Para o diretor do fundo, Dominique Strauss-Kahn, “o tempo das soluções à conta gotas
chegou ao fim”. “Eu peço aos legisladores que tratem esta crise com medidas
abrangentes que restaurem a confiança no setor financeiro. Ao mesmo tempo, os
governos nacionais devem coordenar de perto esses esforços para trazer de volta a
estabilidade do sistema financeiro internacional.”
De acordo com o FMI, as baixas já atingiram US$ 760 bilhões em setembro, sendo que
US$ 580 bilhões registradas por bancos globais. Instituições que não são classificadas
como bancos registraram US$ 180 bilhões em perdas até agora, estima o Fundo.
Bancos
O FMI estima que US$ 675 bilhões precisam ser levantados nos mercados de capitais
pelos principais bancos globais nos próximos anos, com objetivo de manter o
crescimento do crédito ao setor privado. O Fundo calcula que os bancos globais
levantaram cerca de US$ 430 bilhões em capital, no período que vai do segundo
semestre de 2007 até setembro deste ano. No GFSR, o Fundo observa que é preciso
ação concreta para lidar com o ciclo de desalavancagem, que é motivado pelo capital
insuficiente, valores incertos ou declinantes de ativos e financiamento disfuncional nos
mercados.
Nestas três áreas, diz o FMI, é essencial interromper a espiral que as liga, com objetivo
de manter o crédito ao setor privado, ainda que modestamente. “Com diversas
instituições financeiras tendo muito mais dificuldades para levantar capital privado
atualmente, as autoridades podem precisar injetar capital em instituições viáveis”,
estima o Fundo. Crise afetará mais o Brasil em 2009
O Brasil resistiu bem a essa primeira quebra, graças à economia mundial favorável nos
últimos anos, à desindexação de parte da dívida e à exploração dos trabalhadores
brasileiros: estrutura latifundiária, baixos salários, diversificação de exportações,
mercado interno, investimentos em infra-estrutura e controle da inflação com
privatizações e altas taxas de juros. Mas o pior está por vir.
Com a generalização da crise, o Brasil sofreria as conseqüências de seu modelo de
desenvolvimento capitalista associado à burguesia financeira internacional:
subimperialista regionalmente e submisso ao imperialismo estadunidense e europeu.
Toda a economia real do país está vinculada a transnacionais e ao sistema financeiro
internacional direta ou indiretamente, seja através de filiais nacionais, seja pela garantia
da acumulação de capital com abertura do mesmo nas bolsas ou contratação de crédito.
Com o aprofundamento da crise, o Brasil seria peça-chave na geoestratégia do
imperialismo, que necessitaria aumentar sua dominação sobre a América Latina em
busca de mais mercados, matéria-prima e força-de-trabalho baratas.
Até agora, apenas a bolha do setor hipotecário e imobiliário dos EUA de fato estourou.
Tenta-se evitar a generalização da crise para outros setores da economia e outras esferas
da formação social através da estatização de parte do sistema financeiro e da liberação
de crédito para as empresas em dificuldades, socializando as perdas à custa do bolso dos
trabalhadores. É consenso, porém, a desaceleração da economia mundial em 2009. Em
novembro, o PIB dos EUA caiu 0,6%, acumulando queda de 5,5% da produção
industrial no ano e, segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico), os países ricos perderão 8 milhões de empregos.
Desdobramentos da crise
Depois dos “pacotes anticrise” estadunidense, inglês, europeu, chinês e até argentino, o
governo brasileiro tem afirmado que “Já temos um pacote, que é o Pacote de Aceleração
do Crescimento (PAC)”, formulado essencialmente como política fiscal de ação
anticíclica. No entanto, para além do PAC, o governo já tomou muitas medidas para
conter a crise: a venda de US$50 bilhões das divisas nacionais para frear a valorização
do dólar, o controle da taxa de juros, o acesso de empresas nacionais a divisas
depositadas no exterior, o corte do IPI até março, o aumento do seguro-desemprego, a
facilitação do crédito para moradia e bens de consumo duráveis, como carros e
eletrodomésticos, a facilitação de redesconto no Banco Central para os bancos
comerciais, a liberação de compulsórios e até a compra de um banco estadual pelo
Banco do Brasil.
