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“PRÊMIO PROFESSORES DO BRASIL – 3ª EDIÇÃO”

SÉRIES/ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

GIBITECA NA ESCOLA (MG)


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SUMÁRIO

1 – Projeto Gibiteca na escola 03

2 – Objetivos da experiência 04

3 – O gibi e o estímulo à leitura – descrição da experiência 05

4 – Contextualização 08

5 – Justificativa 09

6 – Resultados 13

7 – Avaliação 14

8 - Anexos
8.1 – Fotos 15
8.2 - Notícias na internet 22
8.3 - Reportagens publicadas em jornais e revistas 26
8.4 - Textos apresentados em congressos e publicados em revistas, 30
fruto do trabalho realizado com quadrinhos.
8.5 – CD-Room do I Seminário sobre Quadrinhos, Leitura e Ensino
(cópia)
8.6 – DVD do II Seminário sobre Quadrinhos, Leitura e Ensino (cópia)
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1 – Projeto Gibiteca na escola

A idéia de montar uma gibiteca na escola e transformá-la em um grande projeto


interdisciplinar nasceu no segundo semestre de 2006, na Escola Municipal Judith
Lintz Guedes Machado, que se localiza na periferia da cidade de Leopoldina (MG).
Uma gibiteca é um espaço destinado ao armazenamento e divulgação de Histórias
em Quadrinhos, que pode ser público ou não. Nas gibitecas, os leitores têm acesso
a uma enorme variedade de quadrinhos (terror, ficção científica, humor, aventura,
etc.) e nelas esse tipo de material literário pode receber um tratamento apropriado,
que inclui a conservação de exemplares, de publicação recente, ou aqueles
considerados raros.

Na Gibiteca Escolar, alunos e professores têm acesso a um acervo diversificado de


HQ’s (como chamamos as revistas de Histórias em Quadrinhos). Os alunos e
professores podem fazer empréstimos de HQ’s ou mesmo usar o local como espaço
para leitura. Assim como os alunos, os professores são incentivados a ler mais: o
professor leitor estimula o aluno a ler.

No Projeto Gibiteca na Escola, estamos trabalhando todos os conteúdos. Partimos


da idéia de que se pode utilizar HQs em todas as aulas, em todas as séries,
independente da idade do aluno. Os professores são estimulados a conhecerem
cada vez mais o universo dos quadrinhos para que, desta forma, eles possam
compreender melhor o próprio universo dos seus alunos/leitores e, ao mesmo
tempo, ter mais segurança para usar este material na sala de aula. O Projeto
Gibiteca também trabalha positivamente a auto-estima de professores e alunos,
mostrando que mesmo escolas com poucos recursos podem oferecer grandes
oportunidades e estimular todos a sonharem com um futuro bem mais promissor.

Ter uma gibiteca numa sala de aula não é uma novidade, mas ter uma gibiteca em
uma escola, com espaço próprio e com autonomia para desenvolver pequenos
projetos escolares é o que faz do nosso empreendimento um diferencial, tanto na
escola, quanto na nossa cidade. Temos um acervo variado, com cerca de 3300
exemplares, superando acervos existentes em bibliotecas e gibitecas públicas de
outras partes do Brasil.
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2 – Objetivos da experiência

Nosso projeto começou com um objetivo bem simples: estimular a leitura entre os
alunos do Ensino Fundamental.

Com o tempo, outros objetivos foram sendo incorporados, dada à proporção que o
projeto alcançou:

● formar leitores críticos e criativos;


● promover atividades escolares relacionadas à leitura e ao ensino, destinadas aos
alunos e professores da escola e da rede municipal de ensino;
● promover o voluntariado entre os membros da comunidade escolar;
● divulgar os trabalhos desenvolvidos na escola, intermediados ou promovidos pela
gibiteca.
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3 – O gibi e o estímulo à aprendizagem – descrição da experiência

A Gibiteca foi inaugurada em 11 de maio de 2007, mas, mesmo antes da


inauguração, professores e alunos já estavam envolvidos no projeto. Foi graças ao
trabalho voluntário dos alunos que foi possível preparar o espaço. Os nossos alunos
do 9º ano ajudaram a limpar a sala onde foi instalada, até então um depósito de
livros velhos e mobiliário quebrado. Na sala limpa e com prateleiras montadas, eles
ajudaram na separação e seleção das revistas em quadrinhos que foram doadas
para nossa escola.

Os doadores de HQs foram colecionadores de várias cidades, como Rio de Janeiro,


São Paulo, Juiz de Fora e, claro, de Leopoldina. Editoras, como a Pixel e a Escala
Educacional, também acreditaram e investiram na nossa idéia. O acervo inicial
contava com 1387 revistas. Hoje, continuamos recebendo doações de várias fontes
diferentes, mas há um interesse maior da comunidade, e os próprios alunos, mesmo
sem poder de compra – somos uma comunidade carente – conseguem doações.
Tudo é aproveitado. Fazemos capas novas, transformamos pedaços de revistas em
revistas inteiras e aquilo que não pode ser reformado é usado pelos nossos
professores das séries iniciais para trabalhinhos com os alunos menores.

A gibiteca atende a toda a escola, mas tem seu trabalho voltado especialmente para
as séries avançadas do ensino fundamental. A justificativa para isto é bem simples:
os professores das séries iniciais já usam quadrinhos. Nas séries avançadas, os
quadrinhos não eram explorados, algumas vezes por preconceito, outras por
desinformação. Os alunos do 8º e 9º ano já não tinham mais tanto interesse por este
ou qualquer outro tipo de leitura. Então, quebrar esta resistência se tornou uma
forma de ampliar as possibilidades de trabalho dentro da escola.

Envolvemos os alunos mais velhos no trabalho de voluntariado. Em turnos


alternados, eles vão à escola, ajudam a organizar os empréstimos e fazem trabalhos
com alunos menores, das séries iniciais e da educação infantil. Eles aprendem e
passam seu conhecimento para os menores. São, também, exemplos para seus
colegas. Notamos que estes alunos envolvidos com o voluntariado têm tido um
rendimento melhor na escola e começaram a fazer planos para seu futuro, como
pensar fazer o ensino médio e um curso universitário. Eles também passaram a ler
mais e a produzir contos, roteiros e, em breve, teremos nossas primeiras revistas em
quadrinhos amadoras (fanzines).

O interesse em desenvolver atividades com quadrinhos aumentou com a realização


do nosso I Seminário sobre Quadrinhos, Leitura e ensino, em maio de 2007, uma
semana depois da inauguração da Gibiteca. O Seminário foi promovido graças ao
apoio da Secretaria Municipal de Educação e contou com a presença de 230
professores. Após o seminário, o número de professores interessados em
desenvolver atividades com quadrinhos aumentou consideravelmente.

No ano de 2008, em junho, fizemos um II Seminário, com número de 260


professores. Estas iniciativas da gibiteca tiveram apoio dos professores, que
passaram a ter na Gibiteca um diferencial para nossa escola. Com efeito, a auto-
estima dos professores aumentou, assim com a de nossos alunos.

Também desenvolvemos oficina de quadrinhos com alunos e professores. As


oficinas para professores foram feitas na própria gibiteca por mim (coordenadora do
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projeto). Já as oficinas para os alunos foram realizadas em horários alternados
(extra-turno), e ministradas por um quadrinista, em trabalho voluntário. Para os
alunos foram disponibilizadas 40 vagas, sendo todas preenchidas.

Entre os professores, tivemos várias experiências com quadrinhos que deram certo.
A professora Roseane Peres Rocha decidiu tornar as avaliações de matemática
mais interessantes para os alunos da 6º ano do Ensino Fundamental. Ela utiliza
tirinhas da Turma da Mônica para montar problemas matemáticos desafiando os
alunos a fazerem o mesmo. Para a professora, o uso dos quadrinhos nas atividades
desperta a atenção dos alunos que, inclusive, preocupam-se com pequenos
detalhes quando preenchem os balões: "Eles colocam a fala errada do Cebolinha e
sublinham as palavras que estão erradas”.

Uma vez que os resultados foram positivos, a professora tem se interessado em


buscar outras formas de usar quadrinhos no ensino da matemática. Para isso, uma
ferramenta importante está sendo a Internet, onde ela recolhe o material que usa
para montar suas avaliações.

Outra professora que investiu nos quadrinhos foi Mary Ângela Carraro Dibo, que
trabalha com a disciplina língua portuguesa. Preocupada com os péssimos
resultados dos alunos do 7º ano, nas primeiras avaliações do 2º bimestre de 2007 –
notadamente erros de ortografia e interpretação – a professora decidiu mudar a
rotina das suas aulas. Uma vez por semana, dividia os alunos em dois grupos. Uma
metade fica na biblioteca e a outra é encaminhada à Gibiteca, sendo que em cada
semana os grupos se alternam. Lá os alunos faziam uma aula de leitura livre. O
resultado foi uma melhora no desempenho dos alunos nas aulas e nas avaliações.

A professora já trabalhava com quadrinhos em suas aulas, na forma de atividades.


Usando tirinhas do Snoopy – personagem de Charles Schulz –, ela propõe
exercícios que misturam desde questões gramaticais à interpretação. Em 2008, Dibo
continua investindo nos momentos de leitura na Gibiteca, agora com alunos do EJA
(educação para Jovens e Adultos) que freqüentam o turno da noite na escola. Na
primeira experiência este ano com os alunos do noturno, a professora relatou em um
bilhete deixado no mural da Gibiteca que "os alunos pareciam crianças num parque
de diversões (tipo Beto Carreiro). A Natalina ajeitou-se na maior almofada. O Átila
ficou esticado no tapete, ora lendo, ora admirando as pinturas. Foi emocionante!”

Outra disciplina que está se interessando pelos quadrinhos é a educação física. A


professora Milene Guerra Basile Chavier está produzindo material didático para
alunos de 6º a 9º anos utilizando HQ´s. A educação física é uma disciplina que
envolve esporte e atividades lúdicas. O tema Olimpíadas, por exemplo, trabalhamos
em parceria. Eu – nas aulas de história – montei uma apostila onde contava a
história das olimpíadas usando os quadrinhos como referência; ela usou os
quadrinhos da turma da Mônica para trabalhar as diversas modalidades esportivas.

Nas aulas de ciências e de geografia, os professores estão fazendo pequenas


oficinas de quadrinhos para trabalhar temas diversos, como meio-ambiente,
formações geológicas, etc. Para divulgar o trabalho que estamos fazendo, criamos
um blog (www.gibitecacom.blogspot.com), que de março de 2007 a setembro de
2008, recebeu mais de 64 mil visitantes, do Brasil e de vários outros países
(notadamente países africanos, Portugal, França, Japão, Estados Unidos e França).
No blog, nós divulgamos as experiências com leitura realizadas na escola, eventos
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relacionados à leitura, educação e quadrinhos, textos e dicas sobre como usar
quadrinhos na sala de aula. O blog é importante para divulgar nossas idéias e
também nos permite efetuar intercâmbio com outros profissionais, espalhados por
todo o Brasil.

Muito além da leitura, muito mais do que um espaço físico, com prateleiras e caixas
cheias de revistas em quadrinhos, a Gibiteca representa uma mudança de
mentalidade, uma mudança na forma de se elaborar avaliações, de preparar aulas,
de trabalhar em equipe. O projeto gibiteca tem estimulado professores a
compartilharem saberes, a dividirem idéias e a se valorizarem enquanto profissionais
do ensino. A cada artigo publicado, a cada comentário feito em rádio ou jornal
impresso sobre o projeto, mais os professores se sentem sujeitos do processo
educativo, mais ativos, mais valorizados.
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4 –Contextualização

A Escola Municipal Judith Lintz Guedes Machado localiza-se no Bairro Bela Vista, na
cidade de Leopoldina, Minas Gerais. Trata-se de um bairro de periferia onde
encontramos muitas famílias com baixa renda, sendo comum o número de filhos
ultrapassar o número de quatro crianças.

Nossa escola é uma escola com poucos recursos e onde o problema da leitura e da
escrita é muito grave. Nossos alunos vêm de realidades diversas, muitos de famílias
desestruturadas, pobres e sem condições de ter livros ou mesmo revistas em
quadrinhos em casa. Alguns vêm da zona rural e não têm acesso à biblioteca.
Incentivar a leitura na escola é uma forma de não excluí-los.

