
daquelas (?) ... A sua frente,uma mulher com cara de mão humor
fumava seu cigarro que parecia criar um campo de força anti-contato,
movido a pura energia antipática ...
Savanah não consegue se mover ,até um bichinha com muito gel no
cabelo,perguntar:
—Você trabalha na televisão ?
Tentando ser o mais simpática,afinal não era culpa da bichinha,mas sim
da bichona fudida e falida dona da festa.
—Não,por que?
—É que você não tira esse óculos e chapéu ...eu pensei que você não
quisesse ser reconhecida.
—Aahhhmm.
Só ali,ela sacou que no seu choque havia esquecido de tirar os
acessórios;aos poucos ela vai retirando tudo,até ficar de vestidinho.
Na mesa, salgadinhos meio-frios.Sem querer a moça do escudo de
antipatia vem conversar:
- Ele falou para você que haveria produtores de teatro aqui ?
Savanah ainda meio lenta do choque,diz:
- Não,é ...na verdade eu sou produtora.
Nesse momento a moça antipática que ,na opinião de Savanah,
precisava ver umas tesouras no cabelo ...alegra-se.
—Você vai montar uma peça? Sobre o que?
—Não ...eu produzo fotografia de moda e desfiles ...
—Ahhhmmm...
Parece que todos estavam chocados com a festa .Savanah não
consegue parar de olhar para os cabelos da moça antipática que,nesse
momento,já não tão antipática...até que escuta:
—Já sei ,é o meu cabelo ,né ?
Eu fiz promessa e não posso corta –lo.
Savanah tenta remediar a situação:
—Não ,eu até achei bonito ...
-- Até?Poxa ,não precisa ser tão simpática .Você pensa que,se eu
pudesse,eu não meteria um mega-hair que nem o seu?
Ali,a moça voltou a ser antipática,pois Savanah havia usado
muito chapéu e lenço para que o cabelo crescesse em paz ...Ela pede
licença e vai para a cozinha para tentar beber algo .
Nisso...
—Aí amiga ,ainda bem que eu consegui despistar todo mundo para
vir falar aqui com você.
Savanah não consegue disfarçar o espanto pelo“todo mundo”
—Olha,você sempre foi a minha melhor amiga em N.Y. Você sabe
disso.
Savanah não consegue lembrar disso. Estranhamente a bicha
funga a cada 5 segundos ,então a bicha continua:
—Acontece que eu achei que N.Y era pequena demais para mim
,sabe,Sav?
tentando disfarçar com os olhos,ela diz:
- hummm...
— Então ,eu te chamei ,pois você era uma das únicas - e mais
fungada – que gostariam de me ajudar,numa hora dessas ...É que os
“cara” me disseram que, se eu não pagar o que eu peguei ...
–com um olhar de cantora lírica: – Eles vão me matar! Sav ,eles vão me
matar!!
A bicha dentro do possível faz seu escândalo controlado e termina por
beber o resto d’água de Savanah:
—Tudo isso, por míseros R$ 1.820 reais. Eu sabia que para você isso
não seria nada ...amiga.
Savanah está tão chocada que promete o cheque,antes de sair da
festa;fazendo as lágrimas de crocodilo cessarem.
Ao sair da cozinha ela avista,Pablo,o maquiador e cabeleireiro
das estrelas que lhe sorri e faz o gesto de cifras no ar:
— Pablo onde estamos ?
- Não sei,mas me abraça para o medo passar ...
Eles se abraçam e têm uma crise de riso nervoso,só controlado 5
minutos depois .
—Qual foi o valor do cheque ?
—R$ 500 reais .E o seu ,Sav?
—Eu pareço mais rica que você?R$ 1.820 reais.
—Não gostei ,só não vou lá tirar satisfações,pois pela primeira vez
na vida ,vou engolir ser o segundo.
—Eu quero ir embora daqui,Pablo!
—Essa é a pior parte, se você tentar sair de supetão,”ela” vai fazer
um show,até pra você não espalhar pela cidade que essa festa era,na
verdade,um caça níquel.
- O que ele vai fazer com esse valor... vale refeição?
— Bom,junto com a quantidade que o meu amigo ali perdeu.
Eu tenho certeza de que vamos vê lo em Avalon/N.Y na próxima
temporada. Você esqueceu o que é uma bicha trunqueira?
Savanah concorda e continua escutando,Pablo:
— Se você quiser sair dessa “festa” vai ter que esperar aquela
filhinha ali,perto da porta.
— O que eu faço até lá?
— Humm, aquela menina alí que,eu já prometi que vou cortar o
cabelo amanhã. Ela tem um ótimo papo.É atriz.
— Eu conversei com ela e ela me pareceu tão antipática ...
— Apenas insegura...Desculpe Sav,mas a porta está aberta e eu
tenho que aproveitar,enquanto o anfitrião está extorquindo mais
alguém na cozinha. Não podemos perder essa chance de voltar para
o “parque de diversões!!”.
Savanah ri e com Pablo já de costas,diz:
- Amanhã no “ Berinjela” tenho que te contar uns projetos ...
- Só via e-mail,amanhã estou eu N.Y fazendo uma caracterização
para um seriado de Tv. Beijos e me liga.
Para Savanah que, já não encontrava seu sobretudo e chapéu
sob o sofá ,parece que só restava a moça antipática.
Ela senta-se no sofá e de forma bem educada,tenta um assunto:
— Sabia que o cabelo da Camila Pitanga também é aplique?
— Humm,sempre soube,ninguém pode ter um cabelo
tão perfeito ...
Savanah apenas ri para a moça que, parecia ser a única salvação da
festa.
Savanah pergunta:
— Qual o seu nome?
— Alessandra e você ?
— Savanah Amarilho Cristo.
- Orina.
Savanah com alguma dificuldade de falar pelo riso,ainda pergunta:
— Perdão?
No que recebe a resposta:
—Eu perguntei somente o seu nome e você me disse até o
final.Então,o meu artístico que uso diarimante é Orina.
Alessandra Orina .
Savanah ,cada vez mais,tenta controlar o riso,mas vai ficando difícil
por que ela está certa de que,Alessandra não sabe que Orina,nada mais
é que Urina em italiano.
- Eu tenho cara de palhaça?
- Não queridinha,é que eu sou usuária de Óxido Nitroso e fico meio
sugestionável de vez quando. Então ,quer dizer que você é atriz?
Com um olhar apreensivo –como que quando um farsante que foi
descoberto-,Alessandra pergunta:
— Como você sabe?
— Calma !O Pablo me disse.
— Ahmm,ele foi muito simpático,ficou de me arrumar um papel no
filme que ele está fazendo em Nova Iorque.
Savanah educadamente,afima:
— Então,você fala bem o inglês?
— Acho que sim,assim como o: Alemão,francês e árabe;minha
única frustração é não falar italiano.
—Sei...Como você aprendeu o árabe?
—Eu morei umas temporadas com uma diretora em N.Y,lá
interpretei em um teatro local, a história de uma mulher árabe que
recusava-se a seguir o Alcoorão,por acreditar que Deus havia nos feito
iguais...
A peça durou um tempo e,no meio dela, eu me apaixonei pela rapaz da
bilheteria;ele sempre me via chegar,vinha abrir a porta,dizendo que eu
era a mais bela da peça.Isso tudo em Árabe.Daí,no final da temporada,
eu larguei tudo e fui morar com ele em Damman que é umas das
cidades principais nos Emirados Árabes.
—Nossa!,que fascinante, por que você saiu de lá?
- Aahmm... A família dele não gostava dos hábitos da “Estranha do
Ocidente”.Você acredita que nos três anos e meio que eu morei lá ,na
desculpa de não saberem pronunciar meu nome,me chamavam de A
estranha?
Savanah acrescenta:
– Que chato ...
- Chata era a mãe dele que,me forçava a comer: carne crua com
hortelã e pimenta. E ,por mais que eu tentasse explicar-lhe que quem
come carne na minha religião,não vai pro céu ...Ela levantava ás mãos
para o céu e dizia que camelos não servem sem patas...Definitivamente
eu nunca entendi isso.
Sem perceber Alessandra ia contando toda a sua vida para aquela
estranha que,havia acabado de sentar ao seu lado.E o mais interessante
pra Savanah é que os Emirados Árabes eram regiões desconhecidas
para ela. Alessandra continua:
— Depois,a mãe dele começou a perguntar por netos.E, ele não
conseguia explicar que as mulheres estranhas,engolem pedrinhas azuis
para evitar filhos,sabe?
Savanah passa a mão sob os cabelos, naquela sala obscura,com
salgadinhos frios sob a mesa e uma pequena fila de idiotas sendo
arrastados para a cozinha,pra serem extorquidos ...
— Aí, a mãe dele começou a implicar que eu não ajoelhava ás
18:30 para agradecer a Alah por estar viva.
— Não seria mais fácil agradar à velha?
Alessandra a confronta com os olhos e diz:
-E, sujar a minha roupa (?) nem morta. O pior era a Evolução do
Rebanho. Todos os dias eu escutava aquelas histórias de camelo sem
pata. Ouro que vai pro rio.
Ás vezes, eu falava em português se ela não queria fazer companhia pro
Senhor Alah.E quando ela escutava Alah ,ela respondia:
— Alah! Alah ! Alah!
Savanah acrescenta:
- Talvez essa seja a melhor parte de ser uma estranha na terra dos
outros...
Meio incomoda em fazer aquele tipo de pergunta,mas mesmo assim:
— Quer dizer então que você não pode ter filhos?
—É, mesmo a velha querendo se entupir de camelinhos .Eu...não
teria Educação Emocional pra lidar com gritos dos camelinhos ou gritar
toda vez que um camelinho atravessa-se a rua,com o sinal aberto
,sabe?
Savanah vai cada vez mais se afeiçoando aquela mulher
que,mesmo apesar de tudo,parecia viver sua vida da forma que queria.
Seguindo seus princípios,sem ninguém para lhe mandar abaixar ou
pensar diferente,exatamente no que Savanah acreditava.As duas se
olham e percebem um grande potencial para uma amizade,daquelas que
só pareciam possíveis nos filmes.
Aproveitando os escândalos cronômetrados do dono na festa.
Savanah,rápida como o vento,levanta e puxa sua nova amiga pelo
braço:
—Vamos,você é minha convidada para uma pizza perto da minha
casa.Aproveitemos enquanto alguém é extorquido
Alessandra sem entender,apenas balbucia:
- O que?,ta !
Com o barulho da porta sendo aberta,a bichona-dona-da-festa-
diva-lírica pôe sua cabeça pra fora da cozinha.Enxuga as lágrimas de
Cristal e tenta fazer Savanah ficar,com um
grito-convite. Na cabeça do dono da “festa” a atriz decadente era isca
para pegar os tops- endinheirados.Tarde demais,a porta se fechava e
as duas não se incomodavam de,a passos largos,demonstrarem a falta
de interesse em ficar ...
Na pizzaria cheia de luzes
amarela-ocre a música eletrônica bem baixinha,as duas amigas contam:
segredos,frustrações e expectativas para uma vida melhor...Quando
Savanah descobre que,Alessandra,tinha visto “lês intimités” de
Cherrau,ela, definitivamente sabe que encontrou uma boa amiga.
Então, eles se encontram ...
O horário havia sido marcado para 20:30 hs,mas todos sabiam que a
essa hora,ainda era hora de estar trabalhando...
Tá,tudo bem,parando de trabalhar,afinal a roupa da Fórum nunca fora
barata para nenhum deles,mas Dane-se! Eles não tinham filhos pra se
preocupar. Quem iria condena-los ?
O bar era a nova paixão de Savanah,ninguém sabia o por que,
mas ela sim;Guto,para o resto,sem intimidade,Augusto.
A primeira a chegar fora a semi-louca,Alessandra,pelo menos,era
assim que ela sentia-se,uma vez que,não havia tido tempo,nem de
passar uma leve base, para encontrar seus novos amigos; amigos
alíais que,até agora,não haviam implicado com a moça: mistérios do
coração...Ela senta-se ,preocupada em demonstrar pontualidade com
seus novos amigos.Os garçons de calça roxa - em homenagem ao bar –
que... passavam,passavam e nada de ninguém chegar.As 20:58hs
Alessandra já se perguntando,se não havia errado o dia...
Chega,Savanah com seus cabelos lindos e ultra-lisos com franja lateral,
Alessandra não lembrava de ter conhecido-a assim,mas ela também não
sabia que a amiga estava amando...
Com um rosto vivo,ela diz:
-Olá, Alê chegou cedo. Era pra guardar lugar?
Com uma voz ainda indecisa,ela responde:
- Eu pensei que,havíamos dito 20:30 hs.
- Não,eu havia dito próximo das 20:30 ...
Ainda confusa,ela apenas olha à volta,á espera de resposta:
— Quando nós dissermos próximos das 20:30 hs,é pra chegar dentro
das 20:30 hs,logo antes das nove,pelo meu código físico–espacial,eu
ainda tinha 3 minutos pra escovar o cabelo.
Savanah acrescenta mais:
— Mas sem problemas,pois a vida é linda:
Alessandra parecia um pouco contrariada,pois era a única que,
ainda não havia recebido a carteirinha do otária da turma,mas como ela
estava conhecendo pessoas legais,resolvera relevar.
20:59hs: entra com uma ligeira pressa uma ruiva que,não era
escultural,mas era Diana – 2minutos pro encontro - e isso bastava.
Senta-se na mesa cantarolando e sorrindo. Nos seus primeiros
comentários o que,já era de se esperar:
- Se aquele preto-drag-queen demorar mais um minuto,eu vou
zoar muito
Com um olhar deliciado pela situação,Savanah roi a unha do dedo
mindinho e afirma:
— Eu pensei que você o detestasse!
—Sim,mas não posso perder uma oportunidade de zoa-lo.
Num gesto típico,o preto-drag dá um susto em ninguém mais
que ,Diana:
—Polícia!!,ninguém se mexe,ninguém se machucará!
Com um rosto quase pálido,ela se faz de irritada,mas já não
adianta,pois a mesa inteira está rindo.
Pronto,não era nem 21:00 hs e todos haviam chegado “em
ponto”,menos Alessandra que,esforçava-se para ser a idiota feliz ...
Savanah diz:
- Então, 4 caipirinhas?
Com uma resposta estranha,J.C rebate:
— Não, por que não bebo mais álcool.
Diana pergunta com interesse onde Alessandra havia achado aquele
tão belo brinco de pérolas,mas antes da resposta,é interrompida por ...
– J.C grita: Porra!!,ninguém vai me perguntar por que eu não bebo
mais?
Num gesto de choque e diversão,Alessandra pergunta:
- Por que você não bebe mais álcool,J.C ?
—Porque agora comecei um curso de Hatha Yoga.E,meu “mestre
não me deixa beber álcool.
Savanah com sue típico olhar de deboche,diz:
—Viadagem,ela ainda não proibiu?
Diana não perde a chance pra dizer:
—Talvez ,ainda não tenha percebido,né?
Naquele restaurante muito simpático com lanterninhas de papel
iluminada,Savanah agradece,a quem acima dela estiver,por momentos
tão gostosos como aqueles...
.....
Com um rosto de sono que,não era proposital.Ele chega,com suas
mãos pequenas ,mas muito delicadas em recusar-se sentar no lugar de
Savanah.
Naquele pequeno espaço de tempo,tudo estava em seu lugar,mas
alguém já sentia aquele frio na barriga e..não era o”chegante”,nem
Savanah,a mulher apaixonada.
Nigro fala :
— Oi,Savanah,desculpa o atraso,mas é que a Melissa não vai poder
vir e ...
Antes que Alessandra soubesse quem era o rapaz tão atencioso.
Savanah perguntou: Por que?Passando mal,talvez?
Com os olhos calmos e quase angelicais,ele responde:
—Não ,agente brigou e ...eu acho que não quero mais vê la,mas se
eu não puder ficar,tudo bem,até por que você havia convidado a nós
dois e...
Savanah faz um rosto de mãe amorosa e compreensiva,mas antes
de conseguir dizer algo é interrompida por J.C que,já está perdido no
olhos alheios.
Com uma voz o menos afetado o possível,ele diz:
- Que isso,fica aí com agente cara.
—Faço deles as minhas palavras ...lindinho

*********

Todo o restaurante tem garçons para anotar pedidos dos clientes


normais,mas eles não são normais...Então,o dono do bar vem trazer os
cardápios.
— Boa noite,senhoras ,senhores e minha dama prometida -
,beijando o rosto de Savanah:
— O que gostariam de beber?
Savanah com um olhar dócil,diz:
— O que você me recomenda?
— O seu será um suco de:manga,hortelã e muito afeto.
—parece muito bom,eu aceito.
Diana e Alessandra optam pela velha água tônica de latinha mais
barata e com gosto ruim,impossível de ser entornada,num gole só.
Nigro no primeiro comentário espirituoso da noite,diz:
- O meu será um whisky 12,mas pode colocar um pouco a
menos,sabe como é né,pra fazer menos mal ...
— Você J.C?
- humm,o mesmo dele.
Com uma voz irritante – quem mais poderia ser ?- ,diz :
- Cadê o GURU ?
Sem,ao menos,olhar em seu rosto como geralmente fazia,responde:
—Morreu!
Seus olhos se cruzam mais uma vez e Nigro não sabe muito bem
por que aquele rapaz o olha ,talvez seja a sua camisa quadriculada
vermelha e branca;ele havia lido

na revista de sua namorada que ,blusas como aquela deveriam ser


queimadas...só que ele não tinha a menor idéia, do que deveria comprar
para colocar em seu lugar.Sua cabeça começava a girar;eram suas
tonteiras típicas de quando era exposto a um grupo novo e sentia que
não era bem vindo ... Afinal,com tanta gente interessante,por que
haveriam de se preocupar com ele?
A roda ...rodava e,principalmente os copos que as meninas
entornavam,sem pensar duas vezes depois que,Savanah,a mulher
apaixonada resolvera bancar as próximas rodadas.
Com uma voz um pouco mais alta,Sav,diz:
— Escuta meninos,agora que o bar está lotado,acho que nem a
namorada do dono consegue tratamento vip .Será que vocês não
querem pegar mais bebidas,pras fadinhas aqui.
J.C completa:
—Vocês querem dizer esponjinha,né? O que vocês querem que o tio
banca?
Com um olhar surpreso,as três se entre olham e dizem:
– Mais caipirinha!!
J.C sem perder a oportunidade:
— Vamos comigo ,ôh loirinho?Assim eu posso carregar o meu também
Com um olhar perdido,porém encantador,ele diz:
— Pode ser ...
Aquele bar era realmente um achado de Savanah. As pessoas
pareciam ser de outro mundo,pois tinham a educação de falar baixo na
entrada ,onde as mesas,tipo chinesa artesanal recebiam pessoas que
não queriam o fervo da parte interna;exatamente onde o bar ficava.
Pessoas com roupas coloridas conversavam sobre os assuntos
interessantes que ,J.C apenas captava com os ouvidos.
Uma das mulheres com seus longos cabelos loiros-platina olha
fixamente o senhor,quase morto de tão velho e num piscar de olhos
diz: – Pa!, mon cher!Ce ne pa marche! O que você está me dizendo
seria como fazer meu trabalho sem responsabilidade ...Eu não apenas
dirijo filmes ...Eu conto histórias que educarão uma sociedade .Não é só
dinheiro!
J.C teria ficado fingindo-se de perdido, para escutar um pouco mais
,se não fossem as doces mãos de Nigro forçando sua cintura pra
frente.Ele respira fundo,pra não ser grosseiro com o menino.
O bar tinha uma bancada de aço escovado cinza,contrastando com a
aparência pastoril da entrada.
Eles:
-Amigo , garçom, ôhhú,Amigo!
Os olhos se cruzam,permanecem próximos e parecem desvendar se;
como se isso fosse possível,nos olhos de Nigro.
Nigro pergunta:
— Qual o seu nome,mesmo?É que eu não sou bom de nomes,sabe?
Com os olhos perdidos na blusa feia de Nigro,J.C responde:
— J.C ou João Cláudio,mas ninguém me chama assim ...
— Eu gosto de João .É um nome bonito.
— Como o dono,,brinca J.C.
Uma coisa que Nigro não podia parar de perceber é que,a
contrário dele,as pessoas sabiam misturar roupas; João por exemplo:
calça jeans azul escura ,blusa amarela ouro –bela como os cabelos de
Nigro – e uma sandália fina que ,no fundo do seu coração,Nigro achava
que era coisa de boióla,mas como o cara parecia ser amigo,ele resolvera
evitar o comentário.
As pessoas caminhavam,como quase desfilando sob seus saltos
belos,seus cabelos escovados ou com cachos desses que cabeleireiro
vive,para fazer na sua cabeça ...
Os olhos de J.C pareciam perdidos na multidão,como numa
fotografia de moda ,alias nem distraído aquele homem deixava de ser
belo.Sua atenção é quebrada com um leve toque gostoso de Nigro sob
sua perna que, parecia mais que um toque ,mas ele evitara o
comentário:
—Ei,você parece perdido no tempo.Espero não estar te incomodado.
—Você? Nunca,anjinho...
Nigro sorri como uma garota tímida ,por ter sido pego de surpresa.
J.C pergunta:
—vamos brincar?
—Brincar?
—Sim. Ache o melhor.
—Como é isso?
J.C o olha com maldade,mas não é percebido.
— Tipo assim: desse bar inteiro,você deve escolher a pessoa mais
interessante. Alguém que você gostaria de despir em um quarto com a
luz bem fraca ...
Nigro o olha fixamente,como se o jogo pudesse já ter
começado,mas J.C não compreende até onde,ele tenha começado ...
Num leve corte,Nigro,diz:
—Desculpe,mas essa brincadeira vai ser difícil para mim ...
J.C percebe que o sinal,talvez ainda esteja amarelo ou talvez,ele
tivesse errado feio. Então,Nigro tira essa impressão fora:
— Eu acabo de terminar um relacionamento e não sei se você sabe
o que é isso... mas tudo o que eu quero agora,é alguém que me olhe
até eu dormir e,dessa forma,eu tenha certeza de que nada mais vai me
acontecer,sabe?
J.C fica com vontade de convida- lo para escutar Maxwell em sua
casa,mas sabia que a sinal ainda estava no amarelo ...
Eles se olham e começam a sorrir,sabendo que,ninguém se
decepcionaria com a amizade. E,tomasse o rumo que tomasse. Eles
eram grandes para terminar a brincadeira à tempo.
Nisso chega o barman:
— Boa noite.O senhores vão beber o que?
J.C ainda em transe por olhos tão misteriosos,fica sem palavras .
Nigro diz:
– O que você sugere?
Mesmo sabendo que havia um pedido feito,do outro lado do bar,há 30
minutos atrás...
— Nosso suco de berinjela com mel e hortelã.É bem famoso.
Os rapazes se olham e riem,riem muito,como se o tempo não fosse
um ... inimigo.O barman fica sem entender.
Então J.C responde:
—Deixa esse pra quando eu estiver fazendo quimioterapia.
Eles voltam a rir ,mas dessa vez com as três caipirinhas das fadinhas
sedentas,mais dois whiskys – o de J.C mais gelo do que whiky,só pra
acompanhar - .
Atravessam o bar com iluminação calculada,onde cada luz parece ter
seu lugar. Um vento fresco afaga o corpo dos garotos ...
Na mesa de madeira,Savanah,Diana ,Alessandra e agora Cristal,a
inesquecível faziam sua especialidade:comparar roupas e descrever
como os homens podem.E,são maus...
Alessandra com gestos rápidos e ajeitando suas pulseiras pretas e
grossas,diz:
— Uma vez, um namorado me levou pra jantar,só pra dizer que
não conseguia mais dividir sua vida comigo. Nossa aquilo doeu.
Cristal fumando seu velho cigarro alemão com piteira,pergunta:
– Quanto tempo de relação ?
— 3 semanas.
A mesa vem á baixo com uma quantidade dos mais variados risos,até
Nigro que estava chengando,passa a mão nos olhos, pra enxugar as
lágrimas. Alessandra parece ser a única a não compreender o por que
de tantos risos,mas ri para não ser taxada de mau-humorada depois.
Savanah,diz:
— Ei ,finalmente esses drinks chegaram,pensei que vocês tivessem
se perdido,lá dentro.
Antes que os meninos pudessem responder,Cristal e seu cigarro
alemão começam mais uma história.
— Aí,hoje foi um dia tão difícil pra mim.
Alguém pergunta:
—Por que?
—Bom ,hoje eu passei o dia inteiro fotografando a campanha do
Eduardo Suppes,com aquele palhaço do Vicente ...
Savanah a interrompe:
— Esse fotografo,não era um dos seus melhores amigos
de balada?
—Melhores amigos? Melhores amigos são vocês.
Aquele palhaço me prometeu levar na festa da H.Stern e ...
nada.Fiquei em casa,depois de ter cancelado duas outras festas
menores.
Diana com seus comentários que,de uma hora pra outra,tornava-se
amargos,diz:
— É,realmente foi um dia muito difícil,Cristal.
Rapidamente Cristal joga o seu cigarro no chão e bebe um pouco
mais do seu drink e diz:
- Não,escuta ai,estava eu fotografando aquelas roupas
absurdinhas.Quando sou obrigada escutar do Vicente se eu não queria
ir na nova festa da H.Stern,como seu eu fosse palhaça,para acreditar
que,festa de rico acontece assim,toda hora...
As pessoas tentam trocar de assunto,mas Crital adorava chamar a
atenção:
— Aí ,eu voltei pra casa,pra descansar do salto 15,logo veio o sono
e,eu como uma boa mortal ,não resisti.
Diana não resiste :
—É Cristal muito difícil seu dia...
Com um gesto rápido,Cristal bate suas mãos contra o braço de Diana:
—Espera boba. Nós estamos aqui para nos divertir...
As pessoas apenas prestavam a atenção á conversa.
- Então,eu tive um sonho estranhíssimo onde eu ganhava uma
criança, pra cuidar de uma hora pra outra.
Suas mãos movimentam se muito,pois ela havia percebido que isso
prendia muito a atenção.
— Logo depois,eu tinha que dar de comer pro bebê,mas quando eu
tentava isso,a criança caia de cabeça no chão. E,quando ela começava a
chorar,sem querer eu colocava uma maça na sua boca.
J.C acrescenta:
—Tem certeza de que,você não confundiu a criança com um porco
assado?
Cristal rebate:
— Gente!,fascinante essa observação,minha analista diria que são
coisas do inconsciente ...Aí, quando eu tentava equilibrar a bandeja
com a comida, a criança ia pro chão. E,aí graças a deus eu acordei.
Alessandra com seu desejo reprimido de ser mãe diz:
- Não foi tão ruim assim...
-Sonhar que você é mãe?Ah ,desculpa mais pra mim é pesadelo!
Todos riem,Savanah olha para o relógio e percebe que já era para
estar em casa,pois no dia seguinte,tinha que buscar uma modelo no
aeroporto que estava vindo de Paris ou seria Atenas? Sua cabeça
começava a dar respostas lentas E,ela sabia que esse era o limite para
deixar o carro,onde quer que fosse, e ir de táxi para casa,como já dizia
o velho ditado:Se for dirigir não beba,se for beber me chame.Seus
amigos começam a achar estranho que ela comece a rir sozinha,sem
que ninguém tenha dito nada engraçado,mas só ela sabia o que estava
acontecendo dentro dela. O dono do bar chega bem perto de seu
cabelos e diz:
—Mais tarde eu apareço lá na sua casa,pra gente ver o raiar do sol
juntos ...
Savanah ainda com um pouco de razão diz:
—Desculpe,mas as 8:15 hs estou no aeroporto a trabalho.Não vai
dar,deixa pra próxima.

