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111 JORNADAS

DE ESTUDIOS
SOBRE
FUERTEVENTURA Y
LANZAROTE

ALBERTO VIEIRA
1. O estudo da dinâmica irpstitucional insular assenta nas suas prin-
cipais componentes administrativas que deram consist6ncia h estrutura
societal implantada pelos povos ibérica no Atlântico. Nesse contexto o
s é d o XV surge como o momento mais importante dessa dinhni~; ter-
mulado o proc#so.de reconquista peninsular as coroas iberias estariio
em condiç6es de avançar além-Atlântico. As ilhas do Atlaritiao Oriental
porque posicionadas B saída da Europa '&r80 em simu1tAne.0, o viveiro
novas sociedades e eoonomias atlânticas e pantos de apoio h navega-
@o e domfnio do ooeami. Aí a Madeira e as W n a s &tiyram uma
importância primordial para as aspirqdes das coroas peniasuiares. T+
davia condicionalismos de v8ria fndole implicaram uma diferente fornu-
la@o das institui- e formas & governo. Enquanto na Madeira a sua
situação de abandono favoreceu essa rhpida cicupqW e valorin~@os6-
c i m n 6 m i c a , nas Can&ias, porque ocupadas por uma populaçh indí-
gena-manche, a prmetm foi moroso e quereu uma &mora& guerra

