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Moinho de Maré do Cais – Reflexões para a sua Musealização

Micaela Casaca Sécio

RESUMO
O presente artigo é uma proposta de reflexão para uma intervenção museológica
num moinho de maré do concelho de Montijo – Moinho de Maré do Cais.
A perspectiva museológica apresentada baseia-se nas correntes da Museologia
Social, com ênfase na comunicação e na dimensão educativa.

ABSTRACT
This article is a proposal of a refleccion for a museological intervention in a tide
mill of Montijo Council – Moinho de Maré do Cais.
The museological perspective is sustained by the theories of Social Museology
emphasised in comunication and in the educacional dimension.

INTRODUÇÃO
O Moinho de Maré do Cais, integrado na Zona Ribeirinha de Montijo, é uma
prova da preocupação que o Município de Montijo demonstra na preservação e
conservação do seu património.

Fig. 1 – Moinho de Maré do Cais

Situada na Margem Sul do Tejo, tendo como paisagem o Estuário do Tejo,


Montijo apresenta características de uma Zona Ribeirinha, com ligações estreitas ao
Rio. Com a intenção de virar a cidade para o Rio e requalificar a Frente Ribeirinha, o
Município de Montijo desenvolveu uma estratégica global denominada Plano
Estruturante - Zona Ribeirinha da Cidade de Montijo. Este plano pretende a
requalificação do tecido urbano, tradicionalmente designado centro da cidade, com uma
forte componente ambiental determinante para a obtenção das condições de melhoria da
qualidade do ambiente urbano, ao mesmo tempo que se intervém na valorização de toda
a frente do rio.
A recuperação do Moinho de Maré do Cais insere-se neste Plano Estruturante,
onde na sua Ficha de Projecto 4.6, se refere a sua recuperação e reutilização, tendo por
objectivos “Recuperar o moinho de maré e todo o sistema de retenção e de circulação
de água que lhe está associado, assim como estabilizar os muros de protecção e
recuperar os percursos de acesso ao moinho. Visa-se promover a sua reutilização como
equipamento cultural, realçando a rica herança cultural de Montijo associada às
actividades ribeirinhas, e paralelamente constituir um pólo de interpretação ambiental
da zona e oferecer apoio a percursos de peões na zona natural”
(DCEA/FCT/UNL,2000,53 )
A preocupação com a requalificação do tecido urbano prende-se com a
salvaguarda da sua Zona Ribeirinha Urbana, área de grande potencial paisagístico.
Assim, com duas fases de execução terminadas (a requalificação do Moinho de Maré do
Cais e a Zona Pedonal situada entre o Moinho e o Cais dos Vapores), o objectivo é
alterar a “imagem” da cidade, não só pela requalificação da própria área de intervenção,
como também pela valorização dos espaços construídos, no qual se insere o moinho de
maré.

Fig. 2 – Moinho de Maré e


Zona Pedonal

Pretende-se, pois, a valorização do património existente e, consequentemente,


potenciar a criação de novo património como forma de assegurar uma dinâmica de
identidade, motor de consolidação afectiva e enraizamento cultural da população
metropolitana.
Um património como o Moinho de Maré do Cais pode ser catalizador desse
enraizamento cultural, pois a sua salvaguarda só interessa se existir uma aposta num
critério de reutilização; qualquer preservação deve ser um acto do presente e não do
passado, para, assim, conseguir ser rentabilizada a favor da comunidade a que pertence.
A perspectiva que se deve defender para este património prende-se com a aprendizagem
e troca de experiências, potenciando actividades que podem contribuir para um processo
de aculturação dos novos habitantes e para desenvolver laços de pertença entre estes e a
sua localidade de acolhimento.