Muitos destes alunos vivem em risco social, vêm de famílias desestruturadas e


necessitam de uma atenção maior dos professores. Nossos professores fazem, por
vezes, o papel de um assistente social. Mães, pais, tios e avós de nossos alunos
nos procuram em busca de apoio emocional. Por mais de uma vez a escola se uniu
para arrecadar alimentos para famílias de alunos que passavam por momentos de
necessidade.

Nossa aposta nos quadrinhos como forma de introduzir a leitura e de ajudar na


aprendizagem dos diversos conteúdos escolares é uma resposta às dificuldades que
o ensino atravessa atualmente. A Gibiteca é a nossa resposta, também, às
dificuldade enfrentadas no meio social em que a escola está inserida.

Mas mesmo com pouco espaço e com o prédio necessitando de reparos, o projeto
de se criar uma gibiteca foi muito bem aceito pelos professores da nossa escola. É
claro, alguns se sentiram incomodados em ter que rever alguns de seus hábitos
antigos de ensino; outros sentiram-se motivados e desafiados. O importante é que o
projeto trouxe algo de novo: uma maior participação da comunidade escolar. Alunos,
professores e pais de alunos entendem a gibiteca como um ganho, uma vitória para
a comunidade. A gibiteca se tornou um ambiente de inclusão.

A escola pública não exclui por incompetência intelectual, mas porque faz parte da
sua constituição. Nossa escola foi concebida como um instrumento de força, de
poder pelas nossas elites. Talvez não possamos nunca romper totalmente com esse
paradigma, mas creio que podemos fazer da escola igualmente um espaço de
reação, através de um ensino voltado para o desenvolvimento e valorização do
indivíduo, do sujeito histórico. É possível transformar, mudar esse quadro de
exclusão ou, na pior das hipóteses, tentar minimizá-lo. Acreditamos que a leitura é
uma ponte para esta transformação.
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5 – Justificativa

Há algum tempo, o papel do professor das séries finais do ensino fundamental era
limitado a desenvolver o conteúdo com o qual trabalhava na sala de aula – história,
geografia, matemática, ciências, etc. –, sem se preocupar com algo fundamental: a
leitura e a interpretação. Estas eram habilidades que deveriam se desenvolvidas tão
somente nas aulas de português e literatura. No entanto, temos hoje uma realidade
muito mais complexa: nossas crianças e jovens lêem pouco e geralmente são
incapazes de compreender o que estão lendo.

Estimular a leitura e a escrita é a melhor forma de se obter bons resultados no


ensino. Saber ler e escrever não é simplesmente o ato mecânico de juntar sílabas e
emitir sons. A leitura é uma atividade complexa que exige do leitor a capacidade de
interpretar o texto; de identificar e compreender o contexto no qual ele está inserido;
de identificar idéias e signos nele contidos.

Entendemos que a leitura é a chave para o desenvolvimento do aluno na escola.


Através da leitura, ele aprende a interpretar melhor o mundo em que vive e a
despertar a imaginação e a criatividade. Um aluno/leitor compreende melhor os
conceitos abstratos com os quais tem que lidar na sala de aula. Esta habilidade deve
ser desenvolvida durante todo o Ensino Fundamental e mesmo no Ensino Médio.

As HQ’s são capazes de promover a interdisciplinaridade entre os diversos


conteúdos curriculares, ajudam a promover a prática da leitura e aproximam as
crianças de outros tipos de arte, como as artes plásticas, o teatro e a música, além,
é claro, de serem importantes no processo de alfabetização. As histórias em
quadrinhos são, portanto, uma excelente fonte de trabalho e pesquisa para todos os
educadores. As histórias em quadrinhos possuem potencialidade pedagógica
especial e podem dar suporte a novas modalidades educativas, podendo ser
aproveitadas nas aulas de Língua Portuguesa, História, Geografia, Matemática,
Ciências, Arte, de maneira interdisciplinar, fazendo com que o aprendizado se torne,
ao mesmo tempo, mais reflexivo e prazeroso em nossas salas de aula.

Embora não sejam consideradas por alguns especialistas uma forma de literatura,
as HQs são um tipo de leitura que se popularizou no Brasil e em todo o mundo no
último século. A comunhão entre imagem e texto torna sua leitura mais agradável,
além de ajudar as crianças, e mesmo os leitores mais velhos, a desenvolverem
habilidades de interpretação bem avançadas, uma vez que não se interpreta apenas
os símbolos gráficos, mas também as imagens. Outra vantagem das HQs é o fato de
poderem ser adaptadas a todos os conteúdos, mesmo aqueles aparentemente
improváveis, como matemática, física ou química.

O hábito da leitura de quadrinhos, além de ser saudável, pode estimular o prazer


pela leitura. Em geral são os maus leitores que criticam as histórias em quadrinhos.
Segundo DJota Carvalho, várias pesquisas sobre a relação entre quadrinhos e
educação já foram realizadas. Uma delas encomendada pela Confederação
Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), em 2001, comprovou que:
“... alunos que lêem gibis têm melhor desempenho escolar do que aqueles
que usam apenas o livro didático – entre os estudantes da 4ª série da rede
pública, a HQ aumenta significativamente a performance do aluno: entre os
que acompanham quadrinhos, o percentual das melhores notas nas provas
10
aplicadas foi de 17,1%, contra 9,9% entre os que não lêem. Mais ainda, esta
pesquisa mostra que professores que lêem revistas em quadrinhos obtêm
melhor rendimento dos alunos, pois conhecem melhor o universo dos
estudantes e se aproximam deles usando exemplos deste universo como
paradigma para as aulas. A pesquisa mostra , entre outras coisas, que , entre
os alunos da 4ª série cujos professores lêem HQs, a proficiência em leitura é
mais alta do que entre aqueles cujos professores não têm o hábito de ler gibis.
Na rede pública, 36% dos alunos de leitores de gibis têm proficiência média
alta e alta, contra 31,5% dos que não lêem.”1
A existência de uma gibiteca na escola permite que os professores possam ter
acesso a uma gama diversificada de material, em quadrinhos. Possuímos não
apenas quadrinhos populares, como de super-heróis, Turma da Mônica, Disney, etc.
Nosso acervo tem raridade das décadas de 1960 e 1970, além de adaptações de
obras literárias, como livros de Machado de Assis, Aloísio de Azevedo, Lima Barreto
e clássicos da literatura mundial, como a Odisséia e Dom Quixote. Temos uma boa
quantidade de revistas em quadrinhos em inglês, que são usadas pelos nossos
professores para facilitar a aprendizagem deste idioma. Com estes quadrinhos, eles
têm incontáveis possibilidades de trabalho, em vários conteúdos, podendo, inclusive,
desenvolverem tarefas interdisciplinares.

O próprio Ministério da Educação incentiva a formação de gibitecas e a leitura de


HQs nas escolas, prova disto é que, em 2007, cerca de 7,5 milhões de livros de HQs
foram distribuídos pelo MEC, através do Programa Nacional de Biblioteca na Escola
(PNBE), em escolas públicas. Para 2008, novos títulos estão sendo escolhidos para
terem o mesmo destino: as escolas públicas. O PNBE - Programa Nacional
Biblioteca da Escola, que desde 1997 incentiva a leitura e o acesso à cultura por
meio da aquisição de diversas obras publicadas Brasil afora.

Ao incluir livros em quadrinhos e de imagens no PNBE, o MEC está oferecendo aos


estudantes a opção de outras formas gráficas para se contar uma história. O jovem
de hoje é muito ligado ao visual e as histórias em quadrinhos são atraentes pelos
desenhos e pela liberdade de criação. Os quadrinhos, do ponto de vista do governo,
são vistos como uma ferramenta mais atraente para estimular a leitura.2

Reproduzindo contextos da realidade e valores culturais, são as histórias em


quadrinhos que oferecem a oportunidade para as crianças, desde cedo, ampliarem
seus conhecimentos sobre o mundo, aumentando sua criatividade e aguçando sua
imaginação. As HQ e as tirinhas tornam o ensino mais lúdico e menos árido. De
acordo com Octavio Aragão, os gibis não servem apenas como introdução à leitura.

Os leitores de quadrinhos tendem a desenvolver uma percepção mais


aguçada e uma associação de informações complementares com maior
eficiência e rapidez, pelo fato de cruzarem referenciais e códigos de
fontes diferentes em apenas um contexto. O leitor aprimora a acuidade
visual e estabelece rápida associação de idéias 3.

1
CARVALHO, DJota. A educação está no gibi. Campinas/SP: Papirus, 2006. p. 38-39.
2
Disponível em: http://gibitecacom.blogspot.com/2007/09/mec-prepara-nova-remessa-de-
quadrinhos.html, capturado em 30 de setembro de 2007.
3
Disponível em: http://www.jornal.ufrj.br/jornais/jornal26/jornalUFRJ2622.pdf, capturado em: 04 de
agosto de 2007.
11
Um outro ponto positivo para os quadrinhos é que sua leitura pode ser realizada de
uma forma diferente da do livro. Há uma grande probabilidade de que uma HQ seja
lida e relida várias vezes. Esta releitura geralmente obedece a ritmos diferentes,
tornando-se, em geral, mais lenta e presa aos detalhes.
O estudante deve aprender a trabalhar as informações que adquire através da
leitura. Usar os quadrinhos como uma forma de expressão do aluno que, desafiado
a exercitar sua capacidade criativa, acaba por criar seu próprio conhecimento. As
HQ’s ajudam os estudantes a compreender melhor o conteúdo estudado em sala de
aula. A informação, quando transformada em História em quadrinhos, é
compreendida numa velocidade maior, tanto que é cada vez mais freqüente o uso de
tirinhas ou fragmentos de histórias em quadrinhos em livros didáticos.

As Histórias em Quadrinhos são indicadas como ferramentas


didáticas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (BRASIL,
2001), constituindo uma forma lúdica de estimular e aprimorar a
formação das crianças, pelo fato de ser uma mídia com
características únicas que mesclam imagens, textos, a interação
entre esses elementos e, sobretudo, a interação com o leitor, que
não precisa, necessariamente, ser hábil em leitura para ser atingido
por elas. Isso provavelmente se dá porque as Histórias em
Quadrinhos utilizam símbolos convencionais para expressar
sentimentos, efeitos de ações e emoções.4

É claro que os problemas do ensino não vão se resolver com o uso dos quadrinhos.
O trabalho com a leitura é gradativo e se dá um passo de cada vez. Cada aluno tem
seu tempo de aprender e não são as necessidades ou as imposições de metas que
irão mudar isto. No entanto, este aprendizado pode receber um estímulo a mais
através dos quadrinhos. Citando Cabrini:

“Não temos uma fórmula mágica, uma solução pronta sobre o


conteúdo a ensinar, mas sim uma proposta de como trabalhá-lo. O
conteúdo que você irá desenvolver na sua classe, ou seja, o seu
objetivo de estudo, só pode ser determinado por você, em sua
atividade profissional concreta, a partir dos dados da realidade da
sua escola, seu período letivo, seus alunos...”5

A Gibiteca é um apoio para o professor que deseja diversificar as suas aulas. Ela
não garante por si só o êxito do aluno, mas ela fornece a ele a possibilidade de
ampliar seus horizontes e de desenvolver sua capacidade de ler. Por outro lado, ela
também age diretamente na auto-estima dos professores. Eles passam a dar mais
valor ao seu trabalho e a se sentirem também valorizados. O professor redescobre o
prazer da leitura e, também, o prazer de ser um profissional do ensino, um educador.

No mais, nosso projeto se justifica a partir do momento em que representa uma


busca por um ensino de mais qualidade, através do incentivo à leitura, que começa
pelos quadrinhos e que pode ajudar nossos alunos, dos mais jovens aos mais
velhos a descobrir o caminho das bibliotecas. Grandes figuras da nossa história,

4
SANTOS, G.M.M. et al. Desenvolvimento de Histórias em Quadrinhos, uma importante ferramenta
didático-pedagógica em ações de Educação Ambiental. In: FÓRUM BRASIILEIRO DE EDUCACAO
AMBIENTAL, 5., 2004, Goiânia. Resumos... Goiânia: UFG, 2004.
5
CABRINI, Conceição et alii. O Ensino de História: revisão urgente. 5. ed. São Paulo: Brasiliense,
1994, p.32
12
como Rui Barbosa e Gilberto Freire, só para citar alguns, foram ávidos leitores de
quadrinhos e os defendiam como uma forma saudável de leitura e como formadora
de bens leitores.
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6 – Resultados

De maio de 2007, quando a gibiteca foi oficialmente inaugurada, até setembro de


2008, verificamos muitas mudanças na escola e na forma como nossos professores
começaram a planejar suas aulas. A Gibiteca proporcionou a eles novas
perspectivas de trabalho.

