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Sónia Maria Almeida Santos

Acessibilidade em Museus

Curso Integrado de Estudos Pós-Graduados em Museologia


Dissertação de Mestrado

Porto
2009
Dissertação de Mestrado
do Curso Integrado de Estudos Pós-Graduados em Museologia
apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto
sob orientação científica da Professora Doutora Alice Semedo

ii
Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão,
Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos,
Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem

José Saramago in “Ensaio sobre a Cegueira”

iii
iv
Nota Prévia

O presente trabalho de investigação, centrado no acesso e inclusão de pessoas deficientes em


museus, teve início em 2006, integrado no mestrado do curso integrado em Museologia da
Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Desde muito cedo que a reflexão sobre os temas ligados à deficiência em Portugal despertou a
atenção e preocupação por parte da autora. Para tal, em muito contribuiu o facto do seu irmão
menor sofrer de paralisia cerebral profunda, conduzindo-a até ao conhecimento de outras
realidades. Realidades essas que levaram ao aprofundamento de todas as questões
transversais à deficiência e, da mesma forma, ao desenvolvimento de uma crescente vontade
de cruzar experiências e conhecimentos, adquiridos através da vivência pessoal e do percurso
académico e profissional.

Agradece-se, profundamente, a constante presença familiar e o seu incansável apoio ao longo


da vida, sem o qual esta meta nunca teria sido alcançada. Um obrigada muito especial aos
pais, Francisco e Emília, que sempre tornaram os sonhos em realidades, e ao irmão querido
que, mesmo sem querer, ou saber, transformou as vidas de quem com ele priva diariamente.

Quando, em 2005, se elaborou um “Plano de Acessibilidades” para o Museu do Papel Moeda,


da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, no âmbito do estágio da pós-graduação do
curso de Museologia da Faculdade de Letras do Porto, foi lançada a pedra basilar da presente
investigação.

A concretização da intenção de explorar o universo museológico, sob o ponto de vista dos


cidadãos com necessidades especiais, muito se deveu à cooperação e visão social da
presidente da Fundação, Maria Amélia Cupertino de Miranda. Também a ela se agradece todo
o estímulo e apoio constante. Deixa-se ainda um grande bem-haja a toda a equipa que compõe
a Fundação, pelo caloroso acolhimento, profissionalismo e amizade.

Igualmente, este trabalho não teria sido factível sem a orientação imutável e preciosa da Prof.
Doutora Alice Semedo, cuja confiança transmitida e espírito crítico acompanhou esta autora ao
longo de toda a investigação.

Agradecimentos também são devidos aos profissionais de museus inquiridos que se


disponibilizaram a partilhar as suas experiências e desafios, sendo eles: Adriana Almeida, Ana
Bárbara Barros, Graça Lacerda, Maria Helena Pimentel e Maria João Vasconcelos.

v
Às amigas Ana Costa, Ana Fonseca e Tânia Martins, agradece-se a paciência… Em especial à
Ana Fonseca pelo tempo dedicado e horas perdidas, traduzidas em incansável amparo.

A todas as pessoas que, directa ou indirectamente, possibilitaram a realização da presente


investigação fica o mais sentido reconhecimento.

Obrigada!

vi
Sumário

Página

SIGLAS E ABREVIATURAS ix
ÍNDICE DE TABELAS xi
ÍNDICE DE IMAGENS xii

INTRODUÇÃO 1

CAPITULO I
CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS
1.1. Reflexões Epistemológicas e Metodológicas 7
1.2. O estado da arte. Portugal e Europa 12

CAPÍTULO 2
EXPLORANDO A DIFERENÇA
2.1. Da Desmistificação à Aceitação 20
2.2. Problematizando a Exclusão Social 25
2.3. Diversidade Humana 27

CAPÍTULO 3
A RECONFIGURAÇÃO DO MUSEU
3.1. A conceptualização do museu 30
3.2. O Paradigma na construção de novas missões museológicas. O Papel dos Museus 32
3.3. Museus Inclusivos Contra a Exclusão Social 37
3.3.1. Inclusão Versus Conservação? 40

CAPÍTULO 4
ASPECTOS LEGISLATIVOS
4.1. Breve Análise Legislativa Geral 43
4.1.1. Evolução Legislativa 44

CAPÍTULO 5
CONSIDERAÇÕES FACE À INCLUSÃO
5.1. Arquitectura Acessível 51
5.1.1. Construção da Organização Legislativa Arquitectónica 54
5.2. Design Inclusivo 56
5.3. As (Novas) Tecnologias da Informação 58

vii
CAPÍTULO 6
A ACESSIBILIDADE EM AVALIAÇÃO
6.1. Manuais e Planos de Acessibilidade 65
6.1.1. Normas do Conceito Europeu de Acessibilidade – Edifícios públicos 69
6.2. Auditorias 74

CAPÍTULO 7
QUESTÕES DE ACESSIBILIDADE NOS MUSEUS DO PORTO
7.1. Posicionamento metodológico 77
7.2. Museu Nacional Soares dos Reis 80
7.3. Museu dos Transportes e Comunicações 83
7.4. Museu da Casa do Infante 86
7.5. Museu Romântico da Quinta da Macieirinha 88
7.6. Reflexões sobre a acessibilidade 90
8. Aplicação prática dos conhecimentos – Museu do Papel Moeda 91

CONSIDERAÇÕES FINAIS 98

BIBLIOGRAFIA 101

ÍNDICE DE ANEXOS 110

viii
Siglas e abreviaturas

ACAPO – Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal


ACLB – Associação de Cegos Luís Braille
ADFA – Associação dos Deficientes das Forças Armadas
APD – Associação Portuguesa de Deficientes
APEC – Associação Promotora de Ensino dos Cegos
APEDV – Associação Promotora do Emprego dos Deficientes Visuais
ASP – Associação de Surdos de Portugal
CI – Museu Casa do Infante
CNOD – Confederação Nacional das Organizações de Deficientes
DDA – Discrimination Disability Act
DL – Decreto-lei
DPI – Disabled People International
Cap. – Capítulo
FACM – Fundação Dr. António Cupertino de Miranda
Fig. - Figura
GESTA – Grupo de Estudos Sociais e Tiflotécnicos
ICIDH – International Classification of Impairments, Disabilities, and Handicaps
IDA – International Disability Alliance
INE – Instituto Nacional de Estatística
IPM – Instituto Português de Museus
LCJD – Liga de Cegos João de Deus
MNSR – Museu Nacional Soares dos Reis
MOCEP – Movimento para a Organização dos Cegos Portugueses
MPM – Museu do Papel Moeda
MRQM – Museu Romântico Quinta da Macieirinha
MTC – Museu dos Transportes e Comunicações
MUAC – Movimento de Unificação das Associações de Cegos
NE – Necessidades Especiais
NFB – National Federation of the Blind
OMS – Organização Mundial de Saúde
ONCE – Organização Nacional dos Cegos de Espanha
ONG – Organização Não Governamental
ONU – Organização das Nações Unidas
p. – Página
pp. - Páginas
RI – Rehabilitation International

ix
SE – Serviço Educativo
SNRIPD – Secretariado Nacional da Reabilitação e Integração das Pessoas com Deficiência
TIC – Tecnologias de Informação e Comunicação
UE – União Europeia
UPIAS – Union of the Physically Impaired Against Segregation
WBU – World Blind Union

x
Índice de tabelas

Página

Tabela 1 – Adaptação de Bruno Miguel Gomes Maria de “Inquérito nacional às


incapacidades, deficiências e desvantagens” 16

Tabela 2 – Inquérito Nacional às Incapacidades, Deficiências e Desvantagens 16

Tabela 3 – Factores determinantes para a diversidade humana 27

Tabela 4 – Oposição binária do “entendimento-por-distinção” 33

Tabela 5 – Documentos da ONU 48

Tabela 6 – Documentos de outros organismos mundiais 48

Tabela 7 – Divisão tipológica de barreiras 53

Tabela 8 – Comparação informativa dos Decretos-Lei 123/97 e 163/06 54

Tabela 9 – Parâmetros para um meio físico acessível 57

Tabela 10 – Elementos a considerar num Plano de Acessibilidade 67

Tabela 11 – Cuidados específicos a ter com pessoas com deficiência visual 71

Tabela 12 – Cuidados específicos a ter com pessoas com deficiência auditiva 71

Tabela 13 – Cuidados específicos a ter com pessoas com deficiência motora 72

Tabela 14 – Cuidados específicos a ter com acompanhantes de pessoas com 72


deficiência

Tabela 15 – Identificação e classificação da amostra 78

xi
Índice de imagens

Página

Imagem 01 – Dispositivo de informação para pessoas com deficiência auditiva, Victoria 37


and Albert Museum

Imagem 02 – Informação em Braille, Victoria and Albert Museum 37

Imagem 03 – Informação para pessoas com deficiência visual, National Portrait Gallery 38

Imagem 04 – Dispositivo de apoio a pessoas com mobilidade reduzida, Victoria and 51


Albert Museum

Imagem 05 – WC com lavatório para pessoas em cadeira de rodas, Victoria and Albert 51
Museum

Imagem 06 – Visitante em cadeira de rodas, British Museum 51

Imagem 07 – Entrada do Museu Nacional Soares dos Reis (MNRS) 80

Imagem 08 – Pormenor da rampa de entrada do MNSR 80

Imagem 09 – Escadaria de acesso ao primeiro piso do MNSR 80

Imagem 10 – WC adaptado, MNSR 81

Imagem 11 – Porta da entrada do MNSR 81

Imagem 12 – Exposição de peça em patamar ligeiramente superior, MNSR 81

Imagem 13 – Degrau com demarcação no rebordo, MNSR 81

Imagem 14 – Zona de descanso numa das salas de exposição, MNSR 82

Imagem 15 – Cadeira de rodas disponibilizada ao público, MNSR 82

Imagem 16 – Fachada principal do Museu dos Transportes e Comunicações (MTC) 83

Imagem 17 – Sistema de áudio mais bengala, MTC 83

xii
Imagem 18 – Maqueta táctil da evolução automóvel, MTC 83

Imagem 19 – Computador com leitor de ecrã, MTC 84

Imagem 20 – Informação disponibilizada em vídeo, MTC 84

Imagem 21 – Automóvel táctil (actividade oficinal), MTC 84

Imagem 22 – Marcador de caneta com informação em várias línguas, MTC 84

Imagem 23 – Espaço onde se realizam oficinas, MTC 85

Imagem 24 – Maqueta táctil do percurso expositivo, MTC 85

Imagem 25 – Entrada com rampa do Museu Casa do Infante (CI) 86

Imagem 26 – Rampa da entrada para o Arquivo Histórico, CI 86

Imagem 27 – Sistema de cadeira para subir escadas, CI 86

Imagem 28 – Lupa de ampliação, CI 86

Imagem 29 – Azulejos tácteis, CI 87

Imagem 30 – Maqueta sonora, CI 87

Imagem 31 – WC adaptado, CI 87

Imagem 32 – Entrada do Museu Romântico da Quinta da Macieirinha (MRQM) 88

Imagem 33 – Estacionamento, MRQM 88

Imagem 34 – Rua de acesso ao MRQM 88

Imagem 35 – Entrada lateral, MRQM 88

Imagem 36 – Vista geral do MRQM 89

Imagem 37 – Fachada da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda (MPM) 91

xiii
Imagem 38 – Sala do Papel Moeda, MPM 91

Imagem 39 – Entrada para o auditório do piso -2, MPM 92

Imagem 40 – Viewmasters, MPM 92

Imagem 41 – Rampa com corrimão, MPM 92

Imagem 42 – Leitor óptimo de retina ocular, MPM 93

Imagem 43 – Computador equipado para pessoas com paralisia cerebral e deficiência 93


motora, MPM

Imagem 44 – Ecrã táctil, MPM 93

Imagem 45 – Guia em Braille, MPM 93

Imagem 46 – Fotoquiosques, MPM 93

Imagem 47 – Maqueta para a criação de notas tácteis 93

Imagem 48 – Visitante com paralisia cerebral a utilizar computador equipado com o 93


software GRID, MPM

Imagem 49 – Auditório onde se assiste a um filme sobre a história do dinheiro, MPM 94

Imagem 50 – Visitante cego a tactear o interior de um carro de colecção 94

Imagem 51 – Cena da peça de teatro da APPC, MPM 94

Imagem 52 - Cena da peça de teatro da APPC, MPM 94

Imagem 53 – Membro da ACAPO (cego) a ler o guia do museu, MPM 95

Imagem 54 – Membro da APPC a explorar o computador, MPM 95

Imagem 55 – Cena da peça de teatro da CRINABEL, centro comercial NorteShopping 95

Imagem 56 – Visita da APPACDM, MPM 96

xiv
xv
Acessibilidade em Museus

Introdução

A acessibilidade é a característica de um meio físico ou de um objecto que permite a


interacção de todas as pessoas a esse meio físico ou objecto e a utilização destes de
uma forma equilibrada / amigável, respeitadora e segura. Isto significa igualdade de
oportunidades para todos os utilizadores ou utentes, quaisquer que sejam as suas
capacidades, antecedentes culturais ou lugar de residência no âmbito do exercício de
todas as actividades que integram o seu desenvolvimento social ou individual.
Portanto, a acessibilidade promove a igualdade de oportunidades, não a
uniformização da população (em termos de cultura, costumes ou hábitos). (CEA,
2005:23)

Actualmente, não se consegue conceber uma vida “normal” sem períodos de lazer e evasão. O
turismo e a cultura tornaram-se expoentes máximos da civilização e com eles, e por meio deles,
nasce o conceito de “Turismo de Qualidade”, regrando o livre acesso de todos à cultura e ao lazer.
É fundamental que a “fuga à vida quotidiana” permita o convívio, a cultura e a descoberta e,
justamente por isso, a acessibilidade assume um papel primordial e, com tal ascensão, não pode
discriminar determinados sectores ou grupos sociais (SNRIPD, 2007:8-9).

O tema que move a presente dissertação prende-se com a necessidade crescente de eliminação
de barreiras, sejam sob a forma de custos, facilidades, transportes, edificação física, comunicação,
informação ou preconceitos. O cidadão do século XXI vive e absorve a era tecnológica que desafia
todos os conceitos de comunicação e divulgação de informação conhecidos até então e, desta
forma, este cidadão tomou consciência dos seus direitos e deixou de permitir que estes continuem
a ser negados por ausência de condições mínimas de acessibilidade1. Mas não é só o cidadão
comum que tem de aceitar, permitir e implementar as transformações necessárias à autonomia de
todos. As instituições culturais, nomeadamente, os museus, têm de assumir a sua
responsabilidade social perante a inclusão de todos os possíveis públicos, que se afirmem como
organismos promotores do diálogo e da inter-ajuda social.

Ainda é ténue o reconhecimento do trabalho feito por estas instituições na promoção da inclusão,
muitas vezes associada a custos demasiado elevados, ligados à reconstrução urbanística, à

1
As diferenças assumiram-se como agência e deixaram de aceitar passivamente os discursos sobre elas (…)
este discurso (da diferença e não sobre a diferença) não é unificável numa narrativa coerente, em que todos
os outros se pudessem reconhecer e ver afirmados como uma unidade. O que caracteriza actualmente as
diferenças e as suas relações é precisamente a sua heterogeneidade. (Rodrigues, 2003:17).

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1
Acessibilidade em Museus

formação das equipas e à disponibilização de materiais adequados, em contraposição com o fraco


índice estatístico que as pessoas com deficiência possam representar nas somas anuais de
visitantes. No entanto, ao contrário do que se pensa, as pessoas cm deficiência representam uma
percentagem expressiva da população europeia e, conforme é evidenciado por alguns estudos
realizados noutros países, uma importante fatia do consumo de serviços turísticos. Ao mesmo
tempo, é reconhecido que o potencial de crescimento deste segmento de consumidores é elevado
na justa medida em que a sua acessibilidade a estes bens e serviços está ainda fortemente
condicionada por barreiras físicas e sociais. Remover essas barreiras afigura-se, pois, como uma
importante oportunidade para intensificar a representatividade deste mercado (Feliciano, 2006:60).

É obrigatório que se tome consciência da importância que os museus podem representar no


aumento de auto-estima, criatividade e auto-confiança das pessoas com deficiência, pois, como
afirma Richard Sandell, the role of the museum in tackling exclusion and promoting inclusion is
understood in terms of its social impact in relation to disadvantage, discrimination and social
inequality (Sandell, 2003:46), e evitar que se veja o cidadão deficiente como sendo um visitante
diferente dos restantes. De facto, essa diferença deixará de ser notória se lhe forem dadas as
infraestruturas necessárias à sua autonomia, se a tolerância e o respeito inter-comunitário
desafiarem os estereótipos e romperam com as agendas culturais de âmbito tradicional.

Mas a questão da acessibilidade não diz só respeito á deficiência. Vive-se num contexto de
crescente aumento da esperança média de vida, todos querem viver o maior número de anos
possível e os avanços da medicina permitem-no cada vez mais, no entanto, apenas alguns
pensam no futuro a curto prazo. Os problemas de mobilidade, visão e audição são agravados e
acentuam-se com a idade. Se não se conseguir criar autonomia através de uma arquitectura
friendly, quem assumirá esse custo e esse dever? Quem cuidará da população envelhecida? Por
outro lado, há ainda que considerar o aumento anual de vítimas de acidentes que ficam com as
suas capacidades diminuídas e que fazem crescer exponencialmente o número de pessoas com
determinada necessidade especial, seja permanente, seja, apenas, por determinados períodos de
tempo. Por outro lado, as barreiras comunicativas e culturais definem-se sob novos padrões de
interculturalidade, de abertura de fronteiras ao cosmopolitismo.

Devido à diversidade de formas que a acessibilidade consegue assumir tornou-se imprescindível


delimitar a área de abrangência da investigação, o que significa que o objecto em estudo incidiu
unicamente na área da deficiência, no universo da acessibilidade museológica, visando a análise
das condições actuais de inserção de públicos com necessidades especiais nas agendas museais,
bem como as condições necessárias para que esse alargamento de novos visitantes se possa
efectuar.

Tendo em conta que o objecto de estudo é um fenómeno real concreto, realizaram-se, sobretudo,
análises de conteúdo, de dados estatísticos e legislação. Na literatura crítica (fontes secundárias)

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Acessibilidade em Museus

usaram-se documentos de várias tipologias. Desta forma, integraram-se tanto fontes jornalísticas
como fontes de arquivo. Em paralelo, fez-se, igualmente, uso de fontes em segunda mão. No
entanto, procurou-se utilizar maioritariamente fontes em primeira mão dado os limites fixados pelo
objecto da pesquisa.

À medida que se foi recolhendo o material de apoio, evidenciou-se a pertinência de dois conceitos
muito importantes, os quais são, a exactidão dos dados pesquisados (referências bibliográficas,
origem dos documentos, datas e outros detalhes) e a clareza (da análise, da reflexão, da descrição
ou da explicação da informação).

Desde 1974 que existe uma preocupação em quantificar e avaliar o impacto negativo da exclusão2
social, procurando-se a integração de todos os cidadãos. Com o passar do tempo e evolução
sociocultural, os museus tomaram consciência do impacto que a inclusão de pessoas com
deficiência pode ter. Não pretendendo menosprezar a formação adequada dos técnicos, não existe
ninguém melhor do que os indivíduos que têm de lidar quotidianamente com dificuldades de
acesso para sugerir alterações e soluções de minimização dos problemas de acesso. Com essa
tomada de consciência, foi aparecendo, lenta e gradualmente, legislação que visa salvaguardar os
interesses de todos os cidadãos, independentemente da sua condição física e mental. Aos poucos,
os museus foram encarando e aceitando a sua missão social face à exclusão, criando,
paulatinamente, novos programas e novas aberturas.

No entanto, não se poderia desenvolver uma investigação na área da acessibilidade museológica


sem se fazer uma breve exposição do percurso que o conceito “deficiência” teve de enfrentar ao
longo da evolução civilizacional. Curiosamente, a idealização da perfeição corporal, dominante do
mundo grego, sobrevive até hoje, ainda que com notórias oscilações da significação do termo. A
necessidade de explicar um fenómeno estranho levou a que a existência de uma deficiência física
fosse atribuída ao plano divino, como sendo castigo dos deuses. A sua identificação, em oposição
à norma, e que viria a transformá-la em doença passível de tratamento, traçava já as linhas das
fronteiras sociais que a relacionavam com a exclusão, seja através dos asilos do século XIX ou do
capitalismo social. No entanto, foi apenas após a Guerra do Vietname que a sociedade se viu na
obrigação de aceitar os seus deficientes, em grande parte, devido à acção das primeiras

2
A noção de exclusão social tornou-se numa espécie de “lugar-comum” que designa um conjunto
heterogéneo de fenómenos sem os discriminar numa lógica em que a simples designação do fenómeno
parece fazer a economia da sua explicação e da justificação das modalidades de intervenção social
desenvolvidas. Em segundo lugar, constituiu-se, em torno desta noção, uma espécie de “nova narratividade
do social”, sugerindo que, nestes tempos de crise da modernidade, nos encontraríamos perante fenómenos
que não são dizíveis, recorrendo para isso a instrumentos cognitivos oriundos da modernidade, tais como as
noções de classe social, desigualdade ou injustiça social, ou mesmo as noções de exploração ou de
alienação social. (Rodrigues, 2003:38).

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3
Acessibilidade em Museus

associações e movimentos, cujo objectivo visava a integração e a eliminação de estereótipos


politizados que imputavam à deficiência uma invalidez insuperável.

Quando se desenvolve um estudo sobre acessibilidade, é impossível não abordar questões como
a inclusão e exclusão social, questões essas que dão corpo à investigação proposta.

Curiosamente, apesar da multiplicidade cultural e social das sociedades actuais e da criação de


leis que protegem os interesses de pessoas com deficiência, ainda vigoram os princípios da
Revolução Industrial. Tal como Fernando Ruivo refere, na sua obra “Poder local e exclusão social”,
existe uma grande diferença entre a lei aplicada e a lei escrita.

Nos dias de hoje, não se pode falar de diversidade social e cosmopolita sem se falar, de igual
modo, na própria diversidade humana e da necessidade de a distribuir por várias áreas: a
dimensional, a perceptiva, a motora, a cognitiva e a demográfica.

Após a aquisição das primeiras noções e conceitos, torna-se pertinente abordar a filosofia e a
missão dos museus. Os museus como locais de culto, elitistas e restritos cedem à conquista das
massas populacionais. Que visitantes têm os museus? Quem são? O que procuram? As
alterações que as missões dos museus têm vindo a sofrer são sinónimo de consciencialização
para com as responsabilidades sociais. No entanto, responsabilidades acrescidas poderão pôr em
causa toda a estrutura basilar da antiga perspectiva museológica da conservação e preservação
inerente a qualquer museu.

Os conservadores, mais do que ninguém, são obrigados a assumir uma posição ingrata. Por um
lado têm o dever de “eternizar” as obras de arte, por outro lado, a responsabilidade da partilha
cultural com os públicos. Ao longo deste estudo, abordam-se, também, as agendas tradicionais
das instituições museológicas com o objectivo de repensar o papel social dos museus, a sua
missão e democratização e o seu crescente impacto. Em ditas agendas encontra-se reflectida a
questão sociológica, educativa e social dos cidadãos com deficiência e denota-se um evoluir da
sua integração nos programas culturais das instituições museológicas. Esta situação advém da
crescente sensibilização da comunidade e das instituições culturais.

A integração de pessoas com necessidades especiais não deve ser encarada como uma forma de
caridade, nem “boas práticas” sociais. É sim, um direito que os assiste e uma obrigação de todos
os cidadãos. Nesse sentido, analisaram-se algumas normas europeias e as respectivas
repercussões sociais. Desde 19483 que os direitos do homem estão nos ementários legislativos,
tendo-se assistido nas últimas décadas a um crescente número de acções de sensibilização, de
reafirmação de leis e de estabelecimento de novas e melhoradas directrizes que apelam ao
cumprimento legislativo por parte dos Estados.

3
Data da criação da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas

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Acessibilidade em Museus

Este trabalho não pretende ser uma perspectiva de diferenciação de públicos mas sim, de criação
e estabelecimento de condições necessárias a todos os cidadãos activos da sociedade
contemporânea, tenham eles ou não, necessidades especiais permanentes ou em determinado
momento ou contexto vivencial. Pretende-se sim alertar para uma maior consciencialização e
promoção da inclusão social de todos os cidadãos, avaliar as actividades desenvolvidas, as
estratégias utilizadas e a diversidade de experiências e know-how das instituições culturais. Têm-
se igualmente por objectivo reforçar a necessidade de aprofundar a reflexão sobre esta temática,
bem como de ampliar a sua discussão, envolvendo os novos actores sociais, nomeadamente os
representantes, e todos os envolvidos na formação de profissionais, desta área.

Estes foram os princípios que nortearam a concepção do presente projecto, o qual, através do
aprofundamento, do conhecimento e da reflexão sobre vários factores de exclusão social, traz à
ordem do dia, as pessoas com deficiência e todos os problemas e obstáculos que enfrentam na
tentativa de participação cultural.

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Acessibilidade em Museus

CAPÍTULO 1

CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

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Acessibilidade em Museus

1.1. Reflexões Epistemológicas e Metodológicas

Este capítulo destina-se à abordagem das técnicas e métodos investigacionais, no contexto das
ciências sociais, e sua aplicabilidade no processamento e análise da informação. Recorreu-se a
pensadores como Michel Foucault, Marcel Mauss, Émile Durkheim, Gaston Bachelard e Karl
Popper, ora unindo, ora contrapondo, as suas teorias adaptáveis às perspectivas sobre contextos
sociais.

Teve-se em conta investigações contextuais, bem como análises de teorias e, inclusivé, de


crenças sociais. Os textos foram encarados na perspectiva de discursos, ou seja, enquanto
práticas de controlo e selecção de temas / assuntos. Os discursos legislativos, embora pouco de
novo tenham aportado, serviram para enquadrar legislativamente as estratégias políticas, no
âmbito social e cultural, mais especificamente, no que diz respeito às práticas sociais.

Quando se refere que os discursos legislativos não trouxeram novidades, fala-se no âmbito dos
argumentos que há décadas se mantêm fora da ordem política nacional. Existe uma legislação
própria e adequada à promoção do bem-estar de todos os cidadãos na ordem da inclusão, seja ela
a que nível for. No entanto, é uma política de “papel”, já que a sociedade continua a excluir os seus
deficientes. O que leva à formulação de algumas questões: que tipo de sociedade e cidadania se
constroem para os deficientes? Quais as perspectivas, possíveis, de justiça social e cultural?

As análises de conteúdo encontram-se limitadas por delineações teóricas, ainda que possam ser
aplicadas em qualquer tipo de comunicação, enquanto as análises de discurso se enquadram
melhor na realidade social que se pretende analisar, relacionando-se com a estrutura social. No
entanto, a análise de conteúdo ajuda a descobrir os “(pre)supostos” e os chamados “não ditos” do
material em análise. A sua linguagem tem como função dizer a verdade e, mais uma vez,
estabelece a relação com a análise do discurso, cuja função da linguagem é reproduzir a
realidade, resistindo-lhe ou moderando-a.

Remete-se, então, para as questões do positivismo, da sua objectividade cientifica e da sua


cientificidade na análise da realidade social, ainda que seja difícil explicar e / ou prever os
fenómenos humanos. Nesta linha, considera-se ainda a posição de Foucault quanto ao poder /
conhecimento, que se insere numa visão particular do senso comum acerca do mundo, encarando-
se o discurso como um organizador de significado. Marcel Mauss, por outro lado, encara o
chamado “fenómeno social total” da perspectiva de que qualquer facto que ocorra em sociedade é
sempre complexo e pluridimensional, isto é, o comportamento só se torna compreensível dentro de
uma totalidade. As várias disciplinas, como sendo a sociologia, psicologia, filosofia, entre outras,
distinguem-se por pertencerem a perspectivas teóricas divergentes e por construírem
dissemelhantes objectos científicos que são dimensões inerentes a toda a acção social. As acções

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Acessibilidade em Museus

humanas, na sua complexidade, englobam várias dimensões, o que leva à transdisciplinariedade


das várias ciências.

O quadro orientador em causa, não é meramente descritivo, nem teoricamente asséptico.


Qualquer esforço de sistematização envolve tomadas de posição epistemológicas e teóricas sobre
as ciências sociais, quer no seu conjunto, quer no seu individualismo. Ter-se-á sempre que
considerar os vários passados e patrimónios acumulados opondo a realidade social à ciência
social, isto é, por um lado existe o mundo marcado pela acção dos homens, por outro, a
qualificação do ponto de vista analítico que caracteriza um conjunto de disciplinas.

O sociólogo Émile Durkheim fala da regra metodológica, a explicação do social pelo social, ou
seja, o homem não tem de se apropriar de todos os sentidos e significados das coisas para que
deles possa fazer ideias, as quais regularão o seu comportamento. No mesmo seguimento
podemos integrar Gaston Bachelard, ao falar de conhecimento e do seu carácter construído. Deve-
se ter em conta a descontinuidade entre a ciência e o senso comum, criando uma ruptura com os
chamados “obstáculos epistemológicos”. A sociedade está integrada em estruturas sociais, isto é,
os cidadãos pertencem a certos grupos. Bachelard separa os factos humanos dos eventos físicos
colocando a consciência dos actores como elemento constitutivo decisivo do mundo social. Tal vai
transformar as representações colectivas da sociedade, no seu dia-a-dia, em noções construídas
no decurso da vida quotidiana.

O senso comum tenta produzir interpretações ligadas à natureza humana, por disposições
comportamentais particulares de cada indivíduo. É precisamente nas relações entre a natureza e a
cultura, entre o indivíduo e a sociedade, entre o “eu” e o “outro”, que o conhecimento e as teorias
científicas têm mais dificuldades. Usando o exemplo dado por Santos Silva, as pessoas que
frequentam museus são as pessoas que possuem certos “dons” artísticos e estéticos, e que,
portanto, as diferenças na frequência dos museus se deve a diferentes aptidões “naturais” que
estão para lá de condicionalismos económicos, educacionais ou familiares (Santos Silva, 2007:32).

Fala-se aqui da questão central do conhecimento, a relação entre natureza e diversidade dos
contextos sociais criados pelo homem. Do ponto de vista das ciências sociais, as condicionantes
biológicas são utilizadas e transformadas pela sociedade. Reconhecer, por exemplo, as diferenças
causadas pela deficiência, como condicionante limitativa leva à interpretação de condutas sociais
como comportamentos sociais, ou seja, a acção do homem está em permanente tensão com as
suas bases e limites biológicos, (Santos Silva, 2007:33).

Em suma, a acção humana tem a capacidade e o poder de transformar aspectos biológicos, como
a deficiência, em factos sociais. Nesta perspectiva, Santos Silva (2007) considera ainda que a
persistência e a eficácia das interpretações de senso comum não podem, pois, ser imputadas à
ignorância popular dos conhecimentos científicos, superável através da educação, já que a raiz é

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mais profunda e tem a ver com a imagem coerente que os actores tendem a produzir acerca do
mundo social em que vivem, com as representações simbólico-ideológicas que constantemente
criam e a que constantemente estão sujeitos, e que constituem o principal cimento da ordem
social. Interessa ainda referir que Bachelard distingue no processo de conhecimento científico, três
actos epistemológicos: a ruptura com as evidências de senso comum que possam vir a constituir
obstáculo ao processo de conhecimento científico, a construção dos objectos de análise e das
teorias explicativas e a verificação da validade das teorias explicativas pelo confronto com
informação empírica.

Não se poderia, no entanto, continuar a presente discussão sem altear mais uma questão: o
“etnocentrismo”. Esta palavra surgiu no princípio do século, e tem sido aplicada em dois
comportamentos relacionados, sendo eles a sobrevalorização do grupo e da cultura à qual
pertencem os sujeitos, e a correlativa depreciação das culturas e das organizações sociais
diferentes; a universalização dos valores próprios do grupo e da cultura de pertença, assumindo
que esses valores constituem as normas de referência para a avaliação de estruturas e práticas
sociais diversas, (Santos Silva, 2007:32). Regressa-se, mais uma vez, à dicotomia do “eu” versus
“nós”, apesar de o “eu”, nesta perspectiva, se assumir como “nós”, respectivamente à identidade
de um certo grupo, opondo-se a um “outros”, representado pelas classes.

A par das teorias anda a ruptura, pois esta será a condição lógica inicial do trabalho científico,
renovando-se e prolongando-se às outras fases. A teoria, tal como defende Bachelard, revela o
objecto de análise e confere significado à investigação, definindo-lhe esse mesmo objecto e seus
limites.

Karl Popper, identifica as teorias como um conjunto de disponibilidades conceptuais substantivas


e o método como instrumento técnico de recolha e tratamento de informação. Convém aqui focar a
conceptualização de teoria tanto para Popper como para Bachelard, sendo que para o primeiro, a
teoria advém de uma série de hipóteses que levam à sua verosimilhança e ao seu
“falsificacionismo” o que, por sua vez, conduz à sua refutação, e para Bachelard a aprendizagem é
renovada pela sucessão de erros.

A ciência é uma sistematização de conhecimentos, um conjunto de atitudes e actividades racionais


dirigidas ao sistemático conhecimento com objecto limitado, capaz de ser submetido à verificação
(Markoni, 2006:80). O carácter experiencial do conhecimento científico diferencia-o de outras
categorias de conhecimentos. Por exemplo, no caso do conhecimento filosófico, o determinador da
veracidade é obtido por meio da razão. Este conhecimento é sistemático, tem uma ordenação
lógica e conexa, permitindo uma verificação que conduz à eliminação das afirmações que não
possam ser comprovadas. Não obstante, é falível.

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O método científico, independentemente da ciência, pode ser encarado como o conjunto das
actividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o
objectivo – conhecimentos válidos e verdadeiros –, traçando o caminho a ser seguido, detectando
erros e auxiliando as decisões do cientista, (Markoni, 2006:83).

O presente trabalho científico resulta maioritariamente de uma pesquisa empírica. É fruto colhido
concomitantemente de uma experiência pessoal e profissional, a qual se encontra intimamente
ligada ao objecto de estudo. Em termos de experiência profissional, foi possível analisar a prática
cultural das pessoas com deficiência, através de um largo período de observação.

Porém, tal como Santos Silva refere um dos problemas com que se debate a investigação
empírica, quando recorre aos indivíduos como fonte de informação, é saber que em tais condições
as respostas são afectadas por um certo número de enviesamentos, pelo menos potenciais,
decorrentes da consciência que os sujeitos têm de que estão a ser observados ou testados,
(Santos Silva, 2007:106). No sentido de contornar esse problema, estabeleceu-se um plano de
entrevista informal pós-experimental, mediante a qual os sujeitos falam sobre a sua experiência.

A presente dissertação, tem como pilar a análise de conteúdos provenientes de contributos


diversificados, os quais permitiram demonstrar a importância atribuída pelos sujeitos ao tema da
cultura. De forma a compreender e analisar a evolução dos problemas relacionados com o tema
foram consultadas diversas fontes documentais. Com tal, pretendeu-se obter elementos de
caracterização, locais, nacionais, assim como internacionais. De igual modo, procedeu-se à
pesquisa de dados estatísticos disponíveis e a documentação compilada no decurso da
investigação, gentilmente cedida pelas diversas entidades contactadas.

Nesta ocasião, considera-se oportuno citar Santos Silva para afirmar que é através da observação
directa e de comunicação com outros processos de interacção que têm por suporte um quadro de
relações sociais em que estão inseridos tanto os observados como o observador, que a
informação sobre as realidades sociais que pretendemos conhecer nos cega (…) os
procedimentos e categorias classificatórias de observação directa de certas dimensões
particulares da realidade social (…) podem ser utilizados isoladamente e podem ser, igualmente,
importantes instrumentos técnicos auxiliares do método de campo. Mas não são, só por si,
pesquisa de terreno, (Santos Silva, 2007:135-137). A avaliação da unidade social torna-se possível
através da interacção observador / observado, criando várias tipologias de classificação de
observação. De forma a serem teoricamente fundamentadas, todas elas passam por princípios de
sistematização.

Numa fase inicial, procedeu-se à planificação da pesquisa, a qual foi subdividida em dois grandes
campos: a recolha de informação e subsequente análise da mesma. A dita análise foi sendo

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realizada em paralelo com a sua recolha. A adopção deste método resulta de forma directa do
método de campo escolhido.

A presente dissertação apoiou-se na aplicação de diferentes métodos. De seguida procede-se à


enumeração dos mesmos: método experimental, reducionista e de pesquisa no terreno.

De acordo com o método experimental, o objecto de investigação científica é não só descobrir e


descrever acontecimentos e fenómenos, mas também explicar e compreender porque eles
ocorrem, (Santos Silva, 2007:215).

A aplicação do método reducionista permitiu a compreensão das reacções individuais em função


das interacções entre elementos. A experiência é um tratamento controlado pelo experimentador
aplicado em sujeitos sob análise, no sentido de testar hipóteses causais.

Foi, igualmente, utilizado o método de pesquisa no terreno, através da observação directa. Os


Museus assim como as IPSS’s, revelaram-se importantes fontes de recolha de informação. O
trabalho de campo aí efectuado tornou possível a análise dos comportamentos in loco. A pesquisa
aí efectuada permitiu a observação do local e dos comportamentos adoptados de forma individual.
Esta foi uma experiência deveras enriquecedora pois permitiu participar de forma activa do
quotidiano dos deficientes, através de um diálogo contínuo com os referidos indivíduos,
acompanhado da observação dos estados de espírito.

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1.2. O Estado da Arte.


Portugal e Europa

Procedeu-se a um levantamento geral do estado da arte, no contexto nacional e internacional,


abordando os projectos propostos e / ou realizados. Ainda nesse contexto, analisa-se e compara-
se a legislação em vigor, bem como a sua aplicação, falhas e possíveis aberturas face à
acessibilidade e sua transversalidade face a outras áreas.

A Resolução de 27 de Junho de 1974, instituiu o primeiro programa comunitário para a reabilitação


de pessoas com deficiência que pretendia prestar a assistência necessária, para que as pessoas
com necessidades especiais levassem uma vida normal, como membros assimilados e
perfeitamente integrados de uma sociedade e, como tal, com possibilidade de acesso regular às
actividades culturais. Tendo em conta que as necessidades especiais não se remetem unicamente
para pessoas com deficiência, mas também a seniores, grávidas, pessoas a recuperar de
acidentes, pessoas com volumes pesados, entre outras, o primeiro objectivo, normalmente,
passará pela eliminação de barreiras físicas que possam condicionar, dificultar ou impossibilitar a
mobilidade e o livre acesso.

Uma das técnicas mais utilizadas para inserção de pessoas com deficiência é a criação de equipas
multidisciplinares que, em conjunto, possibilitem a abertura do museu a todos os públicos. Isto
implica, necessariamente, a participação de pessoas deficientes nessas equipas, pois, melhor do
que qualquer pesquisa, por mais aprofundada e desenvolvida que seja, eles saberão como
solucionar e ultrapassar os problemas de acessibilidade que se lhes apresentem. Alguns dos
primeiros museus a pôr em prática a participação de equipas multidisciplinares, nos departamentos
responsáveis pela eliminação de barreiras, foram o Chatel-sur-Moselle, em França, onde existem
equipas de jovens com deficiência a trabalhar como voluntários e o Castle of Argy, em Indre, onde
jovens com deficiência foram integrados na própria equipa de restauro (Fondation, 1991:13).
Importa, ainda, salientar que muitas dessas iniciativas são apoiadas pelo Estado, reduzindo os
custos à instituição acolhedora/empregadora.

Em muitos museus foram adoptadas formas de garantir a acessibilidade a pessoas com deficiência
/ necessidades especiais, tais como, a implementação de um Code of Practice ou a criação de um
Disabilities Office, cujas missões passam por chamar a atenção e sensibilizar os museus para a
inserção de todos os visitantes nas suas actividades culturais. Com o mesmo intuito foi, também,
criada a MAGDA (Museums and Galleries Disabilities Association), que, através de um grupo
voluntário de trabalho, desafiava os museus e os seus colaboradores a criar exposições para todos
os públicos, apresentando como principais medidas a criação de rampas, elevadores,

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estacionamento, sistemas loop, telefones com a altura certa, disponibilização de informação em


computadores, sinalética adequada e publicidade (Fondation, 1991:16).

Em França, por exemplo, entre as várias instituições que se afirmaram pioneiras na criação de
acessibilidade para todos, destacam-se três casos de grande sucesso: o Museu d’Orsay, o Museu
do Louvre e a Cité dês Sciences et de l’Industrie4 (Cidade das Ciências e da Indústria), (Fondation,
1991:70-75). Neste último, estabeleceu-se a máxima de que todos têm direito a aceder à cultura,
particularmente à cultura tecnológica, científica e industrial, sem que nenhum grupo social seja
excluido (Fondation, 1991:160-162).

