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reformador abril 2006 - A.

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Expediente Sumário
4 Editorial
Compromisso com o Consolador
12 Presença de Chico Xavier
Doutrina Espírita – Emmanuel
Fundada em 21 de janeiro de 1883 15 Entrevista: Rúbia da Costa Guimarães
Fundador: Augusto Elias da Silva 50 anos de dedicação ao livro espírita
21 Esflorando o Evangelho
Revista de Espiritismo Cristão Educa – Emmanuel
Ano 124 / Abril, 2006 / N o 2.125
28 A FEB e o Esperanto
ISSN 1413-1749 Comovente depoimento, da Hungria, sobre
Propriedade e orientação da Memórias de um Suicida – Affonso Soares
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA
Diretor: NESTOR JOÃO MASOTTI 36 Páginas da Revue Spirite
Diretor-Substituto e Editor: ALTIVO FERREIRA A Escola Espírita Americana – Allan Kardec
Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO
CESAR PERRI DE CARVALHO, EVANDRO 42 Seara Espírita
NOLETO BEZERRA e LAURO DE OLIVEIRA SÃO THIAGO
Secretária: SÔNIA REGINA FERREIRA ZAGHETTO
Gerente: AMAURY ALVES DA SILVA
Gerente de Produção: GILBERTO ANDRADE
Equipe de Diagramação: SARAÍ AYRES TORRES, AGADYR 5 O desenvolvimento progressivo – Juvanir Borges de Souza
TORRES E CLAUDIO CARVALHO
Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA 9 O Dia D – Richard Simonetti
CARVALHO 13 O poder da fé para resistir ao estresse –
REFORMADOR: Registro de publicação
o
Aylton Paiva
n 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Polí-
cia Federal do Ministério da Justiça), 17 Homenagem aos 50 anos de Rúbia na FEB
CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503 18 Allan Kardec, discípulo fiel de Jesus –
Direção e Redação: Adilton Pugliese
Av. L-2 Norte • Q. 603 • Conj. F (SGAN)
70830-030 • Brasília (DF) 20 Prática Espírita
Tel.: (61) 2101-6150 22 Mandamento aos Dirigentes Espíritas –
FAX: (61) 3322-0523
Departamento Editorial e Gráfico: Waldehir Bezerra de Almeida
Rua Souza Valente, 17 • 20941-040
Rio de Janeiro (RJ) • Brasil
24 Retorno à Pátria Espiritual –
Tel.: (21) 2187-8282 • FAX: (21) 2187-8298 Altivo Carissimi Pamphiro
E-mail: redacao.reformador@febrasil.org.br
25 Espiritismo: as causas de sua rápida propagação
Home page: http://www.febnet.org.br
E-mail: feb@febrasil.org.br e
– Washington Luiz Fernandes
webmaster@febnet.org.br 27 Fato histórico sobre divulgação da Doutrina –

PARA O BRASIL
Oceano Vieira de Melo
Assinatura anual R$ 39,00 30 O Exorcismo na visão espírita – Carlos Abranches
Número avulso R$ 5,00
32 Em dia com o Espiritismo – Intuição –
PARA O EXTERIOR
Assinatura anual US$ 35,00 Marta Antunes Moura
Assinatura de Reformador: 35 Comemorações do Sesquicentenário do Espiritismo
Tel.: (21) 2187-8264 • 2187-8274
E-mail:
38 Desafios na Casa Espírita – Mário H. de Luna
assinaturas.reformador@febrasil.org.br 39 Retificando...
40 A hora é avançada – P.-G. Leymarie
Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA
Capa: LUIS HU RIVAS 41 A FEB na Bienal do Livro de São Paulo
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Editorial
Compromisso
com o Consolador
A
nalisando o texto do Evangelho de João, onde Jesus promete outro
Consolador para a Humanidade (cap. 14, vv. 15 a 17 e 26), Allan Kardec
fez os seguintes comentários em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap.
VI, item 4):
“Jesus promete outro Consolador: o Espírito de Verdade, que o mundo ainda
não conhece, por não estar maduro para o compreender, consolador que o Pai
enviará para ensinar todas as coisas e para relembrar o que o Cristo há dito. Se, por-
tanto, o Espírito de Verdade tinha de vir mais tarde ensinar todas as coisas, é que o
Cristo não dissera tudo; se ele vem relembrar o que o Cristo disse, é que o que este
disse foi esquecido ou mal compreendido.”
“O Espiritismo vem, na época predita, cumprir a promessa do Cristo: preside ao
seu advento o Espírito de Verdade. Ele chama os homens à observância da lei; ensi-
na todas as coisas fazendo compreender o que Jesus só disse por parábolas.”
“O Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porquanto fala sem figuras, nem
alegorias; levanta o véu intencionalmente lançado sobre certos mistérios. Vem,
finalmente, trazer a consolação suprema aos deserdados da Terra e a todos os que
sofrem, atribuindo causa justa e fim útil a todas as dores.”
“Assim, o Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido: conhe-
cimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde vem, para onde vai e por
que está na Terra; atrai para os verdadeiros princípios da lei de Deus e consola pela
fé e pela esperança.”
As observações de Allan Kardec evidenciam o compromisso do Espiritismo para
com a Humanidade, na condição de Consolador Prometido, no sentido de “ensinar
todas as coisas e recordar tudo o que Jesus nos disse”. Tornam evidente, também, o
compromisso que os espíritas têm para com o Espiritismo, de trabalhar intensa-
mente com o objetivo de colocá-lo ao alcance e a serviço de todos os homens, pro-
movendo e realizando o seu estudo, a sua divulgação e a sua prática, que estarão
sempre calcados na plena vivência da caridade cristã.

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O desenvolvimento
progressivo
J U VA N I R B O R G E S DE SOUZA

T
odos os povos, em todas as Criação Divina, a alma humana, dade e a realidade – eis que o ho-
épocas, têm recebido o ba- nunca deixou de se voltar, de algu- mem, levado por sua ignorância, às
fejo da bondade e da assis- ma forma, mesmo quando encar- vezes pelas intuições inferiores, nem
tência da Divina Providência. nada, para o Grande Foco criador. sempre abraçou o melhor, o verda-
Quando dizemos, com Kardec, Esse fato pode ser constatado deiro; pelo contrário, muitas vezes
que o Espiritismo é de todos os não só nos períodos históricos. se transviou nos desvãos da igno-
tempos, queremos significar que Mesmo na pré-história, pode- rância, da superstição e do erro.
apenas a Doutrina Espírita codifi- mos afirmar, baseados nos pesqui- Entretanto, nem por isso aban-
cada é recente, com cerca de um sadores, que a idéia de Deus, ou se- donou a indagação da natureza de
século e meio, pois, na realidade, o ja o sentimento religioso, nasceu seu próprio ser e do seu destino.
intercâmbio entre o mundo espiri- com o primitivo homem. Não há criatura, por mais atrasada
tual e o mundo dos encarnados ja- De tal sorte a idéia religiosa está que seja, que não se tenha interes-
mais deixou de existir. arraigada no ser humano que po- sado pelos problemas de sua pro-
Sendo o homem essencialmente demos dizer que já era religioso o cedência e de sua destinação. É a
um ser espiritual, é lógico que sua homem primitivo das cavernas. eterna indagação: Quem sou? Don-
parte mais importante nunca se A idéia religiosa não se desliga do de venho? Para onde vou? Formu-
tenha desligado da fonte de onde homem em sua marcha ascensional. lada bilhões de vezes, por formas
promana. E como partícula da Note-se que, quando falamos de diferentes, de conformidade com o
idéia religiosa, nem sempre nos re- entendimento de cada criatura, no
ferimos à verdadeira religião – entanto é, na essência, sempre a
àquela que expressa fielmente a ver- mesma inquirição.
Daí não acreditarmos naqueles
materialistas puros, nos epicuris-
tas, nos niilistas de todos os tem-
pos e muito especialmente nos da
nossa época.
Não que neguemos que em
muitos deles exista sinceridade, ao
expressarem suas crenças, descren-
ças ou pseudoverdades.
Mas porque todo homem, seja ele
espiritualista ou não, guarda no in-

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terior do ser, no íntimo de sua sub- Cristo de Deus contém ensinos de havia dificuldade em apreender-lhe
consciência, aquela idéia, aquela pe- múltiplas naturezas. os ensinos. Os Evangelhos testemu-
quena chama que o religa ao Cria- Alguns serviram de imediato nham abundantemente as muitas
dor. Assim, por mais que se transvie, àquelas criaturas simples de cora- indagações dos discípulos a respei-
por mais que negue o Grande Pai, ção, que o ouviram falar de histó- to das lições que o Mestre lhes ia
essa chama íntima jamais se apaga e, rias baseadas na própria vida diá- ministrando.
mais cedo ou mais tarde, no desen- ria a que estavam acostumadas. Não há dúvida de que os Evan-
rolar da própria vida do Espírito, Ouviram e guardaram as palavras, gelhos, repositórios dessas lições e
após uma, duas ou muitas experiên- procurando seguir as lições que exemplos, que serviram de base à
cias reencarnatórias, a criatura se elas encerram. difusão do Cristianismo e à sua
volta para a realidade. Outros ensinos, entretanto, fica- implantação em grande parte de
Não nos preocupemos, pois, em ram velados sob as parábolas e se nosso mundo, têm sido entendi-
demasia com o grande problema, destinavam aos que as pudessem dos principalmente em seu sentido
do niilismo, do materialismo mul- apreender no futuro, que os séculos literal, sem a preocupação de apro-
tifário de nossos tempos. Ele é o trariam no seu fluir incessante. fundar-lhes os aspectos ocultos e o
produto natural de um mundo in- Graças à Revelação Espírita, po- sentido transcendental.
ferior que há de se transformar, demos hoje compreender muitas Até o advento da Revelação dos
porque sabemos que a bondade in- das palavras de sabedoria do Rabi, Espíritos e diante das próprias ne-
finita de Deus permite que haja li- porque os Espíritos do Senhor des- cessidades da humanidade cristã,
berdade dos seres, dentro do livre- cerraram o véu que cobria o senti- tornou-se aceitável e suficiente, pro-
-arbítrio com que os dotou, até do mais profundo da mensagem visoriamente, a interpretação literal,
mesmo para negar o próprio Pai. de Amor deixada aos homens. tendo em vista, o grau evolutivo das
Mas, dia virá em que todas essas Por que assim aconteceu? Por gerações, até que as condições de
criaturas verificarão seu grande er- que não usou Jesus o ensino direto progresso espiritual dos homens re-
ro, seu grande crime contra o e despido do véu da letra? clamassem novas perspectivas.
Criador, e se arrependerão e reini- Muitos de nossos irmãos, ainda O Espiritismo, considerado a
ciarão a ingente tarefa de refazi- hoje, não compreendem a necessi- terceira etapa da Revelação Divina,
mento íntimo. dade do ensino progressivo. De com suas raízes mais profundas
Essa pequena digressão mostra- posse de muitas facetas da Verdade, firmadas no Cristianismo, não
-nos o grande papel da Verdade graças à Revelação Progressiva, es- deixa de se apresentar como dou-
sob a forma espírita no combate ao quecem-se de que outros irmãos, trina essencialmente evolutiva. Diz-
grande erro que é o materialismo. vivendo nesta mesma época, não -se, com muita procedência, que o
Notemos que a Codificação Es- conseguem apreender essa mesma Espiritismo não termina com Kar-
pírita apareceu no mesmo século e Revelação, apesar de já ter sido dei- dec, antes, começa com ele.
no mesmo cenário em que se for- xada pelo Cristo há vinte séculos. A Codificação é a base sólida,
mularam e se propagaram várias Lembremo-nos, de outro lado, firme, incontestável.
doutrinas materialistas. Não pode- que Jesus, em sua passagem mis- Mas, assim como o Cristo não
mos a isso chamar de coincidên- sionária, usou de linguagem diver- disse tudo, nem convinha que o fi-
cia, ou acaso, pois sabemos que tal sa, conforme se dirigia ao povo, in- zesse, também o Consolador, por
não existe. discriminadamente, ou ao seu Co- Ele prometido e que aí está, assen-
légio Apostólico em especial. tou os fundamentos, as grandes li-

É fato sabido que, mesmo entre nhas mestras do majestoso edifício
Temos aprendido, com a Dou- os discípulos, espíritos já qualifica- das Verdades Novas; os detalhes
trina Espírita, que a Mensagem do dos para coadjuvar-lhe a missão, viriam depois do mestre lionês.

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Continuam chegando. Virão ainda Entretanto, para haver progres- face do Orbe e desapareceram pos-
no futuro, próximo ou remoto. so verdadeiro é necessário acres- teriormente.
Cristianismo, em espírito e ver- centar-se ao progresso científico, A evolução física do globo, por-
dade, e Espiritismo, têm como ca- diversificado no campo das ciên- tanto, é outro fato comprovado,
racterística comum, dentre as inú- cias físicas, da Medicina, da Tecno- que continua a processar-se inces-
meras afinidades que os aproxi- logia, da Astronomia, e das ciên- santemente.
mam, o caráter evolucionista, em cias aplicadas em geral, o aperfei- Os Espíritos do Senhor já nos
seu sentido de desenvolvimento çoamento moral do homem – aí revelaram que nossa Terra se trans-
gradual e progressivo. está o grande passo. formará em Mundo Regenerado.
Mesmo nós, espíritas, ainda A Geologia já comprovou as Mas quando?
não nos apercebemos de todos os inúmeras transformações físicas Não podemos precisar o dia exa-
ensinos de Jesus, eis que algumas da Terra, desde os tempos primiti- to, nem o ano, nem o século, mas é
de suas palavras permanecem sob vos de sua formação até os nossos certo que esse tempo se aproxima.
um véu proposital. A verdade não Para quem tem olhos de ver, os
se acha totalmente desenvolvida, Evangelhos, entendidos em espíri-
em certas passagens evangélicas.
Alguns acontecimentos futuros
Os Espíritos to e verdade, aí estão a avisar os
homens sobre os acontecimentos
permanecem envoltos em dúvi-
das, até que a Espiritualidade, a do Senhor já de ordem física e de ordem moral
que hão de suceder, em cumpri-
serviço do Governador do Plane- mento à Lei do Progresso.
ta, diante de novas conquistas da nos revelaram No tocante à ordem física, a Na-
Humanidade no terreno da Fé e tureza continuará a processar con-
do Amor, julgue poder descerrar que nossa tinuamente a transformação da Ter-
completamente a cortina, para ra, até que atinja a condição de glo-
que jorre toda a luz.
Como disse o Batista, o precur-
Terra se bo imerso em fluidos mais puros.
Acompanhando o aperfeiçoa-
sor, precisamos “endireitar nossos
caminhos” isto é, os homens de
transformará mento físico do Globo, as raças
humanas serão renovadas, pela en-
boa vontade precisam regenerar as
estradas do mundo.
em Mundo carnação de Espíritos mais bem
preparados. Parte dessa nova po-
Para que alguém sinta a influên-
cia retificadora do Cristo necessita
Regenerado pulação da Terra Renovada será
constituída pelos que já aceitaram
corrigir a própria estrada que tem os caminhos indicados pelo Cris-
percorrido, modificando, no senti- dias. Antes do aparecimento do ho- to, Espíritos que aqui habitam e
do do bem, os impulsos oriundos de mem, sua crosta passou por trans- que aspiram ao Bem. Outra parte
hábitos de um passado delituoso, formações profundas, até que os será constituída pelos Espíritos
desfazendo assim as sombras que o elementos permitissem o apareci- oriundos de outros mundos, cujo
rodeiam. mento da vida orgânica. adiantamento tenha chegado ao
Precisamos todos afeiçoar a O homem foi o último ser da mesmo nível do dos novos habi-
exortação do Batista às nossas pró- escala animal a vir habitar a crosta tantes da Terra.
prias necessidades. terrestre. Os rebeldes, os que persistem
A evolução da Terra, no sentido Antes dele, em milhões e mi- nas ilusões da materialidade, os
do adiantamento científico, é um lhões de anos, inúmeras espécies negativistas encarniçados no mal, a
fato inegável constatado por todos. animais e vegetais apareceram na estes só resta o afastamento para

