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VIEIRA, Alberto (1996),

A civilização do açúcar na Madeira,

COMO REFERENCIAR ESTE TEXTO:

VIEIRA, Alberto (1996), A civilização do açúcar na Madeira, Funchal, CEHA-Biblioteca Digital,


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A CIVILIZAÇÄO DO
AÇÚCAR NA MADEIRA
ALBERTO VIEIRA
1996
FUNCHAL-MADEIRA http://www.madeira-edu.pt/ceha/
EMAIL:CEHA@MADEIRA-EDU.PT

1. A AFIRMAÇÄO DA CANA-DE-Açúcar
2. ASPECTOS SOCIAIS
3. ASPECTOS POLïTICOS
4. ASPECTOS CULTURAIS
5. O Açúcar NO ESPAÇO ATLÄNTICO: A MADEIRA E AS DEMAIS ILHAS DO Açúcar

1.APRESENTAÇÃO
O açúcar é de todos os produtos que acompanharam a diáspora europeia aquele que moldou, com
maior relevo, a mundividência quotidiana das novas sociedades e economias que, em muitos casos,
se afirmaram como resultado dele. A cana sacarina, pelas especificidades do seu cultivo,
especializaçäo e morosidade do processo de transformaçäo em açúcar, implicou uma vivência
particular, assente num específico complexo sócio-cultural da vida e convivência humana. Gilberto
Freyre (1) foi o primeiro a chamar a atenção dos estudiosos para esta realidade, quando definiu as
bases daquilo que a que designou de Sociologia do Açúcar: a publicação em 1933 de "Casa-Grande
& Senzala" foi o prelúdio de nova preocupação e domínio temático para a Sociologia e a História.
Neste contexto a Madeira manteve uma posição relevante, por ter sido a primeira área do espaço
atlântico a receber a nova cultura. E por isso mesmo foi aqui que se definiram os primeiros
contornos desta realidade, que teve plena afirmação nas Antilhas e Brasil.
Foi na Madeira que a cana-de-açúcar iniciou a diáspora atlântica. Aqui surgiram os primeiros
contornos sociais (a escravatura), técnicos (engenho de água) e político-económicos (trilogia rural)
que materializaram a civilização do açúcar. Por tudo isto torna-se imprescindível uma análise da
situação madeirense, caso estejamos interessados em definir, exaustivamente, a civilizaçäo do
açúcar no mundo atlântico.
A cana sacarina, ao contrário do que sucedeu com os demais produtos e culturas (vinha, cereais),
não se resumiu apenas à intervenção no processo económico. Ela foi marcada por evidentes
especificidades capazes de moldarem a sociedade, que dela se serviu para firmar a sua dimensão
económica. A importância a que o sector comercial lhe atribuía conduziu a que fosse uma cultura
dominadora de todo (ou quase todo) o espaço agrícola disponível, capaz também de estabelecer os
contornos de uma nova realidade social.
Foi precisamente esta tendência envolvente que levou a Historiografia a definir o período da
afirmação como o Ciclo do Açúcar. Aqui não estávamos perante uma aplicação da teoria dos ciclos
económicos, mas pretendia-se subordinar esta tendência para a afirmação da cultura na vida
económica e social com este conceito. A omnipresença da cultura, as múltiplas implicações que
gerou nos espaços em que foi cultivada levou alguns investigadores a estabelecer um novo modelo
de análise: os ciclos de produção assentes na monocultura ! Esta ideia foi lançada em 1933 por
Fernand Braudel (2) que pretendeu definir para as ilhas dos arquipélagos da Madeira, Açores e
Canárias, a que chamou de Mediterrâneo Atlântico. Todavia a mesma teve eco negativo na
Península Ibérica, surgindo Orlando Ribeiro (3) e Elias Serra Rafols (4) a refutar tal hipótese na
análise do devir económico, respectivamente, da Madeira e Canárias. Mais tarde os estudos de F.
Mauro (5) e V. M. Godinho (6) reafirmavam esta oposição e conduziram a uma nova e diversa visão
da estrutura económica: ao regime de monocultura sobrepõe-se ao de produtos dominantes. Deste
modo o Ciclo do Açúcar resultava, não da exclusiva afirmaçäo da cultura, mas da dominância,
capaz de atribuir uma redobra- da atenção no sistema de trocas (7).
O grande erro da Historiografia europeia foi ter encarado a economia açucareira da Madeira ou das
Canárias como um retrato em miniatura. O confronto das duas realidades, coisa que ainda ninguém
se atreveu a fazer, comprova que a situação não existe, não passando de mera ficção as análises que
são colocadas ao nosso dispor O facto de ambos os arquipélagos terem sido meios de ligação da
nova cultura económica do atlântico ocidental, não quer dizer que houve uma transplantação total e
igual para os novos espaços. As condições ambientais, os obreiros da transformação eram outros
como diversa foi a realidade que o produto gerou.
Tudo isto deverá resultar das ciladas do método de análise do processo histórico de forma
retrospectiva, onde, por vezes, o facto surge-nos como a imagem e consequência. Tal como o
provaram os estudos recentes sobre a situação da economia açucareira do Mediterrâneo Atlântico, a
conjuntura deste espaço é diversa da americana, seja ela insular ou continental. Também não se
poderá colocar ao mesmo nível o caso de São Tomé que, embora situado no sector ocidental do
oceano, aproxima-se mais da realidade antilhana do que dos arquipélagos da Madeira e das
Canárias.
De acordo com esta ideia, de que a civilização do açúcar teve apenas uma única forma de expresso
no Atlântico Ocidental e Oriental, partiu-se para a afirmações precipitadas na análise da economia e
sociedade que lhe serviu de base. Ao açúcar associou a Historiografia, desde muito cedo, a
escravatura, fazendo juz à afirmação de Antonil, de que "os escravos são as mos e os pés do senhor
de engenho" (8). Aqui também a relação não nos surge tão transparente como à primeira vista pode
parecer.
As cruzadas, de acordo com a Historiografia europeia, foram o princípio da expansão da cultura
açucareira e da vinculação aos escravos. Deste modo nas colónias italianas do Mediterrâneo
Oriental surgem os primeiros resquícios da nova dinâmica social que passaria à Sicília e, depois à
Madeira, donde se expandiram no Atlântico. Diz-se, ainda, que a ligação do escravo, negro ou não,
à cultura dos canaviais foi uma invenção do ocidente cristão, não havendo lugar no mundo
muçulmano. Diferente é todavia a opiniäo de Yoro Fall (9) que encontra testemunhos evidentes
desta relação, com o usufruto de mão-de-obra negra, pelas plantações muçulmanas do Egipto e
Marrocos.
Neste contexto surgiu o conceito Plantation (10), plantagem para os brasileiros, a definir a
organização social, económica e política da agricultura que tinha por base este produto. Sidney
Greenfield (11), partindo desta ideia, estabeleceu para o arquipélago madeirense uma função
primordial na afirmação da escravatura e relações económico-sociais envolventes: A Madeira foi o
elo de ligação entre "Mediterranean Sugar Production" e a "Plantation Slavery".
Sucede que a escravatura da Madeira, tal como teremos oportunidade de o afirmar, não assumiu
uma posição similar à de Cabo Verde, São Tomé, Brasil ou Antilhas, não obstante o surto evidente
de produção açucareira. Aqui, ao invés daquilo que tem lugar, o escravo não dominou as relações
sociais de produção: ele existiu, sob a condição de operário especializado ou não, mas a posição não
era dominante, tal como sucedia nas áreas supracitadas.
Por fim acresce que esta hipervalorizaçäo do açúcar na História da Madeira levou alguns
aventureiros e progenitores de teorias de vanguarda a estabelecer também uma forma peculiar de
urbanização do Funchal, de acordo com a presença do açúcar. Deste modo ao Funchal do século
XVI chamam-lhe, sem saberem e explicarem porquê, " cidade do açúcar", quando na realidade, a
expresso urbanística da cana-de-açúcar é manifestada pela ruralidade.
A esta e às demais questões atrás enunciadas nos propomos ver qual o fundamento e a possibilidade
de vinculação às manifestaçöes conhecidas da civilização do açúcar na Madeira.