-
de conquista. Por outro lado enquanto em Portugal a expansão se afirma
como uma realidade naciond que congrega as principais forças vivas
em tomo das aspira- da coroa,em Castela as condigões políticas a40
o permitiam, pio que iniciativa foi dominada por intetesses parti-
cuiares de &corda.com as padrões comporiamentais da cavalaria nor-
manda; foi necessário que um estrangeiro oferecesse os seus p d s t i m h
coroa para que se avançasse cum essa conquista. Ao nomando Jean de
httencourt associam-se os interesses da burguesia sevimana intcresada
,nooomércio dos seus reumos naturais.
A ideia de conquista e posrse das Caaárhs inicia-se com a transmissão
da titularidade, adquiri& dede 1344, junto do papado. A coroa castel-
. bana s6 intervir8 a partir de 1477 quando Diego Garda de Herrera ihe
&!de o direito & cunquista das ilhas de Gran Canaria, Lw Palma, Tene-
j
a. Esa iatervcnfáo da coma r d t o u da relativa estabilidade da pc-
nimuia e da massidade de firmar a sua posiçio netas ilhas em face da
E
disputa de particulares e coroa portuguesa'. Todavia a situação man- cargo da Ordem de Cristo por meio dos seus grão-mestres. Durante esse
ter-se4 conturbada atk à resoluçáo da posse deste arquipélago (1480)e período sucederam-se quatro senhores que imprimiram h sociedade ma-
10 xv emerge em pleno uma nova sociedade e economia que será um deirense uma adequada dinâmica de desenvolvimento.
b xv emerge empleno uma nova sociedades e economia que será um O afastamento do donathrio destas áreas de ocupaçáo, as dificulda-
importante marco referencial para a afirmação castelhana no Atlântico. des nas comunicações com o reino em consonância com a necessidade de
2. O reconhecimento e a ocupação da Madeira, se bem com forte distribuir benemesses pelos principais obreiros do reconhscimento e
colaboração particular, foram feito sob orientação e olhar vigilante da mupação do arquipdlago, implicaram uma nova estrutura nas institui-
coroa. O empenharnento do infante D. Henrique e dos homens da sua gões insulares; surgem assim os capitães do donatário, como lídimos re-
Casa surge como un serviço prestado aos intentos da coroa; era uma presentantes do donatário a administrar a Area (capitania) que lhe fora
cruzada de reconhecimento e ocupação e a coroa chamava a si o direito concedida.
de posse bem como a sua adrninistraç50. Note-se que a legitimaçáo ins- Nas Canárias, confrontados com duas formas separadas de interven-
titucional para e intervenç50 da Casa do infante s6 foi concedida ção, a estrutura institucional a implementar serai necessáriamente outra.
em 14332. A partir dessa data a gesta de rwnhocimento ou descobri- Assim para as ilhas em que vingou a iniciativa particular, que serão con-
mento do Atlintico ficar6 subordinada ao empenho do grão-mestre da hecidas corno senhoriais, vigorar8 um sistema de governo particular por
Ordem de Cristo - o infante D. Henrique. cada um dos usufrutuários das referidas ilhas. Ao invds nas ilhas em que