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outro planeta, cujas condições se constitui em avassaladora maioria, O apressamento desse reino
coadunem com suas próprias con- já não mais poderá perturbar as depende, em grande parte, de nós
dições morais. aspirações de fraternidade e de mesmos, dos esforços dos que
Será a hora da separação do joio compreensão, pois não mais cres- têm boa vontade para endireitar
do trigo, quando o Senhor, que se cerá junto ao trigo. os caminhos.
reserva a colheita, lançará o joio Na prestação de contas, a Justi- “Passarão o céu e a Terra, mas
ao fogo do sofrimento e das tarefas ça do Senhor será eqüitativa; cada não passarão minhas palavras.”
mais penosas, tal como se deu há um receberá de acordo com o pró- (Mateus, 24:35.)
milênios com os Espíritos que aqui prio mérito, tendo em vista a boa Suas palavras não passarão sem
aportaram, oriundos do sistema de vontade de cada qual. cumprimento integral, porque elas
Capela, perdendo seu Paraíso. O progresso da matéria se dará são os ensinos que se constituem
É a lei irresistível do progresso paralelamente com o do Espírito, no caminho e na verdade.
que determinará a posição de cada através das reencarnações. Sabemos que é desconhecida a
um, de conformidade com as pró- “Quando estas coisas começa- hora predita para a depuração da
prias obras. rem a suceder – disse Jesus – er- Terra e da Humanidade.
O sinal do Filho do Homem, se- guei a cabeça e olhai para o alto, Por isso mesmo, os que crêem,
gundo as palavras de Jesus, que há pois que se aproxima a vossa re- os que esperam, precisam estar
de aparecer no céu, é o advento do denção.” (Lucas, 21:28.) alertas – a vigilância é não só ne-
reino do Amor. É a Terra Regene- Redenção, no pensamento do cessária para todos os atos de
rada, onde, em lugar do predomí- Mestre Jesus, tem o significado de nossa vida, como também ao exa-
nio da materialidade, haverá o im- regeneração. me de todos os acontecimentos
pério do Espírito, com a esperança O advento do reinado do amor previstos.
sempre presente, a alegria diante e da fraternidade já está sendo pre- E os Evangelhos enfatizam a
das graças concedidas pelo Cria- parado por Espíritos enviados pelo necessidade dessa vigilância.
dor, quando o joio, que hoje se Senhor à Terra.

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O Dia D RICHARD SIMONETTI

D
ia D, termo usado nos cír- com o espantoso saldo de cin-  Materialismo
culos militares, marca o qüenta milhões de mortos, apro- Doutrina que identifica, na
início de determinada ope- ximadamente. matéria e em seu movimento, a
ração bélica. 
realidade fundamental do uni-
O mais famoso ocorreu em 6 de verso, com a capacidade de ex-
junho de 1944, na maior operação A Segunda Guerra Mundial foi plicação para todos os fenôme-
militar aeronaval da História. Cen- relativamente curta, se confronta- nos naturais, sociais e mentais.
to e cinqüenta e cinco mil homens, da com outras que se estenderam
dos exércitos dos Estados Unidos, por décadas. Tradução: Somos um agregado
Grã-Bretanha e Canadá, lança- A pior de todas tem milhares de celular que, por razões insondá-
ram-se nas praias da Normandia, anos. veis, adquiriu a capacidade de pen-
região da França atlântica, dando Eclodiu desde o aparecimento sar, efemeramente, até que se esgo-
início à libertação européia do do- do Homem, envolvendo o embate te sua vitalidade, retornando ao
mínio nazista. entre duas concepções, definidas pó, segundo a expressão bíblica.
Começava o colapso do III Reich, pelo Dicionário Houaiss: O materialismo, infelizmente,
o império que, segundo a propa- tem dominado o mundo, não como
ganda de Adolf Hitler, deveria  Espiritualismo idéia, já que a vasta maioria dos ho-
dominar o Mundo por mil anos. Doutrina que remonta às mens admite a existência e sobre-
Aquelas operações culminariam origens gregas da filosofia, e que vivência da Alma, conforme ensi-
com o fim da Segunda Guerra consiste na afirmação da exis- nam as religiões, mas como vivên-
Mundial, cujo início ocorrera cin- tência ou realidade substancial cia, como maneira de ser.
co anos antes, com a invasão da do Espírito, e de sua autonomia, Raros comportam-se de acordo
Polônia pelas forças nazistas. diferença e preponderância em com a noção de que continuare-
Após onze meses, a Alemanha relação ao corpo material. mos a viver após a morte física e de
rendia-se. O mesmo aconteceria que nos pedirão contas, no Além,
com seu aliado, o Japão, quatro Tradução: Somos Espíritos imor- do que estamos aprontando na
meses depois. tais. Vivíamos antes do berço. Con- Terra.
Terminava, assim, em agosto de tinuaremos a viver depois do tú- Isso porque a sobrevivência tem
1945, a pior de todas as guerras, mulo. sido uma questão de fé, defendida

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pelas religiões, com base em espe- decorrem e esse sentimento se  Espíritas imperfeitos
culações que recendem a fantasia. reflete em algumas passagens Os que no Espiritismo vêem

de seus escritos e de seus dis- mais do que fatos; compreen-
cursos, a ponto de suporem, dem-lhe a parte filosófica; ad-
Nesse milenar conflito há um os que os ouvem, que eles são miram a moral daí decorrente,
Dia D. completamente iniciados.(...) mas não a praticam. Insigni-
Ocorreu há cento e quarenta e (Primeira Parte, cap. III, item ficante ou nula é a influência
nove anos, no dia 18 de abril de 27.) que lhes exerce nos caracte-
1857, com o lançamento de O Li- res. Em nada alteram seus há-
vro dos Espíritos, de Allan Kardec. Ainda que não engajados, con- bitos e não se privariam de um
Incursões ocorreram antes dis- tribuem para o esforço de guerra. só gozo que fosse. O avarento
so, envolvendo agentes infiltrados continua a sê-lo, o orgulhoso
no território inimigo, Espíritos que  Espíritas experimentadores se conserva cheio de si, o inve-
se manifestavam com o concurso joso e o cioso sempre hostis.
de indivíduos dotados de grande Consideram a caridade cris-
sensibilidade, os médiuns. tã apenas uma bela máxima.
Com o Espiritismo tivemos (...) (Idem, ibidem. 2o subi-
autêntica invasão, que tende a tem.)
ampliar-se e multiplicar-se,
na medida em que os ini- Postura espiritualista; com-
ciantes aprendam como se portamento materialista.
processa o fenômeno me-
diúnico, que permite o  Espíritas exaltados
intercâmbio com o Além. A espécie humana
Temos no Espiritismo seria perfeita, se sempre
o mais importante esforço tomasse o lado bom das
de guerra na luta contra o coisas. Em tudo, o exagero é
materialismo, cujo sucesso é prejudicial. Em Espiritismo,
de importância vital para que infunde confiança demasiado
a Terra deixe de ser um planeta cega e freqüentemente pueril,
de Provas e Expiações e seja pro- no tocante ao mundo invisí-
movida a Mundo de Regeneração, vel, e leva a aceitar-se, com
como está em O Evangelho segun- extrema facilidade e sem veri-
do o Espiritismo. ficação, aquilo cujo absurdo,
Há que se considerar as postu- Os que crêem pura e simples- ou impossibilidade a reflexão
ras dos combatentes espíritas, con- mente nas manifestações. Para e o exame demonstrariam. O
forme a definição de Kardec, em O eles o Espiritismo é apenas entusiasmo, porém, não refle-
Livro dos Médiuns: uma ciência de observação, te, deslumbra. Esta espécie de
uma série de fatos mais ou me- adeptos é mais nociva do que
 Espíritas sem o saberem nos curiosos. (Idem, ibidem. útil à causa do Espiritismo.
(...)Sem jamais terem ouvido item 28, 1o subitem.) São os menos aptos para con-
tratar da Doutrina Espírita, vencer a quem quer que seja,
possuem o sentimento inato Meros simpatizantes, não se porque todos, com razão, des-
dos grandes princípios que dela dispõem a pegar nas armas. confiam dos julgamentos de-

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les. Graças à sua boa-fé, são Disciplinados e firmes em seus peceria a vossa alma. Alegrai-vos,
iludidos, assim por Espíritos ideais, esses soldados estão empe- quando Deus vos enviar para a luta.
mistificadores, como por ho- nhados no bom combate, a que se Não consiste esta no fogo da batalha,
mens que procuram explorar- referia o apóstolo Paulo, o esforço mas nos amargores da vida, onde, às
-lhes a credulidade. (Idem, ibi- do Bem aliado ao empenho de vezes, de mais coragem se há mister
dem, 4o subitem.) renovação. do que num combate sangrento,
porquanto não é raro que aquele que

Soldados despreparados, abrem se mantém firme em presença do
flancos nas fileiras espíritas. Notável a expressão espírita cris- inimigo fraqueje nas tenazes de uma
tão, que situa na vanguarda da pena moral. Nenhuma recompensa
 Espíritas cristãos espiritualização da Humanidade obtém o homem por essa espécie de
Os que não se contentam os espíritas que se ligam aos valo- coragem; mas, Deus lhe reserva pal-
com admirar a moral espírita, res do Evangelho. mas de vitória e uma situação glo-
que a praticam e lhe aceitam Se aspiramos a essa gloriosa rea- riosa. Quando vos advenha uma
todas as conseqüências. Con- lização, é bom ter sempre presente causa de sofrimento ou de contrarie-
vencidos de que a existência uma observação do Espírito La- dade, sobreponde-vos a ela, e, quan-
terrena é uma prova passagei- cordaire, no capítulo V, item 18, de do houverdes conseguido dominar os
ra, tratam de aproveitar os seus O Evangelho segundo o Espiritismo: ímpetos da impaciência, da cólera,
breves instantes para avançar ou do desespero, dizei, de vós para
pela senda do progresso, única O militar que não é mandado convosco, cheio de justa satisfação:
que os pode elevar na hierar- para as linhas de fogo fica descon- “Fui o mais forte”. (...)
quia do mundo dos Espíritos, tente, porque o repouso no campo Esses, leitor amigo, os heróis
esforçando-se por fazer o bem nenhuma ascensão de posto lhe fa- que contribuirão decisivamente pa-
e coibir seus maus pendores. culta. Sede, pois, como o militar e ra a vitória dos exércitos espiritua-
(...) (Idem, ibidem, 3o subi- não desejeis um repouso em que o listas, habilitando-se à suprema
tem.) vosso corpo se enervaria e se entor- comenda: soldados do Cristo!

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Presença de Chico Xavier

Doutrina Espírita
T
oda crença é respeitável. Toda religião erguida em princípios nobres, mes-
No entanto, se buscaste a Doutrina Espírita, mo as que vigem nos outros continentes, embora nos
não lhe negues fidelidade. pareçam estranhas, guardam a essência cristã.
Toda religião é sublime. No entanto, só a Doutrina Espírita nos oferece
No entanto, só a Doutrina Espírita consegue expli- a chave precisa para a verdadeira interpretação do
car-te os fenômenos mediúnicos em que toda religião Evangelho.
se baseia. Porque a Doutrina Espírita é em si a liberalidade e
Toda religião é santa nas intenções. o entendimento, há quem julgue seja ela obrigada a
No entanto, só a Doutrina Espírita pode guiar-te na misturar-se com todas as aventuras marginais e com
solução dos problemas do destino e da dor. todos os exotismos, sob pena de fugir aos impositivos
Toda religião auxilia. da fraternidade que veicula.
No entanto, só a Doutrina Espírita é capaz de exo- Dignifica, assim, a Doutrina que te consola e liber-
nerar-te do pavor ilusório do inferno, que apenas sub- ta, vigiando-lhe a pureza e a simplicidade, para que
siste na consciência culpada. não colabores, sem perceber, nos vícios da ignorância
Toda religião é conforto na morte. e nos crimes do pensamento.
No entanto, só a Doutrina Espírita é suscetível de “Espírita” deve ser o teu caráter, ainda mesmo te
descerrar a continuidade da vida, além do sepulcro. sintas em reajuste, depois da queda.
Toda religião apregoa o bem como preço do paraí- “Espírita” deve ser a tua conduta, ainda mesmo que
so aos seus profitentes. estejas em duras experiências.
No entanto, só a Doutrina Espírita estabelece a “Espírita” deve ser o nome de teu nome, ainda
caridade incondicional como simples dever. mesmo respires em aflitivos combates contigo mes-
Toda religião exorciza os Espíritos infelizes. mo.
No entanto, só a Doutrina Espírita se dispõe a “Espírita” deve ser o claro adjetivo de tua institui-
abraçá-los, como a doentes, neles reconhecendo as ção, ainda mesmo que, por isso, te faltem as passagei-
próprias criaturas humanas desencarnadas, em ou- ras subvenções e honrarias terrestres.
tras faixas de evolução. Doutrina Espírita quer dizer Doutrina do Cristo.
Toda religião educa sempre. E a Doutrina do Cristo é a doutrina do aperfeiçoa-
No entanto, só a Doutrina Espírita é aquela em que mento moral em todos os mundos.
se permite o livre exame, com o sentimento livre de Guarda-a, pois, na existência, como sendo a tua
compressões dogmáticas, para que a fé contemple a responsabilidade mais alta, porque dia virá em que
razão, face a face. serás naturalmente convidado a prestar-lhe contas.
Toda religião fala de penas e recompensas.
No entanto, só a Doutrina Espírita elucida que to- Pelo Espírito Emmanuel
dos colheremos conforme a plantação que tenhamos
lançado à vida, sem qualquer privilégio na Justiça Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Religião dos Espíritos. 17. ed.
Divina. Rio de Janeiro: FEB, 2005, p. 227 a 229.

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O poder da fé
para resistir
ao estresse
“Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as suas más inclinações?
– Sim, e, freqüentemente, fazendo esforços muito insignificantes. O que lhe falta é a vontade. Ah!
quão poucos, dentre vós fazem esforços!”
(O Livro dos Espíritos, questão no 909.)

“Pois em verdade vos digo, se tivésseis a fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta
montanha: Transporta-te daí para ali e ela se transportaria, e nada vos seria impossível.”
– Jesus. (Mateus, 17:20.)

“A fé sincera e verdadeira é sempre calma; faculta a paciência que sabe esperar, porque, tendo seu ponto
de apoio na inteligência e na compreensão das coisas, tem a certeza de chegar ao objetivo visado.”
(O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIX, item 3, 2o parágrafo.)