1. A AFIRMAÇÄO DA CANA-DE-Açúcar

A cana-de-açúcar originária do Pacífico e Ásia Oriental chegou ao mundo mediterrânico por


influência persa e muçulmana: os primeiros trouxeram-na até à Mesopotâmia, enquanto os segundos
levaram-na ao Egipto e daí para a Síria, Sicília, Sul de Marrocos, Espanha e Bizâncio. Por outro
lado as cruzadas estabeleceram um contrato estrito dela com a Europa Cristã. Cedo a cultura e novo
produto, que cedo chegou ao seu mercado mediterrânico e entrou nos hábitos alimentares da
aristocracia europeia: data de 995 a primeira entrada de açúcar no porto de Veneza.
Os italianos foram os primeiros a aperceber-se da importância da cultura e produto daí resultante,
sendo os motores da sua expansão no mundo cristäo. De acordo com a tradição as iniciais socas de
cana que foram trazidas para a Madeira teriam vindo da Sicília, acompanhadas dos operários
especializados. A elas seguiram-se os mercadores italianos, nomeadamente genoveses, quando a
cultura se tornou importante na economia local. Deste modo estava encontrado um mercado
substitutivo desse que caíra em mos muçulmanas. A conjuntura mediterrânica favoreceu o rápido
incremento da cultura da cana de açúcar na ilha da Madeira e demais espaço atlântico.
Esta realidade está evidenciada na permanente intervenção da coroa, do senhorio e município nas
fases de cultivo, transformaçäo e comércio. Nunca uma cultura e produto final foram alvo de tão
apertada regulamentação e vigilância como o açúcar: compulsa da documentação oficial do período
de 1450 a 1550 é evidente tal interesse.
De acordo com isto a cana ganhou uma posição privilegiada no solo madeirense, conquistando as
mais importantes arroteias da vertente meridional e o Nordeste. Enquanto na primeira área o clima
favoreceu a expansão até os quatrocentos metros de altitude, na segunda, dominada por Porto da
Cruz e Faial, não ultrapassava os 200 metros. Perante isto a capitania do Funchal assumiu-se como a
zona açucareira, por excelência, enquanto a de Machico permanecia como a reserva silvícola,
necessária para a laboração dos engenhos. A relação entre os valores de produção de ambas as
capitanias, para o período de 1494 até 1537, oscila entre os 5:1 (1479) e os 3:1 (1521-1524).
Ao nível da capitania do Funchal, principal área de produção açucareira madeirense, as condições
orográficas e climatológicas definiram áreas agrícolas distintas. De acordo com o estimo de 1494
havia a área do Funchal, que abarcava todo o espaço agrícola
desde o Caniço até Câmara de Lobos, e a das Partes do Fundo, tendo no seu perímetro o restante
espaço da capitania: a primeira produzia apenas 16% do açúcar da capitania, sendo o restante da
segunda. Passados 26 anos a relaçäo evoluiu a favor do Funchal que surge com 25%. O incremento
das áreas produtoras de açúcar compreendidas nas partes do Fundo e a necessidade de um eficaz
sistema de arrecadaçäo dos direitos sobre a produçäo, levaram a coroa a definir quatro comarcas
(Ribeira Brava, Ponta do Sol, Calheta e Funchal). De acordo com a razäo apresentada pelo Bacharel
Bartolomeu Lopes em 1520 (12) é possível estabelecer um valor percentual para a produçäo de
açúcar de cada uma das comarcas: 33% do Funchal, 27% da Calheta, 20% da Ribeira Brava e Ponta
do Sol.
A presença da cultura no solo madeirense conduziu a uma reestruturaçäo do regime fundiário de
modo a adequá-lo às condiçöes específicas que a mesma gerava. Note-se que para a plena afirmaçäo
dos canaviais foi necessário criar algumas condiçöes para além das oferecidas pelo solo: a água para
o regadio e accionar os engenhos, a madeira e a lenha para os pôr em funcionamento, por um
período prolongado de tempo.
Foi de acordo com a disponibilidade dos factores de produçäo que os canaviais se expandiram no
solo madeirense. Todavia aqui nunca atingiram a dimensäo dos brasileiros ou antilhanos. Enquan- to
em ambas as áreas a cultura era feita de uma forma exaustiva, estando os canaviais quase sempre
associados ao engenho, na Madeira a exploraçäo era intensiva, em pequenas parcelas de terreno
(poios), devido às condiçöes definidas pela orografia. Deste modo quando nos referimos à grande
propriedade madeirense queremos apenas enunciar a situaçäo interna da Madeira, que näo pode ser
colocada ao mesmo nível da ilha de Säo Tomé, do Brasil e Antilhas.
Os dados disponíveis no estimo de 1494 e nos livros do quarto e quinto para 1509 e 1537 (13)
esclarecem-nos sobre a situaçäo fundiária em torno da cultura. De início as dificuldades no
estabelecimento dos poios para o cultivo dos canaviais teräo conduzido a que se afirmasse a
pequena propriedade que depois avança, a pouco e pouco, para a de maiores dimensöes. A vincula-
çäo dos canaviais, a crise que se viveu a partir da década de trinta do século dezasseis, contribuíram
para a tendência concentracionista dos canaviais. Esta situaçäo condicionou o reforço da grande
propriedade na Ribeira Brava e Calheta.
De acordo com o estimo de 1494 poderá definir-se o sistema fundiário em torno do açúcar pela
afirmaçäo da pequena propriedade. Os proprietários com uma produçäo superior a 1.000 arrobas säo
apenas 22, quando no período de 1509 a 1537 säo 44, sendo 15 com valores superiores a 2.000
arrobas. Por outro lado a forma como foi realizado o estimo de 1494 permite-nos saber qual a sua
extensäo, uma vez que o estimo fazia-se a partir do número de canaviais e näo dos proprietários. Os
dados provam que näo estávamos perante uma exploraçäo extensiva. Assim para uma produçäo de
209 proprietários, estimada em 80.451 arrobas, surgem referencia dos 431 canaviais. Este evidente
parcelamento dos canaviais é uma das consequências do acidentado da orografia da ilha.
A cana-de-açúcar foi, de todas as culturas transplantadas para o espaço atlântico, aquela que maior
cuidado requeria num período limitado de tempo. O ciclo vegetativo da cana definia um
acompanhamento constante ao longo do ano: plantar, mondar, esfolhar, combater as pragas e efeitos
nefastos dos animais, cortar e, depois, conduzir ao engenho onde se moía e extraía o suco daí
resultante para se fazer o açúcar. Enquanto as tarefas relacionadas com a cultura realizavam-se de
forma lenta ao longo do ano, a parte relacionada com a safra do engenho era uma actividade
intensiva que deveria ser executada num curto período. O engenho laborava dia e noite,
desmultiplicando-se os serviçais entre a casa da moenda, fornalhas e purga. Todo este processo
deveria ser seguido e realizar-se num prazo de setenta e duas horas, pois caso contrário a cana e o
suco entravam em fermenta çäo e o açúcar estava irremediavelmente perdido. Perante isto tornava-
se justificável a presença de numerosa mäo-de-obra que só poderia ser recrutada entre os escravos.
Ele foi descrito, cerca de 1530, por Giulio Landi da seguinte forma:
"Fabrica-se o açúcar desta maneira: apanham primeiramente as canas e estendem-se por ordem nos
sulcos. Depois, cobertas de terra, väo-nas regando amiudadas vezes, de modo que a terra sobre os
sulcos näo se torne seca mas se mantenha sempre humida. Daí que, pela força do sol, cada nó
produz a sua cana que cresce a pouco e pouco cerca de quatro braças e sucedia assim porque o
terreno aplicado então ao cultivo, tinha mais força de produçäo (...). Assim amadurecem ao fim de
dois anos e, quando maduras, cortam- -nas na Primavera, rente ao pé. Os pés, germinando de novo,
produzem outras canas para o ano seguinte, as quais näo crescem täo altas, mas com cerca de menos
uma braça e, ao fim de um ano, ficam maduras. Cortadas estas segundas,
arrancam totalmente as plantas para depois, no devido tempo, reporem outras canas como se disse.
Quando maduras, chegam muitas vezes a ser danificadas pelos ratos. Por isso os escravos
empregam muita deligência em apanhar e matar estes ratos (...). Os lugares onde com enorme
actividade e habilidade se fabrica o açúcar estäo em grandes herdades, e o processo é o seguinte:
primeiramente, depois que as canas cortadas foram levadas para os lugares acima referidos,
pöem-nas debaixo de uma mó movida a água, a qual, triturando e esmagando as canas, extrai-lhe
todo o suco. Aqui há cinco vasos postos por ordem, para cada um dos quais o suco saído das canas
passa um certo tempo em ebuliçäo, depois, passando para os outros casos, com fogo brando, däo-lhe
com habilidade a cozedura, de modo que chegue a espessura tal que, posto depois em formas de
barro, possa endurecer. A espuma que se forma ao cozer o açúcar, deita-se em barricas, excepto a
que sai da primeira cozedura, porque esta se deita fora; mas a outra, que se conserva, é muito
semelhante ao mel" (14).