IMPORTÂNCIA MUSEOLÓGICA
O presente moinho de maré, com a reprodução do ambiente original de
funcionamento é, actualmente, um pólo importante de atracção turística com uma
componente muito forte de prestação de serviços. Com um período muito curto de
abertura o Moinho de Maré do Cais tornou-se um sítio de referência e notoriedade, os
utilizadores têm vindo a aumentar e estes procuram diferentes formas de conhecer mais
sobre esta realidade.
O “Saber Fazer” que este tipo de indicador de memória transmite a várias
gerações assume um papel onde se constata que a cultura representativa de uma
comunidade é, realmente, o que assegura as bases sólidas para um processo de
desenvolvimento sustentável.
O Moinho de Maré do Cais é, inquestionavelmente, um testemunho da
identidade Montijense, que interliga o passado e o presente, perpetuando-se na memória
colectiva da sua comunidade. A utilização da memória colectiva é um referencial básico
para o entendimento e a transformação da realidade, existe o reconhecimento das
identidades e das culturas de todas as sociedades, com o incentivo à apropriação do
património, para que se possa viver a identidade pluralmente.
Sendo assim, a sua protecção pressupõe uma devolução à sociedade, pois deve
haver a consciência que a salvaguarda deste tipo de bem patrimonial deve ser
direccionado para a população.
A musealização de um espaço como este moinho deverá ser integrada no âmbito
da musealização in situ, constituindo uma unidade museológica (integrada no Museu
Municipal de Montijo) que seja capaz de responder à diversidade e à mudança, com
uma oferta de actividades próxima das comunidades envolventes. Assim, poderá tornar-
se um espaço museológico “(…) interactivo, flexível e interveniente, onde a
aprendizagem se processe de forma dialogante e duradoura (…) ” (Silva,2001,135)
estando próximo das populações correspondendo às suas exigências.
A preservação deste património in situ e a sua consequente musealização pode
cumprir vários propósitos, onde práticas diferentes e diversos participantes se podem
encontrar e construir aprendizagens comuns. A este tipo de musealização é atribuída a
função de pólo cultural e intelectual que dinamiza a vida das populações, sendo esta
também a função primordial dos museus locais, pois são descentralizados e estão
próximos das populações.
Tal como nos indica Judite Primo, “(…) Uma vez considerados patrimónios e
musealizados no seu local de origem, esses objectos também estão passíveis das demais
acções museológicas que são a preservação, a investigação, a comunicação e a sua
utilização como elemento educativo. Assim, a musealização in situ não pode ser
considerada uma acção isolada, mas sim uma acção museológica integrada nas demais
acções básicas que caracterizam a instituição museológica (...)”(Primo,2000,47).
Sendo assim, este património deve ser olhado com uma visão global, ou seja
relacionar o homem - o meio ambiente - o saber e o artefato, obtendo assim, uma
perspectiva global onde o cultural, natural, material e imaterial, se relacionam nas suas
dimensões de tempo e espaço.
A perspectiva de musealização que defendemos para o Moinho de Maré do Cais,
pressupõe esta perspectiva global, a comunicação com a comunidade, tendo como
objecto de estudo os bens patrimoniais, as referências culturais, os indicadores de
memória e a forma como a sociedade se relaciona com os seus bens patrimoniais, cada
pessoa olha para o mesmo objecto / património de forma diferente.
Potenciando a relação da comunidade com o moinho, assume-se uma visão
museológica baseada na Função Social do museu, tendo em conta que a Museologia, tal
como é vista actualmente, deve ter uma intervenção activa nos processos de
transformação social, económica e cultural, assim, o objectivo do museu deve ser
informar estando ao serviço da sociedade. Este museu deve ser integrado, estimulando
em cada comunidade uma vontade de acção.
Este tipo de preocupações têm vindo a ser debatidas e desenvolvidas desde o
Seminário de Santiago do Chile em 1972. Desde essa altura, a instituição museológica
passa a ser entendida como um instrumento de mudança social e um instrumento para o
desenvolvimento sustentável, destinada a proporcionar à comunidade local uma visão
de conjunto do seu meio material e cultural.
A comunicação de um museu com os seus públicos, que consiste num dos eixos
mais importantes de Museologia actual, foi introduzida apenas em 1992, no Seminário
de Caracas; assim, a par das funções de salvaguarda, educativa e social, entra a função
de comunicação.
A musealização de um espaço com as característica do Moinho de Maré do Cais
deve apostar na comunicação como via privilegiada para a sua preservação, pois tendo
por base a investigação, as exposições e as acções educativas que se podem realizar em
torno deste património, é o caminho mais eficaz para a sua divulgação e,
consequentemente, para a divulgação do património de Montijo.

PERSPECTIVA EDUCATIVA
A abertura do museu ao meio e a sua relação com o contexto social torna-o uma
instituição activa, interveniente na sociedade. A função educativa dos museus, que tem
vindo a ser aceite desde a década de 50 do século XX (1952 – Seminário Internacional I
Estágio de Estudos Internacional – Sobre o Papel dos museus na Educação) torna-se
uma das questões prioritárias do “Novo Museu”. A partir deste momento o museu
assume-se como um local de educação tendo vindo a ser pensado à luz da evolução das
concepções de educação e das transformações sociais.
Pelo seu carácter de educação não formal e informal, o museu é um espaço
privilegiado para que o conhecimento crítico ocorra. No mundo actual globalizado, a
instituição museal tem um papel importante na educação para a cidadania e na defesa do
património e memórias locais, aproximando crianças, jovens e adultos daquilo que lhes
está mais próximo.
A crescente preocupação e alerta para o facto do museu ser um espaço
privilegiado de educação, leva psicólogos, educadores, pedagogos e profissionais de
museus a considerarem os museus “(...) como instituições educativas de primeira linha.
Como resultado, a instituição museológica tem sido cada vez mais valorizada como um
espaço privilegiado de aprendizagem informal. (...)” (Silva,2001,112).
Como espaço museológico, o Moinho de Maré do Cais insere-se dentro deste
contexto educacional. Assim, assumindo este carácter, a sua dimensão educativa deve ir
para além das tradicionais visitas guiadas e do apoio a grupos escolares. A instituição
deve criar situações onde o visitante se encontre no centro das atenções, as motivações e
os interesses dos visitantes devem ser importantes para a actividade dos seus
profissionais.