AY LTO N P A I VA

O
Evangelista Mateus relata transportaria e nada vos seria im- veja, em pensamento, a meta que
que um homem veio ao possível”. (Mateus, 17:14 a 20.) se quer alcançar e os meios de che-
encontro de Jesus e, lan- Allan Kardec tece o seguinte gar lá, de sorte que aquele que a
çando-se a seus pés, pediu que Ele comentário em O Evangelho se- possui caminha, por assim dizer,
tivesse piedade de seu filho que era gundo o Espiritismo, cap. XIX, so- com absoluta segurança. (...)
lunático e sofria muito. Ele adian- bre essa passagem evangélica no A fé sincera e verdadeira é sem-
ta que já o apresentara a seus discí- item 2: “No sentido próprio, é cer- pre calma; faculta a paciência que
pulos e que estes não haviam con- to que a confiança nas suas pró- sabe esperar, porque, tendo seu
seguido curá-lo. O Mestre Jesus prias forças torna o homem capaz ponto de apoio na inteligência e na
comenta a falta de credulidade de executar coisas materiais, que compreensão das coisas, tem a cer-
e imediatamente cura o menino e não consegue fazer quem duvida teza de chegar ao objetivo visado.
adverte os discípulos de que eles de si”. E mais adiante, elucida no (...)”
não o haviam curado por falta de item 3: “(...)entende-se como fé a Nos dias atuais, estamos preci-
fé e afirma-lhes: “Se tivésseis a fé confiança que se tem na realização sando de fé para vencer o estresse
do tamanho de um grão de mos- de uma coisa, a certeza de atingir que o modo de viver da civilização
tarda, diríeis a esta montanha: determinado fim. Ela dá uma es- nos impõe, pois para resistir ao
transporta-te daí para ali e ela se pécie de lucidez que permite se estresse e administrar a pressão é

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necessário manter um equilíbrio espiritual da vida, no sentido da pedaria do nosso amor solidário e
na vida. sua eternidade. fraterno, nossas tensões e mágoas
As pessoas que acreditam ter o Assim, se desejamos a auto-reali- desaparecerão ou, pelo menos, di-
controle de seu destino lidam me- zação, o equilíbrio e o bem-estar, minuirão.
lhor com as pressões do que aque- uma boa vida familiar, o trabalho,
las que acham que tudo está ao sa- seja qual for, como forma de valori- 4.Tenhamos momentos de
bor do acaso. zação pessoal, não nos estressare- divertimento:
Para isso é importante ter al- mos, por exemplo, com problemas Ter fé na vida é também ter mo-
guns parâmetros: no trânsito, ocorrências de peque- mentos de diversão, de descontra-
ção, de lazer.
1. Vivamos o presente: Para aliviar o estresse, saibamos
Vivamos o “aqui e agora”, com desfrutar os momentos com a famí-
responsabilidade e equilíbrio, con- lia. Nestes instantes procuremos ti-
centrando-nos naquilo que está rar de nossas mentes todas as
acontecendo no presente, e aumen- preocupações do lar ou do trabalho.
taremos nossa capacidade de resis- Procuremos sentir as pessoas
tir ao estresse, pois não estaremos que compõem a nossa família, o
fixados em coisas do passado ou que cada uma nos oferece de bom,
imaginando futuros problemas, saibamos sorrir com elas e que
ainda que inexistentes. elas riam conosco.
Procuremos sentir a realidade Tenhamos alegria com nossos
da situação ou do problema e a animais domésticos, com as nossas
possível solução para ele. folhagens, com as nossas flores.
Para ter o “clima mental” ade- Tenhamos momentos de humor
quado, procuremos meditar. A me- sadio e energizante.
ditação pode estabelecer um esta- Procuremos rir, rir faz bem pa-
do mental de calma interior. ra a alma e para o corpo físico.
A calma na luta contra o estres-
2. Tenhamos objetivos cla- se é sempre um sinal de força e de
ros de vida: nos desentendimentos no lar, no confiança; o desespero ou a vio-
Quando temos um roteiro claro trabalho ou até mesmo no lazer. lência denotam a fraqueza e a dú-
para a direção de nossa vida, fica- vida de si mesmo.
mos mais fortes ao sentir peque- 3. Sejamos solidários: Ouçamos, pois, o Mestre Jesus:
nas pressões como foco de estres- Ser solidário é ser participativo. É “Se tivésseis a fé do tamanho de
se. olhar não só para nós e para nossas um grão de mostarda, diríeis a esta
Se estabelecemos prioridades e necessidades (reais ou imaginárias), montanha: transporta-te daí para
firmeza ou fé em nossas convic- mas, também, olhar para o outro. ali e ela se transportaria, e nada
ções, clareando um quadro geral Enxergarmos na estrada de nossa vos seria impossível”. E digamos
dos objetivos maiores de nossas vi- vida o próximo, como o samarita- para a “montanha do nosso estres-
das, não nos irritaremos com as no, a que Jesus se referiu, caído com se”: transporta-te daí (do nosso
pequenas coisas. as forças combalidas, assaltado por mundo mental) para ali (planície
Pensemos no que é realmente problemas, muitas vezes, maiores de nossas emoções controladas e
importante para nós, levando em que os nossos. Ao nos aproximar- produtivas) e nada nos imporá o
consideração a visão filosófica ou mos dele e o agasalharmos na hos- estresse.

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Entrevista R Ú B I A DA C O S TA G U I M A R Ã E S

50 anos de dedicação
ao livro espírita
Rúbia da Costa Guimarães, funcionária da Federação Espírita Brasileira até nossos dias,
completou 50 anos de trabalho com o livro espírita. Formada em secretariado, obteve
grande experiência em sua atividade de divulgação e venda do livro espírita. Em entrevis-
ta, relata episódios vividos no Departamento Editorial da FEB

Reformador: Quando a senhora co- reformas e ampliações do Departa- Reformador: A senhora já era espí-
meçou a trabalhar na FEB? mento Editorial. Em 1972, quando rita?
Rúbia: Comecei a trabalhar na FEB comecei a trabalhar no Setor de Rúbia: Nasci num lar católico.
ainda adolescente, no dia 5 de Vendas, entendi que deveria ler to- Mesmo trabalhando há bastante
março de 1956, e iniciei pela área dos os livros editados pela FEB. tempo na FEB, só vim a me inte-
de expedição do Departamento Não poderia atuar em vendas sem ressar pela Doutrina Espírita com
Editorial, empacotando livros que conhecer os livros. Recorri a vários o incentivo da médium Yvonne do
eram remetidos pelo correio. Na- diretores da FEB para me ajudarem Amaral Pereira. Naquela época,
quela época estavam sendo lança- no entendimen- como a querida médium encon-
dos vários livros de Francisco C. to de muitas trava-se em dificuldades para res-
Xavier e a FEB encaminhava as obras. ponder sua correspondência, a
novas obras – as “novidades” – para pedido do dr. Thiesen, passei
um imenso cadastro. Depois passei a ir à residência dela, no bairro
para o setor de Almoxarifado e, em da Piedade, e a datilografar suas
seguida, para os setores de Corres- cartas. Um belo dia, dona Yvonne
pondência, Direitos Autorais, Ven- perguntou-me como eu voltaria, e
das, e fui secretária dos presidentes respondi-lhe que seria de ôni-
Francisco Thiesen e Juvanir Borges bus. Ela me ofertou o li-
de Souza. Acompanhei algumas vro Nas Voragens do Pe-
cado, sugerindo-me que
aproveitasse para ini-
ciar a leitura no traje-
to. Em seguida, li to-
das as obras mediúnicas
de dona Yvonne, apenas
Memórias de um Suicida
não consegui chegar ao
final.

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Reformador: A senhora teria algum Reformador: E seus contatos com o IDE (Instituto de Difusão Espí-
relato interessante sobre Yvonne Pe- os presidentes da FEB? rita), de Araras (SP). Um fato
reira? Rúbia: Acompanhei o trabalho de marcante na vida do Departa-
Rúbia: Dona Yvonne telefonou-me vários presidentes: Wantuil de mento Editorial foi a dissemina-
no dia de sua desencarnação, por Freitas, responsável pela constru- ção das distribuidoras, e algumas
volta das 10 horas, e ligou também ção do Departamento Editorial, delas não eram espíritas. Várias
para dona Yola, esposa do dr. Ju- porém, trabalhei mais diretamente distribuidoras de São Paulo foram
vanir. Dizia ao telefone que iria com Francisco Thiesen, Juvanir responsáveis por um significativo
para o hospital, mas estava só se Borges de Souza e agora Nestor aumento nas vendas de livros. O
despedindo porque não voltaria: João Masotti. Dr. Armando Assis, curioso é que na época em que o
“Vamos nos encontrar do outro por razões profissionais, vinha Brasil tinha inflação alta, e como
lado. Dr. Bezerra já me avisou que menos ao Departamento Edito- as distribuidoras estavam interes-
estaria me esperando”. No mesmo rial. Cada presidente teve suas ca- sadas em manter estoques e apro-
dia, por volta das 22 horas, ela de- racterísticas e, dentro das condi- veitar preços, foi um período de
sencarnou. ções de suas épocas, contribuíram alta vendagem de livros. Depois,
com a área do livro. com a estabilidade financeira, mui-
Reformador: A senhora conheceu tas distribuidoras de livros encer-
Chico Xavier? Reformador: O que a senhora co- raram suas atividades. Ultima-
Rúbia: Ainda jovem conheci Chi- menta sobre a ampliação da difu- mente, a qualidade das impres-
co Xavier, pois ele e Waldo Vieira são do livro espírita? sões deu um toque especial à lite-
vinham com freqüência ao De- Rúbia: O principal objetivo da ratura excelente editada pela FEB.
partamento Editorial. Chico gos- FEB é a divulgação do livro, seja
tava de andar pelas suas depen- através de venda ou de doação, des- Reformador: Quais outras provi-
dências. Naquelas ocasiões, ouvi de que a mensagem chegue a quem dências contribuíram para o au-
muitas conversas dele, inclusive, dela necessita. Então me ocorreu mento de vendas de livros?
transmitindo orientações de An- que a maioria dos centros espíritas Rúbia: Um fato marcante foi a
dré Luiz e Emmanuel sobre os tinha poucas condições de vender edição “popular” das obras de
livros. Chico se hospedava no lar livros. Comecei a visitá-los e a su- Kardec, que provocou vendas de
de dr. Wantuil e demonstrava um gerir que deveriam vender livros, livros em grandes quantidades.
carinho especial pelo sr. Zêus mesmo de uma forma inicial- Na mesma época surgiu o proje-
Wantuil. Em 1972, por solici- mente simples. Certo dia, conver- to “Clube do Livro Espírita”. Ri-
tação do dr. Thiesen, fiquei na sando com o dr. Thiesen, verifica- chard Simonetti esteve conversan-
retaguarda de Chico Xavier, du- mos que não havia distribuição de do com o dr. Thiesen e deu início
rante sua visita à FEB para as co- livros espíritas no Brasil. Concluí- à nova proposta conhecida como
memorações dos 40 anos de lan- mos que algo deveria ser feito para “o ovo de Colombo”. Cresceu a
çamento do Parnaso de Além-Tú- aumentar as vendas. Assim, surgiu quantidade de “clubes do livro
mulo. Durante muitos anos, re- a idéia de criar o mecanismo de espírita” em todo o País e surgi-
cebi livros autografados que me distribuição de livros espíritas no ram as “feiras do livro espírita”
eram enviados pelo próprio Chi- País. Dr. Thiesen burilou muito a que também movimentaram mui-
co Xavier. E no dia do meu casa- idéia e considerou que o grande to e propiciaram mais trabalho
mento recebi uma carta deste fa- objetivo seria ampliar a divulga- para nós. As promoções mensais
moso médium e também um ção do Espiritismo. Isso aconteceu de livros, com desconto maior,
cartão de Divaldo Franco, os quais em 1973, e o primeiro distribuidor também ampliaram muito a ven-
guardo com muito carinho. de livros credenciado pela FEB foi dagem de livros. Considero a di-

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vulgação através do marketing um rias. Um dos fatores que ajudou Reformador: O que a senhora
passo importante. muito, e isto ocorreu num final de teria a dizer sobre o Sesquicentená-
ano, foi a experiência de oferecer a rio do Espiritismo?
Reformador: E sobre a presença do coleção de obras de Kardec dentro Rúbia: Quando recebi as primei-
livro espírita em ambientes externos? de caixas bem preparadas, seguin- ras informações sobre os prepara-
Rúbia: A participação da FEB do-se a entrada dos kits que em- tivos para o Sesquicentenário do
nas Bienais Internacionais do Li- belezaram as obras. Espiritismo, levei um susto por-
vro tem sido bem interessante. que me lembrei de que no Cen-
Aprendi muito desde as primei- Reformador: Como a senhora vê a tenário eu já trabalhava na FEB!
ras, que eram pequenas. A inte- presença de livros da FEB no Exte- Recordo-me da edição especial de
gração e a união dos estandes es- rior? Reformador e dos comentários dos
píritas durante a Bienal, com a Rúbia: Sobre a participação dos espíritas em geral. Será uma honra
criação da Rua dos Espíritas, tam- livros da FEB no Exterior, acho participar dessa nova comemora-
bém contribuiu bastante para a fantástico, pois, pessoas de todas ção da publicação de O Livro dos
divulgação de um modo geral. as nacionalidades necessitam das Espíritos. Agradeço muito a opor-
Outra coisa boa foi a colocação mensagens do Consolador Prome- tunidade de conhecer a Doutrina
de livros espíritas em livrarias lei- tido. O trabalho em si é um passo Espírita, e de ter contribuído um
gas. Foi difícil e, de início, houve gigantesco. As obras editadas pela pouco com a FEB em sua difusão,
resistência. De uns três anos para FEB têm valor capaz de suprir to- e desejo que cada vez mais pessoas
cá é que se ampliou a colocação das as necessidades espirituais da passem a ser auxiliadas através do
de livros espíritas nessas livra- Humanidade. livro espírita.