Na moenda da cana utilizaram-se vários meios, de que teria resultado a criaçäo do primeiro engenho
de água, na Madeira, patenteado em 1452 por Diogo de Teive. Este processo resultou apenas nas
áreas onde era possível dispor da força motriz da água fez-se uso da força animal ou humana. Os
últimos eram conhecidos como trapiches ou almanjaras. Uma das questöes mais discutidas é a
tecnologia do engenho, havendo diversas teorias que apontam a sua remota origem. O primitivo
Trapettum era usado já na Roma antiga para triturar azeitonas e sumagre, sendo, segundo Plínio,
invertido por Aristreu, Deus dos Pastores. Mas este meio era ineficaz, sendo-lhe sucedido o engenho
de eixo e cilindros. Mas aqui divergem as opiniöes: enquanto Noel Derr (15) e F. O. Von Lippmann
(16) atribuíram a descoberta a Pietro Speciale, prefeito da Sicília, a Historiografia castelhana encara
isso como um invento de Gonzalo de Veloza, vizinho da ilha de La palma, que teria apresentado o
seu invento em 1515 na ilha de S. Domingos (17). Entretanto David Ferreira Gouveia (18) apresenta
esta evoluçäo como resultado do invento do madeirense Francisco de Teive, patenteado em 1452.
O engenho de três eixos surge mais tarde no Brasil sendo considerado também uma invençäo
portuguesa.
É de salientar que a palavra trapiche entrou depois no vocabulário do açúcar a designar todos os
tipos de engenhos de cilindros usados para moer cana.
Para Säo Tomé o Piloto Anónimo refere o uso de "os braços dos negros e ainda mesmo cavalos".
Deste último sistema sabe-se apenas da utilizaçäo nos primórdios da exploraçäo da cana-de-açúcar
na Madeira, sendo pouco provável a continuaçäo após a experiência do engenho de água de Diogo
de Teive, tendo em conta a disponibilidade de cursos de água e do possível aproveitamento por meio
da canalizaçäo através das levadas. Na Madeira as condiçöes geo-hidrográficas foram propícias à
generalizaçäo dos engenhos de água, de que os madeirenses foram exímios criadores. Aliás na
Madeira e em S. Tomé estavam criadas as condiçöes para a afirmaçäo da cultura. Enquanto a
primeira desfruta de inúmeros cursos de água e de uma vasta área de floresta, disponibilizando
lenha para as fornalhas e madeira de pau branco para a construçäo dos eixos do engenho, em Säo
Tomé contava-se, para além do parque florestal, com o fácil acesso aos mercados fornecedores da
mäo-de-obra escrava.
Toda a animaçäo sócio-económica gerada pelo açúcar foi dominada pelo engenho, mas isto näo
significava que a existência de canaviais era sinónimo da presença próxima de um engenho. Aqui a
exemplo do Brasil foram inúmeros os proprietários incapazes de dispor de meios financeiros para
montar semelhante estrutura industrial e por isso socorriam-se dos serviços daqueles que os
dispunham. No estimo da produçäo da capitania do Funchal para o ano de 1494 säo referenciados
apenas 14 engenhos para um total de 209 usufrutuários, cuja produçäo se estende por 431 canaviais
(19).
O preço de montagem de semelhante estrutura industrial näo estava ao nível da bolsa de todos os
proprietários. De acordo com a avaliaçäo para inventário do engenho de António Teixeira no Porto
La Cruz em 1535 esta benfeitoria estava avaliada em duzen- tos mil reais (20). Noutro documento
de 1547 refere-se que os canaviais, engenho e água de servidão dos mesmos orçavam os 461.000
reais (21). Mas em 1600 João Berte de Almeida vendeu a Pedro Gonçalves da Câmara, no Funchal,
um engenho pelo valor de 700.000 reais (22).
Criadas as condiçöes ao nível interno, por meio do incentivo ao investimento de capitais
estrangeiros na cultura da cana e comércio dos derivados, do apoio do senhorio, coroa e administra
çäo, a cana estava em condiçöes de prosperar e de se afirmar, ainda que por algum tempo, como o
produto dominante da economia madeirense. O incentivo externo provocado pelos mercados
nórdico e mediterrânico condicionou o processo expansionista na Madeira e nas demais áreas
atlânticas. A esta aposta, acompanhada da incessante solicitação do mercado externo, sucedeu um
período de crise resultante, näo só, da concorrência de novos mercados produtores, mas acima de
tudo de factores internos com a carência de adubagem dos terrenos, a desafeiçäo do solo à cultura,
as alteraçöes climáticas, que entretanto se sucederam, e, por fim, o aparecimento do bicho da cana.
A primeira metade do século dezasseis é definida como o momento de apogeu da produçäo
açucareira insular e pelo avolumar das dificuldades que entravaram a promoçäo em algumas áreas
como a Madeira onde o cultivo era oneroso e os níveis de produtividade desciam em flecha. Nesta
época as ilhas de Gran Canaria, La Palma, Tenerife e S. Tomé estavam melhor posicionadas para
produzir açúcar a preços mais competitivos. A situaçäo ganhou forma na década de vinte do século
dezasseis e avançou à medida que os novos mercados produtores de açúcar atingiam o máximo de
produçäo. Mais tarde, com a ocupaçäo holandesa do nordeste brasileiro, a cultura foi reabilitada
como forma de responder à sua solicitaçäo na Europa e pela necessidade resultante das indústrias de
conserva e casquinha. Até 1640 o movimento descen- dente havia-se agravado com a presença, cada
vez mais assídua de açúcar brasileiro no porto do Funchal. Em 1616 para garantir o escoamento da
produçäo local e que à saída se fizesse uma distribuiçäo equitativa de ambos os açúcares. Mas a
partir desta data com a ocupaçäo holandesa das terras a cultura renasceu na ilha. Em 1643 o número
de engenhos existentes era insuficiente para dar vazäo à produçäo dos canaviais. No entanto foi uma
recuperaçäo passageira uma vez que na década seguinte o reaparecimento do açúcar brasileiro no
porto do Funchal trouxe de volta a anterior situaçäo. o açúcar madeirense estava, mais uma vez,
irremediável mente perdido, mercê da concorrência do brasileiro. Ainda em 1658 procurou-se
apoiar o seu cultivo ao reduzir-se os direitos sobre a produçäo para um oitavo, mas a crise era
inevitável.
A conjuntura económica de finais do século dezanove trouxe a cultura de regresso à Madeira, como
soluçäo para reabilitar a economia que se encontrava profundamente debilitada com a crise do
comércio e produçäo do vinho. Todavia a situaçäo, que se manteve até à actualidade, näo veio
atribuir ao produto a mesma pujança económica de outrora.
Outro facto evidente da centúria oitocentista foi a presença de inúmeros madeirenses em Demerara
como mäo-de-obra substitutiva dos escravos, cuja situaçäo, entretanto, havia mudado.
Na Madeira as áreas de produçäo de açúcar, nos dois momentos da sua afirmaçäo, säo diversas.
Enquanto nos séculos XV e XVI esta era uma cultura, predominantemente, da vertente sul, domi
nando o espaço da capitania do Funchal (75%), na presente centúria assistiu-se a uma expansäo da
cultura em toda a ilha e à consequente definiçäo de novas áreas:
1520 1950 1956-66
% % %
CALHETA 20 7 13
FUNCHAL 25 53 34
PONTA DO SOL 15 14 18
R. BRAVA 15 4 15
MACHICO 25 29 20