************************************

A brincadeira continua. Ao longe,apenas o vestido vermelho


esvoaçante de Savanah, próximo a um táxi. Diana sob o efeito do álcool
percebe,lentamente que sua carona está indo embora e que,se seu
corpo lhe obedecer,ainda da tempo de chegar ao carro.
Ao mesmo tempo Cristal avista alguém ao longe:
— Gente,não é o Domingos,ali na frente ?
Alessandra pergunta:
—Quem é esse?
—O amigo locutor de Savanah mais fofo,só o meu sapatinho da
Ellus.
— Hummm...
Diana que estava na dúvida para ir embora,num impulso de herói de
quadrinho japonês,levanta-se rápido e,como de hábito,despede-se de
todos,menos de J.C;a quem ela julgava insignificante. 1:48 da manhã e
parece que ninguém ia trabalhar no dia seguinte.
Ele vem chegando,com seu rosto tímido e encantador. Nigro vai
sentindo-se aliviado,pois percebe que não é o único que se veste como
antigamente .
- Oi,pessoal,Sav já foi?
Cristal responde:
— Olha,a bruxa rica já foi,mas se você quiser ficar,eu vou achar
tudo de bom.
Sem graça,quase vermelho ele aceita o convite sentando–se ao
lado de Alessandra e J.C.Só pra quebrar o gelo,Cristal faz uma
brincadeira:
- Aí, para de pisar no meu pé,assim eu não te apresento
,Alessandra!
Com o rosto–roxo,ela apenas o confronta,como se suas feições,
pudessem transmitir outra versão. Domingos ri calmamente. E,de uma
forma meiga,olha pra ela com calma,como se soubesse que alguém tão
legal como ela,não faria uma coisa dessas...
Estranhamente começa dar um sono em Cristal que,levanta-se com
a desculpa de que vai retocar a maquiagem...
Já no banheiro,Cristal começa a retocar sua linda e loira franja,
quando a porta é abertamente bruscamente!Olhando fixamente para o
espelho,Alessandra contorna todo o corpo de Cristal,como num estudo
estratégico do inimigo e diz:
— Olha aqui,o piralha ,vou fingir que não escutei a brincadeira lá
fora,ok?
Cristal ri;Cristal poderia quebrar o espelho com a cara de
Alessandra,mas preferiu fazer,como havia apreendido em uma coluna
cultural com Uma Thurman: Leve no bom humor.
—Escuta tia ,falta de bom humor leva à velhice precoce,sabe...
Alessandra parece que ainda não percebeu que Cristal leva tudo na
brincadeira.Com um rosto falsamente triste Cristal,diz:
—Ei ,até parece que você não gostou do sorriso dele de volta .
Com um olhar desesperado,Alessandra olha pro espelho e desabafa:
—Acontece que,eu cheguei numa fase da minha vida,em que os
homens nas festas chegam perto de mim,pra saber a idade da minha
amiga de franjinha!
Com um olhar de compaixão,Cristal calada fica.
Num último fôlego,ela despeja,batendo sob o tampo de mármore da
banheiro:
—E ... Eu me recuso a usar franjinha!
Cristal tem vontade de abraça-la e pedir desculpas por ter 23 anos e
rostinho de 18,mas cala-se mais uma vez.
Na mesa restam,apenas:Nigro e J.C.E,mais dois que não param
de olhar-se... ...conversa vai ,conversa vem e ele diz:
—Noite bonita ,né?
Alessandra ,já encantada,diz:
—É... bonita.
—Pena que esteja um pouco tarde.E,eu esteja cansado.
Alessandra arremessa:
—Aahmm,você é casado(?)
-.Não. Eu disse can-sa-do.
Dentro de alguns segundos ,o coração de Alessandra volta a bater
normalmente.Parece que aquela noite no “Beringela” ia prometer.
Nigro estava completamente hipnotizado com histórias de Arte que J.C
lhe contava,dos tempos de Faculdade em Milão .Já Alessandra ficava
encanta por homens que entendessem de música,ainda mais quando
esse homem, gostava de Dinah Washington que todo mundo confundia
com aquela vítima da Billie Holiday.

O imprevisto no Domingo...
Correr impossível,até por que ele estava lá com toda sua
presença,ninguém podia escapar. Quanto mais perto ela movimentava-
se mais forte e pra perto ele vinha.Alessandra decidiu que não ia
render-se ao sol...numa cidade como aquela. Domingo,ás 14:37 hs
deveria existir algo para se fazer,talvez,pensou ela,dando uma volta
pelo parque,algum diretor de teatro poderia encontrar-lhe e dar-lhe uma
chance,pra guinada de sua vida,tipo:
Ele chegaria e elogiaria a sua rapidez para correr,fazer exercícios e
perguntaria se ela não gostaria de interpretar o papel principal em sua
nova produção.Com um gesto incompreensível,ela passa a mão na testa
para enxugar o suor.Na verdade,ela já na agüentava mais escutar Norah
Jonnes e tomar cerveja belga . -um dos seus únicos luxos de artista
sem renda fixa –
na confusão de seus pensamentos,ela diz em voz alta:
Foda-se ,pelo menos, eu não sou Mocinha da novela das 8:00 hs!
É,definitivamente aquele calor não estava fazendo bem pra ela.
A noite chegaria.
“Hoje era quinta ou sexta?”- ,pergunta-se ela.
Aí,ela lembra que terças,são as Terças Teatrais onde ela dava aula de
teatro,para um grupo de desocupados que não entendiam nada,nem de
longe,da riqueza de um teatro experimental.
Para não assusta- los muito,ela encenava um versão de “O Vestido de
Noiva”,mas no fundo,há muito questionava-se se o futuro do
teatro,morava no passado dos anos 50 ... Aí, batia aquele medo de ser
igual a personagem de Kelly Fox em “As Intimidades“que,a quem
interessar possa,ela já havia visto umas 4 vezes sem cansar ...
Aquele tipo de pessoa que sabe que não vai pra frente por que tem
medo de se entregar:ao público,ás possíveis vaias ,à grandes
amores...Ela não queria ser um pessoa insensível,mas depois de tantos
sofrimentos;do mínimos,aos mais insuportáveis... Ela decidira não
machucar-se mais...
Dentro daquele quarto abafado,ela apanha apenas a identidade–
com medo de ser interpelada e não ter documento. Isso,ela já havia
assumido pra si mesma,até a polícia poderia confundir-lhe com uma
assaltante perigosa,devido a sua falta de interesse,por cortes da moda.–
Ela põe apenas um elástico velho de cabelo, olha mais uma vez pra
aquela kitinete que,ela cismara de chamar de Loft e bate a porta,o calor
que devorasse seu gato,não ela.
Aperta o botão do elevador com força insistentemente e depois de
5 minutos,ela percebe que aquela merda de prédio deveria estar
consertando o elevador novamente.Com um pensamento insensível,ela
lembra das malditas crianças do 601 que,de tão gordas gastavam o
elevador mais rápido. Ela havia decidido que,nada a estressaria naquele
dia...Descendo as escadas,ela vai lembrando com ternura do amigo de
Savanah. Por onde ele estaria numa hora dessas? Ele era um homem
especial e homens especiais essa hora estariam correndo também no
parque. Com um tapa na testa,ela corta aqueles pensamentos de
mulher dondoca que vive de pensão militar à espera de um novo
marido. Aqueles lances de escada pareciam intermináveis,mas ela já
estava no segundo andar e logo,logo primeiro e... liberdade,se não
fossem... as crianças gordas do 601 sentadas na escada e,o pior,nos
últimos degraus,logo o últimos que levariam Alessandra para a
liberdade do seu passeio no parque.
Ela sempre quis ser rica,somente para morar num mundo,onde
todos teriam o bom senso de não sentar nos últimos degraus ou bater
longos e intermináveis papinhos no meio do portão Social. Vendo a
cena,ela lembra-se de não desesperar-se e,mentalmente começa a
repetir:
Nam-mi- a-rro –ren-gue –kio/nam-mi-a-rro –ren-gue- kio./Nam –mi a
rro…
—Olá criançada(!!)vocês me deixam passar?
Para ser mais testada,recebe uma resposta afiada:
—Criançada não ,por que a gente tem nome,tia.
De todas as ofensas que uma mulher bem resolvida poderia tolerar,
talvez a mais desagradável fosse tomar desaforos de uma criança,pela
qual,você não tem o menor afeto e,exatamente por isso, não pode
arrebentar de porrada,como uma medida instrutiva.Com mais umas 5
mentalizações budistas,ela responde com bom humor:
—Exatamente por isso,querida,que eu não tive filhos...
Agora, você vai me dar licença ou eu vou ter que te encher de porrada?
O que Alessandra não contava era com a mãe barraqueira das
crianças gordas do 601 estivesse do outro lado da escada.
Quando a barraqueira,diz:
—Só faltava essa,um puta velha,querer bater nos meus anjinhos !
Recitando cada vez mais quantidades de nam mi a rro ren gue kio ,ela
responde:
— Foi só uma forma de expressar,até por que se seus filhos
estivessem sentados no lugar certo,nada disso teria acontecido.
Com sua calça belíssima da Gang e muitas, muitas pulseiras de
práxico,a barraqueira responde:
- Olha aqui,eu não tenho culpa se na sua idade,você não ter
pegado um homem,pra fazer gostoso...
Olha que, ela havia tentando ser educada,se ela pudesse,ela teria
tido mais paciência...mas a paciência acabou. E,com ela veio um grito
de Tiranossauro-Rex:
— Vai!todo mundo se fuder !! Inclusive a senhora e esses dois cu-
gordos que,se não saírem da minha frente agora;vão sair no chute!
Bem fazia Hittler que imaginava um mundo só de magros!
As crianças apavoradas e com muita dificuldade vão se retirando da
escada. Uma ação que não deveria demorar mais do que 18 segundos
com educação,demorara mais de 6 minutos,tempo que,Alessandra
julgava útil.
Ao conseguir passar pela crianças que,ela jurara nunca ter;para não
ser uma péssima mãe,assim como fora a sua. Para não ser insensível
com o sonhos do seus ... e,por último,no íntimo,saber que não poderia
dar um nível de vida legal para os pequeninos,tão ingênuos que não
tinham culpa de terem nascidos nesse sórdido-mundo. Isso,gera uma
sensação muito ruim dentro dela que,só se lembra de ter esquecido os
óculos escuros, quando as primeiras lágrimas contrastam com o sol da
rua ...
**************
Próximo do parque,o cheiro das plantas não muito longe das
pessoas brincando com seus filhos e... Meus deus,seu coração bate mais
forte. Ele de costas. Ele de bermuda marrom clara com sapato Dock -
Siders. Ele com alguém pequeno ao lado.Era ele,Domigos. Ela pensa em
acenar,mas acha que ele não a reconheceria. Tomando coragem,ela
apresa o passo em sua direção,mas é interrompida por um pivete:
- Perdeu tia,o que é seu é meu...Não tem caô,tá dominado!
Seu sangue imóvel é incapaz de reagir,mas ela sabe que tudo
acabará bem,quando Domingos ver a cena e vier correndo dar um
voadora naquela vítima da sociedade capitalista. Ela vai sentindo o
menino abrir sua bolsa,mas é incapaz de reagir e continua olhando para
Domingos que,nessa hora é alertado por seu filho que lhe mostra
a cena .Pronto,tudo estaria resolvido agora. Mais chocada Alessandra
fica,ao percebe que Domingos finge não ver. O pivete muito tonto de
cola de sapateiro,descobre apenas uma nota de r$ 10,00 reais no fundo
falso da bolsa.Com um olhar marrento,diz:
—Porra sua puta,saí com mais dinheiro da próxima vez,valeu !?
Ao sair,calmamente como se nada tivesse acontecido.Alessandra vê
Domingos se aproximando com um olhar confuso e afetuoso:
— Você se machucou ?Está bem?
As primeira palavras de Alessandra são:
—Não.
No fundo,no fundo, ela queria uma cena de arte marcial,com direito
a filé de pivete no final,mas não podia cobrar nada de um potencial
marido ....mesmo assim ela resolve arriscar:
—Você não viu o menino me roubando ?,por que...?
—O que você queria que eu fizesse. Que eu corresse e desse uma
voadora num cara armado?
Com um rosto um pouco mais expressivo,ela diz:
—Era... uma criança ...
Ele por sua vez não tinha muitas respostas se não:
—Olha ,você está conhecendo um locutor. E,não um super-herói...
Depois do choque,ela poderia pensar que talvez seus livros fossem
melhor companhia. Ao contrário,uma vez que ninguém explica as razões
do afeto. Ela havia gostado da resposta. Verdadeiramente,em muitas
anos de vida ,ela não via tanta sinceridade;não importava se ele fosse
homem ou mulher. Ela sentia-se bem perto de alguém em quem podia
confiar ...

Conversas de Bar.
Era um dia chuvoso na cidade e,quase todo eles não gostavam de
chuva,com exceção de Domingos que tirava esse tempo impossível de
ser sociável. E,escutava,incansavelmente “In the mood of love –
Ellington/Coltrane ou In a silet way do Milles” ,pra ser sincero,até
hoje ele não sabia quem era o seu maior gênio em sua vida:seu pai ou
Milles ...
Todos haviam tido dias difíceis, mas a primeira sexta era deles ...
Com os olhos em busca de algo,Domingos diz:
—Sexta-Jazz ... ,até que esse bar caro que você nos trouxe,não é
tão ruim assim,podemos começar a freqüentar por aqui ...
Savanah responde:
— Humrrrum.É o bar do meu amado. Tem o Jazz do meu
amigo.E,eu não acho tão caro assim...
Diana sentia-se obrigada a isso:
—Pra você não é caro,nem aqui,nem as botas da Fórum,nem os
vestidos do Samuel Cirnansk,né ?
Com um olhar ainda afetuoso,Sav responde:
—Deixa de ser rabugetinha,vai(?)Coma e beba o que quiser que
você é minha convidada,hoje.
Domingos acrescenta:
—Nossa convidada.
O que ele não contava,era com a falta de sensibilidade de Diana que
não parecia a mais confortável ao seu lado.
Com um olhar de soslaio,Diana responde:
—Não há necessidade,trabalhamos duro pra isso.
Savanah olha pro lado,como quem busca por algo;mesmo com
brigas,ela sempre voltava e começava a preocupar a idéia de Cristal não
estar por perto ... Savanah aproveita e joga uma notícia na mesa,só
pra não ter que encarar o silêncio:
—Sabe que eu li que 1/3 das mulheres latino-americanas são
responsáveis pelos sustentos de suas casas?
Savanah sempre detestara aqueles conversas genéricas sobre:Europa,
América Latina,Condição do Artista na contemporaneidade...por que
essas discussões nunca levavam ninguém à lugar nenhum.Ela sentia
que não apreendia nada com isso e,o pior,não havia provocado a menor
emoção na mesa. Não havendo outra solução,Savanah arremessa:
—Sabe o que me contaram naquele festa de lançamento de
perfume,na quinta?Que os laboratórios estão estudando componentes
químicos à base de queratina para estimular a sexualidade humana.
Domingos pergunta:
—Como isso vai nos beneficiar? Não entendi muito bem isso.
—Serão fragrâncias onde até os “Gremilins “ vão conseguir
namoradas,entendeu?
Nigro demonstra interesse na causa,pois sempre se achara feio e
desengonçado demais:
—Como descobriram isso,Sav ?
—Dizem que uma mulher foi dopada com restos de lixa de unha na
sua bebida na festa e acordou no dia seguinte num motel com 32
camisinhas abertas à sua volta.
Diana nesse momento,parece tomada de pavor e curiosidade. Pena
que,essa reação, não fosse compartilhada por Domingos e J.C que,a
essa hora já estavam roxos...por prenderem o riso ...até em uníssono
,eles dizerem:
—A velha história da unha lixada!!
Provocando um riso histérico em Savanah que,se quisesse poderia ser
indicada ao Oscar desse ano,na categoria:comediante-dramática.
Parece que só Diana,dessa vez,não havia gostado da brincadeira,pois
acreditava em tudo o que sua amiga lhe dizia.
Estava chovendo lá fora ,mas em seus olhos ,o calor da amizade era
intenso. J.C limpa as lágrimas do riso e sem querer,cruza com os belos
olhos de Nigro que o observa,como uma criança diante de uma cor
nova ou como alguém que admira uma qualidade no outro que,sabe
nunca terá.
Diana parece estar com uma leve crise de mau humor,mas logo logo ela
sabe que vai passar;seu grande coração não saber guardar mágoas ...
Como um trovão na chuva,como um vento na floresta viva
...trazendo brilho e alegria. Ela chega,completamente produzida com
seus cabelos claros–escandinavos. Ela,
Cristal,diz:
—A alegria de vossa vida chegou. Por favor,autógrafos só depois
das 19:30 hs e fotos,apenas com o consentimento prévio de minha
agência.
Com um gesto infantil,ela beija Savanah.
—Tudo bom?
Savanah consegue responder com um olhar que demonstra finalmente
despreocupação.
J.C olha para seu copo de whisky intocado,para um outro copo de
whisky e cruza seu olhar com o do menino desengonçado.Seus olhos
claros azuis pareciam ter milhões de coisas para lhe contar...seus olhos
só saem de transe quando,Cristal lhe pergunta:
—Como vão os projetos moço?
—Ahhhmmm - com um riso abafado-.Você lembra que,aquela
revista chilena andava conversando comigo,para me ter em seu time de
criação,né?
—E você bobo,não vai,né?
J.C defronta contra os olhos de Nigro e diz para Cristal:
—Até iria... se não houvesse coisas bem mais
interessantes por aqui.
Sabe que outro dia eu fui naquela galeria fotográfica que nos gostamos
e encontrei um menino muito simpático – no que acaba sendo
interrompido – quando Cristal pergunta:
- Do bem?
J.C olha para os olhos perdidos do mundo de Nigro e responde:
—Sabe que,eu nem notei nisso. Daí,então,ele me contou sobre o
seu roteiro,onde dois jovens que se amavam,não podiam viver seu
amor,pois suas famílias eram rivais ...
Savanah acrescenta:
—Essa história é tão familiar ...
J.C rebate:
—Também acho ...
Cristal ri e diz:
—Então você ligou pro Dri e encaminhou o roteiro pra se tornar
um grande sucesso(?)
— Na verdade,eu disse pro rapaz que era analistas de sistemas
,exatamente pra que ele não associasse meus contatos.
Nigro pergunta:
-Por que analista de sistemas e não a verdade?
J.C acrescenta rindo:
— Por que,pra mim,não existe profissão mais entediosa que essa,
exatamente pra ele não pensar mais do que isso ...
— Bom,quando você precisar de um analista,não hesite em me
chamar,- acrescentando o cartão .
J.C tenta remediar a situação,mas passa a primeira vergonha da
noite,mesmo sabendo que o moço havia entendido.
—Bom,a razão pela qual eu não o ajudei,foi por entender que
nesse mundo cão,ajudar não significa colocar os outros nas costas e
carrega- los. Até por que,eu não queria dizer que,Shakespear já havia
feito o mesmo roteiro,uns séculos antes,mas...,de que qualquer forma,
ele deveria continuar nesse caminho e... acreditar nos seus planos
J.C cruza seu olhar com os de Domingos que, está sorrindo
fraternalmente pra seu rosto,como se concorda-se com suas palavras
...

Continua no ato 2:

Ato 2:

Uma muito longa noite...