Homenagem aos 50 anos de


Rúbia na FEB
Almoço de confraternização
realizado em 6 de março, no
Departamento Editorial e Grá-
fico da FEB. Da esquerda para a
direita: Altivo Ferreira, Nestor
João Masotti, Rúbia (mostran-
do a placa que lhe foi entregue
como reconhecimento do tra-
balho realizado), Amaury Alves
da Silva, Ilcio Bianchi e José Sa-
lomão Mizrahy.
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Allan Kardec,
discípulo fiel
de Jesus
A D I LTO N P U G L I E S E

O
s espiritistas estudiosos Espírito Vianna de Carvalho, atra- mento de uma nova lei”, o pedago-
devem sempre refletir so- vés da abençoada mediunidade de go francês Denizard Rivail inicia-
bre os profundos laços que Divaldo Franco: ria fascinante jornada em sua vida,
uniam a Jesus, através dos sécu- “A Divina Providência faz que impulsionado pelos antigos ideais
los, a individualidade espiritual do mergulhe nas sombras da Terra o de renovação e, a exemplo de Cris-
Codificador da Doutrina Espírita, eminente Espírito de Jan Hus tóvão Colombo (1451-1506), des-
Allan Kardec. [1369-1415], que se dera em sacri- vendaria um novo mundo: o Mun-
Sendo o Espiritismo a concreti- fício, no século XV, em favor da do dos Espíritos.
zação da promessa feita diretamen- libertação do Evangelho de Jesus. Seus contatos preliminares com
te pelo Cristo, exarada pelo evange- Reencarnando-se, em Lyon, a 3 de diversas personalidades espirituais
lista João1 era imprescindível que o outubro de 1804, recebeu o nome são momentos em que revela pers-
líder desse movimento de reno- de Hippolyte Léon Denizard Rivail, picácia e lucidez; domínio das
vação, que teria início na segunda que trouxe a indeclinável tarefa de emoções; controle perfeito duran-
metade do século XIX, possuísse modificar as estruturas do conhe- te os formosos diálogos mantidos
fortes vínculos com o Mestre Ga- cimento e abrir espaços para a res- na intimidade de sua residência e
lileu, com a sua messianidade, com tauração do pensamento do Cristo, das famílias Baudin e Roustan, e
o seu projeto de implantação do conforme Ele e os seus discípulos o mais tarde nos salões de trabalho,
Reino de Deus na Terra. haviam vivido, dezenove séculos de estudo e intercâmbio mediúni-
A preparação e capacitação do antes, na Palestina.”2 co da Sociedade Parisiense de Es-
fiel discípulo exigiram vários Muito antes, o futuro missioná- tudos Espíritas (SPEE), fundada
séculos. rio da revelação espírita também por ele em 1o de abril de 1858.
Reencarnações especiais, ani- estivera exercitando o sacerdócio O Codificador, sentindo-se am-
mando personalidades vigorosas e druida, nas Gálias antigas, como re- parado pelo Espírito de Verdade,
promotoras de mudanças sociais, velara o Espírito Zéfiro, com quem seu guia e protetor, que se lhe reve-
certamente foram consolidadas no mantivera sólida amizade, “que os lara em reunião de 25 de março de
perpassar dos tempos, podendo séculos fortaleceriam ainda mais”.3 1856, em casa de senhor Baudin,
ser referenciada aquela que ani- Desta forma, ao perceber nos operando como médium uma de
mou como mártir e reformador fenômenos das mesas girantes, em suas filhas, percebe, a partir desse
tcheco, consoante informação do Paris, pelos idos de 1855, “o surgi- encontro, que a missão que lhe

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fora reservada estava sustentada posto com essa denominação nas do a todos onde se encontra a ver-
por vigorosos pilares. À medida livrarias de Paris, na primeira edi- dadeira doutrina ensinada pelo
que recebe os ensinos dos Espíri- ção de 29 de abril de 1864. Cristo”; e que “o Espiritismo é a
tos, de aspectos científico, filosófi- Em 9 de agosto de 1863, após única tradição verdadeiramente
co e ético, deve ter observado e re- guardar segredo dessa nova obra cristã” e a única “instituição verda-
fletido que estava amparado por que estava escrevendo, resolve ou- deiramente divina e humana”.
especiais colunas dos códigos mo- vir os Espíritos, deles obtendo Imaginamos o impacto dessa
rais do Peregrino da Galiléia. aprovação e aconselhamento: “Esse revelação, desse desafio, em torno
Deixando-se, então, emocionar livro de doutrina terá considerável da missão de um livro, representan-
e estimular pela sutileza, profundi- influência, pois que explanas ques- do um novíssimo noticiário evangé-
dade e sentimento de amorosidade tões capitais, e não só o mundo re- lico que contemplava diretrizes
dos Espíritos que se movimenta- ligioso encontrará nele as máximas morais. Sabendo, de antemão, das
vam ao seu redor, dedica-se à tare- que lhe são necessárias, como tam- dificuldades que o Codificador en-
fa com fervor e espírito de renún- bém a vida prática das nações hau- frentaria e que os “espíritas seriam
cia, consolidando, em 18 de abril rirá dele instruções excelentes (...)” repelidos” com o anátema de here-
de 1857, a sua primeira fase, com o – dizem-lhe as Entidades Amigas sia, os Orientadores Espirituais pre-
lançamento, em Paris, de O Livro através do médium Sr. d’A...4 sentes na memorável reunião afir-
dos Espíritos, obra básica da Dou- Comunicam-lhe, ainda, que se mam-lhe, comovidos: “Ao te esco-
trina Espírita. Em seguida, anima- aproximava a hora de “apresentar lherem, os Espíritos conheciam a
do pela percepção que passa a ter o Espiritismo qual ele é, mostran- solidez das tuas convicções e sa-
em torno do edifício que estava biam que a tua fé, qual muro de
construindo, estabelece, em O Livro aço, resistiria a todos os ataques”.5
dos Médiuns, publicado em 15 de Podemos deduzir que Allan Kar-
janeiro de 1861, os princípios fun- dec, de forma brilhante e inspirada,
damentais para as relações media- após estabelecer os princípios bási-
nímicas com os habitantes do cos da filosofia e da ciência espíri-
Mundo Invisível. tas, considerou que todo o corpo de
Incansável, enquanto edita e doutrina que estava elaborando, to-
publica a Revista Espírita, com o das as suas formulações em torno
primeiro exemplar divulgado em 1o da Existência de Deus; das Vidas
de janeiro de 1858, preocupa-se Sucessivas e seu mecanismo – a Lei
com a administração da SPEE na de Causa e Efeito; da Imortalidade
qualidade de seu presidente, cuida da Alma; das revelações pioneiras
da vasta correspondência e dedi- sobre a Pluralidade dos Mundos
ca-se, sob especial emoção, Habitados; das leis que regem a
a escrever aquela que seria Natureza, propriedades e funções
a terceira obra do pen- do perispírito, necessitaria de uma
tateuco kardequiano: viga mestra que desse sustentação à
O Evangelho segundo compreensão das finalidades desses
o Espiritismo, inti-
tulado, preliminar-
mente, Imitação do
Evangelho segundo
o Espiritismo, ex-
Jan Hus
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postulados, em benefício da felici-


dade e da evolução do ser humano.
Assim, ele foi buscar nas máxi-
mas de Jesus, no seu código moral,
os fundamentos comportamentais
para os adeptos e estudiosos da no-
Prática Espírita
vel doutrina, máximas essas atuali-
zadas, interpretadas e enriquecidas  Toda a prática espírita é gra- faculdade que muitas pes-
com as Instruções dos Espíritos inse- tuita, como orienta o princí- soas trazem consigo ao nas-
ridas nos diversos capítulos. pio moral do Evangelho: cer, independentemente da
De suas nobres mãos saiu então “Dai de graça o que de graça religião ou da diretriz dou-
o livro-luz – O Evangelho segundo o recebestes”. trinária de vida que ado-
Espiritismo – que contém “a expli-  A prática espírita é realizada tem.
cação das máximas morais do Cris- com simplicidade, sem ne-  Prática mediúnica espírita só
to, em concordância com o Espiri- nhum culto exterior, dentro é aquela que é exercida com
tismo e suas aplicações às diversas do princípio cristão de que base nos princípios da Dou-
circunstâncias da vida”.6 Paira essa Deus deve ser adorado em trina Espírita e dentro da
obra de essência divina, portanto, espírito e verdade. moral cristã.
entre as outras que formam o con-  O Espiritismo não tem sa-  O Espiritismo respeita todas
junto da substância doutrinária cerdotes e não adota e nem as religiões e doutrinas, va-
espírita, iluminando-as. usa em suas reuniões e em loriza todos os esforços para
Em 8 de agosto de 1865, lança o suas práticas: altares, ima- a prática do bem e trabalha
livro O Céu e o Inferno e, em 6 de gens, andores, velas, procis- pela confraternização e pela
janeiro de 1868, publica A Gênese, sões, sacramentos, conces- paz entre todos os povos e
última obra do Pentateuco. sões de indulgência, para- entre todos os homens, in-
Somente um ser em plena sin- mentos, bebidas alcoólicas dependentemente de sua ra-
tonia com Jesus, desde remotas ou alucinógenas, incenso, ça, cor, nacionalidade, cren-
eras, poderia ter interpretado tão fumo, talismãs, amuletos, ça, nível cultural ou social.
bem os seus pensamentos, como o horóscopos, cartomancia, pi- Reconhece, ainda, que “o ver-
fez Allan Kardec, exemplo de dis- râmides, cristais ou quais- dadeiro homem de bem é o
cípulo fiel e abnegado. quer outros objetos, rituais que cumpre a lei de justiça,
ou formas de culto exterior. de amor e de caridade, na
 O Espiritismo não impõe os sua maior pureza”.
Referências Bibliográficas: seus princípios. Convida os
1
João, cap. XIV, versículos 15 a 17. interessados em conhecê-lo
2
FRANCO, Divaldo P. Reflexões Espíritas, a submeterem os seus ensi- Fonte: Folheto “Conheça o Espiritismo,
pelo Espírito Vianna de Carvalho. 1. ed.
nos ao crivo da razão, antes uma Nova Era para a Humanidade”,
LEAL, 1991, p. 12.
4 de aceitá-los. editado pela FEB – Campanha de Di-
KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 38. ed.
Rio de Janeiro: FEB, 2005, Segunda Parte,
 A mediunidade, que permi- vulgação do Espiritismo, aprovada pelo

“Imitação do Evangelho”, p. 339. te a comunicação dos Espí- Conselho Federativo Nacional da FEB na
5
Idem, ibidem, p. 340. ritos com os homens, é uma Reunião de 1996.
6
Idem. O Evangelho segundo o Espiritis-
mo. 3. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB,
2005, p. 3.

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Esf lorando o Evangelho


Pelo Espírito Emmanuel

Educa
“Não sabeis vós que sois o templo de Deus e
que o Espírito de Deus habita em vós?”
– PAULO. (I CORÍNTIOS, 3:16.)

N a semente minúscula reside o germe do tronco benfeitor.


No coração da terra, há melodias da fonte.
No bloco de pedra, há obras-primas de estatuária.
Entretanto, o pomar reclama esforço ativo.
A corrente cristalina pede aquedutos para transportar-se incontaminada.
A jóia de escultura pede milagres do buril.
Também o espírito traz consigo o gene da Divindade.
Deus está em nós, quanto estamos em Deus.
Mas, para que a luz divina se destaque da treva humana, é necessário que os pro-
cessos educativos da vida nos trabalhem no empedrado caminho dos milênios.
Somente o coração enobrecido no grande entendimento pode vazar o heroísmo
santificante.
Apenas o cérebro cultivado pode produzir iluminadas formas de pensamento.
Só a grandeza espiritual consegue gerar a palavra equilibrada, o verbo sublime e a
voz balsamizante.
Interpretemos a dor e o trabalho por artistas celestes de nosso acrisolamento.
Educa e transformarás a irracionalidade em inteligência, a inteligência em huma-
nidade e a humanidade em angelitude.
Educa e edificarás o paraíso na Terra.
Se sabemos que o Senhor habita em nós, aperfeiçoemos a nossa vida, a fim de
manifestá-lo.

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Fonte Viva. 1. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2005, cap. 30,
p. 77 e 78.

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Mandamento aos
Dirigentes Espíritas WA L D E H I R B E Z E R R A DE A L M E I DA

O
s últimos momentos de in- que entrassem na cidade de Jeru- lições. “(...) levanta-se da mesa, de-
timidade de Jesus com seus salém e providenciassem a Ceia põe o manto e, tomando uma toa-
apóstolos foram durante a Pascal na casa de um amigo, dizen- lha, cinge-se com ela. Depois colo-
ceia de Páscoa. (Mateus, 26:2, 17 a do-lhes: “E ele vos mostrará, no ca água na bacia e começa a lavar
19; Marcos, 14:12 a 17; Lucas, 22:7 andar superior uma grande sala os pés dos discípulos (...)”. Ao che-
a 15.) O Nazareno sabia que se provida de almofadas (...)”. (Lc., gar a vez de Pedro, este diz peremp-
aproximava o epílogo de sua mis- 22: 8 a 13.) Ambiente espaçoso, toriamente: “Jamais me lavarás os
são na Terra. Colocava-se, humilde- acolhedor. Raras vezes os apósto- pés”. Mas o Senhor redargüiu, di-
mente, na condição do Cordeiro de los tinham desfrutado de tanto lu- zendo-lhe: “Se eu não te lavar, não
Deus, que seria sacrificado, na es- xo e, ao que parece, o ambiente os terás parte comigo”. (Jo., 13:4 a 8.)
perança de que seu sacrifício ser- influenciou, revelando-se neles a O pescador humilde consentiu.
visse de exemplo à Humanidade vaidade, acreditando-se partidá- Terminada aquela tarefa humil-
na busca de sua redenção. Progra- rios de alguém que tomaria o po- de, própria dos escravos, Jesus
mou viver aquela festa tão signifi- der temporal do mundo. Houve olha-os ternamente, demonstran-
cativa para seu povo somente ao até uma discussão para decidir do conhecer o coração de cada um.
lado dos seus fiéis seguidores. (Lc., quem seria o maior entre eles. (Lc., Sabia-os sinceros quando se pron-
22:15.) “A Páscoa era uma festa 22:24.) Deve ter sido extremamen- tificaram a segui-lo, mas também
muito alegre.(...) Esse era também te doloroso para o Meigo Nazare- reconhecia suas dificuldades para
um período de intensa meditação, no assistir àquela contenda infantil entenderem que o Reino de Deus
quando cada crente podia sentir o entre os seus apóstolos. Demons- deveria ser implantado no coração
elo místico que o ligava ao povo, tração cabal de que não compreen- de cada um e não nas terras de Cé-
e que ele também iria libertar-se – diam muito bem a natureza do seu sar. Pacientemente lembrou a to-
livre de uma maneira que impor- reino, suspeitando que ele seria dos: “Se, portanto, eu, o Mestre e o
ta – com a alma liberta do domí- implantado já naqueles tempos... Senhor, vos lavei os pés, também
nio do pecado. Não foi de maneira O Mestre conhecia suas fraque- deveis lavar-vos os pés uns aos
alguma por acaso que o Cristo, zas, mas acreditava que poderia outros”. (Jo., 13:14.)
usando o pão e o vinho do rito tra- contar com eles. Outros debanda- O Senhor já lhes ensinara a Re-
dicional, desse na última ceia pas- ram (João, 6:66.), mas os doze per- gra Áurea: “Ama o teu próximo
cal a seus discípulos o sinal de uma severaram até aquele momento. como a ti mesmo”. (Mt., 22:37 a
libertação suprema com as pala- Contaria com eles. No futuro da- 39.) Mas aquela lição foi dada
vras: ‘Este é o meu corpo... este é o riam o testemunho do seu amor quando Jesus estava à frente de
meu sangue’”.1 por Ele e pela causa. Necessário, uma multidão constituída de sa-
Jesus solicitou a Pedro e a João portanto, passar-lhes as últimas duceus, fariseus, publicanos, ju-