De acordo com a carta de do@o o infante D. ~ i n r i ~ recebeue o a coroa intervkm no processo de conquista, enviando os seus emissários,
senhorio das ilhas que compõem o arquipdlago da Madeira amm todo- conhecidas como realengas, afirmar-se4 a presença rkgia na pessoa dos
iios dereytos rendas. .. com sua ju&diçam civi e crime salvo em sentença governadores D. Pedro de Vera e Alonso de Lugo. As prerrogativas
de morte ou tahamento de membro.. . posa mandar fazer nas ditas ylhas enunciadas nas diversas recomendagões rkgias associadas h pr5tica des-
todollos proveytos e bemfeytorias... e dar em perpetuo ou a tempo ou a tes governadores aproximam-nos dos capitães do donatário da ilha da
forar todas las ditas terra- quem lhe aprouver. ..*. Apenas se recomen- Madeira. Note-se que, não obstante a sua situação jurídica de funcion8-
da o curso da moeda do reino e a obdiéncia aos foros regios, conheci- rios régios, estes destacam-se muitas vezes nos privilégios de tipo senho-
dos como direitos magesthticos. rial, como sejam o direito de o fiho os suceder e o usufruto do título de
O monarca Dom Duarte ao atribuir, em 1433-1439, responsabilida- adelantado.
des atlhticas h Ordem de Cristo, ia ao encontro dos interesses e pertiná- Na informação de Esteban Perez de Cabito (1477) recolhem-se, nos
cia do infante, ao mesmo tempo que lançava as bases para uma nova v4rios documentos de transaqáo, compra e venda, ou confirme0 rdgia
estructura na dinhica instihicional lusiada - senhorio atlhtico insular, desses actos, elementos que nos elucidam sobre a jurisdicão do senhorio
composto pelas ilhas dos arquipklagos da Madeira e Açores. Durante de CanBrias. Assim conforme o declara em 1430 o Conde de Nieble este
mais de sessenta anos (1433-1497) a adrninistraç60 destas iihas estará a era um usefiorio e propriedad e tenencia e posecion e derecho e mero
misto ynperio e voz e acciona 3. A par disso enuncia as suas atnbuigóes
que lhe cede: a t d o e1 senorio e propriedad e voz e razon e accion e
1. Propsitadamente ignoramos a controversia em torno da posse do senhorio das Ca- thenencia e posesion e conquista e justicia civil e creminal e juredicion
nárias, remetendo o seu conhecimento pam: JOSE PERAZA DE AYALA, d a alta e baxa e mero e mixto ymperio e vasallos e vasallajes e feudos e
sucessi6n de1 sefiorio de Canarias ( . . . ) i r , in HLitoM G e d de lar b h C m k , U, fortalezas e fazer de moneda e tributos e rentas e pechos e con todas
ias Palmas, 1977, 133-166,MGUEL A. LADERO QUESADA, 4-m seóores de suas entradas e salidas, e con todas sus tierras e montes e prados e pas-
Canarias cn su contexto Sevilano (143-1477)i~, in Anuario de & d i a Atlhkos,
n." 23, 1977, 125-164; Acwdos de1 mbildo de Fuerfeveiuunr 1605-1659, Santa Cruz tos e rios e fuentes e aguas estantes e corrientes e manantes, e mn todos
a de Tenerife, 1970, 11-15; ANTONIO RUMEU DE ARMAS, a 0 SeilOno de Fuerie- sus puertos de mar e metales e minerias... A 4. Em confirmação rdgia da

-.
-i--- ventura en el siglo x n r (Cornuniuqh apresentada no presente ooagresso).