Luzes!As do estrobo refletiam muito bem a pele de Cristal,ao


menos,ela sempre achara isso ...Ela nem queria sair aquela noite,mas
quando a oferta é maior que a demanda,tem que se aproveitar.Ela coça
a cabeça e pergunta-se de onde havia tirado essa idéia de oferta e
demanda,provavelmente deveria ser aquele maldito supletivo que
Savanah insistira que ela fizesse. Onde já se viu ...Pensar que não
poderia morrer como modelo. Pra que estudo(?)se dependesse dela,ela
se drogaria,até alcançar o Nirvana.
E,foi assim que a noite começou,ao som de do mais fervente Tecno–
Funkeado,onde ela busca por seu “brinquedo”.
Dando um tapa na bichinha que dançava olhando para todos os lados,
Cristal diz:
—Vem cá,bi tem Bala,aí?
Bichinha esperta,responde:
—Tem bala ,tem pó,só não vendo chiclete por que faz mal a
saúde.
Cristal ri forçadamente,pois na Noite não era legal quebrar o clima de
“amigos pra droga que vier ...”
Cristal gesticula,na esperança que a bichinha consiga compre-
ender. Sem resposta,ela grita:
—Quanto é bala e o pó!?
Bichinha esperta,responde :
—Não grita por que meu ouvido distingui música de voz. Bala 60 e
pó,pra você,38.Vai querer?
—Pôe no cú,bicha!
Bichinha esperta rebate:
—Que isso, filha!Há quanto tempo você é minha cliente?
—Desde que eu me conheço por gente.
—Então,pra você,40 e 25 ,mas não é a melhor que eu poderia
oferecer ...
Cristal finaliza:
- Eu não quero o melhor,eu quero me divertir.
No meio da noite,Cristal não consegue,nem distinguir pelo que
está pagando,pelo menos lhe avisaram que não era a melhor.Seus olhos
claros buscam o alívio;seja ele qual for. No mais,a noite nunca vai
acabar.
Seus passos lentos não tem para onde ir e as luzes que acompanham
o ritmo de House-music,também guiam os seus.Seu corpo começa a
suar.Ela sabe que a diversão vai começar;seus lábios estão abertos,
seus olhos vêem pessoas que dançam rápido demais.
Por um instante,ela não consegue enxergar nada,mas o corpo etéreo
sente cada pulso; inclusive mãos ...mãos fortes segurando seu corpo e
direcionando-a para longe da música e luz. Ela tenta se soltar,mas
haviam avisado que não era a melhor.
O vento frio vai de alguma forma despertando seus sentidos. Longe das
luzes,Cristal escuta uma voz lhe dizer palavras estúpidas e sem sentio:
Estranho:
—Porra ,tá drogada ...Jo... no hospi...Merda!
Cristal ri e ,longe das luzes,seu corpo ainda sente o torpor e
frio ..Crital lamenta ter se afastado das luzes,mas parece que tudo vai
ficar bem.
Agora a sua volta,gestos rápidos,ela pensa que,ao menos,a diversão
estava voltando,mesmo que as luzes não sejam tão rápidas ...Agora as
palavras já são:
Estranhos:
—Miligrama...prepare mesa ...já!
Ela ri,por que nunca sentiu-se tão bem. Sinceramente,ela já não queria
voltar para as luzes rápidas. Algumas vozes estranha já não parecem
incomodar Cristal diante da sensação flutuante que sentia.
Estranhos:
--Não merda ,ela pode!
--Não pode mais,rapaz.
—Deus!Você pode moça!
—Desisti,não será à última vez...
Já são 1:56 hs da madrugada,estranhamente J.C havia resolvido
dormir um pouco mais cedo,mas parece que o destino não queria que
ele fosse saudável. Então,algum filho da puta resolve ligar pro seu
celular. Primeiro ele levanta,pensando que poderia ser,até o Nigro
que...ia escutar ...Depois,ele repensa e acha que pode ser Savanah
desmarcando o trabalho,por alguma razão técnica e,definitivamente ele
não era homem de acordar cedo à toa...
—Alô sua puta!Que tal 4:17 da manhã?
Estranho:
—É,desculpa o horário Senhor João,mas ...
Ali o sangue de J.C gela,pois ninguém o chamaria de Sr° João,nem o
proprietário do seu ap. Ele começa a pensar no que tinha feito de
errado ...
Com o corpo em pavor,ele diz:
—Como posso ajuda-lo senhor ...senhor ...
Estranho diz:
—Eu sou o delegado Evangelista. Desculpe o horário,mas eu
trabalho na parte de entorpecentes e fui chamado aqui no hospital ...
– Qual o nome daqui,minha filha ?-,ele comenta em off.
- Isso! Matos IV e preciso confirmar umas informações,ok?
—OK.
—O senhor conhecia a senhora Juliana?
Com um pouco mais de alívio,J.C diz:
—Acho que o senhor ligou errado. Não conheço nenhuma Juliana.
Delegado:
—Desculpe,mas só estamos ligando,pois o seu telefone é o última
ligação do celular. Há o da Senhora ...Savanah,mas ninguém
responde. Na identidade é uma menina muito loira que chama-se
Juliana Weikeman. O senhor tem certeza de que não conhece?
J.C reflete e diz assustado:
—Meu deus !É Cristal. Sim,o que houve com ela?
—Desculpe o horário,mas ela não resistiu a quantidade de cocaína:
quadro de hipotermia,seguido de parada respiratória,segundo consta no
boletim médico. OVERDOSE. Ela tem irmãos?O senhor é o irmão dela?
J.C ainda incrédulo,diz:
—Não,eu... sou só um amigo,quer dizer,era ... O que devo fazer?
Delegado Evangelista:
—Se ela não tem parentes. Alguém precisa vir aqui,para assinar a
responsabilidade pelo corpo. Sabe como é,né(?)morreu,já não é mais
responsabilidade do hospital. Desculpe mais uma vez o horário senhor
João. Tenha uma boa noite .”
J.C responde
—É...boa noite.
No outro lado da cidade,ainda escura. Alguém levanta da
cama,vai em direção as janelas que dão pro mar e procura respirar
fundo,pra deixar aquela sensação de angustia sair. Savanah.
Ninguém mais saberia o que fazer numa hora dessas ,então J.C
liga pra Savanah.
—Boa noite,Sav.Eu ...
Savanah passa a mão pelos cabelos e diz:
—Eu sei que aconteceu algo. Por favor,me diga,tire essa
sensação...
J.C com mais medo do que ela,não sabe por onde começar:
—Ela não está mais aqui. Sem mais:boates,festas,sorrisos .Desculpa
amiga,Cristal se foi:Overdose!
Ele achava que falando muito rápido ,ao menos,não causaria tanto
estrago:
—E... alguém tem que ir num hospital chamado Matos IV e dar
baixa no corpo dela.E,você sabe,como eu detesto hospitais ...
Savanah diz:
—Eu...eu...Eu vou ...tomar conta de tudo. Por favor,não avise pra
ninguém que ela se foi,pelo menos,não agora.
J.C não entende o porque daquele pedido,mas não quer mais
problemas,não naquela noite.
No caminho pro hospital,bate aquela culpa, se ela estivesse
mais perto,para lhe orientar melhor,se tivesse pensado menos em si e
em seus problemas,se tivesse doado mais...
Com os olhos perdidos,ela diz baixinho:
—Meu deus,não poderiam ter feito isso comigo ...
No hospital, sua roupa preta contrasta com a clareza das
roupas.Ela está ali. Agora é só ser forte.Ela pensa que muitas coisas já
aconteceram de ruim na sua vida e,talvez muitas outras aconteçam.Ela
vai apreender ...

Daqui pro Cairo é longe,senhor?

Savanah havia ligado pra revista e comunicado a morte de sua irmã


mais nova,assim a Editoria havia compreendido o pedido de 7 dias de
afastamento.
Savanah levanta e percebe que nada mais tem importância.Era
como se seu corpo estivesse sem força,tamanha a perda de Cristal em
sua vida;sem mais piadinhas,sem mais quem a escutasse,sem a sua
deliciosa irresponsabilidade...Estava sendo difícil viver assim e,assim ela
teria ficado,se o trabalho não a relembra-se de sua armadura de mulher
madura. Ela senta no sofá e decide escrever para a única que poderia
lhe compreender naquele momento. Perto da janela,do vento
gostoso,ela escreve a primeira linha:

Olá,minha amiga Thereza.


Não lhe pergunto se está tudo bem,por que comigo não está nada
bem. Não sei se no meio dessa vida agitada,você lembrará de Cristal.
Não me pergunte o que ela fez,mas ela já não está mais por perto.Me
disseram na necropsia que ,nem um leão teria agüentado tamanha
quantidade de cocaína. Meus dias passam e se dependesse de mim,eu
começaria a dormir agora e só acordaria quando a dor acabasse...
Venho acordando,só pra não assustar os amigos que deixam mensagens
pra saber como estou(?)Se preciso de ajuda(?) e é essa vibração que
me faz,continuar de pé.
Por aqui,escuto Damien Rice e ecoa pela casa.Pelo que entendo ele
canta algo como:
”Agora que ninguém nos olha/,quando estamos só.../”
Que deveriam dizer aleluia. Meu deus! Quem está acima de nós,pra
fazer isso com a gente?Nos tirar quem gostamos tanto.Que fé é essa
que você me manda acreditar?Eu não creio que seja possível ...
Eu nem entendo essa vida. E,se pudesse,eu faria qualquer coisa pra
viver melhor,pra não sentir essas coisas...
Desculpa se deságuo em você,mas acho que é a única pessoa que vai
poder ler e,no final,sorrir... Acho que você tem a resposta e... se tiver,
mande pra mim...
Beijos ternos meus ... S.
27/02.

O último dos 7 dias de recluso chegara ao fim. Savanah sentia-se


melhor,não tão bem,mas...Ela vinha se questionando o que
era,realmente importante em sua vida:Namorados(?) Carreira(?) Tudo
isso parecia tão etéreo naquele momento ...Ela vai caminhando,até a
porta,como sempre fizera em busca de cartas;as contas do banco caíam
em débito automático. Já,tocar as cartas com os pés era um prazer
seu .Seus pés vão sentindo a textura do envelope,até que mãos os
consiga cortar. A letra familiar,mais a quantidade imensa de selos ...Ela
ri e percebe que só podia vir do Egito,de sua amiga Thereza.Ela senta-
se no sofá branco,prende o cabelo com um pano dourado caído ao chão
e começa a leitura:

Doce delicada Savanah .


Recebi a notícia com dor,pois sabia que você também assim estava.
Li e re-li cada uma de suas palavras.Me relembrava quando eu era
muito nova e tentava agarrar tudo com as mãos...Longe de mim querer
lhe ensinar.Sim,ás vezes achamos que Deus,contra nós está, por que
nossa vida despenca,sem que saibamos que, somos nós mesmos,os
responsáveis pelas escolhas e conseqüências...Cristal achava que a vida
deveria ser passada e não observada,nessas horas eu agradeço a cada
dia vivido. Aqui no Cairo o tempo vem mudando e meu tempo na
cidade é sempre pequeno demais,pro que eu gostaria de fazer. Venho
cordenando uma exposição em Colognia e acho que depois disso,
mereço férias.Daí pensei
:por que você não arruma um jeito e vem pra cá?
Ficará numa cidade maravilhosa,conhecerá o Canal de Suez,tocará o
Mar Vermelho;o mesmo onde Moisés foi capaz de abrir, para fugir dos
inimigos /problemas ...Você percebe o poder da fé? Você já sabe que
minha casa é sua. Arrume uma desculpa e fuja dos inimigos/trabalho
será importante fugir daquilo que relembra esse tempo e quem sabe na
volta,eu não volte com você pra descansar. O Cairo lhe espera.

Beijos luminosos Thereza.

Savanah não pensa duas vezes,guarda a carta na mala e num


gesto impulsivo avisa por e-mail que não quer mais o emprego de
Consultora de moda,daquela revista,não até conseguir colocar sua vida
em ordem de novo. Afinal,ela também precisa de descanso .