Na Dinamarca, França, Alemanha, Luxemburgo, Holanda, Reino Unido, Irlanda e Itália foi
estabelecido o código TO ENABLE5 que aprovisionava o acesso a teatros, cinemas e galerias
(Fondation, 1991:5). Num patamar organizacional, a EUROCREIA (European Association for the
Creativity of the Disabled) dedicou-se a levar a criatividade à vida das pessoas com deficiência
(Fondation, 1991:5).

Em 19786, foi publicado um documento legal representativo da percepção do problema que as


barreiras físicas podem causar às pessoas com problemas de locomoção. Este documento refere
as dificuldades de mobilidade dentro dos espaços, nomeadamente no acesso a todos os serviços
destinados ao público. A 30 de Abril de 1985, sob o artigo 3, Rules governing the abolition of
architectural barriers, criavam-se, legalmente, formas de inclusão, através da eliminação de
barreiras físicas/arquitectónicas. Na eliminação de barreiras tiveram-se em conta vários
parâmetros, constando-se os quatro seguintes como sendo os mais importantes:

4
Louis-Pierre Grosbois faz referência aos 10 a 15 mil visitantes por dia, com excepção do fim-de-semana
relativo ao dia de Todos os Santos em que recebeu 50 mil, dados relativos ao ano de 1988. A Cité dês
Sciences et de l’Industrie, em 1975 apresentava já como missão os seguintes aspectos: industrial and
commercial establishments whose cultural mission is to render progress in sciences, techniques and industrial
knowhow acessible to all publics, to broaden the cultural horizon of the men of this country ever more widly to
embrace the new prospects afforded by the sciences, the vast field of possible acjievements secured by the
new Technologies, and the changes in Outlook introduced into social and economic life by the scientific anf
technical transformations (Fondation, 1991, p. 23).
5
TO ENABLE refere-se a: T = Transport (Transportes), O = Outside (Exterior); E = Entrance and exit (Entrada
e saída), N = Notifications (Notificações), A = Areas of venue (Áreas locais), B = Bars and restaurants
(Cafetarias e restaurantes), L = Loos/Lavatories (Lavabos), E = Extras (extras: catálogos, interpretes, etc.),
(Fondation, 1991:5)
6
Statutory Instrument n.º 7-109, artigo 4, de Fevereiro de 1978, p.53: premisses are considered to be
accessible to disabled persons with a walking handicap in all cases where they afford such persons,
particularly those who must constantly use a wheelchair, the possibility of entering, moving freely from one
point to another once inside, leaving again under normal conditions of convenience, and taking advantage of
all the services offered to the public.

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a) Falta de acessibilidade física,


b) Problemas de percepção sensorial,
c) Entendimento conceptual,
d) Aceitação por parte do restante público.

Entre 1982 e 1984 foram publicados dois documentos, o Critères d’acessibilité aux présentation,
com a colaboração do arquitecto Louis-Pierre Grosbois, e Charter for the Disabled, apresentado
pelo então Director da Cité dês Sciences et de l’Industrie, Paul Delouvrier, que visavam a
integração das pessoas com deficiências nos espaços culturais.

As barreiras físicas foram, igualmente, abordadas no projecto Venice for all que, contemplava
todas as pessoas com deficiência de locomoção, bem como a população mais velha (que
constituía cerca de 60% da população Veneziana, no censo realizado em 1981), crianças com
menos de 5 anos, grávidas e vítimas de acidentes (Fondation, 1991:77-81).

Mas, não são só as barreiras físicas que impedem o livre acesso. Marcus Weisen refere como
maior barreira, o preconceito, e expõe a discriminação do público geral aos cegos, evidenciando o
popularizado pensamento aplicado nos museus: “és cego e os museus não são para ti” (tradução
da autora). Weisen identifica, estatisticamente, um em cada dez membros da população europeia
com deficiência, o que anula as pessoas portadoras de deficiência como sendo uma minoria,
reforçando a ideia, já exposta, relativamente aos 15% de deficientes na população europeia,
(Fondation, 1991:107-113).

Robert Benoist faz a mesma analogia, ao dizer que em França, e em outros países com
similaridades civilizacionais e económicas, há um cego em cada mil membros da população.
Refere, ainda, a importância da presença física no local a visitar, pela oportunidade de
testemunhar os sons, ecos e vibrações do ar, o que invalida a teoria por muitos creditada, de
recrear as visitas nos museus sem recorrer aos espaços de exposição, minorando desta forma a
necessidade de adaptação destes locais às pessoas com deficiência visual (Fondation, 1991:86-
92).

Mais uma vez, a necessidade de alteração de valores preestabelecidos é enunciada por Gilles
Grandjean que remete para a máxima do “NÃO TOCAR” típica dos museus e que exclui, à partida,
os visitantes cegos, (Fondation, 1991:101). Obviamente, a necessidade de conservação muitas
vezes impõe-se sobre a possibilidade de tocar nas peças. Por essa razão, ter-se-á de estabelecer
critérios de selecção que passarão, obrigatoriamente, pela natureza do material e da capacidade
de leitura da peça (determinada pelo tamanho).

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Na criação de material táctil terão de ser estudadas as melhores formas de disponibilização, tendo
em conta a sua resistência e degradação, tanto na escultura como no vidro, tapeçaria, pedra,
materiais orgânicos e metais.

Nas últimas décadas, tem-se assistido, por toda a Europa, e um pouco por todo o Mundo, a uma
crescente tomada de consciência e aceitação da ideia de que o acesso à cultura por parte de
crianças, jovens, adultos, idosos, deficientes e outras pessoas com necessidades especiais deve
ser incluída no sistema cultural.

Em Portugal, a partir dos anos 80, tem vindo a ser reforçado, no plano legislativo, o direito das
crianças e jovens com necessidades especiais de usufruírem de condições de educação
adequadas que promovam o seu desenvolvimento e o uso total das suas capacidades, devendo
estas beneficiar de um ambiente menos restritivo possível, baseado na filosofia da “escola para
todos”. No entanto, na condição de acesso cultural, nomeadamente a museus, não há legislação
específica, sendo esta constituída pela recolha de vários artigos contemplados na lei, que no
entanto são referentes a requisições específicas, como sendo o caso do Decreto-Lei 163/067 que
promove a eliminação de barreiras arquitectónicas, e da Declaração dos Direitos Humanos8 que
atende à igualdade de oportunidade para todos os cidadãos.

No entanto, a aplicação de medidas, consagradas na legislação, ainda enfrenta algumas


dificuldades. Por todo o país podem ser encontradas algumas experiências de sucesso, provando
que é possível pôr em prática os princípios da inclusão, apesar de todas as dificuldades ainda
existentes. Contudo, as boas práticas não devem ser apenas situações pontuais decorrentes da
abundância de recursos mas, sobretudo, devem partir do envolvimento real e do trabalho
desenvolvido por todos os agentes culturais.

No início de 2002, de acordo com os dados recolhidos pelo painel Europeu sobre deficiência
declarada, 10% dos Europeus sofrem de uma deficiência moderada, enquanto 4,5 % possui uma
deficiência profunda, o que equivale a quase 15% da população Europeia9, no grupo etário dos 16
aos 64 anos. Não se trata, portanto, de uma minoria social, como tão comummente é encarada e
descrita. O panorama nacional, segundo dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatística
em 1996, também não deixa margens para dúvidas:

7
Vide anexo p. 140
8
Vide anexo p. 112
9
Fonte: Eurostat “Deficiência e Participação Social na Europa”

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Faixa etária % de deficiência


0 – 2 anos 2.6
3 – 5 anos 4.4
6 – 15 anos 6.9
16 – 24 anos 6.6
25 – 34 anos 7.8
35 – 44 anos 8.9
45 – 54 anos 13.7
55 – 64 anos 24.8
65- 74 anos 36.8
> 75 anos 76.2

Tabela 1 – Adaptação de Bruno Miguel Gomes Maria de “Inquérito nacional às incapacidades, deficiências e
desvantagens”, pp. 24 e 25

E se a decomposição for feita por incapacidade, resultará na seguinte divisão:

Incapacidade Percentagem
Visão 8.3
Audição 7.1
Fala 4.1
Comunicação 5.4
Locomoção 22.1

Tabela 2 – Inquérito Nacional às Incapacidades, Deficiências e Desvantagens, pp. 27-29

Sem descuidar outros tipos de necessidades especiais tais como a incapacidade face às tarefas
diárias, com 6.6%, aos cuidados pessoais, com 8.1%, comportamentais, com 12.3%, e face a
situações, com 25.9%.

Quanto à legislação europeia, já foram tomadas as principais medidas com vista a garantir os
direitos dos cidadãos europeus com deficiência e para prevenir a sua exclusão social. A
discriminação, baseada numa deficiência, e a prevenção da descriminação são, pela primeira vez,
enunciadas no Tratado da UE de 199710. Nas últimas décadas, têm sido levadas a cabo várias

10
Também conhecido por Tratado de Amesterdão. De acordo com o artigo 13, o Conselho da União Europeia
pode levar a cabo qualquer acção adequada ao combate da descriminação baseada no sexo, raça ou etnia,
religião ou crença, deficiência, idade ou orientação sexual.

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reformas, com vista à melhoria das condições das pessoas com deficiência na Europa, sendo que
muitas destas reformas devem a sua existência ao Fundo Social Europeu11 (FSE).

Os cidadãos com necessidades especiais, têm o direito de usufruir de toda e qualquer actividade
cultural, a qual deverá ser realizada de forma a abarcar todos os cidadãos, por igual, contribuindo
para a sua integração na sociedade. Juha Siitonen12 vai mais longe ao afirmar que o sentimento
interior de poder ainda não foi assimilado no quotidiano das pessoas com deficiência, considerado
no conceito de empowerment, o qual é definido como sendo um sentimento que liberta as
faculdades e a responsabilidade criativa de uma pessoa. As pessoas que atingiram este
sentimento interior de poder transmitem uma carga positiva que está relacionada com uma
atmosfera confidencial e com uma experiência de avaliação. Estas pessoas estão dispostas a
testar o seu melhor e a ser responsáveis pelo bem-estar dos outros membros da comunidade.
Com base nesse conceito, o melhor exemplo de combate à exclusão é feito pelas pessoas com
deficiência que atingiram um sentimento interior de poder, dado saberem que podem e devem,
usufruir dos mesmos direitos que os outros cidadãos. Não obstante, a maior parte dos documentos
referentes à igualdade de oportunidades não faz menção a actividades culturais.

Para a maioria, este tema poderá ser considerado como superficial, comparado com outros temas
considerados de maior relevância. A dificuldade de integração na vida profissional e social
assume-se como prioritária. No entanto, a esfera do direito ao divertimento e ao lazer não diz
respeito apenas a aspectos legais e objectivos mas, também, a mudanças sociais, o que se traduz
na eliminação da barreira do preconceito e das injustiças, uma vez que existe uma tendência
constante em negar aos deficientes o direito de viverem a sua vida social, económica e cultural,
como qualquer outra pessoa. Independentemente da deficiência, há um aspecto partilhado por
todos os deficientes, a limitação das suas escolhas. A diferença entre o poder tomar uma decisão
baseada numa escolha é praticamente inexistente face à possibilidade de o poder fazer.

Tal como refere Gilles Grandjean, (Fondation, 1991:105-106) é fundamental que os museus
alterem os seus hábitos, reflectidos nos programas e nas próprias missões, os que,
eventualmente, irão ter de sofrer algumas alterações de forma a abarcarem todos os públicos, sem
excepção:

11
Financia a implementação de novas estruturas e práticas para a prevenção da exclusão das pessoas com
deficiência no mercado de trabalho. Algumas dessas medidas contemplam a protecção no trabalho, bem
como a criação de clubes ocupacionais, baseados no modelo Fountain House, que se destinam a reabilitar os
seus utentes para a entrada no mercado de trabalho, e o desenvolvimento de centros sociais realizados
através do programa HORIZON.
12
Informação retirada de “Dos Direitos às Politicas: Um Livro Verde para a Igualdade de Oportunidades para
as Pessoas com Deficiência e suas Famílias” referente à Tese de Doutoramento de Juha Siitonen “Teoria do
Empowerment – baseada num Estudo Teórico” (Voimaantumisteorian perusteiden hahmottelua, Universidade
de Oulo, Instituto de Formação de Docentes, 1999)

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Above all, the museums must understand the irreplaceable nature of their role and the
immense potential source of satisfaction they represent for the disabled. But the latter
must also understand the imperative to witch museums are subject and witch do not
always permit fully to live up their aspirations. The last and the most important point is
that, as experience shown, the human qualities of the staff, whether curators,
attendants or lectures, will suffice to smooth out the difficulties inherent in the
institutions themselves, since, where given requirements cannot be avoid, a solutions
will invariably be found, even if only of a makeshift nature and even if valid only in a
particular circumstances of time and place.

É importante reafirmar o direito dos cidadãos com deficiência a frequentarem os museus mas,
mais importante ainda, é criar condições para que essa seja uma actividade dita “normal”.
Entenda-se aqui “normal” como classificação de uma actividade comum que possa ser efectuada
com a regularidade desejada. Para se alcançar os ideais da inclusão social torna-se necessária a
criação de programas dirigidos aos públicos diversificados que o museu pode, e deve receber. Se
num futuro próximo, formos capazes de promover a total inclusão de pessoas com deficiência ao
nível dos tempos livres, a nossa sociedade dará certamente um passo adiante. Ou seja, estaremos
a contribuir para a criação de um novo sistema social, mais atento às necessidades dos cidadãos,
e viveremos em cidades ou países mais fáceis e amigáveis para todos. Para que seja construída
uma sociedade “à medida do homem” é essencial que o direito ao divertimento seja garantido às
pessoas com deficiência (LPDM, 2002:33).

Ao longo das últimas décadas, os museus têm-se metamorfoseado, abrindo as portas a um público
cada vez mais vasto, diversificado e exigente. É inegável o elevado estatuto que o público tem
vindo a obter face às próprias colecções e, cada vez mais, a existência e futura sobrevivência dos
museus passará pela inclusão e pela captação de novos públicos pelo que, se vai tornando
inadiável a sua abertura a todos, sem excepção.

Não há dúvida que grandes transformações foram e continuam a ser levadas a cabo no que
concerne à promoção da inclusão. Contudo, não se pode continuar a projectar programas para
pessoas com deficiência, de forma pontual, nem tão pouco, encará-las como um “não” público dos
museus. Os museus, neste campo, poderão ser parceiros interventivos de grande valor junto da
sociedade e é precisamente essa valia que demanda reconhecimento, aceitação e implementação.

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CAPÍTULO 2

EXPLORANDO A DIFERENÇA

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2.1. Da desmistificação à aceitação

Desde que o homem se conhece como tal que a deficiência está presente no seu universo social.
No entanto, várias foram as formas que esta adquiriu ao longo dos tempos. Neste capítulo,
pretende-se dar um breve conhecimento do caminho que o conceito de deficiência percorreu até
chegar à sua identificação actual e demonstrar, através de alguns exemplos, a sua evolução
“natural”. De forma geral, pretende-se explorar o universo lato da acessibilidade, definir alguns
conceitos e traçar uma linha histórica que marque e explore a evolução dos mesmos, de forma a
enquadrar as atitudes e mentalidades actuais.

Na Grécia Antiga, a perfeição do corpo apresentava-se como um ideal associado aos deuses, ideal
esse que apenas alguns humanos mais notórios podiam almejar. Tratava-se do aperfeiçoamento
humano supremo, sem lugar para defeitos e/ou desvios. De certa forma, esta noção foi
sobrevivendo, através de várias adaptações, até à actualidade, dado que a perfeição corporal
continua a ser um ideal a atingir e em destaque, quase extremo, no consciente do ser humano.
Tudo o que se afaste dessa noção de perfeição, foge da ideia de beleza, de harmonia e de
“normalidade”. Lennard Davis foi quem introduziu a noção de “hegemonia da normalidade” em que
a deficiência se distinguia da norma pela sua imposição de características de inferioridade.

O tema “corpo” foi, ao longo da história, atentamente estudado e fortemente discutido nas
relativamente às suas funcionalidades. Mas, foi Michel Foucault que reforçou o lugar do corpo na
crítica social, em a “História da Loucura”, na qual este pensador expôs o processo que levou à
separação da loucura e de outras formas de insanidade / perda da razão num nível histórico, ao
mesmo tempo que se iam separando os conceitos de normal e anormal.

A tentativa de controlar a deficiência vem, igualmente, desde a Grécia Antiga, sendo prova disso o
infanticídio praticado em Atenas e Esparta, onde todas as crianças que apresentassem qualquer
deformidade física ou atraso mental eram abandonadas em contextos naturais, como montanhas,
vales profundos ou zonas desertas, para que os desígnios dos deuses e da natureza sobre elas
actuassem. Mesmo em Roma, só a partir do século II foi proibida a acção de selecção, por parte
do paterfamilias. Aristóteles na sua obra “Política”, defendia a existência de uma lei que
assegurasse que nenhuma criança deformada sobrevivesse.

Durante a Idade Média, as práticas de caridade tomaram proporções gigantescas, primeiro, porque
as condições precárias e incertas da existência, comuns naquele tempo, marcariam com maior
incidência os mais vulneráveis; segundo, porque os relatos da vida de Jesus conferem particular
ênfase ao encontro transformador com as pessoas em que então se assinalava alguma doença ou
“deformidade” corporal; terceiro, porque a existência de condições que eram tidas como

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incapacitantes operava como forma de legitimar a necessidade de cuidado, subtraindo os sujeitos


a eventuais acusações de aproveitamento e ociosidade, (Martins, 2006: 54).

A deficiência era encarada como um mal proveniente de justiça divina13 em que os sujeitos eram
encarados como “objectos” de caridade, o que, no fundo, não é mais do que a aplicação das
práticas da tradição judaico-cristã que associam a deficiência a um castigo divino. A separação
entre o que é considerado normal e o que se reporta ao sobrenatural só foi estabelecida a partir do
século XVI. Até então, as deficiências eram vistas como consequência de pactos faustianos e
manifestações satânicas, e assim permaneceram até serem “desmistificadas” pelos movimentos
iluministas. Devido à associação da deficiência a forças sobrenaturais, durante a Inquisição, nos
séculos XV e XVI, muitas foram as pessoas que se viram arrastadas para a chamada “caça às
bruxas”, devido às suas manifestas “diferenças”, próprias da noção relativista do corpo que
persistiu até ao século XVIII.

No século XVII, surge a primeira forma de ligação entre o poder e a vida através do corpo. Este é
considerado uma máquina, estabelecendo uma ligação intrínseca com o aproveitamento
económico. Durante o século XVIII, houve nova ruptura na forma confusa com que as práticas de
caridade eram atribuídas aos mais necessitados. Foucault designaria por “Le Grand Renferment” o
movimento histórico em que os intervenientes procuram controlar a proliferação de mendigos14
derivada da crise económica, os quais afectavam a ordem social do mundo ocidental. Dá-se o
nascimento do “biopoder”, como norma reguladora da vida social.

Ao se constatar a existência de diversos tipos de deficiências assim como graus de gravidade das
mesmas, desenvolve-se a noção de “desvio” do estado normal de saúde, em que a doença se
categoriza como um desvio temporário, enquanto que a deficiência se assume como factor de fatal
incurabilidade.

A Carta de Diderot, 1749, representa a nova mentalidade social e cultural. As deficiências


começam a ser encaradas como situações passíveis de tratamento. O conceito de normalidade, o
“é” em oposição ao “deve ser” surge como um intento normalizador que se impõe como
consequência da nomeação da deficiência em contraposição à normalidade, isto é, cegueira em
oposição à visão, a surdez em oposição à audição.

Com o capitalismo industrial, aumenta a exclusão social. As pessoas com deficiência que
trabalhavam na agricultura e pequenas manufacturas familiares vêem-se marginalizadas e

13
Teodiceia – afirmação da bondade e justiça de Deus perante a existência do mal e do sofrimento.
14
Ao referir mendigos convém recordar que, nesse mesmo patamar, se encontravam as viúvas, os órfãos, os
doentes, os inválidos, os loucos, os mendigos, os promíscuos, os deficientes, os ociosos, etc., só muito mais
tarde se começou a fazer a separação entre aqueles que realmente necessitavam de caridade dos outros que
poderiam trabalhar para o próprio sustento.

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excluídas da economia produtiva, o corpo adquire uma apetência puramente mecânica e funcional
sob a máxima de que quem não se adaptava às condições de produção seria, automaticamente,
excluído. A deficiência era vista como uma incapacidade funcional, a representação de uma
máquina imperfeita.

A concepção do significado do termo ”deficiência” foi criada no século XVIII, tendo os mesmos
parâmetros sido mantidos até à década de 60 do século XX, altura em que se repensou a
organização social, sob o ponto de vista da marginalização e da opressão que levam à
subalternização das pessoas com deficiência. A alteração de valores, ocorridos no período que vai
desde 1960 a 1980, deveu-se, sobretudo, aos movimentos estudantis em prol dos direitos
humanos, que reestruturaram os valores e as práticas, bem como, a noção de cidadania como
princípio de igualdade.

Nos Estados Unidos, a Guerra do Vietname veio aumentar exponencialmente o número de


pessoas com deficiência e, com o fim da guerra, cresce a luta pela igualdade dos direitos
humanos.

Em Inglaterra, em 1976, a Union of the Physically Impaired Against Segregation (UPIAS) publicou
os “Princípios Fundamentais da Deficiência” (Fundamental Principles of Disability), que definem
impairment (deficiência) como uma condição biológica e a disability (incapacidade) como uma
forma particular de opressão social.15 Michael Oliver refere-se ao “Modelo Social da Deficiência”,
de 1983, como sendo a politização da deficiência, um modelo individual / médico da deficiência,
em que as pessoas deficientes tinham de assumir o papel social do doente / paciente, (Martins,
2006:27). É aí que residem os estereótipos centrais de inválido trágico, de amargurado que
procura vingança do mundo e alcançar a cura a qualquer custo, ou ainda, do herói que triunfa
sobre a tragédia. É nesta narrativa de tragédia pessoal que a deficiência se assume, silenciosa,
face à experiência da opressão e se entrega ao fatalismo da marginalização.

15
Impairement é descrito como sendo a ausência de parte ou de totalidade de um membro, ou existência de
um membro, órgão ou mecanismo corporal defeituoso enquanto disability é a desvantagem ou restrição de
actividade causada por uma organização social contemporânea que tome pouca ou nenhuma consideração
pelas pessoas com impairments físicos, e que, assim, as exclui da participação nas actividades sociais
centrais. A deficiência física é, portanto, uma forma particular de opressão social. Note-se que em 1980 no
International Classification of Imparements, Disabilities, and Handicaps (ICIDH) as definições associadas à
deficiência são descritas como: Impairment: no contexto da experiência de saúde, é qualquer perda ou
anormalidade psicológica, fisiológica ou anatómica da estrutura ou função; Disability: no contexto da
experiência de saúde, é qualquer restrição ou ausência (resultando de um imparement) da capacidade para
realizar uma actividade do modo ou dentro do âmbito considerado normal para um ser humano; Handicap: no
contexto da experiência de saúde, é uma desvantagem para um dado indivíduo, resultando de um
imparement ou disability, que limita ou impede o cumprimento de um papel que é normal (dependendo da
idade, sexo, factores sociais e culturais) para dado indivíduo. (Martins, 2006)

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Existem ainda civilizações que não conseguiram desmistificar a deficiência e encará-la de forma
“natural”. Tal como referido anteriormente, muitas vezes associou-se a deficiência a forças
sobrenaturais, a castigos divinos, factos esses que podem ser constatados em alguns registos
etnográficos. Por exemplo, no Quénia e na ilha de Bornéu, a deficiência continua a ser vista como
um infortúnio divino imputado à criança. No Bornéu, atribuem a cegueira à nascença, à
inexistência do espírito do olho, e à separação e progressiva ausência deste no caso de doenças
que levam à cegueira. As pessoas com deficiência mental são consideradas apenas “meio-
humanas”. No caso de demência, os sujeitos encontram-se temporariamente “des-humanizados”
por espíritos que invadem os seus corpos, (Martins, 2006:30-35).

Igualmente na literatura pode-se verificar uma tendência de ligar a deficiência a um mundo mágico
coberto de misticismo. Na Bíblia, observam-se duas vertentes da mesma simbologia: no Velho
Testamento, a lei hebraica governa sob um rígido código de conduta: nenhum dos teus
descendentes, de geração em geração, se sofrer de alguma deformidade não poderá oferecer o
pão do seu Deus (Lv 21:1616) enquanto que no Novo Testamento, a evidência de impureza que
leva à caridade desaparece: Não amaldiçoarás ao surdo, nem porás tropeço diante do cego (Jo
5:1).17

Existem também referências à cegueira como uma forma de “ver” o invisível aos olhos, é o caso de
Tirésias, apresentado na mitologia como o cego vidente que descortina o fado do Réu Édipo, o
único de entre os homens em que a verdade lançou raízes (Sofocles, 1995:82), acabando por ser
punido com a cegueira, que aqui é retratada de forma simbólica, representando a morte, a luz
versus a escuridão, as trevas eternas: Tu vês e não tens olhos para a cegueira a que chegaste
(Sofocles, 1995:82). O mesmo se poderia dizer de Sansão que, ao lhe serem retirados os olhos,
pelos Filisteus, perdeu a visão da sua força a qual recupera, num último esforço de redenção (Jz
17:21).

Outra obra que não poderia deixar de ser referenciada é o “Ensaio sobre a Cegueira”, de José
Saramago (1998), cujo enredo é marcado por uma inexplicável epidemia de “cegueira branca” , a
qual leva ao encarceramento repressivo de todos os infectados (à semelhança das leprosarias da
Idade Média). Nesta obra, as vivências deixam a nú conceitos como a precariedade da dignidade
humana. Saramago anula a experiência das pessoas cegas em prol dos preconceitos sociais, o
que também acontece (demasiadas vezes) na vida real. Tratam-se conceitos como a ignorância, a
alienação, a morte, a vulnerabilidade, ganância, negrume, infortúnio, reclusão, incapacidade,
improdutividade e a dependência associados à falta de visão.

16
Todas as referências e citações apresentadas encontram-se na Bíblia Sagrada, 14º edição, 1988.
17
Muitas mais referências poderiam ser transcritas: A cura dum surdo-gago – Mc 7:31; A cura do cego de
Batsaida – Mc 9:22; O epiléptico demoníaco – Mc 9:14; O cego de Jericó – Lc 19:35

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“Perfume de Mulher”18 é mais um exemplo de fusão entre as fronteiras da ficção e da realidade.


Esta obra retrata um Tenente-coronel, remetido à reserva, depois de 50 anos de serviço, devido a
um acidente que o deixou cego. Este, ruma a Nova Iorque com o derradeiro objectivo de pôr fim à
sua vida, envergando o símbolo da sua dignidade (a farda do exército), dignidade essa que lhe
fora retirada pela cegueira. O público é, assim, remetido para todas as histórias silenciadas, de
tantos combatentes que regressaram da guerra com deficiências e que, desta forma, se viram
postos de parte pela mesma sociedade que os recebera como heróis.

Estes foram alguns dos exemplos escolhidos, mas muitos mais haveria a enunciar. A literatura e o
cinema estão repletos de histórias de realidade ficcionada. A tentativa de justificação cruza-se com
o esforço de sensibilização social, numa última busca de aceitação. A imposição de conceitos é
evidente, a normalidade tenta sempre abraçar a deficiência no seu seio, esquecendo que esta não
precisa de resgate mas sim, de ser, simplesmente, aceite e respeitada, na sua heterogeneidade.

18
Scent of a Woman – 1992, adaptação da obra de Dino Risi, Profomo di Donna, 1974.

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2.2. Problematizando a Exclusão Social19

A inclusão tem sido, nos últimos anos, um dos temas centrais da Comissão Europeia e surge como
uma problemática central no contexto de sociedades marcadas pelo processo desencadeado pela
volatilização do marcado de trabalho e pela assunção reflexiva das identidades dos indivíduos e
dos grupos. Estes dois processos sociais produzem formas de exclusão distintas. A primeira é
caracterizada pela individualização das necessidades dos indivíduos; a segunda, pelo
protagonismo dos indivíduos e dos grupos no âmbito da sua própria exclusão. (Stoer, 2005:61)

A internacionalização e o desenvolvimento de uma sociedade cada vez mais heterogénea e


cosmopolita leva à emergência de um novo cenário social. Tal como Fernando Ruivo refere,
vivemos numa época em que, diariamente, somos confrontados com o ritmo acelerado de
transformações sociais que fazem mudar, de modo por vezes quase imperceptível, os
comportamentos, as mentalidades e as próprias necessidades dos agentes e das instituições
(Ruivo, 2002:13). Talvez por isso mesmo, exista uma enorme lacuna entre a legislação existente,
chamada de “law-in-the-books”, e a que é realmente aplicada, a “law-in-action”, provocando muitas
vezes a confusão dentro das instituições, já que nem sempre a lei aponta para o combate à
exclusão social. Ruivo refere ainda que, muitas vezes, em termos jurídicos e político-
administrativos, os discursos e os modelos oficiais sobre o funcionamento das instituições
encerram sistemas de auto-imagem que procuram, de forma muito precisa, atrair a atenção da
audiência para a simplicidade, racionalidade e transparência das suas actuações para o exterior
(Ruivo, 2002:25).

Torna-se paradoxal que nesta cultura inclusiva, que tanto se advoga, seja nos aspectos
arquitectónicos ou sociais, a exclusão surja como sendo a norma (Stoer, 2005:10), e que sejam as
IPSS’s (Instituições Particulares de Solidariedade Social), a assumir as principais
responsabilidades relativas à inclusão, através da promoção de iniciativas diversas, tendo como
fim a eliminação, ou pelo menos, minimização dos factores que desencadeiam a exclusão social.
Citando, mais uma vez, Fernando Ruivo, a sociedade portuguesa tem vindo a ser qualificada por
alguns analistas como uma sociedade semi-periférica, ou seja, uma sociedade de desenvolvimento
intermédio com tradução ao nível do perfil e funcionamento da esfera da produção como também
no tipo de regulação social. Uma das especificidades desta sociedade consiste, precisamente, no

19
A exclusão em termos economicistas é definida por Manuel Castells como sendo o processo pelo qual
certos indivíduos e grupos são sistematicamente impedidos de aceder a posições que lhes permitiriam uma
forma autónoma dentro das normas sociais, enquadrados por instituições e valores, num determinado
contexto. Em circunstancias normais, no capitalismo informacional esta posição é comummente associada
com a possibilidade de acesso a um trabalho pago regularmente para, pelo menos, um membro num
agregado familiar estável. A exclusão social é, de facto, o processo que não permite a uma pessoa o trabalho
no contexto do capitalismo.

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interesse particular da relação entre os termos do binómio Estado-sociedade providência, dado


que, (…) se trata de mais uma chamada a desempenhar um papel central na prestação de
determinados serviços sociais (Ruivo, 2002:79). Mais uma vez, o dever social de todos os
cidadãos fica subvalorizado, perante a atribuição de responsabilidades apenas a determinadas
instituições, dificultando e prolongando a implementação de acções que seriam muito mais
profícuas se assumidas e partilhadas por todos.

Persiste, ainda, um sentimento de impotência, por parte dos intervenientes, que nem sempre
sabem como actuar e que se questionam sobre se possuem as ferramentas adequadas para
actuar, agir. Isto acontece, em grande parte, devido à grande diversidade e extensão do fenómeno
da exclusão. Desta forma, desenvolve-se o comummente chamado “efeito bola-de-neve”: o
sentimento de impotência leva à falta de motivação que, em última instância, conduzirá à redução
da intervenção. Ainda assim, nos últimos anos, verifica-se um interesse crescente nesta área,
começando a produzir profundas alterações nas intervenções realizadas. Acontece, por vezes, que
os agentes que criam obstáculos à participação efectiva, são os próprios indivíduos, que alternam
entre o envolvimento activo e intensivo e a atitude passiva e desencorajadora, sendo o factor
“participação” uma das componentes mais importantes para se desenvolver uma abordagem
integrada.

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2.3. Diversidade Humana

A população mundial é feita de diversidades, cosmopoliticismos, simbioses de culturas,


intercâmbios de conhecimentos, deixando de existirem fronteiras populacionais e culturais.

Quando se fala de diversidade, convém salientar que os factores determinantes da progressiva


diversificação da população Europeia traduzem-se na qualidade de vida, na imigração, na taxa de
nascimento e nos direitos civis, e que a diversidade se pode assumir perante cinco perspectivas
distintas, sendo elas (CEA, 2005:301-39):

Diversidade Identificação
Dimensional Relaciona-se com aspectos quantitativos como a altura, peso, tamanho e largura
dos membros, etc. É importante no sentido da criação de valores relacionados com
produtos, serviços e meios físicos, para um restrito sector populacional. Para que
se consiga abranger toda a população é necessário seguir os parâmetros do design
universal, isto é, desenhar de forma valida para todas as pessoas. Por exemplo,
desenhar portas suficientemente largas para cadeiras de rodas, permite,
igualmente, a passagem de utentes sem cadeira de rodas, o inverso já não é
possível.
Perceptiva A perda dos sentidos, maximizada pelo grau, interfere com a forma de
relacionamento com o meio físico
Motora Os problemas de mobilidade são estão restritos a pessoas em cadeiras de rodas,
como comummente se pensa, desta forma, embora o meio físico universal / para
todos seja pensado para utentes em cadeiras de rodas, é importante não esquecer
que existem outros problemas decorrentes da falta de mobilidade e é, igualmente,
importante não favorecer determinados grupos em detrimento de outros.
Cognitiva As alterações cognitivas interferem com a capacidade de recepção e
processamento de informação, nomeadamente, na orientação espacial / temporal.
Dentro das alterações de natureza cognitiva incluem-se os distúrbios de memória,
problemas de orientação espacial, dificuldades de recordar informação “básica” e falta de
habilidade ou capacidade para falar, ler, escrever ou compreender as palavras.
Demográfica O envelhecimento da população e o aumento da imigração são factores
determinantes da diversidade cultural e funcional

Tabela 3 – Factores determinantes para a diversidade humana

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As comunidades nacionais encontram-se globalizadas. Desta forma, não se justifica a aceitação de


novos “povos” sem a aceitação da diversidade, seja ela a nível social, cultural, etnográfico ou
geográfico. Contudo, continua a existir o preconceito. As pessoas são catalogadas segundo os
antigos princípios derivados da Revolução Industrial. Quem não tem total capacidade física, não é
considerado “apto” a interagir activamente na sociedade, seja essa incapacidade por motivos de
idade avançada, seja por qualquer outra deficiência limitativa.

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CAPÍTULO 3

A RECONFIGURAÇÃO DO MUSEU

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3.1. A conceptualização do museu

Instituição de carácter permanente, com ou sem personalidade jurídica, sem fins


lucrativos, dotada de uma estrutura organizacional que lhe permite:

a) Garantir um destino unitário a um conjunto de bens culturais e valoriza-los através


da investigação, incorporação, conservação, interpretação, exposição e divulgação,
com objectivos científicos, educativos e lúdicos;

b) Facultar acesso regular ao público e fomentar a democratização da cultura, a


promoção da pessoa e o desenvolvimento da sociedade.

Consideram-se museus as instituições, com diferentes designações, que apresentem


as características e cumpram as funções museológicas previstas na presente lei para
o museu, ainda que o respectivo acervo integre espécies vivas, tanto botânicas como
zoológicas, testemunhos resultantes da materialização de ideias, representações de
realidades existentes ou virtuais, assim como bens de património cultural imóvel,
ambiental e paisagístico.20

Esta é a definição de Museu, segundo a Lei-Quadro. Como se constata nas suas alíneas, o Museu
encontra-se ao serviço da protecção e conservação do património mas, também, do público. Dita
definição não difere da defendida pelo ICOM, na qual o museu se encontra ao serviço da
sociedade e do seu desenvolvimento, é aberto ao público. Para além disso, deve adquirir,
conservar, investigar, comunicar e expôr a evidência material do Homem e do que o rodeia, com o
objectivo de estudar, educar e divertir. No entanto, por mais natural que estas missões possam
parecer, a verdade é que caracterizam a longa evolução que os museus foram sofrendo ao longo
dos anos.

O que é um Museu? Que características deve ter? Que condições deve reunir para o seu
reconhecimento? Todas as questões sofreram uma evolução nas suas respectivas respostas. De
1951 a 1983, o museu foi questionado e definindo o seu reconhecimento perante a sociedade,
seguindo sempre parâmetros de abertura que modelaram novas formas de actuação. O seu
esforço em acompanhar as tendências sociais, não pode deixar de ser reconhecido mas, o museu
enfrenta novos desafios que se elevam para além da conservação e exposição, e que se cruzam
com a captação de públicos.

20
Segundo o artigo 3º do Capitulo I da Lei n.º 47/2004

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Muito tempo separa os Gabinetes de Curiosidades do agora complexo museu contemporâneo


massificado, que vê a sua sobrevivência ligada ao desenvolvimento de técnicas de convencimento,
nos processos de comunicação e divulgação. A caracterização dos museus deste século,
qualificam-no como um espaço de representação para um público cada vez mais heterogéneo e
exigente. Não basta, para a sua sobrevivência, a acumulação de história e de tempo, têm de ser
activos na busca e satisfação de necessidades, necessidades essas que se prendem, igualmente,
com as das pessoas com deficiência que não poderão ser esquecidas no planeamento dos
programas museológicos actuais.

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3.2. O paradigma na construção de novas missões museológicas

Any casual visitor to museums in Britain would assume that disabled people occupied a specific
range of roles in the nation’s history. The absence of disabled people as creators of arts, in
images and in artefacts, and their presence in selected works reinforcing cultural inclusion
stereotypes, conspire to present narrow perspective of the existence of disabled people? In my
opinion it is time that museums were more proactive in looking for what their collections hold,
digging out the information buried in the footnotes and re-instating the identity of the celebrated
and ordinary disabled people in their purview. Disabled people should be brought into the
museum and supported in understanding where they existed in the past, to reinforce their right
to belong in the present. Non-disabled people should be informed, through clear factual labelling
and positive images, to see disabled people as having always been there – and often to
societies benefit (Dodd e Sandell, 2001:33).

O papel social dos museus tem-se apresentado como uma crescente preocupação por parte dos
profissionais e das instituições museológicas, constituindo um novo desafio, resultante do
alargamento do conceito de públicos, dos programas dos serviços educativos, da renovação dos
projectos museológicos e discursos museográficos assim como da disposição arquitectónica dos
espaços e edifícios. Gilles Grandjean (Fondation, 1991:101-106) afirma que os museus têm de
compreender a natureza insubstituível do seu papel e do seu imenso potencial na possibilidade de
oferecer satisfação aos públicos com deficiência. Sem dúvida, estas questões obrigam a que uma
nova visão museológica se cruze, inevitavelmente, com a questão da revitalização do conceito de
museu, que passa em grande parte pela sua difusão “além paredes”.

Os museus ocupam um lugar paradoxal na cultura. Para que servem? Qual o seu objectivo na
sociedade contemporânea? Nos últimos anos tem-se assistido a uma busca incessante pelo
aumento de públicos. Ainda assim, os museus continuam a falhar no incremento do número de
visitantes, principalmente na atracção de minorias e na competição com outros espaços de lazer.
Estas questões obrigam os profissionais de museus e pensar menos na conservação e mais nas
missões dos serviços de educação e dos próprios museus. A função social dos museus tem
potencial e competências para desempenhar funções sociais. Coleccionar, preservar e expôr não
poderão ser um fim em si, mas um meio de desempenhar um papel social, facilitando o acesso à
cultura.

Nascido da sociedade ocidental, o Museu afirmou-se como uma criação cultural


urbana cuja função e importância é desde sempre interrogada, paralelamente à sua
progressiva afirmação de lugar de cultura, de conhecimento, de ilusão e de metáfora
do mundo, de ressonância de poder (…) O Museu oferece-se como um campo de
representação onde é possível constatar, analisar e reflectir sobre questões que
atravessam verticalmente a sociedade contemporânea (Guimarães, 2004:17-18).