.2. Esta -o enquadra* no tipo de senhorio existente em Portugd que fora regda-
mentado pelas Ordenaç&s Afonsim e Lei Mmtd, veja-se: ANTONIO MANUeL
HESPANHA, HLst6ria dae Imtituiç&..., Coimbra, 1983, 282-301, 325; FERNAN- 3. Pubücado por CHIL Y NARANJO, &tua% Hisi6riEos. .., t. 11,1888, 5%; confroa-
DO JASMINS PEREiL4, A Ilha da Madeira no @do hemriquino (1433-16601, k-sc pp. 520,53@31,54349,580, U.
L! ' ~ L i s h1961.
, 4. Ibidmi, 549.

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posse do senhorio de Lanzarote e La Gomera a Fernan de Peraza o Estes eram aí os representantes do donatário e em seu nome exerciam
monarca alude «la justiça e jurisdicion civil e creminal, alta e baxa e em «justiça e dereyto» , a jurisdição do cível e crime e procediam à
mero mixto ymperio por ciertos justos e derechos titulos» 5. nomeação dos funcionários do município, organização da defesa, distri-
3. Será possível uma aproximação de ambos os modelos institucio- buição das terras. Todavia encontramos algumas situações muito pareci-
nais definidos pelos reinos ibéricos para a expansão atlântica? De uma das com esta. Assim no início Jean de Bettencourt nomeia o seu teniente
forma genérica essa aproximação torna-se possível e desejável, mas no ou governador geral que com os sargentos nomeados para as diversas
particular esbarrará com condicionanrtes de vária índole que poderão ilhas, asseguravam a justiça 7. Note-se ainda que na ilha de La Gomera o
conduzir a uma visão incorrecta dessa realidade. Note-se que como refe- senhorio delegara no alcalde mayor o poder cível e de nomear os rege-
rimos de ambos os lados, na ilha ou no continente, deparamos com uma dores, alferez, alguacil mayor e escribanos.
conjuntura diversa que pesará de forma significativa no lançamento das Os governadores de Tenerife e Gran Canaria, pelas atribuições que
bases institucionais da nova sociedade. Nas Canárias os condicionalis- recebem e pelo modo que as valorizam se assemelham em muito aos
mos internos e externos conduzem a uma gesta de tipo feudal, enquanto capitães madeirenses, o que os diferencia é a pessoa que representam e a
na Madeira deparamos com uma inovação que se enquadra nos parâme- precaridade ou não da jurisdição que lhes é acometida; a reforçar essa
tros que assumirá o senhorialismo em Portugal 6. Desta forma nas Caná- ideia está o título de Adelantado que adquire um carácter hereditário
rias os vestígios feudais são mais marcantes que na Madeira. (1491-92, 1496).
Além disso o senhorio que desponta em princípios do século xv nas A durabilidade destas instituições permite outra aproximação; en-
Canárias é marcado por laços feudais, como a enfeudação, enquanto na quanto na Madeira a situação de senhorio durou apenas sessenta e qua-
Madeira esses não existem, pois com a doação régia de 1433 apenas são tro anos (1433-1497), nas Canárias perdurou até ao século XIXsó se ex-
concedidas algunas prerrogativas jurisdicionais conducentes à sua ade- tinguindo com as Cortes de Cadiz em 6 de Agosto de 1811. Essa similitu-
quada administração e o senhorio fará uso dessa jurisdição em nome do de só será possível em relação ao governador. Assim em ambos os lados
rei. Todavia este último não abdicava de certos domínios jurisdicionais os alvores do século XVIcoincidem com o fim ou diminuição da influên-
como a pena de morte, talhamento de membro, direito de fazer guerra e cia destes. Note-se que a partir de 1519 o aparecimento de novas institui-
a cunhagem de moeda. Note-se que o início da conquista das Canárias ções conduzem ao esvaziamento desta estrutura de mando. Todavia a
começou com uma campanha normanda e o necessário acto formal de extinção do senhorio na Madeira, pela forma que o monarca D. Manuel
vassalagem e prestação de pleito e homenagem (1403-1412) do seu chefe a realizou, não levou à extinção das capitanias madeirenses, apenas con-
ao monarca de Castela a quem as ilhas perteneciam por bula papal de dicionou a situação destas, pois a partir de 1497 os capitães passam a
1344. Além disso Jean de Bettencourt usufruia do direito de cunhar depender directamente da Coroa e não do grão-mestre da Ordem de
moeda (1403), privilégio que a História ignora o seu usufruto ou não. Cristo. Também nas Canárias a intervenção centralizadora da Coroa de
Por outro lado a Adelantado que surge nas ilhas realengas é uma forma Castela não pôs termo ao senhorio e governador, mas a criação de novas
de instituição militar usual em terras de fronteira. instituições que conduziram à limitação da sua alçada.
O senhorio da Madeira, por sua vez, como forma de recompensa aos Num e noutro arquipélago o senhorio usufruía de determinados pro-
criados da Coroa e de melhor eficácia gobernativa delegará em João ventos económicos resultantes do usufruto do monopólio da recolha, fa-
Gonçalves Zarco (1450), Tristão Vaz Teixeira (1440) e Bartolomeu Pe- brico e venda de certos produtos ou do lançamento de alguns direitos
restrelo (1446) o governo das áreas do Funchal, Machico e Porto Santo. sobre a produção e comércio. Assim nas Canárias este reservava para si
o monopólio do comércio da urzela, conchas marinhas, além de uma
renda senhorial (o quinto) que onerava o dinheiro, o gado e o comér-
ci08.
5. Ibidem, 580.
6. LUIS FILIPE R. THOMAS, «Estruturas quasi-feudais na expansão portuguesa», in Na Madeira o senhorio, de acordo com a carta de doação régia rece-
Colóquio Internacional de História da Madeira, Funchal, 1986; ANTONIO MURO
OREGON, «Edad Media en Canarias y América», in I Coloquio de Historia Cana-
rio-Americano (1976), Las Palmas, 1977, 43-64; ALFONSO GARCIA-GALLO,
«Los sistemas de colonización de Canarias y América en los siglos xv y XVI»in ibi- 7. Le canarien, La Laguna, 1960, 320-323; VIERA Y CLA VIJO, Ibidem, I, 342.
8. Ibidem, 310.
dem, 423-442.