Falou. Tomou !
A vida deles todos agora parecia festa. Depois de algumas semanas
e com a chegada do final de verão,tudo se acalmava e com as últimas
semanas a chegada de Savanah e sua companhia deixava tudo mais
agradável...
“Oba – Oba”,esse deveria ser o nome da filosofia de vida daqueles 7
amigos.
Thereza estava de férias na cidade,para não enlouquecer frente ás
responsabilidades em Colognia. Aquele parecia mais um encontro pra
contar as novas;Savanah havia convidado amigos e não amigos pra
comemorar sua volta . Na mesma bat-caverna. Hoje não havia horários
nem obrigações ...
Às 20:37 chega Savanah. Algo dentro dela parecia que iria desaguar
a qualquer instante e o seu “ficante” é o escolhido para escutar suas
expectativas ...Ela senta numa mesa pra 6,mas sabendo que depois só
a Távola Redonda poderia dar conta do recado. Aquele dia havia sido
um dia puxado e nem um banho de água fria naquela estação muito
agradável havia ajudado.
Ele chega sempre disposto a envolve- la com:palavras,corpo
,ele mesmo ou o que mais pudesse dar,dessa vez o abraço vem tomado
de beijo quente nos lábios cobertos de batom ocre.
—Como foi o seu dia.Sua volta?
Savanah o olha,como só uma menina protegida pode olhar e diz
calmamente:
—Cansativo,mas...
—Mas ...?
– Você teria 18 m e ¹/² pra me escutar?
Ele ri da originalidade daquela garota que,não parecia em nada com
suas ex-namoradas ,mas,ainda sim adorável.
—Hummm... o bar tá quase cheio,pode ser 14’ 46’’ ?
Por sua vez, Savanah olha em seus olhos,para os copos da mesa e ...
ri.
—Aiiih... Hoje eu fiquei me perguntando que tipo de profissional
eu quero ser agora. Onde eu realmente quero chegar. Você já sentiu
isso?
—Hummm,eu só sei ser dono de bar e dormir quando o sol se
levanta,acho que não.
—Eu deixei Milão e todas as suas possibilidades,pra vir pra uma
cidade na qual eu nem nasci,apenas passei duas ou três férias
inesquecíveis,sabe?
Com os olhos brilhantes ,ele gentilmente diz:
- Sei ...
- Eu ando achando que,a qualquer momento a rodar vai girar e eu
vou cair ...é estranho .
- Roda?Que roda?
- Aahmm,o arcano 10 do Tarô que simboliza mudanças da vida.
É,como se,a qualquer momento,tudo pudesse mudar sem avisar,sabe?
—Você joga Tarô?
—Não,Acho que seria muito inteligente se fizesse isso;na verdade,
por todo as cidades que passo,alguém tira pra mim.
Olhando o movimento cada vez mais cheio,o “ficante” se despede com a
impressão de que “fez a sua parte”.Savanah fica ali,olhando a sua
agenda,até a chegada quase ao mesmo tempo de:Domingos e Diana -
bem falante com Domingos naquelas últimas semanas ...-
—Oi moça!
— Oi ,moça!
— Oi gente!
Eles ,definitivamente não queriam ser pessoas sérias naquela noite .
Com o adeus aos últimos dias de verão,a vida parecia voltar ao
normal:menos sonhos,mais trabalhos e,como sempre,as dietas
forçadas,fossem:Da lua,do G ,do P ou a do gato molhado ... Depois de
uma certa idade,o verão é bem agradável ...perto do fim,pois é possível
ver lindos pores de sol e ainda trabalhar com calma.
Domingos parece estar satisfeito nas últimas semanas com a vida.
Ele vinha olhando a vida ,com aqueles olhos, de quem apreendeu a
respeitar -la com os seus erros e acertos. Ninguém sabe o por que
desse motivo,mas Alessandra é um nome.
Ele diz:
—Olha que, se meus pequenos crescessem um bocado até amanhã
e decidissem vir morar comigo,aí eu poderia dizer que sou totalmente
feliz.
Savanah o olha com olhos alegres e diz:
—Nossa ,acordou querendo tão pouco?
Acariciando os próprios negros-infantis cabelos,ele diz:
—Não acho ,tudo isso,muito pouco ...Quando você tiver a minha
idade,vai ver que pequenas coisas tem um bom valor,tipo:acompanhar
seu filho ao campeonato de judô.
—Bom,eu não tenho filhos por enquanto,nem nunca,logo algo
agradável e simples,seria viajar para o sul da China.
Domingos,no seu ainda bom humor,banhado do por do sol,diz:
—Não boba ,com algo simples eu quero dizer,passar o final de
semana sentado na melhor poltrona da sala com o dedo no nariz. Isso é
simples e divertido. Eu trocava essa viagem pra China,por 5 minutos na
minha casa com o dedo no nariz ...
Diana ,sem querer,acaba achando graça e faz um comentário ácido:
—Acho viajar um porre ,principalmente pra fora do país.
Savanah espantada,comenta:
—Você nem conhece 1/3 da Europa. Como pode dizer isso?
—Meu bem,esse povo é louco. Viajam pra outros países com $500
dólares no bolso,passagem parcelada no cartão em 15 vezes. Eu é que
não faço isso!
No fundo ,no fundo Diana fala com um amargor de quem não teve
oportunidade ou não quis viajar pra fora;correr os riscos,apreender
coisas novas...Na sua armadura havia arrogância e alguns
ressentimentos por não ter tido um pouco mais de paciência com seus
pais,de não ter estudado um pouco mais,mas mesmo assim ela acha o
lado positivo e diz:
—Pra que,vai que eu quebro a perna,em terra de alemão. Como
vou pagar com apenas $500 dólares? Pessoas me contaram que na terra
dos outros,tudo é privatizado e nada é de graça.
Savanah diz:
—Dá se um jeito.
Diana parecesse que levou a discussão à sério.
—Dá se um jeito?Tipo:sentando no meio da rua e abrindo o
berreiro. Minha perna!Minha perna! Minha perna! Tá doendo. Aí minha
perna !Desculpa ,mas eu sou uma mulher decente.
Eles acham os comentários recalcados de Diana um saco,mas se
havia alguém que,até das chatices,levava no bom humor,essa era
Diana.
Eles teriam passado um bons momentos só papeando naquele dia
,já não tão claro,mas a chegada de um novo amigo,demonstrava que a
noite seria boa... e longa.
—Oi ,Domingos!Oi ,Sav! E,como eu sou educado:oi povo das
trevas ...
J.C senta-se e com os olhos a espera de resposta pela provocação à
Diana .
Então Diana responde:
—Meu bem,sabe quantas pessoas interessantes existem no
mundo?Eu e mais 6 dúzia.Tô pouco me lixando pra você !Nem fiquei
mais velha por isso.
Pronto, agora sim tudo havia voltado ao normal.
J.C ri e sabe que tudo aquilo é teatral. Ele resolve comentar algo
pra combater o silêncio:
—Sabe que, se eu acordar com mais algum estranho na minha
cama,no dia seguinte. Eu juro que chamo a polícia.
Savanah:
—Nossa,já chegou a esse ponto?Cuidado pra não acordar com a
moça do guarda-casaco amanhã,ta ?
—É verão ,né?Temos que aproveitar!
Savanah como uma mãe sem paciência,diz:
—Quando você vai começar a ver a beleza dos relacionamentos?
J.C:
—Só por que você está namorando há duas semanas e
13 horas ..Eu não esqueci o seu passado,Rainha da Luxúria ...
Os outros não conseguem evitar o riso baixo. Sav naquele
momento apreende que não é legal impor sua opinião para os outros.
J.C:
-Além do mais,acho importante enquanto não achamos a pessoa
certa,irmos “tentando”,dessa forma,você vai apreendendo seus limites e
aquilo o que realmente quer fazer.
Domingos acha toda aquela conversa um pouco chata,até por que
ela já comeu todas as garotas que queria e que não queria...e agora
estava mais interessado em sentimentos,porém amigos são diferentes
e mesmo não achando muito legal a conversa,ele vai escutando.
J.C continua e levanta o assunto do sexo a três que ,segundo
ele,já foi comprovado cientificamente estimula o crescimento dos
cabelos ,uma vez que os hormônios sexuais são muito próximos dos
hormônios de crescimento,logo indo pra cama com mais de uma pessoa
,temos a chance de ganhar até mais 200% de volume no cabelo:
J.C sempre fora uma criança que,sem querer,estava em roupas de
adulto com responsabilidades-trabalhistas de um adulto.
J.C:
—Eu ,por exemplo,só um árduo fiel do sexo à três;tanto que não
seja o meu amado + 1.Eu devo,gentilmente ser o convidado,pois
jamais deixaria o meu amado com outros...
Diana:
—Até por que,no sexo a três, sempre sobra alguém ...
Os amigos riem e teriam rido mais,se J.C não tivesse atendido o
telefone e saudado Nigro. Sendo sincero,ninguém da mesa era muito
intimo de Nigro,nem ninguém havia lembrado de convida -lo. Saber que
ele estava próximo,mudava a natureza do encontro,pois ele era tão
reservado,ninguém sabia o que ele poderia achar ...
Savanah diz:
—Vem cá bem,desde quando,você tem o telefone celular do ex-
namorado da minha ex-assistente?
—Nós nos esbarramos em uma loja de cds e eu fiquei de gravar
um disco do Llorca pra ele.
Savanah:
—Hummmm...
Com seus gestos leves e dignos de um príncipe.Seus cabelos são
os únicos que permanecem brilhando naquela noite.Nigro,ele .
—Oi,pessoal.Tudo bem?
Todos procuram ser gentis,mesmo sem ter muita
intimidade,pois agora,ele era um deles...Mesmo que todos
perguntassem o que um analista de sistemas tinha em comum com um
produtor de moda...Savanah pensa que: “se até hoje ninguém sabia
quem havia nascido primeiro: o ovo ou a galinha.”Ela não precisava
saber de tudo.
Eles vão rindo,cada vez com menos pressa,pois o melhor da
intimidade era poder:não falar toda hora.Já noite,os amigos vão pedindo
mais bebidas pra saudar o fim do verão,aos amigos e a pequena
felicidade dos momentos como aqueles.
Sav aproveita o silêncio para observar algo divertido:os funcionários
daquele bar falavam e sugeriam tudo na mesma ordem.Era tão robótico
que acabava retirando o charme daquele bar,
sutilmente provinciano. Savanah levanta a questão de que jamais seria
garçonete,pois detestava cumprir ordem. Diana para chocar e divertir os
seus amigos confessa que já havia trabalhado no Mc Donald’s:
—Serio?
- Acreditem!!
Domingos pergunta:
—É verdade que o hambúrguer é feito de carne de minhoca?
Diana:
—Só os Mc‘s que tem jardim ...
Eles realmente se divertem com poucas coisas, Diana resolve ir mais
longe e declara a filosofia agonizante que apreendeu no Mc Donal’s ...
Todos:
—Qual ???
Diana:
—A filosofia do menos merda.
Definitivamente eles olhavam Diana com olhos de desconhecimento.
E,Diana gostava de vez em quando,ser o centro das atenções.
—Simples,submeta o menos merda que você. E, se você for um
monte de cocô,dê ordem nos novatos,pois eles não sabem quem
realmente tem poder por ali.
J.C comenta com sinceridade:
—Você deve ter sofrido muito por lá,né?
Diana diz com um ar resignado:
—A vida me ensinou que 68 % do dia não deve ser lavado á
sério. O grande segredo é levar tudo no bom humor.
Logo após terminar,mais uma convidada chega,com um rosto sereno:
Thereza.
Savanah pergunta com preocupação:
—Onde você estava Thereza?Saiu assim tão de repente...
- Percebi que havia esquecido meu passaporte em sua casa
E,para evitar problemas,resolvi buscar-lo,na volta encontrei com esse
menino simpático –apontando para Nigro – que comentou que lhe
conhecia,logo ficamos conversando no estacionamento. Você sabia que
ele é um grande pianista?
Savanah o olha com surpresa e comenta:
—Não.
Nigro diz:
—Na verdade,meu avô era,eu apenas lembro dele tocando.
Savanah:
—Você perdeu o comentário espirituoso de Diana,explicando sob
a escala Mc Donal’s menos merda.
Com seus olhos brilhantes,Thereza procura ser o mais gentil possível.
—Olá Diana. Tudo bom? Pena que eu deteste o MC donald’s.Sabe
que eu tenho uma blusa divertidíssima ,feita por um artista plástico
francês,que mostra o Palhaço Ronald encurralando uma vaca num
canto de uma sala e embaixo vem: “ O palhaço que anima o seus filhos
,é o maior assassino da face da terra.”
Savanah ri ,assim como Domingos e Diana,mas parece que J.C não
pegou muito bem.
Thereza :
—O que foi J.C. Não entendeu?
J.C meio perdido,diz:
—Olha,o Ronald sempre foi o meu ídolo,pois usava umas roupas
muito suas... e era o único homem de cabelo vermelho que eu conhecia
que fazia sucesso.Na minha adolescência,eu até cogitei ser como ele.
Sob os olhos pasmos dos outros ,ele acrescenta :
—Não sei como ele pode ser um assassino ...
Thereza de bom humor ,ainda diz:
—Meu deus,J.C graças ao Mc Donalds milhões de vacas e bois
são mortos ;pastos são queimados,apenas pra continuar esse negocio
...
Sem querer parecer fanática,coisa que,Thereza sempre havia
evitado,ela resolve comentar coisas interessantes sobre a cultura
indiana. Toda a mesa parecia interessada em escutar coisas novas
,coisas de lugares distantes,menos Domingos que olha pros lados
...Olha,até poder ver um sorriso meigo se aproximar...Naquele bar, tudo
podia acontecer agora,pois Alessandra havia chegado.Domingos sorri e
recebe de volta um sorriso de quem começou a gostar da vida ,só
naquele momento ...
Thereza estava falando sobre como é lindo o amor que os
indianos têm por Shiva;dos festivais de Shiv Ratri quando toda a Índia
acende luzes de velas para saudar o nascimento de Deus. Ela comenta
como existe uma energia das mais belas nesse dia que, dá uma vontade
de acreditar que existe um lugar melhor,um jeito de se tornar melhor
...Alessandra parece a mais interessada nesse papo de auto-
transformação,quando comenta:
—Sabe que uma vez,eu tentei ser vegetariana,mas depois de
um comercial de hambúrguer do Mc Donald’s corri até uma loja e
destruí 68 dias de resistência anti-carne...Eu não entendo como isso é
possível,de onde tira-se energia para não comer as vaquinhas ...
Domingos ri .
Thereza passa a mão pelos cabelos brancos,cabelos que evocam
respeito,porém um tipo de respeito que,ela sempre evitara;o respeito
pelo temor. Ela achava que a vida era um pouco mais do que isso,por
isso comenta:
—Você contou cada dia que poupava uma vaquinha ?
—Cada dia.
Thereza ri,mas afetuosamente:
—Olha,tornar-se vegetariano e acreditar em um mundo onde
todas as formas de violência são inúteis,sejam elas: nos gritos com seus
filhos ,com seu marido ou no seu trabalho.Deixar de comer carne é
buscar um mundo onde pode se ser mais gentil,acreditando mais nas
pessoas,sabe?
Alessandra apenas olha de uma forma doce.
Thereza:
—Uma coisa que me libertou muito do sofrimento,foi entender
que eu não era responsável pelos problemas do mundo;daqueles que
acham que a vida deve ser sempre uma festa...
Alessandra,comenta:
- Acho que nos sentimos obrigados a defender quem
amamos,tipo:responder pelos seus fracassos e anseios,exatamente por
que os amamos,sabe?
Naquela noite os preocupados com:cabelo .O que os homens e
mulheres fazem,ficaram um pouco calados por entenderem que,às
vezes,ser inteligente é ficar calado ...ouvindo.
Thereza:
- Você já parou para observar que o Falso-Amor tenta nos
acorrentar com palavras tristes,porém adocicadas? O verdadeiro amor
liberta!Compreende-nos,respeita-nos em nossos momentos mais
frágeis,nos deixando calados ...
Savanah apenas sorri,naquela mesa,onde a noite havia chegado e
ninguém havia percebido .
Alessandra:
—Sabe que,eu até tentei fazer yoga,mas não conseguia colocar
o pé na cabeça,daí desisti ...
Thereza:
—Não mandaram você colocar o estomago no lugar do
pulmão ?Sabe,existe muita confusão na Índia.E,nessa ignorância,muitos
se aproveitam pra iludir os mais confusos com promessas impossíveis.
Ao meu ver,a única forma de se conseguir ter uma vida melhor e
desejando de coração e acreditando que o que está errado tem que
acabar,por que nós não merecemos isso ...nascer pra sofrer...
Nesse momento ,Ale apenas olha,como uma aluna encantada.
Thereza,continua:
—Acho que essa é uma pequena diferença entre o Ocidente com
sua idéia de culpa,de que só sofrendo podemos nos tornar mais
dignos ...Na Ásia se entrega pra Deus todas as angústias.Acho que não
se come carne por lá por que machucar um animal ,gerar todo esse
sofrimento à toa,sabe?
Alessandra comenta que escutou em algum lugar que na Índia existe
mais de 1 bilhão de pessoas.
Thereza complementa:
—E,uma das menores taxas de violência do Mundo.Pena que as
pessoas morram de fome,até mesmo nas ruas,por pura falta de
capacidade de administração das riquezas naturais,ignorância política...
A conversa estava muito elevada para os jovens presentes e J.C
sentia-se obrigado a trazer pra roda assuntos mais interessantes como:
sexo à três,jeans da Ellus e onde encontrar queijo suíço.
J.C comenta num tom bem humorado:
—Olha, essa história de fome é burrice ao meu ver,pois as
vaquinhas continuam lá pastando,em vez de frigideira...
Thereza o olha como um mãe... que sabe que o filho é burro,
mas será um bom homem no futuro...Já Alessandra não parece ter toda
essa evolução ainda,num tom meio mau humorado,ela diz:
—Aí,menino,vai pra boate falar mau da roupa dos outros!
Os outros procuram restaurar a energia gerada por aquela mudança na
conversa,mas quem disse que J.C iria deixar barato pra tia?
J.C num tom mais alto:
- É isso mesmo TIA,ninguém é de ninguém e o Palhaço
Ronald é meu amigo!
Tia foi a palavra que não deveria ter sido dita, em vez de um copo
d’água pra trazer respeito;Alessandra usa toda a sua crueldade literária
...e diz:
—Sabe qual é o seu problema ? –Thereza ainda tenta evitar
aquilo,por sentir-se culpada– Você está na fase de beijar na boca de
qualquer um que,seja educado com você. Ninguém é de ninguém,mas o
bom senso é de todo mundo!Meu filho!
Mesmo Nigro que sempre se posicionara neutro e que andava gostando
de conversar com J.C antes de dormir teve que rir ...e riu muito.
Depois daquela patada - J.C que nunca fora de perder – ele
resolve se retirar da mesa e para seu espanto ninguém o detém ...A
conversa ainda continua sobre diferenças culturais.
J.C acha aquela historia um cú.
Sentado no extremo do jardim do bar,onde ninguém passa,ele
olha pra duas cadeiras que alguém havia deixado por ali. Senta-se na
direção onde a rua era mais amiga com seus carros brilhantes.Ele
questiona-se como Savanah não havia jogado sua bolsa na cara
daquela porca da Alessandra.Em alguns instantes, ele percebe que seu
ego foi ferido e que agora,os dois detestavam Alessandra.
Com os passos leves alguém ao lado de J.C senta-se com um
copo de whisky quase no final e diz:
—Ei ,menino por que você não riu também?Não acredito que
você nunca tenha sido contrariado..?
J.C disfarçando a irritação,responde a Nigro:
—Não é que eu nunca tenha sido contrariado,mas é que eu
cheguei primeiro no grupo e ... você nem me defendeu !
Nigro não consegue disfarçar a surpresa,mas tenta compreender...
J.C diz :
—Desculpa amigo ,mas é que eu estava nervoso ...
—Não está mais,meu campeão?
—Acho que não ...
Nigro joga sua mão não ocupada pelo whisky,na perna de J.C e passa a
mão indicando que aquilo é só um aborrecimento passageiro.J.C tomba
uma de suas mãos sob as mãos de Nigro. E,se dependesse dele,lá ela
ficaria,Nigro o olha demoradamente nos olhos e diz:
—Acho que bebi demais.
J.C olha pro lado dos carros e depois volta o rosto em direção ao queixo
de Nigro:
—Talvez seja hora de volta pra casa ...
Nigro:
—Vou ter que esperar o efeito do álcool baixar,pois estou de
carro ,além do mais ,estou gostando de ficar batendo papo aqui com
você.
J.C na melhor das intenções,diz:
—Se você quiser,eu te levo pra casa. Não bebi muito.
—Você seria legal assim pelo seu amigo?
Eles entram no carro e J.C o convence que,animada como a roda
estava,ninguém ia se incomodar com a saída deles.
Na chegada do prédio,numa rua cheia de árvores,J.C começa a
questionar-se não estava conhecendo um multimilionário. Na chegada
do apartamento ,Nigro ainda consegue abrir a porta.Na pressa de
entrar acaba pressionando o corpo de J.C que mal sabia onde estava
entrando. Nigro ri. J,C fecha os olhos.
Nigro vai ganhando a sala e diz:
—Não repare na bagunça,a faxineira só vem de 15 em 15 dias.
J.C senta-se no sofá e identifica uma casa bem diferente da sua ,pois
as coisas estão em seu lugar.Olhando para o lado,ele vê um calcinha
branca e antes que possa perguntar sobre isso.Nigro já de short senta
ao seu lado e diz:
- Foi mal amigo,minha ex tinha o hábito de jogar tudo em
qualquer lugar.Eu não acredito(!) que em pleno final de verão você vai
continuar com essa blusa de frio!Você quer um short?,eu tenho muitos
como esse.
J.C pensa que as coisas andariam mais de pressa se ele estivesse de
short ,então ele diz:
—É ...queria.
J.C vai encarando Nigro que,ainda tem álcool o suficiente para
não distinguir uma vaca de um touro. Nigro com seu peitoral forte –
mas ainda sim,desengonçado,na opinião dele - abre os braços sob o
sofá longo. O sono vem calmo e ele procura ser mais gentil possível
com seu amigo que o trouxe em casa.
Nigro:
— Hoje já é quarta feira,pois já é 00:18.Você quer dormir
comigo? – rindo um pouco,ele se corrigi – Que dizer ... por aqui.Não
leve a mal,ok?
J.C só consegue responder monossilabicamente:
—Ta.
Nigro pega a calcinha branca e arremessa longe ...
—Espero que você não pense que a calcinha era minha,- rindo
muito- tá? Eu uso cueca e é branquinha.Sentido necessidade de alívio,
devido ao calor de final de verão,Nigro tira o short e fica mais a
vontade perto de seu amigo que,na opinião dele,era muito tímido...
J.C observa cada detalhe daquele corpo e como se fosse etéreo
,apenas olha .No medo de dar mancada ,resolve trocar de assunto .
—Sabe que existem coisas que não poderiam deixar de
existir?
Nigro com as pernas escancaradas no sofá,encosta em sua coxa e
pergunta:
—Como o que amigo?
—Ahhmmmm...:Micro ondas,Ahhmm banda larga e
sorvete...Nigro ri .Tira suas mãos das pernas de J.C ,vai levantando até
chegar aos cabelos ,então afaga –os carinhosamente e diz:
—Boa noite amigo,o álcool não me deixa escutar mais nada.
.A casa é sua .Amanhã quando acordar pro trabalho,eu te chamo.
J.C fica apenas por ali,olhando...
Horas e horas e na insônia de J.C o dia recusa-se a chegar
,mas quando seus olhos estavam acostumando-se a idéia do sono...
- Agora eu durmo...
Do outro lado do apartamento a vontade de fazer xixi,desperta
Nigro que,só lembra que não havia bebido tanto assim ...Ao longe,ele
observa seu amigo,naquele sofá desconfortável,com a roupa suja de
Ket-chup que por um descuido de Nigro havia ficado no sofá.Seu corpo
parece tão cansado – observa Nigro – Umas das últimas coisas que
Nigro ainda lembra era que seu amigo o havia trazido pra casa. Ele
abre o botão da calça de J.C e puxa delicadamente,depois o observa,
tentando imaginar como aquela blusa vai pra máquina de lavar ...Ele
olha e ri ,.J.C balbucia qualquer coisa como:
—Mas é promoção,vamos Savanah. Pare com essas mãos no
meu rosto.
Nigro não sabe se termina de tirar a roupa ou se para pra ri.
Mesmo com sono ,Nigro vai pro chuveiro e com as mãos ainda lentas
de sono vai descendo a cueca,sentindo o frio da água sob os seus
cabelos claros ...
Já vestido pro trabalho,ele olha seu amigo e passa a mão em seu
cabelos;como um irmão que assegura-se do conforto do mais novo.
As horas passam pela tela do computador e Nigro espera que seu
amigo esteja descansando tranqüilo e, com sorte,ao acordar Dona
Ana,a faxineira,já terá lavado e secado as roupas na centrifuga.Nigro
lembra-se cada vez mais com carinho do seu irmãozinho ...
Já no apartamento,Dona’na não entende nada... Coça os cabelos
por debaixo do lenço branco e não vê outra alternativa,se não acordar
o estranho.
—Moço... ohh moço ... O MOÇO!!
O último grito desperta J.C que,primeiro se assusta com alguém tão
feio e depois percebe-se de cueca azul-clara de frente pra feia.
J.C se protege comas mãos e grita:
—Saí cobra cega,doença ruim de curar!
—Olha moço,eu não sei quem você é,mas... O telefone de seu
Nigro só dá ocupado, se o senhor quiser pode ir pro quarto dele e
dormir mais,por que são só 10.15 hs.
Ali J.C fica desesperado,pois sabe que Savanah chegaria no estúdio
pra fotografar ás 10:30 hs e que ele deveria chegar primeiro pra
vestir as modelos.
—Onde estão as minhas roupas,por favor ?!
Dona Ana,a feia,responde:
- Ahhhh,seu Nigro colocou no cesto de lavar por que elas
estava manchadas de Ket chup e eu ainda estou lavando ,daqui há uns
40 minutos elas estarão secas e passadas ou se preferir pegue algo do
seu Nigro.
J.C tentando se lembrar de tudo na noite anterior e diz rapidamente:
—Mas eu não comi nada com Ket chup,merda!
—Ìííííí,pergunte pro seu Nigro...

No estúdio,Savanah só não o matou e depois o incinerou com


pneus,pois ninguém conseguia parar de rir... daquelas roupas.

Continua no ato 2 continuação:

A semana que não devia ter


acontecido ....

Era uma noite quente, dessas que deixam a todos agitados e


irritadiços também. Uma mesa redonda com comidas Hype,dessas que
não alimentam,porém são bonitas. O apartamento decorado no estilo
Asiático ,ao menos ,era bonito. Os convidados chegavam para o jantar
sócio-profissíonal ,desses onde todos levam 10 cartões e ficam tristes
por voltarem com algum. Savanah havia dito que chegaria mais
tarde,talvez só pra aproveitar a troca de cartões ...
Homens de cabelos grisalhos declamavam seus planos de felicidade
para a América Latina; seguindo seus passos ,todos seriam felizes ,pelo
menos era o que eles acreditavam,através de sua teorias .
Savanah sempre havia detestado esse tipo de conversa,mas... anos de
jantares diplomáticos entre seus pais haviam a transformado em uma
estátua-feliz.
A moça do delicado vestido vermelho havia colocado um assunto
moderno na roda,na tentativa de assassinar a chatice imposta pelo
senhor de cabelos grisalhos,mas por se tratar de um assunto ligado à
estética foi amplamente rejeitado .Tadinha, nessa idade e ainda não
havia apreendido que intelectuais-eruditos não entendem porra
nenhuma de estética ,salvo modernistas como: Picasso e Renoir.
As luzes das velas se apagam no exato momento de sua entrada –
não,ela não tem pacto com São Pedro – apenas coincidências ...Seus
cabelos brilham,sempre com um penteado clássico para essas
ocasiões. Onde Savanah passava, provocava comentários, o que não foi
diferente na sua chegada .Com um sorriso doce o anfitrião vem
recebe-la e diz:
—Não sabia que chegaria tão tarde minha querida,só resta a
sobremesa,mas você não irá come- la só por ter vindo trocar cartões ...
Com um sorriso afetuoso,raramente visto,ela responde:
—Você sabe como a luta contra o mal me deixa ocupada.
Taí,o que Savanah tinha de insegura,ela tinha de espirituosa... de
diplomática.
Ao chegar no grupo ,um silencio se cria,desses de pressão social
causados pela interferência na confraria .Sabiamente quebrado pelo
anfitrião.
—Senhoras e senhoras ,Savanah Amarillo Cristo ,assistente de
moda da revista Eclética e minha amiga.
mas com uma doce voz é corrigido:
—Editora chefe,fui promovida há alguns dias. Não te
contei? Magali pediu demissão pra casar com um Sheik.
Com uma voz intrigada e divertida,o anfitrião questiona:
—Desde quando Du Carvalho é Sheik?
—Aaahh,depois que ela me fez esse favor,o mínimo que eu
poderia fazer era glamourizar o seu passado...
Nisso todos os convidados simpatizam com a moça. Savanah
passa a mão sob os cabelos, talvez.... não pudesse ser chamada de bela
,mas era o tipo de garota com uma beleza singular ...
A conversa infiltrava as paredes de chatice,naquela confraria
nada parecia prender sua atenção. Mesmas conversas
conseqüentemente,,mesmas respostas,às vezes,só pra se divertir ela
imaginava as respostas que,geralmente eram as mesmas
“Eu acho que o problema do mundo na contemporaneidade é a
frieza masculina que submete os anseios da mulher Latino-Americana.
E,também acho que é hora de nós mulheres devolvermos séculos de
opressão ...”
Savanah sabia que havia algo mais do que esse tipo de conversa,
no interior do inconsciente alguma coisa queria vir á tona ,pena que
não soubesse como/ onde ... Assim,ela continuava a ver a vida,de uma
forma tão simplória. A essa altura seus lábios já moviam-se
inconscientemente devido a velocidade de seus pensamentos ....Uma
mão frágil repousa sobre a sua:
—Você está bem?,pergunta o anfitrião.
—Você pode ter duas respostas .Quer escutar as duas ?Tem
paciência pras duas ?
- Ahhmm,você sabe que na minha idade, o que mais se tem ...é
paciência ...
—Bom,estou bem .Meu trabalho é motivo de sonho,só com
pessoas legais ,todo mundo é bem sucedido – já com uma voz
trejeitada – a gente se ama ,sabe?
Dessa vez a paciência tira uma pequena férias ...
—Diz logo menina ...
Dentro daquela cozinha pequena ,seus olhos turvos brilhantes dizem
num desabafo quente como o verão:
- Olha,eu não quero um casamento feliz!Eu não quero
filhos,talvez...Eu não quero nada ,mas eu quero algo mais do que
consumir sapatos de grife e jantar em lugares bonitos,sabe?
—Isso tem um nome:Angústia. Parabéns,você acaba de passar
para o outro estado da vida:A maturidade. Ela costuma chegar
devagarzinho e aí, os sapatos parecem não ter mais efeito ....
Ela ri docemente e ele diz:
—Vamos ,se não os convidados vão trocar de cartões sem comer
a sua sobremesa favorita.
A mesa permanece povoada de achismos e soluções pro mundo.
Savanah não sabe onde essa conversa vai chegar,mas resolve
dizima -la, nem que para isso tenha que apelar para o bobeirol.Com um
gesto típico de palhaços de circo ,ela chama a atenção para si ,ao
conseguir,resolve mudar o rumo da conversa contando uma piada:
—O que é o que é:Vocês sabem o que acontece quando se
arremessa três negrinhos em direções opostas?
A mesa continua com o mesmo olhar de curiosidade ,pois nos dias de
hoje fazer piadas assim, era muito ousado.
—Simples ! O que cair no chão é merda. O que pular na árvore é
macaco e o que conseguir voar é urubu !
Savanah diz isso quase que sem conseguir se controlar. Os primeiros
convidados disfarçam o temor;a falta de opinião formada ...Alguns
tentam interagir,mas temem a opinião dos demais .Eles não sabem se o
politicamente correto os permitiria rir, numa hora dessas .O anfitrião
não intervém dessa vez; procura um objeto perdido no chão. Os
segundos passam e todos apenas escutam os restos de riso de Savanah.
Parece que tudo vai encaminhar-se ao normal ...Até o clima esquentar
com um comentário agressivo:
—Parece que meu povo não vai ter descanso de toda a tortura e
humilhação que já passou ...
Pronto!,o convite pra discussão fora dado.Isso tudo não passou de
alguns segundos ,mas que pareciam eternos para os convidados .Ao
escutar isso,Savanah que,nunca havia gostado de levar desaforos pra
casa,resolveu responder-cinicamente:
—Já tem data marcada,pra abertura do Mar Vermelho,querida?
Moça de lenço dourado,diz:
—Não se faça de tola !Por que eu não vou tolerar esse
comportamento!
—Eu apenas quis deslocar essa conversa tola de soluções
continentais,pra algo mais real ...
—Graças a comentários como seu,meu povo sofre ...
O anfitrião ,de alguma forma,parecia achar aquela conversa
necessária. Os convidados ainda temia expor seus pensamentos,por
receio da corda arrebentar do lado mais fraco...
Com olhares de fogo aquecidos à raiva - que tanto nos machuca -
tudo estava no mesmo lugar.De Savanah pra mulher de lenço dourado
e da mesma pra Savanah:
—Tudo o que eles buscam é serem respeitados e ,não esses
comentários sujos que não trarão a paz pro meu povo.
Savanah ainda resolve mostrar como está sempre certa e diz:
-1:Você já ouviu falar de bom humor? Ótimo pra suportar a
brutalidade da vida e associado ao bom senso,torna–se um grande
inimigo da velhice precoce.
2: Pare de comportar-se como se fosse a salvadora da pátria,pois
onde essa arrogância teórica te leva? Eu te respondo!:a lugar nenhum.
O seu orgulho não vale nada! Você não passa de uma idiota!,
Devorando os livros que,dia após dia,te consumem dentro de um
escudo arrogância.
Com as mãos tensas,ela desliza a mão pelos cabelos e continua.
—Arrogante,por achar que palavras antigas servem pra algo que,
não seja assustar os imbecis; soluções fast-food +indiferença
- Então com gestos teatrais acrescenta:– Tenho certeza que não é o
que o “Mundo”precisa.
Eu poderia te humilhar,até saciar a minha vontade ,mas estaria sendo
tola ,tentando esconder a minha incapacidade de demonstrar soluções
melhores também ...
A mulher de lenço dourado parecia assustada ,mas no fundo sua
arrogância não permitia-lhe admitir que,depois de tantos anos lendo
teorias complexas ...Uma menininha com roupas estranhas fosse lhe
submeter assim,então ela diz:
- Não me importa que, ninguém se importe com a gente,pois eu
não vou admitir piadas,depois de uma vida dedicada à academia e as
tentativas que só uma mente com embasamento pode enxergar ...
Savanah depois de belas palavras,poderia parar por ali.E,quem
disse que a arrogância também não a devorava?Com os olhos semi-
fechados pela fúria silenciosa que remexia-se em seu corpo,ela rebate
:
- Não é do meu interesse lhe agredir,pois em toda a minha vida,
apreendi como acabar com alguém sem mexer o rosto ...Você acha que
palavras mudam alguma coisa? Eu me pergunto quantas palavras como
essa trouxeram diferença ou - com um voz amarga - qualidade de vida
pra alguém ?
Mulher do lenço dourado com um tom de voz baixo,diz:
—Todos temos direitos a sonhos ...
Aquele jogo de vitimização consegue irritar Savanah:
—Cuidado pra não perder- se por campos tão desconhecidos ...
O que você chama de sonhos,tem um outro nome...,mais
especificadamente:Luxo.E, o luxo é pra poucos ,não por destino,mas por
que são poucos que estão preparados para o seu preço...
—Se pessoas como você tivessem menos ,eles teriam mais ...
—Se todo o dinheiro investido nas universidades brasileiras e
manutenção de luxos políticos,aliás não,se apenas 40% fosse revertido
para a criação de escolas técnicas,teríamos menos achismos e uma
sociedade mais igualitária. Bem preparada.
Em um instante,as coisas parecem voltar ao normal,mas a pesada
vibração de mágoa,ainda pesa sobre cada parte daquele jantar.Mesmo
chateada,Savanah sentia-se mais forte,pois como poucas vezes em sua
vida,ela havia conseguido,a trancos e barracos admitir que ,nem tudo
nessa larga vida tem uma explicação fast-food. Então,alguns convidados
autorizados dizem:
—Ahh, é Savanah? Onde você leu isso ?
O jantar prosseguia com conversas menos agressivas e todos
naquela mesa haviam apreendido algo novo;respeito não é
apreendido por palavras impostas,mas por atitudes e que,não haverá
igualdade entre ninguém,enquanto nós não apreendermos a nos
auto-respeitar - sem joguinhos de vitimização – e conseqüentemente
entender que,nem tudo é contra nós ... talvez naquela noite não
houvesse troca de cartões,mas,ao menos,Savanah degustava a
famosa sobremesa,pena que não sentisse sabor algum ...
Desculpa, irmãozinho....