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deus, gregos, persas e muitas ou- que Ele lhes oferecera durante to- E de que modo Jesus amou os
tras nacionalidades. O ensinamen- do o tempo em que estiveram jun- seus apóstolos? A resposta encon-
to fora ministrado a um grupo he- tos. Por isso era “um mandamento tramos no seu gesto incondicional,
terogêneo, para todos os povos. novo”. Merecia uma reflexão mais aceitando a cada um como era ou
Mas, ali o novo mandamento seria profunda. Emmanuel ensina que a como podia ser naquela contin-
oferecido na intimidade, em espe- Regra Áurea “institui um dever, gência. Devotou um carinho todo
cial para seus amigos que seriam, em cuja execução não é razoável especial a Pedro, embora sabendo
depois da sua crucificação, os res- que o homem cogite da compreen- que negaria conhecê-lo antes do
ponsáveis pela vivência e divulga- são alheia. O aprendiz amará o pró- amanhecer; amou Judas Escario-
ção do seu Evangelho. Primeiro ximo como a si mesmo”, e que o tes que, extremamente equivocado
sensibilizou-os com o “lava-pés” e, novo mandamento “‘que vos ameis com a sua missão, o entregaria às
em seguida, falou-lhes aos cora- uns aos outros como eu vos amei’ autoridades do mundo, na espe-
ções pedindo que cada um procu- assegura o regime da verdadeira rança de uma revolta armada; de-
rasse ser o menor entre eles para solidariedade entre os discípulos, dicou seu afeto ao evangelista Ma-
que, pelo cultivo da humildade, se garante a confiança fraternal e a teus e acreditou na sua intenção de
tornasse o maior. Foi, então, que certeza do entendimento recípro- reforma, mesmo sendo um publi-
lhes disse: “Um novo mandamento co”. E acrescenta: “Esse é o novo cano odiado pelos conterrâneos
vos dou: Que vos ameis uns aos mandamento que estabeleceu a in- em razão dos seus desmandos na
outros; como eu vos amei a vós, que timidade legítima entre os que se cobrança de impostos destinados
também vós uns aos outros vos entregaram ao Cristo, significando ao Império Romano; respeitou To-
ameis”. (Jo., 13:34.) que, em seus ambientes de trabalho, mé, que duvidara da sua ressur-
Daquela feita, Jesus não dava há quem se sacrifique e quem com- reição e aparição aos apóstolos;
como parâmetro do amor ao pró- preenda o sacrifício, quem ame e se amou intensamente o jovem João,
ximo o que cada um pudesse ter a sinta amado, quem faz o bem e quem apesar da sua inexperiência, che-
si próprio. O padrão era o amor saiba agradecer”.2 (Grifo nosso.) gando a confiar-lhe, quando in

“A ceia na casa de Levi”. Veronese, Galeria da Academia, Veneza

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extremis, Maria aos seus cuidados. dignos e verdadeiros companhei-


Jesus amou seus discípulos com ros dos Espíritos do Bem. Referências Bibliográficas:
1
ROPS, Henri Daniel. A vida diária nos
tanta fraternidade que os fez seus O que seria de nós, frente à con-
tempos de Jesus. Tradução Neyd Siquei-
amigos. (Jo., 15:14.) Amou-os, vocação para a escalada espiritual, ra. 1. ed. São Paulo: Sociedade Religiosa
“não obstante” suas fraquezas, seus na direção de uma das suas Casas, Edição Vida Nova, 1983, p. 230.
defeitos. Não os amou “porque” sem a tolerância, a compreensão e 2
XAVIER, Francisco Cândido. Caminho,
fossem perfeitos. a amizade do Cristo, se ainda não Verdade e Vida, pelo Espírito Emmanuel.
temos as condições ideais para ser- 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006, cap. 179,

vir na sua Seara? p. 373 e 374.
Não há como discordar da in-
terpretação do Mentor de Chico
Xavier. Aqueles que se reúnem em
nome do Cristo para estudar, vi- Retorno à Pátria Espiritual
venciar e divulgar a Doutrina Es-
pírita à frente da Casa Espírita,
sentem necessidade de se fortale-
cer moral e espiritualmente na re-
Altivo Carissimi Pamphiro
ciprocidade do amor fraterno. O do Culto do Evangelho no Lar,
mandamento era “novo” porque que fazia em sua casa, onde após
era dirigido especialmente aos res- o estudo do Evangelho à luz da
ponsáveis diretos pela implanta- Doutrina Espírita havia o traba-
ção do Reino de Deus no coração lho de passes em pessoas que lá
dos homens. Eis por que será sem- compareciam à procura de alívio
pre oportuno e confortador, quan- para suas dores.
do os dirigentes de uma casa espí- Fundou, com um desses ami-
rita se reunirem, recordar o Rabi gos, o Lar de Teresa e o Centro
da Galiléia com seus apóstolos na Espírita Léon Denis, instituições
Última Ceia. Com certeza Ele se que primam pelo estudo, pelo
fará presente por intermédio de seus desenvolvimento mediúnico e
Mensageiros, relembrando o novo Altivo Carissimi Pamphiro pelo trabalho no bem, através de
mandamento. desencarnou, aos 67 anos, no dia obras sociais.
Jesus amou a todos os seus após- 17 de fevereiro de 2006, no Rio Desde então, divulgou a Dou-
tolos indistintamente, nada obstan- de Janeiro. trina Espírita, que abraçou, e o
te as dificuldades e os dramas que Era fundador e presidente do fez por mais de 40 anos. Foi um
portavam na alma, assim como nós Centro Espírita Léon Denis espírita dedicado na divulgação
que compomos uma casa espírita. (CELD), em Bento Ribeiro, e da e prática da Doutrina codificada
Fomos convocados, tal como os Obra Social Antonio de Aquino por Allan Kardec, divulgada e
apóstolos, e, por isso, devemos nos (OSAA), na Mallet. Contador do exemplificada por Léon Denis e
amar, exercitando a fraternidade, IRB (Instituto de Resseguros do outros.
que se constitui de compreensão, Brasil), aposentou-se nesse cargo. Em seu retorno à Pátria Espi-
tolerância e indulgência. Que na Sua iniciação na Doutrina Es- ritual, deixou uma obra sólida
intimidade da faina cristã cultive- pírita ocorreu aos 16 anos, por em benefício do próximo, apli-
mos a reciprocidade do amor cris- intermédio de amigos, sendo por cando, dessa forma, os ensina-
tão entre nós, para nos tornarmos um deles convidado a participar mentos de Jesus.

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Espiritismo:
as causas de sua
rápida propagação
WA S H I N G TO N L U I Z F E R N A N D E S

N
ão é difícil constatar-se o incomparável dimensão que o Es- além da memorável comemoração
rápido crescimento da piritismo adquiriu no Brasil. do Bicentenário de Allan Kardec
Doutrina Espírita em todos No início desta rápida propa- (1804-2004), ocorrida no 4o Con-
os recantos do Planeta, ocorrido gação, Allan Kardec (1804-1869) gresso Espírita Mundial, em Paris,
em pouquíssimo tempo. Em doze reconheceu na Revista Espírita em outubro de 2004, que teve a
anos o Espiritismo estava presente de setembro/1858, este fenôme- participação de 1.763 congressis-
em mais de trinta países de quatro no de crescimento doutrinário e tas de 33 países.
continentes: na Europa (18 países), merecem reflexão as causas deter- Se fizermos uma busca dos sites
nas Américas (8 países), na África minantes que levaram a esta rápida disponíveis sobre doutrinas e reli-
(5 países) e na Ásia (6 países).* expansão, coisa nunca vista na His- giões na Web, os sites espíritas apa-
Foram quase trezentas localidades, tória. recem entre os mais numerosos
cujos nomes comentamos em arti- Devemos lembrar que o Espi- dentre todos. Isto demonstra que
go publicado na Revue Spirite, ritismo no Brasil teve a vantagem os espíritas estão efetivamente se
edição em espanhol, 3o trimestre de não sofrer a estagnação e o “en- movimentando no contexto so-
de 2004 (número 4), com discri- colhimento” ideológico ocorridos cial. Por isso é importante refletir-
minação das mesmas num link do em muitos países (Europa, África mos sobre as causas que levaram a
site do Conselho Espírita Interna- e América), causados principal- esta rápida difusão. Apesar de os
cional (www.spiritist.org/larevis- mente pela Primeira e Segunda motivos serem bem conhecidos e
taespirita); comentamos também a Guerras Mundiais e pelos vários difundidos no Movimento Espí-
respeito em artigo no jornal Mun- regimes totalitários que se implan- rita, é importante neles refletir-
do Espírita, Curitiba (PR), dezem- taram em vários países. mos para melhor assimilá-los.
bro/2004, no 1.445, reconhecendo a Outro ponto que merece des-
taque foi a fundação do Conse- As causas do sucesso da
lho Espírita Internacional (28/11/ difusão espírita
*N. da R.: Na Revista Espírita de janeiro de /1992), em Madrid (Espanha), que
1869, Kardec faz uma estimativa de 4 mi-
já promoveu Congressos Espíritas Se bem pensarmos na realidade
lhões de espíritas nos EUA, 600 mil na
França, 1 milhão na Europa e 6 a 7 mi- Mundiais no Brasil (1995), em Por- da Doutrina Espírita e aproveitar-
lhões no mundo inteiro. tugal (1998), na Guatemala (2001), mos diversas reflexões feitas por

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Allan Kardec a respeito, podemos divíduos e em toda a parte. Se esta todas as épocas da Humanidade;
encontrar as causas que explicam revelação ocorresse só a uma pes- tem fundamentos científicos que
sua rápida propagação: soa, ou só em algum lugar, só a demonstram todos os seus postu-
1. Os Espíritos são os verdadeiros um povo, só a uma raça, esta pes- lados, não adotando nenhum tipo
autores dos ensinamentos do Espi- soa ou este grupo de indivíduos de dogma (postulado que não se
ritismo. Este é um dos principais poderiam estar ludibriados ou po- demonstra) em sua Doutrina;
motivos e a razão para justificar deriam enganar-se. Mas isto não 5. O Espiritismo fala ao coração
sua rápida expansão. Se é certo ocorre quando milhões de cria- porque, além de esclarecer, racio-
que criaturas humanas poderiam turas vêem e ouvem a mesma nalmente, traz também consola-
ser destruídas ou fracassar na mis- coisa, em diferentes lugares, rece- ção, demonstrando efetivamente
são de divulgar um ideal, assim bendo os mesmos ensinamentos; que a morte não faz cessar a vida;
como ter seus livros queimados, 3. Os Espíritos, através de dife- 6. O Espiritismo acompanha a
não menos verdade é que os Espí- rentes pessoas (médiuns), revelam Ciência; onde esta demonstrasse
ritos não podem ser destruídos. As as mesmas lições e dão as mesmas que ele está em erro, ele o aban-
lições que os Espíritos podem ofe- orientações acerca dos mesmos donaria para acompanhar a Ciên-
recer às criaturas ocorrerão sem- assuntos. Com isso, o ensino tem cia;
pre, estando assegurada a perma- caráter universal, não sendo pri- 7. O Espiritismo demonstra e
nência de sua divulgação, uma vez vilégio de ninguém em especial, explica o que outras crenças e reli-
que seu mecanismo faz parte das assumindo portanto feição de ver- giões apenas defendem como hi-
Leis da Natureza. A nova revela- dade. Este princípio ficou conhe- pótese; muitos admitem a vida
ção pode chegar às criaturas de cido como a Universalidade do eterna, a Doutrina Espírita a com-
um pólo a outro da Terra, e os Es- Ensino e é um assunto que o Co- prova.
píritos podem manifestar-se em dificador desenvolveu na “Intro- Enfim, estes são, sem dúvida
qualquer tempo e lugar; dução”, item II, de O Evangelho se- alguns dos principais motivos que
2. Diversas e diferentes são as gundo o Espiritismo, e na Revista justificam a rápida e permanente
pessoas (médiuns) que podem re- Espírita, (maio/1864), no “Discur- difusão do Espiritismo no mundo,
ceber as informações dos Espíri- so de abertura do sétimo ano so- uma Doutrina habilitada a trazer
tos. Ninguém pode no mundo ali- cial”; uma fé raciocinada ao homem
mentar a pretensão de deter a ver- 4. O Espiritismo fala à razão, contemporâneo, fazendo nossas as
dade absoluta e por isso os Espí- pois leva a fé raciocinada, que po- palavras de Allan Kardec: “(...) Para
ritos a revelam para diferentes in- de enfrentar a razão face a face em todo homem que estuda esse mo-
vimento, torna-se evidente que o
Espiritismo marcará uma das fases
da Humanidade (...)”. (Revista Espí-
rita, junho/1862, p. 255, Ed. FEB.)

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Fato histórico sobre


divulgação da Doutrina
OCEANO VIEIRA DE M E LO

U
m acontecimento marcan- divulgação. Quando oferecemos aos
te na divulgação da Dou- executivos da TVA Digital os direi-
trina Espírita ocorreu no fi- tos de exibição de O Espiritismo –
nal do ano passado, mais preci- de Kardec aos Dias de Hoje, para sua
samente no dia 2 de dezembro, grade de programação no Pay-Per-
quando foi disponibilizado para o -View (pague para ver), fizemos
público leigo assistir em casa, atra- questão de dizer que se tratava de
vés da TVA Digital, canal por assi- “um filme espírita” produzido sob
natura do Grupo Abril, o filme O encomenda da Federação Espírita
Espiritismo – de Kardec aos Dias de Brasileira, e que, quando do seu lan-
Capa do DVD
Hoje, produzido pela Federação çamento em DVD, para as come-
Espírita Brasileira. morações do Bicentenário de Nas- personagens “do outro lado”, al-
“Por que este fato é importante cimento de Allan Kardec (1804- guns até com certa seriedade, mas
para o Espiritismo?”, perguntariam -2004), o filme se tornara um gran- sempre sob o ponto de vista pura-
provavelmente alguns confrades. de sucesso de vendas junto ao pú- mente de entretenimento, sem a
Porque é a primeira vez que um fil- blico, principalmente, o não espírita. abordagem adequada que requer
me espírita, produzido por uma en- O Espiritismo – de Kardec aos o assunto.
tidade espírita, neste caso a FEB, é Dias de Hoje foi programado, e para Na década de 90, vimos produ-
exibido como “um filme espírita”, surpresa dos executivos da TVA Di- ções made in Hollywood mais sé-
embora saibamos que isso aconte- gital, não para nós, se tornou um rias, como Ghost, do Outro Lado da
ceria, mais cedo ou mais tarde, pois grande sucesso de público no Pay- Vida; O Sexto Sentido; Os Outros; e
está escrito nas obras de Kardec que -Per-View. Amor Além da Vida. Elas mostra-
o Espiritismo usaria a arte para sua Logo no primeiro mês de exi- ram, “involuntariamente”, cenas e
bição, ficou na oitava colocação, situações que nós identificamos
superando muitas produções re- como espíritas, embora tenham si-
centes dos cinemas americano e do realizadas sem orientação da
inglês. Doutrina. Por que espíritas? Por-
Nos anos 40 e 50, os cine- que tomamos conhecimento dessas
mas americano e inglês pro- situações na Codificação, escrita
duziram alguns filmes com entre 1857 e 1868, pelo nosso mes-
cenas que poderíamos clas- tre Allan Kardec, e, no século XX,
sificar apenas como espiri- nas obras psicografadas por Fran-
tualistas, pois mostravam cisco Cândido Xavier e Yvonne do
situações que envolviam Amaral Pereira.