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bera o usufruto de todas as rendas e direitos existentes ou a lançar nes- Desta sublevações contra os senhorios destacam-se as de Fuerteven-
ses domínios. O principal tributo era o dízimo que onerava o aproveita- tura em 1456, Lanzarote em 1475 e La Gomera em 1477-78 lI. Na suble-
mento dos recursos, a agricultura, pecúaria, pesca, transacções e comér- vação de Lanzarote os vizinhos da ilha auto proclamam-se vassalos do
cio. Ao capitão estava reservado o usufruto do redízimo destes direitos, rei, considerando injusta, ilegítima e repressiva a sujeição do senhorio.
alguns privilégios exclusivos e a punição dos réditos resultantes da explo- Este motim conduziu a um alerta da coroa que em 1476 ordena uma
ração das suas terras. investigação sobre a posse e legitimidade do senhorio que não abonou
4. Os condicionalismos decorrentes da necessária centralização ré- favoravelmente os amotinados.
gia, levada a cabo por D. Manuel (1497) e continuada com D. João lU Num e noutro lado as arbitrariedades dos senhores, governadores e
(1524), conduzirão ao paulatino degenerescimento desta estrutura arcai- capitães conduziram a essa situação. Os monarcas perante a insistente
ca e à afirmação de uma nova dinâmica institucional adequada ao pro- reclamação dos vizinhos e dos seus funcionários aí sediados vêm-se for-
gresso sócio-económico da ilha. Nas Canárias a manutenção do senho- çados a cercear os poderes destes. Assim na Madeira a morte do infante
rio, durante quatro séculos, resultará certamente da relativa importância D. Henrique (1460) marca um passo importante nesse processo. Com o
económica das ilhas senhoriais e do paulatino reforço da autoridade ré- infante D. Fernando, desde 1461, os capitães são sujeitos a uma nova
gia nessas ilhas com a quebra, óbvia, da jurisdição do senhorio. Assim a dinâmica institucional, mercê do reforço do poder. municipal e do almo-
criação da Audiência (1526) e do cargo de capitão general de Canárias xarifado. Por outro lado aos capitães é retirada e capacidade decisória
(1589) associados às sucessivas polémicas sobre a sucessão do senhorio dos feitos que ficam a cargo dos juízes ordinários. Com o governo dos
contribuiram para o rápido descrédito desta estrutura de mando e refor- donatários, que se seguiram, o poder municipal adquire uma nova
ço do poder real. Desta forma o senhorio canário será confrontado com pujança na estrutura administrativa da ilha, perdendo os capitães o po-
a mesma posição do capitão madeirense, a partir do século XVI, ambos ger decisório. A afirmação da vereação como tribuna de debate dos in-
perdem prerrogativas jurisdicionais e a sua importância resume-se mais teresses dos vizinhos é sem dúvida a forma mais adequada de fazer fren-
aos ré ditos económicos que à sua capacidade de intervenção na adminis- te aos discricionarismos de actuação do senhor ou capitão. Daí o recurso
tração da sua área. De senhores ou administradores plenipotenciários por parte da coroa a esta estrutura como forma de fazer vingar o seu
passam a meros gestores dos seus proventos económicos assentes em projecto de centralização. Os funcionários e toda a estrutura municipal
bens fundiários e rendas de tipo senhorial, coma a redízima ou o quinto. liberta-se destes e autonomiza-se. Num e .noutro lado o rei intervém
Simão Gonçalves da Câmara, terceiro capitão da capitania do Fun- nesse processo colocando aí funcionários da sua confiança os seus repre-
chal, ao reclamar junto da coroa contra o envio do Corregedor Diogo sentantes, ao mesmo tempo que retira ao dito senhor o poder de nomear
Taveira Bisforte expressa o sentimiento destes em face dessa mudança, alguns funcionários da vereação 12.Todavia a omnipresença do capitão
segundo refere «pelos serviços que tinha feitos a EI-Rei não lhe merecia ou senhor na capitania ou ilha conduzirá a sua rápida afirmação no Sena-
meter-lhe corregedor na sua jurisdição sendo governador de justiça em do da Câmara. Este para além de manter uma posição de prestígio nessa
toda a sua capitania» 9. E vexado com a medida do monarca saíra para estrutura de mando, detém ainda poderes que fazem dele uma peça-cha-
Castela e só voltou com uma solução satisfatória 10.Todavia o processo ve do governo municipal. Assim em Fuerteventura, até 1714, o senhor
erá irreversível e os capitães ou senhores insulares tiveram que se con- manterá uma posição de destaque no cabildo, nomeando os alcaldes,
formar com às mudanças. 1Y!gidorese personero-general13. Por outro lado a sua presença é sempre
Também nas éanárias tivemos manifestações anti-senhoriais que
contribuiram para uma chamada de atenção ao poder régio. Os excessos
de intervenção de Maciot de Bettencourt valeram-lhe o epíteto de Tibé- 11. VIERA Y CLAVIJO, ob. cit., 1,369,446,475-80; CHIL Y CLAVIJO, ob. cit., 11,
rio de Canárias e conduziram a várias reclamações dos vizinhos ou a fuga 518-642.
para as ilhas realengas. 12. LEOPOLDO DE LA ROSA, «Organización dei cabildo», in Acuerdos dei cabildo de
Tenerife, 11, 1952, XIX-XXXIV; 1. III, 1965, XIX-XXIII; idem, La evolución dei
régimen local en Ias islas Canarias, Madrid, 1946, 39-94.
13. Acuerdos dei cabildo de Fuerteventura 1605-1659, 16-19; JUAN IGNACIO BER-
9. Saudades da Terra, L.° 11, Funchal, 1873, 246. MEJO GIRONES, Los Cabildos Insulares de Canarias, Santa Cruz de Tenerife,
10. Acuerdos dei Cabildo dI! Fuerteventura 1605-1659, 11-15. 1952, 23-25.