Lá pra umas 22:18h o telefone celular de J.C toca,e mesmo vendo


a bina,ele não consegue reconhecer o número:
—Alô!
Estranho:
—Como está o meu campeão?
J.C:
—Ligou errado.
Nigro:
—Porra!Sou eu J.C,o Nigro.
J.C:
—Oi ,filho da puta !Qual é o próximo bote?Me trancar nu pra fora do
seu apartamento?
— Seria engraçado ...brincadeira. Você estava todo manchado de
Ket-chup que,eu sem querer havia deixado sob o sofá .Eu só quis o seu
bem ...
—Huu rrrumm.
—Como prova do meu arrependimento ,escolha um dia da semana e
agente vai jantar junto,tanto que você não queira me sujar de ketchup
...
—Posso escolher o restaurante que quiser?
Nigro ri e diz:
—O que você quiser ,meu amiguinho.
—Mesmo sendo caro?
—Eu quase não saio. Sem problema,será um prazer gastar o meu
dinheiro contigo ...
J.C começa a desconfiar de toda aquela gentileza,mas não lembra
de ter sido visto por Nigro com nenhuma modelo gostosa ...
J.C:
— Olha,é melhor você desligar,pois você ligou pro meu celular e vai
ficar caro depois ...
Nigro ri do comentário e fica esperando que ele decida- se pelo local ...
O local escolhido foi o Termas-1,um dos melhores restaurantes
electro- trendy do momento.
Nigro acha muito estranho comer em um local onde as garçonetes e
garçons anotam pedidos trajando roupas sado-maso,mas apenas
comenta:
—Tem certeza que eu não devia ter vindo com uma peça,tipo:
médico-sexy?
J.C em vez de ri,resolve lhe dar as primeiras noções de moda
aplicada:
—Não seria mal se você queimasse todo o seu armário e
substituísse por: 4 calças escuras da Fórum+ 3 blusas claras da T.N.G e
um jaquetão. Hummm,algo do Máxime Perelmuter pra tirar essas cara
de normal que você tem ...
Eles até estavam se dando bem,mas Nigro acha que ele exagerou
um pouco no “ normal “e sente-se na obrigação de corrigi-lo ,mesmo
que o cara seja o seu novo amigo.
—Olha, eu sou um analista de sistemas e não um cabide de
roupas. beleza?

****************************

No trabalho,a hora demorava pra passar,coisa que Nigro nunca


havia observado .A tela tem números demais. Ele levanta-se e saca o
celular. O número deveria estar anotado em algum lugar,pensa Nigro.
“Pronto! achei.”
Ele disca pra J.C,pra saber como seu amigo estava. Ele decide que
andava precisando de amigos novos e experimentar coisa novas. Do
outro lado ,J.C no seu trabalho atende apressado:
—Alô! Seja quem for,tem que ser rápido.
—Oi cara é o Nigro .Tô te ligando pra dizer que não fiquei chateado
com a consultoria forçada de moda .Aí eu pensei que ...
J.C diz do outro lado da linha:
—Pega o sapato rápido,Savanah não pode saber ...
Sei ,fala Nigro!
Do outro lado do telefone,Nigro vai ficando sem graça,pois começa a ter
a certeza que está incomodando .
— Cara ,eu estou incomodando?
- Não. Desculpe-me,mas é que aqui no estúdio as coisas estão um
pouco atrasadas. Legal escutar a sua voz.Gostou de conhecer um lugar
da moda?
- Na verdade ,eu queria fazer algo mais leve,não sou muito de
restaurantes-boate.Que tal ir lá pra casa,agente pede pizza ...
— Perfeito. Que tál ás 22:30 hs?
— Precisa ser tão tarde?
J.C ri e diz:
— Olha,do jeito que as coisas estão,eu não saio daqui antes das
19:40 hs. E,preciso passar em casa pra me trocar ...
Nigro não perde a chance da piada:
—Se você quiser eu te empresto mais uma!
—Vai se danar ôh,loirinho!
—Te espero aqui,até logo.
—beijo.

Por volta das 20:48 hs o porteiro avisa a chegada


do amigo. Nigro alegra-se por ter alguém legal pra lhe
fazer companhia.
J.C vai subindo o elevador pensando onde está se
metendo. Na sua lógica,um caracomo Nigro não deveria
achar normal essa historia de opção sexual ,mas se eles
eram amigos,ele teria que compreender. Nisso J.C é
pego de surpresa pelo sorriso de Nigro que o abraça
carinhosamente:
—E ,aí campeão. Como foi o seu dia?
—Ííííííííí,Savanah hoje estava nervosa e sempre sobra pra mim que,
deveria ter feito curso de adivinhador de pensamentos.
Nigro ri de tanta ingenuidade e diz:
—Vam’bora ,a pizza vai esfriar ...O ket-chup te espera...
Eles passam uma noite agradável conversando sobre política e como
pessoas normais– leia se Nigro- podem tirar proveito de leituras
regulares de revistas de moda.
J.C lhe explica a teoria do “corno manso “ que ele havia lido no jornal,
,sobre aquele tipo de homem que,quando percebe que sua mulher está
saindo de cena ,em vez de bater um papo,como todo homem adulto...
vai pro bar e bebe.Nigro ri do comentário espirituoso do amigo e
enquanto ele fala e fala - Nigro observa que seu amigo gosta de falar -
e sem que ele saiba,o admira encantando ,pois como J.C que ainda é
um menino que começou a trabalhar à pouco ,possa levantar questões
tão inteligentes sobre relacionamentos ,mesmo sendo visível que nunca
os tenha vivido .Ele apenas olha e diz:
—Come mais J.C...
—Top não come.
Ainda confuso,Nigro pergunta:
—O que?
—Nada,era só brincadeira,eu estou satisfeito.
—Você já conhece a minha coleção de postais de viagem,J.C?
—Poxa cara,eu adoro postais de viagem,quando morava na Itália
sempre comprava alguns com o meu dinheiro de estudante .
—Quer dizer que você morou na Itália?
Quase que num gesto infantil ,J.C balança a cabeça enquanto pega
o último pedaço de pizza.
—Meu pai é Gerente de Produto de uma firma multinacional.
Assim a conversa vara a noite,parece que J.C iria começar a
dormir com freqüência na casa de seu amigo.

Nem sempre,é o peão quem cai ...

Era uma rua pequena ,com muitas árvores,com passarinhos


cantando e um sol muito amigo brilhando. Subindo as escadinhas cor de
tijolo vermelho... –não,não há espantalhos,nem leões que falam...-
funcionava um estúdio. Um estúdio,não . Um puta estúdio,onde apesar
do calor infernal funcionava á todo vapor .Savanah e sua equipe
trabalhavam desde das 8:00 pra entregar o edital semanal da revista.
No meio de toda aquela correria, eles falavam coisas como:
“Morram comuns!Nós somos a patrulha estrelar da moda!”
O fotógrafo não parava,nem pra respirar,seus clicks fortes como o
ferro,iluminavam a beleza da modelo jovem .Savanah dessa vez queria
algo sexy – contra corrente -,porém sem ser óbvio . A patrulha sempre
havia implicado com a mesmice do Mercado.E,se dependessem deles ,o
Mercado não seria o mesmo depois daquele edital...
O flash reflete sob os olhos claros da modelo .De longe,Savanah ajeita
os cabelos,ainda sim ,olhando pelo reflexo do espelho,para garantir a
força de imagem que seus trabalhos sempre haviam tido.
Savanah diz:
—Mas rápido,Abraão,já são 16:15 hs!
A modelo parece um pouco cansada,mas continua. Então,Abraão então
diz:
—Se você me der a foto que eu quero,tem 10 minutos pra fumar ...
—Você está impossível hoje...
Seus gestos são bem rápidos ,seus cabelos claros vão caído no
rosto. Sim,ela está quase lá .
Segurando a máquina com pressão,Abraão,diz:
—Isso minha garota escandinava,mostra pro outros por que você é
minha preferida.
Savanah bebe um copo de água pra controlar o calor daquele
estúdio com tantos modelos. Aproveitando a deixa,Savanah manda J.C
orientar a modelo pra vestir o espartilho vermelho com a blusa rendada
preta. Os olhos de Savanah estão concentrados na máquina do
fotógrafo:
—Ok, Ok. ok. Os outros modelos,por favor venham pro fundo
branco. Eu quero você no centro com as pernas levemente abertas. Li,
coloque suas mãos perto da coxa dela. Sim,mas um pouco,mais pra
dentro. Os dois meninos: Você atrás dele,deixe a sua barriga encostar
nas costas dele.
J.C e Diana se olham com um olhar de incompreensão,pois algo
estava estranho,mas a pressa não os faz perceber exatamente o que...
Savanah prende seus cabelos pra poder ter um melhor foco de
visão. Abraão vai apenas mudando o ângulo. O estúdio continua
abafado e isso ajuda a aumentar a sensação de atrito.
Savanah comenta com fotógrafo:
—Parece que dessa vez os espartilhos serão usados com mini-saia
,né?
Abraão ,responde:
—Molin Rouge.
Os dois riem imensamente.
J.C diz:
—Oh,Savanah,não é melhor usar uma saía maior?
No que recebe uma resposta típica e quente:
—Cala a boca,sim?
Os dois continuam rindo. Parece que aquele trabalho,mesmo
chegando atrasado na redação era tão ousado que nem precisaria da
aprovação das chatas do Editorial.
As escalas são descidas em um pulo,afinal aquilo é só o começo
do dia,ainda há um encontro do pessoal no “Beringela” ,atualmente seu
bar preferido . O celular toca :Com esse número só podiam ser os
chatos da redaçã .
Estanha:
—Savanah onde você está?
—Calma,as fotos estão em um cd e em 31 minutos meu carro
estará por aí.
O caminho até a redação não é tão longe .Na Itália ela era
conhecida como menina-problema;pelas suas idéias. Daí,vêem as
lembranças de Milão e ela percebe que não era feliz por lá,mas ao
mesmo tempo,se divertia um bocado...
O carro pára e entra em uma garagem de um prédio espelhado.
No décimo quarto andar funciona a editora onde trabalha . No
elevador,todos vestidos de terno,mesmo naquele tempo.Ela com:
jeans,blusa branca cheia de paetês+ sandalinhas de couro-falso; Sav
detestava a injustiça contra os animais,apesar de come –los ...
- Boa tarde Letícia.
— Boa tarde senhora Savanah.
— Anuncia me pra Vitória;já estou entrando.
Savanah nunca havia esperado por nada nessa vida.
—Pronto,está tudo aqui,mas se fossem vocês editaria tudo direto.
Vitória imóvel lhe pergunta:
—Olá, Savanah. Tudo bom com você?
- Ah,sim. Tudo!
—Eu estou bem,Sav,obrigado. Vamos ver o que você nos trás
hoje?
Então,ali começa o seu inferno astral,mas como todos nessa vida
,não sabemos o próximo passo no xadrez ...

Intimidades que ....

Com muito custo e só depois de contar pra Nigro como as


boates de Electro eram divertidas,J.C havia conseguido convencer Nigro
a sair pra dançar,só que dessa vez,ele havia conseguido fazer Nigro
busca-lo de carro ;na sua cabeça as piores intenções... fazer Nigro subir
e,já no seu quarto, agarra-lo com toda brutalidade,forçando a trocar
aquelas roupas de Loja de Departamento,por algo mais conveniente
para uma boate de Electro. Na hora combinada,Nigro toca no seu prédio
e não se incomoda de subir.
Quando a porta é aberta,Nigro aparece com seus cabelos longos
,cortados .J.C acha que ele fica mais irresistível assim,mas apenas diz:
—Poxa cara ,ficou legal assim ...
Com seus olhos sensíveis,Nigro o olha e:
—Tá vendo,eu não sou um cara assim tão inflexível e resolvi seguir
seus conselhos ...
J.C passa a mão sob a barba por fazer é diz:
—Sabe que eu pensei que você continuaria bonzinho e aceitaria
pegar umas roupas no meu armário ... só pra ir na boate,sabe?
Nigro poderia ter achado aquilo demais,mas resolveu entrar no
espírito da brincadeira.
—Tá!,João,eu troco de roupa também...minha cueca branca
também deve ser trocada,talvez ...não esteja na moda?
Cada uma daquelas palavras ecoam...,sendo que as últimas
parecem morder João por inteiro...
J.C:
—É...não,só coloca um Jeans ...
J.C deita-se no sofá branco e vai observando Nigro ir tirando a blusa ...
Nigro pergunta:
—Cara ,onde eu vou deixar as minhas roupas?
Numa resposta rápida,J.C orienta- lhe a arremessar tudo sobre a
cama,mesmo que nenhuma faxineira venha depois pra limpar ...
—Depois eu passo e levo pra tua casa.
- Tá.
J.C orienta lhe a pegar um Jeans sem lavagem e pensa em uma
blusa preta com paetês prateados escrito DIVA... ,mas o bom senso
vem a cabeça primeiro e ele escolhe uma blusa irreverente da
Cavalera . Nigro desce suas calças,mas antes de tira-las por inteiro
,olha pra trás e diz:
—Sabe que,eu gostei dessa blusa que tem esses negocinhos de
prata colados nela ...
—Mas tá suja!,pega essa mesma.
Nigro suspende o jeans escuro e elogia por ser confortável,a blusa
amarela realça -lhe o cabelo e parece que está tudo pronto.
—Tô legal?
—Vem cá!
Num gesto rápido,J.C coloca uma de suas mãos no zíper de Nigro,
sobe delicadamente e diz:
—Pronto ,bebezão,agora você pode sair.
Nigro toca com suas mãos o cabelo curto de J.C e diz:
—Você é um grande amigo,sabe?
Com a cabeça abaixada,J.C concorda e ri.

A noitada é super legal,pra evitar más impressões,J.C não leva


seu amigo para nenhuma boate onde ás 2:00 am,um Drag-Queen
sairá de trás do bar gesticulando como se estivesse excitada e de mau-
humor. A noite passa,alguns caras olham pra J.C,mas sua cabeça parece
estar em outro lugar. Outras garotas olham pra Nigro,mas sua cabeça
parece não achar mais graça em garotas ultra-delicadas que depois vão
demonstrar toda a sua capacidade pro egoísmo...Definitivamente tudo o
que ele queria era estar perto de seus amigos ...seguro. As horas vão
passando e os olhos de Nigro vão ficando cada vez menores,em parte
pela quantidade de whisky que,como sempre, vai levar J.C à
responsabilidade de levar-lo pra casa,no fundo,no fundo,ele já estava
começando a gostar da idéia de ser um chofer privado.
Seu corpo parece estar se divertindo como nunca,J.C nem vê a
hora passar,não até Nigro,com seu rosto cansado dar a entender que os
serviços de chofer serão necessários. Engraçado é que, eles estavam
construindo um tipo de relação onde isso era possível ...
No carro,J.C presta atenção no transito,enquanto Nigro dorme ao
seu lado. Numa freada,-por pura irresponsabilidade do carro da frente -
o corpo de Nigro vai pra frente,provocando o desespero de J.C,mas
depois volta a recostar - se sob os ombros de J.C que,ao longo da
viagem,vai rindo baixinho ...
Já dentro da rua milionária cheia de árvores,o porteiro reconhece
o carro do Senhor Nigro e permite que J.C entre. Na garagem,J,C rindo,
tenta levantar seu amigo,mas percebe que será impossível:
—NI. Acorda. Acorda ,cara!
Com muita força de vontade ,Nigro apóia o seu braço no ombro de
J.C e assim eles conseguem chegar no apartamento . Pra J.C aquele
apartamento já não era tão anti-familiar,dessa vez é ele quem despe
Nigro calmamente,dobra a roupa como sua mãe havia o ensinado,
depois coloca Nigro na cama e cobre-o . João tira as calças hype e...
pensa ,se não é melhor dormir no sofá...Se seu cérebro deixasse,se seu
corpo já não quisesse sentir o cheiro do corpo. Ele deita-se ao lado do
menino-amigo-belo...é parece que essa noite o sono viria rápido
...João dorme como um anjo.
Nigro desperta e como sempre,com vontade de fazer xixi.Ele olha
pro lado e primeiro pergunta-se o que seu amigo está fazendo em
sua cama e depois lembra que,pra variar,bebeu um pouco demais. Ele
ri e passa a mão pelo rosto de João que,na opinião dele,parece um anjo
dormindo. No mais,os mesmos primeiros movimentos do dia. Seus pés o
levam em direção ao vaso sanitário,suas mãos abrem a cueca e seus
dedos posicionam-se pro que deve ser feito .Sua boca ainda guarda o
gosto da manhã ,ele vai mexendo a boca pra espantar esse gosto ...Na
cozinha ,ele agradece de coração, o inventor do suco de laranja
engarrafado;aquilo era melhor até do que mulher ...Ele,definitivamente
havia acordado engraçadinho naquela manhã ...
A luz começa a invadir o quarto,mas Nigro acha uma injustiça
que seu chofer particular,levanta-se aquela hora. Ele apenas o observa
dormir e decide ao seu lado sentar,pra pensar na vida...
Algumas horas depois ,João vai despertando e tem razão pro
estranhamento.À sua frente,um cara loiro sem blusa,coberto até as
coxas pelo lençol olhando pro seu rosto e sorrindo,só depois é que ele
reconhece que o Loiro era seu amigo. Ele ri.Nigro o olha
insistentemente,sorri e diz:
—Dormiu bem amiguinho?
Com um rosto de preguiça,J.C afirma que sim.Nigro oferece suco
de laranja - que é recusado - .
— Bebe,João pra ficar fortinho!
Sim,ele estava engraçadinho naquela manhã.
Onde dois amigos acordavam com calma ,numa cama larga ...J.C
levanta-se e recosta no apóio da cama com as costas; seus olhos estão
próximos da barriga de Nigro. J.C precisa tirar essa dúvida:
—Cara… você já me viu do lado de alguma mulher gostosa?
Nigro surpreso,pergunta:
—Por que?
—Eu fiz a pergunta primeiro e você tem que responder...
- Hhmm,um,Savanah pode ser?
- Não cara! Alguma modelo ,tipo assim .
—Hummm,Acho que não,mas por que,João?
Ainda de cabeça baixo,J.C não entende o por que de ser
tratado como se fosse um menino,ele sempre fora tão maduro;agora
não sabia como se expressar. Será que Nigro o tratava bem com
vontade de chegar perto de algum contato dele ?
Nigro toca com os dedos o queixo de João e com insistência vai
levantando-o ...
— Me diz o por que da modelo gostosa...?
Dessa vez,com o rosto bem próximo do de Nigro,ele ainda
recusa,mas aquela proximidade vai atormentando o pouco á pouco...
Nigro vai falando bem baixo perto do seu ouvido.
—Me diz o por que ... vai.
Seus rostos se olham e defronte, as bocas se aproximam,aquilo
que João mais queria,não dependia mais dele.Nigro toca de leve seu
rosto e vai beijando:a face,os olhos,o queixo ...Nesse momento João vai
acalmando-se e quando sente sua língua sendo tocado por Nigro;seus
lábios pequenos e vermelhos .Ninguém podia explicar nada.Ninguém
queria explicar nada.Eles se beijavam como uma fortificação da
amizade ,talvez uma forma de se conhecerem melhor,sim Nigro estava
curioso. Nigro aperta a cintura alheia contra a sua e só naquele
momento João fica calmo sob os lençóis.
Eles vão tocando –se ,beijando se e destruindo,pouco á pouco,os
limites do certo e errado ... do óbvio.

Xeque Mate !!
A editora-chefe coloca o cd com as fotos no computador á
espera dos resultados provocativos de sua Consultora de Moda.
Savanah olha pra janela e sente um calafrio,como quando
criança,nas viagens com seu pais. Seus pés batem insistentemente à
espera de mais um sorriso de aprovação pelo seu trabalho,mas parece
que não é bem isso que acontece.
Vitória editora chefe,diz:
—Savanah sente um pouco aqui na minha frente,ok?
Savanah obedece por formalidade,mera formalidade.
Vitória toca pra sua secretária e num tom um pouco apressado,
pede pra que chamem o senhor Leonardo .
Savanah pensa o por que do presidente-executivo agora ter que
ratificar uma questão do Núcleo de Moda ,mas promete pra si mesma
que terá paciência com o vovô.
Leonardo entra na sala com sua cara de homem previsível e
ocupado.Não cumprimenta Savanah e muito menos Savanah sente se
obrigada a retribuir.
Ele também olha a foto. E,com um rosto preocupado,procura remediar a
situação.
Savanah ao ver os olhos,que olham as fotos ,pensa que o mundo está
pra acabar e gentilmente esqueceram de avisa –la.
Leonardo apreensivo,diz:
—Você tem certeza de que trouxe o cd certo?
Savanah não perdoa:
— Maldito Saci!
Parece que sua piadas de menina rica e cheia de vontades não iam colar
naquela tarde ...
Vitória questiona :
—Sob que parâmetros,você construiu esse edital de moda ?Ele me
parece um pouco excessivo
Savanah com um rosto desafiador,rebate:
—Desde quando,você conhece os parâmetros?
Vitória com um rosto irritante e aristocrático,diz:
—Lingerie e pernas abertas? Pra mim isso não é moda.
Savanah passa a mão pelo cabelos,pra disfarçar a irritação,diz:
—Notamos isso,pelo seu tailleur cinza pied-de-poule que a minha vó
,já achava ultrapassado.
Leonardo propõe que seja refeito o trabalho,mesmo sem saber os
prazos ajustados entre editora e stylish.
Vitória continua:
—Desde que você assumiu o cargo,não podemos reclamar das
vendagens - Savanah faz cara de quem já sabia -,mas em
compensação,os leitores nunca reclamaram tanto ...
—Eu vi de Milão por que vocês me convidaram como consultora.
Vitória acaba se alterando um pouco mais,o que acaba não
combinando com o seu tailleur cinza .
—Savanah !Você não está em Paris ou Milão. Quando lhe
convidamos você era 2 anos consecutiva editora de moda pela V.H.1. -
com um tom cruel na voz,ela continua - esse ano,parece me que
esqueceram de você...
—Era preciso deixar as outras coleguinhas ganharem também ...
O clima vai ficando pesado no núcleo –executivo.
E, se depender de Savanah,não será ela que assumirá primeiro que
errou.
Vitória com um leve sinal de irritação,questiona:
—Quantos anos tem essas meninas ajoelhadas na frente dos
Homens 12 !?
—Não importa,isso é arte!
Vitória fulmina derrubando o Rei do tabuleiro:
- Não minha querida,isso tem um outro nome: vulgaridade
Pornô-infantil. Ligue pra Playboy,lamento,mas você não está mais na
Eclética.