De presidente do país Lula tem se rebaixado a escuso mediador de conflitos em nome
da burguesia brasileira e da oligarquia financeira internacional a ela associada. Após
recente reunião com empresários, afirmou: “Foi a melhor reunião de que já participei.
(...) Discutimos para que nenhum empresário dispense trabalhador, porque é importante
manter o nível de emprego. Eu assumi o compromisso de conversar com os dirigentes
sindicais para saber da possibilidade de estabelecermos acordos em alguns setores que
foram mais afetados”. Recentemente, a Vale pediu ao governo a flexibilização da CLT,
para “evitar” a demissão de 1.300 funcionários.
Cerca de 20% a 30% do crédito que entrava no país o fazia por empresas que contraem
empréstimos no exterior. Os setores mais afetados pela crise serão, portanto: a) aqueles
que mais dependem de crédito externo e b) aqueles com matriz nos EUA e Europa. Ou
seja, os de exportação, construção civil e o de automóveis, além do próprio sistema
financeiro.
Dentre os desdobramentos da crise no Brasil, certamente haverá grande aumento no
desemprego. A construção civil, por exemplo, tem baixa composição orgânica de
capital, e representa milhares de empregos. No caso da indústria automobilística,
juntam-se os dois elementos: há uma superprodução nesse setor e o acesso ao crédito é
essencial para a realização dos produtos através da venda, constituindo nossa pequena
“bolha subprime” com descasamento de prazos no financiamento de veículos; além
disso, as matrizes da indústria já sofrem com a crise, que deve repercutir sobre as filiais.
Nos EUA, Ford, Chrysler e GM pediram ao governo US$ 34 bilhões. Só a GM já
fechou 3 fábricas, demitindo 2 mil trabalhadores. Na Alemanha, a Volkswagen
paralisará a produção por três semanas, enquanto a Daimler a reduzirá. A Fiat fechou
suas fábricas da Itália por quase 1 mês. No Brasil, a desoneração do IPI aumentou as
vendas, mas ainda não será suficiente. No dia 15, a alemã MAN Aktiengesellschaft
anunciou a compra da Volkswagen Caminhões e Ônibus por cerca de R$2,83 bilhões.
Já a exportação, principal responsável pelo superávit em transações correntes, se vê
dificultada pela queda da renda mundial. No entanto, a desvalorização do dólar pode
compensar a queda dos preços de algumas commodities de primeira necessidade (soja,
milho, carne), causando o encarecimento das mesmas no mercado nacional e o
encarecimento generalizado dos alimentos através da substituição do plantio
diversificado e do fim da já pequena agricultura familiar. A queda nos preços do
petróleo, que barateia o transporte, poderá não ser suficiente para anular essa tendência,
além de prejudicar a Petrobras e de nublar os planos do governo Lula para a custosa
exploração do pré-sal.
Além dos alimentos, haverá um aumento no custo de vida da classe operária em geral,
com dificuldades de financiamento da casa própria e dificuldades de obtenção de
crediário, além do já mencionado aumento do desemprego e do corte do orçamento do
Estado para seguridade social, saúde e educação, buscando o “ajuste fiscal” de suas
contas. No setor bancário, as demissões já começaram – produto da crise financeira e
das fusões, com sobreposição de redes e de cargos internos. O acesso ao crédito, pessoal
e para a indústria, será menor. A crise trará de volta, ainda, a questão do nível de
centralismo e planificação do Estado, colocando a luta pela estatização e contra as
privatizações na ordem do dia, em contraposição aos “pacotes .de ajuda” do governo às
empresas, ao estilo Proer.
É verdade que a burguesia nacional poderia inclusive beneficiar-se dela em detrimento
dos trabalhadores, se fizesse essa opção política. Mas o que o Brasil verá é a
concentração e centralização de capital, sentida pelo povo no aumento da composição
orgânica de capital com a quebra de pequenas empresas e desemprego massivo,
repressão e violência generalizadas. A massa de lucro dos grandes monopólios que