Fig. 3 – Jogo Didáctico no


Moinho de Maré do Cais

O programa educativo deste moinho deverá ser abrangente, tendo em conta


vários tipos de audiência, tornando-se numa unidade museológica inclusiva, com um
papel cultural relevante na sociedade montijense, pois será potenciador de integração de
públicos que, normalmente, não se revêem num museu.
Assim, este programa educativo deverá ser promotor de uma experiência global,
onde o seu ambiente provoque, no visitante, uma experiência multi-sensorial (visual,
táctil, auditiva) e vivencial (Silva,2001a,114). Vários factores se conjugam para que
essa meta seja atingida, para além do ambiente, também o acolhimento por parte dos
profissionais, a disponibilização de diferentes actividades adequadas ao teor da visita, a
informação fornecida, a existência de espaços de lazer nas proximidades e uma pequena
loja, também são factores a ter em conta, pois, contrariando algumas ideias pré-
concebidas, mas potenciando o novo museu do século XXI, estes factores também se
enquadram dentro das expectativas do actual visitante de museus e/ou unidades
museais.

Fig. 4 – Colocação da
moenda a funcionar
Neste âmbito têm vindo a ser desenvolvidas várias actividades pedagógicas,
onde se elaborou uma estratégia pedagógica que teve como objectivos suscitar o
interesse pelo património local, contribuir para o desenvolvimento social, cultural,
cognitivo e afectivo do indivíduo, numa perspectiva de educação para a cidadania.
Esta estratégia prende-se com a explicação do próprio moinho e do seu
funcionamento, havendo a preocupação de aplicar metodologias activas, nomeadamente
com o público mais jovem. É dentro deste âmbito que está a ser desenvolvido um CD
interactivo, direccionado ao público infantil, pela ETNOIDEIA.
Privilegia-se a comunicação, pois esta é uma via para a pedagogia museológica,
tendo como objecto de estudo o bem patrimonial, com as referências culturais e os seus
indicadores de memória. Tenta-se perceber a forma como a sociedade se relaciona com
os seus bens patrimoniais, cada pessoa olha para este moinho de forma diferente,
conforme as suas experiências.

Fig. 5 – Perspectiva de
uma visita turística

Através de acções educativas eficazes, os museus deixam de ser casas que


apenas se preocupam com a conservação e preservação dos objectos e começam a ser
fonte de criatividade, onde o passado e o presente se encontram para que se projecte o
futuro.
As actividades educativas devem promover a colocação do bem patrimonial no
centro da acção, onde a comunidade reconhece a sua própria identidade,
proporcionando ao Moinho de Maré do Cais um caminho próprio para comunicar com
as suas audiências. Este assumirá a sua estratégia comunicativa com os seus visitantes
de uma forma educativa, privilegiando a sua função social, interagindo com a sua
comunidade numa perspectiva de educação para a cidadania.
CONCLUSÃO
Por todas as razões apresentadas, este espaço museal, dado as suas
características, pode vir a ser um elo de ligação, não só entre gerações, mas também
entre os indivíduos que conhecem o moinho e os que desconhecem esse património.
Muitos autores, incluindo Hugues de Varine, defendem que não existem modelos
pré definidos de museu, assim cada museu ou unidade museológica tem que ser definida
e organizada conforme a sua especificidade, tal como nos evidencia Leonor Carvalho
(citando Cameron, 1992) “(...) cada museu tem de ser olhado no seu contexto e não
como uma variante local de um modelo universal. Isto porque cada Unidade
Museológica tem sentido como reflexo e utensílio de uma comunidade específica, logo
é, necessariamente uma entidade única e irrepetível” (Carvalho,2002,180).
Uma musealização assente nas ideias aqui defendidas transformará o Moinho de
Maré do Cais numa entidade única e irrepetível, que consegue congregar diversas
variáveis, cujo programa seja um processo dinâmico, perspectivando iniciativas
devidamente planeadas e tipificadas para que consiga atingir a sua missão.
As potencialidades deste património, que se perpetua pela memória colectiva dos
montijenses, constitui um valor acrescentado para o desenvolvimento da sociedade em
que está inserido, podendo ser um veículo para afirmar a própria localidade e promover
o turismo cultural.
O Moinho de Maré do Cais, em Montijo, revela a importância da história local
na construção de mais e melhores cidadãos, assim a valorização de patrimónios locais,
como o moinho em causa e a sua musealização é uma forma de transmitir a educação
local própria de cada comunidade, fazendo desta um acto de cidadania, integrada num
processo dinâmico, potenciando o desenvolvimento local.

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