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Desde 1980, assiste-se a uma mudança de natureza e de conceito, a uma maior harmonia entre a
teoria social e as práticas museológicas (Macdonald, 1996). O Museu actual assume vários papéis:
lazer, educacional, cultural, social. É um símbolo da comunidade, com um estatuto legitimador e
possuidor de características dinâmicas. Os Museus, em conjunto com a antropologia e a
sociologia, colaboram na formação da modernidade. Pode e deve ser entendido como um local
onde o mundo é realidade, ganhando, desta forma, importância no contexto do desenvolvimento,
em termos de afirmação de identidade cultural e de manifestação do seu potencial educativo
(Prösler, 1996). Não é, igualmente, novidade para estas instituições, a necessidade de mudança, à
qual têm sido expostos, no decorrer das últimas décadas, ao nível da sua organização, gestão,
recursos ou actividades (Sandell, 2002:46-47).

A nova visão museológica preocupa-se com os públicos e planeia a sua projecção social. Envolve-
se em filosofias democráticas, prevenindo-se contra o escrutínio do público e desenvolve
estratégias de marketing, de forma a alterar as tendências, em prol das necessidades das diversas
audiências, cada vez mais exigentes e conscientes dos seus direitos enquanto público cultural.
Cabe aos museus conseguir comunicar com todos os seus públicos, de forma correcta e assídua.
Tal como Eilean Hooper-Greenhill (2005) verbaliza, os museus têm de comunicar ou acabarão por
enfrentar a sua própria “morte”.

Estabeleceu-se a oposição entre “nós” e “outro”, sendo o primeiro referente ao visitante-tipo e o


segundo a todos os que não se enquadram nesse conceito.

A estrutura mental do “outro” faz parte da sociedade desde os primórdios da civilização. É um


conceito criado a partir da negação. Ou seja, o “outro” é aquele que não é “nós” (aquele que não é
branco; que não é católico; que não é europeu; que não é saudável, que não é fisicamente
perfeito…). Por outro lado, a noção de “nós” nasceu, igualmente, com a construção de um sistema
cronológico que suporta a “nossa visão de nós próprios”, (Hooper-Greenhill, 1997:29).

Nós Outro
Cristão Pagão
Clássico Bárbaro
Homem Mulher
Branco Negro
Razão Magia
Conhecimento Ignorância
Moralidade Imoralidade
Progresso Estático
Cultura Natureza

Tabela 4 – Oposição binária do “entendimento-por-distinção”

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Quando se transporta essa percepção para a vida social e cultural, aplica-se-lhe uma
compreensão ética e criam-se áreas especiais para grupos de pessoas específicos. Desta forma, a
noção de acessibilidade está presente, independentemente de ter uma aplicabilidade correcta, ou,
pelo contrário, de estimular, ainda mais, a exclusão através da promoção do preconceito, da
xenofobia, do racismo e da discriminação que elevaram barreiras culturais intransponíveis nestes
micro-ambientes que são os museus e outros centros de arte (Agyeman e Kinsman, 1997).

Os museus têm o dever social de articular a cultura com todas as pessoas, inclusive com os
“outros”, combatendo o monocentrismo instalado que nega a pluralidade, eliminando o medo pelo
desconhecido com a noção de que não existem audiências passivas. Estas, como já se referiu,
são diversificadas e autoritárias, no que concerne a aplicação e valência dos seus direitos,
enquanto membros de uma sociedade activa e multicultural. Os museus, especialmente os que
usufruem de fundos públicos, devem ser relevantes para todos os membros da sociedade, para
todos os que contribuem para a continuação do seu funcionamento. Os museus devem
estabelecer os seus objectivos em consonância com as necessidades de todos os indivíduos,
devendo dar primazia aos objectivos sociais e não aos culturais (Dodd e Sandell, 2001).

Neste seguimento, os profissionais de museus já tomaram consciência que os museus têm de ter
relevância de forma a cativarem as populações diversificadas. É imperativo estarem atentos às
necessidades das comunidades. Para isso, é necessário estabelecer contacto, envolver e atrair
novos públicos. É fundamental tornar o museu acessível, física e intelectualmente, e encorajar as
novas práticas museológicas.

A distinção entre os vários públicos dos museus deve ser estabelecida. Os museus devem tomar
em conta aspectos que os ligam a cada um desses públicos, como um todo. Não deve, no entanto,
procurar elos de ligação com as características do indivíduo em particular. Merriman estabelece
cinco tipos de visitantes de Museus: os que o museu já conquistou e mantém, as pessoas que
normalmente não visitam museus, os alunos e professores (público escolar), os turistas e os
profissionais de museus. Já Hargreaves subdivide os públicos em três simples categorias: os
frequentes (pelo menos três visitas/ano), os ocasionais (duas ou menos visitas/ano) e os não
participantes.

Hargreaves estabelece ainda seis parâmetros que devem ser considerados para cativar e manter
esses mesmos públicos. Segundo este pensador, são estes os motivos que levam um adulto a
visitar um museu, sendo eles: a interacção social, ir ao museu para estar / conviver com as
pessoas; para fazer qualquer coisa que “valha a pena”; para se sentir confortável; para ter uma
nova experiência / desafio; para ter a oportunidade de aprender algo novo ou, simplesmente, por
participação activa; acrescenta ainda que se resolveriam muitos problemas de audiência “ se
reconhecêssemos que os participantes ocasionais e os não participantes procuram experiências e

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recompensas diferentes daquelas que actualmente encontram nos museus. Se os queremos a


adorar museus, temos de lhes oferecer alguns dos valores que para eles são importantes, em
programas que vão de encontro com algumas das suas necessidades, enquanto se continua a
providenciar o que os visitantes frequentes já acham satisfatório e recompensador”21.

Igualmente, na sua perspectiva, existem, grupos sub-representados, encontrando-se em primeiro


lugar, de forma destacada, o grupo constituído pelas pessoas com deficiência. Tal como refere, it
is impossible to underestimate the importance of addressing the needs of people with disabilities as
part of mainstream gallery position (Hooper-Greenhill, 1997:191), seguidas pelos jovens entre os
13 e os 23 anos, os negros e minorias étnicas e, por último, os grupos familiares, idosos, mulheres
e estudantes (Hooper-Greenhill, 1997).

Os museus têm um importante papel para a “união” social promovendo o aumento da auto-estima,
tanto a nível individual como colectivo, enquadrando os seus visitantes enquanto membros de uma
sociedade. No entanto, para isso, necessitam obrigatoriamente de se envolver com os públicos
que pretendem alcançar, precisam de entender os seus objectivos e aspirações, criando práticas
culturais inclusivas. Se assim não for, correm sérios riscos de se converterem socialmente em
locais “negativos”, ajudando, desta forma, à promoção da marginalização. Apesar da alteração de
atitudes em relação ao papel social e às responsabilidades que os museus devem ter, muitos
museus continuam a manter uma actividade centrada nas suas colecções, na gestão e criação das
mesmas. Essa atitude pode e deve ser mantida, no entanto, é imprescindível que o museu
mantenha um “pé no passado”, mas consiga, igualmente, colocar um “olho no futuro”.22

Os museus têm a responsabilidade social de atrair audiências, qualquer que seja o seu
background, no entanto, muitos profissionais de museus não estão bem cientes do significado que
acopla a diversidade cultural e dos desafios e oportunidades que estas diversidades podem trazer
aos museus (Dodd e Sandell, 2001:103).

Tal como se referiu, os museus para além do papel educativo e cultural têm ainda uma grande
responsabilidade social, devendo ser completamente integradores para que os visitantes com
deficiência possam usufruir ao máximo da exposição e da sua interpretação. Desde muito cedo
que o Disability Discrimination Act (DDA), proibiu a prestação de qualquer serviço que fuja da
razoabilidade na dificuldade do seu uso. “Museums, as service providers, must therefore take
reasonable steps to change any policy, practice, procedure or physical layout which makes it
impossible or difficult for a disabled person to use the service, and must provide auxiliary aids to
make the service easier to use” (Nolan, 1997:1).

21
Tradução de um excerto do artigo “Devoloping new audiences at the Nacional Portrait Gallery – London” de
Roger Hargreaves referente a Staying away: why people choose not to visit museums the M. Hood.
22
Tradução das expressões utilizadas em Dodd e Sandell, (2001:83).

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Da mesma forma, a preocupação pela inclusão deve abranger vários sectores e não apenas as
barreiras físicas. Estas são fundamentais mas não são as únicas que podem levar ao afastamento
de públicos. E, também, devem ser considerados todos os tipos de deficiência, e não, apenas, a
“tradicional” cadeira-de-rodas, ainda que exista a deficiência física, esta não implica
obrigatoriamente que seja referente aos membros inferiores.

A deficiência é muito mais abrangente do que tradicionalmente se considera, quando se encara a


eliminação de barreiras e a inclusão de públicos com necessidades especiais. As barreiras de
comunicação são tão frustrantes como as físicas, já para não se falar nas barreiras sociais e de
preconceitos.

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3.3.Museus Inclusivos Contra a Exclusão Social

Vivemos numa época em que, diariamente, somos confrontados com o ritmo


acelerado de transformações sociais que fazem mudar, de modo por vezes quase
imperceptível, os comportamentos, as mentalidades e as próprias necessidades dos
agentes e das instituições (Ruivo, 2002:13)

Segundo o Instituto Português de Museus (IPM) apenas 20 dos


120 museus portugueses "têm projectos em curso" para pessoas
com deficiência, tais como exposições complementadas com
audioguias, textos escritos em Braille, instalações com rampas ou
elevadores e materiais pedagógicos específicos.

Como já referido, apesar da existência de uma vasta legislação e


um enquadramento jurídico que apoia a inclusão, na verdade, os
direitos praticados pelas instituições nem sempre obedecem às
normas. Tal como refere Ruivo, o direito realmente praticado num
processo-acção leva muitas vezes as instituições a obedecerem a

sistemas contraditórios de ordem e poder. Até, porque, as instituições


Imagem 1 – [©SS-2007]
tendem a actuar sob sistemas que pretendem atrair audiências
enquanto as Instituições Particulares de Solidariedade Social
(IPSS’s) ficam com a responsabilidade do combate à exclusão
social.

Tal como refere Caroline Lang (Dodd e Sandell, 2001),


Museums and galleries have a significant role to play in
promoting social inclusion. A inclusão / exclusão social são
conceitos relativamente recentes, a sua origem remonta à
década de setenta do século XX, aquando o seu uso em França,
para nomear aqueles que não estavam contemplados na
Segurança Social, desde aí, o conceito tem vindo a alargar-se e
Imagem 2 – [©SS-2007]
a integrar-se nas várias áreas (social, política, cultural, etc.),
significando a desvantagem e desigualdade e acomodando-se a

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outros conceitos, como a marginalização, pobreza23, etc.


Simultaneamente, a sua aplicação vulgarizou-se e expandiu-se,
ainda que mantenha características estáticas nas várias
aplicações do termo (Dodd e Sandell, 2001).

A exclusão social encontra-se intimamente ligada a uma série


de elementos, características que normalmente se combinam,
como sendo o desemprego, marginalidade, más condições de
vida, pobreza e problemas de saúde. Numa aplicação mais
direccionada, a nível individual ou de grupo, indica o não Imagem 3 – [©SS-2007]

acesso a bens, direitos ou serviços, nos diversos aspectos


vivenciais, adquirindo uma dimensão cruzada a nível
económico, social, politico e cultural.

Parafraseando Dodd e Sandell (2001:14), when the new elite says we must tackle social exclusion
such a statement could mean a lot of different things. “Social exclusion” sound like a nasty thing
because of its vague association with poverty and deprivation. However, like most key terms in the
language of the new elite, “social exclusion” is a radically subjective concept. Anybody can be
socially excluded if they feel that way, or what is more often the case, if the new elite thinks they
should feel that way. Na prática, os museus enfrentam dificuldades em adaptar as suas colecções
a públicos diversificados e se não o fizerem serão acusados de sobrevalorizar as colecções em
detrimento das pessoas. Contudo, social exclusion is about the inability of our society to keep all
groups and individuals within the reach of what we expect as a society. It is about the tendency to
push vulnerable and difficult individuals into the least popular places, furthest away from our
common aspirations (Dodd e Sandell, 2001:103).

Ao longo dos últimos anos, os museus têm dilatado esforços de forma a alcançar novos públicos
que possam usufruir de práticas inclusivas, tornando-se centrais, assumindo o seu importante
papel na promoção sócio-cultural. A única forma de servirem a sociedade em que se inserem,
através da educação, informação, promoção da criatividade, alargamento de horizontes e
promoção de novas visões sociais e culturais, é desafiando os estereótipos e combatendo a
intolerância. Desta forma, têm de se alterar as agendas museais e, sobretudo, a forma de
conceber os projectos e os programas educativos. Alterar filosofias, valores, objectivos e práticas é
indispensável para que as audiências aumentem e a comunidade se envolva com o museu. Da

23
Walker cruza a definição de exclusão social com pobreza: Whereas poverty is concerned with a lack of
material ressources, especially income, necessary to participate in British society, social exclusion is a more
comprehensive formulation which refers to the dynamic process of being shut out, fully or partially, from any of
the social, economic, political and cultural systems which determine the social integration of a person in
society (Dodd e Sandell, 2001:9).

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mesma forma, é indispensável a eliminação de barreiras, sejam elas, físicas, intelectuais,


emocionais, financeiras ou culturais.

Muitos museus têm sofrido pressões sociais no sentido de alterarem os seus comportamentos,
através da criação de projectos inclusivos. Em paralelo, são convidados a “prestar contas” sobre o
que têm feito, ou estão a fazer, em prol desse objectivo. No entanto, essa pressão leva a que não
se proceda da forma mais correcta, provocando a inaplicabilidade e o desânimo por parte das
audiências e dos próprios profissionais. Um dos motivos prende-se com a pluralidade do conceito
de inclusão. Enquanto uns associam a inclusão a deficientes, outros, associá-lo-ão a (outros)
públicos marginalizados, como estrangeiros, grupos étnicos, grupos de estratos económicos
baixos, ou até mesmo, por exemplo, aos horários ou preços aplicados. No meio de toda esta
panóplia de interpretações, os museus procuram alcançar os grupos sub representados no seu
conceito de visitante-tipo, procurando eliminar todos os obstáculos (sociais, económicos, físicos,
intelectuais e emocionais), de forma a alcançar o número máximo de audiências.
Mas, tal como refere Richard Sandell, em todos os assuntos controversos, há sempre um outro
lado a considerar As queixas são várias e diversificadas. Estas vão desde o desvio dos museus do
seu propósito e objectivos, que vêem, através da inclusão social, as suas responsabilidades
subvertidas a favor de fins políticos e governamentais, colocando as suas colecções em risco de
danos e destruição precoce, atribuindo, aos conservadores, a missão, não de preservar, mas de
cativar público, à impossibilidade de contemplação das exposições com a frequente perturbação
da inclusão de todos os públicos. A estas críticas a resposta não pode ser outra se não a de que o
museu se deve preocupar com as necessidades dos seus visitantes e tentar colmatar as falhas
que levam os não visitantes a não verem relevância nestas instituições (Dodd e Sandell, 2001).

As alterações culturais e demográficas obrigam a criação de “boas práticas” museológicas. Ao


longo dos anos, os museus foram adquirindo, para além da preservação cultural, valores de
educação, turismo e lazer. Agora, torna-se necessário trabalhar as suas perspectivas a nível de
discriminação e desigualdade social, em proveito da inclusão de todos os públicos. Obviamente,
não serão os museus a trabalhar em contextos políticos e governamentais, na diminuição de
padrões sociais, como a pobreza e o crime, mas podem ajudar no aumento de auto-estima e de
confiança pessoal, bem como no sentimento de identificação e de pertença, respondendo, desta
forma, às questões da desigualdade, injustiça e discriminação.

A relação convencional entre os museus e os seus públicos está a mudar. O tradicional modelo de
museu, o museu elitista e autoritário, está cada vez mais instável e em vias de extinção.
Actualmente, os museus vêem-se num universo mais lato e vasto, reconhecendo o seu valor e
potencial na alteração de conceitos e valores anteriormente encarados como irrelevantes. As
novas relações público / museus baseiam-se na participação activa e na partilha da tomada de
decisões por parte das audiências (Dodd e Sandell, 2001:76).

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Ao falar de exclusão museológica, e dada a diversidade do tema, não se poderia deixar de


referenciar os museus do interior, aqueles que ficam fora dos circuitos urbanos e que acabam eles
próprios por se sentirem marginalizados face à inclusão cultural. Caberá, desta forma, às Câmaras
Municipais, constituírem-se como actor aglutinante ou dinamizador de iniciativas locais que
promovam a inclusão social e cultural. O sentimento de impotência em termos interventivos deve-
se, normalmente, ao desconhecimento de como actuar, não só face à diversidade, como também á
grande extensão de fenómenos de exclusão de origem local que acaba por conduzir à falta de
motivação para combater a exclusão.

Há e haverá sempre factores que podem funcionar como obstáculos a uma participação total e
eficaz, vindos, muitas vezes, por parte dos indivíduos. Estes, ao invés de terem um envolvimento
intensivo e dinâmico, optam por uma atitude passiva e pouco encorajadora. O envolvimento do
público-alvo que se pretende atingir é fundamental mas, para isso, é, igualmente, necessária uma
conjugação de esforços por parte de todos os agentes e actores, bem como o funcionamento de
serviços indispensáveis, o incentivo à participação e a criação de condições necessárias.

3.3.1. Inclusão Versus Conservação?

Quando se pensa no conceito de alguém com a função de conservador, não é inusitado vir à
mente a imagem de um indivíduo envergando uma bata branca, rodeado de compostos químicos e
estojo de instrumentação, o qual emprega uma terminologia complexa e por vezes inacessível nos
diálogos que estabelece com os utentes das instalações afectas ao museu. Esta forma de encarar
a pessoa do conservador e a filosofia do “Não Tocar”, adoptada pelos museus, é referida por
Richard Sandell, como se pode comprovar pela leitura do excerto abaixo transcrito:

The principal ethic that governs and drives the conservator is to protect and preserve,
inevitably resulting in a Dont’t Touch philosophy that can be readily perceived as negative
anda t odds with the desire to view, use and enjoy the objects and artefacts held in
museums. The process of conserving an object is usually carried out behind closed doors by
a few individuals who will develop an intimate knowledge of the object and any consultation
regarding the extent and nature of the conservation process is usually limited to the curator.
(Dodd e Sandell, 2001:89).

A criação de museus tem como objectivo tornar acessível alguns aspectos culturais ao público em
geral, no entanto, o conceito de o museu para todos e com colecções tácteis vai contra o objectivo
primordial dos profissionais de museologia, o qual se traduz na conservação dos objectos
expostos. Será que se deverá criar réplicas para serem tacteadas? Haverá peças sacrificáveis?

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Como manusear? Que posição tomar em relação às reservas abertas? Eis algumas das questões
com as quais os profissionais de museologia se debatem.

O contacto directo do público com o objecto, o qual não é possível quando o mesmo se encontra
num ambiente de vitrina, leva o conservador, de forma automática, a colocar questões sobre a
protecção e preservação do objecto a ser manuseado.

Sob o ponto de vista dos objectos é de ressaltar que estes necessitam de condições adequadas de
humidade relativa, de temperatura, de luminosidade, de acondicionamento, de manuseamento, de
limpeza e de restauro, condições essas que têm de ser respeitadas mas as quais serão violadas
através da permissão de interacção com o público. Por outro lado, os críticos que tomam o lugar
oposto, justificam a sua tomada de posição, argumentando que são as pessoas que têm
necessidades e não os objectos (Dood e Sandell, 2001: 91). Aqui talvez a solução resida no
respeito mútuo. Se o público for ensinado a manusear as peças, e alertado para a importância das
boas práticas para a perpetuação das mesmas ou, pelo menos, para o aumento da durabilidade
dos objectos, poder-se-á chegar a um consenso que apoie ambas as posições. Da mesma forma,
os museus devem estar mais atentos às vontades e desejos das possíveis audiências. Também
aqui as audiências desempenham um papel importante, na medida em que têm de ser flexíveis na
sua aproximação aos objectos. Deste modo, tornar-se-á possível responder às suas necessidades.

No entanto, há sempre excepções que têm de ser ponderadas. Por exemplo, no caso dos cegos,
colocar-lhes a obrigatoriedade do uso de luvas, aquando do manuseamento de alguns objectos, é
sinónimo de vedar-lhes, novamente, a possibilidade de “ver” ditos objectos, dado que a
sensibilidade táctil poderá ser condicionada e alterada, se não mesmo, impossibilitada, em alguns
casos.

As decisões nem sempre se apresentam como fáceis e os problemas, por vezes, são de (quase)
impossível resolução. Torna-se necessária a existência de um meio-termo, um cruzamento de
possibilidades, dadas as características específicas das questões que se colocam. Por vezes, as
peças podem ser sacrificadas mas também terão de ser respeitadas todas aquelas que dadas as
suas condições particulares não poderão obedecer a critérios tácteis.

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CAPÍTULO 4

ASPECTOS LEGISLATIVOS

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4.1. Breve Análise Legislativa Geral

1 - Os cidadãos física ou mentalmente deficientes gozam plenamente dos direitos e


estão sujeitos aos deveres consignados na Constituição, com ressalva do exercício ou
do cumprimento daqueles para os quais se encontrem incapacitados.
2 - O Estado obriga-se a realizar uma política nacional de prevenção e de tratamento,
reabilitação e integração de deficientes, a desenvolver uma pedagogia que sensibilize
a sociedade quanto aos deveres de respeito e solidariedade para com eles e a
assumir o encargo da efectiva realização dos seus direitos, sem prejuízo dos direitos
e deveres dos pais e tutores.
3 - O Estado apoia as associações de deficientes.
Artigo 71º da Constituição Portuguesa

A responsabilidade social de todos os cidadãos na promoção e implementação de medidas


inclusivas, faz parte do conhecimento e do senso comum. No entanto, é importante acautelar as
informações à luz de análises legislativas válidas. Nesse contexto, realizou-se uma consulta
cuidadosa da informação seleccionada, que sublinha a importância de promover uma cultura de
não-descriminação, reafirmando o direito dos cidadãos. O objectivo primordial que se pretende
alcançar com a legislação direccionada ao tema é, para além do já enunciado direito à igualdade, é
o de alertar as instituições para a criação de condições necessárias para que estas considerem as
pessoas com deficiência como plenos cidadãos, com capacidade económica na área cultural. As
estatísticas mostram que a percentagem da população que pode ser incluída no âmbito da
deficiência, não se enquadra numa pequena categoria e não está, de forma alguma, ligada à perda
do papel a desempenhar na sociedade.

As leis não pretendem ser sugestões. Têm de ser aplicadas e fiscalizadas. É igualmente
fundamental que sejam feitas acções de sensibilização para a necessidade do cumprimento da lei.
É necessário eliminar os comportamentos discriminatórios em relação a cidadãos com deficiência.
Há normas e orientações europeias específicas que enunciam o acolhimento de uma pessoa
deficiente como um dever do operador turístico.

Existem ainda muitas pessoas com deficiência que vivem numa condição de
isolamento parcial ou total. A afirmação do direito aos tempos livres para todas as
pessoas com deficiência passa pela promoção e pelo apoio dos serviços dedicados à
integração das pessoas com deficiência que estão ainda excluídas das actividades de
tempos livres. Estes serviços devem disponibilizar actividades que envolvam não só
os operadores turísticos, mas também o resto da população. Particularmente
preocupante é a situação das pessoas com deficiência mental média-profunda, cuja

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vida está cada vez mais circunscrita às suas famílias ou a instituições especializadas.
Por vezes, esta situação parece ser justificada por situações objectivas sem solução
possível. É necessário sublinhar que, actualmente, o direito aos tempos livres é um
direito universal que não pode ser negado consoante o grau de deficiência. A
experiência demonstra que, através de iniciativas e serviços específicos, muitas
pessoas com deficiência mental podem viver a dimensão do divertimento, da
recreação e do enriquecimento cultural em ambientes integrados. Estas experiências
devem ser divulgadas de modo a contrapor aqueles que consideram inúteis os
esforços e os investimentos para proporcionar a igualdade de oportunidades a estes
cidadãos (LPDM, 2002:40).

Antes de se passar à legislação sobre direitos de pessoas com necessidades especiais, importa
demonstrar que não só esta área sofreu evoluções. A própria designação atribuída para identificar
pessoas com deficiência sofreu mutações que acompanharam a criação de normas e leis.
Inicialmente, foi empregue o termo “inválido” aplicável a pessoas ditas socialmente inúteis. A partir
de 1960, surgiu o termo “incapacitado”, aquando da identificação de alguém que não era “capaz”.
Apesar do reconhecimento de capacidades residuais, a deficiência era encarada como factor de
redução de capacidades. Entre 1960 e 1980, surgem vários termos como, por exemplo,
“defeituosos”, “deficientes” e “excepcionais” para nomear pessoas com deformidade, com
deficiência e com deficiência intelectual, respectivamente. O termo “pessoas deficientes” foi
empregue em 1980, na Classificação Internacional de Impedimentos, Deficiências e
Incapacidades, da Organização Mundial de Saúde (OMS), tendo prevalecido até cerca de 1988,
altura em que a deficiência se assume como um detalhe de determinada pessoa. As então
chamadas “pessoas portadoras de deficiência”, acabam por lhes ver imputada uma característica.
No entanto, desde 1990 que se tem disseminado o termo “pessoas com necessidades especiais”,
sendo este o termo utilizado actualmente.

4.1.1. Evolução Legislativa

Apesar dos direitos gerais de todos os cidadãos estarem contemplados desde 1948, na
Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas24, apenas a partir de 1970 é que
começou a haver uma maior sensibilização relativa às perspectivas sociais da deficiência, através
do apelo aos vários direitos (direito à dignidade, ao trabalho, à segurança económica, à saúde e ao

24
Artigo XXII – Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo
esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado,
dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua
personalidade.
Artigo XXVII – 1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir
as artes e de participar do processo científico e de seus benefícios.

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lazer). No entanto, apenas na década seguinte, e graças ao envolvimento das Nações Unidas, é
que o tema da deficiência foi internacionalizado.

Em 1975, a Assembleia Geral das Nações Unidas adoptou a Declaração sobre os Direitos das
Pessoas Deficientes. Neste documento, debatiam-se conceitos referentes à igualdade de direitos
civis e políticos. No entanto, durante os anos 80, foram vários os documentos criados na tentativa
de transformar valores associados às pessoas deficientes. O desabrochar deu-se em 1981, com o
Ano Internacional das Pessoas com Deficiência o qual deu origem à resolução 31/123. No ano
seguinte, com o Programa Mundial de Acção relativo às Pessoas Deficientes, foi criada a
resolução 37/52. Ainda em 1980, realizou-se o International Classification of Imparements,
Disabilities, and Handicaps (ICIDH) que reformulou algumas definições associadas à deficiência,
fortemente rejeitadas e criticadas pelas várias ONG’s.

Este documento é consequência de uma discussão levada a cabo, na década de 70, tendo sido
publicado em 1980. Nele emergem três definições centrais, (Martins, 206:99):

Impairment: no contexto da experiência de saúde, imparement é qualquer perda ou


anormalidade psicológica, fisiológica ou anatómica da estrutura ou função.

Disability: no contexto da experiência de saúde, disability é qualquer restrição ou ausência


(resultando de um imparement) da capacidade para realizar uma actividade do modo ou
dentro do âmbito considerado normal para um ser humano.

Handicap: no contexto da experiência de saúde, um handicap é uma desvantagem para um


dado indivíduo, resultando de um imparement ou disability, que limita ou impede o
cumprimento de um papel que é normal (dependendo da idade, sexo, factores sociais e
culturais) para dado indivíduo.

Apesar das críticas, apenas em Maio de 2001 foi aprovado, pela OMS, um novo documento, o
Internacional Classification of Functioning Disability and Health (ICF ou ICIDH-II) cuja nova
definição de deficiência assenta sobre:

A) Funcionamento corporal (funções fisiológicas ou psicológicas) e estrutura (partes


anatómicas)
B) Actividades ao nível individual
C) Participação na sociedade

De 1983 a 1992, foi-se estabelecendo a Década das Nações Unidas para as Pessoas com
Deficiência. Várias foram as transformações introduzidas durante o seu longo caminho rumo à
história. O ponto de viragem da luta pelos dos Direitos Humanos deu-se com a criação de várias

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organizações, de e para pessoas com deficiência. Em 1981 surge a Disabled Peoples’


International (DPI). A participação limitativa das pessoas com deficiência no seu seio, levou a que,
em 1992, fosse criada a Rehabilitation International (RI). A DPI contava com a participação de 135
países e, em 1992, definiu a deficiência como sendo, “primeiro que tudo, uma questão de direitos
humanos” articulando-se, desta forma, com a Declaração Universal dos Direitos do Homem. No
Congresso mundial da DPI, em 2002, estabeleceu-se a Declaração de Sapporo, a qual impunha o
fim da pobreza e da guerra uma vez que, serem estes os factores mais conducentes à deficiência.
Esta declaração procurava ainda a erradicação da discriminação.

Da Declaração para as Nações Unidas para as Pessoas com Deficiência resultou o documento,
aprovado em 1993, intitulado Regras Gerais sobre a Igualdade de Oportunidades para as Pessoas
com Deficiência25. Apesar da sua importância, sentida ainda nos dias de hoje, os estados não
aprovaram a sua vinculação, com receio do incumprimento do mesmo. Como resultado directo
desta decisão, foi fundado o Fórum Europeu da Deficiência, com estatutos jurídicos desde 1996.

No início de 1987, o Comité Coordenador para a Promoção da Acessibilidade Holandês, financiado


pela Comissão Europeia, e com o apoio de peritos dos diversos países europeus, iniciou a criação
de um “Manual Europeu”, com critérios normalizadores da acessibilidade. Esse Manual foi
publicado três anos depois. Contudo, parecia conter demasiadas questões para as quais não havia
concordância europeia. Desta forma, em 1996, é apresentado um novo manual, o “Conceito
Europeu de Acessibilidade”26 (CEA), que, apesar de não ser normativo, é utilizado por vários
países na promoção de acessibilidades.

O CEA foi actualizado e apresentado em Luxemburgo, em Novembro de 2003, ano Europeu das
Pessoas com Deficiência. Aqui afirma-se que os meios físicos criados sob o Conceito Europeu de
Acessibilidade tanto têm de respeitar a identidade do país e os costumes do seu povo, como
também de dar resposta ao progresso social e tecnológico em marcha. Por outras palavras, têm de

25
Atribuiu um enorme desempenho às organizações no artigo 18: Os Estados devem recorrer às
organizações de pessoas com deficiência o direito de representar essas pessoas a nível nacional, regional e
local. Os estados devem reconhecer igualmente o papel consultivo das organizações de pessoas com
deficiência na tomada de decisões sobre assuntos relativos à deficiência (SNR, 1995:37).
26
O Conceito Europeu de Acessibilidade, 1996, foi a resposta a um pedido da Comissão Europeia,
apresentado em 1997. O Conceito assentava nos princípios do desenho universal. Estes princípios aplicam-
se ao design de edifícios, infraestruturas e produtos para consumo.
1. O objectivo traduz-se na disponibilização de meios físicos adequados, seguros, usufruídos por todos
incluindo as pessoas com deficiência.
2. Os princípios de design universal rejeitam a divisão que se faz de pessoas sem e com deficiência.
3. O design universal inclui disposições complementares sempre que necessário.
Esta declaração foi apoiada por todos os membros do grupo directivo presente em Doorn, nos Países
Baixos, em 02 de Março de 1996 (CEA, 2005:14).

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ter em consideração a diversidade da população e os avanços operados nos padrões de qualidade


(CEA, 2005:18).

Em Março de 2002, em Madrid, realizou-se o primeiro Congresso Europeu de Pessoas com


Deficiência. Contou com 600 participantes, provenientes de 34 países europeus, e da sua
realização resultou um documento intitulado A Declaração de Madrid27, procurando uma nova
abordagem da deficiência, diferente das visões individualizadas, medicalizadas e/ou caritárias,
promovendo medidas para o fim da discriminação e para a promoção da integração social. O seu
lema “não discriminação mais acção positiva igual a inclusão social”, tem como ponto de partida o
juízo de que “a deficiência não é uma questão de Direitos Humanos”, não é um atributo de um
indivíduo, mas de uma construção artificial do meio envolvente, largamente imposto pela atitude da
sociedade e pelas limitações do homem. Desta forma, para se praticar a inclusão, torna-se
necessário recorrer a acções sociais, impondo assim uma responsabilidade colectiva à sociedade.

Como foi já referenciado, 2003 foi o Ano Europeu das Pessoas com Deficiência, assinalando a
comemoração dos 10 anos desde a adopção das Regras Gerais criadas pela ONU e tendo como
principal objectivo, efectivar os princípios da não discriminação e da integração das pessoas com
deficiência, tal como consta nos artigos 21º e 26º da Carta dos Direitos Fundamentais da União
Europeia.

Tendo em conta que existem cerca de 37 milhões de deficientes na União Europeia e mais de 500
milhões de deficientes no mundo, 80% dos quais vivem em países em vias de desenvolvimento,
nos últimos 30 anos, as ONG’s, a nível nacional e internacional, impulsionaram transformações
importantíssimas que culminam na caracterização da deficiência como uma forma particular de
opressão fundada em argumentos biológicos.

Os documentos europeus apresentados, apelam aos Estados-membros para que adaptem a sua
legislação, eliminando todas as disposições discriminatórias e adoptando medidas concretas de
apoio a pessoas com deficiência. Como se pode observar, as questões legislativas da
acessibilidade são tão ou mais morosas que as demais (sociais, arquitectónicas). Só quando a
acessibilidade for considerada como uma questão horizontal, com padrões normativos vinculativos
claros, emanados pela Comissão Europeia, e que obriguem a indústria da construção e
empreendimentos afins a aceitarem e a adoptarem os princípios que enformam o design acessível,
se atingirá uma plena harmonia e respeito por todos os cidadãos. Outro dos factores apontados
para a dificuldade de articulação com os órgãos superiores é o facto de, normalmente, as
Instituições, Fundações e Associações tentarem cativar apoios governamentais através de pedidos
isolados. Estas deveriam unir-se num esforço comum de levar o Estado a cumprir as suas
obrigações, permitindo, assim, aumentar as verbas dos subsídios destinados aos cidadãos com
deficiências graves.

27
Vide anexo p. 110.

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De forma a criar um encadeamento legislativo lógico, apresenta-se a seguinte epítome:

Ano Documento
1990 Declaração Mundial sobre Educação para Todos / Unesco
1993 Normas sobre a Equiparação de Oportunidades para Pessoas com Deficiência / ONU
1993 Inclusão Plena e Positiva de Pessoas com Deficiência em Todos os Aspectos da
Sociedade / ONU
1994 Declaração de Salamanca e Linhas de Acção sobre Educação para Necessidades
Especiais / Unesco
1999 Convenção Inter Americana para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra
as Pessoas Portadoras de Deficiência (Convenção da Guatemala) / OEA.
2001 Classificação Internacional de Funcionalidade, Deficiência e Saúde (CIF) / OMS, que
substituiu a Classificação Internacional de Impedimentos, Deficiências e Incapacidades /
OMS, de 1980
2003 Convenção Internacional para Protecção e Promoção dos Direitos e Dignidade das
Pessoas com Deficiência / ONU
2004 Declaração de Montreal sobre Deficiência Intelectual / OMS-Opas

Tabela 5 – Documentos da ONU

Ano Documento
1992 Declaração de Vancouver
Declaração de Santiago
1993 Declaração de Maastricht
Declaração de Manágua.
Carta para o Terceiro Milénio.
1999 Declaração de Washington
Declaração de Pequim.
2000 Declaração de Manchester sobre Educação Inclusiva
Declaração Internacional de Montreal sobre Inclusão
2002 Declaração de Madrid
Declaração de Sapporo
Declaração de Caracas
Declaração de Kochi
2003 Declaração de Quioto
2004 Declaração Mundial sobre Deficiência Intelectual.

Tabela 6 – Documentos de outros organismos mundiais

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O presente capítulo pretende ser uma súmula dos principais aspectos legislativos em torno da
problemática exposta. Tendo em conta os variados documentos legais que poderiam ter sido
mencionados, foram seleccionados aqueles que representavam mais ênfase para o tratamento da
informação pretendida.

Não obstante, poder-se-à recorrer a toda a legislação que contempla, directa ou indirectamente, o
tema, nomeadamente, legislação sobre a abolição de barreiras arquitectónicas e direitos humanos.

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CAPÍTULO 5

CONSIDERAÇÕES FACE À INCLUSÃO

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5.1. Arquitectura Acessível

Para tornar um museu inclusivo, obrigatoriamente, haverá que


repensar o aspecto da acessibilidade28
física. Sem a eliminação das barreiras que impeçam a
mobilidade, é impossível dar as boas-vindas a todos os
visitantes. Ao pensar em acessibilidade, cai-se facilmente no
“lugar-comum” de a associar a pessoas com deficiência, o
qual não está correcto. Como referido anteriormente, qualquer
Imagem 4 – [©SS-2007]
pessoa pode vir a necessitar de condições especiais de
acesso, seja por ser deficiente, criança ou idoso, ou
simplesmente por carregar volumes pesados, estar grávida
ou, ainda, devido a condições físicas de manifesto cansaço.
Uns dos grandes públicos-alvo dos museus são os turistas.
Estes, muitas vezes, sujeitam-se a condições de extremo
cansaço físico, provocado pelo calor e pelas incursões a
vários locais de lazer, em curtos espaços de tempo. Imagem 5 – [©SS-2007]

Outro subgrupo de visitantes com grande projecção nos


museus são os idosos29. Devido ao factor idade, por vezes
não têm robustez física para superar eficazmente todos os
obstáculos arquitectónicos que um Museu lhes poderá
apresentar. Desta forma, é imprescindível que os museus
inclusivos não apresentem barreiras do ponto de vista físico.
Imagem 6 – [©SS-2007]
A ambiguidade das normas, a ineficácia das fiscalizações, a morosidade dos projectos e suas
aprovações são apenas alguns dos graves impedimentos à acessibilidade arquitectónica. Por outro
lado, não se pode permitir a existência de construções que imponham, por exemplo, aos
deficientes, uma segunda entrada, como alternativa à entrada principal. O propósito da inclusão
não é o de tratar as pessoas com mobilidade condicionada de forma diferenciada, como sendo o
estereótipo dos “outros”, os “não normais”. Essas acções negam a sua relação com o mundo,

28
Acessibilidade – Conceito operativo que ajuda a projectar. Segundo a Legislação americana é a capacidade
do meio edificado de assegurar a todos uma igual oportunidade de uso [igualdade de oportunidade para
todos, todos devem ter possibilidade de escolha em usar ou não o meio e o que este oferece] de uma forma
directa, imediata, permanente e o mais autónoma possível.
29
Na Europa 25.9% da população é deficiente ou idoso e com o acelerado envelhecimento da população em
2050, 37% da população será idosa. Em Portugal 1 em cada 15 pessoas é idosa, no total há mais de 2
milhões de idosos. No espaço europeu existem cerca de 50 milhões de deficientes. (Dados fornecidos no
Fórum Arquitectura Acessível, organizados pela Ordem dos Arquitectos – Secção Regional Norte, nos dias
27-29 de Junho de 2007).

Página
51
Acessibilidade em Museus

conduzindo a um isolamento forçado. O aumento da esperança média de vida leva à necessidade


de maior preocupação prática com a questão das acessibilidades arquitectónicas. Os idosos têm
mobilidade condicionada, tal como as grávidas e pessoas com volumes pesados, embora nestes
últimos este seja um condicionamento provisório, sendo permanente no primeiro caso. Outros
factores a considerar são o significativo aumento dos acidentes rodoviários que, cada vez mais,
levam a um aumento de indivíduos com condicionamento de mobilidade, bem como, o número
crescente de pessoas com doenças degenerativas, como a esclerose múltipla.

Em 1 de Julho de 1986, foi criado um despacho conjunto para substituir o DL até aí em vigor e, em
1986, quando se efectivou a adesão de Portugal à Europa, passou-se a ter uma responsabilidade
social mais “controlada”. Foi, então, criado o DL 123/96 que, apesar de toda a divulgação e
discussão em torno dos vários organismos, teve uma enorme dificuldade de aplicabilidade. O
subterfúgio mais utilizado pelos organismos responsáveis para a sua não aplicação foi a “negação”
da existência30 e do direito de acesso total. Todas as desculpas foram possíveis, desde que a
obrigatoriedade da aplicação da lei não surgisse, todas as acções serviam para inviabilizar o
cumprimento da lei – dando origem à chamada “Síndrome do Incumprimento Legitimado”. O DL
163 surge, então, para tentar colmatar as dificuldades de aplicabilidade do anterior, tendo como
missão resolver o problema sem deixar que os lapsos legislativos servissem de impedimento legal
à acessibilidade total31.

