Leitura do texto
INTRODUÇÃO
Assistimos aqui a um drama em três actos: partindo de uma situação inicial de carência, caos e vazio,
contemplaremos a acção criadora do Senhor sobre as personagens e veremos a sua transfiguração no final da
narração.
Vamos realizar uma análise das personagens (não só o Escriba, e Jesus, mas também as secundárias,
como o homem assaltado pêlos bandidos; o sacerdote e o levita; o estalajadeiro), suas atitudes e posições
perante o ponto central – o homem ferido – ao longo da narração, de forma a compreender como encontrar a
“vida eterna”, tal como o Samaritano, quando se deixou modelar à “imagem e semelhança” de Deus, segundo
nos propõe Jesus. No texto, este encontro, esta aprendizagem final e tomada de posição fica em aberto. Faz
com que nos sintamos reflectidos, com a nossa liberdade de escolha perante o convite que nos é feito por
Jesus: “Vai e faz tu também o mesmo”.
Não nos coloquemos em posição de meros espectadores diante de nenhuma destas personagens.
Olhemos para eles como se fossem nossos contemporâneos. A sua história, os seus comportamentos e as suas
reacções podem ser os nossos. Tentemos acolher esta boa notícia que nos foi dada por Jesus deixando-nos
modelar, pelas mãos criadoras daquele que realizou neles a sua obra de transfiguração.
A narração Começa numa situação de caos, carência e vazio. As personagens aparecem inicialmente
caracterizadas pelo não-saber e pelo não-poder. Vejamos:
- O Escriba, não sabe como aceder à «vida eterna», falta-lhe alguma coisa de que anda à procura:
sentir-se «justificado». Esta falta de vida faz com que participe na situação do homem ferido, “meio morto”;
- Jesus, encontra-se numa situação de necessidade e de vulnerabilidade, aparece em desvantagem,
pois diante dele está um perito da Lei que «se levantou» com a intenção «de o experimentar». Jesus parte do
nada para confrontar a argumentação de um doutor da Lei;
- Deus, na parábola não se nomeia nem se lhe faz nenhuma referência, constatando-se uma presença
de «grau zero». Também este facto retrata uma situação de carência;
- O samaritano, homem que socorre o ferido. É caracterizado pela dissidência, fama duvidosa,
objecto de suspeição, na época. No início não tem nome, é apenas um samaritano e no final é tido como
aquele que é misericordioso.
UM FINAL ABERTO
O final não é «normal» (o Escriba não obteve resposta a nível teórico...). Pelo contrário, Jesus
ofereceu-lhe um novo horizonte que representa um desafio, uma porta de saída imprevisível e surpreendente
para uma relação vivificante («Vai e faz tu também o mesmo»). A ruptura do projecto inicial (encontrar uma
resposta) é a condição para aceder a um projecto maior (fazer-se «próximo» e praticar «a misericórdia»). Os
gestos do Samaritano que tira e entrega o que lhe pertencia (azeite, vinho, dinheiro...) testemunham que é
através da perda e da doação que se ganha a vida (cf. Mc 8,35).
O Escriba é colocado diante de uma alternativa. Não sabemos se permanecerá fechado na sua prisão
da legalidade, se «passará adiante» ou se, como o Samaritano, procurará a vida eterna onde ela se
encontra: naqueles que estão privados da vida. Como no diálogo com o cego Bartimeu, Jesus perguntou-
lhe: «O que queres que faça por ti?», e ofereceu-lhe uma perspectiva e outro ponto de apoio diferente do seu
eu: a pessoa do outro.
O Escriba, cego, pensava que a noção de próximo se definia em relação a ele mesmo e procurava
saber qual era a fronteira entre os que eram o seu próximo e os que não o eram. A óptica que Jesus lhe propõe
é totalmente diferente: «Não te compete decidir quem é o teu próximo; mas deves mostrar-te próximo de
todo o ser humano que se encontra em necessidade. O centro não és tu, é o outro para quem deves
voltar-te.»
3
Depois deste passeio contemplativo ao longo do texto evangélico, podemos dar um passo em frente
e perguntar a nós próprios para onde é que «nos conduzem» as suas personagens, em que direcção parece
quererem levar-nos.
Reflexão pessoal:
Leitura e meditação do texto: Levados pela mão: do samaritano e do escriba
Responder a algumas perguntas que são propostas na reflexão, ou então a estas que se
seguem:
• De quem podes tu hoje ser próximo?
• Que transformação Jesus te propõe hoje?