No primeiro momento o Funchal, representava apenas 25%, em 1520, enquanto em 1950 sobe para
53%. Esta subida surge como resultado da perda de importância da área agrícola entre a Ribeira
Brava e a Calheta: estas que produziram 64% do açúcar da capitania do Funchal em 1494, surgem
em 1520 com 67% da capitania e 50% do total da ilha, para em 1950 näo ultrapassarem os 25%.
Apenas a área circunscrita à capitania de Machico manteve níveis pareci- dos, näo obstante o
alastramento da cultura na costa norte.
Os dados referentes à produçäo däo conta que se atingiu níveis mais elevados na primeira metade da
presente centúria: expandiu-se a área da cana, que em 1939 abrangia os 6500 ha. Todavia esta
expansäo da cultura näo propiciou o mesmo progresso económico propiciado nos séculos XV e
XVI. As condiçöes de rentabilidade económica eram outras, como distinto era o principal
destinatário. Aqui ao contrário do que sucedeu há cinco séculos atrás a produçäo tinha como
objectivo assegurar as necessidades da ilha e näo o comércio com o exterior: as limitaçöes
estabelecidas na década de trinta à expansäo da cultura conduziram a que baixassem os níveis de
produçäo, levando à necessária importaçäo, desde a década de quarenta. Se estabelecermos um
confronto entre a populaçäo e o número de toneladas de açúcar arrecadados veremos que na
primeira (séculos XV e XVI) a capitaçäo era muito mais elevada.

O AÇûCAR E A POPULAÇÄO MADEIRENSE


Anos Populaçäo Produçäo
toneladas média ha
1449 16000 1135 53 Kg
1510 16000 1585 60
1584 25000 473 19
1900 150600 503 3,4
1920 17000 2153 12,6
1930 211601 3149 11,6
1940 249771 4334 17,4
1950 266300 3500
1963 268100 3872 14,4

Durante mais de um século o açúcar foi o principal activa dor das trocas da Madeira com o exterior.
As dificuldades senti- das com a penetraçäo no mercado europeu levaram a coroa a inter- vir no
sentido de manter um comércio controlado, que a partir de 1469 passou a ser feito sob o permanente
olhar vigilante do senhorio e coroa. A situaçäo manteve-se até 1508, altura em que a coroa aboliu o
regime de contrato.
A partir de uma das medidas tomadas pela coroa (o contingentamento de 1498) para defesa do
mercado do açúcar madeirense poder-se-á fazer uma ideia dos principais mercados consumidores.
As praças do mar do norte dominavam o comércio, recebendo mais de metade das escápulas
estabelecidas: aqui a Flandres adquire uma posiçäo dominante, o mesmo sucedendo com os portos
italianos para
o espaço mediterrânico.
Os dados da exportaçäo, que reunimos para o período de 1490 a 1550, testemunha esta realidade: a
Flandres surge com 39% e a Itália com 52%. Todavia é de salientar a posiçäo dominante dos
mercadores italianos na conduçäo deste açúcar, uma vez que eles foram responsáveis pela saída de
78% do açúcar. Note-se que no início foram inúmeras as dificuldades para a presença de
estrangeiros. Somente a partir da década de oitenta do século XV surgiram os primeiros como
vizinhos, que se comprometeram com a cultura e comércio do açúcar.
Também ao nível do comércio é evidente uma tendência concen- tracionista, uma vez que apenas
seis (Joäo Francisco Affaitati, Feducho Lamoroto, Bartolomeu Marchioni, Benedito Morelli, Matia
Manardi e Antonio Boto) controlavam 71% do açúcar transaccionado na ilha.