As chamadas “minorias urbanas” são tratadas em locais próprios, longe das infraestruturas da
sociedade, vistas de uma perspectiva inactiva e longe do quotidiano social, promovendo outras
formas de exclusão social. Em oposição à sociedade multi-activa, surge uma nova, e cada vez
maior, sociedade geriátrica, com menos elasticidade motora que obrigará, no futuro32, a uma
transformação urbana, traduzindo-se numa cidade adaptada a receber pessoas com mobilidade
condicionada, não só na permissão de acesso mas, também, como necessidade, a longo prazo.

30
Com a expressão “negação da existência” pretendemos referir que os Organismos aos quais se exigia o
cumprimento das normas estipuladas no Decreto-Lei se refugiavam na desculpa que os seus edifícios não
eram frequentados por pessoas com mobilidade reduzida, o que, em parte não deixaria de ser verdade mas
essa não existência de pessoas com mobilidade reduzida nesses espaços dever-se-ia ao facto de não
existirem condições de acesso, a partir do momento em que essas condições fossem facilitadas as pessoas
com mobilidade reduzida poderiam passar a usufruir desses espaços.
31
Entende-se por acessibilidade total a conjugação de elementos construtivos e operativos que permitam
chegar, entrar, orientar, utilizar e comunicar de forma segura, autónoma, cómoda e digna. Desta forma a
acessibilidade total levará à criação de ambientes muito mais ricos.
32
Em 2050 deveram existir cerca de 3.2 milhões de idosos, sendo dobro de idosos do que jovens, isto é, 71
mil idosos para cada 100 adultos activos. (dados fornecidos por Maria Filomena Mónica num congresso sobre
a terceira idade, em Lisboa, Junho de 2007).

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Acessibilidade em Museus

A diversidade e a deficiência não são o problema, mas sim o ambiente, uma vez que o espaço
envolvente não corresponde às necessidades humanas. O uso do espaço público é um direito do
cidadão, assim como o de ter acessibilidade no espaço público. É o direito de cidadania, ao acesso
à informação, às oportunidades, à formação, ao trabalho, às ofertas urbanas...

Os instrumentos de inclusão são imprescindíveis para cerca de 10% da população. Tornando as


infraestruturas 100%acessíveis, não só beneficia o indivíduo com dificuldades de mobilidade como
também todos os demais! Todas as pessoas têm desejos e necessidades e, acima de tudo, o
direito a serem autónomas, quer na via pública, nos edifícios, nos transportes ou nas
comunicações. A arquitectura do século XIX esqueceu-se do Homem, interessando-se mais pelas
formas e ordens. É de ressaltar que a arquitectura não é arte plástica, nem escultura, está
directamente ligada a toda e qualquer pessoa. Uma sociedade que não incluiu todos os seus
membros, é uma sociedade empobrecida.

A acessibilidade vista pela sociedade em geral, de forma negativa e como sendo algo que
pertence exclusivamente a uma minoria da sociedade actual. Não obstante, sempre existiu e existe
para todos, agora importa apenas um grupo restrito de pessoas, o que não é concreto. Porque
consideramos que temos de fazer determinada coisa para um determinado número de pessoas? É
para todos, falar de design inclusivo, eliminação de barreiras, etc., não faz sentido quando se
remete unicamente a sub-grupos sociais, pessoas específicas porque esse conceito remete-se a
todos nós.33 A acessibilidade não é apenas a eliminação de barreiras. É, principalmente, uma
questão de cidadania. O meio físico acessível tem de ser criado de forma a respeitar os princípios
universais da sustentabilidade. Caso contrário, que planeta, que qualidade de vida herdarão os
nossos filhos, netos – gerações futuras? (CEA, 2005:40).

Torna-se ainda necessário destrinçar o conceito de barreiras arquitectónicas. Segundo Cuyás


(2003), são todos os obstáculos, impedimentos físicos que limitam ou impedem a liberdade de
movimento e autonomia das pessoas, e podem-se subdividir em quatro tipos:

Tipo de Barreira Identificação


Barreiras arquitectónicas da São aquelas que se encontram no interior dos edifícios, que se
edificação pública ou privada resolvem mediante a acessibilidade da edificação
Barreiras arquitectónicas São aquelas que se encontram nas vias e espaços livres de
urbanistas uso público, resolvem-se mediante a acessibilidade urbanística
Barreiras arquitectónicas nos São aquelas que se resolvem mediante a acessibilidade nos
transportes transportes

33
Maria Guida de Freitas Faria e Maria José Lorena – Fundação Liga. Fórum Arquitectura Acessível
organizado pela OASRN, nos dias 27-29 de Julho de 2007, no Porto.

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Acessibilidade em Museus

Barreiras de comunicação São todos os impedimentos para a emissão e recepção de


mensagens, resolvem-se mediante a acessibilidade na
comunicação

Tabela 7 – Divisão tipológica de barreiras

5.1.1. Construção da Organização Legislativa Arquitectónica

Uma das primeiras normas legislativas aplicadas à arquitectura acessível foi o RGEU
(Regulamento Geral das Edificações Urbanas), Decreto-Lei n.º38382/51 de 7 de Agosto, a qual,
apesar da sua antiguidade, continua a ser o grande pilar da arquitectura e da construção civil. O
Decreto-Lei 123/97, seu sucessor, apenas previu a obrigatoriedade de, pelo menos, um elevador
acessível nos edifícios e a obrigatoriedade de lugares para deficientes nos parques de
estacionamento.

Percorrendo o Decreto de Lei 123/97 (Normas Técnicas Básicas de Eliminação de Barreiras


Arquitectónicas em Edifícios Públicos, Equipamentos Colectivos e Via Pública), facilmente se
descobrem incumprimentos. O DL-123/97 estabeleceu, como prazo máximo, sete anos para a
eliminação de barreiras arquitectónicas, findos os quais, surgiram as acusações de violação dos
princípios consagrados na Constituição da República Portuguesa, no respeitante aos direitos dos
cidadãos portadores de deficiência.

Em 2006, foi criado um novo Decreto-Lei, o DL 163/200634, tendo como base o antigo DL
123/199735.

DL 123/97 DL 163/06
Cap. 1 Urbanismo Via Pública
Cap. 2 Acesso aos edifícios Edifícios e estabelecimentos
(Engloba o cap. 2 e 3 do DL 123/97)
Cap. 3 Mobilidade Áreas de intervenção (exemplificação
detalhada)
Cap. 4 Áreas de intervenção especifica Percurso acessível
(Cap. Novo)

Tabela 8 – Comparação informativa dos Decretos-Lei 123/97 e 163/06

34
Vide anexo p. 140
35
Vide anexo p. 130

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Acessibilidade em Museus

O DL 163/06 substituiu o DL 123/97, ficando a cargo do primeiro a representação da legislação


portuguesa em vigor. Mais uma vez, foram estabelecidos prazos legais e metas a cumprir.
Todavia, espera-se que o seu cumprimento parta de pressupostos humanos necessários à
obtenção de acessibilidade em todos os locais, sejam eles públicos e/ou privados, e que as suas
lacunas não sirvam de motivação para o incumprimento.

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Acessibilidade em Museus

5.2. Design Inclusivo

As questões da acessibilidade estão ligadas ao desenho universal e à ergonomia. O


desenho universal tende a ser naturalmente inclusivo, favorecendo a biodiversidade
humana natural e contribuindo para uma melhoria da qualidade de vida para todos
(Actas, 2005:31).

No século XXI, as exigências dos visitantes dos museus obrigam à sua constante actualização,
tanto na área educacional como de entretenimento. As características “multimodais” das diversas
audiências desafiam os museus e, em particular, os seus profissionais, a corresponder às suas
necessidades e expectativas. Atendendo à pretensão de ser um museu aberto a todos os
cidadãos, será indispensável o recurso aos princípios do Desenho Universal36.

O conceito de Design Universal37 é entendido como sendo a intervenção no meio físico, produtos e
serviços, permitindo a participação de todos os cidadãos, independentemente da sua idade, sexo,
aptidões e antecedentes culturais. É, igualmente, entendido como sendo uma filosofia e estratégia
de planeamento, cujo objectivo é o acesso universal, tendo no seu suporte bases de
sustentabilidade, isto é, um ambiente físico favorável a todos os cidadãos.

Na acessibilidade arquitectónica / física é imprescindível que o meio físico edificado permita que
todos os indivíduos se desenvolvam como cidadãos com direitos iguais. Desta forma, o conceito
de design universal tem de ter, obrigatoriamente, em consideração a diversidade populacional e a
necessidade de autonomia e independência de cada pessoa. Todos devem aceder à cultura, aos
espaços, aos edifícios, às comunicações, aos serviços, à economia e à participação. Desta forma,
e segundo o Conceito Europeu de Acessibilidade / 2003 (CEA, 2005:20-21), um meio físico

36
The seven guiding principles of Universal Design (equitable for use, flexibility in use, simple and intuitive
operating instructions, perceptible information, tolerance of error, low physical effort and adequate space for
approach, reach, and comfort) can and should be implemented across all areas of the 21st century museum.
In website design as much as in ramps, we have the tools, we have the mandate. (LEONARD, 1999:29).
37
No design e na construção pormenorizada de edifícios, devem ser totalmente exploradas as oportunidades
que têm como ponto de partida a “sraight line” e o “right angle”. Os espaços internos de uma construção
devem ser concebidos ou modificados à escala do homem; os utentes devem ter uma percepção fácil de toda
a planificação, esquematização e dependências do edifício e deve ser globalmente providenciada uma pronta
ligação com o exterior. Os espaços exteriores ao edifico devem ser adequadamente por forma a que o utente
se oriente neles sem dificuldade. Os de circulação devem ser bem iluminados e concebidos de modo a
incentivar positivamente a interacção social. Um bom design arquitectural e boas sugestões sensoriais de
compreensão imediata, devem ser adoptadas de preferência à sinalética. Deve clausular-se de forma
adequada para que as pessoas possam personalizar os respectivos espaços educacionais/vivenciais/laborais
e controlar o enquadramento ambiental no âmbito de outros espaços físicos. (CEA,2005:35).

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Acessibilidade em Museus

acessível tem de obedecer a determinados parâmetros, de forma a atingir o máximo da sua


função.

Respeitador Deve respeitar a diversidade dos utilizadores. Ninguém deve sentir-se


marginalizado, a todos deve ser facilitado o acesso
Seguro Deve ser isento de riscos para todos os utilizadores. Assim, todos os elementos
que integram o meio físico têm de ser dotados de segurança
Saudável Não deve constituir-se, em si, um risco para a saúde
Funcional Deve ser desenhado e concebido de tal modo que funcione de forma a atingir os
fins para que foi criado, sem problemas ou dificuldades
Todos os utilizadores devem saber orientar-se sem dificuldade num dado
Compreensível espaço e, por conseguinte, é fundamental uma informação clara (utilização de
símbolos comuns a vários países, evitando as palavras ou abreviaturas da
língua local). A disposição dos espaços deve ser coerente e funcional
Estético O resultado deve ser esteticamente agradável

Tabela 9 – Parâmetros para um meio físico acessível

Acatando estes indicadores será possível um acesso sem restrições e respeitador da diversidade
humana. Com a exposição feita, facilmente, se constata que as bases da arquitectura fundadas no
triangulo vitruviano: firmitas, venuastas e utilitas continuam actuais e se aplicadas, conduzirão as
parâmetros necessários para se alcançar uma construção acessível.

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Acessibilidade em Museus

5.3. As (Novas) Tecnologias de Informação

O termo “novas tecnologias” refere-se, igualmente, ao desenvolvimento cada vez mais


acelerado de novos produtos, sistemas e serviços que assentam na aplicação de
tecnologias por vezes altamente complexas. Abrange a tecnologia no que concerne o
consumidor com base nos princípios que norteiam o design para todos, tecnologia-e-
serviços-para-todos como parte integrante da Infraestrutura tecnológica, tecnologia
utilizada na acessibilidade física dos edifícios e no meio edificado e, obviamente, a
tecnologia de apoio, (CEA, 2005:81-82).

A necessidade de mudança começa a tornar-se inadiável. Primeiramente, os museus Portugueses


devem começar pelas alterações exteriores, pelos acessos – os transportes públicos devem ser
todos acessíveis, assim como a via pública e o espaço circundante. Dentro do museu, devem
existir equipamentos que facilitem a mobilidade, tais como elevadores ou plataformas elevatórias.
Igualmente importantes são as orientações, em relevo, colocadas no chão, para pessoas invisuais,
bem como informações escritas em Braille. Verifica-se que é no combate à exclusão que as novas
tecnologias podem ser uma grande mais valia. Exemplos disso são os audioguias, os quais
permitem visitas explicadas e autónomas, com o tempo e ritmo gerido pelo próprio utilizador.

No mundo informático, a construção de software de acessibilidade, para permitir uma perfeita


utilização do computador e uma fácil navegação na Internet, adquire cada vez maior importância.
Os sites, por sua vez, terão de aumentar quantitativa e qualitativamente. Deve-se recorrer, sempre
que possível, aos validadores de Web, que facilitem a construção de páginas acessíveis, uma vez
que, as tecnologias de informação (hardware e software) são muitas vezes desenhadas,
esquecendo a diversidade de possibilidades de acesso que vários utilizadores apresentam. De
facto, muitas pessoas apresentam dificuldades de utilização do teclado, do rato, do ecrã, devido a
tetraplegia, problemas no controlo efectivo das mãos, perda dos membros superiores, paralisia
cerebral, cegueira ou baixa visão (ACTAS, 2005:335)

As tecnologias da informação invadiram de tal forma o quotidiano dos cidadãos que se torna,
praticamente, impensável uma sobrevivência actual sem elas. Apesar de, muitas vezes, estas já
não tão novas tecnologias serem encaradas como inacessíveis, a verdade constatada é que
podem ser uma grande aliada de todos os cidadãos com necessidades especiais, tendo,
inclusivamente, um grande impacto na qualidade de vida das pessoas com deficiência.

Um comité de peritos criado pelo Conselho da Europa (P-RR-NTH), preparou o projecto de


Resolução sobre a política, a apresentar ao Conselho da Europa. O Comité de Ministros do
Conselho da Europa adoptou a Resolução ResAP (2003) na sua reunião de 24 de Outubro de
2001. O Comité de peritos coligiu dados provenientes dos Estados Membros que integram o

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Acessibilidade em Museus

Acordo Parcial no Campo Social e da Saúde Pública do Conselho da Europa, de Organizações


Europeias Internacionais Não-Governamentais, entre outras organizações, utilizando diversos
meios e num período que se entendeu desde meados de 1998 até princípios de 200138.

Este relatório fornece a descrição dos pontos principais, tais como, os referentes à Qualidade de
Vida.

Considera, igualmente, os diferentes tipos de incapacidades, como as deficiências funcionais e as


estruturas do corpo, condicionamento e restrições da actividade e problemas decorrentes da
participação na sociedade. Isto significa, por exemplo, que tanto abarca as deficiências físicas e
sensoriais, como as referentes às dificuldades e consequentes limitações da aprendizagem,
incapacidade mental e condicionamentos da participação na comunidade devido a factores
pessoais e ambientais.

As conclusões deste relatório mostram que as novas tecnologias podem ajudar a melhorar a
qualidade de vida das pessoas com deficiência. Contudo, há necessidade de se estabelecer um
conjunto coerente de acções com o propósito de evitar que as novas tecnologias sejam
simplesmente sinónimo de novas barreiras a grupos de risco. Com vista a conseguir-se uma
sociedade para todos, esta extensa gama de medidas tem de ser considerada com seriedade para
se evitar o isolamento profundo, (CEA, 2005:81-82).

A tecnologia tem um papel cada vez preponderante na melhoria de condições de acessibilidade e


de autonomia pessoal. Porém, é importante salientar que a tecnologia, tal como a arquitectura, são
complementárias e não substitutivas, (Cuyás, 2003:31).

Desde 1980 que o Instituto Português dos Museus (IPM) tem vindo a assegurar a presença da
internet nos museus, melhorando as condições de acessibilidade, definidas na segunda fase do
projecto “Sítios Web autónomos do IPM”, nomeadamente durante a criação e desenvolvimento de
uma plataforma de gestão.

Para que melhor se perceba o âmbito da acessibilidade, no que respeita as tecnologias de


informação, dão-se os seguintes indicadores:

38
Estes documentos, o relatório e a Resolução ResAP(2001)3 podem ser solicitados ao Conselho da Europa
(O Impacto das novas tecnologias na qualidade de vida das pessoas com deficiência, elaborado por Theo
Bougie, e a Resolução ResAP (2001)3, aprovada pelo CD-P-RR na sua 24ª sessão, em Haia, datada de 26-
29 de Junho de 2001).

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Acessibilidade em Museus

Leitores (ReadSpeakers)

Estes leitores podem ser disponibilizados em qualquer página de Internet favorecendo a sua
utilização por pessoas com capacidades sensoriais diminutas, sem que, apresente obstáculo à
aquisição de informação.

World Wide Web Consortium


Directrizes39 que pretendem dar a conhecerem algumas recomendações e normas
a seguir para tornar os sites de internet acessíveis a todos, publicados na Web

39
O principal objectivo destas directrizes é promover a acessibilidade. No entanto, a sua utilização fará
também com que os sites da Web e todo o seu conteúdo se tornem de mais fácil acesso para todos,
independentemente dos respectivos agentes dos usuários utilizados: navegadores comuns, navegadores por
voz, celulares, PCs de automóveis, leitores de ecrã, ampliadores de ecrã, em qualquer que seja a limitação
associada. Além disso, a respectiva utilização destas directrizes irá ainda ajudar as pessoas a encontrarem
informações na Web mais rapidamente. Estas directrizes não visam de modo algum restringir a utilização de
imagem, vídeo, etc., por parte dos produtores de conteúdo; antes explicam como tornar o conteúdo
multimédia mais acessível a um público mais vasto. (…) Muita gente não faz ideia do que é, nem que
importância possa ter, a temática da acessibilidade associada ao desenvolvimento de páginas para a Web.
Pede-se, pois, ao leitor que pense que há muitos usuários que actuam em contextos muito diferentes do seu.
Referimo-nos a usuários que podem estar numa das seguintes situações:
- Não ter a capacidade de ver, ouvir ou deslocar-se, ou que podem ter grandes dificuldades, quando não
mesmo a impossibilidade, de interpretar determinados tipos de informações;
- Não ter um teclado ou rato, ou não ser capazes de os utilizar;
- Ter um navegador que apenas apresenta texto, um monitor de dimensões reduzidas ou uma ligação à
Internet muito lenta;
- Não falar ou compreender fluentemente a língua em que o conteúdo da página foi escrito;
- Ter os olhos, os ouvidos ou as mãos ocupados ou de outra forma solicitados (por ex.: ao volante a caminho
do emprego ou ao trabalhar num ambiente barulhento);
- Ter uma versão muito antiga de um navegador, um navegador completamente diferente dos habituais, um
navegador por voz, ou um sistema operacional menos vulgarizado.
Os criadores de conteúdo têm de levar em conta estas diferentes situações ao conceberem uma página para
a Web. Embora haja uma multiplicidade de situações, cada projecto de página, para verdadeiramente
potencializar a acessibilidade, tem de dar resposta a vários grupos de incapacidades ou deficiências em
simultâneo e, por extensão, ao universo dos usuários da Web. In Web Contents Accessibility Guidelines 1.0 -
Diretrizes para a Acessibilidade dos Conteúdo da Web - 1.0 (www.utad.pt/wai/wai-pageauth.html), acesso a
15 de Novembro de 2008.

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Acessibilidade em Museus

Content Guidelines (WCAG) 2.0.


De forma a estabelecer vários parâmetros de acessibilidade foram estabelecidos três logótipos
diferentes:
Se os conteúdos avaliados estão em conformidade com TODOS os pontos de
verificação aplicáveis de prioridade 1, isso significa que os mesmos se
encontram em conformidade com o nível 'A' das WCAG 1.0.
Se os conteúdos avaliados estão em conformidade com TODOS os pontos de
verificação aplicáveis de prioridade 1 e 2, isso significa que os mesmos se
encontram em conformidade com o nível 'Duplo-A' das WCAG 1.0.
Se os conteúdos avaliados estão em conformidade com TODOS os pontos de
verificação aplicáveis de prioridade 1, 2 e 3, isso significa que os mesmos se
encontram em conformidade com o nível 'Triplo-A' das WCAG 1.0.

Símbolo identificativo de site acessível


Normalmente é o símbolo gráfico mais utilizado nos sites considerados
acessíveis, em Portugal.

A legislação vigente prevê igualmente, a utilização de equipamentos dotados de visor (Decreto-Lei


n.º 349/93 de 1 de Outubro de 1993, a Directiva n.º 90/270/CEE, do Conselho, de 29 de Maio, e,
também, a Portaria n.º 989/93 sobre as normas técnicas e características de ergonomia e
usabilidade do software). Todavia, estas leis têm já quinze anos e encontram-se desactualizadas
face à legislação de outros países, sendo exemplos disso a Lei da Reabilitação dos Estados
Unidos da América, datada de 2001, ou, mais recente, a Lei sobre Promoção do Acesso às
Tecnologias de Informação para Deficientes, de 2004, em Itália. Desde 1998, com a promulgação
da lei americana de acessibilidade, a Section 508: the road to accessibility, as grandes empresas
de software começaram a investir em acessibilidade.

Transformar um site não acessível acarreta custos financeiros, uma equipa especializada e tempo.
Contudo, os benefícios são ilimitados. Em contrapartida, se um site for construído de raiz, tomando
em consideração as normas técnicas de usabilidade, tal não aumentará significativamente os
custos.

Existe sempre a noção pré-concebida de que um site ergonómico não é bonito e agradável, o que
é totalmente falso. Os sites acessíveis podem conter as mesmas imagens e gráficos que os não
acessíveis, terão é de ser criados de acordo com as normas, de forma a não prejudicarem a leitura
e a aquisição de informação. Outro erro comum é apontar grupos específicos e públicos alvo,

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61
Acessibilidade em Museus

quando se restringe o acesso de um site ao que se julga serem as características do seu público-
alvo. Usa-se a internet para limitar o público, enquanto esta deveria produzir precisamente o efeito
oposto, uma vez que a internet deveria ser usada para ampliar e diversificar.

Mas nem só de sites é feita a acessibilidade tecnológica. Existe a tecnologia (hardwares,


periféricos e softwares) concebida para ajudar pessoas com incapacidades ou deficiências a
executarem actividades do quotidiano. Entre eles, encontramos os leitores de ecrã, os
sintetizadores de voz, os ampliadores de ecrã, os programas com comando de voz, os teclados e
ratos específicos (normalmente controlados através de joystick, movimentos de cabeça ou
oculares).

As dificuldades de acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), são um factor que


maximiza a exclusão, criando-lhe mais uma variante, a info-exclusão. A Resolução do Conselho de
Ministros sobre a acessibilidade dos sítios da administração pública na internet, pelos cidadãos
com necessidades especiais, afirma que a Sociedade da Informação deve contribuir para melhorar
a qualidade de vida de todos os cidadãos40.
A questão da info-exclusão tendo vindo a preocupar as instituições culturais e a chamar a atenção
para as e-tecnologias que, correctamente aplicadas, serão uma mais-valia para os cidadãos com
necessidades especiais. A par de algumas iniciativas, tais como a e-Europe 2002 e a e-

40
Nos termos da alínea g) do artigo 199º da Constituição, o Conselho de Ministros resolve:

1.1. As formas de organização e apresentação da informação facultada na Internet pelas Direcções-Gerais e
serviços equiparados, bem como pelos institutos públicos nas suas diversas modalidades, devem ser
escolhidos de forma a permitirem o seu acesso pelos cidadãos com necessidades especiais.
1.2. A acessibilidade referida no ponto anterior deverá abranger, no mínimo, a informação relevante para a
compreensão dos conteúdo e para a sua pesquisa.
2º Para a concretização dos objectivos a que alude o número anterior, os organismos nele conferidos deverão
implementar formas de escrita e de apresentação das suas páginas na Internet que assegurem que:
a) A respectiva leitura possa ser feita sem recurso à visão, movimentos precisos, acções simultâneas ou a
dispositivos apontadores, designadamente ratos;
b) A obtenção da informação e a respectiva pesquisa possam ser efectuadas através de interfaces auditivos,
visuais ou tácteis.
3º Os sítios da Internet dos organismos abrangidos pelo presente diploma que satisfaçam os requisitos de
acessibilidade nele referidos deverão indicá-lo de forma clara, através de símbolo a que reconhecidamente
seja associada essa característica.

4.1. Os sítios dos organismos referidos no número 1 na Internet deverão ser adaptados ao estabelecido no
presente diploma devendo, no prazo máximo de um ano, serem submetidos às respectivas tutelas relatórios
relativos ao estado da sua concretização.
4.2. Os sítios a criar a partir da data da entrada em vigor do presente diploma deverão assegurar a
acessibilidade nele prevista de forma imediata.
(publicado no Diário da República N.º 199, Serie I-B, em 26/08/99)

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Acessibilidade em Museus

accessibility, também em Portugal se têm desenvolvido alguns projectos na área das TIC, nos
museus, o que demonstra nitidamente a crescente preocupação com todas estas questões. Tal
como refere Bairrão Oleiro, a utilização das tecnologias de informação (…) ou a criação de
websites são instrumentos que alargam o universo dos públicos potenciais e permitem projectar a
imagem do museu, do seu património e das suas actividades muito além dos meios de
comunicação tradicionais (Semedo, 2006:11).

A importância que as TIC assumem no quotidiano dos cidadãos não pode ser menosprezada e,
muito menos, se pode partir do pressuposto que os computadores assistem apenas o mercado de
trabalho.

Cada vez mais se procura informação online, seja sobre as colecções, horários, actividades ou,
simplesmente, para se recolher alguns dados sobre o museu. Os recém chegados museus virtuais,
revelam as suas colecções a um público muito mais vasto e diversificado. Mas, tal como acontece
com os museus físicos, se não estiverem acessíveis e de acordo com as normas técnicas, verão
os seus serviços limitados a determinados grupos sociais e serão, também eles, promotores de
exclusão social.

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Acessibilidade em Museus

CAPÍTULO 6

A ACESSIBILIDADE EM AVALIAÇÃO

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Acessibilidade em Museus

6.1. Manuais e Planos de Acessibilidade

O conceito de Acessibilidade Universal encontra-se intrinsecamente ligado ao de Desenho para


Todos (Design for All), tendo como campo de acção a diversidade humana. O conceito de Design
For All consiste na consideração de qualquer diminuição das capacidades motoras, visuais,
auditivas, cognitivas e mentais, assim como as necessidades das pessoas vulneráveis, como as
crianças e as pessoas idosas. É, também, igualmente, importante a dimensão social ligada à
incapacidade, às dificuldades financeiras ou relacionais, aos estrangeiros que não falam a língua
(tendo por isso dificuldades em compreender as informações), à sinalização, e às condicionantes
temporárias de mobilidade (transporte com bagagens ou mercadorias, pais com carinhos de
bebé…)41

Antes de se desenvolver qualquer plano, é necessário estabelecer um diagnóstico. Só


posteriormente se pode adoptar métodos de intervenção. Para isso, é necessário avaliar e
compreender o estado do meio físico e a sua interacção com as pessoas, tudo sob o ponto de
vista da gestão. Após a elaboração do diagnóstico, estuda-se a condução de política das futuras
intervenções e estabelecem-se prioridades.

Para desenvolver uma visão global da qualidade de vida, partindo de uma reflexão sobre a
acessibilidade, é necessário entender que as dificuldades de acesso são desencadeadas pela
incapacidade de interacção, entre uma pessoa e o meio ambiente que a rodeia. É no ambiente que
se manifestam as situações que levam à incapacidade. Neste âmbito, pode-se comprovar a
importância da obtenção de um instrumento metodológico que possa ser utilizado de forma a
programar, executar e avaliar. O plano de acessibilidade é, sobretudo, uma ferramenta de trabalho
que visa a participação de um conjunto de autores que serão sensibilizados (através do próprio
plano), para a importância da integração da acessibilidade como catalisador do desenvolvimento
da qualidade de vida. O plano deve fornecer soluções para o total acesso da diversidade humana.
Segundo o European Concept of Acessibility42, as condições acessíveis são confortáveis para
100% dos cidadãos, apesar de serem imprescindíveis apenas para 10%.

41
O Design for all define-se como sendo uma intervenção sobre formas, produtos e serviços, com a
finalidade de que todas as pessoas possam contribuir para o desenvolvimento da nossa sociedade, com
igualdade de oportunidades para participar nas actividades económicas, sociais, culturais, recreativas e de
lazer e também possam aceder, utilizar e entender as diferentes partes de uma maneira autónoma,
independente da idade, género, e das capacidades culturais. Rafael Montes e Nuno Peixoto – Fórum
Arquitectura Acessível, organizado pela Ordem dos Arquitectos – Secção Regional Norte nos dias 27-29 de
Junho no Porto.

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65
Acessibilidade em Museus

Este documento foi apresentado em 2003, pelo Prof. Francesc Aragall, presidente da
ProASolutions, cujo Plano de Acessibilidades propõe que a envolvente e os serviços devem ser
respeitosos, seguros, saudáveis, compreensíveis, funcionais e estéticos.

Apresenta ainda oito critérios de intervenção:

1. Prioridade à mobilidade sustentável


2. Segurança dos peões e controlo da velocidade motorizada
3. Medidas de segurança e acessibilidade nos parques, jardins e praças
4. Inexistência de barreiras arquitectónicas
5. Medidas de segurança e acessibilidade a edifícios
6. Prioridade ao transporte acessível
7. Medidas de segurança na cadeia de transportes
8. Sinalização acessível

As avaliações são de extrema importância para o desenvolvimento de métodos de combate à


exclusão. Estas devem ser sempre acompanhadas por equipas multidisciplinares e pelas próprias
pessoas com deficiência, dado que estas, melhor que qualquer técnico, saberão identificar todas
as barreiras físicas e intelectuais que impeçam e / ou condicionem a inclusão de todos os cidadãos
nos museus. Tal como Anne Pearson (Hooper-Greenhill, 1997:191), refere, arrangements made on
the behalf of disabled people but without their involvement re invariably inappropriate and under-
use. This in turn can lead to disillusionment on the part of the museum and even a reluctance to
make further improvements.

Por outro lado,

A existência de um Plano de Acessibilidade para Todos, elaborado tendo em conta a


abordagem apresentada tem como efeito uma análise integrada da temática da
acessibilidade, sendo um documento que deverá servir de guia orientador para a
actuação dos intervenientes no espaço, nas suas diversas competências. O Plano de
Acessibilidades permitirá estabelecer objectivos claros, responsabilidades de cada um
dos intervenientes, numa mais eficiente coordenação das acções, optimização dos
recursos em termos físicos e financeiros e ainda na calendarização das acções a
serem executadas. O Plano de Acessibilidades é portanto mais uma ferramenta que
permite uma gestão responsável e esclarecida do espaço contribuindo para o
aumento da qualidade de vida de todos os cidadãos43

43
Conclusão da comunicação de Nuno Peixoto (Administrador de empresas, com experiência em Gestão de
Projectos), no Fórum Arquitectura Acessível, organizado pela Ordem dos Arquitectos – Secção regional Norte
nos dias 27-29 de Junho no Porto.

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Acessibilidade em Museus

Numa avaliação e / ou na criação de um Manual de Acessibilidade há vários elementos a


considerar:

Estacionamento Devem existir lugares de estacionamento específicos para pessoas em


cadeiras de rodas.
A superfície deve ser confortável para utilizadores em cadeiras de rodas.
Caso não exista estacionamento devem ser providenciados, sempre que
possível, locais onde possam parar viaturas para saída de passageiros,
quer autocarros, quer viaturas que transportem pessoas com mobilidade
reduzida.
Aproximação ao Deve ser livre de mobiliário urbano, com superfícies planas ou com rampas.
edifício
A entrada do edifício Todas as áreas com degraus devem ter corrimãos e passagem alternativa,
de superfície plana ou rampeada.
Circulação lateral Os percursos internos e externos devem estar livres de mobiliário e ter
espaço suficiente para a passagem de cadeiras de rodas, pessoas com
acompanhantes ou com cães-guia.
Circulação vertical Sempre que houver escadas devem existir elevadores / plataformas
elevatórias / rampas / cadeiras de aplicação a escadas.
As escadas devem estar bem sinalizadas com materiais contrastantes e
cores, devem ainda ser assistidas por corrimãos de ambos os lados.
Recepção Deve ser facilmente localizada, espaçosa e construída com princípios
ergonómicos quer de design, quer de níveis de locais onde haja interacção
entre os funcionários e os visitantes.
Local de descanso Devem providenciar locais para cadeira de rodas e para cães-guia, bem
como para os acompanhantes.
Salas de Devem ser espaçosos e bem sinalizados. Sempre que possível ter apoio
investigação / das novas tecnologias de informação com programas de leitura específicos
Gabinetes para cegos, monitores sensíveis ao toque, ratos e teclados adaptados,
ampliação de ecrã.
Bar e restaurante Devem ser espaçosos, com percursos sem obstáculos e mesas que
permitam acolher pessoas em cadeiras de rodas.
Livraria Deve ter percursos espaçosos e os livros serem de fácil acesso a todos.
Salas de Devem ter locais específicos para pessoas em cadeiras de rodas e
conferências / pessoas com cães-guia.
Auditórios
WC’s Devem ser unisexo e adaptados para pessoas com mobilidade reduzida.
Sistemas de Sistemas de áudio-descrição e de ampliação de som.
comunicação Sistemas de áudio-video-descrição, locais visíveis e bem iluminados para
posicionamento de interpretes de Língua Gestual.

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67
Acessibilidade em Museus

Sinalética Deve ser bem visível e livre de ruído. A informação deve ainda existir em
Braille.

Tabela 10 – Elementos a considerar num Plano de Acessibilidade

Todas as linhas orientadoras enumeradas deverão estar em conformidade com as normas


técnicas estabelecidas, de forma a promover uma utilização segura e funcional. Não descuidando
as dificuldades de obtenção e criação de alguns pontos, a rigidez de aplicação terá sempre de ser
ponderada, de acordo com as circunstâncias próprias de cada museu.

No combate á exclusão deverá ser sempre empregue um determinado grau de bom senso e
humildade, para se saber aceitar os desafios, vitórias assim como as derrotas. Sempre existirão
barreiras. Porém, dever-se-á sempre tentar solucioná-las e desvendar alternativas possíveis,
recorrendo, sempre que possível, a equipas multidisciplinares e às próprias pessoas deficientes.

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68
Acessibilidade em Museus

6.1.1. Normas do Conceito Europeu de Acessibilidade – Edifícios públicos

No caso da normas para Edifícios Históricos44 o Conceito Europeu de Acessibilidade é da opinião


que se um castelo ou palácio mantém a traça desde a sua construção, sem sanitários ou
electricidade e apenas utilizados com propósitos arqueológicos, só nesse caso é que o argumento
anterior seria aceitável (a não adaptação). Mas, pelo contrário, o edifício tem uma utilização cívica
e, portanto, está dotado de instalações como as acima referidas, não existe qualquer razão para
evitar introduzirem-se melhorias que visem a acessibilidade, providenciando o respeito pelo
traçado original e ressaltando as alterações produzidas. Assim, desta forma, todos podem fruir a
herança histórica, (CEA, 2005:69-72). No entanto, essas alterações, ou esses novos elementos,
não devem destoar ou interromper a autenticidade e harmonia da construção original. Da mesma
forma, é importante que se considere sempre o facto reversibilidade, isto é, de retirar esses
elementos e voltar à construção original sem qualquer dano para o edifício.

Na adaptação de edifícios há que ter em consideração as seguintes normas.


a) Entrada – acesso ao nível da rua / rampa com ligeira inclinação
b) Informação sobre a traça interior do edifício – mapa com número identificação de andares,
elevadores, escadas, rampas, saídas de emergência, etc.
c) Informação sobre a disposição e localização de serviços
d) Sistemas de apoio e/ou assistência personalizada
e) Acesso através de elevadores, rampas com inclinação leve e harmoniosa, corredores e
portas largos, gabinetes espaçosos
f) Sanitários – pelo menos um por andar e com dispositivos acessíveis para pessoas dotadas
de capacidade de manobra diferenciada
g) Planos de emergência45

44
Integração de Edifícios Históricos no Contexto do Meio Edificado: Constitui uma parte fundamental da
nossa história comum o tesouro cultural representado e integrado nos muitos edifícios e ambientes físicos
antigos, que necessitam de ser preservados e protegidos. Estes edifícios são frequentemente inacessíveis
enquanto que, ao mesmo tempo, os requisitos com que são apetrechados em termos da sua preservação
colocam obstáculos no caminho da mudança positiva a empreender. Edifícios mais antigos muitas vezes
albergam serviços administrativos centrais destinados ao atendimento público.
A sociedade actual exige muito dos antigos edifícios em termos práticos. Como parte integrante destas
exigências, os edifícios devem ser acessíveis e utilizáveis por pessoas com mobilidade condicionada.
Partindo de todos os objectivos de inclusão e normalização, os exemplos de como se tornam acessíveis os
velhos e antigos edifícios são apresentados para mostrar que um tratamento considerado do seu valor
histórico pode combinar-se e estar em conformidade com a respectiva acessibilidade e utilização por parte
das pessoas com limitações de actividade. (CEA, 2005:76)
45
Protecção Contra Incêndios nos edifícios: A protecção contra incêndios tendo em vista as Pessoas com
Limitações da Actividade (2001 WHO ICF) tem de ser considerada em todos os estádios do design da
acessibilidade na implementação dos edifícios. Deve proceder-se a uma consulta prática, directa e

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Acessibilidade em Museus

h) Sinalética clara, tanto a nível visual como acústico


i) Iluminação suficiente e indicadora dos itinerários a seguir
j) Ar condicionado com boa manutenção e segurança
k) Paredes libertas de obstáculos
l) Elementos decorativos, tendo o cuidado de eliminar todos os possíveis obstáculos, tais
como: grandes espelhos que transmitem sensação de continuidade do espaço;
pavimentos encerados; portas a infra-vermelhos; tapetes não presos ao chão; balcões de
atendimento demasiado altos e / ou com arestas salientes e superfícies reflectoras
m) Todas as peças expostas se devem encontrar em lugares acessíveis
n) Informação disponibilizada em formato visual, sonoro e táctil
o) Lojas com os artigos assinalados com preços em etiquetas visíveis
p) Bar com cadeiras para crianças, menus em Braille, opções para vegetarianos e celíacos

significativa a cada uma das pessoas envolvidas. (…) A referência às seguintes categorias de utilizadores é
útil para se preparar uma Estratégia de Segurança contra incêndios (…) Todos os utilizadores com
deficiência ou doentes (…).
Alguns Pontos de Design Importantes num Plano Contra Incêndios:
1. “Conhecimento” do edifício
2. Orientação de utente e relacionamento com o exterior
3. Sinalética simples e não conflituosa com preferência por gráficos em vez de textos
4. Meios alternativos de evacuação
5. Detecção rápida e segura – com avisos que devem ser facilmente compreendidos por todos os
utentes do edifício
6. Evacuação por andares faseada
7. Áreas de salvamento e assistência
8. Utilização de elevadores, escadas e tapetes rolantes durante a ocorrência de um sinistro com fogo
9. Acessibilidade de todas as passagens para evacuação, incluindo escadas
10. Design das estruturas de combate ao fogo nas áreas de evacuação, incluindo escadas.
A saúde já não pode ser descrita como a ausência de doença ou enfermidade, mas como um estado de bem-
estar físico, mental, e psicológico. (CEA, 2005:72-73).

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70
Acessibilidade em Museus

A diversidade humana manifesta-se em diferentes níveis, provocando necessidades reais


específicas em diferentes tipos de deficiência. As tabelas que de seguida são apresentadas,
pretendem ser elucidativas quanto a essas mesmas deficiências, tendo em conta os cuidados
específicos a ter.