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A FEB e o Esperanto

Comovente depoimento, da
Hungria, sobre
Memórias de um Suicida
A F F O N S O S OA R E S

O
texto que abaixo transcrevemos, em tradu- (Memórias de um Suicida), em húngaro, e assim
ção do esperanto, remete-nos a etapas as- fecundar o pensamento e o sentimento de nossos
saz significativas e edificantes da verdadei- irmãos magiares com o conteúdo de uma das mais
ra saga vivida pelo sagrado texto mediúnico ditado profundas obras mediúnicas que a Terra tem co-
à médium Yvonne A. Pereira, até que chegasse à sua nhecido.
versão em língua húngara e en- Agora, recebemos de Tibor
sejasse o belíssimo fruto objeto Szabadi o depoimento objeto
desta notícia. deste artigo, cujo teor damos a
Pelo início da década de 90, seguir ao leitor:
instigados por valoroso grupo “Caros Amigos!
de esperantistas-espíritas do Lar Gostaria de comunicar-lhes
Fabiano de Cristo, entregamo- um depoimento que recebi,
-nos à árdua empresa de verter em língua húngara, a respeito
para o esperanto o Memórias de da obra Memórias de um Sui-
um Suicida. cida. Quem o faz é uma douto-
A edição veio a lume em ra em Filosofia, professora
1998, graças ao esforço hercú- universitária, interessada no
leo, quase sobre-humano, dos estudo do Espiritismo.
valorosos idealistas da Socieda- Eis o texto, por mim vertido
de Editora Espírita F. V. Lorenz, ao esperanto:
à frente o incansável Délio Pe-
reira de Souza. Estimado Szabadi Tibor!
No início do presente século, Encontrei, na Biblioteca Cen-
Tibor Szabadi, esperantista-es- tral de Budapest “Szabó Ervin”,
pírita da Hungria, verteu a o livro “Memórias de um Sui-
obra para sua língua nacional, Capa do livro Memórias de um cida”. Entreguei-me à leitura
com base na tradução em espe- Suicida em húngaro com grande curiosidade, pois a
ranto, cabendo ao idealismo sacrificial de outro verdade é que até hoje eu absolutamente não com-
grupo de abnegados e devotados companheiros de preendia as implicações espirituais do suicídio.
Brasília, sob o comando de Aymoré Vaz Pinto, a Sou formada em Língua Húngara e História, sendo
tarefa de editar o volume Egy ongyilkos emlékei também doutora em Filosofia.

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Desde o início de meus como a maneira pela qual ele deverá responder por
estudos universitários, seu ato.
muito me interesso so- O livro expõe essa responsabilidade não com base
bre a origem e a teoria na amedrontação criada pela Igreja, mas com apro-
das religiões, e em mi- fundamento, respeito a Deus, assim proporcionando
nha tese de doutorado base sólida para a verdadeira crença.
também abordei esse Tocou-me profundamente a realidade do mundo
tema. espiritual, vendo Maria e seus auxiliares a se devota-
Afastei-me das rem ao tratamento desses Espíritos desviados.
igrejas “oficiais”, pe- Desde quando terminei a leitura da obra, também
lo dogmatismo ne- passei a orar por essas almas.
las reinante. So- Gostaria de testemunhar minha gratidão pelo
mente nos anos grande empreendimento que significa essa tradução,
90, graças ao sur- pois foi graças a ela que pude tomar conhecimento de
gimento, na Hun- obra tão importante como é “Memórias de um
Capa do livro Memórias de
gria, de teorias e Suicida”.
um Suicida em esperanto
obras vazadas em Meu agradecimento também se estende a todos os
novo estilo, readquiri a crença em doutrinas reli- que, contribuindo para a edição do livro, o ajudaram
giosas. em seu trabalho.
Meu maior interesse é pelo Cristianismo e pelos Agradeço a todos os senhores pelo fato de haver
ensinos do Cristo, pois sou de confissão católica roma- conhecido essa obra tão valiosa.
na e vejo que as lições de Jesus têm sofrido mui- D-ra Minya Klara.”
tas deformações.
Saiba que o livro que o senhor traduziu abalou- Continuemos, portanto, queridos companheiros
-me o íntimo pela visão verdadeira que oferece não do tríplice ideal EEE (Evangelho – Espiritismo –
somente do real caráter de erro do suicídio, mas tam- Esperanto) nos abençoados serviços com que a
bém do vivo ensino do Cristo. misericórdia do Cristo nos honra e favorece, certos
Compreendi, do ponto de vista espiritual, o grau de que seus belos frutos dão notícia da excelência da
da falta que o suicida comete contra Deus, bem árvore que os produz.

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O Exorcismo
na visão espírita
C A R LO S A B R A N C H E S


U
m curso de apenas quatro çou a falar em uma língua que
meses reforçou o exército não conhecia”, afirmou. O exorcismo foi assunto de vá-
dos católicos contra as Um dos professores do curso é rias reflexões e artigos por parte
forças do mal na Terra. bastante conhecido na área do de Allan Kardec em diversos tre-
Intitulado “Exorcismo e a oração exorcismo. O Pe. Gabriele Nanni chos da Codificação e da Revista
da libertação”, ele foi oferecido, pelo relacionou quatro sinais definiti- Espírita. O Codificador deixou cla-
segundo ano consecutivo, pela Uni- vos de que se trata de uma posses- ro que seria necessário compreen-
versidade Pontifícia Regina Apos- são demoníaca, e não de proble- der a questão sob a nova roupa-
tolorum, de Roma. mas psicológicos: “Quando al- gem conceitual da visão espírita.
Entre outubro de 2005 e janei- guém fala ou entende línguas que No novo contexto, Kardec es-
ro de 2006, cerca de 120 matricu- normalmente não conhece; quan- clarece que o espírito das trevas,
lados de todo o mundo ouviram do sua força física é despropor-
palestras sobre os aspectos pasto- cional ao tamanho do seu
rais, espirituais, teológicos, litúr- corpo ou à idade; quando
gicos, médicos, jurídicos e crimi- se torna repentinamente
nais do satanismo e da possessão conhecedor de práticas
demoníaca. ocultas; quando tem
Segundo a opinião dos coor- uma aversão física a
denadores do curso, “não há dú- coisas sagradas, como
vida de que hoje o diabo está se a hóstia ou as orações”.
intrometendo mais na vida do O desafio para os futu-
homem”. A maioria dos alunos é ros “exorcistas” da Europa
de padres interessados em saber é grande.
como lidar com o demônio no Estima-se que só na
caso de topar com ele algum dia. Itália, há até 5.000
Um dos alunos disse que deci- membros de sei-
diu fazer o curso após viver a “ex- tas satânicas. E
periência perturbadora” de ouvir jovens de 17 a 25
a confissão de uma jovem da sua anos seriam até
paróquia. “Sua voz mudou, seu três quartos desse
rosto se transformou e ela come- total.

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adversário de Deus na Terra, na  O diferencial do espírita é este:


verdade é um inimigo de si mes- A ação comunitária dos espíri- ao contrário de expulsar o cha-
mo, trabalhando contra a pró- tas no que diz respeito às reu- mado demônio da presença dos
pria paz. niões de desobsessão é, a meu ver, seres que ele deseja possuir, de-
Acrescenta também que no de grandiosa força revolucioná- volvendo-o aos ambientes infer-
trato com as entidades ainda vin- ria, por disseminar por milhares nais, oferece-lhe o oposto, em for-
culadas ao mal, de pouco adian- de sessões mediúnicas o convite ma de um suave chamado a que
tam fórmulas e rituais externos, amorável do Mestre, de servir in- venha fazer parte do rebanho do
mas sim a autoridade moral do cansavelmente para colaborar com Senhor, já que ele também é filho
interlocutor, porque o Espírito a iluminação da Humanidade, a de Deus e herdeiro dos tesouros
tem a possibilidade de perceber a partir da transformação de um co- do Pai...
sinceridade de propósitos do es- ração ferido e disposto a tudo por Por aí trabalhamos, a fim de
clarecedor e pode aferir sua ho- fazer o mal e vingar-se. mostrar à Humanidade que todos
nestidade pela qualidade das vi- No lugar do “príncipe das tre- podemos herdar a terra dos man-
brações e pela elevação de sua vas”, colocamos a figura do irmão sos de coração...
congruência, no sentido de só enfermo que, tanto quanto nós, é
propor aquilo que tem possibili- necessitado de amparo e amor su-
dade de sentir com grandeza e blimes.
humildade.


Nesse sentido, a técnica do


diálogo com os elementos das
sombras constitui uma das valio-
sas contribuições do Espiritismo
para a melhora das relações entre
as realidades material e espiritual.
Conversa franca, aberta, centrada
na honestidade de propósitos e
no desejo de melhoria de todos
os envolvidos – vítimas, algozes e
interlocutores chamados ao ser-
viço no bem.
No lugar do ritual externo,
uma atitude interna de respeito e
afeto sincero pelo comunicante.
O que ele precisa é de amor, co-
mo conclui com sabedoria Her-
mínio Miranda na obra Diálogo
com as Sombras.

31
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Em dia com o Espiritismo

Intuição M A RTA A N T U N E S M O U R A

N
um recente levantamento conhecimento das coisas sem o desenvolvidas tanto no plano físico
feito pelo respeitado IIMD uso exclusivo da inteligência. Co- quanto no espiritual, podendo par-
(International Institute for mo conhecimento antecipado, a ticipar ativamente delas.3 Retor-
Management Development), com intuição está vinculada à percep- nando ao corpo físico, a pessoa re-
sede na Suíça, obtivemos a infor- ção extra-sensorial. O terceiro sig- corda-se intuitivamente dos acon-
mação de que 80% dos 1.312 exe- nificado – que trata da apreensão tecimentos vividos. “De ordinário
cutivos entrevistados, em nove da essência das coisas – é questão [esclarecem os Espíritos Superio-
países, avaliam que a intuição se metafísica quando se indaga ser res], ao despertardes, guardais a in-
tornou importante para a formu- possível alguém enxergar aparên- tuição desse fato, do qual se origi-
lação de estratégias e planejamen- cias e a realidade das coisas. nam certas idéias que vos vêm es-
tos empresariais. A maioria dos O conceito espírita de intuição pontaneamente, sem que possais
respondentes (53%) diz que recor- abrange esses e outros significados: explicar como vos acudiram (...)”4
re à intuição e ao raciocínio lógi- a) resulta da manifestação da fa- Os fenômenos mediúnicos (de
co em igual proporção no seu dia- culdade anímica; b) decorre da médium, meio) decorrem da ação
-a-dia. “O que eles estão dizendo é faculdade mediúnica; c) faz rela-
que administrar é mais do que ção com as provações da vida, de-
contar, pesar e medir.”1 finidas no planejamento reencar-
A palavra intuição apresenta natório; d) reflete aprendizado de-
três significados: a) conhecimento senvolvido em épocas passa-
imediato de alguma coisa, obtido das ou no plano espiritual.
por meio do entendimento sensí- Os fenômenos de eman-
vel e/ou do intelectual; b) conheci- cipação da alma ou aními-
mento antecipado, caracterizado cos (de anima, alma) são
por um “pré-sentimento” ou por produzidos pelo próprio
uma “pré-ciência” de algo que po- Espírito encarnado nos mo-
derá acontecer; c) conhecimento mentos de desprendimen-
da essência das coisas, isto é, capa- to (desdobramento) do
cidade de enxergar além das apa- corpo físico. Nesta
rências.2 O conhecimento imedia- situação, o Espí-
to é reconhecido como um proble- rito desdobrado
ma de ordem epistemológica que tem consciência
investiga ser possível alguém ter o das ocorrências

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dos Espíritos sobre um instru- cessárias à sua melhoria espiritual. A filosofia medieval considera
mento humano, o médium. A in- O reencarnante, então, “pede a Es- o conhecimento intuitivo como
tuição manifestada por via me- píritos que lhe são superiores que o uma forma particular e privilegia-
diúnica é muito sutil. Surgem, na ajudem na nova empresa que sobre da da consciência humana. Entre-
mente, idéias sobre um assunto si toma, ciente de que o Espírito, tanto, o filósofo inglês Francis Ba-
ou acontecimento, cuja origem, a que lhe for dado por guia nessa con (1561-1626) acrescenta que
rigor, é desconhecida pelo media- outra existência, se esforçará pelo somente a intuição associada à
neiro. Kardec explica que “o mé- levar a reparar suas faltas, dando- experiência deve ser aceita como
dium intuitivo age como o faria -lhe uma espécie de intuição das em um privilégio da inteligência hu-
um intérprete. Este, de fato, para que incorreu. (...) Essa voz [ensina mana. Descartes (1596-1650), por
transmitir o pensamento, precisa um Espírito Superior], que é a lem- outro lado, explica que é impor-
compreendê-lo, apropriar-se dele, brança do passado, vos adverte tante saber distinguir “intuição” –
de certo modo, para traduzi-lo para não recairdes nas faltas de que apreensão sensível e vulgar expe-
fielmente e, no entanto, esse pen- já vos fizestes culpados”. 7 rimentada pelo intelecto – de
samento não é seu, apenas lhe A intuição é, também, uma “intuição evidente” (evidens in-
atravessa o cérebro. Tal precisa- lembrança de aprendizado desen- tuitus) que nos conduz ao conhe-
mente o papel do médium intuiti- volvido pelo Espírito, em vidas cimento verdadeiro. O filósofo
vo”.5 É por este motivo que na passadas e nos intervalos das reen- alemão Friedrich Hegel (1770-
mediunidade intuitiva “(...) tor- carnações. Surge como idéias ina- -1831), por sua vez, identifica a
na-se freqüentemente difícil dis- tas e como tendências instintivas. intuição com o pensamento ou
tinguir o pensamento do médium “(...) os conhecimentos adquiridos com a capacidade de pensar: “o
do que lhe é sugerido, o que leva em cada existência [e no plano es- puro intuir é o mesmo que o puro
muitos médiuns deste gênero a du- piritual] não mais se perdem. Li- pensar”, afirma.
vidar da sua faculdade”. 6 berto da matéria, o Espírito sem- Os filósofos contemporâneos,
A intuição pode ocorrer como pre os tem presentes. Durante a sobretudo os matemáticos e os
lembranças de provas, definidas encarnação, esquece-os em parte, lógicos, relacionam intuição à ca-
no planejamento re- momentaneamente; porém, a in- pacidade inventiva da Ciência. O
encarnatório. São tuição que deles conserva lhe biólogo e filósofo francês Claude
provações seme- auxilia o progresso. Se não fosse Bernard (1813-1878) dizia: “a in-
lhantes às que o assim, teria que recomeçar cons- tuição gera a idéia ou a hipótese
Espírito não sou- tantemente.” 8 experimental, ou seja, interpreta
be aproveitar, re- A evolução histórica do signifi- antecipadamente os fenômenos
sultando lutas ne- cado da intuição revela-nos a da natureza”. O francês Henri
existência de uma constante Poincaré (1854-1912), notável ma-
preocupação, manifestada temático e filósofo, repetia, com
em diferentes épocas e áreas referência à matemática, o que
do saber humano, sobre o Bernard dizia sobre as ciências
pensamento intuitivo. Os experimentais: “demonstra-se com
filósofos da Antigüidade, a lógica, mas só se inventa com a
platônicos e neoplatônicos, intuição. (...) A faculdade que nos
defendem a tese de que a ensina a ver é a intuição. Sem ela
intuição é um conhecimen- o geômetra seria como um escri-
to ou dom superior, um ti- tor bom de gramática, mas vazio
po de privilégio divino. de idéias”.9

