ALBER'IQ VIEIRA
CEHA
Avieira@nesos.net
) que materiüiizararn a
scindívrsl a análise da sitwqh
r, exaustivamente, a civiliaçfio
os demais produtos e
agenas A intervengo no processo
hidades a a p s da mklam a
a Historiografia a definir o
i não est8vmos perante ram9
pretendia-se bon;finar esta
rnica e social com o conceito.
9
,bsocial,fmiram da riqueza. Até a opulência e luxúria da própria coroa, lá longe no
Tareino,foi conseguida, por algum tempo, com o açúcar que a coroa arrecadava na
U(iIha.
Y A canade-açúcar na primeira experiência além Europa demonstrou as
%possibilidadesde rápido desenvolvimento fora do habitat mediterrânico. Gaspar
njFrutuoso testemunha isso mesmo ao referir que "esta planta multiplicou d e
drnaneira na terra, que he o assucar della o melhor que agora se sabe no mundo, o
.,igual com o beneficio que se lhe faz tem enriquecido muitos mercadores
,forasteiros e boa parte dos moradores da terrao4. Tal evidência catalizou as
,atenções do capital estrangeiro e nacional que apostou no seu crescimento e
,promoção, pois só assim se poderá compreender o rápido arranque. Esta que, nos
primórdios da ocupação do solo insular, se apresentava como uma cultura
subsidiária, passou de imediato a dominante, situação que manteve por pouco
tempo.
111
"Pt.Boédents et paralèiles wropehs de I'esclavage colonial", in Itdtuto, wl. 1 13,
Coimbra, 1949; "h origines coloniales de la civjlization atlantique. Antkcédents et types de
mnicture",in J o d of W o d History, 1953, pp. 378-398;Précédenrs médiévau de la colonie en
Adrique, M k x i w , 1954; Les origines de lu civilieaiion ailaniique, Mêuchatel. 1966.
" Confronte-se Alfonso FRANCO SILVA, "La wlavitud en Andaiucia...".in Studia, no. 47,
Ligboa, 1989, pp. 165-166;Alberto VIEIRA, Os escravos no orquipilngo da Madeira. siculos XV n
XVII, b c h a l , 1991.
" CA- c O L ~ N ,Texios y doemos cutnpleros,Madrid, 1984, p. 160.
13
Fray Bartolomé de Ias CASAS, Hkoria & Ins Indias, V01 . I, México, 1986, p. 497.
continente americano. Por isso mesmo o conhecimento do caso madeirense
assume primordial importância no contexto da História e geografia açucareira dos
s é c a s XV a XVII.
d';O açúcar da Madeira ganhou fama ao nível do mercado europeu. A sua
qualidade diferenciava-o dos demais e fê-lo manter-se como o preferido de
. muitos consumidores europeus. Deste modo o aparecimento de açúcar de outras
ilhas ou do Novo Mundo veio a gerar uma concorrência desenfreada ganha por
aquele que estivesse em condições de ser oferecido ao melhor preço. Um
testemunho disso surge-nos com Francisco Pyrard de Laval: "Não se fale em
França senão no açúcar da Madeira e da ilha de S. Torné, mas este é uma bsigatela
em comparação do Brasil, porque na ilha da Madeira não hã mais de sete ou oito
engenhos a fazer açdcar e quatro ou cinco na de S. ~ o r n 6 " ' E~ .refere que no
Brasil laboravam 400 engenhos que rendiam mais de cem mil urrobas que,
segundo o mesmo,são vendidas como da Madeira.
O mais significativo da situqão do novo mercado produtor de açúcar é que
o rnadeirense encontra-se indissociavelmente ligado a ele. Na verdade, a Madeira
foi o ponto de partida do açúcar para o Novo Mundo. O solo madeirense
confirmou as possibilidades de rentabilização e de abertura de novo mercado para
o açúcar. Tambem o incola foi capaz de agarrar esta opção, tornando-se no
obreiro da sua difusão no mundo Atlântico. A tradição anota que foi a partir da
Madeira que o açúcar chegou aos mais diversos recantos do espaço atlântico ,e
que os técnicos madeirenses foram responsáveis pela sua implantqição. O
primeiro exemplo é Rui Gonçalves da Câmara, quando em 1472 comproii ri
capitania da ilha de S. Miguel. Na expedição de posse da sua capitania fez-se
acompanhar de canas da Lombada, que entretanto vendera a Joiío Esmeralda, e
dos operários para a tornar produtiva. A estes seguiram-se outros que
corporizaram diversas tentativas frustradas ara fazer vingar a cana de açúcar nas
ilhas de S. Miguel, Santa Maria e TerceiraI? .