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notada nas sessões do cabildo em que afirma sempre o seu parecer e ção de Diogo Cabral em 20 de Outubro quando refere ao rei que «os
interesses em face das principais questões em debate. Essa situação 6 vereadores da cidade e vilas são feitos h vontade do capitao e metem
fortalecida com o cardcter vitalício ou hereditário que assumem os diver- seus criados por vereadores tendo V. A. nesta terra muitos criados e fi-
sos cargos o u funçóes o que dB ao município uma solidez monolitica nas dalgos e cavaleiros que o podem ser como se costuma em todo o reino* 19.
suas decisões e gera uma oligarquia municipal 14. Idhtica é a situação do Desta foma o município que surgir8 como forma de oposição ao
Funchal, onde as principais famílias fazem parte do rol dos homens-bons discricionarismo senhorial e porta-voz dos interesses do povo não c o n e
e como tal dominam as diversas funçóes municipais. Aí encontramos os gue resistir ao assalto da oligarquia insular sendo absorvido por esta. De
Vasconcelos, os Ornelas, os Bettencourts, os Câmaras e, alguns estran- pouco ter8 resuldado a intervençao da coma na definição institucionai
geiros avizinhados, como os Aciaioi, os Salvagos, os Valdavessos, e os das alçadas pois a prática corrente de administração insular comprova
Saiamancas. que o vigor dos senhores ou donathios t imbatível. Mas os séculos xvi e
O exercicio do poder, nomeadamente o municipal, era uma das prin- xw marcados por profundas altaraç8es na dinâmica s6cio-eoon6mica
cipais formas diferenciadoras dessa aristocracia madeirense; note-se que insular e Atlhtica conduzirão ao degenerescimento desse empnho da
sb em 1484 foi permitida uma representação dos mesteres. Assim um aristocracia insular e ao cada vez mais apagar da estrutura senhorial ou
reduzido nhnero de personalidades tinha assento na vereaçio. Em 1471, de capitania na vivkncia das gentes. Por outro lado a excessiva tendencia
do grupo de vinte e oito homens-bons arrolados para o governo munici- centralizadora da .cora, mediante as wnting&nciasda conjuntura penin-
pal, contam-se cinco relacionados com o capitão e sete com o senhorio; sular e atlintica, acabou por retirar-lhes a sua capacidade reivindicativa.
o que marca bem a importância destes na dinhica social e política ma- Na Madeira o reforço da estrutura fiscal e judicial aliada ao aparecimen-
deirense. to do governador geral, como o governo filipino, faziam antever a certi-
O rol dos homens-bons era estabelecido pelo monarca mediante indi- dão de 6bito passada a partir de 1766 pelo governo pombalino. Entre-
caçáo das gentes da ilha; dek s6 constavam personalidades de renome tanto nas Canirias a insistente reclamação das populações e descrddito
na vida local. Todavia em finais do dculo xv o seu alargamento a outros conduziram h sua extinçio em 1811, com o advento das ideias liberais.
sectores sociais conduziu a uma reaqão dessas principais e influentes 5. O senhorio portuguk das ilhas da Madeira (1433) e Açores
famíiias que reivindicam em 1503 l5 a sua composição apenas por fidal- (1439) e mais espago atlaritico (1443) legitimado pelas bulas papais
gos. Dai terão resultado as listas nominativas de 1508, 1510 e 1511 e a (1452, 1454) assentava não 96 no domínio econ6mioo-swiaI e institucio-
exclusão de alguns das mesmas 16. nd,mas também no espiritual. Assim os Administradores da Ordem de
! Essa oligarquia do poder municipal causava inúmeros preju&s h ad- Çristo, atravds do Vicariato de T o r n a r , w u da ~ administração espi-
ministração da iiha e forte reacção de alguns funcioaáios régios. Nesse ritual e religiosa do novo ocupado no Atlâutiao Insular. O pró-
sentido se manifestava em 1543 o meirinho de Machico quando referia prio senhorio +infante D. Henriqu- empenhou-se nessa amo orde-
".
que os grandes da vila não o queriam lá O mesmo justificar& dois nando a construção das cappehs de Santa Maria,do Porto Santo e De-
: anos ap6s, as razães da inépia da a m o camarhia, pois como refere aos sertas. Esta situaçáo manter-se-6 a e 1514 altura .emque foi criada a
'
homens de -aras, que andam nos pelouros de juízes e vereadores são dkeae do Funcbal com jurisdição sobre toâas as terras descobertas".
pais e m o s e parentes e fazem o que dá ou o que esperam, que Ihes Nas Canárias a coroa nunca delegou m e direito de patronato, atribuido
fapm e com suspensões e favores e modos que entre eles tem, se pre- em 1486 pelo papa I a d n c i o WII, mantendo-o como seu exclusivo pri-
verte a justiça, que não podem alcanpr os baixos# 18. Identica 6 a p s i - vilégia2'. Em síntese o senhorio canário e madeirense t&m um carácter