Iluminação Livre de sombras


Sinalética Tamanho e letra
Pessoas com Deficiência Visual (baixa visão e cegueira)

Em Braille
No chão
Nas escadas
Táctil Nos corrimãos de escadas e corredores
Nos marcadores de direcção através de cor, materiais de contraste
Informação e textura.
Nas portas
Acústica
Sensorial Através do olfacto estimulado pelo aroma de plantas
Áreas de circulação desimpedidas
Decoração das superfícies e das paredes – diminuição do ruído visual que
Espaço pode confundir
Autorização de entrada a cães-guia

Tabela 11 – Cuidados específicos a ter com pessoas com deficiência visual


Pessoas com Deficiência Auditiva

Áudio Induction loop


Informação Sistema áudio de infra-vermelhos
Acústica minimizadora de ecos – superfície do chão e das paredes
Informação em formato visual, incluindo os sistemas de alarme
Sensorial Através do olfacto estimulado pelo aroma de plantas
Chão resiliente
Espaço Minimização dos níveis de barulhos de fundo
Autorização para cães de assistência

Tabela 12 – Cuidados específicos a ter com pessoas com deficiência auditiva

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Acessibilidade em Museus

Pessoas com bengalas Estacionamento


Superfícies de entrada pavimentada
Minimização das alterações de nível
Corrimãos
Portas automáticas
Elevadores
Cadeiras adaptadas às escadas
Plataformas elevatórias
Pessoas com deficiência motora

Lugares de descanso em áreas de circulação


WC’s
Posição de controlos, evitar flexão das pernas
Pessoas em Cadeiras de Rodas Estacionamento
Superfícies pavimentados
Percursos de entrada sem degraus
Rampas
Elevadores
Plataformas elevatórias
Mostradores rebaixados
Portas mais largas
WC’s
Locais de descanso para pessoas em cadeiras de
rodas e cadeiras para acompanhantes
Pessoas com Mobilidade Reduzida Portas automáticas
dos Membros Superiores Design dos puxadores das portas
Corrimãos de ambos os lados das escadas e
corredores
Mobiliário de WC adequado – torneiras automáticas,
secadores de mãos

Tabela 13 – Cuidados específicos a ter com pessoas com deficiência motora

Espaço nos elevadores para acompanhantes ou cães-guia


Acompanhantes Espaço nos Wc’s
Espaço indicado para cadeiras de roda e cães-guia

Tabela 14 – Cuidados específicos a ter com acompanhantes de pessoas com deficiência

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Acessibilidade em Museus

As tabelas apresentadas baseiam-se em pressupostos de acessibilidade total, consoante o tipo de


deficiência e de necessidade especial de cada grupo de pessoas. Obviamente, cada pessoa
apresentará dificuldades mais ou menos específicas, consoante o grau de deficiência. Estes
valores, apenas pretendem ser elucidativos, de uma forma geral, das condições necessárias ao
acolhimento de pessoas com deficiência.

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Acessibilidade em Museus

6.2. Auditorias

Uma auditoria sobre o acesso é uma forma de avaliação de um edifício e de serviços, no que
concerne a acessibilidade para as pessoas com deficiência. Consiste, no mínimo, de uma visita in
loco e de um relatório com recomendações para serem postas em prática. Essas recomendações
constituirão a base sobre a qual assentará um plano ou estratégia, visando a melhoria do acesso.

As auditorias, são comummente requeridas e autorizadas por serem solicitadas pelo mecenato /
criadores de projectos e porque permitem aos que prestam e disponibilizam serviços, responder a
obrigações regulamentadas por lei. As auditorias são reconhecidas como exemplos de boas
práticas, na remodelação de edifícios e na actualização de serviços, uma vez que analisam
detalhadamente a forma como o edifício é utilizado e revêem a acessibilidade dos serviços
oferecidos. Assim sendo, não analisam o edifício isoladamente, mas sim o acesso a este; os
espaços destinados ao público; as áreas destinadas ao pessoal; os serviços e instalações; as
políticas, práticas e procedimentos (linhas de actuação); os serviços ao consumidor; a informação
e publicidade e a interpretação e meios alternativos de acesso, (CEA, 2005:89).

No caso de auditorias devem ter-se em conta os seguintes aspectos:

a) Lugares no parque de estacionamento e locais de paragem para deixar sair


pessoas,
b) Acessibilidade na entrada do edifício – rampas, portas automáticas,
corrimãos, assistência, etc.,
c) Níveis de iluminação
d) Chão – sem reflexão e desníveis
e) Mobiliário adequado
f) Elevadores
g) Planos de Incêndio – locais de “refugio” e evacuação
h) WC’s adaptados
i) Sinalética e orientação – contrastes, legibilidade, compreensão, em formatos
visuais e acústicos
j) Cores e layouts

Ao longo deste capítulo foram enumeradas diversas estratégias, sob o ponto de vista do
aconselhamento e da exposição de normas aplicáveis, de forma a alcançar parâmetros de
acessibilidade totalmente satisfatórios.

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Acessibilidade em Museus

Certamente, poucos serão os museus que reúnem todas as condições necessárias para o seu
emprego. Assim, considerou-se importante, tendo em conta o discurso apresentado em torno da
temática da investigação, enumerá-los.

A primeira etapa deverá ser a avaliação da acessibilidade do museu através do Plano de


Acessibilidade, onde constarão todas as dificuldades sentidas e possíveis solucionamentos, tendo
em conta os orçamentos afectos, a equipa disponibilizada, os espaços e as colecções. O plano
não pretende ser desencorajador ou meramente descritivo de aspectos negativos, a sua função é
permitir uma análise concreta do nível de acessibilidade que se tem e que se poderá atingir. Da
mesma forma, as avaliações pretendem-se baseadas em críticas construtivas que visem o
aumento da acessibilidade.

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Acessibilidade em Museus

CAPÍTULO 7

QUESTÕES DE ACESSIBILIDADE
MUSEUS DO PORTO

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76
Acessibilidade em Museus

7.1. Posicionamento metodológico

Tendo em conta a realidade complexa e diversificada da acessibilidade museológica que vai sendo
preconizada, de acordo com abordagens próprias ou institucionais, considerou-se o fenómeno
social e cada indivíduo como produtor de conhecimento e significado.

Procedeu-se à recolha de informação numa pequena amostragem, limitadora, é certo, mas


representativa do grupo que se pretende analisar.

Este tipo de investigação, designada por Erickson (1986, 119:161) como sendo interpretativa,
traduz-se numa metodologia que atribui significados às acções desempenhadas pelos sujeitos,
cujo processo de interpretação adquire uma importância primordial na realidade do mundo. Com
esta abordagem, pretende-se compreender diferentes níveis de organizações sociais,
considerando os diversos significados que os acontecimentos poderão adquirir.

Estudando-se realidades humanas e práticas sociais (e as próprias interpretações dos actores


sociais que nelas intervêm), formulam-se construções de conhecimentos a partir de saberes do
senso comum, relativos a todos os campos da evolvente humana. São, precisamente, as
diferenças de significados que se pretende apreender.

Tendo em conta a homogeneidade do grupo profissional estudado nesta investigação, recorreu-se


à pesquisa exploratória, cujo objectivo foi a formulação de problemas reais concretos, e à pesquisa
descritiva para se decomporem determinadas características, opiniões e relações.

Não se pretendeu recolher apenas “experiências profissionais” mas apreender acontecimentos


sociais, interpretando seus impactos sobre os actores.

Através de relatos vivenciais reflectidos em práticas sociais, os profissionais de museus


manifestaram as suas expectativas, frustrações e receios face a uma problemática real e crescente
que se assume, cada vez mais, dentro dos espaços culturais e respectivas envolvências.

O campo de acção foi limitado ao campo geográfico dos museus da cidade do Porto, variando
entre o tipo de colecções, tutela e estatutos jurídicos, dos quais se privilegiou o Serviço
Educativo46, tendo em conta a proximidade com o objecto de estudo.

46
De forma a permitir a investigação proposta, o serviço de educação em causa pressupunha-se como
possuidor de um, ou mais, profissional, dotado de recursos mínimos para o desenvolvimento de acções
dirigidas ao público.

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77
Acessibilidade em Museus

Dadas as condições de proximidade que favoreciam o desenvolvimento da investigação, constitui-


se como amostra quatro museus, havendo sido incluído mais um museu, dado o envolvimento da
investigadora nas acções educativas aí desenvolvidas, destinadas a pessoas com deficiência.
Foram, assim, seleccionadas as seguintes instituições:

Nome Estatuto Tutela Colecção


Jurídico
Museu da Casa do Infante Público Câmara Municipal do Porto Arqueologia
Museu Nacional Soares Público Instituto Português de Museus Artes
dos Reis decorativas
Museu do Papel Moeda Privado Fundação Dr. António Cupertino Especializada
de Miranda
Museu Romântico da Público Câmara Municipal do Porto História
Quinta da Macieirinha
Museu dos Transportes e Privado Associação para o Museu dos Especializada
Comunicações Transportes e Comunicações

Tabela 15 – Identificação e classificação da amostra

Apesar da reduzida amostra, pensa-se que a mesma será tradutora da realidade geral vivida pelos
museus portugueses. Desta forma, torna-se representativa de uma população mais abrangente.
Não se pretende com esta investigação atribuir valores estatísticos, funcionando estes como
complementos metodológicos. Salienta-se, ainda, a finalidade em explorar uma temática e não no
desenvolvimento de uma sondagem representativa.

Para a concretização das intenções da investigação, aplicou-se a técnica da entrevista, que se


pretendia informal e exploratória, tomando em consideração as limitações e perigos associados a
esta técnica. Ainda assim, a possibilidade de recolher dados através da expressão corporal, do
tom e ênfase impostos nas respostas e, sobretudo, na flexibilidade de encadear os assuntos e de
os aprofundar, demonstrou ser a melhor base para a recolha das informações pretendidas.

Concedeu-se liberdade e abertura ao entrevistado de forma a, não só, prestar as declarações


inquiridas mas, e sobretudo, expressar os seus sentimentos em relação ao tema, recorrendo a
manifestações de receios e dúvidas. Promoveu-se, também, o recurso á memória e a narrativas de
experiências em que o entrevistado cria o seu próprio discurso.

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Acessibilidade em Museus

Como entrevista semi-directiva, em que o entrevistado se pode apropriar da mesma, deixando-se


levar pela emoção e pelo desejo de partilha de experiências, a investigadora socorreu-se de um
guião para manter a narrativa centrada na temática, sem que este deixasse esgotar a entrevista.
As linhas orientadoras constitutivas do guião firmaram-se sob parâmetros cruzadores do serviço de
educação com a própria instituição e seus visitantes, no âmbito de:

a) Conceito de acessibilidade e inclusão


b) Públicos
c) Actividades do SE desenvolvidas com públicos com deficiência
d) Parcerias e protocolos com associações e instituições de apoio à deficiência
e) Recursos
f) Acções de formação
g) Avaliação do espaço
h) Interacção entre os visitantes com deficiência, a colecção, a equipa e o espaço
do museu
i) Experiências
j) Aspectos positivos e negativos
k) Expectativas

Constituída a metodologia a aplicar, delimitada a amostra e estabelecidos os tópicos para o guião,


iniciaram-se as solicitações para entrevista. As entrevistas foram realizadas nos locais de trabalho
dos entrevistados, recorrendo-se a um gravador digital para registo dos dados, após prévia
informação e autorização por parte dos sujeitos. Pediu-se, igualmente, autorização para fotografar
os espaços.

As entrevistas foram realizadas entre o final de Julho e início de Setembro de 2007 e encontram-se
transcritas na íntegra, em anexo.

Após a execução das mesmas, foi feita a sua transcrição, registando literal e fielmente o seu
conteúdo. Todavia, eliminaram-se algumas interjeições e repetições, de forma a permitir uma
melhor fruição da leitura e facilitar a interpretação. A eliminação de erros de construção gramatical
e frásica foi praticamente inexistente, verificando-se, apenas, em algumas situações pontuais.

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Acessibilidade em Museus

7.2. Museu Nacional Soares dos Reis

Criado em 1833 por D. Pedro IV, o então Convento de


Santo António da Cidade, torna-se no primeiro museu
público do país.

Quando em 1839 partilha a direcção com a Academia


Portuense de Belas-Artes, adquire características
académicas que o iriam distinguir nas suas colecções.
Com as reformas republicanas, o Museu Portuense
Imagem 7 - [©SS2008]
adquire o nome do notável pensionista em escultura
da Academia, Soares dos Reis.

Em 1932, ganha o estatuto de Museu Nacional e, em


1940, muda-se para o edifício conhecido como o
Palácio dos Carrancas e integra, ao longo dos anos
seguintes, as colecções do Museu Municipal. Entre
1992 e 2001, sofre vários processos de remodelação
e expansão, coordenados pelo arquitecto Fernando Imagem 8 - [©SS2008]
Távora. Reabre, novamente, nesse ano, em que se
comemora o ano do Porto Capital Europeia da
Cultura, não só com novos espaços mas, também,
com programas renovados que pretendem abrir as
portas do museu à cidade.

No primeiro piso, podem-se encontrar colecções de


pintura e escultura portuguesa. No segundo piso,
surgem as artes decorativas (ourivesaria, joalharia,
mobiliário e faiança portuguesa). Conta ainda com
duas salas de exposição temporária, auditório,
cafetaria, loja e sala de leitura.

Imagem 9 - [©SS2008]
O sujeito entrevistado revelou as principais
preocupações do museu face aos seus públicos e as
barreiras que tem tido de superar, devido à falta de
meios que assolam as instituições culturais públicas.

Constata que o meio mais eficaz de ultrapassar


barreiras tem sido a equipa sensibilizada, preparada

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80
Acessibilidade em Museus

para acolher, orientar pessoas com necessidades


especiais.

Quando se fala de necessidades especiais, há que


tomar uma posição, reconhecendo-se que a
acessibilidade não serve só para garantir o acesso de
algumas pessoas, mas ajuda todos os cidadãos. A
Imagem 10 - [©SS2008]
melhor forma de ultrapassar obstáculos é através do
bom senso pois a comunicação pode-se tornar na pior
barreira que um museu pode ter. A par da
comunicação, temos as “proibições” impostas pelos
museus dado estimularem comportamentos
desviantes. O ambiente e o espaço de um museu não
devem criar tensões, as pessoas têm de estar
predispostas a comunicar, a pedir ajuda, a Imagem 11 - [©SS2008]
compreender os próprios limites do museu.

O sujeito inquirido não considera que, fisicamente, o


museu apresente grandes barreiras: tem dois WCs
adaptados – um em cada piso, a sinalética é visível e
perceptível, existem dois elevadores, rampas nos
desníveis e tem, igualmente, uma cadeira de rodas à
disposição dos visitantes. No entanto, os acessos ao
museu poderão ser limitativos. Situado na Rua D.
Manuel II, não tem parque de estacionamento e
apesar de os autocarros poderem parar à porta, o
tráfego da rua dificulta a mobilidade.

Imagem 12 - [©SS2008]
Em preparação, encontram-se um áudio-guia, textos
em Braille que, pontualmente, acompanham algumas
exposições temporárias e o site. A respeito deste
último, foi dada a garantia que este está a ser criado,
em conformidade com as normas europeias de
acessibilidade electrónica. O entrevistado chama a
atenção para o radicalismo que tem pautado as
questões da acessibilidade, os sites que não estão
acessíveis para todos estão parados e, portanto, não Imagem 13 - [©SS2008]

estão acessíveis para ninguém (…) acho que isto em


termos de acessibilidade é redutor, não acho correcto.
Por exemplo, não vamos demolir os monumentos

Página
81
Acessibilidade em Museus

onde não podem ir pessoas em cadeira de rodas,


deve-se fazer o máximo possível mas não vamos
demolir, proibir todos (…) deve estar sinalizado (e
indicar) que não é possível, (deve) garantir essa
informação.

O Serviço de Educação do museu acolhe públicos


com necessidades especiais, integrados em outros Imagem 14 - [©SS2008]
grupos ou em visitas orientadas específicas, como é o
caso das visitas para cegos. Às segundas-feiras, ou
terças-feiras de manhã, o museu acolhe associados
da ACAPO – Porto, e possibilita visitas tácteis na área
da escultura.

Recordou ainda uma dessas visitas em que um cego


acabou por corrigir a interpretação do monitor e
Imagem 15 - [©SS2008]
explicou que a escultura representava alguém que
estava a puxar uma rede de pesca pela areia, sendo
os músculos da perna exemplificativos desse
movimento e do esforço necessário para essa acção.

O visitante provinha de uma família de pescadores e


essa actividade era-lhe muito familiar, por isso, ao
tocar na escultura, facilmente “leu” a sua
interpretação. Para além do protocolo com a ACAPO,
têm um outro com o Espaço T e recebem, também,
muitas visitas escolares de crianças com paralisia
cerebral.

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82
Acessibilidade em Museus

7.3. Museu dos Transportes e Comunicações

O Museu dos Transportes e Comunicações é tutelado


pela Associação para o Museu dos Transportes e
Comunicações47 desde 1992 e encontra-se instalado
no edifício da Alfândega Nova do Porto. Data da
segunda metade do século XIX, saído da imaginação
do arquitecto Jean Colson. Posteriormente, sofreu
remodelações da autoria do Arquitecto Eduardo Souto
Imagem 16 – [©SS-2008]
de Moura, com inauguração em Dezembro de 2000.

O serviço de educação acompanha a programação do


museu desde 1996 e tem estabelecido diversas
ligações ao público com necessidades especiais,
nomeadamente através de oficinas com participação
de utentes da Associação Portuguesa de Pais e
Amigos do Cidadão Deficiente Mental, de ciclos de
encontros da (in) Diferença, com participação da
Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão
Deficiente Mental, da Associação Portuguesa de
Paralisia Cerebral e do Centro de Reabilitação de
Gaia. Paralelamente a estas actividades, realizou
Imagem 17 – [©SS-2008]
ainda duas edições do curso “Introdução à Língua
Gestual Portuguesa”, com duração de 30 horas.

Em termos de equipamento, o museu tem WCs


adaptados, elevadores e rampas. Tem, igualmente,
sistema de alarme visual, áudio-guias, software
adaptado para cegos e amblíopes (no final da
exposição tem um questionário de avaliação num
quiosque multimédia), e percurso áudio para cegos,
composto por uma bengala e sistema áudio.

Quanto às actividades do SE, o entrevistado informa


que não têm actividades específicas, optando por
Imagem 18 – [©SS-2008]
integrar os visitantes nas oficinas já existentes.

47
Instituição privada, sem fins lucrativos e de utilidade pública, constituída por associados fundadores
institucionais e privados.

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83
Acessibilidade em Museus

Segundo ele, a forma como acolhemos e


comunicamos, essa sim, é que se adapta aos
diferentes grupos (…) até porque para alguns pode
ser uma primeira experiência e pode não ser a
conclusão da tarefa em si mas o contacto com
diversos materiais, o que é plástico, o que é ferro, os
tecidos.

Por exemplo, para os cegos, se não houver


obstáculos por parte da coordenação e dos
proprietários automóveis, já que a maior parte deles
são de coleccionadores, eles então trazem as luvas,
Imagem 19 – [©SS-2008]
tiram anéis e relógios e observam os automóveis e há
muitos que realmente nos fazem espantar porque
sabem modelos e marcas, de que país é. Se não
vierem integrados num grupo, mas sim,
individualmente ou em famílias, há um percurso áudio
apoiado por um trilho metálico, que funciona com
bengala e auriculares, e que percorre uma parte da
exposição. Assim se inicia o acesso à exposição,
onde terá sempre de ter um apoio, um elemento do Imagem 20 – [©SS-2008]

museu que explica o seu funcionamento e depois [o


cego] autonomamente coloca a bengala no trilho e vai
tendo dois níveis de informação: informação mais de
orientação – parar, avançar, direita, esquerda (…) e o
outro nível de informação é dos conteúdos.

Em relação à exposição da Comunicação do


Conhecimento e da Imaginação, composta por
Imagem 21 – [©SS-2008]
oficinas práticas de rádio, televisão, jornal, ciência,
imaginação corporal, esta adapta-se em duração, tipo
de actividades e conteúdo aos diferentes grupos.
Têm, também, seis miniaturas automóveis em escala
1/12, [que] normalmente estão reservadas ao público
em geral com umas caixas em acrílico mas [numa
visita para cego] essas caixas são retiradas para
poder manusear, tactear e ter uma ideia de qual é o
percurso em termos de evolução automóvel que está Imagem 22 – [©SS-2008]

na exposição, em termos de épocas, começa com um


Ford T e acaba com veículo dos anos 50/60 (…) e, no

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84
Acessibilidade em Museus

final deste percurso, foram instalados dois


computadores com um inquérito em português e em
diferentes línguas do percurso áudio para turistas, um
desses computadores tem um sistemas de leitura de
ecrã (…) e permitirá também ao invisual, no final,
preencher o inquérito.

Imagem 23 – [©SS-2008]

Imagem 24 – [©SS-2008]

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85
Acessibilidade em Museus

7.4. Museu da Casa do Infante

A Casa do Infante é um dos edifícios mais antigos da


cidade do Porto, datado do século XIV, cuja história
remonta a 1325. Para além de ter o seu nome
associado ao nascimento do Infante D. Henrique, foi,
também, armazém da alfândega régia até ao século
XIX, quando as instalações passaram para Miragaia.
Não só a sua localização usufrui do título de zona Imagem 25 – [©SS-2008]
classificada como Património Mundial (desde 1996),
como também a própria Casa do Infante se encontra
classificada como Monumento Nacional, desde 1924.

Em 1980, instalou-se no edifício, o Arquivo Histórico


Municipal que conta entre os seus serviços, com o
núcleo museológico, salas de exposições temporárias,
auditório, sala de leitura e a Sala Memória. O núcleo Imagem 26 – [©SS-2008]
museológico, designado por “Torre Norte”, divide-se
em três pisos e apresenta objectos de escavações
arqueológicas da década de 90, relativas ao projecto
de ampliação e reabilitação orientado pelo arquitecto
Nuno Tasso de Sousa. Este núcleo foi desenvolvido
em duas fases: a primeira com inauguração em
Dezembro de 2001 e, a segunda, em Maio de 2005.

Entre a colecção podem-se encontrar postos


multimédia, uma maqueta do Porto Medieval, com
versão sonora à escala 1:500, e objectos tácteis,
nomeadamente algumas réplicas de azulejos. As
actividades do serviço de educação são adaptadas a Imagem 27 – [©SS-2008]
públicos com necessidades especiais. Segundo o
entrevistado, foram feitas algumas actividades
específicas mas acabaram por preferir adaptar as
restantes: Nós começamos por conceber uma oficina
adaptada especifica, pensávamos nós, para estes
grupos mas aprendemos com a experiência que as
actividades que nós temos poderão, muitomais
facilmente, ser adaptadas com a ajuda dos técnicos Imagem 28 – [©SS-2008]
especializados, do que pensarmos nós nesses

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86
Acessibilidade em Museus

termos, pois nós não temos formação específica para


trabalhar com esses grupos e fomos vindo a aprender
que mesmo na paralisia cerebral, num grupo com oito
utentes, temos pessoas com diferentes dificuldades e,
por isso, os técnicos, melhor do que ninguém, podem
dar-nos indicações e dizer “esta pessoas trabalha
melhor desta maneira (…) a actividade será então Imagem 29 – [©SS-2008]
personalizada.

Em termos físicos, a Casa do Infante encontra-se


equipada com rampas, elevador (no edifício do
arquivo – embora não permita aceder a todas as
áreas), e uma cadeira, que sobe degraus para aceder
aos pisos superiores do núcleo museológico. Devido à
localização do edifício, este não conta com
Imagem 30 – [©SS-2008]
estacionamento e o acesso é bastante dificultado. A
par deste problema, encontra-se o da sinalética pouco
visível.

Imagem 31 – [©SS-2008]

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87
Acessibilidade em Museus

7.5. Museu Romântico da Quinta da Macieirinha

A Quinta da Macieirinha, também conhecida por


Quinta do Sacramento, actualmente alberga o Museu
Romântico mas, outrora, foi casa de campo de
António Ferreira Pinto Basto. Nela, também habitou o
Rei do Piemonte Carlos Alberto, durante os últimos
meses da sua vida. Em 1967, a Câmara Municipal do
Porto, decidiu organizar um museu de recordações do
Imagem 32 – [©SS-2008]
século XIX e, em 1972, comprou a casa para aí
instalar o Museu.

O Museu pretende ser a recriação de ambientes


românticos do século XIX, através da reconstituição
do seu interior que testemunha a classe portuense e a
permanência do Rei Carlos Alberto.

A sua colecção constituiu-se através de doações, Imagem 33 – [©SS-2008]


aquisições e depósitos. A preocupação centrou-se
numa recriação museológica que apoiasse a
interpretação de uma determinada época e não a
reconstituição da casa conforme fora durante o
período no qual fora habitada. Até porque, não se
sabe como poderá ter sido a primeira construção
antes dos acrescentos seguintes e modificações.

Imagem 34 – [©SS-2008]
Trata-se de uma casa adaptada a museu, sem
recurso a rampas ou elevadores, o que torna a
passagem do piso da entrada para o primeiro andar
impossível, para quem se desloque em cadeira de
rodas. Contudo, têm sido feitos vários esforços para
ultrapassar as barreiras e, sempre que solicitados,
realizam actividades para públicos com necessidades
especiais. A entrada possui uma rampa de acesso ao
museu em pedra (que) faz parte da própria estrutura Imagem 35 – [©SS-2008]
do edifício, a entrada ao museu é possível mas depois
temos um grande senão que é a deslocação ou a
movimentação entre o andar inferior e superior, não
temos qualquer elevador, existe já o pedido, o projecto

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88
Acessibilidade em Museus

mas há uma série de condicionantes. Condicionantes


essas que não impedem a mobilidade dos visitantes
que escolhem o Museu Romântico. Usando as
palavras do entrevistado, o acesso a públicos com
dificuldades motoras não é problema pois já estamos
habituados a carregar com as cadeiras…por isso não
é para nós impedimento.
Imagem 36 – [©SS-2008]

O mesmo se faz com as actividades que são adaptadas, conforme o grupo. O último que tivemos
cá, nos jardins, escreveram até uma carta a agradecer imenso, correu lindamente. Os monitores
vão coordenando e vão fazer aquilo que eles acham que podem fazer, não ficam limitados (…).
Estiveram cá até ao meio-dia e correu muito bem. (…) As coisas têm sido adaptadas (…) Nem
sempre se pode dispor /disponibilizar um programa a 100%, temos de adapta-los. Não são feitos
efectivamente com o propósito de se destinar aqueles públicos mas conseguimos sempre uma
adaptação (…).

Apesar do acesso ao museu se efectuar através de uma rua bastante íngreme, o estacionamento
poderá ser garantido através da limitação de acesso aos outros carros, antigamente estacionava-
se em todo o terreiro e agora limitamos com uma divisória, amovível, portanto se necessário
retiramos e eles conseguem chegar até nós.

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Acessibilidade em Museus

7.6. Reflexões sobre a acessibilidade

Este trabalho de investigação teve como objectivo expor a forma e os métodos de trabalho
praticados pelos Serviços de Educação, face a públicos com deficiência, sem, no entanto, criar
expectativas relativamente às respostas obtidas, dado as mesmas terem apenas confirmado a
realidade.

Que actividades se realizam? Com que recursos? Com que apoios? Que dificuldades sentem?
Que papéis assumem?

Numa primeira leitura, constata-se que a crescente intervenção dos chamados novos públicos, se
encontra a despertar atenções por parte dos profissionais de museus. Apesar de a grande maioria
não programar especificamente para estes novos públicos, adapta, sem grande esforço, as
actividades realizadas, o que denota preocupação na integração e no tratamento não diferenciado.

Os recursos não são abundantes e a concepção de programas, a divulgação, a exploração da


colecção em prol de uma posição mais educativa atribui, cada vez mais, uma polivalência a todos
os que abraçam a museologia, e que se vêm obrigados a servir várias áreas com falta de
afectação de orçamentos financeiros.

O público escolar continua a liderar as visitas orientadas. Porém, muitas associações de apoio a
pessoas com deficiência e centros de reabilitação avançam autonomamente como participantes e
consumidores culturais.

Da mesma forma, os museus tomaram consciência da amplitude dos seus serviços e estão alerta
para as questões de acessibilidade, fazendo uso de todos os fins para alcançar a inclusão. Já não
se pretende, apenas, que o público vá ao museu, pretende-se que ele volte.

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Acessibilidade em Museus

8. Aplicação prática dos conhecimentos

Desde 2005 que a investigadora trabalha, integrada no SE, para a implementação e criação de
actividades direccionadas a públicos com necessidades especiais, nomeadamente, pessoas com
deficiência. Assim sendo, paralelamente a toda a investigação, foi realizado trabalho prático
desenvolvido no Museu do Papel Moeda, da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda.

Como tal, apresenta-se, em seguida, a instituição e o respectivo desenvolvimento prático de todas


as questões ligadas à acessibilidade física dos espaços, das colecções, da informação
disponibilizada e das actividades realizadas.

Salienta-se, ainda, que não se pretende estabelecer critérios comparativos com as demais
instituições apresentadas. Esta exposição pretende, unicamente, relatar o trabalho prático que
acompanhou a investigação, enriquecendo-a.

Museu do Papel Moeda | Fundação Dr. António Cupertino de Miranda

A Fundação Dr. António Cupertino de Miranda acolhe


o Museu do Papel Moeda, construído de raiz, para
albergar a colecção de papel fiduciário, que lhe dá o
nome. A sua construção teve início em 1994 e foi
inaugurado em 1996. Em 2003, abriu mais uma sala
de exposição permanente, com uma colecção de
miniaturas de transportes. A exposição de papel
moeda é constituída por apólices do Real Erário, Imagem 37 – [©SS-2008]
notas de Portugal e ex-colónias, cheques, acções,
lotarias, papel selado e letras.

A Fundação encontra-se equipada com elevador,


rampas e WC para deficientes. Possui, igualmente,
catálogo e desdobráveis informativos em Braille.

Em 2005, iniciou-se um projecto, no âmbito da pós-


graduação em Museologia da Faculdade de Letras da Imagem 38 – [©SS-2008]

Universidade do Porto, que visava a análise da


acessibilidade do Museu, detecção de problemas e

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91
Acessibilidade em Museus

atribuição de possíveis soluções, resultando na


elaboração de um Plano de Acessibilidades.

Desde então, o museu tem sido acompanhado por


técnicos da Associação de Cegos e Amblíopes de
Portugal (ACAPO) e elaborou visitas orientadas,
especificamente planeadas e desenvolvidas para este
público. A visita orientada pode ser feita com o apoio Imagem 39 – [©SS-2008]
de um catálogo com textos em Braille, com notas em
relevo ou através da descrição pormenorizada, por
parte dos monitores do Serviço de Educação,
acompanhada por elementos tácteis (apólice do Real
Erário e várias notas representativas). Na elaboração
das notas tácteis foram percorridos vários traçados
até se chegar ao produto final. Inicialmente procedeu-
se à selecção das peças que se destacariam na
colecção, pela sua importância e pela possibilidade de Imagem 40 – [©SS-2008]

transmitir a evolução histórica do papel fiduciário, em


Portugal. Em seguida, foram analisados os elementos
presentes na apólice e nas notas escolhidas que, pela
sua importância, identificariam a peça. Após essa
triagem, criaram-se maquetas das notas em papel
cartolina (em tamanho real) e recortaram-se esses
elementos. Por fim, essas maquetas foram colocadas
sobre papel cebola e foi criado o relevo nas zonas Imagem 41 – [©SS-2008]
“recortadas” resultando, assim, em notas tácteis (em
papel cebola). Foi ainda criado um guia para
amblíopes (pessoas com baixa visão), com uma
selecção criteriosa de informação sobre as peças,
num tamanho de letra aumentado e com imagens
ampliadas.

Em 2007, a Fundação criou uma parceria com a


Fundação Portugal Telecom que proveu os espaços
do museu com computadores equipados com leitores
e ampliadores de ecrã. Para essa utilização, Imagem 42 – [©SS-2008]

elaboraram-se novos guias da colecção, para serem


aplicados nos softwares de leitura (para cegos) e de
ampliação (para baixa visão). Ambos os guias, os
quais foram elaborados com o apoio técnico e

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92
Acessibilidade em Museus

especializado da ACAPO – Porto, encontram-se


desenvolvidos segundo as normas e foram testados
junto do público-alvo a que se destinam. Quando aqui
se faz referência a “normas”, trata-se das técnicas
aplicadas na criação de materiais. Os guias
electrónicos foram desenvolvidos tendo em conta
alguns critérios: no caso do guia para leitores de ecrã,
Imagem 43 – [©SS-2008]
este teve de ser feito sem imagens, sem zonas vazias,
sem numeração romana (por exemplo, os séculos
tiveram de se colocar por extenso) e com descrições
muito pormenorizadas das peças. Já nos guias
criados para os leitores de ecrã, as descrições tiveram
de ser curtas e objectivas.

A Fundação Portugal Telecom equipou, também, o


Imagem 44 – [©SS-2008]
Museu com software e hardware para serem utilizados
por pessoas com mobilidade reduzida dos membros
superiores e pessoas com paralisia cerebral. Entre o
hardware, encontram-se ratos adaptados, braços
mecânicos extensíveis, leitor de retina óptica e
monitores tácteis.

Imagem 45 – [©SS-2008]

Imagem 46 – [©SS-2008]

Imagem 47 – [©SS-2008]
Imagem 48 – [©SS-2008]

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Acessibilidade em Museus

Desde 2005, o Museu tem realizado vários eventos


dedicados a pessoas com deficiência, de forma a
promover a sua inclusão nos espaços museológicos:

Dia Internacional dos Museus – 2007


Contou com uma exposição táctil de carros antigos,
Imagem 49 – [©SS-2008]
em tamanho real. Vários coleccionadores trouxeram
os seus carros e permitiram que os visitantes cegos
lhes pudessem tocar, ao mesmo tempo que lhes eram
descritos os próprios carros. Os proprietários
enriqueceram este evento, contando algumas
aventuras nas quais os seus carros foram
intervenientes.
Imagem 50 – [©SS-2008]

Dia Internacional dos Museus – 2008


Em 2008, organizou-se a apresentação de uma peça
de teatro, cujos actores eram utentes da Associação
Portuguesa de Paralisia Cerebral do Porto.

A companhia de teatro convidada foi a “Era Uma


Vez… Teatro” da Associação de Paralisia Cerebral do Imagem 51 – [©SS-2008]
Porto. A peça chamava-se “Escuta-me” e referia-se
aos pensamentos e dificuldades das pessoas
deficientes, principalmente as que sofrem de paralisia
cerebral. Atendendo ao tema proposto para o ano de
2008: “Museus – Agentes de Mudança Social”, o
Museu do Papel Moeda, pretendeu divulgar os seus
programas ao público sénior, com necessidades
especiais, comunidades imigrantes e mães
adolescentes.
Imagem 52 – [©SS-2008]
Projecto “Museu sem barreiras”
Apresentação pública da parceria entre a Fundação Dr. António Cupertino de Miranda e a
Fundação Portugal Telecom

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Acessibilidade em Museus

Outro dos eventos que evidenciam a preocupação


social do museu, foi a apresentação pública da
parceria supra citada. A par dos representantes da
Fundação Portugal Telecom e da Fundação Dr.
António Cupertino de Miranda, encontravam-se dois
representantes das pessoas com deficiência, um
utente da ACAPO e outro do Centro de Paralisia
Cerebral do Porto, que apresentaram o Museu e as Imagem 53a – [©SS-2008]
suas colecções, com recurso aos meios tecnológicos
disponibilizados (software para leitura de ecrã –
JAWS, e software para pessoas com paralisia cerebral
– GRID, bem como todo o hardware necessário á
utilização do computador por parte da pessoa com
paralisia cerebral).

Trata-se de um projecto pioneiro em Portugal que


Imagem 53b – [©SS-2008]
permite às pessoas portadoras de deficiência, o livre
acesso, sem barreiras, ao Museu do Papel Moeda e à
apreensão da História de Portugal, contada através do
dinheiro. O projecto foi promovido pela Fundação Dr.
António Cupertino de Miranda e, só foi possível,
através do apoio prestado pela Fundação Portugal
Telecom. Contou, ainda, com o apoio da ACAPO
(Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal) do
Porto) e da APPC (Associação Portuguesa de
Imagem 54 – [©SS-2008]
Paralisia Cerebral).

Projecto “Um dia especial” Museu do Papel Moeda e NorteShopping


E, por fim, para o último evento realizado (dia 5 de
Dezembro de 2008), a Fundação uniu-se ao centro
comercial NorteShopping, organizando uma festa de
Natal para crianças com deficiência (surdos, cegos,
deficientes mentais e crianças com paralisia cerebral).

Entre os participantes estiveram os alunos da Escola


do Cerco, utentes da ACAPO – Associação de Cegos Imagem 55 – [©SS-2008]
e Amblíopes de Portugal, da ASP - Associação de
Surdos do Porto e da APPACDM - Associação
Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente
Mental.

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Acessibilidade em Museus

Após o almoço, a Companhia de Teatro da Crinabel


apresentou a peça “Antes de Começar”, de Almada
Negreiros, seguindo-se a visita ao Pai Natal.

Visitas
A par destes eventos, contam-se inúmeras visitas
orientadas e desenvolvimento de materiais de apoio
às mesmas, nomeadamente, a preparação de oficinas Imagem 56a – [©SS-2008]

para crianças cegas (mais uma vez, com o apoio dos


técnicos da Associação de Cegos e Amblíopes de
Portugal).

Entre os muitos visitantes deficientes que já


conhecem o museu, destacam-se utentes de centros
de reabilitação, da Associação Portuguesa de Pais e
Amigos do Cidadão com Deficiência Mental
(APPACDM), da Associação de Cegos e Amblíopes
de Portugal (ACAPO) e alunos integrados em escolas
de currículos normais, bem como, de Centros de Imagem 56b – [©SS-2008]

Reabilitação.

Para dar apoio a todas as visitas, disponibilizam-se recursos especialmente concebidos e


adaptados:

- Software: GRID, MAGIC e JAWS


- Hardware: monitores tácteis, braços articulados, interfaces, manípulos e trackballs
- Guias em Braille
- Guias ampliados para amblíopes
- Notas tácteis
- Desdobráveis informativos em Braille

O Museu está preparado para acolher estes deficientes, permitindo-lhes o livre acesso aos
conteúdos, proporcionando-lhes momentos de convívio, de interacção e de grande prazer
intelectual.

Fez-se, igualmente, um esforço para integrar os deficientes auditivos, nomeadamente da


Associação de Surdos do Porto, realizando-se algumas vistas orientadas ao museu,
acompanhadas por um intérprete de Língua Gestual Portuguesa.

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Acessibilidade em Museus

Formação

Deve-se ainda referenciar a formação obtida através de várias Instituições e Organizações, tais
como:

Grupo para Acessibilidade dos Museus


- Sabe escrever para todos? A acessibilidade da comunicação escrita nos museus.
- Ao alcance das mãos.

Rede Portuguesa de Museus


- Museus e Acessibilidade

Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal


- Técnicas de orientação e mobilidade

Associação de Surdos do Porto


- Recepção e boas vindas, noções básicas da Língua Gestual Portuguesa

Ordem dos Arquitectos da Secção Regional do Norte.


- Arquitectura Acessível

Fundação Portugal Telecom


Desenvolvimento de competências para trabalhar com:
- GRID – software para pessoas com paralisia cerebral
- JAWS – software de leitura de ecrã
- MAGIC – software de ampliação de ecrã

Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto


- Projecto Spread the sign – “Celebrar a diversidade linguística, promover a acessibilidade e a
excelência educativa dos surdos.

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97
Acessibilidade em Museus

Considerações Finais

Séculos separam os tempos actuais do antigo museuon grego dos tempos imemoriais da época
helenística, em que o recolher e o guardar dos objectos se prendia com a preservação de
documentos que testemunhavam o saber e a cultura ou do, igualmente, ancião thesaurus, em que
a sacralização do espaço dá início à constituição de colecções. A Revolução Francesa veio abrir
as portas dos museus, face aos novos direitos de cidadania e aspiração de igualdade.Com ela,
veio a revolução que acabaria por converter os museus naquilo que hoje são e que Carlos
Guimarães (2004:42) considera verdadeiros “supermercados de cultura”, provocados pela
democratização das massas e pela abertura de horizontes e ambições.

Sem dúvida, os museus cultivados pelas elites, que neles exerciam o diletantismo cultural, foram
sendo substituídos por museus politizados, face ao acesso à cultura e à defesa dos bens culturais,
como património de toda a comunidade. Que, por princípio, abrem portas a todos mas que, na
realidade, continuam fechados para alguns. É da responsabilidade dos museus acolher os seus
visitantes, independentemente das suas exigências e necessidades. As campanhas publicitárias
para atrair público não são eficientes se esse público não se sentir integrado e com as suas
necessidades satisfeitas. A busca de uma nova linguagem com que se expressar e de uma nova
dinâmica na participação sociocultural, é preconizada pela nova museologia, o que pressupõe uma
nova tipologia de museu (Alonzo Fernández, 1999:8).