Nossos alunos passaram a ter mais interesse pela leitura e nos cobram,
constantemente, o direito de pegar mais gibis emprestados, de ficar mais tempo na
gibiteca. De uma forma geral, podemos citar como alguns dos resultados desta
experiência de trabalho:

- o uso dos quadrinhos deslocou-se das aulas de língua portuguesa para outros
conteúdos: professores de matemática, ciência, geografia e inglês passaram a
utilizar quadrinhos e reconhecem que eles prendem mais atenção dos alunos e
ajuda na sua aprendizagem;

- O número de alunos que procura a gibiteca para empréstimo de revistas em


quadrinhos aumentou progressivamente de 2007 para 2008. Nos primeiros 4 meses
de funcionamento da gibiteca, em 2008, o número de empréstimos dobrou em
relação ao anos anterior;

- O número de professores, em geral, que passaram a usar as histórias em


quadrinhos como material didático cresceu, principalmente após os dois seminários
realizados pela gibiteca;

- Os alunos e os professores têm mostrado mais interesse pela escola, como um


todo, o que acreditamos tenha sido resultado de um aumento da auto-estima, devido
à repercussão que o projeto tem tido;

- Alunos mostram mais interesse em participar dos concursos culturais divulgados ou


promovidos pela gibiteca, sendo que a escola já teve alunos premiados em dois
concursos nacionais: um de redação (2007) e um de desenho (2008);

- Aumentou o desejo de se tornar voluntário na escola, entre os alunos. Antes, os


alunos não se interessavam em participar de atividades fora de seu horário de aula,
atualmente estamos fazendo seleção de alunos para ajudar na gibiteca, dado o
número de voluntários inscritos;

- O blog feito para divulgar os trabalhos realizados na gibiteca, recebeu mais de 63


mil visitas de março de 2007 a 25 de setembro de 2008. Foi intenso o intercâmbio e
a troca de experiências através do espaço virtual, o que nos possibilitou não apenas
receber mais doações como estabelecer parcerias importantes com professores,
pesquisadores e instituições de outras partes do nosso Estado e de outros Estados.
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7 – Avaliação

De sua fundação até o momento, a gibiteca se tornou um diferencial para alunos e


professores e é reconhecida pela comunidade escolar. Este reconhecimento nos
ajuda a dar continuidade ao trabalho.

De ano para ano são feitos ajustes com base nas sugestões dadas pelos alunos,
pelos professores. Observando o funcionamento da gibiteca e os problemas que
surgem diariamente (com conservação e organização do acervo, empréstimos,
horários de trabalho) vou fazendo mudanças e adaptações. Os professores são
chamados a participar e tem liberdade de criação.

Pela avaliação do IDEBs, 2005, 2007, referente a nossa escola e E. M. Judith Lintz
Guedes Machado, mostra uma melhora nos nossos índices.

Ensino IDEB Metas Projetadas


Fundamental Observado
2005 2007 2 2 2011 2 2 2 2 2021
007 009 013 015 017 019
Anos Iniciais 2,9 3,6 2,9 3,3 3,7 4,0 4,3 4,6 4,9 5,2
Anos Finais 2,1 2,6 2,2 2,5 2,9 3,5 4,0 4,2 4,5 4,8
Fonte: Prova Brasil e Censo Escolar.

No que toca a leitura, pudemos perceber que os nossos alunos estão buscando a
uma diversificação dos gêneros de quadrinhos, o que comprava um interesse maior
em conhecer outros tipos de leitura, como pode ser verificado na tabela abaixo,
relativa aos empréstimos realizados no ano de 2007:

Período Super-heróis, aventura e mistério Infantis Mangás


29/05 a 84% 13% 3%
05/07
30/07 a 27/09 43% 47% 10%
01/10 a 21/11 33% 42% 25%

A gibiteca ultrapassou seus objetivos iniciais, pois além de incentivar a leitura a


gibiteca conseguiu valorizar e humanizar o ambiente escolar, valorizando o trabalho
dos professores e estimulando a participação dos alunos. Nós nos tornamos um
referencial regional, sendo nosso trabalho estimulado em escolas municipais e
estaduais. São muitos, também, os convites para participar de eventos acadêmicos,
onde o projeto é apresentado para professores e pesquisadores.
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8 – Anexos

8.1 – Fotos tiradas na Gibiteca

Gibiteca nos primeiros dias de faxina, em setembro de 2006

Alunos do 9º ano (na época 8ª série) separando as doações recebida pela gibiteca,
em outubro de 2006.
16

Painel pintado na gibiteca por artista local (trabalho voluntário)

Aluno voluntário ajudando a carimbar e catalogas revistas em quadrinhos na


véspera da inauguração da gibiteca, no dia 10 de maio de 2007.
17

Gibiteca, no dia da inauguração, em 11 de maio de 2007.

Primeiro Seminário sobre quadrinhos, leitura e ensino, realizado dia 18 de maio de


2007.
18

Alunos do EJA, visitando a gibiteca, em junho de 2007

Oficina de quadrinhos oferecida aos alunos da escola, nos dias 21 e 22 de junho de


2007
19

Professora Andréia Gervaso (língua Portuguesa), em momento de leitura com turma


do 7º ano, junho de 2008.

II Seminário sobre quadrinhos, leitura e ensino, realizado no dia 06 de junho de


2008, no auditório do CEFET/UNED-Leopoldina
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Alunos do 6º ano escolhendo revistas em quadrinhos para empréstimo, junho de


2008

Alunos voluntários, representando a escola no encontro Ciência e Arte 2008, em 17


de setembro de 2008, na FIOCRUZ.
21

Alunos do 2º ano das séries iniciais do ensino fundamental em momento de leitura


de gibis, acompanhados da professora e de uma aluna voluntária do 9º ano (que
está tirando a foto), no dia 25 de novembro de 2008.

Novas instalações da Gibiteca, 03 de outubro de 2008


22
8.2 – Textos publicados na internet sobre o projeto Gibiteca

8.2.1 – Gibiteca.Com

Temos nosso espaço na internet com


centenas de textos sobre a Gibiteca
que pode ser acessado pelo link
www.gibitecacom.blogspot.com

Imprimir todas os textos é para nós


inviável, pois seria mais de uma
centena de páginas.

8.2.2 - Natania Nogueira e o desafio de montar uma Gibiteca


Por Marcelo Naranjo (31/05/07)
Fonte: http://www.universohq.com/quadrinhos/2007/n31052007_04.cfm

A professora Natania Nogueira resolveu encarar um desafio: criar uma Gibiteca na


escola E M Judith LinTz Guedes Machado, em Leopoldina, Minas Gerais. E teve
sucesso.

Tudo começou com uma pequena sala. Com a colaboração de alunos da 8ª série,
em 2006, um depósito foi disponibilizado para o projeto. Os alunos carregaram
livros, arrumaram estantes, fizeram a limpeza e teve inicio a Gibiteca.

Natania solicitou doações, em listas de quadrinhos e escrevendo para editoras. Com


as caixas de revistas começando a chegar, mais pessoas passaram a ajudar.

No começo de 2007, todos os professores e alunos da escola Judith Lintz Guedes


Machado abraçaram o projeto. O espaço ganhou desenhos nas paredes, e a escola
pagou uma pintora para colori-los. Em 11 de maio aconteceu uma cerimônia de
inauguração, com a presença de representantes de outras escolas e autoridades.

No dia 18 de maio, foi realizado um seminário sobre quadrinhos, com participação


de 230 professores, em que marcaram presença Waldomiro Vergueiro (USP), que
colaborou bastante com o projeto; Octavio Aragão (UFES); Arthur Soffiat (UFF);
Valéria Fernandes (doutoranda em história na UnB e escritora de artigos sobre
mangá).

O projeto obteve apoio da Secretaria Municipal de Educação e da


Superintendência de Ensino (que representa a Secretaria Estadual de
Educação).

A Gibiteca prepara seu primeiro Concurso de HQs e, em breve, a primeira Oficina de


Quadrinhos. Hoje já são cerca de 1.500 revistas - pouco, ainda, para 700 alunos,
mas um bom começo.

Natania informou ao Universo HQ os motivos de trabalhar em prol deste espaço


para quadrinhos, confira:
23

"Porque aprendi muito lendo quadrinhos. Foi praticamente uma das primeiras coisas
que li, mesmo minha família não podendo comprar. Eu lia na casa dos meus primos,
na Biblioteca Pública. Acho que sou uma boa leitora porque lia muito quadrinhos",
afirmou.

A professora de história acredita que os quadrinhos vão melhorar a habilidade de ler


e interpretar textos dos alunos, principalmente nos documentos escritos, pois, sem
essa habilidade, por melhor que seja a explicação, a aprendizagem não ocorre.

"Tenho esperança de que lendo quadrinhos os meus alunos atuais e futuros (a


escola atende de 1ª a 8ª série, além de ter ensino infantil) não só ganhem gosto pela
leitura, como ampliem seu vocabulário. Minha escola atende alunos de baixa renda,
dos 5 aos 50 anos (literalmente) e não temos muitos recursos. A Gibiteca era uma
ótima opção de projeto e que não dependia de vontade política, entende? Teríamos
um laboratório de ensino criado e administrado por nós mesmos", concluiu Natania.

A Gibiteca conta com um blog dos mais bacanas, atualizado com notícias do espaço
e informações em geral sobre quadrinhos. Para conhecer, clique aqui.

8.2.3 - Caldeirão de Idéias indica Gibiteca.Com


11/08/2008
Fonte: http://nteitaperuna.blogspot.com/2008/08/caldeiro-de-idias-indica-
gibitecacom.html

Olá Amigos
Caros amigos e leitores do Caldeirão de Idéias hoje vamos falar e apresentar um
dos blogs mais legais do "pedaço". Trata-se da Gibiteca.Com da minha amiga de
lista a Natania Nogueira - professora e historiadora que criou o Projeto Gibiteca na
Escola Municipal Judith Lintz Guedes Machado, Leopoldina (MG) e a idealizadora
dos I e II Seminários sobre Quadrinhos, Leitura e Ensino, outro grande sucesso.

O blog Gibiteca.Com tem por objetivo divulgar textos e idéias referentes ao uso de
HQs (Histórias em Quadrinhos, gibis ou banda desenhada) nas escolas, oferecer
sugestões de leitura e relatar experiências relacionadas ao Projeto Gibiteca.

Para quem ainda não se convenceu se o projeto e viável, vejam só o blog já atingiu
a fantástica marca de 50.000 mil acessos. Além do Gibiteca.Com ela mantem outro
blog igualmente fantástico, o Brasil: História e Ensino. Este blog e destinado a seus
trabalhos sobre a História de Leopoldina, sobre História do Ensino e Educação.

Visitem e digam se eu não tenho razão


Abraços

Equipe NTE Itaperuna


24
8.2.4 - Seminário sobre Quadrinhos, Leitura e Ensino em Leopoldina
Por Marcelo Naranjo, sobre o press release (08/05/08)

Fonte: http://www.universohq.com/quadrinhos/2008/n08052008_05.cfm

Será realizado no dia 6 de junho de 2008 o Seminário sobre Quadrinhos, Leitura


e Ensino, promovido pela Gibiteca da Escola Municipal Judith Lintz Guedes
Machado, com apoio do CEFET/Uned/Leopoldina, da 19ª Superintendência
Regional de Ensino e da Secretaria Municipal de Educação.

Para a edição de 2008, os quadrinhos e o ensino continuarão no centro do debate,


mas com destaque para áreas específicas do ensino das ciências físicas e
biológicas, com o tema "para uma ciência mais divertida".

O objetivo é mostrar aos nossos professores que eles podem utilizar este recurso
para tornar o ensino mais prazeroso, e que a leitura é a chave para o
desenvolvimento do aluno na escola.

O I Seminário sobre Quadrinhos, Leitura e Ensino, realizado em 18 de maio de


2007, foi um grande sucesso e mostrou que é possível produzir em Leopoldina/MG
um evento com nível e qualidade igual ou até mesmo superior a eventos realizados
em grandes centros.

O interesse demonstrado pelos professores pelo tema, além da qualidade das


palestras que foram apresentadas foi o que levou os responsáveis a organizar um
segundo evento.

O Seminário será oferecido para os professores da rede pública municipal de


Leopoldina, sendo reservadas algumas vagas para a rede privada e para pessoas
da comunidade.