Em sentido contrário avançou o açúcar em 1483, quando o governador
D. Pedro de Vera quis tornar produtiva a terra conquistada nas ~ a n ~ r i a s 'De
"
novo a Madeira surge disponibilizar as socas de cana para que aí surgissem os
canaviais. Todavia, o mais significativo é a forte presença portuguesa no processo
de conquista e adequaqão do novo espaço a economia de mercadoi7. Os
portugueses. em especial os madeirenses, surgem com frequência nas ilhas
do a compra de @car
1610 os rnadeirenses
, por isso a edilidade
em que estes se
'h
, ->.
Wcar,
A moenda e o consequente processo de transformação da guarapa em
mel, dcool ou aguardente projectaram as áreas produtoras de canaviais
;+ ., para a linha da frente das inovações técnicas, no sentido de corresponderem as
'cada vez maiores exigências. A madeira e o metal foram a matéria-prima que
deram forma a capacidade inventiva dos senhores de canaviais e engenhos. Nu
moenda da cana utilizaram-se vários meios tkcnicos comuns ao mundo
mediterrinico. A disponibilidade de recursos hídricos conduziu à generalização
do engenho de água. Na Madeira, o primeiro engenho particular que temos
conhecimento foi o de Diogo de Teive em 1452. E este terá sido o primeiro
engenho que se veio juntar ao lagar do infante. O infante, donatário da ilha,
detinha o exclusivo destas infra-estruturas e quem quisessem segui-lo deveria ter
autorização sua. Este documento espelha apenas a situação. A estrutura só
resultou nas áreas onde era possivel dispor da força motriz da hgua fez-se uso da
força animal ou humana. Os Ultimos eram conhecidos como trapiches ou
almanjaras. O infante D.Fernando em 1468 refere as estruturas diferenciando os
engenhos de água, alçapremas e trapiches de besta. Até i generalimçiio dos
engenhos de cilindros horizontais no skulo XVII, a infra estrutura para espremer
as canas era composta do engenho ou trapiche e da alçaprema.
Não conhecemos qualquer dado que permita esclarecer os aspectos
técnicos deste engenho3" Apenas se sabe, segundo Giulio Landi, que na década
de trinta do século XVI funcionava um com o sistema semelhante ao usado no
fabrico de azeite: "Os lugares onde com enorme actividade e habilidade se fabrica
o açúcar estão em grandes herdades, e o processo é o seguinte: primeiramente,
depois que as canas cortadas foram levadas para os lugares acima referidos,
põem-nos debaixo de uma mó movida a água, a qual triturando e esmagando a
cana, extrai-lhes todo o suco"". .
Na ilha de São Miguel a cultura da cana está inegavelmente ligada aos
rnadeirenses. A eles se deveu o transplante das socas e da tecnologia3? Gaspar
Frutuoso conta que em Ponta Delgada Bastião Pires contratou o madeirense
Uma das questões que mais tem gerado polémica prende-se com a
#Valuçiio da tecnologia usada para espremer a cana. O aparecimento e
~@er&qão dos cilindros horizontais e depois verticais é um processo
tem ocupado os especialistas nos últimos anos sem se conseguir
quer consenso. O primitivo trapenm era jd usado na Roma antiga
itonas e sumagre, sendo, segundo Plínio, inventado por Arístreu,
s dos pastores". Mas este tomou-se um meio pouco eficaz com a
ralizaqão da produção e comércio no decurso do século xvi, sendo
engenho de cilindros. fi aqui que as opiniões divergem. São
as hipóteses para a origem do sistema, sendo a mais antiga a que aponta a
lução como uma descoberta meditemca. Dois teqtos clhssicos para o
açúicar - F.O. Von ~ i ~ ~ r n a ne nNoel
" Ded9deram
- o mote atribuindo
a a Pietro Speciale, prefeito da Sicilia, um importante proprietário
fez testamento em 1474~'. Esta tese foi rebatida por Moacyr Soares
ra (1955) e Gil Methodio de Maranhão (1953) que demonstram a falta de
36 Gaspar FruRioso, Livro Quurto d a s Sa&s da Term, vol. TI, Ponta Delgada,
C. GJESSING. The
$ & h i f l for guindering mgar cone, Virgin Islands, 1477;MORENO FRAGINALS, E1 irsgenio, La
. 1978;Marie C l h e A M O W , k a n Vienne BEREN (eds). La Produciwn du vin e# de I
" .
