ESTADO DE MINAS - DOMINGO, 7 DE MARÇO DE 2004 PÁGINA 21

GERAIS
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❚ CRIMINALIDADE
PEDREIRA PRADO LOPES JÁ É CONSIDERADA A REGIÃO MAIS VIOLENTA DE BELO HORIZONTE, DEVIDO À DISPUTA DE TRAFICANTES DE DROGAS
E À INFLUÊNCIA DE RONI PEIXOTO, QUE CUMPRE PENA NA PENITENCIÁRIA NELSON HUNGRIA, EM CONTAGEM, MAS AINDA MANDA NA FAVELA

GUERRA NO MORRO
FERNANDA ODILLA
E GISLENE ALENCAR
A disputa pelos pontos de trá-
fico de drogas na Pedreira Prado
Lopes, Noroeste de BH, aterrori-
za moradores e desafia a polícia.
A ordem entre os traficantes é
matar para defender ou expan-
dir território. Números da Polícia
Civil revelam que a guerra está
cada dia mais violenta. Neste
ano, 11 pessoas já foram assassi-
nadas e, em 2003, foram 19, in-
cluindo 11 no segundo semestre,
quando Roni Peixoto, apontado
pela Justiça como o braço direito
do traficante Fernandinho Beira-
Mar, foi solto e tentou rearticular
seu grupo para dominar o tráfi-
co em toda a favela.
O retorno de Roni e o aumen-
to da disputa entre traficantes
não é coincidência. Pelo menos é
o que argumenta o subsecretário
de Defesa Social, Luiz Flávio Sa-
pori. Ele se diz convencido de que
o clima de instabilidade na Pe-
dreira está relacionado à liberda-
de do traficante. Assim que foi
solto, ele reuniu “amigos” para
retomar, a balas de pistolas e fu-
zis, o domínio de áreas da favela
usada por outros criminosos para
comercializar crack, cocaína e
maconha. Assim, a média de oito
assassinatos por ano na região
aumentou em 137,5% em 2003 e
dá sinais de que vai crescer ainda
mais neste ano.
O principal alvo da disputa,
de acordo com a polícia, é uma
espaço chamado “Terreirão”,
que ficou sem liderança definida
após a prisão de “Rodriguinho”
e da morte de “Magrão”, no final
do ano passado. Segundo um
oficial da PM, o grupo de Roni
Peixoto comanda cerca de 70%
das bocas de fumo do local. “To-
da a área baixa e parte da alta
são dominados por ele. Mas Ro-
ni também quer abocanhar o
Terreirão”, informa esse militar, Polícia pode
que pede o anonimato.
A liberdade do traficante du-
rou 72 dias. Ele foi levado de vol-
ocupar favela
ta para a Penitenciária Nelson
Hungria, em Contagem, na Gran-
mais uma vez
de BH. Mas a prisão não signifi- Os traficantes da Pedreira
cou o fim das mortes. A polícia estão investindo na aquisição de
acredita que grupos ligados a Ro- armas modernas e com alto po-
ni tenham matado, na quarta-fei- der de destruição. Levantamen-
ra passada, o traficante conheci- tos e apreensões da Polícia Mili-
do como “Carioca”. Ele atuava no tar nos últimos meses indicam a
“Terreirão” e foi baleado dentro presença de pistolas automáti-
da favela. Ferido, tentou fugir en- cas e de fuzis nas mãos dos tra-
trando em um carro de profissio- ficantes. A Secretaria de Defesa
nais da UFMG, mas os traficantes Social não descarta a possibili-
acabaram de executá-lo dentro dade de a polícia ocupar nova-
do veículo. De acordo com o de- mente a favela. Em dezembro e
legado Antônio Cardoso, suspei- janeiro, 25 militares, divididos
tos do homicídio fazem parte do em cinco turnos, ocuparam o lo-
grupo do Roni. A polícia não cal 24 horas por dia.
identificou ainda outro homem Esse grupo de policiais conta-
assassinado momentos antes, va, ainda, com o apoio do Bata-
possivelmente por bala perdida. lhão de Rondas Táticas Metropo-
Apavorados, os moradores di- litanas (Rotam) e do Grupo de
zem que o clima na favela é de Ações táticas (Gate), que auxilia-
guerra, com tiros e gritos a toda vam no policiamento nas imedia-
hora. “As pessoas estão ficando ções da favela. De acordo com o
dentro de casa, evitando olhar subsecretário de Defesa Social,
para polícia e para os bandidos. Luiz Flávio Sapori, paralelamen-
A gente nunca sabe de que lado o te ao policiamento ostensivo, o
tiro pode vir”, argumenta um serviço de inteligência se prepa-
morador. Segundo ele, há três se- ra para detectar quais são os che-
manas, os confrontos entre trafi- fes do tráfico que atuam no local.
cantes se acirraram. “Neste momento de confronto
Robson Sávio, secretário- aberto, o poder público precisa
executivo do Centro de Estudos firmar o seu poder”, destaca.
de Criminalidade e Segurança Segundo Sapori, a Pedreira
Pública da UFMG, lembra que a chegou a ser cogitada para ser in-
Pedreira, ao lado da favela Ca- cluída no Fica Vivo (programa de
bana Pai Tomaz, Oeste da capi- combate a homicídios). “Mas em
tal, é, hoje, a região mais vio- relação aos outros aglomerados,
lenta de Belo Horizonte. “Mas o número de assassinatos era
não podemos desprezar a dete- considerado até baixo. Foi uma
rioração das condições de segu- medida infeliz liberar o Roni Pei-
rança pública em toda a cidade. xoto”, observa. Mas os 19 assas-
O número de assassinatos em sinatos registrados na favela no
BH aumentou em 48% no ano ano passado podem estar sendo
passado e não foi apenas na Pe- subavaliados, destaca o titular da
dreira que se matou mais”, ob- Divisão de Crimes contra a Vida,
serva Robson Sávio. Elcides Guimarães. “Muitos as-
sassinatos nos bairros próximos
têm motivação dentro da Pedrei-
“NESSE MOMENTO ra”, lembra o delegado.
DE CONFRONTO Já a tenente-coronel Luciene
Albuquerque, comandante do
ABERTO NA PEDREIRA 34º Batalhão e responsável pela
segurança na região, informa
PRADO LOPES, que o policiamento ostensivo e
ininterrupto. “Claro que o efeti-
O PODER PÚBLICO vo é menor, mas a segurança
continua sendo feita por viatu-
PRECISA FIRMAR ras do tático móvel, além da
operação presença”, diz.
O SEU PODER” Para a oficial, a instalação do
Centro de Referência do Cidadão
■ Luiz Flávio Sapori, vai possibilitar, a longo prazo, a
subsecretário de redução da violência. “O Centro é
Defesa Social um local que oferece serviços pú-
blicos do município e da prefeitu-
PAULO FILGUEIRAS ra, além de ser usado como espa-
REPRESSÃO ço para cursos profissionalizantes
Polícia Militar intensifica atuação na favela, onde 11 pessoas foram assassinadas a tiros este ano e atividades recreativas”, explica.