Continua no ato 3:

Ato 3:

Pelo menos tenta,cara ....

Depois daquela manhã,Nigro começava a questionar pra onde sua


vida ia ...se amanhã,o mesmo,não cogitaria virar uma bela
travesti....Sua cabeça balança e ele acaba reconhecendo que,nunca
havia sido tão livre,como no relacionamento com J.C. Eles não brigavam
nunca,J.C nunca dava pistas de ciúmes,-coisa que sua ex sempre havia
tido o prazer de demonstrar –logo ele,uma cara estranho e
desengonçado-,pensa.Quando J.C beijava seu braço e dizia que ele era
um cara fantástico,Nigro nunca acreditava.
“Imagina ...!” -pensa alto.
Naquele sábado de manhã ele havia convencido J.C a abdicar a
boate de sexta,pra caminhar com ele e depois dar um pulo no clube.
No carro os dois pareciam perdidos em seus próprios mundos. Os dois
se respeitavam,pra não falar,o que não queriam...Nigro gostaria que a
vida ficasse assim pra sempre,sem necessidade de ficar forte e ter que
demonstrar que era O homem. O clube vai se aproximando. Eles
decidem irem caminhando até a porta principal .
J.C não havia falado o caminho inteiro,pois ainda não havia se
acostumado à essa vida de compromissado ;acorrentados pelo amor ...
Era como se ele precisasse pesar todas as vantagens dessa nova fase e
todas as abdicações que estava fazendo;rápido como se não houvesse
meio termo,Deus!Ele estava confuso, pois gostava de Nigro.Acordar
como uma cama de casal,num grande quarto branco era muito
confortável,mas ter que abdicar as boates de sexta era muito
desagradável ... O tempo vai passando e Nigro quebra o silêncio:
—Sabe,eu imaginei que nós poderíamos ir ao teatro hoje e depois
comprar um bom livro naquela livraria 24 horas. Você leu alguma
resenha interessante no jornal?
J.C não queria frustrar-lhe confessando que ,só lia assuntos ligados a
suas áreas: moda,desing,fotografia,artes plásticas ...
— Ahhmmm,na verdade eu queria sair pra dançar hoje,pela
noite de ontem ...
Aquilo surpreende Nigro,mas ele precisa entender ...
—Eu pensei que você fosse enjoar de boate!Mesmo por que,até
onde eu me lembre,você havia saído na quarta á noite.
J.C tímido,fala baixinho.
—Aquela não vale por que foi saída profissional,não é tão
divertido...”
J.C começa a observar outras paisagens,principalmente aquelas
de bermuda e blusa social que entravam no clube. Ele não conseguia
entender por que num relacionamento normal as agendas precisavam
ser compartilhadas ao longo do dia inteiro ... J.C prolonga mais o olhar
num belo par de coxas acompanhadas de uma sunga azul e nisso recebe
um leve safanão no pescoço:
—Vai lá !!Oferece seus serviços,tipo: uma rapidinha,só
20,00,doutor
—Hei !Vai furar meus olhos para eu não enxergar mais?
Nigro o olha contrariado pro lado e percebe que esse é o preço de sair
com pessoas ainda em fase de formação psicológica.
Os dois ainda não são estranhos pra si ,mas sabem que existem
coisas mais importantes que parecem não poder esperar e precisam ser
vivenciadas...Será que ele estão realmente prontos pra amar? Abdicar é
sempre sinônimo de amor? Eles ainda não sabem,mas gostariam que
as coisas fossem mais fáceis ...
Estranhamente aquele sábado de manhã ainda não tinha muitas
crianças ...Eles estão sentados de frente pra piscina de águas azuis
escuras,J.C olha com ternura e diz:
—Comprei um gato todo manchado de amarelo.
Nigro ri com afeto e parece que as coisas estão ficando melhores.
—O médico me disse que a consulta é de 120,00,mas que a ração
é que é meio cara,mas eu trabalho tanto que,achei que seria divertido
ter uma gata que vai engravidar e...
Nigro o interrompe e diz:
—Cuidado,não quero ser vovô tão rápido.
E,agora,menina?
Sav sentia que a cabeça estava rodando como montanha russa.
Ela não sabia por quem procurar e naquele momento,começa perceber
que ninguém gostaria de escutar uma história pesada como aquela.
O tombo da editora a havia deixado pequena
de novo; como uma criança que precisa de abajur pra afugentar os
monstros noturnos...Ela,sinceramente não sabia por que estava indo pra
lá, mas achava que Augusto poderia lhe ajudar.
Muita gente,essa era a primeira impressão. Pela primeira vez,bares
caros não causavam alívio. Ela quase pára ali,no meio de todos aqueles
estranhos e retorna sem saber ao certo pra onde ir.Ela respira fundo e
avista Augusto ainda com as mãos tremulas,ela o toca:
—Podemos conversar ?
Guto no meio daquele restaurante cheio,não parece o mais
animado pra isso.
—Desculpe ,mas acho que agente não tem muito o que
conversar ...
Ela o olha perguntando o que tinha feito ...
—Mas eu preciso ...
Augusto se aproxima e,em seu ouvido despeja:
- Por que você não vai á merda?Você e todo o seu egoísmo,
todas as suas prioridades,onde eu não entro. Quer saber? Eu tô cansado
de escutar:
“Desculpe,amanhã eu tenho que pegar uma modelo no aeroporto.
Desculpe,mas amanhã é festa fechada de uma amiga.
Não vai dar por que hoje eu trabalhei e quero tirar o dia de amanhã
de folga...de todos ...”
Cada palavra vai ecoando e pesando sob seus olhos já cansados.
Ela sente sua cabeça rodar e não sabe onde tudo aquilo começou,mas
pede pra que acabe rápido ...
O que quê agente,realmente
quer ?
A noite havia chegado e eles estavam no apartamento de Nigro.
Poucas palavras são ditas e Nigro começa a questionar-se o que estava
fazendo. J.C ,num único momento de maturidade,caminha,até Nigro e o
olha. Nigro fingi não ver,por não ter nada a dizer ,J.C senta-se ao seu
lado,afaga o seu rosto e diz:
—Olha cara,eu não sei o que dizer,mas se eu pudesse,eu sopraria
cada sentimento meu no seu ouvido ...sabe?
Nigro o olha nos olhos e o contempla. Era como se aquilo
dependesse,apenas ....deles. Nigro vira-se contra J.C e encosta sua
costas contra o corpo do amado e diz:
—Sabe ,eu nunca contei isso pra outras,mas meu avô era pianista.
E,de todos,era o que eu mais amava,por que não importa o que eu
fizesse,ele sempre me compreendia com seus olhos doces,seus cabelos
loiros quase brancos. Quando ele morreu,tentaram me esconder a
notícia ,até que eu fizesse as provas da faculdade .Eu passei e um dia
após o meu aniversário,me contaram. Eu nem quis chorar por que
sabia que,no íntimo, nada que eu fizesse o traria o de volta. Eu sempre
busquei nos outros aquilo que meu avô me dava; mesmo não sabendo
um nome. E,eu acho que as coisas não estão dando certo entre agente
...Não que eu queira que você seja o meu avô,sabe?
J.C de costas pro amigo,limpa uma das lágrimas e acho tudo aquilo
muito belo,mesmo que eu seu íntimo ele não sinta-se preparado pra
isso ...Ele reclina-se e beija o pescoço de Nigro.
— Você que dizer que,é melhor agente não se ver mais?
— Huumm...não,eu acho que você tinha que esquecer essa idéia
de boate todo dia.Existem coisas tão mais interessantes nessa vida ...
J.C continua acariciando o braço do amigo e fala:
—Não. Eu estou nessa fase,pra mim tudo isso é importante. E,eu
não quero chegar aos 40,fazendo coisas que deveria estar fazendo
agora. Eu poderia e,até posso ficar com você está noite,mas quantas
serão as noites que eu vou deixar de: sair ,de falar e de ser quem eu
sou...?
Nigro sai daquela posição confortável ,passa a mão no rosto e olha J.C
como uma criança assustada. Cada segundo daquele tempo parece uma
eternidade. Era como se ele visse o final do seu último relacionamento
todo de novo. Ele levanta,coloca um cd da Marisa Monte e vai se
distraindo com as melodias ,com o piano. Na volta,ele senta no último
lugar do sofá branco,como se declarasse distância. J.C sente se na
obrigação de protestar contra tanto infantilismo.
—Você não vai me escutar?
Nigro não olha pro lado. Na sala,muito vazio.
—Eu escuto com o ouvido.
J.C ri,mas de uma forma falsa . Ele olha pra pelo marrom e começa:
—Ontem eu não sai,hoje eu fui pra aquela porcaria de clube por
que você gostava! Assisti,outro dia,aquele espetáculo deprimente,com
homens quarentões e suas esposas quase felizes,vestidos de social ...
por que você gostava.
Nigro parece que, dessa vez,não vai ser o bonzinho:
—Homens esses que,você não parou de olhar o dia inteiro e...
- Meu deus,eu vou ter que desculpar me,até mesmo pelo meu
desejo agora? O que você apreendeu do seu último relacionamento?
Castidade ?
Exclusividade nunca foi sinônimo de felicidade amorosa...
Você anda com as roupas que quer e,eu procuro refletir,pra não te
forçar a ser algo que você não quer ser...
Os dois não querem se olhar mais,mesmo sentindo que a saudade
será grande,caso aquilo que está previsível,se torne realidade. Nigro vai
passando a mão na própria perna e fica repetindo,repetindo e repetindo
este gesto. Esse gesto vai apertando o coração de J.C que se
pergunta,se não está errado; se não passa de um porco egoísta que,só
pensa em si próprio. Dessa vez,é a sua vez de passar a mão no rosto à
procura de respostas ...Ele vai caminhando na direção do amado e por
alguns minutos,pensa em abraça- lo ,beija- lo e ... perdoa-lo ,mas não
é o que faz:
—Olha,Nigro são 20:18 hs ,põe uma calça,agente vai ao teatro e
depois agente vê,ok ?
Nigro o olha como se o agradecesse ...e sorri.
Eles descem pelo elevador,pegam o carro em direção ao teatro.
Assistem a uma peça,até boa pra J.C. Eles fazem todas as coisas que as
pessoas normais fazem,mas J.C não está contente. As palmas vêem e
merecidas,na opinião de J.C. No carro,ele que não agüenta mais,diz:
—Olha,vira a direita que eu decidi ir pra boate.
Nigro o olha como se não entendesse ,como se estivesse sendo um
pouco traído. Ele começa a sentir o sangue subir,mas algo o faz tomar
outra decisão.
—Beleza,agente vai junto.
No começo,a noite parece um saco pra J.C; e,ele começa a se
questionar se já não era a hora realmente de pular fora dali. As
músicas vem chegando,até a nova faixa de Deborah Cox começar a
incendiar a pista,ele vai sentindo todo o seu corpo vibrar na mesma
sintonia,aí vão chegando os amigos,camaradas de boate e de copo e a
noitada vai pegando fogo,depois de quase 2 horas ininterruptas
dançando ,J.C olha pra um canto do bar e vê Nigro o admirando de
longe .J.C arruma um desculpa esfarrapada e despede-se dos amigos de
boate. Num gesto jovial,ele olha o seu amigo–amado e diz:
—Vamos loirinho?
—Vamos.
No caminho pra casa: os mesmos prédios,os mesmos trecos,todos
nos seus respectivos lugares. Dois caras voltam dentro de um carro
diferentes,um pouco contrariados por não conseguirem viver toda a sua
potencialidade ,seus desejos. De novo eles,no mesmo elevador,sem
palavras ...
Até ,Nigro dizer:
-Você vai preparando as coisas? Eu esqueci de comprar o Suco
de laranja de amanhã ...
—Tá.
J.C vai olhando o apartamento, já se acostumandodo à acordar
e vai olhando sem pressa,pra arrumar a cama,vai pegando o velho
sapato que Nigro tinha o hábito de jogar em qualquer lugar depois de
um dia de trabalho. Ele olha da cama pra janela,faz o que Nigro pediu
e ,após ficar só de boxer quase sem roupa,deita-se e deixa o sono vir
retirar-lhe todos os aborrecimentos.
—J.C, J.C ?
Nigro o encontra dormindo e acha que a boate o havia esgotado.
Nigro pensa que se J.C houvesse lhe escutado...Ele deixa o leite na
geladeira e vai arrancando a blusa do corpo,olha pro relógio digital da
sala,arremessa a camisa em algum lugar .Pensa que é muito tarde
pra dormir num sábado e que amanhã J.C vai acordar pra ir ao clube
e vai se arrepender de ter saído. Ele deita-se e antes de dormir, beija
a face do amado.
Algumas horas depois ,J.C desperta,como um estanho num lugar
que já não lhe pertence mais. Ele olha o amigo –amado e beija lhe a
face. Coloca o seu jeans André Camacho;cheio de estranhezas que a
juventude permitia lhe usar e... que ele queria usar. Passa a mão no
rosto e acha uma caneta e papel pra escrever:
“ Obrigado por todos os momentos ao teu lado .Não vou te esquecer
,J.C”

A despedida.
O dia havia acordado cinza.Savanah já não sabia há quantos dias o
cinza estava em sua vida ,mas no fundo,no fundo,ela não queria saber
da realidade...
Ela olhava o mar da janela do seu apartamento e ficava ...refletia
onde seus erros haviam sido plantados,pra florescerem com tanta força
. Savanah nunca havia perdoado-se por despedir se de Cristal com
uma briga.Meu deus, se arrependimento aliviasse ,até mesmo de joelho
ela já teria ficado.
“Cinza,cinza... Tudo o que eu vejo é cinza.”,ela pensa.
Toda vez que as lágrimas inimigas forçavam a sua visão,ela cantava
alguma canção de Nina Simone,hoje “soul whose intentions are good”
não saia de sua cabeça ,pois mesmo errando,ela era uma outra boa
alma .
O telefone ecoava pelo apartamento,banhado de sol numa parede
bem longe .O sol parecia transmutar a parede pra cor de fogo,mas pra
ela... era cinza.
Em cima da mesa asiática,um copo de água com gás +gelo,as pedras
vão derretendo calmamente .O telefone tocava ,tocava ,mas algo ela
já havia apreendido até ali. Então ela pensa:“Nunca atenda um telefone
deprimida;as pessoas vão encher o saco perguntando-se podem
ajudar. E,definitivamente elas não podem ajudar por que o problema é
seu...” Um pensamento estranho vence as barreiras do inconsciente e
lhe diz que,talvez haja alguém que possa ajudar,mas ela prefere
esquecer esse pensamento e ficar no cinza .O telefone continua tocando
—Merda!Será que,nem em meu apartamento,as pessoas vão
entender que eu não estou?
Ela pensa em retira- lo da tomada,mas resolve atender–lhe. Sua
irritação só não prossegue por que a falta de vontade não a deixa
tomar reações ...
—Savanah Amarillo Cristo falando
Do outro lado da linha alguém diz:
—Como vai a princesa das terras árabes?
—Papai! Como você está?
Sim,talvez seu pai pudesse transmutar para algo colorido. Naquele
momento,o tempo deixava de dar círculos insistentemente lentos ...
—Minha princesa não responde mais?Talvez seu palácio tenha
sido tomado por ladrões do deserto noturno,se eles estiverem perto,eu
mando o soldado do sol.É necessário?
Seu pai sempre havia sido um excelente contador de histórias.O que
o fazia sempre próximo,sempre que os monstros de terno e cabelo
branco não o levavam pra longe.
—Ahm,estou melhor agora. Por aqui o sol insiste em
aparecer,mas venho trabalhando demais ...Estou apenas cansada.
—Talvez ,esteja na hora de voltar,pena que aqui na Itália o
tempo esteja começando a fechar.
Com uma voz ansiosa ,Savanah diz:
- Ahh, dio mio,no est possibilile! – com um tom bem humorado –
Quantas histórias você me contará?
—Talvez a de uma mulher que,te amou muito e que depois de
muitos dias felizes,resolveu voltar pra sua terra; onde os ventos são
mais calmos ...
—Essa é bonita.Como está mamãe?
—Mamãe se foi ...pra terra dos ventos .Você precisa voltar pro
enterro dela. Estamos esperando você apenas pro um último adeus ...
Aquilo foi baixo. Aquilo machucou e ela ficou com muita raiva ,pois
até na hora de sua morte,sua mãe havia escolhido um mau momento;
no único momento de sua vida onde ela permitia se ser frágil.
Confusa ,ela responde:
—Pai ,eu não vou .Tenho muito trabalho pra fazer por aqui ; eu
fico na lembrança.
O pai de Savanah do outro lado da linha fica mudo. O tempo passa e
ele fala:
—Você deve isso a ela ... a mim ... a todos nós.
Savanah desabafa:
—Meu deus!,por você,eu lutaria 100 noites contra todos ... mas
ela(?),sempre ocupada com:reuniões, projetos ...filhos?Não,faziam
bagunça,pediam demais...
Cada palavra vem acompanhada do pior rancor possível. O rancor que
destrói qualquer vontade de ser positivo.
Fazendo com que seu pai demonstrasse,pela primeira vez ,um lado
negativo.
- Você seria capaz?
— Sim,muito trabalho...
— Ela sempre te amou,talvez de uma forma difícil,mas eu tenho
certeza.
—Pai ,me desculpa!
—Nós sempre te amamos,mesmo distantes,estávamos
presentes.Não podíamos fazer mais do que isso,frente ás
responsabilidades da vida.
Coisa que Savanah havia começado a apreender há tão pouco
tempo que,nada vinha na vida,sem algum sacrifício.
—Eu... Vou ligar pro “Tio” Matheu’ Carvalho..”
—Sim,faça isso por mim e consulte a agenda possível. Ele não vai
incomodar-se por mais uma viagem...
—Vou estar chegando em Milão,no final da noite.
- Esperamos você ,minha pequena princesa das terras árabes ...
Mesmo desligando rápido,o pai de Savanah, ainda escuta os
soluços...

Nem tudo é Savanah!

O verão já havia acabado e naquela roda de amigos as horas


poderiam passar que eles não se incomodariam. Na mesa,todos
falavam muito,principalmente Diana que não parava de louvar a tirada
“ninguém e de ninguém ,mas o bom senso é de todo mundo”;pra Diana
a roda havia ficado muito melhor sem J.C,no fundo,no fundo ela até
gostava de J.C,mas que a mesa havia ficado muito melhor sem ele,oh!
Entre as conversas,haviam dois que não paravam de se olhar:
Domingos,no fundo do seu coração,achava que havia encontrado a
mulher de sua vida .E, Alessandra achava muito bonitinho como ele
olhava para o detentor da conversa com tanta atenção. Será que ele
seria atencioso assim todo dia? Alessandra estava disposta a conhecer
melhor...Os assuntos continuavam bem interessantes,mas ela já não
estava tão interessada assim em outra coisa que não fosse o bonitinho
do Domingos .Ela levanta ,apenas com desculpa de quem vai lavar as
mãos,mas vai correndo pro banheiro pra retocar a maquiagem. De
fronte pro espelho,ela abre a sua melhor amiga ao meio –a bolsa-
com o pó compacto,começa o processo de transformação. Pessoas
entram e saem do banheiro; deixando a porta aberta .Olhando pro
espelho,Alessandra percebe Domingos olhando pela fresta da porta e
esperando-a .Meu deus(!)se existia algo mais belo que o romance,
esqueceram de contar pra ela ...Ao sair do banheiro,definitivamente já
transformada,ela nada diz,até pra não quebrar a química .Domingos
muito mal lembra das suas aulas de teatro pra perder a timidez e
parece que o dom da improvisação se foi ,com a chegada da timidez. Ele
força um sorriso e diz:
—Opa! De novo,né?
—É...
—Eu vim lavar a mão ...
—Pois é ...
Eles se olham como jovens,daqueles que estão experimentado a
grande força do amor,pela primeira vez ...Alessandra tenta falar algo,
pra que o acaso,não o leve pra longe dalí ...
Domingos por falta do que dizer,diz:
—Ainda bem que o banheiro esvaziou ,agora eu posso ir ...
Ela ri e acha aquele comentário espirituoso,certo pra aquela
hora,mas diz:
—Eu pensei que você tivesse vindo lavar as mãos ...
Ele olha desconcertado e despeja:
—Sabe que é (?)Eu sou péssimo pra joguinhos.Você é aquela com
que eu gostaria de dividir o meu final de sábado ...E,olha que eu só
falei isso 4 vezes em toda a minha vida!E...que... Você gostaria de sair
amanhã?
Ale não fala,não por maldade,mas por que está tão encantada ...
—Você prefere ver um dvd,lá no meu Loft ou sei lá...
Com os olhos abertos,ele diz:
—Que tal jantarmos fora ?Há um tempo que eu venho comendo
sozinho e seria legal,sabe?
Com um leve sorriso,ela diz:
—Hummm,sim.
Estranha essa força do amor ...Eles se despedem da mesa sem que
ninguém entenda e vão caminhando pro carro de Domingos.Ele a deixa
na porta do prédio como todo bom cavalheiro. Ela ? Deixa o carro com
a lembrança de um leve sorriso. Ao cruzar a chave na porta,ela pensa:
“ Meu deus que, eu não esteja me metendo em mais uma
errascada.”
Ele vai acelerando o carro e pensa:
“ Meu bom deus que,dessa vez ,seja eterno ...”

***************************

Ele havia acordado disposto pra ir ao clube,seus olhos carregavam


ainda um pouco o sono da manhã,mas nada retiraria o prazer de
acordar J.C pra ir ao clube.
Seus olhos não entendem a cama vazia .Então ela fala levemente
alto:
—J.C você está na cozinha?
Seus ouvidos não recebem a resposta. E,ele tenta mais uma vez,agora
bem mais alto :
—J.C! Para com a brincadeira cara.Cadê você ?
Ele nem precisa olhar pra mesa de cabeceira onde J.C havia feito
a gentileza de deixar o bilhete esclarecedor. Ele se joga e se encolhe na
cama ... E decide que, não quer ir porra nenhuma pro clube.
Numa outra cama ,em um outro apartamento,J.C não havia pregado
o olho à noite inteiro. Se achava um porco,pensando melhor,talvez
não,por que os porcos guardam algum sentimento com a sua ninhada.
Ele vai se questionando por não saber onde as coisas haviam começado
e pra onde o seu infantilismo - ou seria egoísmo ?- o haviam levado.
Ele pega o celular e seleciona o nome do amigo,no mesmo instante,ele
liga,mas J.C acha melhor não atender. O tempo passa e só o choro
poderá silencia-los...
A vida é tão misteriosa,né (?) ou deveríamos dizer engraçada? Num
momento,uns choram,outros se encantam,outros se questionam .Como
numa grande roda;onde ninguém sabe quanto tempo se equilibrara
por cima.