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As idéias intuitivas fazem rela- nicação com as rotas alheias, ante- ampliando conquistas sentimen-
ção com a criatividade, nos dias câmara do Espírito, em todas as tais e culturais, colaboração essa
atuais. A intuição é vista como nossas atividades de intercâmbio que se verifica sempre, não pela
faculdade congênita, presente com a vida que nos rodeia (...). vontade da criatura, mas pela con-
em alguns indivíduos, mas passí- Isso porque exteriorizamos, cessão de Deus.” 13
vel de ser desenvolvida pelo exer- de maneira invariável, o reflexo de
cício. Para os estudiosos, a mente nós mesmos, nos contatos de pen-
das pessoas intuitivas desenvol- samento a pensamento, sem ne- Referências Bibliográficas:
1
veu a capacidade de lidar com fi- cessidade das palavras para as BLECHER, Nelson. In: Essência da Intui-
guras ou configurações. Neste simpatias ou repulsões funda- ção. São Paulo: Editora Martin Claret, 1997,
sentido, a intuição é uma forma mentais. (...) p. 76.
2
peculiar do pensamento que Pelas ondas de pensamento a se Enciclopédia Mirador Internacional. São
emite imagens mentais denomi- enovelarem umas sobre as outras, Paulo: Melhoramentos, 1995, vol. 12,
nadas não-lógicas.10 Para a Ciên- segundo a combinação de fre- p. 6.181.
3
cia, existem várias maneiras de qüência e trajeto, natureza e obje- KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 76.
pensar. O pensamento lógico-ra- tivo, encontram-se as mentes se- ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005, cap. XIX,
cional, por exemplo, nos é mais melhantes entre si (...). item 223, 1o a 5o subitens, p. 278 e 279.
4
familiar, facilitando as nossas A intuição foi, por esse motivo, ______. O Livro dos Espíritos. 86. ed.
interferências no cotidiano, na o sistema inicial de intercâmbio, Rio de Janeiro: FEB, 2005, q. 415, p. 257.
5
realidade objetiva. O valor da facilitando a comunhão das criatu- ______. O Livro dos Médiuns. Rio de Ja-
intuição estaria na habilidade de ras, mesmo a distância, para trans- neiro: FEB, 2005, cap. XV, item 180, p. 231.
6
a mente produzir e interpretar fundi-las no trabalho sutil de tele- ______. Obras Póstumas. 38. ed. Rio de
imagens não-lógicas e, ao mesmo mentação, nesse ou naquele domí- Janeiro: FEB, 2005. Primeira Parte, “Dos
tempo, coexistir harmonicamen- nio do sentimento e da idéia, por médiuns”, item 50, p. 71.
7
te com as emissões do pensa- intermédio dos remoinhos men- ______. O Livro dos Espíritos. 86. ed.
mento racional-lógico.11 Este é o suráveis de força mental, assim Rio de Janeiro: FEB, 2005, q. 393, p. 243.
8
ponto exato que reflete o interes- como, na atualidade, o remoinho Idem, ibidem, q. 218-a, p. 164.
9
se dos estudiosos pela intuição e eletrônico infunde em aparelhos ABBRAGNANO, Nicola. Dicionário de Fi-
pelos intuitivos. Empresários e especiais a voz ou a figura de pes- losofia. São Paulo: Martins Fontes, 2000,
tecnólogos, psicólogos e educa- soas ausentes, em comunicação p. 581 a 583.
10
dores da atualidade incentivam recíproca na radiotelefonia e na FISHER, Milton. In: Essência da Intui-
ou desenvolvem estudos, pesqui- televisão.” 12 ção. São Paulo: Editora Martin Claret,
sas e análises, confiantes em que Emmanuel esclarece que “to- 1997, p. 59 a 62.
11
os insights ou a súbita percepção, dos os homens participam dos EPSTEIN, Gerald. In: Essência da Intui-
próprios dos intuitivos, represen- poderes da intuição, no divino ta- ção. São Paulo: Editora Martin Claret,
tam um jeito novo de fazer algo, e bernáculo da consciência, e todos 1997, p. 30.
12
podem ser a solução para proble- podem desenvolver suas possibili- XAVIER, Francisco C. e VIEIRA, Waldo.
mas e desafios complexos, exis- dades nesse sentido. (...) Evolução em dois Mundos, pelo Espírito
tentes na civilização hodierna.11 A faculdade intuitiva é insti- André Luiz. 23. ed. Rio de Janeiro: FEB,
O Espírito André Luiz nos for- tuição universal. Através de seus 2005, cap. 17, p. 164 a 166.
13
nece uma boa explicação sobre o recursos, recebe o homem terres- XAVIER, Francisco Cândido. Caminho,
mecanismo básico da intuição: tre as vibrações da vida mais alta, Verdade e Vida, pelo Espírito Emmanuel.
“A aura é, portanto, a nossa plata- em contribuições religiosas, filo- 1. ed. especial, Rio de Janeiro: FEB, 2004,
forma onipresente em toda comu- sóficas, artísticas e científicas, cap. 156, p. 327 a 328.

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Comemorações do
Sesquicentenário
do Espiritismo
O Conselho Federativo Nacional Com o lema Espiritismo: 150 às suas áreas de abrangência, e
da FEB, em sua Reunião Ordinária Anos de Luz e Paz, estão sendo montagem de um cronograma
de 11 a 13 de novembro de 2005, planejadas várias ações: das programações alusivas ao Ses-
constituiu Comissão para as come- Plano de Trabalho para o Mo- quicentenário do Espiritismo, du-
morações do Sesquicentenário da vimento Espírita Brasileiro: a ser rante o ano de 2007, mas com
Doutrina Espírita, considerando elaborado sob a coordenação do destaque à promoção de eventos
que no dia 18 de abril de 2007 se Conselho Federativo Nacional da em todas as Instituições Espíritas,
comemoram 150 anos do lança- FEB. Os estudos para esse “Pla- em torno da data de 18 de Abril de
mento de O Livro dos Espíritos, por no de Trabalho” serão iniciados 2007. O encerramento das come-
Allan Kardec. Com esse objetivo, o nas quatro Reuniões das Comis- morações do Sesquicentenário
CFN também aprovou que a FEB sões Regionais do CFN, entre ocorrerá na Reunião Ordinária do
promova e coordene a realização abril e junho deste ano, concluin- CFN, em novembro de 2007.
do 2o Congresso Espírita Brasileiro, do-se na Reunião Extraordinária Ações para a difusão espírita:
que ocorrerá em Brasília. do CFN, que antecederá a abertu- serão criadas peças promocio-
Essa Comissão do CFN ficou ra do 2o Congresso Espírita Brasi- nais sobre o Sesquicentenário do
integrada pelos seguintes repre- leiro. Espiritismo e sobre as Obras Bá-
sentantes: Região Norte – Jorge 2o Congresso Espírita Brasilei- sicas da Codificação, estimulan-
Alberto Elarrat do Canto e Sandra ro: programado para Brasília, de do-se as edições especiais de li-
Farias de Moraes; Região Nordes- 12 a 15 de abril de 2007, será pro- vros, jornais e revistas, sobre a
te – Creuza Santos Lage e Sônia movido pela Federação Espírita efeméride.
Maria Arruda Fonseca; Região Brasileira e terá como tema cen- Edição de Selo Postal Come-
Centro – Maria Túlia Bertoni e tral O Livro dos Espíritos na Edi- morativo: a FEB proporá aos
Saulo Gouveia Carvalho; Região ficação de um Mundo Melhor. An- Correios a emissão de selo postal
Sul – Jason de Camargo e José tecedendo a abertura do 2o Con- e a preparação de carimbo, come-
Antonio Luiz Balieiro; Entidades gresso serão realizadas em Brasília morativos do Sesquicentenário
Especializadas de Âmbito Nacio- Reuniões conjuntas das quatro do Espiritismo, com previsão pa-
nal – Gezsler Carlos West e Jorge Comissões Regionais do CFN e a ra lançamento, em Brasília, no
Pedreira de Cerqueira; Federação Reunião Extraordinária do CFN. dia 18 de abril de 2007, e com
Espírita do Distrito Federal – Cé- Atividades junto ao Movimen- lançamento simultâneo em todas
sar de Jesus Moutinho; FEB – to Espírita: estímulo a ações das as capitais dos Estados, nas sedes
Altivo Ferreira e Antonio Cesar Entidades Federativas Estaduais e das respectivas Entidades Federa-
Perri de Carvalho. Associações Especializadas junto tivas.

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Páginas da Revue Spirite

A Escola Espírita
Americana
A
lgumas pessoas perguntam por que a Doutri- se cansaram das experiências materiais sem resulta-
na Espírita não é a mesma no antigo e no no- dos positivos. Já o mesmo não ocorreu desde que se
vo continentes e em que consiste a diferença. desdobraram as conseqüências morais desses mes-
É o que tentaremos explicar. mos fatos para o futuro da Humanidade. A partir daí
Como se sabe, as manifestações ocorreram em to- o Espiritismo tomou posição entre as ciências filosó-
dos os tempos, tanto na Europa quanto na América, ficas; marchou a passos de gigante, a despeito dos
e hoje, que nos damos conta da coisa, lembramos obstáculos que lhe foram suscitados, porque satisfa-
uma porção de fatos que tinham passado desperce- zia às aspirações das massas, porque prontamente
bidos, muitos dos quais consignados em escritos compreenderam que vinha preen-
autênticos. Mas esses fatos eram isolados; nestes últi- cher um imenso vazio
mos tempos eles se produziram nos Estados Unidos nas crenças e resolver o
numa escala bastante ampla para despertar a atenção que até então parecia
geral dos dois lados do Atlântico. A extrema liberda- insolúvel.
de existente nesse país favoreceu a eclosão das idéias A América foi, pois,
novas, e é por isto que os Espíritos o escolheram para o berço do Espiritis-
primeiro teatro de seus ensinos. mo, mas foi na Euro-
Ora, acontece muitas vezes que uma idéia surge pa que ele cresceu e fez
num país e se desenvolve em outro, como se vê nas suas humanidades. Isto
ciências e na indústria. Sob esse aspecto, o gênio é motivo para a Amé-
americano deu suas provas e nada tem a invejar à rica ficar enciuma-
Europa; mas, se excede em tudo o que concerne ao da? Não, porque
comércio e às artes mecânicas, não se pode recusar à noutros pontos
Europa o das ciências morais e filosóficas. Em conse- ela levou van-
qüência dessa diferença no caráter normal dos po- tagem. Não
vos, o Espiritismo experimental ocupava seu espaço
na América, enquanto a teoria e a filosofia encontra-
vam na Europa elementos mais propícios ao seu
desenvolvimento. Assim, foi lá que nasceu, conquis-
tando, em poucos anos, o primeiro lugar. Ali os fatos
inicialmente despertaram a curiosidade; porém,
uma vez constatados e satisfeita a curiosidade, logo

James Hervey Hyslop foi um dos pioneiros do


Espiritismo experimental nos Estados Unidos.

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foi na Europa que as máquinas a vapor surgiram? e Espíritos não a ensinaram. Expliquemos as razões
não foi na América que encontraram a sua aplicação disto. Os Espíritos procedem em toda parte com sa-
prática? A cada um o seu papel, conforme suas apti- bedoria e prudência; para se fazerem aceitar, evitam
dões, e a cada povo o seu, segundo seu gênio parti- chocar muito bruscamente as idéias preconcebidas.
cular. (...) Nos Estados Unidos o dogma da reencarnação
O que particularmente distingue a escola espírita teria vindo chocar-se contra os preconceitos de cor,
dita americana da escola européia é a predominân- tão profundamente arraigados naquele país; o es-
cia, na primeira, da parte fenomênica, à qual se ligam sencial era fazer aceitar o princípio fundamental da
mais especialmente, e na segunda, a parte filosófica. comunicação do mundo visível com o mundo invi-
A filosofia espírita da Europa espalhou-se pronta- sível; as questões de detalhe viriam a seu tempo.
mente, porque ofereceu, desde o princípio, um Ora, não é duvidoso que esse obstáculo acabe por
conjunto completo, mostrando o objetivo e desaparecer, e que um dos resultados da
ampliando o horizonte das idéias; incon- guerra civil atual seja o gradativo en-
testavelmente, é a que hoje prevalece fraquecimento de preconceitos, ver-
no mundo inteiro. Até hoje os Es- dadeira anomalia numa nação tão
tados Unidos pouco se afastaram de liberal.
suas idéias primitivas; significará Se, de maneira geral, a idéia da
isto que, isolados, ficarão na reta- reencarnação ainda não é aceita
guarda do movimento geral? Seria nos Estados Unidos, ela o é indi-
injuriar a inteligência desse povo. vidualmente por alguns, se não
Aliás, os Espíritos lá estão para o como princípio absoluto, ao me-
impelir na via comum, ensinando nos com certas restrições, o que já
ali o que ensinam alhures; triunfa- é alguma coisa. Quanto aos Espí-
rão pouco a pouco das resistências ritos, sem dúvida julgando que o
que poderiam nascer do amor-pró- momento é propício, começam a
prio nacional. Se os americanos re- ensinar com cautela em certos lu-
pelissem a teoria européia, porque gares e sem rodeios em outros.
vem da Europa, aceitá-la-ão quando Leonore E. Piper, famosa Uma vez levantada, a questão per-
surgir em seu meio, pela própria médium americana. Portadora correrá longa distância. Aliás, te-
de vários dons mediúnicos,
voz dos Espíritos; cederão ao ascen- mos sob os olhos comunicações já
prestou-se a estudos científicos
dente, não da opinião de alguns de 1885 a 1915 antigas, obtidas naquele país, nas
homens, mas ao controle universal quais, sem estar formalmente ex-
do ensino dos Espíritos, esse poderoso critério, como pressa, a pluralidade das existências é a conseqüên-
o demonstramos em nosso artigo sobre a autoridade cia forçada dos princípios emitidos; aí se vê brotar a
da doutrina espírita; é apenas uma questão de tempo, idéia. Assim, não é duvidoso que, em pouco tempo,
principalmente quando houverem desaparecido as o que hoje ainda se chama escola americana fundir-
questões pessoais. -se-á na grande unidade que se estabelece por toda
De todos os princípios da doutrina, o que encon- parte.
trou mais oposição na América – e por América
deve entender-se exclusivamente os Estados Unidos ALLAN KARDEC
– foi o da reencarnação. Pode mesmo dizer-se que é
a única divergência capital, prendendo-se as outras Fonte: Revue Spirite (Revista Espírita) – maio de 1864, 2. ed.
mais à forma do que ao fundo, e isto porque ali os FEB. Transcrição parcial, p. 200 a 202.