2.ASPECTOS SOCIAIS
3.
A safra açucareira implicava a disponibilidade de uma numerosa mão-de-obra: os cuidados com a
cultura, a morosidade da apanha e transporte ao engenho, a necessidade de as tarefas do engenho
serem executadas num prazo de setenta e duas horas, obrigaram as regiöes produtoras deveriam
dispor de uma adequada reserva de força de trabalho. Deste modo ao lado dos proprietários de
canaviais e engenho existiam os escravos e os assalaria- dos. Por outro lado é necessário referir que
as tarefas de transformaçäo da cana em açúcar, que tinha lugar no engenho, eram demoradas e
requeriam uma mäo-de-obra especializada para as diversas tarefas, dependendo dele a qualidade do
produto final. A par destes existiam os serviçais, que colaboravam também no processo. De acordo
com Antonil (23) era elevado o número de operários especializados e serviçais, podendo suplantar
os cinquenta, de acordo com a dimensäo do engenho.
A necessidade de numerosa mäo-de-obra contrastava com a exiguidade da populaçäo madeirense
pelo que foi necessário encontrar novas formas e áreas de recrutamento. E neste caso a escravatura
foi uma soluçäo rápida e eficaz: próximo da ilha existia uma importante reserva que começava
agora a ser usada. As primeiras presas sucedem-se nas Canárias e, depois, na costa africana.
Estavam assim criadas as condiçöes para a afirmaçäo simultânea da escravatura e da cana-de-
açúcar: dum lado a extrema carência, do outro o fácil acesso e disponibilidade dela propiciaram a
vinculaçäo dos escravos à economia açucareira madeirense. Este foi também o princípio que
fundamentou todo o processo de entrosamento do escravo ao açúcar nas demais áreas.
A situaçäo dos canaviais e da produçäo do açúcar na Madeira apresentava-se distinta da do outro
lado do oceano. A estrutura funcional que definiu a economia açucareira foi também diferente: o
binómio engenho/canaviais näo foi täo evidente, e a orografia näo permitiu a existência de extensos
canaviais. A par da tendência para o excessivo parcelamento acresce que a evoluçäo do sistema
fundiário, com o recurso a diversas formas de domínio útil (arrendamento, contrato de colonia)
favoreceu a situaçäo. Já em 1494 era evidente a excessiva divisäo da propriedade, pois para 431
canaviais surgem apenas 209 proprietários, em que se incluíam 21% na condiçäo de arrendatários.
A Historiografia tradicional insiste em fazer coincidir a mancha da escravatura com a dos canaviais.
Desde os pioneiros estudos de F.Braudel, N. Deerr e I. Wallerstein ficou estabeleci- do que o açúcar
caminhou de braço dado com os escravos, predominantemente negros. Todavia a análise dos dados
disponíveis
para a Madeira testemunha uma situaçäo diversa. Assim o Funchal que se apresenta com 81% dos
escravos que reunimos para os séculos XV a XVII, surge apenas com 32% dos proprietários de
canaviais e 26% da produçäo. Ao invés a comarca da Calheta, que foi a principal área de produçäo
de açúcar surge com um diminuto número de escravos. Além disso entre os proprietários de
canaviais e engenho é reduzido o número daqueles que possuem escravos: num total de 502 só 78
(16%) é detentor de escravos; e em 46 donos de engenhos apenas 16 surgem nesta situaçäo. Na
verdade a maioria dos proprietários de escravos (cerca de 82%) pertence ao sector de serviços,
sendo os escravos considerados mais pelo valor sumptuário do que pela funçäo económica.
Daqui resulta que os escravos näo assumiram uma importância täo importante na economia
açucareira madeirense como é habitual apontar-se. Mas com isto näo pretendemos dizer que ela näo
existiu, mas apenas que as relaçöes em torno da produçäo eram mistas: a mäo-de-obra foi recrutada
de entre eles e os assalaria dos livres ou escravos. Deste modo a sua acção foi importante mas não
suficiente para dominar as relaçöes de produçäo em torno da cultura. A documentaçäo insiste na
presença dos escravos guanches como mestres de açúcar, a que se associaram os negros. Além disso
a promoçäo da cultura, a partir da década de sessenta do século XVI, estava dependente da
disponibilidade desta mäo-de-obra. Mas nunca se estabeleceu uma relaçäo dominante a exemplo de
S. Tomé ou do Brasil. Maior e mais importante foi a funçäo assumida pelos trabalhadores livres, sob
a condiçäo de assalariados (24).
Outro aspecto importante e definidor da situaçäo social em que se afirmam os canaviais é a
caracterizaçäo do grupo de proprietários de engenhos e terras. No estimo de 1494 surgem-nos 209,
enquanto no período de 1509 a 1536, (abarcando a capitania de Machico) este número eleva-se para
263. Se tivermos em conta que a populaçäo do arquipélago em 1500 era de 16.000 habitantes somos
forçados a concluir que a sua importância era reduzida: 13% em 1494 e 1,6% no segundo período.
Na realidade, ao contrário daquilo que afirmam V. Rau e Borges de Macedo (25) a cultura da cana-
de-açúcar näo beneficiava "camadas amplas da populaçäo", sendo restrito o grupo de proprietários
de canaviais, Opiniäo diferente é definida por Magalhäes Godinho (26) que, após reconhecer a
diversa condiçäo social dos proprietários, conclui pela tendência para a concentraçäo dos canaviais
num reduzido número de proprietários.
Para nós a realidade é diferente pois os canaviais beneficiavam apenas um reduzido número de
proprietários. Estes estäo maioritariamente entre os primeiros colonos, que receberam terras de
sesmaria, a que se juntaram depois alguns mercadores nacionais e estrangeiros. Deste modo os
terratenentes saíram da aristocracia local, e do funcionalismo régio, senhorial e municipal. Os
proprietários incluídos neste grupo controlavam no século XVI 21% da produçäo sendo
maioritariamente do grupo daqueles que possuem canaviais produzindo mais de 1.000 arrobas. Eles
em conjunto com os mercadores (nacionais e estrangeiros) representavam mais de 66% dos
canaviais com uma produçäo superior a 1.000 arrobas, produzindo 51% do total do açúcar.
Em termos gerais a cultura da cana-de-açúcar favoreceu apenas um reduzido grupo da populaçäo
madeirense. Aqui merece especial referência a aristocracia terratenente e a burguesia, enriquecidas
com o comércio do açúcar, contratos de arrendamento e exercício de funçöes administrativas.