À função de salvaguarda patrimonial associaram-se outras funções, tais como a educativa e a


social, às quais se impuseram crescentes desafios face à organização, atitude e comunicação.
Também o crescente número de museus provocou uma alteração nos discursos. A busca de
visibilidade, o estabelecimento de parcerias, a procura de mecenato e a preocupação por uma
“nova” gestão, caracterizam o museu virado para o exterior e o nascimento de uma entidade
comunicadora e interventiva. Esta mudança de paradigma, reforça as competências de
programação, marketing e comunicação que tornam o museu num pólo atractivo á sociedade em
que o museu não tem razão de ser se não se abrir à comunidade, se não desenvolver acções
direccionadas para diferentes públicos através de mediação que reelabore a informação, tornando-
a acessível na forma de actividade lúdicas e oficinais (IPM, 2001).

E é precisamente com o acolher da vertente social que o museu recebe uma nova missão. Sem
renunciar às características de preservação do património, deve promover iniciativas culturais
inclusivas, promover a diferenciação e a inserção de novos públicos que, afastados durante
décadas, fazem valer os seus direitos de participação na vida cultural da sociedade actual. Para
que essa inclusão se materialize, é necessário equipar fisicamente os museus para receber os
novos visitantes e preparar as suas equipas para um acolhimento adequado. É, igualmente,

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98
Acessibilidade em Museus

necessário transmitir a informação, com o formato adequado, cumprir normas, disponibilizar


conteúdos, preparar actividades… respeitar a diferença e aceitá-la. Fazendo-se uso das palavras
de Mark O’Neill: if social inclusion means anything, it means actively seeking out and removing
barriers, of acknowledging that people who have been left out for generations need additional
support in a whole variety of ways to enable them to exercise their rights to participate in many of
the facilities that the better off and better educated take for granted. The change in the way people
with disability have been treated in the past hundred years is an instructive example (Sandell,
2002:37-38).

Peremptoriamente, o público adquire uma importância suprema, desafiando, inclusive, a


salvaguarda patrimonial supra citada, pois, tal como Alonzo Fernández refere:

Los museos, cualquiera que sea su tipología o enfoque, sólo pueden justificarse social
y culturalmente en función de su destinatario: el público; o, por decirlo con la nueva
museología, es la comunidad la que marca y consagra la razón de ser de estas
instituiciones como un instrumento de desarrolo cultural, social y económico a su
servicio (Alonzo Fernández, 1999:15).

Com a consciencialização deste novo modelo cultural, o público passa de espectador passivo para
actor interventivo, e a emergência deste público cultural (des)estrutura o museu na sua forma pré-
concebida para o projectar num futuro mais abrangente, multifacetado e diversificado.

O presente trabalho prendeu-se com a apresentação geral, focando alguns pontos considerados
fulcrais, da acessibilidade, estudada no envolvimento com os museus, seus espaços, colecções e
actividades. As instituições culturais portuguesas começaram a despertar para este tema e para as
situações em que os museus trabalham, bem como, para a importância, como possíveis parceiros
sociais, no combate à exclusão e marginalização dos grupos compostos por cidadãos deficientes.
Assim, os museus começam a fazer uso dos mecanismos que promovem, a fim de alcançar a
“utopia” igualitária que nas últimas décadas se evidenciou.

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Acessibilidade em Museus

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100
Acessibilidade em Museus

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109
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Índice de Anexos

Página

ANEXO I – LEGISLAÇÃO 111


Declaração Universal dos Direitos do Homem 112
Declaração de Direitos das Pessoas com Deficiência 117
Declaração de Madrid 119
Declaração de Salamanca 127
Decreto-lei 123/97 130
Decreto-lei 163/06 140

ANEXO II – ENTREVISTAS 178


Museu Nacional Soares dos Reis 179
Museu dos Transportes e Comunicações 187
Museu da Casa do Infante – Arquivo Histórico Municipal 196
Museu Romântico – Quinta da Macieirinha 199

ANEXO II - GLOSSÁRIO 202

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110
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Anexo I

Legislação

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DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM

Adoptada e proclamada pela Assembleia Geral na sua resolução 217 A (III) de 10 de Dezembro de
1948

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família


humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e
da paz no mundo;
Considerando que o desconhecimento e o desprezo dos direitos do homem conduziram a actos de
barbárie que revoltam a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os
seres humanos sejam livres de falar e de crer, libertos do terror e da miséria, foi proclamado como
a mais alta inspiração do homem;
Considerando que é essencial a protecção dos direitos do homem através de um regime de direito,
para que o homem não seja compelido, em supremo recurso, à revolta contra a tirania e a
opressão;
Considerando que é essencial encorajar o desenvolvimento de relações amistosas entre as
nações;
Considerando que, na Carta, os povos das Nações Unidas proclamam, de novo, a sua fé nos
direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de
direitos dos homens e das mulheres e se declaram resolvidos a favorecer o progresso social e a
instaurar melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla;
Considerando que os Estados membros se comprometeram a promover, em cooperação com a
Organização das Nações Unidas, o respeito universal e efectivo dos direitos do homem e das
liberdades fundamentais. Considerando que uma concepção comum destes direitos e liberdades é
da mais alta importância para dar plena satisfação a tal compromisso:
A Assembleia Geral: Proclama a presente Declaração Universal dos Direitos do Homem como
ideal comum a atingir por todos os povos e todas as nações, a fim de que todos os indivíduos e
todos os órgãos da sociedade, tendo-a constantemente no espírito, se esforcem, pelo ensino e
pela educação, por desenvolver o respeito desses direitos e liberdades e por promover, por
medidas progressivas de ordem nacional e internacional, o seu reconhecimento e a sua aplicação
universais e efectivos tanto entre as populações dos próprios Estados membros como entre as dos
territórios colocados sob a sua jurisdição.

Artigo 1.º
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e
de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.
Artigo 2.º
Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente
Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião,
de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de

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112
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qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político,
jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou
território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania.
Artigo 3.º
Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo 4.º
Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob
todas as formas, são proibidos.
Artigo 5.º
Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou
degradantes.
Artigo 6.º
Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento em todos os lugares da sua personalidade
jurídica.

Artigo 7.º
Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm
direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra
qualquer incitamento a tal discriminação.
Artigo 8.º
Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os
actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei.
Artigo 9.º
Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Artigo 10.º
Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente
julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das
razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida.

Artigo 11.º
1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade
fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias
necessárias de defesa lhe sejam asseguradas.
2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não
constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será
infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi
cometido.
Artigo 12.º

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113
Acessibilidade em Museus

Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou
na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou
ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei.
Artigo 13.º
Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um
Estado.
Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito
de regressar ao seu país.
Artigo 14.º
Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros
países.
Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de
direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas.
Artigo 15.º
1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade.
2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de
nacionalidade.
Artigo 16.º
1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem
restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua
dissolução, ambos têm direitos iguais.
2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos.

3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do


Estado.
Artigo 17.º
1. Toda a pessoa, individual ou colectiva, tem direito à propriedade.
2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade.
Artigo 18.º
Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito
implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a
religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela
prática, pelo culto e pelos ritos.
Artigo 19.º
Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não
ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de
fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.
Artigo 20.º
1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas.
2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

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Artigo 21.º
1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios públicos do seu país, quer
directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos.
2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu
país.
3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos; e deve exprimir-se
através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto
secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto.
Artigo 22.º
Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente
exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço
nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada
país.
Artigo 23.º
1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e
satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego.
2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual.
3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua
família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os
outros meios de protecção social.
4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos
para defesa dos seus interesses.
Artigo 24.º
Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres e, especialmente, a uma limitação razoável da
duração do trabalho e a férias periódicas pagas.
Artigo 25.º
1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a
saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à
assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no
desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios
de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.

2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças,


nascidas dentro ou fora do matrimónio, gozam da mesma protecção social.
Artigo 26.º
1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a
correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino
técnico e profissional devem ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto
a todos em plena igualdade, em função do seu mérito.

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115
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2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do
homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade
entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das
actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz.
3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de educação a dar aos filhos.
Artigo 27.º
1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir
as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam.
2. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção
científica, literária ou artística da sua autoria.
Artigo 28.º
Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz
de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente Declaração.

Artigo 29.º
1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno
desenvolvimento da sua personalidade.
2. No exercício deste direito e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações
estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos
direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem
pública e do bem-estar numa sociedade democrática.
3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos
princípios das Nações Unidas.
Artigo 30.º

Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para
qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de
praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.

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116
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Declaração de Direitos das Pessoas Deficientes

Resolução aprovada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas em 09/12/75
A Assembleia Geral
Consciente da promessa feita pelos Estados Membros na Carta das Nações Unidas no sentido de
desenvolver acção conjunta e separada, em cooperação com a Organização, para promover
padrões mais altos de vida, pleno emprego e condições de desenvolvimento e progresso
económico e social,
Reafirmando, a sua fé nos direitos humanos, nas liberdades fundamentais e nos princípios de paz,
de dignidade e valor da pessoa humana e de justiça social proclamada na carta,
Recordando os princípios da Declaração Universal dos Direitos do Homem, dos Acordos
Internacionais dos Direitos Humanos, da Declaração dos Direitos da Criança e da Declaração dos
Direitos das Pessoas com Deficiência Mental, bem como os padrões já estabelecidos para o
progresso social nas constituições, convenções, recomendações e resoluções da Organização
Internacional do Trabalho, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura, do Fundo da Criança das Nações Unidas e outras organizações afins.
Lembrando também a resolução 1921 (LVIII) de 6 de Maio de 1975, do Conselho Económico e
Social, sobre prevenção da deficiência e reabilitação de pessoas com deficiência,
Enfatizando que a Declaração sobre o Desenvolvimento e Progresso Social proclamou a
necessidade de proteger os direitos e assegurar o bem-estar e reabilitação daqueles que estão em
desvantagem física ou mental,
Tendo em vista a necessidade de prevenir deficiências físicas e mentais e de prestar assistência
às pessoas com deficiência para que elas possam desenvolver suas capacidades nos mais
variados campos de actividades e para promover tanto quanto possível, a sua integração na vida
normal,
Consciente de que determinados países, nos seus actuais estádios de desenvolvimento, podem,
desenvolver apenas limitados esforços para este fim.
PROCLAMA esta Declaração dos Direitos das Pessoas com Deficiência e apela à acção nacional
e internacional para assegurar que ela seja utilizada como base comum de referência para a
protecção destes direitos:
1 - O termo "pessoa com deficiência" é aplicável a qualquer pessoa que não possa por si só
responder, total ou parcialmente à exigência da vida corrente, individual e/ou colectiva, por motivo
de qualquer insuficiência, congénita ou adquirida, das usas capacidades físicas ou mentais.
2 - As pessoas com deficiência gozam de todos os direitos estabelecidos nesta Declaração. Estes
são reconhecidos a todas as pessoas com deficiência sem qualquer excepção e sem distinção ou
discriminação com base em questões de raça, cor, sexo, língua, religião, opiniões políticas ou
outras, origem social ou nacional, estado de saúde, nascimento ou qualquer outra situação que
diga respeito à própria pessoa com deficiência ou a sua família.
3 - As pessoas com deficiência têm o direito inalienável ao respeito pela sua dignidade humana. As
pessoas com deficiência, qualquer que seja a origem, natureza e gravidade de suas deficiências,

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têm os mesmos direitos fundamentais que seus concidadãos da mesma idade, o que implica,
antes de tudo, o direito de desfrutar de uma vida decente, tão normal e plena quanto possível.
4 - As pessoas com deficiência têm os mesmos direitos civis e políticos que os outros ser
humanos. O artigo 7.º da Declaração dos Direitos das Pessoas com Deficiência Mental é aplicável
a qualquer possível limitação ou supressão daqueles direitos para estas pessoas.
5 - As pessoas com deficiência têm o direito às medidas destinadas a permitir-lhes tornarem-se tão
autónomas quanto possível.
6 - As pessoas com deficiência têm direito a tratamento médico, psicológico e funcional, incluindo
próteses e ortóteses, à reabilitação médica e social, à educação, educação vocacional e
reabilitação, assistência, aconselhamento, serviços de colocação e outros serviços que lhes
possibilitem desenvolver ao máximo as suas capacidades e aptidões e a acelerar o processo de
sua integração ou reintegração social.
7 - As pessoas com deficiência têm direito à segurança económica e social e a um nível de vida
decente. Têm o direito, segundo as suas competências, ao acesso e permanência no emprego ou
ao exercício de actividades úteis, produtivas e lucrativas, e de fazerem parte das organizações
sindicais respectivas.
8 - As pessoas com deficiência têm o direito a que o planeamento económico e social, a todos os
níveis, tome em consideração as suas necessidades específicas.
9 - As pessoas com deficiência têm direito de viver com suas famílias ou os seus substitutos e de
participar de todas as actividades sociais, criativas e recreativas. Nenhuma pessoa pessoa com
deficiência será submetida, por razões de natureza habitacional a tratamento diferente, além
daquele requerido pela sua condição ou necessidade de recuperação. Se a permanência de uma
pessoa com deficiência num estabelecimento especializado for indispensável, as condições de
vida e o meio ambiente devem aproximar-se, tanto quanto possível, de uma vida normal para
pessoas da mesma idade.
10 - As pessoas com deficiência devem ser defendidas contra toda a espécie de exploração, de
disciplina e de tratamento de natureza discriminatória, abusiva ou degradante.
11 - As pessoas com deficiência devem poder dispor de apoio jurídico qualificado, sempre que seja
indispensável para à defesa das suas pessoas e bens. Se contra elas for instaurado procedimento
judicial deverá ser tida em consideração a sua condição física e mental.
12 – É reconhecida a utilidade de consulta às organizações de pessoas com deficiência, em todos
os assuntos relativos aos direitos daqueles cidadãos.
13 - As pessoas com deficiência, as suas famílias e as suas organizações deverão ser
amplamente informadas, por todos os meios apropriados, dos direitos contidos nesta Declaração.

Resolução adoptada pela Assembleia Geral da Nações Unidas em 9 de Dezembro de 1975

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DECLARAÇÃO DE MADRID48

"NÃO DISCRIMINAÇÃO MAIS ACÇÃO POSITIVA IGUAL A INCLUSÃO SOCIAL"


Nós, os mais de 600 participantes no Congresso Europeu sobre deficiência, reunidos em Madrid,
saudamos calorosamente a proclamação do ano 2003 como o Ano Europeu das Pessoas com
Deficiência, acontecimento que deve contribuir para aumentar a consciência da opinião pública
sobre os direitos dos mais de 50 milhões de europeus com deficiência.
Registamos nesta Declaração a nossa visão com o objectivo de proporcionar um quadro
conceptual para a acção do Ano europeu à escala comunitária, nacional, regional e local.
PREÁMBULO
1. A DEFICIÊNCIA É UMA QUESTÃO DE DIREITOS HUMANOS
As pessoas com deficiência gozam dos mesmos direitos fundamentais que os restantes cidadãos.
O artigo primeiro da Declaração Universal dos Direitos do Homem declara: “Todos os seres
humanos são livres e iguais em dignidade e direitos”. Para alcançar este objectivo, todas as
comunidades devem celebrar a sua diversidade intrínseca e devem assegurar que as pessoas
com deficiência possam desfrutar integralmente dos direitos humanos: civis, políticos, sociais,
económicos e culturais reconhecidos nas diversas Convenções Internacionais, no Tratado da
União Europeia e nas constituições nacionais.
2. AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA QUEREM A IGUALDADE DE OPORTUNIDADES E NÃO A
CARIDADE
A União Europeia, da mesma forma que muitas outras regiões do mundo, percorreu um longo
caminho, durante as últimas décadas, partindo de uma filosofia paternalista sobre as pessoas com
deficiência para uma outra aproximação que lhes faculta a responsabilidade de exercerem controle
sobre as suas próprias vidas. As concepções obsoletas baseadas, em grande parte, na compaixão
e na dita incapacidade de defesa das pessoas com deficiência são actualmente julgadas
inaceitáveis. As medidas visando, originalmente, a reabilitação do indivíduo de forma a “adaptá-lo”
à sociedade tendem a evoluir para uma concepção global que reclama a modificação da sociedade
para incluir e adaptar-se às necessidades de todos os cidadãos, incluindo as pessoas com
deficiência. As pessoas com deficiência exigem a igualdade de oportunidades e de acesso a todos
os recursos da sociedade, a saber, educação inclusiva, novas tecnologias, saúde e serviços
sociais, desporto e actividades de lazer, produtos, bens e serviços de defesa dos consumidores.
3. AS BARREIRAS SOCIAIS GERAM A DISCRIMINAÇÃO E A EXCLUSÃO SOCIAL
A forma como amiúde estão organizadas as nossas sociedades leva a que as pessoas com
deficiência não sejam capazes de exercer plenamente os seus direitos fundamentais e sejam
excluídas socialmente. Os dados estatísticos disponíveis mostram-nos que as pessoas com
deficiência atingem níveis inaceitavelmente baixos de educação e emprego. Isto tem como

48
Tradução: Associação Portuguesa de Deficientes

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resultado que um grande número de pessoas com deficiência viva em situação de pobreza
extrema em comparação com os cidadãos não deficientes.
4. AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: OS CIDADÃOS INVISÍVEIS
A discriminação que as pessoas com deficiência sofrem é muitas vezes baseada nos preconceitos
existentes contra elas mas, mais amiúde, é causada pelo facto de as pessoas com deficiência
serem largamente ignoradas e esquecidas, e isto resulta na criação e reforço das barreiras
ambientais e de atitude que impedem as pessoas com deficiência de tomar parte activa na
sociedade.
5. AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA CONSTITUEM UM GRUPO HETEROGÉNEO
Como em todas as esferas da sociedade, as pessoas com deficiência formam um grupo muito
heterogéneo de indivíduos e só as políticas que respeitarem esta diversidade funcionarão. Em
particular, são as pessoas com necessidades complexas de dependência e as suas famílias, as
que requerem acções específicas por parte das sociedades, já que muitas vezes são as mais
ignoradas entre as pessoas com deficiência. Da mesma forma, as mulheres com deficiência, assim
como as pessoas com deficiência pertencentes a minorias étnicas, são frequentemente expostas a
múltiplas discriminações, resultantes da interacção da discriminação causada pela sua deficiência
e da discriminação resultante do seu género ou origem étnica. Para as pessoas surdas é
fundamental o reconhecimento da língua gestual.
6. NÃO DISCRIMINAÇÃO + ACÇÃO POSITIVA = INCLUSÃO SOCIAL
A Carta Europeia dos Direitos Fundamentais, recentemente adoptada, reconhece que para
alcançar a igualdade para as pessoas com deficiência, o direito à não discriminação deve ser
completado pelo direito a beneficiar de medidas concebidas para assegurar a sua independência,
integração e participação na vida da comunidade. Esta abordagem sintética foi o princípio
orientador do Congresso de Madrid que reuniu mais de 600 participantes em Março de 2002.
A NOSSA VISÃO
1. A NOSSA VISÃO PODE DESCREVER-SE DE FORMA MAIS APROPRIADA,
ESTABELECENDO O CONTRASTE ENTRE A NOVA VISÃO E A ANTIGA, QUE A PRIMEIRA
PROCURA SUBSTITUIR:
a) Não às pessoas com deficiência como objectos de caridade... Sim às pessoas com deficiência
como detentores de direitos.
b) Não às pessoas com deficiência como pacientes... Sim às pessoas com deficiência como
cidadãos independentes e consumidores.
c) Não aos profissionais que tomam decisões em nome das pessoas com deficiência... Sim a uma
tomada de decisão e de responsabilidade independente pelas pessoas com deficiência e suas
organizações sobre as matérias que lhes dizem respeito.
d) Não ao colocar a tónica unicamente sobre as incapacidades individuais... Sim à eliminação de
barreiras, à revisão das normas sociais, das políticas, das culturas e à promoção de um ambiente
acessível e sustentável.
e) Não ao etiquetar das pessoas como dependentes ou não empregáveis... Sim à enfatização das
aptidões assim como a disponibilização de medidas efectivas de apoio.

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f ) Não ao desenho de processos económicos e sociais para alguns ... Sim ao desenho de um
mundo flexível para todos.
g) Não a uma segregação desnecessária na educação, no emprego e outras esferas da vida ...
Sim à integração das pessoas com deficiência nas estruturas regulares.
h) Não a uma política de deficiência como um assunto que diga respeito a ministérios específicos...
Sim à inclusão da política da deficiência como uma responsabilidade colectiva de todo o governo.
2. SOCIEDADE INCLUSIVA PARA TODOS
Pôr em prática esta conceptualização, beneficiará não só as pessoas com deficiência, mas
também a sociedade no seu conjunto. Uma sociedade que exclui vários dos seus membros ou
grupos é uma sociedade empobrecida. As acções para melhorar as condições das pessoas com
deficiência culminarão no desenho de um mundo flexível para todos. “O que hoje se realizar em
nome das pessoas com deficiência, terá significado para todos no mundo de amanhã”.
Nós, os participantes no Congresso Europeu sobre a deficiência, reunidos em Madrid,
compartilhamos esta conceptualização e convidamos todas as partes interessadas para que
considerem o Ano Europeu das Pessoas com Deficiência, em 2003 como o início de um processo
que irá tornar realidade esta visão. 50 milhões de pessoas europeias com deficiência esperam de
nós o impulso para que este processo se torne realidade.
O NOSSO PROGRAMA PARA CONCRETIZAR ESTA VISÃO
1. MEDIDAS LEGAIS
Deve promulgar-se legislação anti discriminatória quanto antes para eliminar os entraves
existentes e evitar a emergência de novas barreiras que as pessoas com deficiência possam
encontrar na educação, no emprego e no acesso aos bens e serviços e que as impede de alcançar
o seu pleno potencial em termos de participação social e de independência. A cláusula de não
discriminação do Artigo 13.º do Tratado da CE permite a sua aplicação à escala Comunitária,
contribuindo assim para uma Europa realmente livre de barreiras para as pessoas com deficiência.
2. MUDANÇA DE ATITUDES
A legislação anti discriminatória provou a sua eficácia na mudança de atitudes perante as pessoas
com deficiência. Contudo, a lei não é suficiente. Sem um forte compromisso de toda a sociedade,
incluindo a participação activa das pessoas com deficiência para garantir os seus próprios direitos,
a legislação carecerá de eficácia. A sensibilização pública é por conseguinte necessária para
apoiar medidas legislativas e para aumentar o entendimento das necessidades e dos direitos das
pessoas com deficiência na sociedade e lutar contra os preconceitos e a estigmatização que ainda
hoje prevalece.
3. SERVIÇOS QUE PROMOVAM A VIDA AUTÓNOMA
A concretização de um objectivo visando a igualdade de acesso e de participação requer que os
recursos sejam canalizados de tal forma que reforce a capacidade de participação das pessoas
com deficiência e o seu direito a viver de forma autónoma. Muitas pessoas com deficiência
necessitam serviços de apoio nas suas vidas quotidianas. Estes serviços devem ser de qualidade
e baseados nas necessidades das pessoas com deficiência. Devem estar integrados na sociedade
e não constituírem uma fonte de segregação. Um tal acompanhamento está de acordo com o

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modelo social europeu de solidariedade; um modelo que reconhece a nossa responsabilidade


colectiva uns sobre os outros e particularmente sobre aqueles que requerem ajuda.
4. APOIO ÀS FAMÍLIAS
A família das pessoas com deficiência, particularmente das crianças com deficiência e das
pessoas com deficiências profundas incapazes de se representar a si mesmas, desempenha um
papel essencial quanto à sua educação e inclusão social. Portanto, as autoridades públicas devem
estabelecer medidas adequadas às necessidades das famílias, que lhes possibilitem organizar o
apoio às pessoas com deficiência da forma mais integradora possível.
5. ATENÇÃO ESPECIAL ÀS MULHERES COM DEFICIÊNCIA
O Ano Europeu deve ser visto como uma oportunidade para considerar a situação da mulher com
deficiência numa nova perspectiva. A exclusão social que enfrenta a mulher com deficiência é não
só motivada pela sua deficiência mas igualmente pela questão do género. A múltipla discriminação
que enfrenta a mulher com deficiência deve ser combatida através da combinação de medidas de
integração e de acções positivas elaboradas em consulta com as interessadas.
6. A INTEGRAÇÃO GLOBAL DA DEFICIÊNCIA
As pessoas com deficiência devem ter acesso aos serviços regulares de saúde, de educação, de
formação e sociais, assim como ao conjunto de oportunidades disponíveis para as pessoas não
deficientes. A implementação de uma aproximação inclusiva da deficiência e das pessoas com
deficiência implica mudanças nas práticas habituais a vários níveis. Em primeiro lugar, é
necessário assegurar que os serviços disponíveis para pessoas com deficiência sejam
coordenados no seio e entre os diferentes sectores. As diversas necessidades de acessibilidade
dos diferentes grupos de pessoas com deficiência devem tomar-se em consideração no processo
de planificação de qualquer actividade, e não como uma adaptação a efectuar quando o processo
de planificação esteja completo. As necessidades das pessoas com deficiência e suas famílias são
numerosas, sendo importante conceber uma resposta compreensiva que tenha em conta a pessoa
e os diferentes aspectos da sua vida.

7. O EMPREGO COMO CHAVE PARA A INCLUSÃO SOCIAL


Devem levar-se a cabo importantes esforços com o objectivo de promover o acesso ao emprego
das pessoas com deficiência, preferencialmente no marcado normal de trabalho. Trata-se de um
dos instrumentos fundamentais de luta contra a exclusão social das pessoas com deficiência, de
promoção da sua independência assim como da sua dignidade. Esta medida requer, não somente
a activa mobilização dos parceiros sociais mas igualmente das autoridades públicas que devem
continuar a reforçar as medidas já existentes.
8. NADA SOBRE AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA SEM AS PESSOAS COM DEFICIÈNCIA
O Ano 2003 deve dar a oportunidade de outorgar às pessoas com deficiência, às suas famílias,
aos seus representantes e às suas associações, um novo e mais amplo campo político e social, a
todos os níveis da sociedade, para comprometer os governos no diálogo, na tomada de decisões e
progresso em torno dos objectivos de igualdade e de inclusão.

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Todas as acções devem empreender-se em diálogo e cooperação com as organizações mais


relevantes de pessoas com deficiência. Tal participação não deve confinar-se unicamente a
receber informação ou a sancionar decisões. Em contraponto, os governos devem estabelecer ou
reforçar, a todos os níveis de adopção de medidas, mecanismos pontuais de concertação e de
diálogo, permitindo às pessoas com deficiência através das suas organizações, contribuir na
planificação, aplicação, supervisão e avaliação de todas as acções.
Uma aliança forte entre os Governos e as organizações de pessoas com deficiência constitui o
requisito elementar a um progresso eficaz de igualdade de oportunidades e de participação social
das pessoas com deficiência.
Para facilitar este processo, a capacidade das organizações de pessoas com deficiência deve ser
reforçada através de uma maior disponibilização de recursos que lhes permita melhorar a sua
gestão e aumentar a capacidade de dinamizar campanhas de sensibilização. Isto implica, do
mesmo modo, uma responsabilidade por parte das organizações de pessoas com deficiência de
melhorar continuamente os seus níveis de governação e de representatividade.
PROPOSTAS PARA A ACÇÃO
O Ano 2003, Ano Europeu das Pessoas com Deficiência, deve traduzir-se no avanço da agenda
política relativa à deficiência e requer o apoio activo de todas as partes numa ampla aproximação
de parceria. Por conseguinte, sugerem-se propostas concretas de acção para todos os agentes
interessados. Estas acções devem ser desenvolvidas durante o Ano Europeu e devem continuar
para além deste. Deve ser efectuada a avaliação posterior dos progressos conseguidos.
1. AS AUTORIDADES DA UNIÃO EUROPEIA, AS AUTORIDADES NACIONAIS DOS ESTADOS
MEMBROS E OS PAÍSES CANDIDATOS
As autoridades públicas devem dar o exemplo e por conseguinte devem ser os primeiros, mas não
os únicos, a desenvolver estas medidas:
- Rever o âmbito actual de aplicação dos dispositivos legais Comunitários e nacionais destinados a
combater as práticas discriminatórias no domínio da educação, do emprego e do acesso aos bens
e serviços.
- Proceder à investigação das restrições e das barreiras discriminatórias que limitam a liberdade
das pessoas com deficiência de participar plenamente na sociedade e tomar todas as medidas
necessárias para remediar a situação.
- Rever os serviços e os sistemas de apoios para assegurar que estas políticas ajudem e animem
as pessoas com deficiência a permanecer e/ou a tornarem-se parte integrante da sociedade em
que vivem.
- Empreender investigações sobre a violência e o abuso cometido contra as pessoas com
deficiência, particularmente em relação às pessoas com deficiência que vivem em grandes
instituições.
- Reforçar a legislação sobre acessibilidade para assegurar que as pessoas com deficiência
tenham o mesmo direito de acesso que os restantes cidadãos a todas as infra-estruturas públicas
e sociais.

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- Contribuir para a promoção dos direitos humanos das pessoas com deficiência à escala mundial,
participando activamente nos trabalhos de redacção de uma Convenção das Nações Unidas sobre
os direitos das pessoas com deficiência;
- Contribuir para a situação das pessoas com deficiência nos países em desenvolvimento,
introduzindo a integração social das pessoas com deficiência nos objectivos propostos pelas
políticas de cooperação para o desenvolvimento tanto europeias como nacionais.
2. AUTORIDADES LOCAIS
O Ano Europeu deve, antes de mais, desenvolver-se ao nível local, onde os problemas são mais
perceptíveis para os cidadãos e onde as associações de e para pessoas com deficiência realizam
a maior parte do seu trabalho. Todos os esforços possíveis devem pôr em relevo a promoção, os
recursos e as actividades de âmbito local.
Devem convidar-se os agentes locais a integrar as necessidades das pessoas com deficiência nas
políticas locais e comunitárias, incluindo a educação, o emprego, a habitação e o transporte, a
saúde e os serviços sociais, tendo presente a diversidade das pessoas com deficiência, incluindo,
entre outros, pessoas idosas, as mulheres e os migrantes.
As administrações locais devem prever planos locais de acção relativos à deficiência em
coordenação com os representantes das pessoas com deficiência, devendo preparar as suas
próprias comissões locais que serão a ponta de lança das actividades do Ano.
3. ORGANIZAÇÕES DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
As organizações de pessoas com deficiência, como representantes das pessoas com deficiência,
têm a responsabilidade maior para garantir o êxito do Ano Europeu. Devem considerar-se a si
mesmas como embaixadoras do Ano Europeu e dirigir-se activamente aos sectores sociais mais
relevantes, propondo medidas concretas e tratando de estabelecer a cooperação em larga escala
quanto esta ainda não exista.
4. EMPREGADORES
Os empregadores devem aumentar os seus esforços para incluir, manter e promover as pessoas
com deficiência nos seus quadros de pessoal e desenhar os seus produtos e serviços de modo a
que sejam acessíveis às pessoas com deficiência. Os empregadores devem rever as suas
políticas internas para assegurar que nenhuma impeça as pessoas com deficiência de desfrutar da
igualdade de oportunidades. As organizações empresariais podem contribuir para estes esforços
recorrendo aos numerosos exemplos de boas práticas já existentes.
5. SINDICATOS
Os sindicatos devem aumentar o seu envolvimento para melhorar o acesso e manutenção do
emprego das pessoas com deficiência e assegurar que estas beneficiem de igualdade de acesso à
formação e medidas de promoção, nas negociações dos acordos com as empresas e sectores
profissionais. Deve ser dada atenção acrescida à promoção da participação e representação dos
trabalhadores e trabalhadoras com deficiência, quer nas suas próprias estruturas de decisão quer
nas existentes no âmbito das empresas e dos sectores profissionais.
6. MEIOS DE COMUNICAÇÃO

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Os meios de comunicação social devem criar e fortalecer alianças com associações de pessoas
com deficiência, para melhorar a imagem das pessoas com deficiência nos meios de comunicação
social.
Dever-se-ia potenciar a inclusão de informação sobre as pessoas com deficiência nos meio de
comunicação como reconhecimento da existência da diversidade humana. Ao referir-se a questões
de deficiência os meios de comunicação deveriam evitar aproximações paternalistas ou
humilhantes e, pelo contrário, centrar-se melhor nas barreiras que enfrentam as pessoas com
deficiência e na contribuição positiva que estas podem oferecer à sociedade uma vez que estas
barreiras são ultrapassáveis.
7. O SISTEMA ESCOLAR
As escolas devem ter um papel relevante na difusão da mensagem de compreensão e aceitação
dos direitos das pessoas com deficiência, ajudar a dissipar medos, mitos e conceitos erróneos,
apoiando os esforços de toda a comunidade. Devem desenvolver-se e difundir-se amplamente
recursos educativos para ajudar a que os alunos desenvolvam um sentido individual com respeito
pela sua própria deficiência e pela dos outros e ajudá-los a reconhecer as suas diferenças de
modo mais positivo.
É necessário atingir a educação para todos baseada nos princípios da plena participação e
igualdade. A educação desempenha um papel fundamental na definição do futuro de todos, tanto
do ponto de vista pessoal, como social e profissional. O sistema educativo tem de ser, por isso, o
lugar chave para assegurar o desenvolvimento pessoal e a inclusão social, que permitirá às
crianças e jovens com deficiência ser tão independentes quanto possível. O sistema educativo é o
primeiro passo para uma sociedade inclusiva.
As escolas, os estabelecimentos de ensino superior, as universidades devem, em cooperação com
os activistas do movimento de pessoas com deficiência, promover conferências e seminários
dirigidos a jornalistas, publicitários, arquitectos, empregadores, assistentes sociais e agentes de
saúde, familiares, voluntários e membros dos agentes locais.
8. UM ESFORÇO COMUM PARA O QUAL TODOS PODEM E DEVEM CONTRIBUIR
As pessoas com deficiência esforçam-se para estar presentes em todos os domínios da vida o que
implica que todas as organizações revejam as suas práticas para assegurar que elas sejam
concebidas de maneira a que as pessoas com deficiência possam contribuir para elas e beneficiar
delas. Entre os exemplos de tais organizações destacam-se: as organizações de defesa dos
consumidores, organizações juvenis, organizações religiosas, organizações culturais e outras
organizações que representem grupos específicos de cidadãos. De qualquer forma é necessário
envolver os responsáveis pelas decisões políticas e os responsáveis por locais como museus,
teatros, cinemas, parques, estádios, centros de congressos, centros comerciais e postos de
correio.
Nós, os participantes no Congresso de Madrid, apoiamos esta Declaração e comprometemo-nos a
difundi-la amplamente, para que possa alcançar a base social e para animar todas as pessoas
envolvidas a seguir esta Declaração antes, durante e depois do ano Europeu das Pessoas com
Deficiência. Subscrevendo esta Declaração, as organizações afirmam abertamente o seu acordo

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com conceptualização da Declaração de Madrid e comprometem-se a desenvolver as acções que


contribuirão para o processo que conduzirá todas as pessoas com deficiência e suas famílias à
igualdade efectiva.

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DECLARAÇÃO DE SALAMANCA

Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais

Reafirmando o direito à educação de todos os indivíduos, tal como está inscrito na Declaração
Universal dos Direitos do Homem de 1948, e renovando a garantia dada pela comunidade mundial
na Conferência Mundial sobre a Educação para Todos de 1990 de assegurar esse direito,
independentemente das diferenças individuais.

Relembrando as diversas declarações da Nações Unidas que culminaram, em 1993, nas Normas
das Nações Unidas sobre a Igualdade de Oportunidades para as Pessoas com Deficiência, as
quais exortam os Estados a assegurar que a educação das pessoas com deficiência faça parte
integrante do sistema educativo.

Notando com satisfação o envolvimento crescente dos governos, dos grupos de pressão, dos
grupos comunitários e de pais, e, em particular, das organizações de pessoas com deficiência, na
procura da promoção do acesso à educação para a maioria dos que apresentam necessidades
especiais e que ainda não foram por ela abrangidos; e reconhecendo, como prova desde
envolvimento, a participação activa dos representantes de alto nível de numerosos governos, de
agências especializadas e de organizações intergovernamentais nesta Conferência Mundial.

1.
Nós delegados à Conferência Mundial sobre as Necessidades Educativas Especiais,
representando noventa e dois países e vinte cinco organizações internacionais, reunidos aqui em
Salamanca, Espanha, de 7 a 10 de Julho de 1994, reafirmamos, por este meio, o nosso
compromisso em prol da Educação para Todos, reconhecendo a necessidade e a urgência de
garantir a educação para as crianças, jovens e adultos com necessidades educativas especiais no
quadro do sistema regular de educação, e sancionamos, também por este meio, o Enquadramento
da Acção na área das Necessidades Educativas Especiais, de modo a que os governos e as
organizações sejam guiados pelo espírito das suas propostas e recomendações.

2.
Acreditamos e proclamamos que:
Cada criança tem o direito fundamental à educação e deve ter a oportunidade de conseguir e
manter um nível aceitável de aprendizagem,
Cada criança tem características, interesses, capacidades e necessidades de aprendizagem que
lhe são próprias,
Os sistemas de educação devem ser planeados e os programas educativos implementados tendo
em vista a vasta diversidade destas características e necessidades,

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As crianças e jovens com necessidades educativas especiais devem ter acesso às escolas
regulares, que a elas se devem adequar através duma pedagogia centrada na criança, capaz de ir
ao encontro destas necessidades,
As escolas regulares, seguindo esta orientação inclusiva, constituem os meios capazes para
combater as atitudes discriminatórias, criando comunidades abertas e solidárias, construindo uma
sociedade inclusiva e atingindo a educação para todos; além disso, proporcionam uma educação
adequada à maioria das crianças e promovem a eficiência, numa óptima relação custo-qualidade,
de todo o sistema educativo.

3.
Apelamos a todos os governos e incitamo-los a:
Conceder a maior prioridade, através das medidas de política e através das medidas orçamentais,
ao desenvolvimento dos respectivos sistemas educativos, de modo a que possam incluir todas as
crianças, independentemente das diferenças ou dificuldades individuais,
Adoptar como matéria de lei ou como política o princípio da educação inclusiva, admitindo todas as
criança nas escolas regulares, a não ser que haja razões que obriguem a proceder de outro modo,
Desenvolver projectos demonstrativos e encorajar o intercâmbio com países que têm experiência
de escolas inclusivas,
Estabelecer mecanismos de planeamento, supervisão e avaliação educacional para crianças e
adultos com necessidades educativas especiais, de modo descentralizado e participativo,
Encorajar e facilitar a participação dos pais, comunidades e organizações de pessoas com
deficiência no planeamento e na tomada de decisões sobre os serviços na área das necessidades
educativas especiais,
Investir um maior esforço na identificação e nas estratégias de intervenção precoce, assim como
nos aspectos vocacionais da educação inclusiva,
Garantir que, no contexto duma mudança sistémica, os programas de formação de professores,
tanto a nível inicial com em serviço, incluam as respostas às necessidades educativas especiais
nas escolas inclusivas.

4.
Também apelamos para a comunidade internacional; apelamos em particular:
Aos governos com programas cooperativos internacionais e às agências financiadoras
internacionais, especialmente os patrocinadores da Conferência Mundial de Educação para Todos,
à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), ao fundo
das Nações Unidas para a Infância, (UNICEF), ao Programa de Desenvolvimento da Nações
Unidas (PNUD), e ao Banco Mundial:
A que sancionem a perspectiva da escolaridade inclusiva e apoiem o desenvolvimento da
educação de alunos com necessidades especiais, como parte integrante de todos os programas
educativos;

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• Às Nações Unidas e às suas agências especializadas, em particular à Organização Internacional


do Trabalho (OIT), à Organização Mundial de Saúde (OMS), UNESCO e UNICEF: a que
fortaleçam a sua cooperação técnica, assim como reenforcem a cooperação e trabalho, tendo em
vista um apoio mais eficiente às respostas integradas e abertas às necessidades educativas
especiais;

• Às organizações não-governamentais envolvidas no planeamento dos países e na organização


dos serviços:
a que fortaleçam a sua colaboração com as entidades oficiais e que intensifiquem o seu crescente
envolvimento no planeamento, implementação e avaliação das respostas inclusivas às
necessidades educativas especiais;

• À UNESCO, enquanto agência das Nações Unidas para a Educação:


A que assegure que a educação das pessoas com necessidades educativas especiais faça parte
de cada discussão relacionada com a educação para todos, realizada nos diferentes fóruns;
A que mobilize o apoio das organizações relacionadas com o ensino, de forma a promover a
formação de professores, tendo em vista as respostas às necessidades educativas especiais;
A que estimule a comunidade académica a fortalecer a investigação e o trabalho conjunto e a
estabelecer centros regionais de informação e de documentação; igualdade, a que seja um ponto
de encontro destas actividades e um motor de divulgação e do progresso atingido em cada país,
no prosseguimento desta Declaração;
A que mobilize fundos, no âmbito do próximo Plano a Médio Prazo (1996-2000), através da criação
dum programa extensivo de apoio à escola inclusiva e de programas comunitários, os quais
permitirão o lançamento de projectos-piloto que demonstrem e divulguem novas perspectivas e
promovam o desenvolvimento de indicadores relativos às carências no sector das necessidades
educativas especiais e aos serviços que a elas respondem.