. - v
18
t
dos como aprestos: rodas eixos, prensas, fornalhas espeques (...)49. Também nou-
tro documento de 1546 refere-se a existência deste tipo de engenho nas fazendas
de Manuel damil em Câmara de Lobos, foreiras ao convento de Santa Clara, pois
o mesmo declara que "aquelle anno mandou fazer a roda nova por ser velha a que
estava e não aproveitar para servir e os eixos servirem hum anno..."" Por fim
tenha-se em conta que os primeiros engenhos construidos no Brasil, mais propri-
amente em S. Vicente, são de eixos e que estes foram feitos por destros carpin-
teiros rnadeirenses que acompanharam o governador Mem de ~ á " .
A tudo isto deverá juntar-se o facto de que foi a partir da Madeira que se
generalizou o consumo do açúcar, sendo necessário para isso uma produção em
larga escala. A pressãio do mercado europeu conduziu a uma rápida afirmação da
cultura na segunda metade do século XVI, situação que só seria possível de ali-
mentar com o recurso a inovações tecnológicas capazes de atenderem a tais soli-
citações. Note-se que a evolução para o sistema de cilindros não reverte no
melhor aproveitamento do suco da cana, mas sim vantagens acrescentadas para a
rapidez no processo de esmagamento. A situaqgo que se vive na Madeira a partir
de meados do século XV é de incremento da cultura que se alia a inovações tec-
nológicas, que certamente o engenho de Diogo de Teive foi o primeiro exemplo.
Se estas referências forem indício dos engenhos de cilindros quer dizer que
é na Madeira que encontrámos a mais antiga referência desta tecnologia no
espago atlântico e será a partir da Madeira que a mesma se difundiu. Os
i madeirenses estiveram ligados a promoção da cultura e construção dos primeiros
engenhos açucareiros nas ilhas Canárias, dos Açores, S. Tomé,e Brasil, chegando
i mesmo ao norte de Africa, situação que foi interditada pela coroa em 153752.Por
I
i outro lado a sua origem não poderá associar-se a uma influência directa da índia
ou da China, onde estiveram muitos madeirenses, uma vez que as primeiras
referências são anteriores h primeira viagem de Vasco da Gama. Perante tantas
wid€ncias não é possivel afirmar com toda a certeza que a expansão dos
s se fez a partir do Funchal. Teremos de continuar no
domhio das hipóteses, pois faltam-nos descrições e gravuras capazes de o
@temunhar. Mas se olharmos ao que sucede com as demais áreas tudo se
qmstrói no dominio da hip6tese e dificilmente teremos conclusões plausíveis
d r e os primórdios da evolução do sistema de cilindros na moagem da cana
53 Em 1499 (AHM, vol. XVII, nm.227,pp. 38&387,20 de Março) refere-se esta situaçilo e os
possíveis prejulms causados h arrecadaçlio do quinto.
;!m
Ii V. RAU,ob. cit.
55 ANTT,convento uk Sunia Clara, no. 12, inventario de 21 de janeiro.
[ifi'''' j6 ARM, RGCMF,T.I, pub1. in AHM,Vol. XVI, p. 87,doc. 21 Junho.