3.ASPECTOS POLïTICOS
4.
Sendo o açúcar um dos principais produtos da economia madeirense era natural o múltiplo interesse
atribuído pela coroa, senhorio e autoridades locais. Dele dependeu, por muito tempo, a manutençäo
do sistema e foi com ele que se financiou as despesas da casa senhorial e real, e de manutençäo das
praças africanas. De acordo com esta desmesurada importância do produto na vida económica
madeirense é possível definir para a Madeira, aquilo a que poderemos designar de açucarocracia. Na
verdade ao açúcar foi atribuído um protagonismo fundamental na vida política da época e em torno
dele giraram os regimentos senhoriais, as actas e posturas municipais. Apenas os cereais, pela sua
externa necessiDade e permanente carência, o conseguem suplantar.
A presença de um grupo destacado destes, comprometido com a vida municipal, na situaçäo de
proprietários de canaviais fez com que a vereaçäo funchalense, onde eles tinham assento
preferencial na qualidade de homens-bons, se tornasse no porta-voz dos seus interesses açucareiros.
Até à criaçäo dos municípios da Ponta do Sol (1501) e Calheta (1502) todo o perímetro da
capitania, e podemos dizê-lo, de toda a ilha, estava dependente das directrizes estabelecidas pela
vereaçäo funchalense. Era a partir daqui que surgiam as petiçöes enviadas ao reino, ao senhorio e
depois à coroa.
A representatividade destes proprietários na capitania do Funchal era evidente: em 1494 eram 44
(28%), passando , no período de 1509 a 1537 para 82 (30%). Em ambos os casos eles situam-se,
maioritariamente, entre os proprietários com mais de 1.000 arrobas. Por outro lado a incidência
geográfica deste grupo é mais evidente no Funchal, sede do município, onde residiam, em 1495
56% dos homens-bons do concelho, sendo os demais distribuí- dos por Câmara de Lobos (16%),
Ponta do Sol (11%) e Calheta (6%).
A referência a esta situaçäo torna-se necessária para esclarecer a política definida pelo município,
através de regimentos, recomendaçöes ao senhorio e posturas. A insistência na presença das
questöes açucareiras às sessöes da Câmara é uma prova evidente da fruiçäo feita por este grupo
desta tribuna para defesa dos seus interesses açucareiros. Durante as décadas de sessenta e setenta a
questäo do comércio do açúcar foi a principal preocupaçäo dos proprietários madeirenses:
aumentava a produçäo de açúcar mas mantinha-se a níveis baixos o consumo e a política de
exportaçäo estava por definir.
Perante isto, no Veräo de 1469, sucedeu a inevitável baixa de preço, que levou o infante D.
Fernando a estabelecer em 24 de Julho (27) medidas para restabelecer o comércio pondo-o em mäos
dos mercadores de Lisboa. Mas a reacçäo dos madeirenses a tal medida de monopólio não se fez
esperar. Tendo recebido em 15 de Setembro a carta supracitada, decidem tomar uma posiçäo de total
oposiçäo. Deste modo o trato do açúcar ficou entregue a Martim Anes Boa Viagem. Todavia estes
tardaram em pagar os açúcares de 1470 pelo que em 1471 decidiram enviar a Lisboa Diogo Esteves
para proceder à respectiva cobrança. Depois surgiu a questäo dos meles: permissäo ou näo de saída.
Todos estes problemas faziam reunir com assiduidade a vereaçäo: aí estavam presentes para além
dos oficiais, os homens bons. Assim sucedeu em 5 de Julho de 1470 (28). Ao acto estiveram
presentes catorze homens-bons do Funchal e oito de Machico; dos primeiros cinco surgem no
estimo de 1494 com os proprietários de canaviais (ålvaro Anes, Afonso Gonçalves, Joäo Fernandes,
Joäo Gonçalves e Pero ålvares). Entretanto em 19 de Agosto (29) alguns proprietários delegaram no
município o estabelecimento do contra to com ålvaro Esteves. Com o mesmo objectivo reuniram-se
a 12 de Setembro os oficiais da câmara, homens-bons, dois representantes de Machico a que se
juntaram três proprietários que näo serviam na Câmara (Diogo de Teive, Alvaro Afonso e Luis
Anes). Todavia este conhecimento näo mereceu o parecer favorável de Duarte Pestana e Rui
Gonçalves. E nova reuniäo a 14 de Outubro (30) foram chamados vinte e nove lavradores à Câmara
para confirmarem o contrato, näo o aceitando Joäo Fernandes, Rodrigo Anes, Joäo Afonso, Dinis
Afonso, Bartolomeu Joäo d'Alcala, Gomes Eanes, Afonso Gonçalves e Joäo do Porto.
A reuniäo camarária de 14 de Outubro de 1471 estiveram presentes Joäo Afonso do Estreito e
Afonso Domingues do Arco, ambos lavradores das partes da Calheta.
Durante quase todo o período de afirmaçäo da cultura dos canaviais o comércio do açúcar esteve
sujeito a um apertado controle por parte do município, senhorio e coroa. De acordo com V. M.
Godinho o regime de comércio deste produto nos séculos XV e XVI oscilava "entre a liberdade
fortemente restringida pela intervençäo quer da coroa, quer dos poderosos grupos capitalistas, de um
lado, e o monopólio global, primeiro, posteriormente um conjunto de monopólio cada qual em
relaçäo com uma escápula de outra banda" (31).
Esta política proteccionista e limitativa da capacidade de intervençäo dos agentes comerciais
marcou todo o período da economia açucareira no arquipélago até 1508, sendo os momentos de
maior evidência em 1471, 1488 e 1495. Note-se que em todas as medidas definidas estava
subjacente o interesse de um grupo de agentes, raramente da ilha, empenhados em manter o
exclusivo deste comércio: dum lado os mercadores do reino, nacionais e estrangeiros, sedentos de
manter o exclusivo deste importante negócio, do outro os madeirenses empenhados em abrir o
mercado a todos os agentes, quer nacionais, quer estrangeiros.
A partir de princípios do século XVI, com a total estabilizaçäo do comércio do açúcar e a sua
disponibilidade a todos, tal luta deixou de ter razäo de existir: o foral de 1515 estipulava que "os
ditos açúcares se poderão carregar para o Levante e Poente e pera todas outras partes que os
mercadores e pessoas que os carregarem aprouver sem lhe isso ser posto embargo algum" (32).
4. ASPECTOS CULTURAIS
Tal como o enunciámos ao princípio à expansäo da cultura da cana-de-açúcar liga-se tradiçÕes
culturais europeio-africanas. Na verdade a cana-de-açúcar propiciou o confronto da cultura euro-
peia com a africana, sendo exemplo cabal disso as sociedades geradas em seu torno nas Antilhas e
Brasil. Neste último espaço säo evidentes os aspectos sincréticos da cultura que veio a dar origem à
designação de Afro-brasileira: os estudos de Gilberto Freire (33) e Roger Bastide (34) säo bastante
expressivos a esse nível. Mas aqui insiste-se nas aportaçöes culturais resultantes do confronto com a
populaçäo africana, aí conduzida como escrava para a safra do açúcar.
Por outro lado insiste-se que a expansäo da cultura da cana-de-açúcar propiciou a divulgaçäo de
determinadas tradiçöes lúdicas: representaçöes teatrais e festivas. Está neste caso o "tchiloli" nome
dado a peça "A Tragédia do Marquês de Mântua e do Imperador Carlos Magno", atribuída ao
madeirense Baltazar Dias. Esta é uma peça teatral o ciclo carolíngeo, muito representada no século
XVI, que teria sido levada para S. Tomé pelos plantadores e mestres de engenhos da Madeira. A
tradiçäo perpetuou-se e ainda hoje se apresenta o "Tchiloli" para celebrar um acontecimento