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Desafios na
Casa Espírita
M
uito freqüentemente quei- comando, abandonando-se a sim- sessiva sempre se dá quando o indi-
xam-se os companheiros plicidade e a humildade que deve- víduo se coloca predisponente para
que militam na Casa Espí- riam viger por bandeiras de vivên- que semelhante sintonia se estabe-
rita acerca dos distúrbios que se cia cristã na seara que se escolheu leça no campo pessoal, ameaçando
operam nas engrenagens admi- para militar. soçobrar a tranquilidade e a paz vi-
nistrativas da Instituição, impondo E assim vários focos infecciosos gente na seara espiritista.*
a deserção de vários tarefeiros e a vão minando a Instituição Espírita, Todas as vezes que a obsessão se
abertura de áreas de guerra intes- sempre sob a aparência de simples insinua, imperioso é reconhecer
tina, em que a maledicência e a re- divergências de pensamentos, a que os obsedados vulgares dão re-
volta surda, o azedume e o melin- ocultar uma ameaça muito maior, pasto a semelhante enfermidade da
dre surgem por colheita infeliz, fru- qual seja a evidência perturbadora alma. A invigilância aos próprios
to da sementeira invigilante dos da inferioridade humana, buscan- sentimentos, a ausência de autocrí-
trabalhadores envolvidos. do espaço para as alucinações do tica, o despeito em relação aos de-
Aqui, aparece a discussão esté- Ego e para a tirania do espírito. mais companheiros de militância, a
ril, levando os trabalhadores a rui- Nesse meio termo, surgem os disputa por espaços de poder e de
dosos atritos pessoais, desenca- que alertam que a Casa Espírita está influência pessoal abrem campo
deando o malogro de idéias louvá- sob assalto da obsessão coletiva, ne- para que a obsessão, seja individual
veis, e ao abortamento de projetos cessitando de uma maior vigilância ou coletiva, se instale na intimida-
de crescimento da própria Casa. dos tarefeiros encarnados, a fim de de da Instituição qual erva daninha
Mais adiante, observa-se a frieza de se minimizar o assédio das sombras em solo fértil, sendo esta praga ras-
corações no trato uns para com os sob açodamento das paixões hu- teira disseminada pelos próprios
outros, estabelecendo nevoento e manas. Recomenda-se a prece e a semeadores da Casa Espírita, ante o
propício campo para as disputas de vigilância por antídoto a semelhan- fascínio de poder e comando que
arena e os duelos espirituais nas te flagelo de natureza espiritual. muitos trazem de existências tran-
faixas dos sentimentos inferiores, Certamente que têm razão os satas fracassadas.
prenunciando a ruína de tudo que assim se pronunciam, alertan- Necessário que, em vez de uma
quanto já foi construído pelos do aos demais para que não caiam olhada simplista para a janela do
obreiros da primeira hora. mais profundamente nas malhas invisível, ante a investigação me-
Mais acolá, a inveja ganha espa- sutis da influência fascinatória exer- diúnica, que será simplesmente
ço entre os servidores da colméia cida pelos Espíritos desencarnados confirmar o que já se sabe e se sus-
espírita, onde passa a haver dispu- sobre o psiquismo humano em peita, fundamental se faz que os
ta pelo mel das vantagens imedia- tresvario. O próprio Codificador do
tas e dos aplausos do mundo, ante Espiritismo, Allan Kardec, já nos *Nota do autor espiritual: O Livro dos Mé-
a ânsia de se estar nos postos de tinha alertado que a influência ob- diuns, capítulo 23, “Da obsessão”, Ed. FEB.

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causadores do distúrbio
abram os portais da alma
e se voltem para dentro
de si mesmos, reavalian-
do suas condutas ante a
doutrina lida e estudada,
mas ainda evidentemente
não vivida.
É o Espiritismo o mais
sublime roteiro de refor-
ma íntima e renovação
moral que se conhece nos
caminhos terrestres, nos
convidando a abandonar
os velhos mantos da vai-
dade milenar e do egoísmo pri-
mitivista, sendo ele poderoso anti- bo, ao analisar fatos e pessoas, de- mente: somos simplesmente pes-
biótico a agir nos tecidos infeccio- ve estar marcado pelo selo da man- soas diferentes umas das outras,
nados da alma, ensejando que faça- suetude e da tolerância, ante a ine- em graus de entendimento pró-
mos ainda hoje a nossa autocura quívoca constatação de que não prio, em incessante marcha para
através da renúncia a propósitos sendo perfeitos, não podemos exi- dias melhores, depois de supe-
hegemônicos e autoritários, bus- gir dos demais a perfeição que eles radas, as refregas da Terra, que nos
cando uma postura madura e res- igualmente estão a buscar. impõe a convivência em grupo pa-
ponsável diante das tarefas abraça- Dessa forma, cada um vai per- ra que nos exercitemos na arte de
das livremente e dos demais irmãos cebendo sua real posição na Casa aceitar o companheiro que mar-
de jornada, a fim de que não nos Espírita que elegeu para trabalhar, cha conosco, aprendendo igual-
façamos instrumentos da pertur- evitando interferências desastro- mente a ser feliz.
bação, a introduzir no seio da Casa sas nas lides alheias, e assim ope-
Espírita os pegajosos tentáculos do rando individualmente para o êxi- Mário H. de Luna
escândalo e da viciação, a matar as to da atividade coletiva, que deve
florações segadas por mãos abnega- sempre refletir o espírito do Cris- (Página psicografada pelo médium
das e dedicadas, escândalo este pe- to, que nos convida permanente- Marcel Mariano, em 11/11/2005, em
lo qual responderemos mais tarde. mente ao combate sem tréguas às Brasília (DF), durante a Reunião do
Que cada trabalhador se cons- nossas paixões, nos estimulando a CFN/FEB.)
cientize de que é importante sem evoluir com a ferramenta da Dou-
ser imprescindível. trina Espírita e a conviver harmo- Retificando...
Que é útil, mas nunca indis- niosamente no meio dos desafios No artigo “Reuniões me-
pensável. por que passa periodicamente a diúnicas no lar”, na legenda
Que mais vale ajudar do que Casa Espírita, bem como o Movi- da página 28 de Reformador
desajudar. mento Espírita, já que estamos de março de 2006, o nome
Que toda crítica ao que já existe cientes de que não somos melho- correto da instituição é As-
deve vir acompanhada das possí- res nem piores do que os demais sociação Espírita Beneficen-
veis alternativas ou soluções de que comungam conosco a seara a te “Anjo da Guarda”.
como deveria ser, e que nosso ver- que nos entregamos voluntaria-

Abril 2006 • Reformador 157 39


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A hora é
Digníssimos Irmãos.
avançada mesmos pela grande causa do cumprimento de vossos excelsos

R
asgada a cortina, a luz es- Consolador, que é a mensagem da deveres, porque a hora já é avança-
plende em todo o fulgor da redenção e da paz para toda a Hu- da e não há mais tempo a perder, a
sua liberdade e da sua gló- manidade. Por inidentificados não fim de que tantos quantos for pos-
ria. Assim também o Espírito, li- estamos inativos, nem omissos. sível recebam a palavra do Cristo
bertado, pela morte material, dos Surgem, porém, horas como esta, Redivivo, antes que a noite apo-
grilhões constringentes e velado- no relógio do destino, em que o calíptica desça sobre os vales da
res da carne, vibra na plenitude de impositivo do dever maior nos le- Crosta planetária.
seus ideais e dos seus sentimentos, va a nos dirigirmos ostensivamen- Aproveito para deixar-vos meu
na força plena de sua capacidade te a vós outros. Eis por que hoje te- amplexo muito emocionado e mui-
de ser e de fazer. Seria, portanto, nho a glória amena e doce de es- to agradecido, pelas flores aromais
paradoxal e incompreensível que crever-vos, não para dizer-vos algo de vossas lembranças e das home-
nós, os modestos, mas sinceros de minha própria pobreza, mas pa- nagens fraternais que me tendes
operários do primeiro século do ra transmitir-vos, com a permissão prestado, pelo meu pouco mereci-
Espiritismo, só por desenfaixados do Anjo Tutelar desta Pátria e desta mento.
dos fluidos densos da vestidura Casa, a palavra de encorajamento e Crede que sou, com Marina e
carnal, nos distanciássemos, indi- de incentivo do Espírito Estelar do todos os companheiros das pri-
ferentes, do campo de lutas terres- Codificador, a fim de que abraceis meiras horas, o irmão fiel, o amigo
tres, onde a idéia sublime, que nos decididamente a tarefa que vos ca- sincero e o companheiro serviçal
iluminou os mais altos sonhos, be, de levar a luz do Espiritismo de todos os dias, sempre ao inteiro
trava as suas batalhas decisivas, pa- ao mundo inteiro. O Brasil é real- dispor de vossos corações.
ra firmar-se e expandir-se na seara mente, por decreto divino, o país
dos corações. Bem ao revés disso, escolhido para ser o Grande Evan- P.-G. Leymarie
plantamo-nos, vigilantes e indor- gelizador do Planeta e esta Subli-
midos, na primeira linha dos com- me Oficina é a feliz depositária des- Fonte: SANT’ANNA, Hernani T.
bates, ao lado daqueles que, como te legado crístico. Não temais, pois, Correio Entre Dois Mundos. 2. ed. Rio
é o vosso caso, dão o melhor de si dificuldades, nem vos atraseis no de Janeiro: FEB, 2002, p. 115 e 116.

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A FEB na
Bienal do Livro
de São Paulo
A participação das editoras es- no, visitou o estande da FEB no dia
píritas na 19a Bienal Internacional 11 de março, pela manhã. Ele elo-
do Livro de São Paulo 2006 foi a giou o trabalho das editoras espíri-
mais expressiva da última década. tas e destacou a qualidade editorial
Com um estande de 490 metros e gráfica dos livros editados pela Fe-
quadrados, exatamente na entrada deração. Siciliano foi recebido pelo
do Pavilhão de Exposições Anhem- presidente Nestor João Masotti, que
bi, a Federação Espírita Brasileira o presenteou com o livro O Es-
(FEB) e a Associação de Editoras, piritismo na sua Expressão mais
Distribuidoras e Divulgadoras do Simples, de Allan Kardec. O livro,
Livro Espírita (Adeler) receberam um dos lançamentos da FEB na Bie- Nestor Masotti e Oswaldo Siciliano
milhares de visitantes que busca- nal de São Paulo, foi traduzido por
vam informações sobre a Doutri- Evandro Noleto Bezerra. tura de rosto, o espaço atraiu cen-
na, a literatura e o Movimento Es- Uma área especial do estande tenas de crianças ao encenar um
pírita. foi construída especialmente para teatro de fantoches baseado nos li-
O presidente da Câmara Brasilei- atender ao público infantil. Além vros O tatu cavaleiro e O papagaio
ra do Livro (CBL), Oswaldo Sicilia- de brincadeiras com balões e pin- que falava latim, obras de Eloy
Facco (Tieloy) editadas pela FEB.
Com adaptação e direção de Car-
los Moreira, a peça foi produzida
pela empresa Entrelinhas Comu-
nicação e Eventos.
Além de distribuir milhares de
produtos de divulgação do livro, a
FEB montou um centro de infor-
mações sobre as instituições espí-
ritas do Brasil e do Exterior. Os vi-
sitantes levaram para casa folhetos
explicativos sobre obras sociais e
tarefas doutrinárias, além de jor-
nais, revistas, cartazes e material
referente às Campanhas Família,
Foto do Estande da Federação Espírita Brasileira Vida e Paz.

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Seara Espírita

FEB/DF: Monitores e Evangelizadores Grosso (FEEMT), a fim de debater o tema A família


Nos dias 18 e 19 de fevereiro ocorreu o Encontro de numa visão sistêmica. O VI Encontro da Família Es-
Monitores da Mediunidade e de Evangelizadores do pírita contou com a presença de Alberto Almeida, de
Departamento de Infância e Juventude, nas depen- Belém (PA). O evento – que ocorre de dois em dois
dências da FEB, tendo participado cerca de 120 evan- anos, durante o carnaval – permitiu a troca de expe-
gelizadores e 30 monitores do Curso de Mediunidade. riências e reflexão para mais de 600 pessoas.
Nos dias 25 e 26 de fevereiro foi realizadao um curso
para os monitores e colaboradores do ESDE, que con- Casa Espíritas centenárias
tou com 40 participantes. O Encontro e o curso ti- O Centro Espírita “Luz e Caridade”, de Limeira (SP),
veram caráter preparatório para as atividades de 2006, fundado em 18 de março de 1906, está comemorando
cujas aulas regulares começaram em 4 de março, com 100 anos de atividade ininterrupta. A programação,
uma palestra pelo vice-presidente Altivo Ferreira. durante o mês do aniversário, consistiu em três pales-
tras, por Orson Peter Carrara, Marcos Alberto
M. G. do Sul: Capacitação Ferreira e Marlene Nobre (nos sábados 3, 11 e 18), e
A reunião de capacitação de dirigentes das Casas na conferência de encerramento, no dia 27, por Dival-
Espíritas ocorrida nos dias 18 e 19 de fevereiro, em do Pereira Franco.
Campo Grande, sob o patrocínio da Federação Espírita O Grupo Espírita Paz, de Conselheiro Lafaiete
de Mato Grosso do Sul, reuniu um número aproxima- (MG), fundado em 31 de março de 1906, está come-
do de 50 pessoas. Participaram os presidentes das Casas morando seu Centenário com um programa de semi-
Espíritas da URE Campo Grande – à qual estão vin- nários e eventos culturais, de temática espírita, que se
culadas 31 Casas Espíritas de Campo Grande e 7 de estende de janeiro a dezembro de 2006, além da par-
outras localidades –, e os coordenadores das demais ticipação, em outubro, na Semana Espírita da Aliança
UREs. Foram desenvolvidos pelos expositores João Municipal Espírita de Conselheiro Lafaiete.
Pinto Rabelo e Edmilson Luiz Nogueira, ambos da
FEB, os temas: Visão espiritual do Curso de Capacitação Maranhão: 26a CONESMA
Administrativa de Dirigentes de Casas Espíritas e Asso- Promovida pela Federação Espírita do Maranhão,
ciação de Casas Espíritas com OSCIPs e ONGs. ocorreu, de 25 a 28 de fevereiro passado, a 26a Con-
fraternização Espírita do Maranhão (CONESMA).
Macapá (AP): Casa Chico Xavier Com a participação dos palestrantes Ana Guimarães
Uma nova Unidade de Promoção Integral, que utiliza (RJ), Geraldo Guimarães (RJ) e André Siqueira (DF),
o modelo desenvolvido pelo Lar Fabiano de Cristo, foi no Auditório da Faculdade Atenas Maranhense, a
inaugurada em Macapá, a qual recebeu o nome de Confraternização contou com seminários, palestras,
Casa Chico Xavier e será administrada pela Federação debates e momentos de arte. Foram expostos e debati-
Espírita do Amapá, em parceria com o Lar Fabiano de dos os seguintes temas: 2000 anos com Jesus; A
Cristo. A Unidade está localizada na Rua Odilardo Pedagogia de Jesus na formação do Homem Integral;
Silva, 1.131 – CEP 68908-100 – Macapá (AP). Telefo- Jesus e a terapia do amor; As várias faces do Cris-
ne: (96) 3251-3633. tianismo e seu renascimento através da Doutrina Espí-
rita; Reencarnação, o elo perdido do Cristianismo; A
M. Grosso: Encontro da Família visão espírita e o modelo de perfeição de Jesus; e Na pre-
Famílias espíritas se reuniram entre os dias 25 e 28 de sença do Cristo – Aspectos humanos, psicológicos e es-
fevereiro, na Federação Espírita do Estado de Mato pirituais.

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