❚ BR-262

Acidente mata mãe e filho

Mãe e filho morreram, na
manhã de ontem, em acidente
no km 102 da BR-262, no mu-
nicípio de Abre Campo, na Zo-
na da Mata. Érica Barroso Rios
Pedrosa, de 31 anos, e Pedro
Vinícios, de 7, estavam no Palio
GYA 3843, de Belo Horizonte,
que saiu da pista e caiu numa
represa às margens da rodovia.
Os dois morreram afogados e as
outras três pessoas que esta-
vam no carro, entre elas o mo-
torista Philipe Luís Lopes San-
tana, de 20, não se feriram. On-
tem, 12 pessoas ficaram feridas
e cinco morreram em acidentes
de carro em Minas.
Durante a madrugada, uma
batida entre um carro e uma
moto na avenida Pedro II, re-
gião Noroeste de BH, terminou
com a morte de Cláudio Reis, de
33, que estava na garupa. O
condutor da moto, Reginaldo
Cassiano Bernardes, de 27, foi
levado ao Odilon Behrens com
o pé direito fraturado e escoria-
ções no corpo. Na BR-381, um
caminhão de refrigerante des-
pencou num abismo e o auxiliar
do motorista morreu preso às
ferragens, no trevo de Cachoei-
rinha, perto de Timóteo, no Va-
le do Aço. Duas mulheres, que
estavam na rodovia na hora
que a carreta descontrolada
saiu da pista, ficaram feridas.
A BR-381 foi palco de outro
acidente no início da tarde,
dessa vez no município de No-
va União. O Escort GOR 1453,
de João Monlevade, bateu no
caminhão-tanque KNI 6300,
de São João da Boa Vista (SP),
no km 400 da rodovia. O mo-
torista do caminhão, Sévilho
Vargas Chaves, de 61 anos,
saiu ileso, mas os três ocupan-
tes do carro foram levados pa-
ra o HPS João XXIII - Gardê-
nia Ferreira , de 21, e Rodri-
go Rodrigues, de 27, com feri-
mentos leves, e Glenda Ferrei-
ra, de 16 em estado grave.
Foram atendidas também
no HPS duas vítimas de uma
batida na MG-30, no condomí-
nio Vila Del Rey, em Nova Li-
ma. Paulo Nunes de Miranda e
o francês Marin Gelles tiveram
ferimentos leves depois que a
Blazer cinza GTT-4170 bateu
num barranco. A poucos quilô-
metros dali, na BR-040, uma
batida envolvendo uma carre-
ta de Santa Catarina, um Fiat
Uno e uma moto, ambos de Be-
lo Horizonte, terminou com um
morto e um ferido.
A Polícia Rodoviária Federal
alerta para o perigo das pistas
molhadas, especialmente
quando a viagem alterna mo-
mentos de chuva e sol. De
acordo com os rodoviários, os
motoristas costumam dirigir
com mais cautela debaixo de
chuva mas abusam da veloci-
dade com as lonas de freio mo-
lhadas nos trechos secos.