I/
1! 14. Acuerdos de1 cabiido de F u e m t u m 1605-1659, 54; LEOPOLDO DE LA ROSA, 19, IBideR1, ií-91-31,m de Outubro de 1552.
aOigmhci6o de1 cabudow, io Ame& dcl C u b g h de T d i f , 111, 1965, XXT. 23. CHARLES M A R W DE WIITE, Lcs brrllupon@kh a Pqmwiuu po-i-
:I 15. Arquivo Regional da Madcira, C&wm Murricipd do FwicAal, registo geral. t. I, ~ ~ ~ ~ I c , L o u v a i n , 1 9 5 8 , ~ ~ d '
! fols. 334 ~ . ~ - 3 3v."5 du Fucbb, in Arquivo HiPsbrko ds Abridaia, XW,196243; ANTONIO BRASIO,
! 16. Idem, &idem, t. I, fols. 331 v."-333 (1508), 330-330V." (1509), 334-334 V." (1511). *O Padroada da Ordem de Cristo na Madeira*, ia Arquivb Hh* Bo 116-
17. Arquivo NacionP da Torre do Tombo, Corpo C r O t w l & g i ~H-n-107,25
, de Junho. WI. 1-1.
18. Ibidem, ii-7658,21de Maio de 1545. 21. JOSEPH DE VLERA Y CLAVIJO. H b h h dc CaRIKurs, 11,1952,476 e e@.
misto e prechrio. Note-se que em ambos os arquipélagos este necessita- WESPANIIA, Ant- Manuel: H&it5~adas Instiiuifdes... Coimbra, 1983,
LADERQ QUESAIIA, M i e 1 Angel: aLos seíiores de Cananes en su contexto Seviliano
va de confirmação régia em qualquer alteraçáo. Todavia nas ilhas portu- (1403-147733, h d,e EptirdPhp Atiániicos, n."23,1977.
guesas a sua posse 6 mais estável uma vez que apenas se conhece uma MARTMEZ ENCINAS, Viente: h Enabgamia em Fuerrewmturu. Las Palmas, 1W.
transaqão por venda da capitmia da ilha de S. Miguel a Rui Gonçalves PEBAZA DE AYALA, José: aLa sucesi6n de1 sefiorio de de(...), in HLsmna
da Câmara em 1474. Quanto ao senhorio a sua posse regulamentava-se General de Ias d a s &na& II. Las Paimas, 1977.
p w , Femando Jasmins: *A ilha da Madeira na pcriodo henriquino (1433-1460)~.
pelas normas sucessórias em vigõr, devendo apenas ser rectificado com a Separata de Ia Revista do Vlimtrw, n." 3. hh, 1x1.
mudança de monarca. Nas CanBrias deparamo-nos com uma assídua ROSA OLNEIRA, k q o l d o de Ia: Eshrdios hk#óricossobre ias Camariar oriewdes. Las
transacção por venda do senhorio das ilhas, o que implicava uma neces- P h , 1978.
siiria confirmação rbgia. W W U DE ARMAS, Antonio: La conqukb de Tenerife, 1494-14%. Santa Cruz de
Num e noutro arquipélago o senhor lança um conjunto de tributos Tenerife, 1975.
SERRA RAFOLS, Elías: A b t w Femh&z k Lugn, primer cdonuaador mpMol. Santa
senhoriais, que oneram as principais riquezas da terra, sendo, por vezes, Cruz de Tenerife, 1972.
considerados pelos vizinhos como vexat6rios. Esta tributaç50 associada VJEl&4, Alberto y otros: *O Município do Funcbal(1550-l#O)m, in Çoldquio Internacio-
ao usufruto de certos privilégios eram as principais fontes de receita da nal de Hi¶tória dn MadcKa. Funchai, 1986.
casa senhorial. Y CLAWO, Joseoh: Hirto& de Canarias, 2 wls. Santa Cruz de Tenerife,
1962.
As peculiaridades do senhorio canhrio e madeirense n8o derivam
apenas da dimensão que o feudalismo adquiriu em ambas as coroas pe-
ninsulares, mas acima de tudo da conjuntura diversa que serviu de base
h conquista ou ocupação destas ilhas. A articulação do modelo institu-
cional sera condicionada pela situa@o diversa destas ilhas. E neste caso
o facto de as Canárias serem jfi ocupadas e de na sua maioria se destacar
empenharnento e acção dos particulares conduziram a uma peculiar for-
mulação das estructuras de mando. O maior ou menor empenharnento
da coroa deu origem a uma divisáo das ilhas em realengas e senhoriais.
todavia nos dois arquipélago conjuga-se a intervenção da roroa, no secu-
10 xvi, no reforço da sua posiçáo em face das tentativas autonomistas
dos senhores ou capitães. E uma tentativa de adequar estas instituipões à
novaa realidade de centralização e afirmação do poder real.

