Conclusão
Ao analisarmos o documento de reformulação curricular da UFF, consideramos que houve
avanços importantes no sentido de questionar o modelo biomédico de formação. Acreditamos, porém, que
a profissão médica requer conhecimentos da área biológica, e não se pode eliminar o aspecto biomédico
na formação desse profissional.
Avaliamos, contudo, ser necessária a introdução de conteúdos da área de ciências sociais, como
instrumento para a formação do médico capaz de atuar nos problemas de saúde mais recorrentes da
população brasileira, bem como no domínio das tecnologias. O médico, para lidar com a dicotomia entre
a tecnificação da prática médica e o aumento das especializações, por um lado, e o aumento crescente do
agravo de problemas básicos de saúde da população, por outro, deve estar apto a questionar seu papel
diante das duas (ou mais) vertentes e a atuar no sentido de melhorar a qualidade de vida e de reduzir os
níveis do adoecer. Nesse sentido, parece-nos que o curso de medicina da UFF indica uma reformulação
capaz de avançar nos aspectos citados, principalmente através de seu modelo curricular.
A introdução precoce do estudante nas aulas práticas, mesmo que inicialmente ainda não seja visto
como médico, contribui para a transformação da postura desse futuro profissional, tornando-a mais ética.
Os alunos estão, desde o primeiro período, divididos em pequenos grupos (oito alunos), e, a partir do
aprendizado dos determinantes históricos, sociais e ideológicos do processo de saúde-doença e do meio
ambiente (UFF, 1992), entram em contato com os conteúdos referentes a um grupo populacional real de
Niterói. Dessa forma, elaboram o conhecimento de forma teórico-prática e vivenciada. Assim, ao
conhecer uma comunidade e sua população desde o começo do curso, o aluno talvez venha a ter mais
condições de assimilar os conteúdos teóricos, na perspectiva da compreensão do ser humano em sua
totalidade e não mais dividido em partes, como acontecia com o tipo de formação anterior.
Conseqüentemente, deverá adotar uma postura mais ética na relação médico-paciente e estar melhor
qualificado para enfrentar as dificuldades cotidianas de sua profissão.