RESUMO
O presente artigo é uma proposta de reflexão para uma intervenção museológica
num moinho de maré do concelho de Montijo – Moinho de Maré do Cais.
A perspectiva museológica apresentada baseia-se nas correntes da Museologia
Social, com ênfase na comunicação e na dimensão educativa.
ABSTRACT
This article is a proposal of a refleccion for a museological intervention in a tide
mill of Montijo Council – Moinho de Maré do Cais.
The museological perspective is sustained by the theories of Social Museology
emphasised in comunication and in the educacional dimension.
INTRODUÇÃO
O Moinho de Maré do Cais, integrado na Zona Ribeirinha de Montijo, é uma
prova da preocupação que o Município de Montijo demonstra na preservação e
conservação do seu património.
IMPORTÂNCIA MUSEOLÓGICA
O presente moinho de maré, com a reprodução do ambiente original de
funcionamento é, actualmente, um pólo importante de atracção turística com uma
componente muito forte de prestação de serviços. Com um período muito curto de
abertura o Moinho de Maré do Cais tornou-se um sítio de referência e notoriedade, os
utilizadores têm vindo a aumentar e estes procuram diferentes formas de conhecer mais
sobre esta realidade.
O “Saber Fazer” que este tipo de indicador de memória transmite a várias
gerações assume um papel onde se constata que a cultura representativa de uma
comunidade é, realmente, o que assegura as bases sólidas para um processo de
desenvolvimento sustentável.
O Moinho de Maré do Cais é, inquestionavelmente, um testemunho da
identidade Montijense, que interliga o passado e o presente, perpetuando-se na memória
colectiva da sua comunidade. A utilização da memória colectiva é um referencial básico
para o entendimento e a transformação da realidade, existe o reconhecimento das
identidades e das culturas de todas as sociedades, com o incentivo à apropriação do
património, para que se possa viver a identidade pluralmente.
Sendo assim, a sua protecção pressupõe uma devolução à sociedade, pois deve
haver a consciência que a salvaguarda deste tipo de bem patrimonial deve ser
direccionado para a população.
A musealização de um espaço como este moinho deverá ser integrada no âmbito
da musealização in situ, constituindo uma unidade museológica (integrada no Museu
Municipal de Montijo) que seja capaz de responder à diversidade e à mudança, com
uma oferta de actividades próxima das comunidades envolventes. Assim, poderá tornar-
se um espaço museológico “(…) interactivo, flexível e interveniente, onde a
aprendizagem se processe de forma dialogante e duradoura (…) ” (Silva,2001,135)
estando próximo das populações correspondendo às suas exigências.
A preservação deste património in situ e a sua consequente musealização pode
cumprir vários propósitos, onde práticas diferentes e diversos participantes se podem
encontrar e construir aprendizagens comuns. A este tipo de musealização é atribuída a
função de pólo cultural e intelectual que dinamiza a vida das populações, sendo esta
também a função primordial dos museus locais, pois são descentralizados e estão
próximos das populações.
Tal como nos indica Judite Primo, “(…) Uma vez considerados patrimónios e
musealizados no seu local de origem, esses objectos também estão passíveis das demais
acções museológicas que são a preservação, a investigação, a comunicação e a sua
utilização como elemento educativo. Assim, a musealização in situ não pode ser
considerada uma acção isolada, mas sim uma acção museológica integrada nas demais
acções básicas que caracterizam a instituição museológica (...)”(Primo,2000,47).
Sendo assim, este património deve ser olhado com uma visão global, ou seja
relacionar o homem - o meio ambiente - o saber e o artefato, obtendo assim, uma
perspectiva global onde o cultural, natural, material e imaterial, se relacionam nas suas
dimensões de tempo e espaço.
A perspectiva de musealização que defendemos para o Moinho de Maré do Cais,
pressupõe esta perspectiva global, a comunicação com a comunidade, tendo como
objecto de estudo os bens patrimoniais, as referências culturais, os indicadores de
memória e a forma como a sociedade se relaciona com os seus bens patrimoniais, cada
pessoa olha para o mesmo objecto / património de forma diferente.
Potenciando a relação da comunidade com o moinho, assume-se uma visão
museológica baseada na Função Social do museu, tendo em conta que a Museologia, tal
como é vista actualmente, deve ter uma intervenção activa nos processos de
transformação social, económica e cultural, assim, o objectivo do museu deve ser
informar estando ao serviço da sociedade. Este museu deve ser integrado, estimulando
em cada comunidade uma vontade de acção.