" Histdria do açúcar, 194 I , 13
..
s na do Funchal. A sua localização geográfica
aferir das &as de maior incidência da cultura no século XVI.
de engenhos era reduzido. Assim, em 1602,
7 a 8 engenhos em laboraçãoS9.Esta aposta
levou ao necessário o estabelecimento de alguns incentivos i sua
. Nesta
d6cada fala-se apenas de quatro
os em 1650~'.Daí derivaram, enormes
por falta de engenhos suficientes. No
h d r é de Betaneor h6 três anos que não funcionava e seria dificil
pelo estado em que se encontravaE. Ademais, do abandono dos
U & r & s e criada em 1866 e inaumada em 1873, que se saldou num verdadeiro
b s a e motivo de acesa polémica79.Por outro lado é de salientar as iniciativas
@t#l~gicas do próprio D. João da C k a Leme que em 1875 apresentou o novo
1 ~ 7 2para
~ ' a ~ o n s de~ urna
~ ã ~ de extraeçáo e cristalização de qúcar .
fábrica
Flítica de proteccionismo e favorecimento do engenho do Torreão afastou
s de& desta industria, levando a maioria ao encerramento. Em 1 934 um
estabeleceu claramente esta situação: proibiu-se a construção de mais
s até 1953 e os demais existentes não podiam laborar açúcar, actividade
era exclusivo do engenho do Torreão, apenas forão autorizados os
amentos. Pior foi o aue sucedeu em 1954 com o decreto aue determina a
L
$ic
èntração de todos os fabricantes de aguardente em apenas três fábricas. Os
hhos do norte ficaram reunidos na comnanhia dos engenhos do na* com
no Porto da cruz8'.
ão comrcial irn que sda actores ~illiA Hinton & Sons a aa Conaè h ~hranvial . .i
898: Visconde CANNAVIAL. Um oriviléaio vihtriQ1. Cartas a diversos iormes,
r 3 1883: A descriçáa do processo seguido no ~ o & b 6 feita por Eduardo PEREIRA illlnas de
vol. I, 541-542). Em 1926 o Marquês de Iáoome CORRBIA (A ilha da Madeira, Coimbra,
,.98)refere o seguinte: A fábrica do torrem, de Harry Hinton, goza, com justificada razão, a
e ser uma fabrica modelar: e são complexos mechanismos, a organização fabril e a
FRANKEL, Rafael, Shmuel Avitsen e Etan Ayalou, History and Technology of Olive in the Holy
Hand,Israel,1980
GAMA, Ruy, Engenho e Tecnologia, S. Paulo, 1983
GOUVEIA, David Ferreira, O Açúcar da Madeira. A manufactura açucareira madeirense (1420-
1550), inAtlântico, IV, 1985,260-272
- A Manufactura Açucareira Madeirense (1420-1550). Intluência Madeirense na Expansão e
Transmissão de Tecnologia Açucareira, Atlântico, 10, 1987, 115-131
LIPPMANN, von, Edmund O., Geschichte des Zuckers, Berlin, 1890, 1929 (ed. Portuguesa, R.
Janeiro, 1941)
MARANHAO, Gil de Methodio, Investigação sobre a origem dos cilindros em moagem da cana,
BrasilAçucareiro, 1953,41, I, 59-61
MARTIN, Manuel e Antonio Malpica, EI azucar en el encuentro entre dos Mundos, Madrid, 1992,
(anexo I, Manuel Martin e Miguel Gimérez Ganguar, Las Plantas azucareras y Ia tecnología
azucarera hasta fina1es dei siglo XIX, pp. 151-168)
MAZUMBAR, Sucheta, Sugar and Society in China Peasants, Technology, and the World Market,
Cambridge (Massachusetts), London, 1998
QUINTELA, Antonio Carvalho, Engenhos hidráulicos em Portugal. Finalidades tipos e difusão.
Características das rodas hidráulicas, in I"s Jornadas Nacionales sobre Molinologia.
Fundación Manelo Turriano, Santiago de Compostela, 1995
RIO MORENO, Justo L. dei, Los inicios de la agricultura europea en el Nuevo Mundo, (1492-
1542), Sevilla, 1991 (capitulo 9, EI molino, pp. 345-362)
27