5.
Finalmente, expressamos o nosso caloroso reconhecimento ao Governo de Espanha e à UNESCO
pela organização desta Conferência e solicitamo-los a que empreendam da Acção que a
acompanha ao conhecimento da comunidade mundial, especialmente a fóruns tão importantes
como a Conferência Mundial para o Desenvolvimento Social (Copenhaga, 1995) e a Conferência
Mundial das Mulheres (Beijin, 1995).

Aprovado por aclamação, na cidade de Salamanca, Espanha, neste dia, 10 de Junho de 1994.

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Decreto-Lei n.º 123/97 de 22 de Maio

Adopção de um conjunto de normas técnicas básicas de eliminação de barreiras arquitectónicas


em edifícios públicos, equipamentos colectivos e via pública para melhoria da acessibilidade das
pessoas com mobilidade condicionada
Objecto...................................................................................................................................... 3
Âmbito de aplicação .................................................................................................................. 3
Aplicação diferida ...................................................................................................................... 4
Período de transição.................................................................................................................. 4
Excepções ................................................................................................................................ 4
Fiscalização ............................................................................................................................... 5
Coimas...................................................................................................................................... 5
Sanção acessória ...................................................................................................................... 5
Sanções disciplinares ................................................................................................................ 5
Entrada em vigor ....................................................................................................................... 5
NORMAS TÉCNICAS PARA MELHORIA DA ACESSIBILIDADE DOS CIDADÃOS COM
MOBILIDADE CONDICIONADA AOS EDIFÍCIOS, ESTABELECIMENTOS QUE RECEBEM
PÚBLlCO E VIA PÚBLICA. ........................................................................................................... 7
Urbanismo................................................................................................................................. 7
Acesso aos edifícios .................................................................................................................. 8
Mobilidade nos edifícios ............................................................................................................ 9
Áreas de intervenção específica.............................................................................................. 10
ANEXO II ................................................................................................................................... 12
O imperativo da progressiva eliminação das barreiras, designadamente urbanísticas e
arquitectónicas, que permita às pessoas com mobilidade reduzida o acesso a todos os sistemas e
serviços da comunidade, criando condições para o exercício efectivo de uma cidadania plena,
decorre de diversos preceitos da Constituição, quando proclama, designadamente, o princípio da
igualdade, o direito à qualidade de vida, à educação, à cultura e ciência e à fruição e criação
cultural e, em especial, quando consagra os direitos dos cidadãos com deficiência.
Decorre igualmente de orientações emanadas de diversas organizações internacionais em que o
nosso país se encontra integrado, nomeadamente a Organização das Nações Unidas e suas
agências especializadas, o Conselho da Europa e a União Europeia.
No quadro jurídico nacional importa salientar que o n.° 2 do artigo 71.° da Constituição comete ao
Estado a obrigação de tornar efectiva a realização dos direitos dos cidadãos com deficiência,
impondo, assim, acções por parte do Estado de que este não se pode eximir.
No sentido de dar cumprimento a estas injunções foi publicado o Decreto-Lei n.° 43/82, de 8 de
Fevereiro, que alterou vários preceitos do Regulamento Geral das Edificações Urbanas,
consagrando normas técnicas sobre acessibilidade. As vicissitudes que sofreu este diploma, cujo
prazo de entrada em vigor foi objecto de várias prorrogações e que culminou com a sua revogação

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pelo Decreto-Lei n.° 172-H/86, de 30 de Junho, demonstram inequivocamente as dificuldades de


fazer aplicar as medidas nele consagradas.
Posteriormente, por despacho conjunto dos Ministros do Plano e da Administração do
Território, das Obras Públicas, Transportes e Comunicações e do Trabalho e Segurança Social de
1 de Julho de 1986, foram aprovadas recomendações técnicas que visavam melhorar a
acessibilidade das pessoas com mobilidade reduzida aos estabelecimentos que recebem público.
No mesmo sentido e na sequência dos princípios consignados na Resolução do Conselho de
Ministros n.º 6/87, de 29 de Janeiro, relativos ao acolhimento e atendimento público, o
Conselho de Ministros, pela Resolução n.º 34/88, de 28 de Julho, reafirmou a necessidade de
eliminação das barreiras arquitectónicas no acesso às instalações dos serviços públicos, pela
adopção das recomendações técnicas constantes daquele despacho e, não o sendo possível, pela
instalação de equipamentos especiais ou providenciando os serviços pela deslocação do
funcionário a local do edifício devidamente assinalado e acessível ao utente, de modo a ser
prestado o serviço pretendido.
Por sua vez, a Lei de Bases da Prevenção e da Reabilitação e Integração das Pessoas com
Deficiência - Lei n.º 9/89, de 2 de Maio -, no seu artigo 24.º, dispõe que «o regime legal em matéria
de urbanismo e habitação deve ter como um dos seus objectivos facilitar às pessoas com
deficiência o acesso à utilização do meio edificado, incluindo espaços exteriores», e que, para o
efeito, «a legislação aplicável deve ser revista e incluir obrigatoriamente medidas de eliminação
das barreiras arquitectónicas».
No tempo que decorreu entre a publicação daqueles diplomas e o presente mudaram-se
mentalidades, apetrecharam-se serviços, aumentaram as potencialidades económicas do País,
consolidaram-se compromissos a nível europeu e internacional, pelo que se considera, sem
prejuízo de outras medidas em estudo, designadamente no âmbito da revisão do Regulamento
Geral das Edificações Urbanas, que existem condições que permitem consagrar legalmente
exigências técnicas mínimas de acessibilidade a adoptar nos edifícios da administração pública
central, regional e local e dos institutos públicos que revistam a natureza de serviços
personalizados e de fundos públicos, bem como em alguns edifícios e estabelecimentos que
recebam público.
A competência fiscalizadora cabe à Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais e às
entidades licenciadoras.
O Governo está consciente da importância de que se reveste a supressão das barreiras
urbanísticas e arquitectónicas no processo de total integração social das pessoas com mobilidade
condicionada, permanente ou temporária, e na melhoria da qualidade de vida de todos os cidadãos
em geral, para que, na possibilidade da utilização por todos dos bens e serviços comunitários, se
materialize o princípio da igualdade consagrado na lei fundamental.
Espera-se que a sensibilização e a adesão da comunidade aos resultados destas medidas
viabilizem, a curto prazo, o alargamento do âmbito de aplicação do presente diploma e a
consagração de novas exigências técnicas.
Foram ouvidos os órgãos de governo próprio das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.

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Foi ouvida a Associação Nacional de Municípios Portugueses.


O projecto do presente diploma foi publicado no Diário da República, 2.ª série, n.º 230, de 3 de
Outubro de 1996.
Assim:
No desenvolvimento do regime jurídico estabelecido pela Lei n.° 9/89, de 2 de Maio, e nos termos
da alínea c) do n.º 1 do artigo 201.° da Constituição, o Governo decreta o seguinte:
Artigo 1.º
Objecto
1 - São aprovadas as normas técnicas destinadas a permitir a acessibilidade das pessoas com
mobilidade condicionada, nomeadamente através da supressão das barreiras urbanísticas e
arquitectónicas nos edifícios públicos, equipamentos colectivos e via pública, que se publicam no
anexo I ao presente decreto-lei e que dele fazem parte integrante.
2 - Para efeitos do presente diploma, é adoptado o símbolo internacional de acessibilidade que
consiste numa placa com uma figura em branco sobre um fundo azul, em tinta reflectora, e com as
dimensões especificadas no anexo II, a qual será obtida junto das entidades licenciadoras.
3 - O símbolo internacional de acessibilidade deverá ser afixado em local bem visível nos edifícios,
instalações, equipamentos e via pública que respeitem as normas técnicas aprovadas pelo
presente diploma.
Artigo 2.º
Âmbito de aplicação
1 - As normas técnicas aprovadas aplicam-se a todos os projectos de instalações e respectivos
espaços circundantes da administração pública central, regional e local, bem como dos institutos
públicos que revistam a natureza de serviços personalizados ou de fundos públicos.
2 - Aplicam-se igualmente aos seguintes projectos de edifícios, estabelecimentos e equipamentos
de utilização pública e via pública:
a) Equipamentos sociais de apoio a pessoas idosas e ou com deficiência, como sejam lares,
residências, centros de dia, centros de convívio, centros de emprego protegido, centros de
actividades ocupacionais e outros equipamentos equivalentes;
b) Centros de saúde, centros de enfermagem, centros de diagnóstico, hospitais, maternidades,
clínicas, postos médicos em geral, farmácias e estâncias termais;
c) Estabelecimentos de educação pré-escolar e de ensino básico, secundário e superior, centros
de formação, residenciais e cantinas;
d) Estabelecimentos de reinserção social;
e) Estações ferroviárias e de metropolitano, centrais de camionagem, gares marítimas e fluviais,
aerogares de aeroportos e aeródromos, paragens dos transportes colectivos na via pública, postos
de abastecimento de combustível e áreas de serviço;
f) Passagens de peões desniveladas, aéreas ou subterrâneas, para travessia de vias férreas, vias
rápidas e auto-estradas;
g) Estações de correios, estabelecimentos de telecomunicações, bancos e respectivas caixas
multibanco, companhias de seguros e estabelecimentos similares;

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h) Museus, teatros, cinemas, salas de congressos e conferências, bibliotecas públicas, bem como
outros edifícios ou instalações destinados a actividades recreativas e sócio-culturais;
i) Recintos desportivos, designadamente estádios, pavilhões gimnodesportivos e piscinas;
j) Espaços de lazer, nomeadamente parques infantis, praias e discotecas;
l) Estabelecimentos comerciais, bem como hotéis, apart-hotéis, motéis, residenciais, pousadas,
estalagens, pensões e ainda restaurantes e cafés cuja superfície de acesso ao público ultrapasse
150 m2;
m) Igrejas e outros edifícios destinados ao exercício de cultos religiosos;
n) Parques de estacionamento de veículos automóveis;
o) Instalações sanitárias de acesso público.
3 - As presentes normas aplicam-se sem prejuízo das contidas em regulamentação técnica
específica mais exigente.
Artigo 3.º
Aplicação diferida
O presente diploma não se aplica de imediato:
a) Às obras em execução, aquando da sua entrada em vigor;
b) Aos projectos de novas construções privadas cujo processo de aprovação e ou de licenciamento
esteja em curso à data da entrada em vigor do presente diploma;
c) Às instalações, edifícios e estabelecimentos já construídos.
Artigo 4.º
Período de transição
1 - As instalações, edifícios e estabelecimentos, bem como os respectivos espaços circundantes, a
que se refere o artigo 2.º, já construídos e em construção que não garantam a acessibilidade das
pessoas com mobilidade condicionada terão de ser adaptados no prazo de sete anos, para
assegurar o cumprimento das normas técnicas aprovadas pelo presente diploma.
2 - Aplicam-se de imediato as referidas normas técnicas aos projectos de remodelação e
ampliação de instalações, edifícios, estabelecimentos e espaços referidos no número anterior que
vierem a ser submetidos a aprovação e ou licenciamento após a entrada em vigor do presente
diploma.
3 - Nas situações previstas na alínea b) do artigo anterior devem as entidades licenciadoras
contactar as entidades promotoras no sentido de:
a) Reformularem o seu projecto de acordo com as presentes normas técnicas; ou
b) Terem as construções a edificar de estar conformes com as presentes normas técnicas no
prazo previsto no n.º 1 deste artigo.
Artigo 5.°
Excepções
1 - Excepcionalmente, quando a aplicação das normas técnicas aprovadas por este diploma
origine situações de difícil execução, exija a aplicação de meios económico-financeiros
desproporcionados ou afecte sensivelmente o património cultural, os organismos competentes
para a aprovação definitiva dos projectos poderão autorizar outras soluções diferentes,

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respeitando-se os termos gerais do presente diploma de acordo com critérios a estabelecer, que
deverão ser publicitados com expressa e justificada invocação das causas legitimadoras de tais
soluções.
2 - A aplicação das normas técnicas aprovadas por este diploma a edifícios e respectivos espaços
circundantes que revistam especial interesse histórico e arquitectónico, designadamente os
imóveis classificados ou em vias de classificação, será avaliada caso a caso e adaptada às
características específicas do edifício em causa, ficando a sua aprovação dependente de parecer
favorável do Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico.
Artigo 6.º
Fiscalização
A fiscalização do cumprimento das normas técnicas aprovadas por este diploma compete às
entidades licenciadoras previstas na legislação específica.
Artigo 7.º
Coimas
1 - Sem prejuízo da aplicação de outras normas sancionatórias da competência das entidades
licenciadoras, a execução de quaisquer obras com violação das normas técnicas aprovadas pelo
presente diploma é punida com coima de 50 000$ a 500 000$.
2 - Quando as coimas forem aplicadas a pessoas colectivas, os montantes fixados no número
anterior são elevados para 100 000 $ e 2 000 000 $.
3 - A competência para determinar a instauração dos processos de contra-ordenação, para
designar o instrutor e para aplicar as coimas pertence às entidades referidas no artigo 6.º
Artigo 8.º
Sanção acessória
As contra-ordenações previstas no artigo anterior podem ainda determinar, quando a gravidade da
infracção o justifique, a aplicação de sanção acessória de privação do direito a subsídios atribuídos
por entidades públicas ou serviços públicos.
Artigo 9.º
Sanções disciplinares
Os funcionários e agentes da administração pública central, regional e local e dos institutos
públicos que revistam a natureza de serviços personalizados ou fundos públicos que deixarem de
participar infracções ou prestarem informações falsas ou erradas relativas ao presente diploma de
que tiverem conhecimento no exercício das suas funções incorrem em responsabilidade
disciplinar, nos termos da lei geral, para além da responsabilidade civil e criminal que ao caso
couber.
Artigo 10.°
Entrada em vigor
O presente diploma entra em vigor 90 dias após a data da sua publicação.
Visto e aprovado em Conselho de Ministros de 13 de Fevereiro de 1997. - António Manuel de
Oliveira Guterres - Mário Fernando de Campos Pinto - Artur Aurélio Teixeira Rodrigues
Consolado - António Manuel de Carvalho Ferreira Vitorino - António Manuel de Carvalho

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Ferreira Vitorino - Jaime José Matos da Gama - António Luciano Pacheco de Sousa Franco -
Alberto Bernardes Costa - João Cardona Gomes Cravinho - José Eduardo Vera Cruz Jardim -
Augusto Carlos Serra Ventura Mateus - Fernando Manuel Van-Zeller Gomes da Silva -
Eduardo Carrega Marçal Grilo - Maria de Belém Roseira Martins Coelho Henriques de Pina -
Maria João Fernandes Rodrigues - Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues - Elisa Maria da
Costa Guimarães Ferreira - Manuel Maria Ferreira Carrilho - José Mariano Rebelo Pires Gago -
Jorge Paulo Sacadura Almeida Coelho.
Promulgado em 22 de Abril de 1997.
Publique-se.
O Presidente da República, JORGE SAMPAIO.
Referendado em 8 de Maio de 1997.
O Primeiro-Ministro, António Manuel de Oliveira Guterres.
ANEXO I
NORMAS TÉCNICAS PARA MELHORIA DA ACESSIBILIDADE DOS CIDADÃOS COM
MOBILIDADE CONDICIONADA AOS EDIFÍCIOS, ESTABELECIMENTOS QUE RECEBEM
PÚBLICO E VIA PÚBLICA.
CAPÍTULO I
Urbanismo
1 - Passeios e vias de acesso:
1.1 - A inclinação máxima, no sentido longitudinal, dos passeios e vias de acesso circundante aos
edifícios é de 6 % e, no sentido transversal, de 2 %.
1.2 - A altura dos lancis, nas imediações das passagens de peões, é de O,12 m, por forma a
facilitar o rebaixamento até 0,02 m.
1.3 - A largura mínima dos passeios e vias de acesso é de 2,25m.
1.4 - Os pavimentos dos passeios e vias de acesso devem ser compactos e as suas superfícies
revestidas de material cuja textura proporcione uma boa aderência.
1.5 - A abertura máxima das grelhas das tampas dos esgotos de águas pluviais é de 0,02 m de
lado ou de diâmetro.
1.6 - O espaço mínimo entre os postes de suporte dos sistemas de sinalização vertical é de 1,20 m
no sentido da largura do passeio ou via de acesso. As raquetas publicitárias, as cabinas
telefónicas, os postes de sinalização rodoviária vertical ou outro tipo de mobiliário urbano não
deverão condicionar a largura mínima livre do passeio de 1,20 m.
1.7 - A altura mínima de colocação das placas de sinalização fixadas em postes, nas paredes ou
em outro tipo de suportes, bem como dos toldos ou similares, quando abertos, é de 2 m.
1.8 - O equipamento/mobiliário urbano deverá ter características adequadas, de modo a permitir a
sua correcta identificação ao nível do solo pelas pessoas com deficiência visual.
2 - Passagens de peões:
2.1 - De superfície:
2.1.1 - O comprimento mínimo da zona de intercepção das zebras com as placas centrais das
rodovias é de 1,50 m, não podendo a sua largura ser inferior à largura da passagem de peões.

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2.1.2 - Os lancis dos passeios devem ser rebaixados a toda a largura das zebras pelo menos até
0,02 m da superfície das mesmas, por forma que a superfície do passeio que Ihe fica adjacente
proporcione uma inclinação suave.
2.1.3 - A textura do pavimento das passagens de peões deve ser diferente da utilizada no passeio
e na via e prolongar-se pela zona contígua do passeio.
2.1.4 - O sinal verde para os peões, nos semáforos, deve estar aberto o tempo suficiente para
permitir a travessia com segurança, a uma velocidade de 2 m/5 s.
2.1.5 - Devem existir sinais acústicos complementares nos semáforos, para orientação das
pessoas com deficiência visual.
2.2 - Desniveladas:
2.2.1 - Por rampas:
2.2.1.1. - A inclinação máxima das rampas é de 6% e a extensão máxima, de um só lanço, é de 6
m. A cada lanço seguir-se-á uma plataforma de nível para descanso com a mesma largura da
rampa e o comprimento de 1,50 m.
2.2.1.2 - A largura mínima das rampas é de 1,50 m, devendo ser ladeados por cortinas com duplo
corrimão, um a 0,90 m e outro a 0,75 m, respectivamente, da superfície da rampa. Os corrimãos
devem prolongar-se em 1 m para além da rampa, sendo as extremidades arredondadas.
Pode ser dispensada a exigência de corrimãos quando o desnível a vencer pelas rampas seja
inferior a 0,40 m.
2.2.1.3 - Os pavimentos das rampas devem, pelo seu lado de fora, ser igualmente ladeados por
uma protecção com 0,05 m a 0,10 m de altura, ao longo de toda a extensão, a qual rematará com
a superfície do piso através de concordância côncava.
2.2.1.4 - A textura dos revestimentos das superfícies dos pisos das rampas deve ser de material
que proporcione uma boa aderência e com diferenciação de textura e cor amarela no início e no
fim das rampas.
2.2.2 - Por dispositivos mecânicos - no caso de ser absolutamente impossível a construção de
rampas, devem prever-se dispositivos mecânicos (elevadores, plataformas elevatórias ou outro
equipamento adequado) para vencer o desnível. Os botões de comando devem ter alguma
diferenciação táctil, seja em relevo, braille ou outra, com dispositivo luminoso e colocados a uma
altura entre 0,90 m e 1,30 m.
2.2.3 - Por escadas:
2.2.3.1-Quando nas passagens desniveladas houver também recurso a escadas, estas devem ter
a largura mínima de 1,50 m, estar equipadas com guardas dos lados exteriores e corrimãos de
ambos os lados a 0,85 m ou 0,90 m de altura e, para permitir uma boa preensão das mãos,
aqueles devem ter também 0,04 m ou 0,05 m de espessura e diâmetro.
2.2.3.2 - No início das escadas, o material a usar no revestimento do pavimento deve ser de
textura diferente da do pavimento que as antecede e de cor amarela. Esse contraste cromático
deve efectuar-se no focinho dos degraus.
2.2.3.3 - Os degraus devem ter focinho boleado. A altura máxima do espelho é de 0,16 m. O piso
dos degraus deverá proporcionar uma boa aderência.

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CAPÍTULO II
Acesso aos edifícios
1 - Rampas de acesso - as características técnicas das rampas de acesso aos edifícios são
idênticas às previstas no capítulo anterior, devendo observar-se que a inclinação máxima não pode
ultrapassar 6 % e os lanços deverão ter uma extensão máxima de 6 m, considerando-se a largura
mínima de 1 m.
2 - Escadas - as escadas de acesso aos edifícios devem igualmente respeitar as características
técnicas definidas no capítulo anterior, considerando-se, nestes casos, uma largura mínima de
1,20 m e sempre a conjugação com as rampas.
CAPÍTULO III
Mobilidade nos edifícios
1 - Entradas dos edifícios:
1.1 - A largura útil mínima dos vãos das portas de entrada nos edifícios abertos ao público é de
0,90 m, devendo evitar-se a utilização de maçanetas e de portas giratórias, salvo se houver portas
com folha de abrir contíguas.
1.2 - A altura máxima das soleiras das portas de entrada é de 0,02 m, devendo ser sutadas em
toda a largura do vão que abre em caso de impossibilidade de respeitar aquela dimensão.
1.3 - Os átrios das entradas dos edifícios, desde a soleira da porta de entrada até à porta dos
ascensores e dos vãos de porta de acesso às instalações com as quais comunicam, devem estar
livres de degraus ou de desníveis acentuados.
1.4 - Os botões de campainha ou de trinco devem situar-se entre 0,90 m e 1,30 m de altura e
devem ter alguma diferenciação táctil, seja em relevo, braille ou outra, e com dispositivo luminoso.
1.5 - As fechaduras e os manípulos das portas devem situar-se a uma altura entre 0,90 m e 1,10 m
do solo.
2 - Ascensores:
2.1 - A dimensão mínima do patamar localizado diante da porta do ascensor é de 1,50 m x 1,50m,
devendo as áreas situadas em frente das respectivas portas ser de nível sem degraus ou
obstáculos que possam impedir o acesso, manobras e entrada de uma pessoa em cadeira de
rodas.
2.2 - O mínimo da largura útil dos vãos das portas de entrada dos ascensores é de 0,80 m.
2.3 - As dimensões mínimas, em planta, do interior das cabinas dos ascensores são de 1,10 m
(largura) x 1,40 m (profundidade).
2.4 - A altura dos botões de comando, localizados no interior das cabinas dos ascensores, oscilará
entre 0,90 m e 1,30 m do chão. Os mesmos devem ter ainda alguma referência táctil, seja em
relevo, braille ou outra, e com dispositivo luminoso.
2.5 - Os botões de chamada dos ascensores devem estar colocados a 1,20 m do pavimento do
patim e sempre do lado direito da porta, com referência táctil, seja em relevo, braille ou outra, e
ainda com dispositivo luminoso.
2.6 - Devem ser colocadas barras no interior das cabinas a uma altura de 0,90 m da superfície do
pavimento e a uma distância da parede de 0,06 m.

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2.7 - O limite de precisão de paragem dos ascensores não deve ser superior a 0,02 m.
2.8 - Devem ser instalados detectores volumétricos para imobilizar portas e ou andamento das
cabinas.
3 - Corredores e portas interiores - as portas interiores deverão ter uma largura livre de passagem
de 0,80 m e os vestíbulos e corredores uma dimensão mínima que possibilite para os primeiros a
inscrição de uma circunferência com 1,50 m de diâmetro e para os segundos 1,20 m de largura
mínima.
4 - Balcões ou guichets - a altura máxima dos balcões e guichets situa-se, pelo menos numa
extensão de 2 m, entre 0,70 m e 0,80 m. O mínimo de espaço livre em frente aos balcões ou
guichets de atendimento é de 0,90mx 1 m.
5 - Telefones:
5.1 - A altura máxima da ranhura para as moedas ou para o cartão, bem como do painel de
marcação de números, dos telefones para utilização do público situa-se entre 1 m e 1,30 m.
5.2 - Nas cabinas telefónicas o espaço livre é, no mínimo, de 0,90 m x 1,40 m. Nos casos de
cabina com campânula, esta deve estar a uma altura mínima de 2 m.
5.3 - Os aparelhos telefónicos instalados nas áreas de atendimento público de cada edifício devem
ter os números com alguma referência táctil, seja em relevo, em braille ou outra.
6 - Instalações sanitárias de utilização geral:
6.1. - Uma das cabinas do WC, quer para o sexo masculino quer para o sexo feminino, deve ter
medidas mínimas de 2,20 m X 2,20 m, permitindo o acesso por ambos os lados da sanita.
Nesta cabina é obrigatória a colocação de barras de apoio bilateral, rebatíveis na vertical e a 0,70
m do pavimento. A porta deve ser de correr ou de abrir para o exterior.
6.2 - O pavimento das cabinas do WC deve oferecer boa aderência.
6.3 - A altura de colocação de lavatórios situa-se entre 0,70 m e 0,80 m da superfície do
pavimento, devendo ser apoiados sobre poleias e não sobre colunas. As torneiras são de tipo
hospitalar ou de pastilha.
6.4 - Todas as instalações sanitárias adaptadas deverão ser apetrechadas com equipamento de
alarme adequado, ligado ao sistema de alerta (luminoso e sonoro) para o exterior ou outro.
CAPÍTULO IV
Áreas de intervenção específica
1 - Para além das normas específicas deste capítulo, são aplicadas as normas gerais dos capítulos
anteriores.
2 - Recintos e instalações desportivas:
2.1 - Balneários - o espaço mínimo de pelo menos uma das cabinas de duche, com WC e
lavatório, é de 2,20 m X 2,20 m, sendo colocadas barras para apoio bilateral a 0,70 m do solo.
A altura máxima dos comandos da água é de 1,20 m da superfície do pavimento.
2.2 - Vestiários - nos vestiários, a área livre para circulação é de 2 m X 2 m e a altura superior de
alguns dos cabides fixos é de 1,30 m da superfície do pavimento.
2.3 - Piscinas:

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2.3.1 - A entrada das piscinas deve ser feita por rampa e escada no sentido do comprimento ou da
largura ou ainda através de meios mecânicos não eléctricos.
2.3.2 - As escadas e rampas devem ter corrimãos duplos, bilaterais, situados respectivamente, a
0,75 m e 0,90 m de altura da superfície do pavimento.
2.3.3.- Os acessos circundantes das piscinas devem ter revestimento antiderrapante.
3 - Edifícios e instalações escolares e de formação:
3.1 - As passagens exteriores entre edifícios são niveladas e cobertas.
3.2 - A largura mínima dos corredores é de 1,80 m.
3.3 - Nos edifícios de vários andares é obrigatório o acesso alternativo às escadas, por ascensores
e ou rampas.
4 - Salas de espectáculos e outras instalações para actividades sócio-culturais:
4.1 - A largura mínima das coxias e dos corredores é, respectivamente, de 0,90 m e de 1,50 m.
4.2 - Neste tipo de instalações, o espaço mínimo livre a salvaguardar para cada espectador em
cadeira de rodas é de 1 - X 1,50 m.
4.3 - O número de espaços especialmente destinados para pessoas em cadeiras de rodas é o
constante da tabela seguinte, ficando, porém, a sua ocupação dependente da vontade de
espectador:
Capacidade de lugares das salas ou recintos
Número mínimo de lugares para cadeiras de rodas
Até 300.............................................................
De 301 a 1 000.................................................
Acima de 1 000.................................................
5 mais 1 por cada 1000.
5 - Parques de estacionamento:
5.1 - Os acessos aos parques de estacionamento, quando implantados em pisos situados acima
ou abaixo do nível do pavimento das ruas, serão garantidos por rampas e ou ascensores.
5.2 - Nos parques até 25 lugares devem ser reservados, no mínimo, 2 lugares para veículos em
que um dos ocupantes seja uma pessoa em cadeira de rodas. Quando o número de lugares for
superior, deverá aplicar-se a tabela seguinte:
Lotação do parque
Número mínimo de espaços reservados a acessíveis
De 25 a 100......................................................
De 101 a 500....................................................
Acima de 500....................................................
5.3 - Os lugares reservados são demarcados a amarelo sobre a superfície do pavimento e
assinalados com uma placa indicativa de acessibilidade (símbolo internacional de acesso).
As dimensões, em planta, de cada um dos espaços a reservar devem ser, no mínimo, de 5,50 m
X 3,30 m.

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Decreto-Lei n.º 163/2006

A leitura deste documento, que transcreve o conteúdo do Decreto-Lei n.º 163/2006, de 8 de


Agosto, não substitui a consulta da sua publicação em Diário da República.
Decreto-Lei n.º 163/2006 de 8 de Agosto
Aprova o regime da acessibilidade aos edifícios e estabelecimentos que recebem público, via
pública e edifícios habitacionais, revogando o Decreto-Lei n.º 123/97, de 22 de Maio.
Índice
Artigo 1.º - Objecto
Artigo 2.º - Âmbito de aplicação
Artigo 3.º - Licenciamento e autorização
Artigo 4.º - Operações urbanísticas promovidas pela Administração Pública
Artigo 5.º - Definições
Artigo 6.º - Licenciamento de estabelecimentos
Artigo 7.º - Direito à informação
Artigo 8.º - Publicidade
Artigo 9.º - Instalações, edifícios, estabelecimentos e espaços circundantes já existentes
Artigo 10.º - Excepções
Artigo 11.º - Obras em execução ou em processo de licenciamento ou autorização
Artigo 12.º - Fiscalização
Artigo 13.º - Responsabilidade civil
Artigo 14.º - Direito de acção das associações e fundações de defesa dos interesses das pessoas
com deficiência
Artigo 15.º - Responsabilidade disciplinar
Artigo 16.º - Responsabilidade contra-ordenacional
Artigo 17.º - Sujeitos
Artigo 18.º - Coimas
Artigo 19.º - Sanções acessórias
Artigo 20.º - Determinação da sanção aplicável
Artigo 21.º - Competência sancionatória
Artigo 22.º - Avaliação e acompanhamento
Artigo 23.º - Norma transitória
Artigo 24.º - Aplicação às Regiões Autónomas
Artigo 25.º - Norma revogatória
Artigo 26.º - Entrada em vigor
ANEXO
Normas técnicas para melhoria da acessibilidade das pessoas com mobilidade condicionada
Capítulo 1 - Via pública
Secção 1.1 - Percurso acessível
Secção 1.2 - Passeios e caminhos de peões

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Secção 1.3 - Escadarias na via pública


Secção 1.4 - Escadarias em rampa na via pública
Secção 1.5 - Rampas na via pública
Secção 1.6 - Passagens de peões de superfície
Secção 1.7 - Passagens de peões desniveladas
Secção 1.8 - Outros espaços de circulação e permanência de peões
Capítulo 2 - Edifícios e estabelecimentos em geral
Secção 2.1 - Percurso acessível
Secção 2.2 - Átrios
Secção 2.3 - Patamares, galerias e corredores
Secção 2.4 - Escadas
Secção 2.5 - Rampas
Secção 2.6 - Ascensores
Secção 2.7 - Plataformas elevatórias
Secção 2.8 - Espaços para estacionamento de viaturas
Secção 2.9 - Instalações sanitárias de utilização geral
Secção 2.10 - Vestiários e cabinas de prova
Secção 2.11 - Equipamentos de auto-atendimento
Secção 2.13 - Telefones de uso público
Secção 2.14 - Bateria de receptáculos postais
Capítulo 3 - Edifícios, estabelecimentos e instalações com usos específicos
Secção 3.1 - Disposições específicas
Secção 3.2 - Edifícios de habitação - espaços comuns
Secção 3.3 - Edifícios de habitação - habitações
Secção 3.6 - Salas de espectáculos e outras instalações para actividades sócio-culturais
Secção 3.7 - Postos de abastecimento de combustível
Capítulo 4 - Percurso acessível
Secção 4.1 - Zonas de permanência
Secção 4.2 - Alcance
Secção 4.3 - Largura livre
Secção 4.5 - Altura livre
Secção 4.6 - Objectos salientes
Secção 4.7 - Pisos e seus revestimentos
Secção 4.8 - Ressaltos no piso
Secção 4.9 - Portas
Secção 4.10 - Portas de movimento automático
Secção 4.11 - Corrimãos e barras de apoio
Secção 4.12 - Comandos e controlos
Secção 4.13 - Elementos vegetais
Secção 4.14 - Sinalização e orientação

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A leitura deste documento, que transcreve o conteúdo do Decreto-Lei n.º 163/2006, de 8 de


Agosto, não substitui a consulta da sua publicação em Diário da República.
Decreto-Lei n.º 163/2006 de 8 de Agosto
Aprova o regime da acessibilidade aos edifícios e estabelecimentos que recebem público, via
pública e edifícios habitacionais, revogando o Decreto-Lei n.º 123/97, de 22 de Maio.
A promoção da acessibilidade constitui um elemento fundamental na qualidade de vida das
pessoas, sendo um meio imprescindível para o exercício dos direitos que são conferidos a
qualquer membro de uma sociedade democrática, contribuindo decisivamente para um maior
reforço dos laços sociais, para uma maior participação cívica de todos aqueles que a integram e,
consequentemente, para um crescente aprofundamento da solidariedade no Estado social de
direito. São, assim, devidas ao Estado acções cuja finalidade seja garantir e assegurar os direitos
das pessoas com necessidades especiais, ou seja, pessoas que se confrontam com barreiras
ambientais, impeditivas de uma participação cívica activa e integral, resultantes de factores
permanentes ou temporários, de deficiências de ordem intelectual, emocional, sensorial, física ou
comunicacional. Do conjunto das pessoas com necessidades especiais fazem parte pessoas com
mobilidade condicionada, isto é, pessoas em cadeiras de rodas, pessoas incapazes de andar ou
que não conseguem percorrer grandes distâncias, pessoas com dificuldades sensoriais, tais como
as pessoas cegas ou surdas, e ainda aquelas que, em virtude do seu percurso de vida, se
apresentam transitoriamente condicionadas, como as grávidas, as crianças e os idosos.
Constituem, portanto, incumbências do Estado, de acordo com a Constituição da República
Portuguesa, a promoção do bem-estar e qualidade de vida da população e a igualdade real e
jurídico-formal entre todos os portugueses [alínea d) do artigo 9.º e artigo 13.º], bem como a
realização de «uma política nacional de prevenção e de tratamento, reabilitação e integração dos
cidadãos portadores de deficiência e de apoio às suas famílias», o desenvolvimento de «uma
pedagogia que sensibilize a sociedade quanto aos deveres de respeito e solidariedade para com
eles» e «assumir o encargo da efectiva realização dos seus direitos, sem prejuízo dos direitos e
deveres dos pais e tutores» (n.º 2 do artigo 71.º).
Por sua vez, a alínea d) do artigo 3.º da Lei de Bases da Prevenção, Habilitação, Reabilitação e
Participação das Pessoas com Deficiência (Lei n.º 38/2004, de 18 de Agosto) determina «a
promoção de uma sociedade para todos através da eliminação de barreiras e da adopção de
medidas que visem a plena participação da pessoa com deficiência».
O XVII Governo Constitucional assumiu, igualmente, no seu Programa que o combate à exclusão
que afecta diversos grupos da sociedade portuguesa seria um dos objectivos primordiais da sua
acção governativa, nos quais se incluem, naturalmente, as pessoas com mobilidade condicionada
que quotidianamente têm de confrontar-se com múltiplas barreiras impeditivas do exercício pleno
dos seus direitos de cidadania.
A matéria das acessibilidades foi já objecto de regulação normativa, através do Decreto-Lei n.º
123/97, de 22 de Maio, que introduziu normas técnicas, visando a eliminação de barreiras
urbanísticas e arquitectónicas nos edifícios públicos, equipamentos colectivos e via pública.

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Decorridos oito anos sobre a promulgação do Decreto-Lei n.º 123/97, de 22 de Maio, aprova-se
agora, neste domínio, um novo diploma que define o regime da acessibilidade aos edifícios e
estabelecimentos que recebem público, via pública e edifícios habitacionais, o qual faz parte de um
conjunto mais vasto de instrumentos que o XVII Governo Constitucional pretende criar, visando a
construção de um sistema global, coerente e ordenado em matéria de acessibilidades, susceptível
de proporcionar às pessoas com mobilidade condicionada condições iguais às das restantes
pessoas.
As razões que justificam a revogação do Decreto-Lei n.º 123/97, de 22 de Maio, e a criação de um
novo diploma em sua substituição prendem-se, em primeiro lugar, com a constatação da
insuficiência das soluções propostas por esse diploma.
Pesem embora as melhorias significativas decorrentes da introdução do Decreto-Lei n.º 123/97, de
22 de Maio, a sua fraca eficácia sancionatória, que impunha, em larga medida, apenas coimas de
baixo valor, fez que persistissem na sociedade portuguesa as desigualdades impostas pela
existência de barreiras urbanísticas e arquitectónicas.
Neste sentido, o presente decreto-lei visa, numa solução de continuidade com o anterior diploma,
corrigir as imperfeições nele constatadas, melhorando os mecanismos fiscalizadores, dotando-o de
uma maior eficácia sancionatória, aumentando os níveis de comunicação e de responsabilização
dos diversos agentes envolvidos nestes procedimentos, bem como introduzir novas soluções,
consentâneas com a evolução técnica, social e legislativa entretanto verificada. De entre as
principais inovações introduzidas com o presente decreto-lei, é de referir, em primeiro lugar, o
alargamento do âmbito de aplicação das normas técnicas de acessibilidades aos edifícios
habitacionais, garantindo-se assim a mobilidade sem condicionamentos, quer nos espaços
públicos, como já resultava do diploma anterior e o presente manteve, quer nos espaços privados
(acessos às habitações e seus interiores).
Como já foi anteriormente salientado, as normas técnicas de acessibilidades queconstavam do
Decreto-Lei n.º 123/97, de 22 de Maio, foram actualizadas e procedeu-se à introdução de novas
normas técnicas aplicáveis especificamente aos edifícios habitacionais.
Espelhando a preocupação de eficácia da imposição de normas técnicas, que presidiu à
elaboração deste decreto-lei, foram introduzidos diversos mecanismos que têm, no essencial, o
intuito de evitar a entrada de novas edificações não acessíveis no parque edificado português.
Visa-se impedir a realização de loteamentos e urbanizações e a construção de novas edificações
que não cumpram os requisitos de acessibilidades estabelecidos no presente decreto-lei.
As operações urbanísticas promovidas pela Administração Pública, que não carecem, de modo
geral, de qualquer licença ou autorização, são registadas na Direcção-Geral dos Edifícios e
Monumentos Nacionais, devendo as entidades administrativas que beneficiem desta isenção
declarar expressamente que foram cumpridas, em tais operações, as normas legais e
regulamentares aplicáveis, designadamente as normas técnicas de acessibilidades.
A abertura de quaisquer estabelecimentos destinados ao público (escolas, estabelecimentos de
saúde, estabelecimentos comerciais, entre outros) é licenciada pelas entidades competentes,
quando o estabelecimento em causa se conforme com as normas de acessibilidade.