***************************

Ele arruma o cabelo e sorrindo lembra-se que,há muitas semanas


não escovava o cabelo. Já no pequeno apartamento dela , era dia de
música alegre. Alessandra achava que sua Elis Regina era perfeita pra
isso. As notas vão ecoando por cada canto do espaço,até ela lembrar
que faltavam 15 minutos pra chegada de Domingos e num piscar de
olhos o celular toca como eles haviam combinado .O vestido de cetim e
rendas champanhe estava quase passado;sob o corpo claro,vai
deslizando e ganhando formas ,formas que combinam com o sorriso de
Alessandra. Ela desce de elevador e lembra que as coisas estão fluindo
tão bem que ,nem as crianças gordas do 601 podiam atrapalhar seu
caminho ... Ela bate a porta principal do seu prédio e sente o vento
acariciar-lhe. Estranhamente não há ninguém na porta,a não ser uns
carros mais a frente. Alessandra observa o que um carro tão caro como
aquele,possa estar fazendo naquela rua,talvez bom pra figuração
,quando o mesmo acende o farol,Ale começa a questionar se o seu
vestido não é um pouco sexy, pra ficar parada numa rua tão
longa ...Antes que ela pudesse estranhar a ausência do pretê,sem
celular,recebe um SMS:
“ Você não vai entrar ou prefere namorar no portão?”
Então o carrão de 4 e muitas portas acende o farol. Ela chega á
conclusão de que, se daqui há 10 semanas estiver na fossa por
desilusão amorosa,ela acha que,só esses pequenos momentos,já
haviam valido à pena.
—Tudo bem com você ? Está bonita.
—Melhor agora ...
O carro vai ganhando as ruas e depois de um tempo as partes
mais movimentas da cidade,daí as partes florestadas .... Alessandra
pensa duas coisas:
“ Estou com um pretê que ainda pensa que florestas são motéis .... ou
um psicopata.
Por não conhece- lo direito,ela pergunta:
-Você é adepto de restaurantes nas florestas?
Ele ri e dá uma simples resposta:
—Achei que uma garota como você ,já conhecia restaurantes de
moda o suficiente .No fim dessa estrada ,agente pode ver toda a
cidade,suas estrelas ...só eu e você,mas se você quiser,agente pode ir
pra um restaurante lá embaixo. Alessandra apenas olha em seus olhos
e já olhando pra frente,sorri.
Vendo toda a cidade ,os dois se calam e como num gesto de
referência,Alessandra se arrepende do vestido tão leve. Domingos ao
perceber, a convida pra ficarem no carro,afinal a vista era tão bela
quanto de fora,com a vantagem da ausência dos pernilongos .
Com os olhos serenos,Alessandra levanta um assunto, acompanhando
de um riso leve:
- Sabe,eu sempre acreditei que namorar era perda de
tempo ...por que maior parte das pessoas querem mais um orelhão
público do que uma companhia,sabe?
Domingos com seu corte estilo infantil parece,com os olhos,escutar e
aceitar tudo.
Alessandra continua:
— E,quando agente volta a sentir essa sensação de que está com a
pessoa certa. -ela solta o cabelo pra ficar mais confortável - agente
pode relaxar. Sabe, eu acho que a vida fica mais confortável...Eu nem
quero alguém que me banque, mas antes de tudo que me compreenda
...
- Sei.
Parece que agora é a vez de Domingos:
— Eu sempre busquei por isso. Me lembro que nos
relacionamentos que tive,o corpo era apenas uma parte ,mas o que eu
realmente queria era alguém pra contar o meu dia,despreocupado.
Alessandra ri e diz:
— Sabe que eu adoro escutar os dias alheios,pois são ótimos
laboratório ...
— Você trabalha com que mesmo?
— Atriz,mas de teatro.
— Hummm...Você está no teatro agora?
— Não ,na tv ,uma emissora menor,sabe ?Fazendo a mãe da
mocinha ...
Com um rosto confuso,ele questiona:
—Você não era de só de teatro?
—Bom,tem coisas que,só o aluguel justifica.
Ele olha pra frente e com a mão já no rosto esconde um farto riso,logo
ele que já nem lembrava mais do gosto de uma gargalhada.
Calmamente ela diz:
—Sempre achei que não estaria preparada pra lidar com crianças,
com suas necessidades e provocações .Sabe que um dos meus
sobrinhos - ela ri mais um pouco - sabe aquele comercial que se
contava bem rapidinho : “crê-cre-cre-cre mogema .É a coisa mais
gostosa desse mundo ...
Ele rindo de leve,apenas confirma com os olhos doces ...
—Você acredita que meu sobrinho tomou uma surra por que
tadinho,cantou:
- Co-co-co Cocaína!É a coisa mais gostosa desse mundo…
Ela não consegue parar de rir durante uns bons segundos ,mas
Domingos tenta disfarçar o espanto,ao imaginar um de seus pequenos
cantando isso...
A noite vai chegando e evoluindo. No carro,um homem e uma
mulher que já não acreditam exatamente em felicidade ,mas em
momentos como aquele. Dom olha pra sua amada que ,ainda enxuga
suas lágrimas da gargalhada. E,acha que,por aquela,valia à pena tentar
mais uma vez,talvez sem a ansiedade dos primeiros amores,mas com a
riqueza que,só a sucessões dos dias trazem...Ele a olha ternamente
,assim como ela que, acha que tudo podia congelar,exatamente naquele
momento.
Dom pergunta:
- Então,foi boa a noite?
— Ótima.
— Vamos indo? Daqui pra tua casa tem um bom chão e,até lá você
vai me contar quais são seus planos pra esse ano,assim como eu vou
te contar por que eu gosto tanto da Bethânia,ta ?
Ela ri e ,naquele momento,ela entende o por que de ter sempre dito:
É melhor ficar sozinha do que estar mal acompanhada.
As árvores vão sendo ultrapassadas pelo carro com uma trilha de
Elis que ,Alessandra já desconfiava que havia contado que era a sua
preferida. Ela resolve falar,até pra testar a paciência do seu novo
companheiro,pois se ele não escutasse seus anseios. E,prometesse
proteger lhe das frustrações provenientes ,então ele não seria o seu
novo companheiro que ela estava esperando. Ela o observa dirigindo e
pergunta-se se existe algo mais belo que,os primeiros dias de
relacionamento ... com todo aquele afeto,mesmo que eles viessem a
falhar;falhar no sentido de perceberem que não era exatamente
isso,esses continuavam sendo dias muito belos. Ela olha pra frente onde
a serra é escura e promete pra si mesma que isso não vai acontecer de
novo que, dessa vez ,ela vai se esforçar pra não falar demais:
Ale comenta:
—Sabe que eu me tornaria uma pessoa mais contente se eu
conseguisse me tornar vegetariana.
Ele sorri.
– Mesmo que eu comemore meu aniversário- resistência depois no
Mc Donald’s.
Dom continua a conversa :
- Eu queria parar de fumar,lá no trabalho as pessoas acham
insuportável quando eu mando retirar o ar condicionado por que
prejudica a minha locução.Eles dizem que o que prejudica são os 13
cigarros que eu fumo por dia.
—Quando você começou? Desde da
adolescência?
- Eu sempre fumei pra tirar onda .Meu pai era um símbolo de
força e elegância.Acho que ele fumava mais. Quando me separei da
minha ex ,tenho a impressão que comecei a fumar muito mais...
Então,é só virar vegetariana pra esse ano?
Com um leve sorriso :
—Não,também vou estudar Hindu e Mandarim,mas só pra ler as
escrituras antigas
—Hindu eu peguei,mas Mandarim come-se com sal ou açúcar?
Ela ri docemente e percebe que,quando se gosta tudo é belo.
— Não,Mandarim é o idioma mais falado na China se não me falha a
memória ao sudeste da China.
— Você tem certeza que vai sobrar tempo
pra mim?
Ale olha pro vidro do carro,depois pros seus cabelos e diz:
- Hummm,sempre.

J.C & Savanah.

Para ela já não era uma questão de tempo. Parecia que a perda: da
mãe,do amado e do emprego havia sido um pouco demais pra
ela,estranhamente ela não sofria com isso,apenas sentia cada vez mais,
vontade de encolher-se, ficar parada esperando o tempo lhe socorrer.
Sua nova brincadeira nefasta era escolher uma lembrança bem
dolorosa e desenvolver-la, desenvolver-la ,até perceber que não tinha
solução que,não queria achar solução pra mais nada nessa vida...Seus
cabelos andavam presos, assim como suas idéias que,eram sempre as
mesmas e parece que,por um tempo ,assim ficariam;Savanah a menina-
gênio ficaria um tempo por trás das cortinas.
Para ele,nem as semanas pareciam ser novidades. Nigro-amigo
vinha e voltava em sua lembrança e era uma sensação estranha ,pois
ele não estava sofrendo,mas achava que ao lado de Nigro estaria
melhor;nessa vida ordinária ,nessa busca apenas por reconhecimento ...
Era mais uma dessas festas,dessas de lançamento de qualquer
merda,talvez,há umas três temporadas isso teria sido O programa da
semana ,mas agora alguma coisa estranha dentro dele o fazia pensar
duas vezes ,mesmo assim, ele havia ido .Sua calça cinza com blusa
branca parecia combinar com o loirinho de calça branco que parecia
estar em seu mundo. J.C distante vai se aproximando do cara. O rapaz
dá a entender que está curtindo.J.C vai guiando-se por instinto;num
jogo de olhares o menino vai fazendo todos os truques ...J.C parece
tentar esquecer alguma coisa ...A música característica de festa torna
difícil uma conversa ,entre tanta gente vitoriosa ...Ele apenas coloca
suas grossas mãos sob a cintura do cara que ,acha necessário
recusar o predador por alguns segundos pra não parecer tão fácil .Ele
sorri perto dos lábios dele e diz :
—Você me quer?
– Talvez ...
J.C está cansado de joguinhos ,principalmente de joguinhos
ridículos de hedonismo .O loirinho não parece tão interessada em sair
com alguém que não demonstre algo mais ...,mas assim mesmo
continua, pra saber até onde o predador vai ...Aquela atmosfera vai
ficando cada vez mais desagradável até J.C tomar uma decisão:
—Você me espera até eu pegar outro
drink,como esse,no bar?
—Arrahhmm...
—O que você quer beber?
— O mesmo.
—Espera um pouco.
A caminho do bar ,J.C toma uma direção diferente naquela noite
acinzentada onde ele busca desesperadamente o caminho da saída ,da
liberdade daquele mundinho de prazer imediato .Suas mãos ágeis
buscam o seu celular que aciona
a memória n° 1:Savanah ,com resto de tempo ele levanta mão e
aciona o táxi.
O Motorista pergunta:
—Boa noite,senhor,pra onde vamos?
—Pra frente. Pra bem longe daqui. E,depois eu decido ...
O taxista,ao longo de sua vida,já havia transportado muitos
excêntricos e não seria o último agora.

Continua no ato 3 continuação:

Continuação do ato 3:

Na casa de Savanah o telefone toca. Deitada na cama,ela pensa


calmamente se vai ou não levantar-se ...Decidi que sim,pois pode ser
alguém pra lhe contar mais uma desgraça,talvez um cometa,
inevitavelmente direcionado na rota do seu quarto.
—Alô,Savanah,após o sinal deixe seu nome e recado,bííííííí ...
—Savanah é o J.C,eu conheço o truque de imitar a secretária.
Vamos sair!? Eu preciso muito falar com você.
Do outro lado,ela fica refletido e mesmo nesse momento de
fragilidade,reconhece a necessidade do amigo.
—Olha ,não tenho a menor vontade de sair,andam acontecendo
umas coisas ...,mas se você quiser vir pra cá .Eu posso te esperar.
— Ok. Beijos.
J.C orienta o motorista pra chegar até a casa de Savanah,afinal se
havia uma pessoa nesse mundo que ele poderia contar pra orientar-lhe,
essa seria Savanah,a única que lhe daria ombro nesse momento.
O elevador parecia ser o mesmo com sua luz amarelada. J.C vai
ganhando o corredor que dava pra casa da amiga e toca na porta. Ao
abrir-la,estranhamente ,J.C acha que não é a mesma pessoa,mas a
abraça e diz:
—Droga!Eu não consigo esquece- lo... ,não consigo...
Ela o abraça e ,em vez de lhe dar vastas lições de moral,apenas o
convida a retirar o sapatos e;com ela,deitar-se na cama.
J.C fala de suas maiores dúvidas,enquanto abraçado de costas a
Savanah. Ela finge escutar,mas com a cabeça no mundo da lua.Ela vai
girando seus olhos,girando até o seu melhor amigo vir: o sono. Esta
noite,ela está abraçada de carne e osso com J.C ,mas não de alma .

Na manhã seguinte ...


O dia vinha se levantando e ,como sempre,gostava de invadir as
casas com toda sua força,inclusive onde Savanah e J.C dormia;como
pequenas crianças que fogem dos seus atos...A primeira a notar o
intruso foi Savanah que,já decidira,antes de pensar,não ia levantar -se
pra expulsar o intruso-sol. Ela apenas diz:
—Vai J.C ,vai fechar a janela.
—Não,estou sonhando.
—Pelo amor que você tem a sua amiga.
—Não,deixa eu sonhar...
—J.C você está na minha casa!O Nigro vai continuar no seu
sonho.
—Pronto!Você acabou com o meu sonho.
Ele levanta e percebe que dormira de calça e blusa .Ele olha pra aquela
sua amiga que,outrora fora tão forte e tenta ajuda-la. Então,como uma
idéia brilhante,corre em direção da janela e deixa o intruso tomar
conta de tudo.Savanah demonstra não estar interessada em ser
dominada pelo intruso;seu travesseiro transformasse em uma grande
escudo contra o sol .J.C com olhos de
criança-traquina vai puxando tudo de
Savanah e diz:
- Vamos tomar café na rua! Eu pago.E,se você não levantar,a
água do banho virá até você!
Ela abre os olhos, centrando-os em J.C,como na época em que
costumava conseguir tudo na base do terror psicológico,mas
dessa vez ,ela ri.
Sav e seu ante-braço apoiava a cabeça,agora com cabelos presos,
sob à mesa do café,seu rosto parecia mais humano agora. As pessoas
passavam,mas eles não pareciam ter pressa:pra falar,pra se abrir e
admitir que é impossível ser grande todo dia...Ela olha pra baixo,pois
hoje não é dia de retornar a olhares sexy...J.C observa a amiga que
parecia um gatinho entretida em seu novelo de lã .Ele sorri ,como uma
pai que vê o interesse do filho por algo. Savanah resolve sair do transe
pra dizer:
—Sabe,depois desses últimos dias e semanas,eu venho pensando
em voltar pra Milão,ao menos, eu fico mais próxima de meu pai e ...
- E,vai nos deixar aqui? Nós que,te amamos tanto?
— É isso que me faz pensar mais ...
— Sei ... por aqui,nós últimos anos,você criou um nome. Um
conceito de fazer fotografia de moda.
— De que me adianta?,se agora eu fui demitida.Nessa hora,
todos riem da minha queda?
— Você tem outras coisas ... por que não tenta aprofundar seu
relacionamento com o Guto?
—Terminei também.
—Desde quando? Eu nem sabia disso. Você parecia gostar dele de
alguma forma...
Savanah com um rosto um pouco assustado,diz:
—Não,eu gostava bastante.
J.C olha-a um pouco incrédulo,pois sabia que,de alguma forma,ela
jamais deixaria alguém controlar sua vida. Lá fora,o cinza
transformava se em uma leve chuva,como deliciosas chuvas de junho.
J.C olha pro lado e diz:
—Eu gostava tanto dele,mas não sei por que tudo parecia me
sufocar. Como se pra ser feliz,eu tivesse que enterrar outras alegrias ...
Savanah complementa acidamente:
— Você não está confundido alegria com prazer delivery ?
—Sendo muito sincero?Eu não sei. Eu gosto muito dele,mas talvez
prefira viver sozinho...
Savanah ajeita –se melhor na cadeira e diz:
—Sabe,J.C, eu também gostava muito do Guto.
—Muito como?
—Oras,muito ,tipo muito.
Agora é sua vez de acidamente fazer a amiga ver a verdade por trás das
coisas:
—Então por que você nunca o trouxe pra andar com agente?
Levemente assustada,ela diz:
—Por que vocês eram meus amigos!
—Ele não?
Agora é a hora dela virar o rosto,nem pra chorar ou... ,mas pra
refletir:de onde vinha aquela necessidade de ser protegido,ser guiado...
Ela se pega rindo internamente e pergunta-se por que nós havíamos
nascido,com essa tal de emoção(?) Por que a estúpida “ Rachel:de
Blade Runner” era tão tonta em querer sentir ... Isso que,às vezes,
atrapalha tanto nossa vida.
Ela volta seus pensamentos e diz:
-Talvez,tolamente eu quisesse ser: profissional,mulher
amada,irmã-caridade,boa mãe e perfeita se possível ...
Eles riem de bobeiras como aquela.Sabem que o tempo está
passando,mas que,ao invés de estarem envelhecendo,na verdade estão
se tornando mais serenos... Naquele dia cinza,levemente chuvoso,o
Lounge acariciava seus ouvidos. E,eles se sentiam melhores por
poderem conversar...

Diana e Savanah.

Se dependesse dela a cama protegeria seu corpo mais um


pouco,afinal parte do trabalho que ela aceitara – muito à contra gosto –
não era tão cedo assim;hoje, pelo que ela lembrava,ia coordenar uma
sessão fotográfica de um coletivo de artistas plásticos. Então,ainda na
cama,ela pensa que : uma máquina com flash e meia dúzia de idéias
....tava bom. Ela olha pro teto e só naquela hora percebe que o outono
há muito havia se manifestado e que, provavelmente as pessoas já
haviam voltado com aqueles olhares de desconfiança,como se a
condição humana fosse aquilo:acordar,viver,se defender do perigo
oculto e,no final do dia,despencar na cama,pra viver o outro dia. Ela
naquele momento,estava pouco se lixando pro outros,no lugar das
dúvidas de como ajudar a humanidade,ela apenas queria ficar calada,
não mais parada,mas ainda sim calada. Nesse hora,um pensamento
floresce na sua cabeça de que a vida é cíclica e que ninguém podia ficar
parado e imutável,assim como ela havia subido – até rápido demais –
cair não era sinônimo de fracasso,mas de ... reflexão .Sim,a reflexão de
si mesma;observando o que realmente era importante pra ela:
dinheiro? Amigos?,daí um pensamento chega mais rápido que o
raciocínio: Deus? Sim,por que tudo era divertido,quando sua grande
preocupação se resumia a:se queria morar perto da praia ou se o cabelo
deveria entrar na tendência. Num sorriso amargo,ela acende um cigarro
e tomba os dois pés pra fora da cama,desde da perda da porra do
emprego,ela havia colocado na cabeça que o cigarro fazia bem pra sua
reflexão ...Quando o celular toca,Savanah retira o cigarro da boca,
somente pra dizer:
—Pode entrar,a porta dormiu aberta,Diana.
A reação que Diana tem, ao entrar no apartamento não é das
melhores. Então,ela lembra que não era a hora de cobranças,mas de
sorrisos. Ela passa a mão nos cabelos soltos de Savanah e diz:
- Espero não ter chegado cedo demais pro almoço.
Savanah ri de leve e afirma que há um resto de macarrão
instantâneo na panela que, J.C havia feito há uns 4 dias atrás ...Diana
acha melhor,em respeito a vida ,não comer algo naquela condição.
Savanah anda objetiva com os amigos e com a vida ;ela vem
sentindo que é hora de terminar com velhos e longos questionamentos,
mesmo sem saber por onde começar...
- O que você quer Diana?
— Que tal... te ajudar ?
Com os olhos perdidos no espaço ,Sav traga o resto do cigarro e diz:
— Como?
— Vamos sair?
— A polícia não gosta de marginais.
— O que Sav?
— Com essa minha cara ...vão achar que eu sou algum tipo de
marginal.
Ela ri,mesmo que brevemente e diz:
—Eu não falei ir pro shopping.
Diana pega um elástico de cabelo,amarra carinhosamente os
cabelos da amiga e com um pouco de esforço convence-lhe a colocar
um vestido preto.
—Vem ....,vamos pra um lugar onde ninguém vá nos ver ...

Ela acompanha a amiga pelas escadas do prédio e depois de alguns


minutos,saem no heliporto. O vento não parece incomodar nenhuma
delas,até por que é um vento ainda morno das promessas de verão.
Elas caminham até o último espaço onde os prédios quase se colam e
sentam em um canto qualquer,no meio de todo aquele espaço ...
Diana pergunta:
- Como você está se sentindo?
Ela demora pra responder,em parte pra bloquear um princípio de
choro...:
—Como se o mundo tivesse caído em minhas costas e ... isso não
fosse justo!
Diana apenas escuta. Ela prossegue:
- E... eu ando sentindo necessidade de dormir,pelo menos até que
isso tudo passe e...
Diana apenas diz que vai passar .
-- Eu nem acho que deveria ficar eternamente gastando e dando
ordens,mas eu não sei viver dessa maneira!,como se pisasse em
nuvens...Eu preciso de algo em que possa segurar e me sentir
confortável. E,meu trabalho era isso!
-com os olhos desesperados – eu só quero que o tempo passe.
Diana a olha com ternura e ajeita a gola do casaco preto da amiga :
—Meu amor,pegue o tempo que você precisar,mas nós estamos
ao teu lado,o trabalho podia ser importante. Pra mim, você é tão
importante,ao ponto de eu ter pedido pra chegar atrasada na produção
de hoje ,somente pra ficar do teu lado e te mostrar como o amor se
manifesta no silêncio...
Naquele dia de outono,elas ficam paradas,sem pressa de falar ou
pedir .Elas são amigas e apesar de Savanah saber que,somente ela
poderá sair daquela fase ...existem pessoas que vão lhe ajudar ... talvez
apenas sorrindo.

Ale & Dom e ....outros .