O projeto conta com o apoio de editoras de quadrinhos e de livros voltados para a


educação que irão distribuir material de divulgação para os profissionais presentes.
São esperados entre 230 e 250 profissionais do ensino.

Outras informações podem ser obtidas no e-mail gibitecacom@gmail.com ou no


blog da Gibiteca.
25
8.3 - Reportagens publicadas em jornais e revistas
26

Leopoldinense, 16 a 21 de maio de 2008.


27
28
29
8.4 - Textos apresentados em congressos e publicados em revistas, fruto do
trabalho realizado com quadrinhos.

GIBITECA: ENSINO, CRIATIVIDADE E INTEGRAÇÃO ESCOLAR

NOGUEIRA, Natania Aparecida da Silva. Gibiteca: ensino, criatividade e integração escolar


In: VII Congresso nacional de Educação - EDUCERE (edição internacional), 2007, Curitiba.
VII Congresso Nacional de Educação - EDUCARE - Saberes Docentes. Curitiba:
Champagnat, 2007. p.174 - 186

Resumo: As histórias em quadrinhos têm conquistado um grande espaço dentro das


escolas. Como um instrumento de ensino, elas estão se tornando instrumentos
importantes de introdução dos alunos no mundo da leitura e do conhecimento. O
Projeto Gibiteca Escolar, desenvolvido na Escola Municipal Judith Lintz Guedes
Machado, Leopoldina (MG), usa deste instrumento lúdico como uma ponte entre o
estudante e o mundo das idéias, da criatividade e dos sonhos, abrindo caminho para
a formação de pessoas conscientes do seu papel na sociedade.

Palavras-chaves: histórias em quadrinhos, leitura, ensino

Introdução

Há algum tempo, o papel do professor das séries mais avançadas do ensino


fundamental era limitado a desenvolver o conteúdo com o qual trabalhava na sala de
aula – história, geografia, matemática, ciências, etc. –, sem se preocupar com algo
fundamental: a leitura e a interpretação. Estas eram habilidades que deveriam se
desenvolvidas tão somente nas aulas de português e literatura. No entanto, temos
hoje uma realidade muito mais complexa: nossas crianças e jovens lêem pouco e
geralmente são incapazes de compreender o que estão lendo.

Entendemos que a leitura é a chave para o desenvolvimento do aluno na escola.


Através da leitura ele aprende a interpretar melhor o mundo em que vive e a
despertar a imaginação e a criatividade. Um aluno/leitor compreende melhor os
conceitos abstratos com os quais tem que lidar na sala de aula. Esta habilidade deve
ser desenvolvida já na Educação Infantil6 e durante todo o Ensino Fundamental.
Tendo em mente usar a leitura como uma ponte para o conhecimento, foi concebido
o Projeto Gibiteca Escolar, na Escola Municipal Judith Lintz Guedes Machado,
uma escola de periferia da cidade de Leopoldina (MG), que atende alunos oriundos
de famílias de baixa renda.

Os objetivos do projeto são: criar um espaço de aprendizagem para professores e


alunos; formar leitores críticos e criativos; promover atividades onde os alunos – e
mesmo os professores - possam descobrir habilidades e desenvolver competências.

Na Gibiteca, alunos e professores têm acesso a um acervo diversificado de HQ’s


(como chamamos as revistas de Histórias em Quadrinhos) e podem usá-lo para
leitura durante os horários de funcionamento da escola. O Projeto Gibiteca Escolar
também trabalha positivamente a auto-estima de professores e alunos, mostrando
6
Incluímos aqui a educação infantil pois, mesmo não estando alfabetizadas, as crianças fazem uma
leitura do mundo através de imagens e da sua oralidade, sendo portanto a leitura à qual nos referimos
um conceito bem mais amplo e abrangente.
30
que mesmo escolas com poucos recursos podem oferecer grandes oportunidades e
estimular todos a sonharem com um futuro promissor.

A leitura de gibis é uma atividade prazerosa e que aparentemente está dissociada


das tarefas escolares. As HQ’s são capazes de promover a interdisciplinaridade
entre os diversos conteúdos curriculares, ajudam a promover a prática da leitura e
aproximam as crianças de outros tipos de arte, como as artes plásticas, o teatro e a
música, além, é claro, de serem importantes no processo de alfabetização. Os
alunos aprendem que “estudar” pode ser divertido e se tornam mais receptivos aos
diversos conteúdos.

Nas próximas linhas vamos mostrar como uma gibiteca pode mudar a rotina de uma
escola, a forma como ela pode integrar alunos, professores e funcionários em torno
de atividades lúdicas que estimulam a criatividade e abrem as portas para novos
horizontes, novas perspectivas.

1 – O papel das HQ’s no desenvolvimento da leitura

A escola pública nas palavras de GONÇALVES não exclui por incompetência


intelectual, mas porque faz parte da sua constituição7. Nossa escola foi concebida
como um instrumento de força, de poder pelas nossas elites. Talvez não possamos
nunca romper totalmente com esse paradigma, mas creio que podemos fazer da
escola igualmente um espaço de reação, através de um ensino voltado para o
desenvolvimento e valorização do indivíduo, do sujeito histórico. É possível
transformar, mudar esse quadro de exclusão ou, na pior das hipóteses, tentar
minimizá-lo. Citando Cabrini:

“Não temos uma fórmula mágica, uma solução pronta sobre o


conteúdo a ensinar, mas sim uma proposta de como trabalhá-
lo. O conteúdo que você irá desenvolver na sua classe, ou
seja, o seu objetivo de estudo, só pode ser determinado por
você, em sua atividade profissional concreta, a partir dos dados
da realidade da sua escola, seu período letivo, seus alunos...”8

O ensino no Brasil não vai bem. É um fato inegável. As novas gerações não estão
“letradas”. Nossos jovens não criaram o hábito da leitura e por isto possuem uma
grande dificuldade em fazer associações, em interpretar textos simples, em
compreender o que pedem os professores, o que está escrito nos livros. Desta
forma a aprendizagem acaba ficando comprometida e o fracasso se não se faz
visível nos índices de retenção escolar, aparece claramente nas avaliações globais
realizadas pelo Estado, devido à incapacidade no ato de ler.

Saber ler e escrever não é simplesmente o ato mecânico de juntar sílabas e emitir
sons. A leitura é uma atividade complexa que exige do leitor a capacidade de
interpretar o texto; de identificar e compreender o contexto no qual ele está inserido;
de identificar idéias e signos nele contidos. Nas palavras de PLATÃO E FIORIN:

7
GONÇALVES, Jussemar Weiss . O campo da história na Escola Pública. In: Qual história? Qual
ensino? Qual cidadania? – Porto Alegre: ANPUH, Ed. Unisinos, 1997p. 77
8
CABRINI, Conceição et. alii. O Ensino de História: revisão urgente.- 5a ed – São Paulo:
Brasiliense, 1994, p.32
31
“Nenhum texto é uma peça isolada, nem a manifestação da
individualidade de quem o produziu. De uma forma ou de
outra, constrói-se um texto para, através dele, marcar uma
posição ou participar de um debate de escala mais ampla que
está sendo travado na sociedade. Até mesmo uma simples
notícia jornalística, sob a aparência de neutralidade, tem
sempre uma intenção por trás.”9

As Histórias em Quadrinhos possuem uma linguagem simples e de fácil


compreensão para os alunos, que em geral não oferecem resistência a seu uso,
uma vez que são relacionadas a uma forma de entretenimento e lazer. Segundo
Flávio Calazans, os quadrinhos quando são projetados em sala de aula, como
recurso para complementar o ensino de determinado conteúdo, prendem mais a
atenção dos alunos do que outros recursos, como o vídeo, por exemplo, porque
permitem que ocorra uma leitura simultânea da página, podendo o leitor captar a
ação em todos os seus tempos.10

José Moysés ALVES também tem uma visão positiva a respeito do uso dos
quadrinhos nas escolas, com forma de incentivar o gosto pela leitura. Segundo ele:

“A leitura de histórias em quadrinhos pode contribuir para a


formação do “gosto pela leitura” porque ao ler histórias em
quadrinhos a criança envolve-se numa atividade solitária e não
movimentada por determinado período de tempo, que são
características pouco freqüentes nas atividades de crianças
pré-escolares ou no início da escolarização. Também porque,
estando mais próximas da forma de raciocinar destas crianças,
elas podem mais facilmente lê-las, no sentido de retirar delas
significados, o que seria menos provável com outros tipos de
leitura. Além disso, pode-se esperar que uma criança, para
quem a leitura tenha se tornado uma atividade espontânea e
divertida, esteja mais motivada a explorar outros tipos de textos
(com poucas ilustrações), do que uma outra criança para quem
esta atividade tenha sido imposta e se tornado enfadonha.”11

O hábito da leitura de quadrinhos, além de ser saudável, pode estimular o prazer


pela leitura. Em geral são os maus leitores que criticam as histórias em quadrinhos.
Segundo DJota Carvalho, várias pesquisas sobre a relação entre quadrinhos e
educação já foram realizadas Uma delas encomendada pela Confederação
Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), em 2001, comprovou que:

9
FIORIN, José Luis, SAVIONI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. 2a edição
– São Paulo: Editora Ática, 1991, p. 13.
10
CALAZANS, Flavio Mario de Alcântara. História em quadrinhos na escola. – São Paulo: Paulus,
2004. p. 11.
11
ALVES, José Moysés. Histórias em quadrinhos e educação infantil. Psicol.cienc. prof. Brasília,
vol..21, num.3, set. 2001. Disponível em: < http://scielo.bvs-
psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32001000300002&lng=pt&nrm=is>. Capturado
em: 05/02/2006.
32
“... alunos que lêem gibis têm melhor desempenho escolar do
que aqueles que usam apenas o livro didático – entre os
estudantes da 4ª série da rede pública, a HQ aumenta
significativamente a performance do aluno: entre os que
acompanham quadrinhos, o percentual das melhores notas
nas provas aplicadas foi de 17,1%, contra 9,9% entre os que
não lêem. Mais ainda, esta pesquisa mostra que professores
que lêem revistas em quadrinhos obtêm melhor rendimento
dos alunos, pois conhecem melhor o universo dos estudantes
e se aproximam deles usando exemplos deste universo como
paradigma para as aulas. A pesquisa mostra , entre outras
coisas, que , entre os alunos da 4ª série cujos professores
lêem HQs, a proficiência em leitura é mais alta do que entre
aqueles cujos professores não têm o hábito de ler gibis. Na
rede pública, 36% dos alunos de leitores de gibis têm
proficiência média alta e alta, contra 31,5% dos que não
lêem.”12

Uma das vantagens de se trabalhar com histórias em quadrinhos é que elas não
possuem uma faixa etária exata: há quadrinhos para todas as idades, da educação
infantil até a universidade. Na Europa, por exemplo, ensina-se latim usando-se
Asterix. Asterix e outras HQ’s européias são publicadas em latim com esta finalidade
e com uma tiragem relativamente grande. O preconceito que existe com relação aos
quadrinhos é construído em cima da idéia de que eles são coisa de criança ou, em
alguns casos, coisa de menino. Há HQ’s de todos os gêneros e para todos os
gostos. Algumas são adaptações de clássicos da literatura, outras possuem um
argumento tão complexo que são indicadas para adultos com um certo grau de
conhecimento literário.

As histórias em quadrinhos são, portanto, uma excelente fonte de trabalho e


pesquisa para todos os educadores. Começando pela educação infantil, as HQ’s
abrem novos horizontes de aprendizagem para as crianças, pois elas descobrem
que, mesmo sem saber ler, podem entender a história através dos desenhos. É bom
lembrar que, embora as HQ’s tenham elementos característicos, eles não precisam
estar todos presentes ao mesmo tempo. HQ’s que possuem apenas imagens
cumprem seu papel se são capazes de passar a mensagem de seu autor.

“Reproduzindo contextos e valores culturais, as histórias em


quadrinhos oferecem oportunidades para as crianças
ampliarem seus conhecimentos sobre o mundo social. Porém,
seja pelos assuntos veiculados, seja pela forma como os temas
são tratados, as histórias em quadrinhos foram alvo de muitas
críticas e, lê-las dentro das escolas, foi por muito tempo
considerada uma atividade clandestina e sujeita a punições.”13

Como professora de História, tenho feito algumas experiências com o uso de HQ’s
com meus alunos, tanto no Ensino Fundamental, quanto no Ensino Médio. O
estudante deve aprender a trabalhar as informações que adquire através da leitura.
Uso os quadrinhos como uma forma de expressão do aluno que, desafiado a
12
CARVALHO, DJota. A educação está no gibi. – Campinas, SP: Papirus, 2006. p. 38-39.
13
ALVES, José Moysés.Op. Cit. , 2001.
33
exercitar sua capacidade criativa, acaba por criar seu próprio conhecimento. As HQ’s
ajudam os estudantes a compreender melhor o conteúdo estudado em sala de aula.

