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Pobres agricultores

Divulgados os subsídios da UE à agricultura em 2008

Renato Soeiro
www.renatosoeiro.blogspot.com
2 de Maio de 2009

Acabam de ser publicadas as listas dos beneficiários dos apoios europeus à


agricultura.

Após pressões de organizações nórdicas (nomeadamente da Dinamarca), onde a cultura


de transparência ganhou raízes mais fortes do que em qualquer outra parte do
mundo, foram estabelecidas novas regras (Regulamento 259/2008 da Comissão) que
obrigam a que todos os anos as listas dos apoios recebidos no ano agrícola
anterior sejam publicadas até final do mês de Abril.

O valor anual total dos apoios concedidos entre 16 de Outubro de 2007 e 15 de


Outubro de 2008 foi de 55 mil milhões de euros. Vale a pena lembrar que o
orçamento global da União em 2008 foi de 129,1 mil milhões de euros e que a
rubrica “despesas agrícolas e ajudas directas” foi, de longe, a maior rubrica do
orçamento comunitário.

Não espantará os mais habituados a estas andanças que, entre os maiores


beneficiados pelos apoios da União Europeia, se destaquem as grandes
multinacionais do sector e os grandes proprietários rurais, nomeadamente os reis,
seus familiares e outros membros da nobreza.

O maior beneficiário foi o Greencore, um grupo multinacional do sector da


alimentação, com sede na Irlanda (www.greencore.ie), que recebeu 83 377 577 euros,
mais de 83 milhões.

Na França foi recebido quase um quinto do total dos apoios comunitários destinados
aos 27 Estados-membros. O maior beneficiário neste país foi o grupo multinacional
Doux, que se dedica à carne de aves e derivados. Recebeu a módica quantia de 62
824 449,59 euros, quase 63 milhões de euros. Este grupo é o líder mundial na
exportação de carne de aves e derivados, com negócios em 130 países dos 5
continentes, e o maior produtor europeu do sector, segundo se pode ler no site do
próprio grupo (www.doux.com).

A UE continua assim a apoiar generosamente todos estes pobres agricultores com o


dinheiro dos nossos impostos. O apoio à agricultura em dificuldade e aos
agricultores que realmente precisam é, sem dúvida, uma política necessária de
solidariedade na União. Mas os dados publicados mostram uma realidade bem
diferente. Se se fizesse um referendo em França, perguntando aos contribuintes se
concordariam com a ideia de contribuir com 63 mihões para uma grande
multinacional, esta política jamais seria adoptada.

No Reino Unido, o maior beneficiário foi o grupo Czarnikow, que se apresenta como
o maior fornecedor do mercado mundial do açúcar (www.czarnikow.com), com mais de
7,5 milhões de euros de ajuda. A rainha Isabel II recebeu pessoalmente mais de
meio milhão, um montante semelhante à ajuda dada ao Duque de Westminster, o 29.º
lugar na lista mundial dos “bilionários”. Já o príncipe Carlos teve de se remediar
com uns parcos 180 mil.

E se perguntássemos aos contribuintes do Reino Unido se concordam que, em tempos


de tanta dificuldade para as famílias plebeias e trabalhadoras, estas sejam
obrigadas a dar uma ajuda aos negócios privados de Sua Majestade, da família real
e de outros nobres e grandes senhores da indústria, o que nos responderiam? Talvez
nos contassem que apenas mudou a forma e que já são obrigados a fazê-lo há vários
séculos, como todos sabem, pelo menos os que viram as várias versões dos filmes do
Robin dos Bosques. Mas, nesse tempo, sempre havia uma resistência forte e
organizada contra esta espoliação.

Em Portugal, a lista dos beneficiários do Fundo Europeu Agrícola de Garantia


(FEAGA) e do Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural (FEADER) segue o
escandalososo padrão geral dos outros países, como o leitor pode constatar
consultando: http://www.ifap.min-
agricultura.pt/portal/page/portal/ifap_publico/GC_informacoes/GC_benef

A Alemanha, pelo seu lado, recusou-se a publicar a sua lista de beneficiários,


contrariando o regulamento europeu e podendo vir a ser objecto de um processo.
Esta atitude veio reacender a crítica ao facto de que não é a Comissão Europeia
que publica os subsídios que concede, estando esta publicação a cargo dos Estados-
Membros, o que pode gerar situações como esta.

A polémica sobre a CAP, a política agrícola comum, continua viva e pode mesmo ser
um dos temas quentes da presente campanha eleitoral europeia. Na agricultura, como
nas restantes políticas, as posições que hoje dominam a UE resultam de uma clara
opção de classe ao lado dos grandes negócios. Os resultados estão à vista de
todos: a Europa social continua adiada.

Seguindo a sugestão de um velho estudioso destas questões, nascido na região


vinícola do Mosela, em 1818, podemos confirmar hoje que a história da União
Europeia tem sido a história da luta de classes na União Europeia.

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