1. Fontes
Arquivo Regional da MadeirdCimara Municipal do Funchal
- Livros de Vereaçdes do FunchJ, 1472-1500.
Acuerdos de1 Cabildo de Fuerteventura, 1605-1659, La Laguna, 1970.
Acuerdos dcl Cabildo de Euertewntura, 1-1728, La Laguna, I%?.
2. Bibiiografia
AZNAR VALLEIO, Eduardo: h uiregmidn de Ias k h Canarias m Ia Corona & C&-
ila (i478-1526). h Lagwia, 1983.
BERMEJO GIRONES, Juan Ignacio: Lm Cnbildos Imulares. Santa Cniz de Tenerife,
1952.
CAETANO,Marcelo: Hisidria de Direito q n Portuguh 11&1495. iisboa, 1981.
GONÇALVES, Ernesto: .Os homens-bons do Concelho do Funchal em 1471., in Das
ArM e da Histdria da Maakim, n." 28, 1958.
I MONARCA I
I COROA I

I ALMOXARIFADO ) I CAPITAO I *ICONCELHOI I ~MOXARIFADO1

11
JUIZES

MONARCA
r

1 DUVIDOR I

II ]
I r 5
FAZENDA CONCELHO JUSTIÇA

ESTRUTURA ADMINISTRATIVA DOS AÇORES E MADEIRA


SENHORIAL I 1 REALENGO

7
COROA

I REGEDORES
1 1
ALCALDE MAYOR
PERSONERO
GENERAL FIELES UECUTORES
ALCALDES (3)
REGEDORES (6)
REGIA ALGUACIL
ESCRIBANOS
PERSONERO
JURADOS (2)
MAYORDOMO
TENIENTE
DIPUTADOS DE MESA
GOVERNADOR ALCALDE MAYOR
ALGUACIL
DE CAMPO
PROCURADOR
DO COMUM
VIZINHOS
SINDICO
PERSONERO

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