“Testes psicológicos aplicados em crianças demonstram que a


informação quando transformada em História em quadrinhos é
compreendida num tempo assustadoramente pequeno. Prova
disso está nos próprios livros escolares de hoje que não
passam de verdadeiros ‘gibis’ didáticos, tal o número de
ilustrações que possuem”.14

Os bons resultados obtidos com meus alunos foram a motivação para que um
projeto ainda mais ambicioso fosse então concebido: a criação de uma gibiteca 15.
Não apenas um espaço dentro de uma biblioteca, mas um espaço exclusivo para
armazenar e manusear HQ’s. Propus, então, à diretoria da escola Municipal Judith
Lintz Guedes Machado e aos colegas professores da Educação Infantil e do Ensino
Fundamental que aderissem ao projeto. Por meio da gibiteca, desenvolveríamos
atividades em todas as áreas, incentivando a leitura, a produção de textos e arte por
parte dos alunos. A idéia foi bem aceita e assim nasceu a Gibiteca Escolar.

2 – A Gibiteca como forma de integração escolar

Criar a Gibiteca foi, antes de mais nada, um exercício de integração. Toda a escola
se envolveu no projeto. Alunos, professores, direção, funcionários da limpeza,
especialistas e funcionários técnico-administrativos. O processo de instalação da
gibiteca durou cerca de um ano. Primeiro conseguimos o espaço físico, depois
começamos a pedir e receber doações de HQ’s. As doações foram feitas por
colecionadores particulares, professores, alunos, gibitecas16 e editoras. Por época da
inauguração, em 11 de maio de 2007, tínhamos um acervo aproximado de 1600
exemplares, em vários formatos e gêneros.

Mas não basta simplesmente criar o espaço na escola, é preciso também mostrar
que ele é funcional e que pode ajudar no trabalho de todos os professores. Por esta
razão organizamos o I Seminário sobre Quadrinhos, Leitura e Ensino17. O
Seminário foi organizado pela escola com o apoio da Secretaria Municipal de
Educação, tendo como público-alvo professores da educação infantil e do ensino
fundamental. O objetivo era demonstrar que o uso das histórias em quadrinhos
podia ser um caminho para o processo de ensino/aprendizagem e que elas
poderiam ser usadas em todos os conteúdos, não sendo apenas prerrogativa das
14
SILVA, Diamantino da . Quadrinhos para Quadrados. Porto Alegre; Bels, 1979. p. 106
15
Grosso modo, a gibiteca é um espaço destinado ao armazenamento e divulgação de Histórias em
Quadrinhos, que pode ser público ou não. Nas gibitecas os leitores têm acesso a uma enorme
variedade de quadrinhos (terror, ficção científica, humor, aventura, etc.) e nelas este tipo de material
literário pode receber um tratamento apropriado, que inclui a conservação de exemplares, de
publicação recente, ou aqueles considerados raros. A primeira gibiteca inaugurada no Brasil foi a
Gibiteca de Curitiba, em 1982. A maior gibiteca do Brasil é mantida por um organismo do Estado: a
Gibiteca Henfil. Órgão do Departamento de Bibliotecas Infanto-Juvenis da Secretaria de Cultura do
município de São Paulo, ela foi inaugurada em 1991 e conta com o maior acervo do país, 100.000
exemplares.
16
A Gibiteca da USP, através do professor Waldomiro Vergueiro fez importantes doações para a
Gibiteca Escolar, ainda no ano de 2006.
17
O I Seminário sobre Quadrinhos, Leitura e Ensino foi realizado no dia 18 de maio de 2007 e teve a
participação dos professores: Waldomiro Vergueiro (USP), Octavio Aragão (UFES), Arthur Soffiat
(UFF) e Valéria Fernandes (Colégio Militar de Brasília).
34
séries iniciais. O seminário atendeu a 230 professores das redes municipal de
ensino de Leopoldina, pública e privada de Leopoldina..

A Gibiteca é um apoio para o professor que deseja diversificar as suas aulas. Ela
não garante por si só o êxito do aluno, mas ela fornece a ele a possibilidade de
ampliar seus horizontes e de desenvolver sua capacidade de ler. Por outro lado, ela
também age diretamente na auto-estima dos professores. Eles passam a dar mais
valor ao seu trabalho e a se sentirem também valorizados. O professor redescobre o
prazer da leitura e, também, o prazer de ser um profissional do ensino, um educador.

O acervo diversificado permite que a gibiteca seja um grande laboratório de


ensino/pesquisa. Possui HQ’s de vários gêneros (humor, suspense, históricas, ficção
fantástica, etc.) e até raridades como o Gibi n. 01 e diversas HQ’s da EBAL,
publicadas na década de 1970. Os alunos, principalmente as crianças dos anos
iniciais, sentem-se atraídos pelo ambiente despojado e alegre da gibiteca, onde eles
podem desenhar, deitar no tapete em meio a almofadas e transformar a leitura numa
forma prazerosa de lazer. Para os adolescentes, ela se torna igualmente um lugar de
descontração, principalmente para meninos e meninas que gostam de desenhar e
usam o desenho como uma forma de expressão de seus sentimentos e suas idéias.
As HQ’s estimulam esta habilidade e acabam transformando o desenhista em leitor.

A gibiteca age como um canalizador de sonhos. Ela transporta os leitores a um


mundo de fantasia do qual ele estava até então alienado. Muitas de nossas crianças
nunca tiveram em sua casa uma HQ. Entre os adultos que estudam no EJA
(Educação para Jovens e Adultos) poder ler uma história em quadrinho na escola é
muitas vezes vivenciar uma atividade da qual foram excluídos durante sua infância,
seja por motivos econômicos, seja pela cultura familiar ou simplesmente por não
saberem ler e escrever.

Em um artigo intitulado “Educar é fazer sonhar”18 Francisco CARUSO e Maria


Cristina Silveira de FREITAS afirmam que educar depende da capacidade de fazer o
aluno sonhar e afirmam que despertar nele a criatividade é a melhor forma de
prepará-lo para os desafios da vida, pois no mundo moderno ela é necessária para a
sobrevivência. Atrevo-me a acrescentar que, além de fazer o aluno sonhar, é
preciso fazer o professor sonhar junto com ele.

3 – AS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS

Há na gibiteca um espaço reservado para o professor, onde ele pode dispor de


periódicos e livros que versam sobre o uso das HQ’s na sala de aula e, também,
relatos de experiências que já foram realizadas na escola. Além de material
impresso, contamos com textos digitalizados, produzidos por educadores e
pesquisadores de todas as partes do país, centenas de tirinhas e HQ’s digitalizadas.
Os professores são estimulados a conhecerem cada vez mais o universo dos
quadrinhos para que, desta forma, eles possam compreender melhor o próprio
universo dos seus alunos leitores e, ao mesmo tempo, ter mais segurança para usar
este material na sala de aula.

Alguns destes recursos estão sendo ainda timidamente utilizados, pois os


professores, em sua esmagadora maioria, ainda estão participando de um lento
18
CARUSO, Francisco, FREITAS, Maria Silveira de. Educar é fazer sonhar. Princípios, São Paulo,
Vol. 83, p., 2006.
35
processo de inclusão digital. Entretanto, o simples fato da Gibiteca estar oferecendo
meios ao professor de ingressar no mundo da informática já é um grande estímulo
para o trabalho. Além disto, neste primeiro momento os professores também estão
sendo apresentados aos quadrinhos. Para trabalhar com este recurso é preciso
entender como ele é produzido. Desta forma preparamos para os professores da
Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental oficinas de quadrinhos.
Nestas oficinas – que também foram preparadas para alunos entre 11 e 15 anos -,
eles aprendem o processo de elaboração de uma HQ e a decifrar e usar os
elementos que a compõe, tais como balões, metáforas visuais, recordatórios, etc.

Segundo Nágila Caporlingua GIESTA, da Fundação Universidade Federal do Rio


Grande - FURG, que trabalha HQ’s e educação ambiental, vivemos em uma
sociedade cada vez mais escrita, onde a leitura é uma atividade de integração.
Sendo assim, as HQ’s são um recurso a mais na inserção das crianças no mundo
das letras, dependendo do professor encontrar o caminho para introduzir o aluno
neste universo. Citando GIESTA: “As possibilidades das histórias em quadrinhos,
como recurso no currículo escolar, são inúmeras, dependendo do conhecimento e
da habilidade profissional do professor para diversificar, questionar e provocar a
busca da informação destacada pelo leitor.”19

Aos poucos estão surgindo experiências que vão apresentando bons resultados no
uso dos quadrinhos na sala de aula, através da Gibiteca Escolar da Escola Municipal
Judith Lintz Guedes Machado. Vamos destacar, neste primeiro momento, três
iniciativas. A primeira é a da professora de série inicial Maria de Fátima Alves que
desenvolveu uma pequena oficina de HQ’s com alunos da escola, em diversos
estágios de aprendizagem, que freqüentam dos anos iniciais do Ensino
Fundamental, para os quais ministra aulas de reforço. São meninos e meninas de
idades variadas com quem ela resolveu fazer um trabalho motivador: estudar sobre
folclore produzindo uma HQ.

Os alunos receberam todas as informações sobre o tema, necessárias para compor


um roteiro razoavelmente coerente e depois receberam noções básicas de como
fazer uma HQ. A professora participou de uma das oficinas que tivemos na escola,
para professores, e resolveu exercitar suas recém-adquiridas habilidades com estes
alunos. Ela avaliou o trabalho levando em conta o conteúdo e o uso correto de
elementos que compõem uma HQ (como balões, metáforas visuais, etc). Segundo a
professora, o trabalho de produção de HQ’s foi estimulante pois incentivou-os a usar
da criatividade, transformando um trabalho escolar em uma atividade lúdica,
prazerosa.

Numa segunda experiência, a professora Roseane Peres Rocha decidiu tornar as


avaliações de matemática uma gostosa brincadeira para os alunos da 5ª série do
Ensino Fundamental. Ela está utilizando tirinhas da Turma da Mônica para montar
problemas matemáticos e desafiando os alunos a fazerem o mesmo. Esta
experiência foi colocada em prática nos meses de junho e julho e a professora dará
continuidade ao trabalho durante o resto do ano letivo, uma vez que os resultados
têm sido positivos. Segundo a professora, os alunos prestam muito mais atenção
aos problemas quando eles são apresentados nas tirinhas. Ela ainda destaca a
preocupação dos alunos com pequenos detalhes quando preenchem os balões:

19
GIESTA, Nágila Caporlíngua. Histórias em quadrinhos: recurso no ensino e na investigação
educacional In: XIII Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, Recife/PE. Anais do XIII
ENDIPE, 2006.
36
"Eles colocam a fala errada do Cebolinha e sublinham as palavras que estão
erradas”. Roseane dá uma dica: ela usa os quadrinhos com balões em branco que
ela retira do site http://www.4shared.com/. Ela vai em shearch files e digita a palavra
quadrinhos. Lá ela encontra diversos documentos em word e pdf sobre o assunto e
seleciona o material que usa em suas aulas. A própria professora se sente
estimulada a montar suas atividades. O desafio serve como estímulo para o
trabalho.

A terceira experiência que iremos descrever é da professora de língua portuguesa,


Mary Ângela Carraro Dibo que, preocupada com os péssimos resultados que
estava obtendo com alunos da 6ª série, nas primeiras avaliações do 2º bimestre
(muitos erros de ortografia, interpretação, etc) resolveu mudar a rotina das suas
aulas. Uma vez por semana divide os alunos em dois grupos. Uma metade fica na
biblioteca e a outra é encaminhada à gibiteca, sendo que em cada semana os
grupos se alternam. Lá os alunos fazem uma aula de leitura livre. A experiência teve
início em junho/2007 e também deve se estender até o final do ano letivo. Os
resultados estão sendo claramente visíveis. Além dos alunos terem melhorado seu
desempenho nas aulas e nas avaliações, até a disciplina da turma - que tem dado
muitos problemas desde o início do ano - está aos poucos melhorando.