Sabe qual era a melhor do Loft de Alessandra depois do verão ?É


que ele ficava habitável e nisso,até seu gato persa concordava,pois
freqüentava todos os cômodos da casa que, não só,a janela e a frente
da geladeira. Ela andava pisando nas nuvens,
não por achar que agora aquele amor seria pra sempre,mas por achar
que a vida era bem melhor quando agente deixava de se preocupar
com bigornas despencando do céu. Ela toma a bolsa e bate a porta do
loft /kitinete .No ônibus, algumas pessoas a olham estranhamente,mas
ela não entende bem o por que. Perto do seu cabeleireiro querido,ela
espreguiça e vai procurando pelo único em que ela confia seus cabelos .
—Olá moço sensível. Tudo bom?
—Olá ,moça apaixonada. Tudo.
Ela olha com surpresa,retira o chapéu e diz:
—Onde está a mulher apaixonada?
Ele faz uma cara de falso tédio e complementa:
—Vamos corta-lo no mesmo arroz e feijão das últimas
temporadas ?
Ela olha pro espelho e tímida,diz:
—Será que não dá pra fazer algo mais ...
feminino?
Ele ri e com um leve deboche,diz:
—Tipo:mulher apaixonada? Vamos traze- lo um pouco mais pra
frente,pra realçar seus olhos lindos de mulher apaixonada.
Ela já havia desistido de tentar convence -lo ...talvez ela aceitasse isso
um dia da semana.
No caminho de volta,ela decide pegar um táxi pra evitar mais
olhares estranhos como aqueles do ônibus. Ela entre em um:
Taxista:
—Bom dia senhora,pra onde vamos?
—Ahmmm,não sei ainda,vai indo pra frente e depois eu decido.
O taxista nem olha pra trás ,pois levar dois loucos como aqueles,na
mesma semana...era um pouco demais.
O dia já estava bom,quando ele ligou para o seu celular,
convidando a para passar um final de tarde ao seu lado,nossa (!) havia
ficado muito melhor...
Ela apenas achava que estava um pouco cedo pra ser apresentada pros
filhos dele. Assim mesmo,ela decidira colocar seu vestido vermelho e
aquelas sandálias gregas que, de tanto elogiar havia ganhando de
presente. Algumas gotas de perfume á mais e sim,ela estava linda
como nunca e de bom humor.
Perto do prédio dele,ela vem andando distraída e sem querer
esbarra em uma outra mulher, Alessandra sorri,mas recebe uma cara
fechada de volta. Poxa,ela não responsável pelos problemas do
mundo,daí ela apressa o passo de encontro o prédio de Domingos.
Na portaria sem muito dificuldade descobre que seu amado mora no
813. O elevador demora a chegar e quando sua porta consegue ser
finalmente aberta,para sua surpresa a mulher grossa da rua parece
esperar autorização,pra subir pra algum lugar. Alessandra não pensa
duas vezes: “Pra que tanta gentileza ?”
Ela vai subindo pro oitavo e resolve lhe avisar pelo seu cel que já está
no elevador,mas o telefone está fora de área.Ela toca na campainha e
uma criança vem lhe abrir a porta,espontânea como toda criança,diz:
—Paíííê! A moça amor chegou!
Ela começa a escutar a voz bonita que tanto gosta e nesse mesmo
instante a porta do elevador se abre; ocupando o pequeno hall, a Moça-
Grossa sai do elevador e surpreende-se com a outra,no mesmo andar
que o seu e de frente ao seu filho. Num gesto instintivo,ela corre em
direção ao pequeno e diz:
—Te fizeram alguma coisa?
A criança não entende nada. Alessandra com seu rosto chocado,fingi
que não ouviu nada. Domingos abre a porta com um largo sorriso que
acaba sendo adulterado com a presença de sua ex-mulher,mas mesmo
assim ele beija Alessandra calmamente diz:
—Tudo bom com você?
Aquela situação é delicada,mas ela precisa responder e se posicionar
como a dona da área:
—Sim,amor.
Não percamos o tempo,aqui,de descrever a raiva da ex ...
Domingos não falava,talvez para evitar mais problemas. Alessandra
adoraria se ele a convidasse pra entrar e resolvesse seus problemas
direto com a fonte,mas com o passar dos segundos,ela percebe que,é
sua presença que torna as coisas mais fáceis.
A ex-mulher diz:
—Eu posso entrar pra falar com meus filhos?
Domingos:
—Eu acho melhor não. Espere. Crianças!,venham cá!
Enquanto elas não chegam ,a ex vai contando que: o menor tem
prova de matemática no dia seguinte e que o maior tem que comprar
calças novas. Ela ,até tenta começar o discurso de que, se não fosse ela
...as crianças andariam como cheiradores de cola,mas não encontra
espaço. As crianças abraçam a mãe e parecem confortável, agora que
os pais estão juntos com essa amiga. A ex olha Alessandra com
desprezo e de uma forma protetora toca a face de seus filhos,diz:
- Se alguém oferecer cocaína pra vocês,não aceitem. Mamãe ama
por demais vocês. ok? Mamãe vai ficar bem!
O menor,apenas beija a mãe,já o maior sem graça abraça a mãe e diz:
—Estamos bem mãe...

*****************
Ela entra na casa do seu amado e sente-se um pouco
desconfortável,pois como lidar com aquilo que ,sempre havia evitado:
crianças e suas expectativas? Ao contrário do que ela pensava,os
meninos foram muito educados naquela tarde e o menor,até havia
pedido pra tia amarrar os seus sapatos e ,pela primeira vez,ela não se
incomodou em ser chamada de tia. Primeiro eles foram ao parque e
sentados em uma mesa ,enquanto as crianças brincavam, falaram
sobre :Bethânia,suas vidas ,como eles não queriam nada á mais e nada
de mais ... Com a chegada da noite,cinema e para a surpresa de
Alessandra foram assistir “Os Incríveis”coisa que ela jamais haveria
assistido sozinha. Todo cinema rima com o que? Pizza!,e as crianças na
sua simplicidade infantil riram muito quando,Domingos imitou um dos
personagens... Intimamente,ela ainda recusava toda aquela felicidade,
recusava que as coisas pudessem ser tão fáceis.
Eles cominam em paz,quando uma menina surgiu na mesa pra
pedir autógrafo pra Alessandra. Seu rosto era de quem reconhece
alguém famoso. O rosto das crianças de Domingos era de encanta-
mento;Domingos não entende muito bem,pois na sua cabeça sua
namorada era uma atriz,mas de teatro.
A menina continua em frente e com os olhos brilhantes diz:
—Você não é a mãe da Carlinha na novela das 18:00 hs?
Simpática,ela responde:
—É ...sou...
Sorrindo,Alessandra rabisca alguma coisa e põe uns beijinhos...
A menina depois de pegar o autógrafo permanece na frente do
grupo,talvez pelo encanto(?)até perguntar pra Domingos:
—Você também é famoso?
No que recebe uma resposta bem humorada:
—Graças á Deus,não!
—Ah!Então não vale.
A menina se distância e Domingos pergunta:
—Você não era atriz só de teatro,amor?
Com o rosto delicado,ela diz:
—Uma produtora para televisão já havia me visto em umas 4 boas
peças,mas eu recusava ir pra televisão. Agora ,nem ônibus eu posso
pegar por que me reconhecem. Isso é chato.
As crianças apenas olham,ainda encantadas ...
A noite poderia continuar assim eternamente,mas o menor tinha
prova de matemática e eles não queria ser acusados de dar cocaína
pro menino conseguir virar a noite pra prova.
No carro,Alessandra vai contando histórias de lugares distantes
que havia visitado há muito tempo; quando 900 dólares eram o
suficiente pra se fazer um viagem...
Ao chegarem a o prédio,Alessandra fica na dúvida se já um membro
da família pra subir ou se será deixada em casa,de novo. Dúvida que é
resolvida quando Domingos toca em seu ombro e pede pra que ela abra
a porta pra ele,pois o menor dormiu no banco de trás.Ela ri e obedece.
Na porta de casa,ela cada vez mais,se encanta com aquele homem,
guerreando contra a porta pra abrir lhe,enquanto o menor dorme em
seu corpo.
No seu quarto de iluminação ocre,Alessandra busca uma blusa
social azul clara do namorado no armário. Ele sentado na borda da
cama,parece perdido num mundo de lembranças. Ela aproveita a
distração e deixa o vestido cair para vestir o blusão do namorado.
Domingo fala em voz alta,sabendo que sua namorada o escutaria:
—Promete que faremos de tu-do pra não gritarmos um com o
outro?
Ela olha –o com estranhamento e diz:
—Claro.
—Claro,não!,promete pra mim,vai ...
-- Desculpa,eu nunca vou gritar com você...
—Isso me faz sentir melhor,por que da última vez,eu acreditei que
a minha paciência fosse o suficiente, mas agora eu sei que é muito
mais importante conversar do que esperar que as coisas aconteçam
,sabe?
No canto extremo do quarto,Alessandra vem caminhando em sua
direção e com seus cabelos castanhos escuros repousa a
mão,calmamente ajoelha-se de frente ao amado e beija-lhe:as mãos
,os ombros – ele vai rindo de novo –a face,calmamente seus pequenos
lábios,a vontade de beijar vai aumentando,as mãos de Domingos vão
ganhando o corpo da amada,calorosamente levantando aquela blusa
azul-clara. As coisas pareciam fluir pra onde eles queriam ... se o
telefone não tivesse tocado e com seu barulho violento quebrasse ca-
da espaço harmônico:
- Alô?
— Eles estão bem?
Não,por que não ligo por mim,mas meus filhos com essa aí,precisam de
cuidados redobrados,já que o pai parece não se preocupar com eles ...”
—Eles estão bem,não são nem 00:00 e eles já dormem ...
—A vagabunda vai dormir com eles?
Com uma voz cansada,ele ainda diz:
—Ela não é vagabunda. É a minha namorada.
Vagabunda,Vagabunda,Vagabunda .Essa era a palavra que ela não
devia ter me chamado -,pensa Alessandra. Vagabunda era demais pra
uma mulher que havia saído de casa aos 16 anos ,só pra não escutar
desaforos de pais tiranos e insensíveis com um mente artística. Ela vai
percebendo que cada segundo que passa ,seu amado vai ficando cada
vez mais triste á escutar aquelas palavras ...numa reação de instinto
ela toma o telefone das mãos dele que, já sem vontade tomba na cama
chateado.
Alessandra vai ganhando os corredores da casa e se aproximando
da janela e tomando o maior cuidado para se afastar de todos...A voz
do outro lado parece não se cansar de reclamar,mesmo sem saber com
quem estava no outro lado. Então, a ex faz o último comentário naquela
noite de segunda feira.
—Já te falei!,e falo de novo,se vagabundas começarem a freqüentar
o apartamento dos meus filhos,nem em visita consentida judicialmente,
eu vou deixar!
Alessandra tenta lembrar de algum Mantra para acalmar se e ser
educada com alguém tão bagaceira,mas ... não dá !.E,ela diz:
—Escuta aqui o sua vadia !Vagabunda é você que,depois de tudo,
voltou pra casa do papai e da mamãe. Fique sabendo que comigo a sua
tirania não funciona e experimenta ... afastar os meninos dele!Se eu
fosse você,eu olhava pra trás ao andar na rua, por que eu sou amiga de
uns travestis,sendo que conheço uns que são violentos por diversão.
Escutou?
Do outro lado,a outra voz parecia ter compreendido tudo e por isso
,não ousara responder. Ela volta pro quarto e quando perguntada sobre
o que haviam falado,apenas responde:
—Ahmm,duas mulheres sempre se compreendem melhor ...
Naquela noite os amantes dormiram apenas abraçados ...

*********************

O mais interessante de ser artista ou trabalhar com arte era a falta


da necessidade de ter que acordar cedo ,de ter de dormir cedo pra
bater carimbo ás 8:00 h no dia seguinte. Alessandra dormia tranqüila,
pois suas gravações seriam só ás 15:00 h. Já Domingos,naquele
horário,estava adoçando o leite do menor,afinal sem mãe,até vai,mas
alguém precisava leva-los para escola;nessas horas Domingos
agradecia ter dinheiro suficiente,para apenas ter que deixa-los na porta
do prédio e deixar o transporte escolar fazer o resto. Nos últimos dias
ele vinha se sentindo cansado e a chegada de Alessandra o animara um
pouco,mesmo que no íntimo,senti-se apenas duas colheres à
menos num copo quase estava a transbordar ... Depois de cumprir com
suas obrigações de super-pai, ele olha para sua amada que,dorme com
uma fada num comercial de perfume e percebe que,são coisas como
essa que tornam a vida um pouco mais fácil...Ele desce as calças
pensando que,até ela acordar, ele teria mais umas três boas horas de
sono. No seu sonho preto e branco várias pessoas dentro de um
corredor sem teto iluminado passam por ele,mas ninguém quer ou pode
responder como ele sai dali . Ele acordou naquela sexta com o corpo um
pouco mais cansado. Sincronizadamente eles despertam e na busca
pelos outros olhos,riem. Ele precisava contar para ele tudo aquilo:
— Você sabe por que eu terminei com ela?
- Não,mas quero saber ...
—Uma vez,quando ela estava cozinhado,eu entrei em casa e
coloquei um pouco mais de sal na sopa. Eu sorria ,pois sempre achei
que esse papo de homem que é homem não entra na cozinha - ela sorri
com seu rosto amarrotado – era pura bobagem. Me lembro dela
derramando toda sopa pelo ralo abaixo – Ale contorce seu rosto –pra
que eu apreendesse a não me intrometer,onde não era chamado.
Alessandra poderia dizer que não faria nada daquilo,mas preferiu virar-
se de costas e deixa-lo abraçar,afinal agora,eles eram tudo e bons
amigos...
O dia corria tranqüilo, a noite queria chegar,Domingos gostava de
chegar na rádio umas duas horas mais cedo pra ler e-mails de pessoas
que gostavam muito de seu programa ,sextas ás 22:00h. Num outro
lugar,Savanah lembra que hoje era dia do programa do amigo.
Domingos passa a mão sob os cabelos castanhos e lembra que a essa
hora, Alessandra deveria estar gravando sua novela-feliz, cercada de
homens lindos,porém pra sua alegria ...tu-do VIADO! Ele ri e olha à
volta em busca da chave do carro. O telefone toca. Domingos aposta
que houve um intervalo nas gravações e que ela havia lembrando dele
,mas não era bem o que ele imaginava:
— Alô.
— Sou eu. A vagabunda dormiu aí,por que eles me contaram,você
não me deixa outra oportunidade,se não te impor limites...Esqueça ,pois
você sabe que não os verá mais. A não ser que,você queira uma
segunda chance. A vagabunda sai,eu volto e nós podemos dar uma
educação melhor pra eles ...
A cabeça de Domingos roda mais um pouco e ele apenas diz:
-Pra isso,eu teria que te amar,de alguma forma. E,não esqueça
,pela sua covardia , eu fiquei exposto ao perigo. E disso eu não vou
esquecer,tenha certeza ...
Do outro lado,ela diz:
— Ok,a vida nos dá chances,pena que você não tenha maturidade
pra vê-las ...
Mais tarde,Domingos recebe uma ligação do seu ex-sogro que
começa a fazer o jogo do: “ Por que vocês brigam tanto...”,mas pra
frente,não perde tempo para lhe dizer que como Desembargador,dois
estalos seus eram o suficiente para que seus netos ficassem seguros ao
lado da mãe. Domingos como em poucas vezes em toda sua vida,diz:
—É?Vai se fuder ,seu velho!
No trabalho uma seqüência interminável de músicas que
recusavam-se a terminar. Essa noite todos pediam: Toni Braxton ,Elis
Regina e Lenine,mas mesmo assim,nada retirava aquela sensação de
“copo cheio”...
Recostada no sofá,Savanah divertia-se ao escutar a voz de seu
amiguinho equilibrado.Alessandra no seu “loft”,aproveitava a seqüência
de músicas para decorar seu texto,horrores de difícil;na verdade ela não
sabia se deveria entrar na casa dos Matino e dizer bom dia ou se
deveria dar bom dia pra porta e depois olhar pro clã Matino,sem saber o
que dizer.É,realmente era muito desafiante esses textos televisivos
Domingos na rádio espera que cada música passe ,mas cada uma
parece um cd inteiro ...As gotas de suor descem e naquela pequena
sala verde escura ,no intervalo de uma música ,ele pega o microfone e
diz:
—Vocês escutaram Lauryn Hill com “Tell Him”.
Então,o sangue fica quente e ele diz:
– Olha, eu poderia ser até despedido por essas coisa meus
filhos,mas se eu não contasse o amor que eu sinto por vocês,talvez
vocês crescessem e achassem que não são importante pra mim,o que
definitivamente não é verdade. Você e seu irmão são uma das minhas
razões de viver e não importa o que mamãe fale de mim,tenham
certeza que,meu coração,minha casa ,pertencem à vocês. Eu me afastei
da mamãe pra não me tornar um pai amargo e autoritário,mas saibam
que toda vez que vocês quiserem ,eu vou estar no campeonato de
futebol de vocês. Torcendo por vocês ... meus campeões. Durmam com
Deus .Boa noite senhora e senhores,até a próxima sexta.
Naquela noite,os técnicos do programa não entenderam nada,mas
só retiraram o sinal quando ele terminou de falar.Naquele velho estúdio
escuro o telefone toca e uma voz diz:
—Pai ?
Domingos olha á sua volta,porém nada diz.
—Paííí?
Nesses momentos,ele relembra os primeiros dias e semanas da
gravidez ,até quando o maiorzinho fora expulso da escola por gritar
com a professora que ela era uma sapatão,filho da puta... Tudo isso ... e
ali ele percebe que havia coisas que realmente valiam á pena arriscar.
Então,sentando na poltrona grande,ele diz:
—Tô aqui,meu campeão ...
—Tá ,boa noite ... agente te ama.
Essas pequenas palavras podiam mudar um mundo,quando ditas
assim ...

Então ,ela se deu um tempo ....


As noites pareciam ser como o dia por que ninguém notava sua
presença,ninguém parecia querer nada dela e nas ultimas semanas pós
tombo,era exatamente o que ela queria que,ninguém soubesse que ela
existia;no seu íntimo,com a chegada da noite, ela não precisava ser:
forte, precisa ou responsável...
Num canto da sala ,Patu Fú toca “Ninguém”.Então ela vai atravessando
a sala e tomba na cama,em busca do seu grande amigo...o sono. Ela
começa então a questionar-se: O que eu posso fazer? Qual o caminho
que me levará a vitória agora?,e isso vai gerando uma angustia que, só
o sono vai retirar. Será que todos nós precisamos ser famosos e
ricos? Só existe esse caminho pra felicidade? Quem está preparado pro
poder? Essas são as últimas questões antes que seu grande amigo a
tome nos braços e a leve para um mundo,
onde os frágeis,também se expressam...
Escuro. Acho que os primeiros segundos pós sono são sempre
escuros,porém tenho certeza de que o sono está vindo quando
elefantes me aconselham a comprar Papéis argentinos ou quando
abelhas me dão aulas de pintura com tinta Néon,só assim ... num
mundo onde a maldita razão não pulsa (!) eu sei que posso descansar
de mais uma batalha.O dia ...
No sono de Savanah ela está vestida com um belo vestido branco
de rendas,mas seus pés parecem querer a levar para um lugar onde
nada possa afeta-la ...um canto qualquer do mundo. A praia está vazia
e ela pode caminhar tranqüila em direção ao vasto verde mar
escuro,seus pés só querem frio da água do mar e o silêncio da praia.
Ela senta na beira, mesmo que a água molhe suas roupas e... chora; no
começo como um adulto que assume pra si que,a vida não é tão fácil,e
em alguns segundos,como uma criança com todo o medo da distância
de casa. E,assim seu choro fica cada vez maior,mas parece que não
eterno. Sentada na beira do mar,seus olhos vão notando a chegada do
dia com seu sol morno,mas complacente. Seu choro vai acalmando e
uma força estranha vai tomando conta do seu corpo,algo como quando
uma pequena criança confia em sua mãe .O sol,agora dia,retira o medo
do escuro de Savana .Naquele dia,ela dormiu muitas horas,mas acordou
sorrindo ...
Depois de acordar,ela sentiu necessidade de um longo banho. A
água cristalina vai caindo e ela passa a mão nos cabelos. Olhando pra
um canto qualquer,ela percebe que,estes são longos que contam uma
parte de sua vida que passava por:Oslo ,Paris,Nova Iorque,Milão e
tantas outras casas ,certo de que nenhuma delas haviam sido a sua
casa . Savanah percebe que já não teme mais o tempo,seus olhos
buscam por algo como se um passo ou um ato pudesse fazer diferença
em sua vida...Ela retira a lágrima insistente dos olhos e pensa que já
não era mais tempo pra lágrimas que,esse tempo já havia sido
ultrapassado.
Semanas e semanas vão passando e Savanah vai relembrando a
beleza do sono do amado; coisa que ela jamais havia confessado,mas
que,naquele momento,ela sentia se segura,longe do ciúmes,talvez ali
ela fosse feliz. Ela observa que,não só ela ,mas todos,de alguma forma
buscamos sermos amados,protegidos...
Sav ri e entende só agora a razão de tantos gatos e cachorros fies ,e o
melhor... incomunicáveis .Sua busca parece não terminar por ali .Ela vai
rindo e questionando se daquele tombo,ela não dera pra ficar louca
também,mas logo percebe que aquilo tudo era só um joguinho dela com
sua consciência emocional .Seus passos parecem flutuar sob o espaço
da sala e vai dando uma vontade de dançar,mesmo sem música . Ela
sabe,tudo agora fora apenas reflexo de escolhas. A razão por ela não
estar frustrada era por que acreditava ,por demais que,cada decisão era
a melhor,ao menos,para a época onde até o tempo a assustava .
Ela apanha a tesoura de jornal na sala e vai para a coleção de
cd’s,escolhe uma de suas músicas favoritas que,fala de: liberdade ,fé e
decisões. Lá está ela ,agora no quarto, de frente pro espelho que nunca
fora instalado no banheiro por pura preguiça,a música ficar cada vez
mais intensa. Como num efeito hipnotizante ela ri e sente a tesoura
mergulhar sob seus longos cabelos que,agora pareciam inúteis .
Ela já havia passado por muita coisa.Cabelos curtos trariam um nova
mulher ,uma mulher sem medo de suas escolhas...

Eles nem sabiam se eram feli-


zes,mas...
Depois de algumas semanas,ela já sentia-se melhor,um pouco
desinteressadas de festas,mas percebendo a vida com olhos melhores.
Diana não a deixava uma semana sozinha e,mesmo que ela não
admitisse,isso estava tornando-a melhor...Na sua secretária,os mesmo
recados de sempre:
“ Sou eu,Diana. Vem pra cá,pra casa. Tem a sua pizza preferida e eu
peguei o último filme da Julia Roberts . Olha,você não precisa contar pra
ninguém que viu,tá?”

“ Savanah? Beto,da Moda Express fiquei sabendo que você não está
mais naquela editora. Liga pra mim, tá?”
“ Saaaavanaaaah! Sou eu,o J.C vamos caminhar?A chuva passou. Seu
cabelo está salvo!,ahaha ah ah ah”
Eles não conheciam,ainda a nova Savanah.
Ela ri e decidi que o dia parecia mais pra: Julia Roberts e pizza.
No apartamento da amiga,agora tinha uma escultura tipo Carmem
Miranda... Savanah fica parada por ali,com aquela cara de
estranhamento por uns 5 minutos,na sua cabeça móveis antigos
portando frutas no meio da sala. Meu Deus,alguém tinha que avisar a
sua amiga que era o cúmulo da cafonice.
Diana vem por trás e diz:
—Gostou do Gohonzon?
- Não,só o café. Vem cá,onde você leu que móveis + frutas
+meio da sala era moda?
Diana ri da ignorância de sua querida amiga.
— Na verdade ,entrou na moda ,mais ou menos ,em 400 a.c +
ou - .
— E quando a Wall Paper disse que isso era legal?
— Hummm,desde que eu me tornei budista e senti que meus
problemas tornaram-se bolas de gude ...
—Budismo é moda agora?
—Meu Deus,Savanah eu me tornei budista e não quero saber só
de moda...!
Aquilo parece ser mais fácil para sua amiga pegar ...
—Acho que,se não o budismo. Você deveria abrir o seu coração
pra aquilo que está acima de você,talvez Deus .Thereza vem me
escrevendo lindas cartas e acho que você entenderia melhor tudo o
que está á sua volta ...
Dessa vez sua amiga,apenas à olha .Ela nunca havia sentido medo
de nada e o desafio a fazia ter vontade de conhecer.
—Como é que se faz?Tem que comer enquanto se reza?
Diana ri,pois sabia que aquilo era uma provocação típica de sua
amiga.
Elas sentam e conversam sobre a vida; descobrem que Nigro
casou e teve um filho e que,por questões profissionais havia se mudado
pro Chile então agora ,J.C fazia um curso intensivo de espanhol ,pois
queria praticar com o afilhado.
Os dias foram passando e os problemas continuavam a vir,mas eles
parecia já achar que aquilo não era tudo. Eles já conseguiam lidar com
seus problemas. Diana,agora,contava histórias para as crianças do
orfanato,perto de seu apartamento na rua pequena .Eles já não olhavam
para a vida com toda aquela expectativa,talvez o passado possa não ter
sido o melhor que eles poderiam ter feito,talvez nem eles sabiam se
haviam sido felizes até agora ,mas uma coisa era certa em cada
coração :Eles se amavam muito .E isso fazia o mundo um lugar muito
melhor...
Boa noite senhoras e senhores ...

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