importante ou um dia santo. A par disso no Brasil algumas das folias que animavam os terreiros do
engenho säo um misto de tradiçöes europeias e africanas. Destas destaca-se o Bumba-meu-boi e o
fadango; a primeira aproxima-se da tradicional tourada, surgindo como forma de exaltaçäo do negro
e do boi, elementos fundamentais da safra açucareira; o segundo é um auto popular do ciclo
natalício que descreve a luta entre o cristäo e o mouro, numa clara alusäo ao processo de conquista
peninsular.
Do lado oposto a estas duas tradiçöes está a Congada, uma dança de senzala, definida pela coroaçäo
do rei do Congo. Ela tinha lugar em Maio (dia de Säo Benedicto) e Outubro (dia de Nossa Senhora
do Rosário).
Ainda no Brasil a economia açucareira gerou uma dinâmica socio-cultural diversa, que deixou
rastros evidentes na literatu- ra: o caso mais evidente é o de José Lins do Rego(1901-1957), que
escreveu um conjunto de romances a retratar o ciclo da cana de açúcar: Menino de Engenho(1932),
Doidinho(1933), Banguê(1934), o Moleque Ricardo(1935), Usina(1936), Fogo Morto(1943) e Meus
Verdes anos(1956). Na Madeira esta vivência näo entusiasmou a veia literário dos seus
protagonistas e apenas na actualidade o tema despertou o interesse de Horácio Bento de Gouveia,
em åguas Mansas(1963), e Joäo França em A ilha e o Tempo(1972).
Na ilha Terceira persiste na actualidade as afamadas danças do entrudo, que segundo opiniäo de
alguns estudiosos se filia na tradição do Bumba-meu-boi brasileiro. æ volta disso estabeleceu Luís
Fagundes Duarte (35) uma teoria que aponta para a existência de uma tradiçäo lúdica canavieira,
que acompanhou o percurso de expansäo do açúcar no Atlântico, marcada por representaçöes e
danças de carácter dramático com "sabor" vicentino.
Na Madeira persistem inúmeras tradiçöes de origem africana (Marrocos, Costa da Guiné e Angola)
mas ainda está por saber se elas foram para cá trazidas pelos escravos ou pelos madeirenses.
Por outro lado é de salientar que a safra açucareira teve também implicaçöes na política de
urbanizaçäo do espaço rural, condicionando uma forma peculiar de ligaçäo do espaço agrícola -
industrial com as estruturas de mando e controle social. A célebre trilogia rural, täo bem definida
por Gilberto Freire, teve o seu primeiro aparecimento aqui na Madeira, sendo testemunho actual
disso a célebre lombada de Joäo Esmeraldo (Ponta do Sol). Mas outros mais exemplos poderíamos
referenciar na ilha que, lamentavelmente, se estäo perdendo. Talvez por estas implicaçöes do açúcar
se define ao espaço rural, ou por outras razöes que desconhecemos, se definiu para o Funchal
epitetos pouco expressivos da realidade. Assim a partir da publicaçäo do livro de António Aragäo
sobre a cidade do Funchal ficou estabelecido que ela era a "primeira cidade construída por Europeus
fora a Europa" e dentro da sua malha urbana de uma "cidade do açúcar" e outra do "vinho". Esta
aventureira definiçäo näo colhe argumentos a seu favor.
O pioneirismo aventureiro desta afirmaçäo com a segurança e afirmaçöes resultantes das pesquisas
promovidas nos Açores, Canárias, Brasil e Antilhas, onde ninguém, até hoje, teve a ousadia de
avançar com semelhante perspectiva reducionista da realidade arquitectónica e urbana. Todos säo
unânimes em afirmar a adaptaçäo do modelo europeu às condiçöes geo-humanas dos novos espaços
e a forte vinculaçäo às directivas régias e à mäo-de-obra especializada da península. O
desenvolvimento económico, assente na produçäo ou comércio de certos produtos surge em todas as
áreas, näo como factor definidor da traça urbana e arquitectóni- ca, mas sim como meio.
O açúcar, o vinho surgem na Madeira como produtos catalizadores da actividade sócio-económica
madeirense e näo como princípios geradores das cidades ou do espaço urbanizado. Eles foram
apenas os suportes financeiros necessários a este desenvolvimento e embelezamento do espaço
urbano. A maioria dos mestres que orientaram a construçäo do espaço urbanizado säo recrutados no
reino e enquadram-se nos padröes peninsulares de humanizaçäo do espaço. Por outro lado os
monarcas intervêm com assiduidade nessa política arquitectónica, enviando regimentos e planos
sobre o modo porque se deverá proceder à construçäo. Tenha-se em atençäo as recomendaçöes
dadas por D. Manuel para a construçäo da cerca e muros conforme o sistema delineado em Setúbal.
Por outro lado o mesmo monarca ao ordenar em 1485 a construçäo dos paços do concelho, da
igreja, alfândega e praça, pretendia dar ao Funchal uma dimensäo peninsular. Terá sido esse espaço
urbanizado à custa dos proventos do açúcar que conduziu à errada formulaçäo dos princípios
geradores do urbanismo funchalense.
Se tivermos em consideraçäo que a economia açucareira madeirense näo assumiu a mesma
proporçäo da brasileira ou mexicana e que nestas últimas áreas näo se fala de uma urbaniza-çäo do
açúcar mas sim das implicaçöes sociológicas e arquitectónicas deste produto teremos por anacrónica
a definiçäo no Funchal de uma cidade do açúcar.
Confrontados os estudos sobre a história das cidades das demais ilhas atlânticas e do Novo Mundo,
onde a cana-de-açúcar foi dominante, näo encontrámos qualquer definiçäo deste tipo para a malha
arquitectónica urbana (36). Tenha-se como exemplo o caso de Canárias onde é evidente também um
extremo seguidismo aos cânones peninsulares (37). Por isso näo entendemos a forma
despropositada com que se tem defendido a existência no Funchal de uma cidade do açúcar. Mas do
açúcar é a única coisa que se poderá dizer é que a imagem do açúcar ficou apenas o registo nas
armas da cidade a partir do século XVI, a que se juntou a videira no século dezanove (38).
Não obstante o facto de aquele espaço, que é hoje o centro da cidade, ter sido no século XV uma
área de canaviais (o Campo do Duque), as alteraçöes que se produziram a partir da década de
oitenta do século XV conduziram à sua adequaçäo aos modelos arquitectónicos peninsulares. É a
imposiçäo lançada em 1485 (39) sobre o vinho, surgiu única e exclusivamente com o intuito de criar
um fundo municipal para o "nobrecimento" da vila. Com isto näo queremos excluir a funçäo
relevante dos proventos arrecadados pela economia açucareira na valorizaçäo do património urbano,
mas apenas referenciar que näo houve uma ligaçäo directa entre as duas situaçöes.
Em boa verdade se diga, que o recinto urbano, que emerge a partir da década de sessenta entre as
ribeiras de Joäo Gomes e Santa Luzia e, depois, para além desta última, foi o princípio da futura
cidade, dominada pelos mercadores do açúcar. As residências de João Esmeraldo, de D. Mécia, do
capitäo do donatário, bem como os conventos (Encarnaçäo, S. Francisco e Santa Clara) e igrejas
(Sé, Capela dos Reis Magos, Madre de Deus e matrizes de Machico, Ponta do Sol, Calheta e Ribeira
Brava) foram erguidas e embelezadas artisticamente a partir dos proventos acumulados com a safra
do açúcar. Mas uma coisa é o açúcar ser fonte de receita, participadora deste processo e outra é o
resultar daí implicaçÕes urbanísticas e plásticas. Na verdade a vila que é elevada em 1508 à
categoria de cidade deve apenas ser considerada como a cidade dos mercadores de açúcar e nunca a
cidade do açúcar.