Este tipo de preocupações têm vindo a ser debatidas e desenvolvidas desde o
Seminário de Santiago do Chile em 1972. Desde essa altura, a instituição museológica
passa a ser entendida como um instrumento de mudança social e um instrumento para o
desenvolvimento sustentável, destinada a proporcionar à comunidade local uma visão
de conjunto do seu meio material e cultural.
A comunicação de um museu com os seus públicos, que consiste num dos eixos
mais importantes de Museologia actual, foi introduzida apenas em 1992, no Seminário
de Caracas; assim, a par das funções de salvaguarda, educativa e social, entra a função
de comunicação.
A musealização de um espaço com as característica do Moinho de Maré do Cais
deve apostar na comunicação como via privilegiada para a sua preservação, pois tendo
por base a investigação, as exposições e as acções educativas que se podem realizar em
torno deste património, é o caminho mais eficaz para a sua divulgação e,
consequentemente, para a divulgação do património de Montijo.
PERSPECTIVA EDUCATIVA
A abertura do museu ao meio e a sua relação com o contexto social torna-o uma
instituição activa, interveniente na sociedade. A função educativa dos museus, que tem
vindo a ser aceite desde a década de 50 do século XX (1952 – Seminário Internacional I
Estágio de Estudos Internacional – Sobre o Papel dos museus na Educação) torna-se
uma das questões prioritárias do “Novo Museu”. A partir deste momento o museu
assume-se como um local de educação tendo vindo a ser pensado à luz da evolução das
concepções de educação e das transformações sociais.
Pelo seu carácter de educação não formal e informal, o museu é um espaço
privilegiado para que o conhecimento crítico ocorra. No mundo actual globalizado, a
instituição museal tem um papel importante na educação para a cidadania e na defesa do
património e memórias locais, aproximando crianças, jovens e adultos daquilo que lhes
está mais próximo.
A crescente preocupação e alerta para o facto do museu ser um espaço
privilegiado de educação, leva psicólogos, educadores, pedagogos e profissionais de
museus a considerarem os museus “(...) como instituições educativas de primeira linha.
Como resultado, a instituição museológica tem sido cada vez mais valorizada como um
espaço privilegiado de aprendizagem informal. (...)” (Silva,2001,112).
Como espaço museológico, o Moinho de Maré do Cais insere-se dentro deste
contexto educacional. Assim, assumindo este carácter, a sua dimensão educativa deve ir
para além das tradicionais visitas guiadas e do apoio a grupos escolares. A instituição
deve criar situações onde o visitante se encontre no centro das atenções, as motivações e
os interesses dos visitantes devem ser importantes para a actividade dos seus
profissionais.
Fig. 4 – Colocação da
moenda a funcionar
Neste âmbito têm vindo a ser desenvolvidas várias actividades pedagógicas,
onde se elaborou uma estratégia pedagógica que teve como objectivos suscitar o
interesse pelo património local, contribuir para o desenvolvimento social, cultural,
cognitivo e afectivo do indivíduo, numa perspectiva de educação para a cidadania.
Esta estratégia prende-se com a explicação do próprio moinho e do seu
funcionamento, havendo a preocupação de aplicar metodologias activas, nomeadamente
com o público mais jovem. É dentro deste âmbito que está a ser desenvolvido um CD
interactivo, direccionado ao público infantil, pela ETNOIDEIA.
Privilegia-se a comunicação, pois esta é uma via para a pedagogia museológica,
tendo como objecto de estudo o bem patrimonial, com as referências culturais e os seus
indicadores de memória. Tenta-se perceber a forma como a sociedade se relaciona com
os seus bens patrimoniais, cada pessoa olha para este moinho de forma diferente,
conforme as suas experiências.
Fig. 5 – Perspectiva de
uma visita turística
Bibliografia
CORTESÃO, Luísa; NUNES, Rosa Soares (2004). Paulo Freire: A Educação como
acesso à cidadania e à dignidade in Aprender ao Longo da Vida – Reinventar os
Museus- um espaço de aprendizagem, nº2: Associação “O Direito de Aprender”;
MINEIRO, Clara (2007). Mas as Peças Falam por Si? in Museologia.pt, nº1: Instituto
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SILVA, Susana Gomes da (2001a). Museus, Cultura e Sociedade: novos desafios, novas
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Actividades Culturais;