A professora destaca que os alunos preferem as aulas na gibiteca pelo ambiente


agradável e despojado, diferente da biblioteca, onde eles ficam sentados em
cadeiras e mesas. A professora observa que na biblioteca os alunos folheiam livros e
muitas vezes não os lêem. Já na gibiteca a atenção com a leitura é bem maior. Ela
assinala que o apelo visual das HQ’s é um fator importante, pois o desenho prende a
atenção e mesmo que o aluno "pule" algumas falas, ele consegue entender a
história graças à leitura das imagens. O interesse deles pela leitura está levando-os,
também, a ter novas perspectivas e arriscar novas experiências de ensino.

Na oficina de quadrinhos que foi realizada na escola no dia 21 de junho de 2007,


cerca de metade dos alunos presentes eram desta turma. Meninos e meninas que
normalmente não se sentem muito motivados a freqüentarem a escola vieram fora
do seu turno de aula e fizeram aproximadamente três horas de oficina de
quadrinhos. Uma grande vitória para o projeto, para os alunos e, principalmente,
para a professora, que está apostando na leitura para formar estudantes mais
interessados e cidadãos mais informados. A professora já trabalhava com
quadrinhos em suas aulas, na forma de atividades. Usando tirinhas do Snoopy
(personagem de Charles Schulz) ela propõe exercícios que misturam desde
questões gramaticais (identificar locuções verbais, vocativos e onomatopéias) até
interpretação.

Segundo Flávio CALAZANS20 o limite do uso dos quadrinhos está no limite da


criatividade do professor.
É ele que sabe avaliar a melhor forma de utilizar as HQ’s com seus alunos. Alguns
autores sugerem que os quadrinhos podem ser trabalhados de três formas básicas:
a) através da análise critica da história; b) incentivando a criação de histórias em
quadrinhos pelos próprios alunos; c) utilizando os quadrinhos como um meio de
expressão e conscientização política.

4 – As parcerias
20
CALAZANS, Op. Cit. p. 17
37

Faz parte deste projeto a busca de parcerias com membros da comunidade e com
organizações governamentais e não-governamentais. O Projeto Gibiteca tem sido
divulgado por meio eletrônico através de um blog21. Nele são registradas as
experiências realizadas pelos professores, as atividades promovidas pela gibiteca e
disponibilizados textos sobre HQ’s. Recebemos a colaboração de profissionais
ligados à área, através de pequenos artigos e, é claro, os comentários deixados
pelos leitores e os resultados das enquetes que realizamos ocasionalmente.

Alguns grupos já fizeram contatos conosco através do site e nos ofereceram, além
de doações, apoio para nossas atividades. Entre estas pessoas e instituições temos
educadores, ilustradores, editoras, quadrinistas, escritores, colecionadores, enfim,
pessoas que se interessam pela divulgação das HQ’s nas salas de aula e que
acreditam na sua função educativa. O uso da internet tem sido uma estratégia
importante, seja como forma de divulgar o trabalho realizado na Gibiteca, seja como
canal de comunicação com outros profissionais, possibilitando a troca de
experiências e informações.

Em âmbito local, estamos firmando parcerias importantes com o Comitê de


Democratização da Informática (CDI) e com o Centro Federal de Educação
Tecnológica (CEFET/Uned-Leopoldina), para um trabalho de inclusão digital de
nossos alunos e professores. Conseguimos, através de uma campanha, a doação
de diversos computadores usados para a Gibiteca. Nestes aparelhos os alunos
aprendem a usar os recursos básicos de informática, podem ler HQ’s e participar de
oficinas de quadrinhos através do uso do programa HagaQuê22. Este pequeno
laboratório ainda está em fase de instalação e seu uso ainda é limitado. O CEFET e
o CDI nos fornecem auxilio técnico através de estagiários e ainda ajudam na
manutenção dos aparelhos.

Além destas parcerias, temos também o apoio da Secretaria de Estado de Educação


de Minas Gerais (SEE/MG) através da 19ª Superintendência Regional de Ensino
de Leopoldina e da Secretaria Municipal de Educação, que são nossas parceiras
na realização de eventos voltados para professores. Para 2008 já estamos
organizando o II Seminário sobre Quadrinhos, Leitura e Ensino – ainda sem data
prevista -, focado no ensino de ciências e matemática através dos quadrinhos.

Conclusão

Para muitas pessoas que tomam conhecimento do projeto, usar as HQ’s nas
escolas, como instrumento de ensino pode parecer uma novidade. Mas não é bem
assim. Já existem no Brasil e mesmo no exterior várias iniciativas de aproximar o
leitor – jovem ou adulto – das histórias em quadrinhos.23 No Brasil há gibitecas

21
www.gibitecacom.blogspot.com
22
HagáQuê é um software, um editor de histórias em quadrinhos com fins pedagógicos desenvolvido
na Unicamp. O HagáQuê foi desenvolvido de modo a facilitar o processo de criação de uma história
em quadrinhos por uma criança ainda inexperiente no uso do computador, mas com recursos
suficientes para não limitar sua imaginação. E, como resultado do crescente uso por pessoas com
necessidades especiais, o software vem passando por um processo de redesign visando melhorar
sua acessibilidade. Para mais informações acesse o site http://www.nied.unicamp.br/~hagaque/
23
. Em Portugal, por exemplo, temos a Bededeteca de Lisboa (lá as HQ’s são chamadas de banda
desenhada, nos países de língua francesa elas são as bande dessinées), na França há no Museu de
Angoulème a Fanzinothèque de Pottiers Criada em 1989 por iniciativa do “Conseil Communal des
Jeunes de Poitiers”, a Fanzinoteca desenvolve suas atividades em duas direções: a documentação e
38
espalhadas por várias cidades do país, mas ainda são em número reduzido. Embora
as HQ’s sejam uma mídia popular, ainda há quem restrinja o espaço que elas
ocupam como forma de leitura, ensino e comunicação.

Com o projeto “Gibiteca Escolar” estamos também combatendo este preconceito e


mostrando, na prática, que o ato de ler é livre, só pode fazer bem e que o leitor não
tem idade. Se à primeira vista o projeto parece um tanto ambicioso, posso afirmar
com toda a segurança que ele não está além da capacidade de qualquer educador
verdadeiramente comprometido com seu trabalho. Grandes projetos começam com
pequenos passos. Se a escola não possui uma sala para que se monte uma
gibiteca, ela pode ocupar um pequeno espaço na biblioteca ou mesmo num armário
dentro da sala de aula. O acervo pode ser formado pelos próprios alunos, que
podem ler as HQ’s em sistema de rodízio. O professor pode dar aos alunos a
responsabilidade de reformar e conservar as HQ’s do grupo e apoiar, por exemplo, a
produção de fanzines24.

Com o tempo, os envolvidos no trabalho percebem que as aulas se tornaram


diferentes. Os alunos se sentem responsáveis e ganham mais confiança. Os
professores sentem-se motivados a trabalhar mesmo quando as condições não são
boas, quando faltam recursos e o salário é baixo. Encontram prazer em educar
porque voltam a sonhar. Eles começam a notar o interesse dos alunos, mesmo
daqueles mais rebeldes em participar das aulas.

Pode parecer que o uso de HQ’s e a criação de gibitecas nas escolas esteja aqui
sendo apresentado como um remédio milagroso para o ensino. Não é esta a nossa
intenção. Colocar uma gibiteca ou promover pequenos projetos e adaptar o uso dos
quadrinhos nas salas de aula é uma das várias propostas que a escola pode acolher
a fim de valorizar o ensino, seus alunos e seus professores. Esta é a experiência
que tenho vivenciado com o projeto Gibiteca Escolar. Em pouco tempo de
funcionamento, ela tem despertado na escola o desejo de ser melhor, de ir ao
encontro de novos desafios e a ser cada vez mais autônoma. Nossos alunos são
criados em comunidades carentes onde a realidade é dura. Muitos vão à escola
porque lá eles encontram um prato de comida e um copo de leite. Agora eles estão
encontrando também um espaço para sonhar, para expressar suas idéias e para
desenvolverem habilidades que nem mesmo sabiam que existiam.

Nossas expectativas são as melhores possíveis, dado o interesse dos professores e


a ansiedade demonstrada pelos nossos alunos, dos mais jovens aos mais velhos.
Mas sabemos que existem muitos obstáculos que deverão ser vencidos. Estamos
promovendo pequenos cursos e eventos envolvendo toda a comunidade escolar e
colegas de outras escolas tentando divulgar a leitura e o uso das HQ’s nas salas de
aula, assim como os benefícios de se ter uma gibiteca.

Sabemos que há resistências entre professores e que há vícios e tabus a serem


superados, mas acredito que com o tempo e com esforço em equipe, estaremos
mudando muito mais do que a forma de aprender, mas também de se relacionar
o patrimônio de um lado e organização de eventos de outra. Ela funciona como uma grande empresa
e classifica e arquiva toda produção amadora (música, HQ’s, literatura, etc.) Ela possui a disposição
do público um fundo de mais de 50.000 documentos e publicações. São organizadas de 2 a 3
exposições anuais deste material. E é a única fanzinoteca do mundo que mantem atividades
constantes.
24
Fanzines são HQ’s amadoras, produzidas muitas vezes de forma artesanal e que são vendidas ou
distribuídas diretamente por seus autores.
39
com colegas e alunos na escola. Mais do que um instrumento de ensino, a gibiteca
é um instrumento de união, agrupando em torno de si um corpo docente que pode
crescer não apenas profissionalmente, mas também em sua auto-estima, o que
contribui para a qualidade do ensino e do ambiente escolar.

Referências

ALVES, José Moysés. Histórias em quadrinhos e educação infantil. Psicol.cienc.


prof. Brasília, vol..21, num.3, set. 2001. Disponível em: < http://scielo.bvs-
psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
32001000300002&lng=pt&nrm=is>. Acesso em: 05/02/2006.

CABRINI, Conceição et. alii. O Ensino de História: revisão urgente.- 5a ed – São


Paulo: Brasiliense, 1994.

CALAZANS, Flavio Mario de Alcântara. História em quadrinhos na escola. São


Paulo: Paulus, 2004.

CARVALHO, DJota. A educação está no gibi. – Campinas, SP: Papirus, 2006.

CARUSO, Francisco, FREITAS, Maria Silveira de. Educar é fazer sonhar.


Princípios, São Paulo, Vol. 83, p., 2006.

FIORIN, José Luis, SAVIONI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e
redação. - 2. ed. São Paulo: Editora Ática, 1991.

GIESTA, Nágila Caporlíngua. Histórias em quadrinhos: recurso no ensino e na


investigação educacional In: XIII Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino,
Recife/PE. Anais do XIII ENDIPE, 2006

GONÇALVES, Jussemar Weiss. O campo da história na Escola Pública. In: Qual


história? Qual ensino? Qual cidadania? – Porto Alegre: ANPUH, Ed. Unisinos,
1997.

SILVA, Diamantino da. Quadrinhos para Quadrados. Porto Alegre: Bels, 1979.
40

A GIBITECA E O ESTÍMULO À LEITURA


NOGUEIRA, Natania
(E. M. Judith Lintz Guedes Machado)
natanianogueira@yahoo.com.br

NOGUEIRA, Natania. A Gibiteca e o estímulo à leitura. 5º Encontro de Literatura


Infantil e Juvenil – Leitura e crítica. Rio de Janeiro: Universidade federal do Rio de
janeiro, Faculdade de Letras, 2008.

Resumo: A História em Quadrinho é uma mídia popular que há mais de 100 anos
está presente em nosso cotidiano, despertando em muitos o prazer pela leitura e
pela arte. Infelizmente, muitas crianças e jovens, notadamente os que residem na
zona rural nos bairros de periferia, não têm acesso a este recurso e uma forma mais
extensa. Partindo desta constatação, foi colocado em prática um projeto de leitura,
interdisciplinar, que se desenvolve a partir da instalação de uma gibiteca em uma
escola pública, localizada em um bairro de periferia. Nesta apresentação iremos
relatar resultados, fazer indagações e arriscar algumas previsões sobre as
vantagens deste recurso na formação de jovens leitores.