5. O Açúcar NO ESPAÇO ATLÄNTICO: A MADEIRA E AS DEMAIS ILHAS DO Açúcar


Com certa frequência somos postos perante visões ditas comparativas do processo histórico
madeirense com a das demais ilhas do Atlântico ou Mediterrâneo. Depois a partir daí fazem-se
extrapolaçöes que conduzem a uma visäo, quase sempre deturpada da realidade envolvente. Tudo
isto porque as comparaçöes säo empíricas, ou fazem-se por intuiçäo. Vimos em muitos estudos falar
da Madeira como modelo institucional, social e económico, mas poucos ou nenhuns säo aqueles que
nos revelam os dados fundamentadores desta afirmaçäo. Por outro lado coloca-se, ainda a economia
açucareira da ilha ao mesmo nível dos demais arquipélagos atlân ticos e mediterrânicos,
esquecendo-se da complexidade que esse espaço encerra.
Foi no sentido de desfazer esta infundamentada e anacrónica perspectivaçäo da Historiografia que
decidimos fazer uma análise comparativa, ainda que sumária, das ilhas produtoras de açúcar no
espaço atlântico. Para isso contámos com quatro items que corporizam e definem essa realidade: a
superfície, a produçäo de açúcar, o número de escravos e de engenhos-açúcar. Apenas a partir destes
aspectos é possível estabelecer uma precária comparaçäo, faltando para outros domínios
importantes dados que permitiam essa aproximaçäo; como é o caso da expressäo do regime
fundiário.
Mas a implantaçäo dos canaviais näo deriva apenas da disponibilidade de uma reserva florestal e de
água para a laboraçäo dos engenhos. A isso deverá juntar-se, necessariamente, as condiçöes
oferecidas pelo clima e orografia. Neste contexto as ilhas da América Central e do Golfo da Guiné
estaräo em melhores condiçöes que a Madeira ou as Canárias.
Deste modo em ambos os arquipélagos a orografia estabeleceu um traväo à afirmaçäo da cultura
extensiva dos canaviais. De acordo com estas condiçöes a produçäo madeirense dos séculos XV e
XVI nunca ultrapassou as 1584,7 toneladas, atingidas em 1510. apenas no presente século, com a
expansão dos canaviais, de novo a toda a ilha, se conseguiu suplantar este valor, tendo-se atingido
em 1916 as 4943,6 toneladas. Este incremento da produçäo açucareira foi travado nos anos
imediatos por meio dos decretos de 1934-1935 e 1937 regulamentadores da área de produçäo. Em
S. Tomé os canaviais tiveram melhores condiçöes para se afirmarem e suplantarem a produçäo
madeirense: na primeira metade do século dezasseis a ilha, com uma extensäo de 857 m2, ( mais
que a Madeira - 728) produzia o dobro, cifrando-se este valor, na primeira metade do século XVI,
em 4950 toneladas o clima, o solo fazem com que a produçäo de açúcar em S. Tomé cedo
suplantasse a madeirense: aí as canas cresciam três vezes mais que na Madeira e colhem-se duas
culturas.
O conjunto das 21 ilhas produtoras de açúcar no esforço atlântico oferece um total de 271.993 m2,
dos quais oferece apenas uma ínfima parcela foi dedicada à agricultura. Note-se que, para além da
disponibilidade do espaço agrícola adequado a esta cultura, tornava-se necessário a disponibilidade
de uma reserva silvícola, sem a qual os engenhos não podiam laborar. O caso da Madeira é
paradigmático: aqui a superfície cultivada pouco ultrapassa um terço da área da ilha, sendo o
restante espaço constituído pela reserva silvícola. Näo é possível saber mos a área ocupada pelos
canaviais nos séculos XV e XVI mas para a segunda fase de afirmaçäo da cultura dispomos de
dados concre- tos sobre isso tendo em conta o volume da cana produzida para estas duas áreas
poderemos enunciar que no século quinze, mais propriamente em 1497 as 1098,6 toneladas
deveriam resultar de uma área de 686 hectares de canavial, enquanto em 1510 com a produçäo de
1584,7 toneladas, os canaviais deveriam ocupar cerca de 990,4 hectares.
ANO área ANO área
Ha Ha
1815 357 1918 1500
1906 1100 1939 1500
1911 1100 1952 1420
1915 1800

A situaçäo das ilhas do outro lado do oceano é também diferente da madeirense, condiçöes
semelhantes às encontradas e, S. Tomé fizeram com que os canaviais se afirmassem aí, a partir do
século dezassete. Deste conjunto de ilhas apenas um reduzido número (S. Cristóväo, Nevis,
Antigua, Montserrat) se assemelha à Madeira, em termos orográficos. Aí deparámo-nos com ilhas
de superfície menor que a Madeira ( Antigua, Barbados, Nevis, St. Vicent, Trinidad) mas com uma
produçäo açucareira superior. Facto evidente sucede com as ilhas de Trinidad, Antigua e Barbados,
que dispondo de uma reduzida superfície conseguem produzir mais açúcar que a Madeira: a ilha de
Trinidad com apenas 301 m2 produziu entre 1850 e 1940 uma média anual de 57862 toneladas de
açúcar, enquanto a Madeira se ficou pelas 1659 toneladas. Note-se ainda que as ilhas de Montserrat
e Nevis, com uma superfície total quase igual à da área ocupada pelos canaviais na madeira,
conseguem atingir valores de produçäo semelhantes.
Diversa é também a estrutura fundiária que serviu de base a esta cultura. enquanto na Madeira a
orografia e o sistema de posse da terra definiram a plena afirmaçäo da pequena e média propriedade,
em S. Tomé ou nas Aantilhas estávamos perante a grande propriedade, activada pela grande força de
trabalho escrava: em Barbados, entre 1650 e 1834, 84% dos proprietários de canaviais era detentor
de mais de cinquenta escravos, enquanto na Madeira apenas 2% era possuidor de mais de 10
escravos.
Por outro lado a área dos canaviais assumida por cada proprietário era também elevada, pois 64%
destes possuíam canaviais cuja extensäo ia de 40 a 121 hectares, situaçäo que estava muito aquém
da assumida pelos produtores madeirenses. Na Madeira apenas um produtor se aproxima desse
valor (Pedro Gonçalves com uma área de 36,9 hectares)), sendo os demais com valores inferiores:
os lavradores com mais de 22 toneladas de produçäo e com mais de 14 hectares de terreno
representam em 1494 apenas 1,3% e 5% para o período de 1509 a 1537.

PROPRIETåRIOS LOCALIDADE ANO PRODUÇÄO åREA


ARROBAS Ha
Joäo Esmeraldo P. Sol 1494 1370 9,3
P. Sol 1526 3277,5 22,5
Joäo de França 1494 2500 17,1
Pedro Gonçalves Bairros R. Brava 1509 5376 36,9
Diogo Afonso de Aguiar Calheta 1509 3960,5 27,2
Benoco Amador Funchal 1509 2565,5 17,6
Joäo Mendes de Brito R. Brava 1517 3339 22,9
Joäo Betencor R. Brava 1517 2455 16,8
Gonçalo Fernandes Calheta 1534 33707,5 25,4
Dona Joana d'Eça Calheta 1534 3595 24,7
Joäo Betencor R. Brava 1536 2455 16,8
Joäo Martins P. Sol 1537 2528 17,3
Neste quadro reunimos os proprietários de canaviais com maior produçäo de açúcar, para o período
de 1494 a 1537. A partir daqui poder-se-á constatar que a dimensäo dos canaviais madeirenses era
muito reduzida quando comparada com os das Antilhas. O caso de Barbados (cuja superfície é
menor que a da Madeira) é significativo: a produçäo de atingiu aí o máximo de 74606 arrobas em
1890 (40).

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