Introdução

Embora ainda exista muita resistência em relação à introdução de mídias populares


nas escolas, aos poucos o cinema, os quadrinhos e os computadores – com seus
jogos e programas interativos -, estão ocupando seu espaço. Estas mídias, em
especial as Histórias em Quadrinhos, nos fornecem uma matéria-prima rica em
possibilidades para se trabalhar questões que envolvem a leitura de sinais, de
imagens, de idéias. São instrumentos lúdicos que abrem caminho para um ensino
interativo, envolvendo o desenvolvimento de habilidades, de competências
necessárias para se efetuar uma leitura mais crítica da realidade em que vivemos

Na presente comunicação iremos relatar o uso das histórias em quadrinhos (HQ’s)


nas salas de aula e a possibilidade de se trabalhar com esta mídia nas mais
diversas disciplinas. Ao mesmo tempo queremos refletir sobre as vantagens e
dificuldades encontradas para se trabalhar de forma interdisciplinar, buscando
entender a dinâmica da escola e o papel integrador que a leitura pode ter neste
contexto. A experiência que desejamos apresentar gira em torno dos trabalhos
realizados na Escola Municipal Judith Lintz, da cidade de Leopoldina (MG),
onde a criação de uma gibiteca surgiu como alternativa para se enfrentar alguns dos
problemas atuais da educação brasileira, refletidos nos baixos índices de rendimento
escolar e no pouco investimento real na formação continuada de professores.

1 – Por que as Histórias em Quadrinhos?

As Histórias em Quadrinhos possuem uma linguagem simples e de fácil


compreensão e são relacionadas a uma forma de entretenimento e lazer. Eles
podem ser utilizados nas salas de aula como recurso para complementar o ensino
41
uma vez que prendem mais a atenção dos alunos pois permitem que ocorra uma
leitura simultânea da página, podendo o leitor captar a ação em todos os seus
tempos (CALAZANS, 2004).

Segundo Moysés Alves (2001), o uso dos quadrinhos nas escolas pode ajudar a
despertar nas crianças o gosto pela leitura, pois permite desenvolver nas crianças,
por exemplo, o hábito de “brincar sozinho”, desenvolvendo a criatividade da criança
e ajudando a desenvolver seu raciocínio desde bem cedo, abrindo caminho para a
exploração de textos mais complexos, sem que o ato da leitura se torne algo
cansativo.

O estudante deve aprender a trabalhar as informações que adquire através da


leitura. Uso os quadrinhos como uma forma de expressão do aluno que, desafiado a
exercitar sua capacidade criativa, acaba por criar seu próprio conhecimento. As HQ’s
ajudam os estudantes a compreender melhor o conteúdo estudado em sala de aula.
Segundo Diamantino Silva (1979), a informação quando transformada em História
em quadrinhos é compreendida numa velocidade maior, tento que é cada vez mais
freqüente o uso de tirinhas ou fragmentos de histórias em quadrinhos em livros
didáticos.

Uma das vantagens de se trabalhar com histórias em quadrinhos é que elas não
possuem uma faixa etária exata: há quadrinhos para todas as idades, da educação
infantil até a universidade. Na Europa, por exemplo, ensina-se latim usando-se
Asterix. Infelizmente, no Brasil, existe ainda um certo preconceito em relação aos
quadrinhos, quer por parte dos alunos, quer por parte dos professores. Há uma
tendência em se classificar os quadrinhos como um gênero narrativo inferior e
inadequado para leitura em algumas idades. Da mesma forma há, também, uma
tendência de se rotular alguns destes gêneros como inadequados para “meninas”,
tal como acontece com os quadrinhos de aventura e de super-heróis, considerados
“coisa de menino”. Um dos desafios de se trabalhar com quadrinhos é justamente
vencer este tipo de postura e mostrar que gosto literário independe de idade ou
sexo.

Segundo Nágila Caporlingua Giesta, vivemos em uma sociedade cada vez mais
escrita, onde a leitura é uma atividade de integração. Sendo assim, as HQ’s são um
recurso a mais na inserção das crianças no mundo das letras, dependendo do
professor encontrar o caminho para introduzir o aluno neste universo (GIESTA,
2006).

2 – A implantação do projeto

Nossa experiência com o uso dos quadrinhos nas escolas tomou corpo com a
criação de uma Gibiteca Escolar, um projeto realizado a médio prazo e que envolveu
toda a escola, oferecendo a professores e alunos oportunidades de aprenderem
juntos. A Gibiteca é um espaço destinado ao armazenamento e divulgação de
Histórias em Quadrinhos. Ela oferece aos leitores uma enorme variedade de
quadrinhos (terror, ficção científica, humor, aventura, etc.). A primeira gibiteca
inaugurada no Brasil foi a Gibiteca de Curitiba, em 1982. A maior gibiteca do Brasil é
mantida por um organismo do Estado: a Gibiteca Henfil. Órgão do Departamento de
Bibliotecas Infanto-Juvenis da Secretaria de Cultura do município de São Paulo, ela
42
foi inaugurada em 1991. Existem gibitecas que constituem sessões de grandes
bibliotecas, como a Gibiteca da Biblioteca Pública Infantil Aglaé Fontes, em
Aracaju/SE.

No caso da Gibiteca Escolar da Escola Municipal Judith Lintz Guedes Machado, a


criação da gibiteca veio a ser uma resposta às necessidades da escola, que possui
pouca infra-estrutura, mas que conta com um corpo docente muito bem preparado.
Escola da periferia da cidade de Leopoldina (MG), o projeto de se criar a Gibiteca
foi, antes de mais nada, uma forma de fazer a diferença, de oferecer a alunos e
professores um espaço onde pudessem crescer juntos.

A Gibiteca surgiu, inicialmente, da doação de parte da minha coleção particular


(cerca de 600 exemplares de HQ’s), Em seguida, realizei uma campanha na internet,
entre amigos e nas editoras, em busca de doações para expandir e diversificar o
acervo. Paralelamente, a escola cedeu uma pequena sala onde colocamos estantes
para alojar as doações que íamos recebendo. Em cerca de sete meses já tínhamos
aproximadamente 1.200 exemplares, doados por editoras – notadamente as de
pequeno porte -, por colecionadores e professores.

Neste primeiro momento a maior parte as doações foram feitas por pessoas de
outras cidades e mesmo, de outros Estados. O processo de instalação da gibiteca
durou cerca de um ano e contou com a ajuda de membros da comunidade, que
doaram seu trabalho para ajudar a decorar e organizar a Gibiteca. No início do ano
letivo de 2007, com as instalações praticamente prontas, recebemos os professores
da escola para lhes apresentar seu novo espaço de trabalho. A inauguração ocorreu
oficialmente no dia 11 de maio de 2007, contando com a presença de autoridades
locais, ligadas ao ensino. Tínhamos, então, um acervo aproximado de 1600
exemplares, em vários formatos e gêneros.

O passo seguinte foi levar nossa idéia para outras escolas. Para fazer isto, foi
organizado I Seminário sobre Quadrinhos, Leitura e Ensino, com apoio da
Secretaria Municipal de Educação, tendo como público-alvo professores da
educação infantil e do ensino fundamental. O objetivo era demonstrar que o uso das
histórias em quadrinhos podia ser um caminho para o processo de
ensino/aprendizagem e que elas poderiam ser usadas em todos os conteúdos, não
sendo apenas prerrogativa das séries iniciais.

O seminário reuniu 230 professores das redes municipal de ensino de Leopoldina,


pública e privada de Leopoldina. Ele foi realizado no dia 18 de maio de 2007 e teve a
participação dos professores: Waldomiro Vergueiro (USP), Octavio Aragão (UFES),
Arthur Soffiat (UFF) e Valéria Fernandes (Colégio Militar de Brasília). Nele os
pesquisadores procuram mostrar como os quadrinhos podem ser importantes no
ensino, enfocando desde a literatura até temas especícos como meio-ambiente,
história e geografia. Os nosso professores tiveram, então, o primeiro contato do as
HQ’s, do ponto de vista acadêmico. A resposta a este contato veio na forma de um
segundo seminário, voltado ao ensino de ciências através dos quadrinhos, marcado
para o dia 06 de junho de 2008.

Durante o ano de 2007 procuramos tornar o espaço da Gibiteca cada vez mais
atraente. Para tanto conseguimos a doação de computadores feita por empresas
particulares, Ongs ou por membros da nossa comunidade. Atualmente contamos
com seis computadores em funcionamento, onde os alunos podem ler e criar gibis.
43
Firmamos no início do ano uma parceria com o CEFET/Uned- Leopoldina que tem
oferecido gratuitamente cursos de informática básica e edição de histórias em
quadrinhos para nossos alunos e, posteriormente, para nossos professores.

Há na gibiteca um espaço reservado para o professor, onde ele pode dispor de


periódicos e livros que versam sobre o uso das HQ’s na sala de aula. Além de
material impresso, contamos com textos digitalizados, produzidos por educadores e
pesquisadores de todas as partes do país, centenas de tirinhas e HQ’s digitalizadas.
Os professores são estimulados a ler os gibis, tanto quanto estimulam seus alunos.
Eles também participam das atividades que são oferecidas aos alunos, tais como
oficinas de quadrinhos e cursos de informática para edição de quadrinhos. Esta
comunhão possibilita ao professor compreender melhor o próprio universo dos seus
alunos-leitores e, ao mesmo tempo, ter mais segurança para usar este material na
sala de aula.

Atualmente a Gibiteca conta com um acervo de 2620 exemplares (segundo


levantamento realizado no final do mês de fevereiro de 2008), tendo sido observada
um grande crescimento nas doações feitas por pessoas da própria cidade. O acervo
está distribuído da seguinte maneira:

Super- Álbuns Infantis Mangás Inglês Educativas Raridades Repetidas Suspense Total
heróis
1243 200 443 149 92 220 50 166 57 2620

A Internet foi uma ferramenta muito importante para o êxito do projeto. A construção
de um blog com a finalidade de divulgar os trabalhos realizados na Gibiteca, assim
como disponibilizar referentes aos quadrinhos nos possibilitou expandir nossos
contatos.

O blog Gibiteca.com tornou-se nosso cartão de visitas. Lá as pessoas podem


observar o que está sendo feito na escola e tomar conhecimento dos nossos
projetos e de seus resultados. Por meio de vídeos, pode entrar na Gibiteca, mesmo
estando em outras cidades, estados ou países. São divulgadas, periodicamente, as
doações que recebemos, mantendo desta forma um diálogo aberto com nossos
leitores. Além disto, a necessidade de manter sempre atualizado o espaço digital,
nos permitiu desenvolver uma série de pesquisas e buscar soluções para questões
levantadas pelos leitores do blog e pelos próprios professores.

2.1 – Gerenciado a Gibiteca

Uma das preocupações que tivemos durante o ano de 2007 foi de tentar manter um
registro daquilo que nossos alunos estavam lendo. A cada semana, quando eram
realizados os empréstimos de revistas em quadrinhos, os alunos assinavam o livro
de empréstimos e nele era registrado o título da Hq que estava sendo emprestada.
A partir destes dados pudemos verificar as preferências dos alunos, levando em
conta as doações que eram recebidas. Para facilitar o estudo, dividimos os meses
de maio a novembro em três períodos, como pode ser verificado na tabela abaixo:

Período Nº de dias corridos Nº de HQ’s emprestadas Média semanal


44
29/05 a 05/07 38 287 53,1
30/07 a 27/09 62 470 53,4
01/10 a 21/11 52 270 36,4
Total de empréstimos 1027

Quanto aos dados acima, cabem aqui alguns esclarecimentos. A princípio os


empréstimos eram realizados para os alunos dos turnos da manha e da tarde.
Observem que nos dois primeiros períodos o número de empréstimos por semana
permanece o mesmo. A partir do terceiro período, os empréstimos foram realizados
apenas para os alunos da tarde, devido ao aumento de serviço do professor
eventual do turno da manhã, que não lhe permitia manter os empréstimos no mesmo
ritmo. No entanto, a gibiteca continuou funcionando no turno da manhã para leitura,
acompanhada por professores. Neste caso, nem sempre se registrava o que era
lido, pois os professores tinham a liberdade de levar as HQ’s para a sala de aula.

Sendo assim, durante o ultimo período o número de empréstimos diminuiu em


relação aos outros meses, mas ao mesmo tempo notamos um aumento relativo
entre os alunos do turno da tarde. Em relação à leitura em si, fizemos um
levantamento do que foi lido nestes três períodos e chegamos aos seguintes
resultados:

Período Super-heróis, aventura e mistério Infantis Mangás


29/05 - 05/07 84% 13% 3%
30/07 - 27/09 43% 47% 10%
01/10 - 21/11 33% 42% 25%

Também com relação a estes dados, é relevante sublinhar alguns pontos. No


primeiro período de empréstimos, os quadrinhos infantis disponíveis eram poucos e
a maior parte do nosso acervo era composto por HQ’s de super-heróis. No segundo
período, a escola recebeu uma grande doação de HQ’s infantis, notadamente da
Turma da Mônica, o que permitiu que fosse liberado sem restrições o empréstimo
deste gênero, provocando uma grande queda na leitura de gibis de super-heróis.

No último período conseguimos recursos para comprar mangás, que até então eram
em número muito reduzido, mas cuja leitura estava aumentando gradativamente. O
aumento do acervo, no mês de novembro, fez com que muitos alunos se
interessassem mais por este gênero. Ao adquirir os títulos levamos em conta a
preferência dos alunos: as meninas gostavam de Sakura e Vídeo Girl AI, enquanto
que os meninos queriam Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco. Tendo em visto o
curto período em que este material ficou disponível, o crescimento da leitura pode
ser considerado muito significativo.

Sobre os títulos mais lidos, destacaram-se as revistas do Homem Aranha, dos X-


Men, da Turma da Mônica, da Turma do Xaxado, Vídeo Girl AI e Dragon Ball.
Notamos pouco interesse dos alunos nos álbuns e nas histórias em quadrinhos de
terror e mistério.

Ao reorganizar o espaço da gibiteca no início do ano de 2008 nos preocupamos em


etiquetar as caixas e as prateleiras com os nomes dos títulos, destacando os
gêneros. Na primeira semana de aula, foi afixada no mural e cada sala de aula sala
de aula e na própria gibiteca dicas de como fazer o melhor uso do espaço,
explicando, por exemplo, onde encontrar histórias completas, a entender a
seqüência das revistas seriadas, identificando as mais antigas e as mais novas, etc.
A professora eventual que fica responsável pelos empréstimos semanais faz a
45
orienta os alunos sobre necessidade de conservar os gibis e de efetuar sua
devolução dentro do prazo previsto (que é de uma semana).

Ao mesmo tempo, criamos um mural externo onde estão sendo colocados


mensalmente, imagens e textos falando sobre títulos que são pouco lidos ou que
são desconhecidos, mas que fazem parte do acervo da gibiteca, como, por exemplo,
Corto Maltese, de Hugo Pratt, Novos Titãs, da DC Comics, etc. É nossa intenção
observar se a disponibilização destas informações irá influir nas escolhas dos
alunos.

3 - Uma experiência com leitura e interdisciplinaridade

Durante o ano de 2007, aos poucos, alguns professores começaram a desenvolver


pequenas experiências de ensino utilizando histórias em quadrinhos. Neste primeiro
momento destacaram-se, três iniciativas. A primeira foi da professora de série inicial
Maria de Fátima Alves que desenvolveu uma pequena oficina de HQ’s junto a
alunos da escola que estavam com dificuldades de aprendizagem. São meninos e
meninas de idades variadas para os quais ela estava ministrando aulas de reforço.
O objetivo da oficina era estudar sobre folclore produzindo uma HQ. Segundo a
professora, o trabalho de produção de HQ’s foi estimulante pois incentivou-os a usar
da criatividade, transformando um trabalho escolar em uma atividade lúdica,
prazerosa.

A segunda experiência foi realizada pela Roseane Peres Rocha, que decidiu tornar
as avaliações de matemática mais divertidas para os alunos da 5ª série do Ensino
Fundamental. Ela utilizou tirinhas da Turma da Mônica para montar problemas
matemáticos e desafiando os alunos a fazerem o mesmo. Para a professora, o uso
dos quadrinhos nas atividades desperta a atenção dos alunos, que inclusive
preocupam-se com pequenos detalhes quando preenchem os balões: "Eles colocam
a fala errada do Cebolinha e sublinham as palavras que estão erradas”.

Uma vez que os resultados foram positivos, a professora pretende repetir a atividade
neste ano de 2008 e tem também se interessado em buscar outras formas de usar
quadrinhos no ensino da matemática. Para isto, uma ferramenta importante está
sendo a Internet, onde ela recolhe o material que usa para montar duas avaliações.

Outra professora que investiu nos quadrinhos foi Mary Ângela Carraro Dibo, que
trabalha com a disciplina língua portuguesa. Preocupada com os péssimos
resultados dos alunos da 6ª série, nas primeiras avaliações do 2º bimestre -
notadamente erros de ortografia e interpretação - a professora decidiu mudar a
rotina das suas aulas. Uma vez por semana dividia os alunos em dois grupos. Uma
metade fica na biblioteca e a outra é encaminhada à Gibiteca, sendo que em cada
semana os grupos se alternam. Lá os alunos faziam uma aula de leitura livre. Além
dos alunos terem melhorado seu desempenho nas aulas e nas avaliações, até a
disciplina da turma - que tinha muitos problemas desde o início do ano – também
mudou.

Mary Ângela destaca que os alunos preferem as aulas na gibiteca pelo ambiente
agradável e despojado, diferente da biblioteca, onde eles ficam sentados em
cadeiras e mesas. A professora observa que na biblioteca os alunos folheiam livros e
muitas vezes não os lêem. Já na gibiteca a atenção com a leitura é bem maior. Ela
assinala que o apelo visual das HQ’s é um fator importante, pois o desenho prende a
46
atenção e mesmo que o aluno "pule" algumas falas, ele consegue entender a
história graças à leitura das imagens.

A professora já trabalhava com quadrinhos em suas aulas, na forma de atividades.


Usando tirinhas do Snoopy - personagem de Charles Schulz -, ela propõe
exercícios que misturam desde questões gramaticais (identificar locuções verbais,
vocativos e onomatopéias) até interpretação. Em 2008, Dibo continua investindo nos
momentos de leitura na Gibiteca, agora com alunos do EJA (educação para Jovens
e Adultos) que freqüentam o turno da noite na escola.

Neste ano o número de professores interessados em desenvolver atividades com


quadrinhos aumentou consideravelmente. Os professores de educação infantil e
alfabetização foram os primeiros a procurar material na Gibiteca para trabalhar com
seus alunos. Alguns ofereceram ou vão oferecer uma pequena oficina de
quadrinhos, sugestão do Guia Prático do Professor do Ensino Fundamental I. Trata-
se de uma experiência de ensino desenvolvida pela professora Antônia de Sousa
Carvalho (2008), em Ribeira do Pombal (BA).

A oficina dura cinco dias e está sendo desenvolvida com a ajuda da professora
eventual. Nela os alunos aprendem a montar HQ´s e a produzir materiais diversos
como a TV quadrinhos e o Porta Gibis, e são incentivados a terem sua mini-gibiteca
em casa. O interesse dos alunos pela atividade é grande e tem sido desenvolvida na
2ª e 3ª séries do fundamental.

Uma disciplina que está se interessando pelos quadrinhos é a educação física. A


professora Milena está produzindo material didático para alunos de 5ª a 8ª séries
utilizando HQ´s. A educação física é uma disciplina que envolve esporte e atividades
lúdicas. Os quadrinhos são uma atividade lúdica, portanto se encaixam dentro do
conteúdo.

O obstáculo está em montar e selecionar material, pois há muito pouco – ou quase


nada – sobre o assunto, além dos textos que já havíamos disponibilizado no Blog da
Gibiteca Escolar. Procuramos em primeiro lugar identificar as atividades esportivas
nos quadrinhos, buscando em HQ’s publicadas no Brasil referências a estas
atividades.

Encontramos algumas, como a Turma do Xaxado, a Turma da Mônica, Senninha, Zé


Carioca, e Oscarzinho, por exemplo, onde o esporte aparece como tema de
algumas histórias. A realização dos jogos Pan Americanos no Rio de Janeiro, em
2007, ajudou a disponibilizar algum material, que já está sendo utilizado pela
professora para compor aulas de educação física. A idéia é mostrar que se estuda
educação física tanto quanto outras disciplinas e alternar as aulas nas quadras com
aulas dentro de sala, onde os alunos estudam sobre cada esporte, fazem atividades
envolvendo quadrinhos – onde tem inclusive que trabalhar interpretação de texto – e
são avaliados.

Cabe ao professor avaliar a melhor forma de utilizar as HQ’s com seus alunos.
Alguns autores sugerem que os quadrinhos podem ser trabalhados de três formas
básicas: a) através da análise critica da história; b) incentivando a criação de
histórias em quadrinhos pelos próprios alunos; c) utilizando os quadrinhos como um
meio de expressão e conscientização política.
47
Conclusão

Para muitas pessoas que tomam conhecimento do projeto, usar as HQ’s nas
escolas, como instrumento de ensino pode parecer uma novidade. Mas não é bem
assim. Já existem no Brasil e mesmo no exterior várias iniciativas de aproximar o
leitor – jovem ou adulto – das histórias em quadrinhos. Em Portugal, por exemplo,
temos a Bededeteca de Lisboa (lá as HQ’s são chamadas de banda desenhada, nos
países de língua francesa elas são as bande dessinées), na França há no Museu de
Angoulème a Fanzinothèque de Pottiers.

Criada em 1989 por iniciativa do “Conseil Communal des Jeunes de Poitiers”, a


Fanzinoteca desenvolve suas atividades em duas direções: a documentação e o
patrimônio de um lado e organização de eventos de outra. Ela funciona como uma
grande empresa e classifica e arquiva toda produção amadora (música, HQ’s,
literatura, etc.) Ela possui a disposição do público um fundo de mais de 50.000
documentos e publicações. É a única fanzinoteca do mundo que mantém atividades
constantes. No Brasil há gibitecas espalhadas por várias cidades do país, mas ainda
são em número reduzido. Embora as HQ’s sejam uma mídia popular, ainda há quem
restrinja o espaço que elas ocupam como forma de leitura, ensino e comunicação.

Estamos procurando promover pequenos cursos e eventos envolvendo toda a


comunidade escolar e colegas de outras escolas, buscando divulgar a leitura e o uso
das HQ’s nas salas de aula, assim como os benefícios de se ter uma gibiteca.
Recebemos periodicamente e-mails e telefonemas de pessoas que desejam criar
gibitecas nas suas escolas, mas não sabem como fazê-lo. Procuramos sempre
orientar da melhor forma possível e estamos abertos a todos que desejem multiplicar
esta idéia. O ensino se dá pela comunhão e pela partilha, e a solidariedade deve se
a base de toda atividade escolar.

Pode parecer, a primeira vista, que o uso de HQ’s e a criação de gibitecas nas
escolas esteja sendo apresentado como uma solução milagrosa para os problemas
que enfrentamos no ensino. Este equívoco talvez seja responsável pela resistência
de muitos profissionais do ensino em aceitar os gibis e outras mídias nas escolas.
Elas não substituem o professor nem são suficientes para formar nossos estudantes.
Mas são instrumentos didáticos importantes que podem auxiliar neste processo.

A Gibiteca é um apoio para o professor que deseja diversificar as suas aulas. Ela
não garante por si só o êxito do aluno, mas ela fornece a ele a possibilidade de
ampliar seus horizontes e de desenvolver sua capacidade de ler. Ela também age
na auto-estima dos professores. Eles passam a dar mais valor ao seu trabalho. O
professor redescobre junto com o aluno o prazer da leitura e acaba promovendo sua
auto-formação, construindo seu conhecimento, aprimorando suas metodologias de
trabalho, deixando de ser apenas um profissional do ensino, mas sobretudo um
educador.

Referências

ALVES, José Moysés. Histórias em quadrinhos e educação infantil. Psicol.cienc.


prof. Brasília, vol..21, num.3, set. 2001. Disponível em: < http://scielo.bvs-
48
psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
32001000300002&lng=pt&nrm=is>. Acesso em: 05/02/2006.

CABRINI, Conceição et. alii. O Ensino de História: revisão urgente.- 5a ed – São


Paulo: Brasiliense, 1994.

CALAZANS, Flavio Mario de Alcântara. História em quadrinhos na escola. São


Paulo: Paulus, 2004.

CARVALHO, Antônia de Sousa. Gibiteca na Escola. Guia prático do professor do


ensino fundamental I. São Paulo: Editora Lua, ano 5, nº 49, março/2008

FIORIN, José Luis, SAVIONI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e
redação. - 2. ed. São Paulo: Editora Ática, 1991.

GIESTA, Nágila Caporlíngua. Histórias em quadrinhos: recurso no ensino e na


investigação educacional In: XIII Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino,
Recife/PE. Anais do XIII ENDIPE, 2006

GONÇALVES, Jussemar Weiss. O campo da história na Escola Pública. In: Qual


história? Qual ensino? Qual cidadania? – Porto Alegre: ANPUH, Ed. Unisinos,
1997.

SILVA, Diamantino da. Quadrinhos para Quadrados. Porto Alegre: Bels, 1979.

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