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Por outro lado, consagra-se também, de forma expressa, a obrigatoriedade de comunicação às


entidades competentes para esses licenciamentos, por parte de câmara municipal, das situações
que se revelem desconformes com as obrigações impostas por este regime, aumentando-se,
assim, o nível de coordenação existente entre os diversos actores intervenientes no procedimento.
Assume igualmente grande importância a regra agora introduzida, segundo a qual os pedidos de
licenciamento ou autorização de loteamento, urbanização, construção, reconstrução ou alteração
de edificações devem ser indeferidos quando não respeitem as condições de acessibilidade
exigíveis, cabendo, no âmbito deste mecanismo, um importante papel às câmaras municipais, pois
são elas as entidades responsáveis pelos referidos licenciamentos e autorizações. Outro ponto
fundamental deste novo regime jurídico reside na introdução de mecanismos mais exigentes a
observar sempre que quaisquer excepções ao integral cumprimento das normas técnicas sobre
acessibilidades sejam concedidas, nomeadamente a obrigatoriedade de fundamentar devidamente
tais excepções, a apensação da justificação ao processo e, adicionalmente, a publicação em local
próprio para o efeito. As coimas previstas para a violação das normas técnicas de acessibilidades
são sensivelmente mais elevadas do que as previstas no diploma anterior sobre a matéria, e, com
o intuito de reforçar ainda mais a co-actividade das normas de acessibilidades, a sua aplicação
pode também ser acompanhada da aplicação de sanções acessórias. Neste domínio, visa-se,
igualmente, definir de forma mais clara a responsabilidade dos diversos agentes que intervêm no
decurso das diversas operações urbanísticas, designadamente o projectista, o responsável técnico
ou o dono da obra. O produto da cobrança destas coimas reverte em parte para as entidades
fiscalizadoras e, noutra parte, para a entidade pública responsável pela execução das políticas de
prevenção, habilitação, reabilitação e participação das pessoas com deficiência.
Outra inovação importante introduzida pelo presente decreto-lei consiste na atribuição de um papel
activo na defesa dos interesses acautelados aos cidadãos com necessidades especiais e às
organizações não governamentais representativas dos seus interesses. Estes cidadãos e as suas
organizações são os principais interessados no cumprimento das normas de acessibilidades, pelo
que se procurou conceder-lhes instrumentos de fiscalização e de imposição das mesmas. As
organizações não governamentais de defesa destes interesses podem, assim, intentar acções, nos
termos da lei da acção popular, visando garantir o cumprimento das presentes normas técnicas.
Estas acções podem configurar-se como as clássicas acções cíveis, por incumprimento de norma
legal de protecção de interesses de terceiros, ou como acções administrativas. O regime aqui
proposto deve ser articulado com o regime das novas acções administrativas, introduzidas com o
Código de Processo nos Tribunais Administrativos, que pode, em muitos casos, ser um
instrumento válido de defesa dos interesses destes cidadãos em matéria de acessibilidades.
Por fim, a efectividade do regime introduzido por este decreto-lei ficaria diminuída caso não fossem
consagrados mecanismos tendentes à avaliação e acompanhamento da sua aplicação, pelo que
as informações recolhidas no terreno, no decurso das acções de fiscalização, são remetidas para a
Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, que procederá, periodicamente, a um
diagnóstico global do nível de acessibilidade existente no edificado nacional.

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Foram promovidas as diligências necessárias à audição da Ordem dos Engenheiros e da Ordem


dos Arquitectos.
Foram ouvidos os órgãos de governo próprio das Regiões Autónomas e a Associação Nacional de
Municípios Portugueses.
Assim:
No desenvolvimento do regime jurídico estabelecido na Lei n.º 38/2004, de 18 de Agosto, e nos
termos da alínea c) do n.º 1 do artigo 198.º da Constituição, o Governo decreta o seguinte:
Artigo 1.º
Objecto
1 - O presente decreto-lei tem por objecto a definição das condições de acessibilidade a satisfazer
no projecto e na construção de espaços públicos, equipamentos colectivos e edifícios públicos e
habitacionais.
2 - São aprovadas as normas técnicas a que devem obedecer os edifícios, equipamentos e infra-
estruturas abrangidos, que se publicam no anexo ao presente decreto-lei e que dele faz parte
integrante.
3 - Mantém-se o símbolo internacional de acessibilidade, que consiste numa placa com uma figura
em branco sobre um fundo azul, em tinta reflectora, especificada na secção 4.14.3 do anexo ao
presente decreto-lei, a qual é obtida junto das entidades licenciadoras.
4 - O símbolo internacional de acessibilidade deve ser afixado em local bem visível nos edifícios,
estabelecimentos e equipamentos de utilização pública e via pública que respeitem as normas
técnicas constantes do anexo ao presente decreto-lei.
Artigo 2.º
Âmbito de aplicação
1 - As normas técnicas sobre acessibilidades aplicam-se às instalações e respectivos espaços
circundantes da administração pública central, regional e local, bem como dos institutos públicos
que revistam a natureza de serviços personalizados ou de fundos públicos.
2 - As normas técnicas aplicam-se também aos seguintes edifícios, estabelecimentos e
equipamentos de utilização pública e via pública:
a) Passeios e outros percursos pedonais pavimentados;
b) Espaços de estacionamento marginal à via pública ou em parques de estacionamento público;
c) Equipamentos sociais de apoio a pessoas idosas e ou com deficiência, designadamente lares,
residências, centros de dia, centros de convívio, centros de emprego protegido, centros de
actividades ocupacionais e outros equipamentos equivalentes;
d) Centros de saúde, centros de enfermagem, centros de diagnóstico, hospitais, maternidades,
clínicas, postos médicos em geral, centros de reabilitação, consultórios médicos, farmácias e
estâncias termais;
e) Estabelecimentos de educação pré-escolar e de ensino básico, secundário e superior, centros
de formação, residenciais e cantinas;

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f) Estações ferroviárias e de metropolitano, centrais de camionagem, gares marítimas e fluviais,


aerogares de aeroportos e aeródromos, paragens dos transportes colectivos na via pública, postos
de abastecimento de combustível e áreas de serviço;
g) Passagens de peões desniveladas, aéreas ou subterrâneas, para travessia de vias férreas, vias
rápidas e auto-estradas;
h) Estações de correios, estabelecimentos de telecomunicações, bancos e respectivas caixas
multibanco, companhias de seguros e estabelecimentos similares;
i) Parques de estacionamento de veículos automóveis;
j) Instalações sanitárias de acesso público;
l) Igrejas e outros edifícios destinados ao exercício de cultos religiosos;
m) Museus, teatros, cinemas, salas de congressos e conferências e bibliotecas públicas, bem
como outros edifícios ou instalações destinados a actividades recreativas e sócio-culturais;
n) Estabelecimentos prisionais e de reinserção social;
o) Instalações desportivas, designadamente estádios, campos de jogos e pistas de atletismo,
pavilhões e salas de desporto, piscinas e centros de condição física, incluindo ginásios e clubes de
saúde;
p) Espaços de recreio e lazer, nomeadamente parques infantis, parques de diversões, jardins,
praias e discotecas;
q) Estabelecimentos comerciais cuja superfície de acesso ao público ultrapasse 150 m2, bem
como hipermercados, grandes superfícies, supermercados e centros comerciais;
r) Estabelecimentos hoteleiros, meios complementares de alojamento turístico, à excepção das
moradias turísticas e apartamentos turísticos dispersos, nos termos da alínea c) do n.º 2 do artigo
38.º do Decreto
Regulamentar n.º 34/97, de 17 de Setembro, conjuntos turísticos e ainda cafés e bares cuja
superfície de acesso ao público ultrapasse 150 m2;
s) Edifícios e centros de escritórios.
3 - As normas técnicas sobre acessibilidades aplicam-se ainda aos edifícios habitacionais.
4 - As presentes normas aplicam-se sem prejuízo das contidas em regulamentação técnica
específica mais exigente.
Artigo 3.º
Licenciamento e autorização
1 - As câmaras municipais indeferem o pedido de licença ou autorização necessária ao loteamento
ou a obras de construção, alteração, reconstrução, ampliação ou de urbanização, de promoção
privada, referentes a edifícios, estabelecimentos ou equipamentos abrangidos pelos n.os 2 e 3 do
artigo 2.º, quando estes não cumpram os requisitos técnicos estabelecidos neste decreto-lei.
2 - A concessão de licença ou autorização para a realização de obras de alteração ou
reconstrução das edificações referidas, já existentes à data da entrada em vigor do presente
decreto-lei, não pode ser recusada com fundamento na desconformidade com as presentes
normas técnicas de acessibilidade, desde que tais obras não originem ou agravem a

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desconformidade com estas normas e se encontrem abrangidas pelas disposições constantes dos
artigos 9.º e 10.º.
3 - O disposto nos n.os 1 e 2 aplica-se igualmente às operações urbanísticas referidas no n.º 1 do
artigo 2.º, quando estas estejam sujeitas a procedimento de licenciamento ou autorização, nos
termos do Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de Dezembro.
4 - O disposto no presente artigo não prejudica o estabelecido no Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de
Dezembro, quanto à sujeição de operações urbanísticas a licenciamento ou autorização.
5 - Os pedidos referentes aos loteamentos e obras abrangidas pelos n.os 1, 2 e 3 devem ser
instruídos com um plano de acessibilidades que apresente a rede de espaços e equipamentos
acessíveis bem como soluções de detalhe métrico, técnico e construtivo, esclarecendo as soluções
adoptadas em matéria de acessibilidade a pessoas com deficiência e mobilidade condicionada,
nos termos regulamentados na Portaria n.º 1110/2001, de 19 de Setembro.
Artigo 4.º
Operações urbanísticas promovidas pela Administração Pública
1 - Os órgãos da administração pública central, regional e local, dos institutos públicos que
revistam a natureza de serviços personalizados e de fundos públicos e as entidades
concessionárias de obras ou serviços públicos, promotores de operações urbanísticas que não
careçam de licenciamento ou autorização camarária, certificam o cumprimento das normas legais
e regulamentares aplicáveis, designadamente as normas técnicas constantes do anexo ao
presente decreto-lei, através de termo de responsabilidade, definido em portaria conjunta dos
ministros responsáveis pelas áreas das finanças, da administração local, do ambiente, da
solidariedade social e das obras públicas.
2 - O termo de responsabilidade referido no número anterior deve ser enviado, para efeitos de
registo, à Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.
Artigo 5.º
Definições
Para efeitos do presente decreto-lei, são aplicáveis as definições constantes do artigo 2.º do
Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de Dezembro.
Artigo 6.º
Licenciamento de estabelecimentos
1 - As autoridades administrativas competentes para o licenciamento de estabelecimentos
comerciais, escolares, de saúde e turismo e estabelecimentos abertos ao público abrangidos pelo
presente decreto-lei devem recusar a emissão da licença ou autorização de funcionamento quando
esses estabelecimentos não cumpram as normas técnicas constantes do anexo que o integra.
2 - A câmara municipal deve, obrigatoriamente, para efeitos do disposto no número anterior,
comunicar às entidades administrativas competentes as situações de incumprimento das normas
técnicas anexas a este decreto-lei.
Artigo 7.º
Direito à informação

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1 - As organizações não governamentais das pessoas com deficiência e das pessoas com
mobilidade condicionada têm o direito de conhecer o estado e andamento dos processos de
licenciamento ou autorização das operações urbanísticas e de obras de construção, ampliação,
reconstrução e alteração dos edifícios, estabelecimentos e equipamentos referidos no artigo 2.º,
nos termos do artigo 110.º do Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de Dezembro.
2 - As organizações não governamentais mencionadas no artigo anterior têm ainda o direito de ser
informadas sobre as operações urbanísticas relativas a instalações e respectivos espaços
circundantes da administração pública central, regional e local, bem como dos institutos públicos
que revistam a natureza de serviços personalizados ou de fundos públicos, que não careçam de
licença ou autorização nos termos da legislação em vigor.
Artigo 8.º
Publicidade
A publicitação de que o pedido de licenciamento ou autorização de obras abrangidas pelo artigo
3.º e o início de processo tendente à realização das operações urbanísticas referidas no artigo 4.º
é conforme às normas técnicas previstas no presente decreto-lei deve ser inscrita no aviso referido
no artigo 12.º do Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de Dezembro, nos termos a regulamentar em
portaria complementar à aí referida, da competência conjunta dos ministros responsáveis pelas
áreas da administração local, do ambiente, da solidariedade social e das obras públicas.
Artigo 9.º
Instalações, edifícios, estabelecimentos e espaços circundantes já existentes
1 - As instalações, edifícios, estabelecimentos, equipamentos e espaços abrangentes referidos nos
n.os 1 e 2 do artigo 2.º, cujo início de construção seja anterior a 22 de Agosto de 1997, são
adaptados dentro de um prazo de 10 anos, contados a partir da data de início de vigência do
presente decreto-lei, de modo a assegurar o cumprimento das normas técnicas constantes do
anexo que o integra.
2 - As instalações, edifícios, estabelecimentos, equipamentos e espaços abrangentes referidos nos
n.os 1 e 2 do artigo 2.º, cujo início de construção seja posterior a 22 de Agosto de 1997, são
adaptados dentro de um prazo de cinco anos, contados a partir da data de início de vigência do
presente decreto-lei.
3 - As instalações, edifícios, estabelecimentos, equipamentos e espaços abrangentes referidos nos
n.os 1 e 2 do artigo 2.º que se encontrem em conformidade com o disposto no Decreto-Lei n.º
123/97, de 22 de Maio, estão isentos do cumprimento das normas técnicas anexas ao presente
decreto-lei.
4 - Após o decurso dos prazos estabelecidos nos números anteriores, a desconformidade das
edificações e estabelecimentos aí referidos com as normas técnicas de acessibilidade é
sancionada nos termos aplicáveis às edificações e estabelecimentos novos.
Artigo 10.º
Excepções
1 - Nos casos referidos nos n.os 1 e 2 do artigo anterior, o cumprimento das normas técnicas de
acessibilidade constantes do anexo ao presente decreto-lei não é exigível quando as obras

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necessárias à sua execução sejam desproporcionadamente difíceis, requeiram a aplicação de


meios económico financeiros desproporcionados ou não disponíveis, ou ainda quando afectem
sensivelmente o património cultural ou histórico, cujas características morfológicas, arquitectónicas
e ambientais se pretende preservar.
2 - As excepções referidas no número anterior são devidamente fundamentadas, cabendo às
entidades competentes para a aprovação dos projectos autorizar a realização de soluções que não
satisfaçam o disposto nas normas técnicas, bem como expressar e justificar os motivos que
legitimam este incumprimento.
3 - Quando não seja desencadeado qualquer procedimento de licenciamento ou de autorização, a
competência referida no número anterior pertence, no âmbito das respectivas acções de
fiscalização, às entidades referidas no artigo 12.º.
4 - Nos casos de operações urbanísticas isentas de licenciamento e autorização, nos termos do
Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de Dezembro, a justificação dos motivos que legitimam o
incumprimento das normas técnicas de acessibilidades é consignada em adequado termo de
responsabilidade enviado, para efeitos de registo, à Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais.
5 - Se a satisfação de alguma ou algumas das especificações contidas nas normas técnicas for
impraticável devem ser satisfeitas todas as restantes especificações.
6 - A justificação dos motivos que legitimam o incumprimento do disposto nas normas técnicas fica
apensa ao processo e disponível para consulta pública.
7 - A justificação referida no número anterior, nos casos de imóveis pertencentes a particulares, é
objecto de publicitação no sítio da Internet do município respectivo e, nos casos de imóveis
pertencentes a entidades públicas, através de relatório anual, no sítio da Internet a que tenham
acesso oficial.
8 - A aplicação das normas técnicas aprovadas por este decreto-lei a edifícios e respectivos
espaços circundantes que revistam especial interesse histórico e arquitectónico, designadamente
os imóveis classificados ou em vias de classificação, é avaliada caso a caso e adaptada às
características específicas do edifício em causa, ficando a sua aprovação dependente do parecer
favorável do Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico.
Artigo 11.º
Obras em execução ou em processo de licenciamento ou autorização
O presente decreto-lei não se aplica:
a) Às obras em execução, aquando da sua entrada em vigor;
b) Aos projectos de novas construções cujo processo de aprovação, licenciamento ou autorização
esteja em curso à data da sua entrada em vigor.
Artigo 12.º
Fiscalização
A fiscalização do cumprimento das normas aprovadas pelo presente decreto-leicompete:

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a) À Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais quanto aos deveres impostos às


entidades da administração pública central e dos institutos públicos que revistam a natureza de
serviços personalizados e de fundos públicos;
b) À Inspecção-Geral da Administração do Território quanto aos deveres impostos às entidades da
administração pública local;
c) Às câmaras municipais quanto aos deveres impostos aos particulares.
Artigo 13.º
Responsabilidade civil
As entidades públicas ou privadas que actuem em violação do disposto no presente decreto-lei
incorrem em responsabilidade civil, nos termos da lei geral, sem prejuízo da responsabilidade
contra-ordenacional ou disciplinar que ao caso couber.
Artigo 14.º
Direito de acção das associações e fundações de defesa dos interesses das pessoas com
deficiência
1 - As organizações não governamentais das pessoas com deficiência e demobilidade reduzida
dotadas de personalidade jurídica têm legitimidade para propor e intervir em quaisquer acções
relativas ao cumprimento das normas técnicas de acessibilidade contidas no anexo ao presente
decreto-lei.
2 - Constituem requisitos da legitimidade activa das associações e fundações:
a) Inclusão expressa nas suas atribuições ou nos seus objectivos estatutários a defesa dos
interesses das pessoas com deficiências ou mobilidade reduzida;
b) Não exercício de qualquer tipo de actividade liberal concorrente com empresas ou profissionais
liberais.
3 - Aplica-se o regime especial disposto na Lei n.º 83/95, de 31 de Agosto, relativa à acção
popular, ao pagamento de preparos e custas nas acções propostas nos termos do n.º 1.
Artigo 15.º
Responsabilidade disciplinar
Os funcionários e agentes da administração pública central, regional e local e dos institutos
públicos que revistam a natureza de serviços personalizados ou fundos públicos que deixarem de
participar infracções ou prestarem informações falsas ou erradas, relativas ao presente decreto-lei,
de que tiverem conhecimento no exercício das suas funções, incorrem em responsabilidade
disciplinar, nos termos da lei geral, para além da responsabilidade civil e criminal que ao caso
couber.
Artigo 16.º
Responsabilidade contra-ordenacional
Constitui contra-ordenação, sem prejuízo do disposto no Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de
Dezembro, todo o facto típico, ilícito e censurável que consubstancie a violação de uma norma que
imponha deveres de aplicação, execução, controlo ou fiscalização das normas técnicas constantes
do anexo ao presente decreto-lei, designadamente:

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a) Não observância dos prazos referidos nos n.os 1 e 2 do artigo 9.º para a adaptação de
instalações, edifícios, estabelecimentos e espaços abrangentes em conformidade com as normas
técnicas constantes do anexo ao presente decreto-lei;
b) Concepção ou elaboração de operações urbanísticas em desconformidade com os requisitos
técnicos estabelecidos no presente decreto-lei;
c) Emissão de licença ou autorização de funcionamento de estabelecimentos que não cumpram as
normas técnicas constantes do anexo ao presente decreto-lei;
d) Incumprimento das obrigações previstas no artigo 4.º.
Artigo 17.º
Sujeitos
Incorrem em responsabilidade contra-ordenacional os agentes que tenham contribuído, por acção
ou omissão, para a verificação dos factos descritos no artigo anterior, designadamente o
projectista, o director técnico ou o dono da obra.
Artigo 18.º
Coimas
1 - As contra-ordenações são puníveis com coima de € 250 a € 3740,98, quando se trate de
pessoas singulares, e de € 500 a € 44891,81, quando o infractor for uma pessoa colectiva.
2 - Em caso de negligência, os montantes máximos previstos no número anterior são,
respectivamente, de € 1870,49 e de € 22445,91.
3 - O disposto nos números anteriores não prejudica a aplicação de outras normas sancionatórias
da competência das entidades referidas nos artigos 3.º e 6.º.
4 - O produto da cobrança das coimas referidas nos n.os 1 e 2 destina-se:
a) 50% à entidade pública responsável pela execução das políticas de prevenção, habilitação,
reabilitação e participação das pessoas com deficiência para fins de investigação científica;
b) 50% à entidade competente para a instauração do processo de contraordenação nos termos do
artigo 21.º.
Artigo 19.º
Sanções acessórias
1 - As contra-ordenações previstas no artigo 16.º podem ainda determinar a aplicação das
seguintes sanções acessórias, quando a gravidade da infracção o justifique:
a) Privação do direito a subsídios atribuídos por entidades públicas ou serviços públicos;
b) Interdição de exercício da actividade cujo exercício dependa de título público ou de autorização
ou homologação de autoridade pública;
c) Encerramento de estabelecimento cujo funcionamento esteja sujeito a autorização ou licença de
autoridade administrativa;
d) Suspensão de autorizações, licenças e alvarás.
2 - Para efeitos do disposto no número anterior, a autoridade competente para a instauração do
processo de contra-ordenação notifica as entidades às quais pertençam as competências
decisórias aí referidas para que estas procedam à execução das sanções aplicadas.

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3 - As sanções referidas neste artigo têm a duração máxima de dois anos, contados a partir da
decisão condenatória definitiva.
Artigo 20.º
Determinação da sanção aplicável
A determinação da coima e das sanções acessórias faz-se em função da gravidade da contra-
ordenação, da ilicitude concreta do facto, da culpa do infractor e dos benefícios obtidos e tem em
conta a sua situação económica.
Artigo 21.º
Competência sancionatória
A competência para determinar a instauração dos processos de contra-ordenação, para designar o
instrutor e para aplicar as coimas e sanções acessórias pertence:
a) À Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais no âmbito das acções de fiscalização
às instalações e espaços circundantes da administração central e dos institutos públicos que
revistam a natureza de serviços personalizados e de fundos públicos;
b) Às câmaras municipais no âmbito das acções de fiscalização dos edifícios, espaços e
estabelecimentos pertencentes a entidades privadas.
Artigo 22.º
Avaliação e acompanhamento
1 - A Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais acompanha a aplicação do presente
decreto-lei e procede, periodicamente, à avaliação global do grau de acessibilidade dos edifícios,
instalações e espaços referidos no artigo
2.º.
2 - As câmaras municipais e a Inspecção-Geral da Administração do Território enviam à Direcção-
Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, até ao dia 30 de Março de cada ano, um relatório da
situação existente tendo por base os elementos recolhidos nas respectivas acções de fiscalização.
3 - A avaliação referida no n.º 1 deve, anualmente, ser objecto de publicação.
Artigo 23.º
Norma transitória
1 - As normas técnicas sobre acessibilidades são aplicáveis, de forma gradual, ao longo de oito
anos, no que respeita às áreas privativas dos fogos destinados a habitação de cada edifício,
sempre com um mínimo de um fogo por edifício, a, pelo menos:
a) 12,5% do número total de fogos, relativamente a edifício cujo projecto de licenciamento ou
autorização seja apresentado na respectiva câmara municipal no ano subsequente à entrada em
vigor deste decreto-lei;
b) De 25% a 87,5% do número total de fogos, relativamente a edifício cujo projecto de
licenciamento ou autorização seja apresentado na respectiva câmara municipal do 2.º ao 7.º ano
subsequentes à entrada em vigor deste decreto-lei, na razão de um acréscimo de 12,5% do
número total de fogos por cada ano.

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2 - As normas técnicas sobre acessibilidades são aplicáveis à totalidade dos fogos destinados a
habitação de edifício cujo projecto de licenciamento ou autorização seja apresentado na respectiva
câmara municipal no 8.º ano subsequente à entrada em vigor deste decreto-lei e anos seguintes.
Artigo 24.º
Aplicação às Regiões Autónomas
O presente decreto-lei aplica-se às Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, sem prejuízo de
diploma regional que proceda às necessárias adaptações.
Artigo 25.º
Norma revogatória
É revogado o Decreto-Lei n.º 123/97, de 22 de Maio.
Artigo 26.º
Entrada em vigor
O presente decreto-lei entra em vigor seis meses após a sua publicação.
ANEXO
Normas técnicas para melhoria da acessibilidade das pessoas com mobilidade condicionada
Capítulo 1
Via pública:
Secção 1.1 - Percurso acessível:
1.1.1 - As áreas urbanizadas devem ser servidas por uma rede de percursos pedonais, designados
de acessíveis, que proporcionem o acesso seguro e confortável das pessoas com mobilidade
condicionada a todos os pontos relevantes da sua estrutura activa, nomeadamente:
1) Lotes construídos;
2) Equipamentos colectivos;
3) Espaços públicos de recreio e lazer;
4) Espaços de estacionamento de viaturas;
5) Locais de paragem temporária de viaturas para entrada/saída de passageiros;
6) Paragens de transportes públicos.
1.1.2 - A rede de percursos pedonais acessíveis deve ser contínua e coerente, abranger toda a
área urbanizada e estar articulada com as actividades e funções urbanas realizadas tanto no solo
público como no solo privado.
1.1.3 - Na rede de percursos pedonais acessíveis devem ser incluídos:
1) Os passeios e caminhos de peões;
2) As escadarias, escadarias em rampa e rampas;
3) As passagens de peões, à superfície ou desniveladas;
4) Outros espaços de circulação e permanência de peões.
1.1.4 - Os percursos pedonais acessíveis devem satisfazer o especificado no capítulo 4 e os
elementos que os constituem devem satisfazer o especificado nas respectivas secções do
presente capítulo.
1.1.5 - Caso não seja possível cumprir o disposto no número anterior em todos os percursos
pedonais, deve existir pelo menos um percurso acessível que o satisfaça, assegurando os critérios

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definidos no n.º 1.1.1 e distâncias de percurso, medidas segundo o trajecto real no terreno, não
superiores ao dobro da distância percorrida pelo trajecto mais directo.
Secção 1.2 - Passeios e caminhos de peões:
1.2.1 - Os passeios adjacentes a vias principais e vias distribuidoras devem ter uma largura livre
não inferior a 1,5 m.
1.2.2 - Os pequenos acessos pedonais no interior de áreas plantadas, cujo comprimento total não
seja superior a 7 m, podem ter uma largura livre não inferior a 0,9 m.
Secção 1.3 - Escadarias na via pública:
1.3.1 - As escadarias na via pública devem satisfazer o especificado na secção 2.4 e as seguintes
condições complementares:
1) Devem possuir patamares superiores e inferior com uma faixa de aproximação constituída por
um material de revestimento de textura diferente e cor contrastante com o restante piso;
2) Devem ser constituídas por degraus que cumpram uma das seguintes relações dimensionais:
valores em metros
Altura (espelho)
Comprimento (cobertor)
0,10, 0,125, 0,125 a 0,15, 0,15, 0,40 a 0,45, 0,35 a 0,40, 0,75, 0,30 a 0,35
3) Se vencerem desníveis superiores a 0,4 m devem ter corrimãos de ambos os lados ou um duplo
corrimão central, se a largura da escadaria for superior a 3 m, ter corrimãos de ambos os lados e
um duplo corrimão central, se a largura da escadaria for superior a 6 m.
Secção 1.4 - Escadarias em rampa na via pública:
1.4.1 - As escadarias em rampa na via pública devem satisfazer o especificado na secção 1.3 e as
seguintes condições complementares:
1) Os troços em rampa devem ter uma inclinação nominal não superior a 6% e um
desenvolvimento, medido entre o focinho de um degrau e a base do degrau seguinte, não inferior a
0,75 m ou múltiplos inteiros deste valor;
2) A projecção horizontal dos troços em rampa entre patins ou entre troços de nível não deve ser
superior a 20 m.
Secção 1.5 - Rampas na via pública:
1.5.1 - As rampas na via pública devem satisfazer o especificado na secção 2.5, e as que
vencerem desníveis superiores a 0,4 m devem ainda:
1) Ter corrimãos de ambos os lados ou um duplo corrimão central, se alargura da rampa for
superior a 3 m;
2) Ter corrimãos de ambos os lados e um duplo corrimão central, se a largura da rampa for
superior a 6 m.
Secção 1.6 - Passagens de peões de superfície:
1.6.1 - A altura do lancil em toda a largura das passagens de peões não deve ser superior a
0,02m.
1.6.2 - O pavimento do passeio na zona imediatamente adjacente à passagem de peões deve ser
rampeado, com uma inclinação não superior a 8% na direcção da passagem de peões e não

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superior a 10% na direcção do lancil do passeio ou caminho de peões, quando este tiver uma
orientação diversa da passagem de peões, de forma a estabelecer uma concordância entre o nível
do pavimento do passeio e o nível do pavimento da faixa de rodagem.
1.6.3 - A zona de intercepção das passagens de peões com os separadores centrais das rodovias
deve ter, em toda a largura das passagens de peões, uma dimensão não inferior a 1,2 m e uma
inclinação do piso e dos seus revestimentos não superior a 2%, medidas na direcção do
atravessamento dos peões.
1.6.4 - Caso as passagens de peões estejam dotadas de dispositivos semafóricos de controlo da
circulação, devem satisfazer as seguintes condições:
1) Nos semáforos que sinalizam a travessia de peões de accionamento manual, o dispositivo de
accionamento deve estar localizado a uma altura do piso compreendida entre 0,8 m e 1,2 m;
2) O sinal verde de travessia de peões deve estar aberto o tempo suficiente para permitir a
travessia, a uma velocidade de 0,4 m/s, de toda a largura da via ou até ao separador central,
quando ele exista;
3) Os semáforos que sinalizam a travessia de peões instalados em vias com grande volume de
tráfego de veículos ou intensidade de uso por pessoas com deficiência visual devem ser equipados
com mecanismos complementares que emitam um sinal sonoro quando o sinal estiver verde para
os peões.
1.6.5 - Caso sejam realizadas obras de construção, reconstrução ou alteração, as passagens de
peões devem:
1) Ter os limites assinalados no piso por alteração da textura ou pintura com cor contrastante;
2) Ter o início e o fim assinalados no piso dos passeios por sinalização táctil;
3) Ter os sumidouros implantados a montante das passagens de peões, de modo a evitar o fluxo
de águas pluviais nesta zona.
Secção 1.7 - Passagens de peões desniveladas:
1.7.1 - As rampas de passagens de peões desniveladas devem satisfazer o especificado na
secção 2.5 e as seguintes especificações mais exigentes:
1) Ter uma largura não inferior a 1,5 m;
2) Ter corrimãos duplos situados, respectivamente, as alturas da superfície da rampa de 0,75 m e
de 0,9 m.
1.7.2 - Caso não seja viável a construção de rampas nas passagens de peões desniveladas que
cumpram o disposto na secção 1.5, os desníveis devem ser vencidos por dispositivos mecânicos
de elevação (exemplos: ascensores, plataformas elevatórias).
1.7.3 - Quando nas passagens desniveladas existirem escadas, estas devem satisfazer o
especificado na secção 2.4 e as seguintes condições mais exigentes:
1) Ter lanços, patins e patamares com largura não inferior a 1,5 m;
2) Ter degraus com altura (espelho) não superior a 0,16 m;
3) Ter patins intermédios sempre que o desnível a vencer for superior a1,5 m;
4) Ter uma faixa de aproximação nos patamares superior e inferior das escadas com um material
de revestimento de textura diferente e cor contrastante com o restante piso;

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5) Ter rampas alternativas.


Secção 1.8 - Outros espaços de circulação e permanência de peões:
1.8.1 - Nos espaços de circulação e permanência de peões na via pública que não se enquadram
especificamente numa das tipologias anteriores devem ser aplicadas as especificações definidas
na secção 1.2 e as seguintes condições adicionais:
1) O definido na secção 1.3, quando incorporem escadarias ou degraus;
2) O definido na secção 1.3.1, quando incorporem escadarias em rampa;
3) O definido na secção 1.5, quando incorporem rampas.
1.8.2 - Nos espaços de circulação e permanência de peões na via pública cuja área seja igual ou
superior a 100 m2, deve ser dada atenção especial às seguintes condições:
1) Deve assegurar-se a drenagem das águas pluviais, através de disposições técnicas e
construtivas que garantam o rápido escoamento e a secagem dos pavimentos;
2) Deve proporcionar-se a legibilidade do espaço, através da adopção de elementos e texturas de
pavimento que forneçam, nomeadamente às pessoas com deficiência da visão, a indicação dos
principais percursos de atravessamento.
Capítulo 2
Edifícios e estabelecimentos em geral:
Secção 2.1 - Percurso acessível:
2.1.1 - Os edifícios e estabelecimentos devem ser dotados de pelo menos um percurso, designado
de acessível, que proporcione o acesso seguro e confortável das pessoas com mobilidade
condicionada entre a via pública, o local de entrada/saída principal e todos os espaços interiores e
exteriores que os constituem.
2.1.2 - Nos edifícios e estabelecimentos podem não ter acesso através de um percurso acessível:
1) Os espaços em que se desenvolvem funções que podem ser realizadas em outros locais sem
prejuízo do bom funcionamento do edifício ou estabelecimento (exemplo: restaurante com dois
pisos em que no piso não acessível apenas se situam áreas suplementares para refeições);
2) Os espaços para os quais existem alternativas acessíveis adjacentes e com condições idênticas
(exemplo: num conjunto de cabines de prova de uma loja apenas uma necessita de ser acessível);
3) Os espaços de serviço que são utilizados exclusivamente por pessoal de manutenção e
reparação (exemplos: casa das máquinas de ascensores, depósitos de água, espaços para
equipamentos de aquecimento ou de bombagem de água, locais de concentração e recolha de
lixo, espaços de cargas e descargas);
4) Os espaços não utilizáveis (exemplo: desvãos de coberturas);
5) Os espaços e compartimentos das habitações, para os quais são definidas condições
específicas na secção 3.3.
2.1.3 - No caso de edifícios sujeitos a obras de construção ou reconstrução, o percurso acessível
deve coincidir com o percurso dos restantes utilizadores.
2.1.4 - No caso de edifícios sujeitos a obras de ampliação, alteração ou conservação, o percurso
acessível pode não coincidir integralmente com o percurso dos restantes utilizadores,

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Acessibilidade em Museus

nomeadamente o acesso ao edifício pode fazer-se por um local alternativo à entrada/saída


principal.
2.1.5 - Os percursos acessíveis devem satisfazer o especificado no capítulo 4 e os espaços e
elementos que os constituem devem satisfazer o definido nas restantes secções do presente
capítulo.
Secção 2.2 - Átrios:
2.2.1 - Do lado exterior das portas de acesso aos edifícios e estabelecimentos deve ser possível
inscrever uma zona de manobra para rotação de 360º.
2.2.2 - Nos átrios interiores deve ser possível inscrever uma zona de manobra para rotação de
360º.
2.2.3 - As portas de entrada/saída dos edifícios e estabelecimentos devem ter um largura útil não
inferior a 0,87 m, medida entre a face da folha da porta quando aberta e o batente ou guarnição do
lado oposto; se a porta for de batente ou pivotante deve considerar-se a porta na posição aberta a
90º.
Secção 2.3 - Patamares, galerias e corredores:
2.3.1 - Os patamares, galerias e corredores devem possuir uma largura não inferior a 1,2 m.
2.3.2 - Podem existir troços dos patamares, galerias ou corredores com uma largura não inferior a
0,9 m, se o seu comprimento for inferior a 1,5 m e se não derem acesso a portas laterais de
espaços acessíveis.
2.3.3 - Se a largura dos patamares, galerias ou corredores for inferior a 1,5 m, devem ser
localizadas zonas de manobra que permitam a rotação de 360º ou a mudança de direcção de 180º
em T, conforme especificado nos n.os 4.4.1 e 4.4.2, de modo a não existirem troços do percurso
com uma extensão superior a 10 m.
2.3.4 - Se existirem corrimãos nos patamares, galerias ou corredores, para além de satisfazerem o
especificado na secção 4.11, devem ser instalados a uma altura do piso de 0,9 m e quando
interrompidos ser curvados na direcção do plano do suporte.
Secção 2.4 - Escadas:
2.4.1 - A largura dos lanços, patins e patamares das escadas não deve ser inferior a 1,2 m.
2.4.2 - As escadas devem possuir:
1) Patamares superiores e inferiores com uma profundidade, medida no sentido do movimento,
não inferior a 1,2 m;
2) Patins intermédios com uma profundidade, medida no sentido do movimento, não inferior a 0,7
m, se os desníveis a vencer, medidos na vertical entre o pavimento imediatamente anterior ao
primeiro degrau e o cobertor do degrau superior, forem superiores a 2,4 m.
2.4.3 - Os degraus das escadas devem ter:
1) Uma profundidade (cobertor) não inferior a 0,28 m;
2) Uma altura (espelho) não superior a 0,18 m;
3) As dimensões do cobertor e do espelho constantes ao longo de cada lanço;
4) A aresta do focinho boleada com um raio de curvatura compreendido entre 0,005 m e 0,01 m;

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5) Faixas antiderrapantes e de sinalização visual com uma largura não inferior a 0,04 m e
encastradas junto ao focinho dos degraus.
2.4.4 - O degrau de arranque pode ter dimensões do cobertor e do espelho diferentes das
dimensões dos restantes degraus do lanço, se a relação de duas vezes a altura do espelho mais
uma vez a profundidade do cobertor se mantiver constante.
2.4.5 - A profundidade do degrau (cobertor) deve ser medida pela superfície que excede a
projecção vertical do degrau superior; se as escadas tiverem troços curvos, deve garantir-se uma
profundidade do degrau não inferior ao especificado no n.º 2.4.3 em pelo menos dois terços da
largura da escada.
2.4.6 - Os degraus das escadas não devem possuir elementos salientes nos planos de
concordância entre o espelho e o cobertor.
2.4.7 - Os elementos que constituem as escadas não devem apresentar arestas vivas ou
extremidades projectadas perigosas.
2.4.8 - As escadas que vencerem desníveis superiores a 0,4 m devem possuir corrimãos de ambos
os lados.
2.4.9 - Os corrimãos das escadas devem satisfazer as seguintes condições:
1) A altura dos corrimãos, medida verticalmente entre o focinho dos degraus e o bordo superior do
elemento preensível, deve estar compreendida entre 0,85 m e 0,9 m;
2) No topo da escada os corrimãos devem prolongar-se pelo menos 0,3 m para além do último
degrau do lanço, sendo esta extensão paralela ao piso;
3) Na base da escada os corrimãos devem prolongar-se para além do primeiro degrau do lanço
numa extensão igual à dimensão do cobertor mantendo a inclinação da escada;
4) Os corrimãos devem ser contínuos ao longo dos vários lanços da escada.
2.4.10 - É recomendável que não existam degraus isolados nem escadas constituídas por menos
de três degraus, contados pelo número de espelhos; quando isto não for possível, os degraus
devem estar claramente assinalados com um material de revestimento de textura diferente e cor
contrastante com o restante piso.
2.4.11 - É recomendável que não existam escadas, mas quando uma mudança de nível for
inevitável, podem existir escadas se forem complementadas por rampas, ascensores ou
plataformas elevatórias.
Secção 2.5 - Rampas:
2.5.1 - As rampas devem ter a menor inclinação possível e satisfazer uma das seguintes situações
ou valores interpolados dos indicados:
1) Ter uma inclinação não superior a 6%, vencer um desnível não superior a 0,6 m e ter uma
projecção horizontal não superior a 10 m;
2) Ter uma inclinação não superior a 8%, vencer um desnível não superiora 0,4 m e ter uma
projecção horizontal não superior a 5 m.
2.5.2 - No caso de edifícios sujeitos a obras de alteração ou conservação, se as limitações de
espaço impedirem a utilização de rampas com uma inclinação não superior a 8%, as rampas

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podem ter inclinações superiores se satisfizerem uma das seguintes situações ou valores
interpolados dos indicados:
1) Ter uma inclinação não superior a 10%, vencer um desnível nãosuperior a 0,2 m e ter uma
projecção horizontal não superior a 2 m;
2) Ter uma inclinação não superior a 12%, vencer um desnível não superior a 0,1 m e ter uma
projecção horizontal não superior a 0,83 m.
2.5.3 - Se existirem rampas em curva, o raio de curvatura não deve ser inferior a 3 m, medido no
perímetro interno da rampa, e a inclinação não deve ser superior a 8%.
2.5.4 - As rampas devem possuir uma largura não inferior a 1,2 m, excepto nas seguintes
situações:
1) Se as rampas tiverem uma projecção horizontal não superior a 5 m, podem ter uma largura não
inferior a 0,9 m;
2) Se existirem duas rampas para o mesmo percurso, podem ter uma largura não inferior a 0,9 m.
2.5.5 - As rampas devem possuir plataformas horizontais de descanso: na base e no topo de cada
lanço, quando tiverem uma projecção horizontal superior ao especificado para cada inclinação, e
nos locais em que exista uma mudança de direcção com um ângulo igual ou inferior a 90º.
2.5.6 - As plataformas horizontais de descanso devem ter uma largura não inferior à da rampa e ter
um comprimento não inferior a 1,5 m.
2.5.7 - As rampas devem possuir corrimãos de ambos os lados, excepto nas seguintes situações:
se vencerem um desnível não superior a 0,2 m podem não ter corrimãos, ou se vencerem um
desnível compreendido entre 0,2 m e 0,4 m e não tiverem uma inclinação superior a 6% podem ter
apenas corrimãos de um dos lados.
2.5.8 - Os corrimãos das rampas devem:
1) Prolongar-se pelo menos 0,3 m na base e no topo da rampa;
2) Ser contínuos ao longo dos vários lanços e patamares de descanso;
3) Ser paralelos ao piso da rampa.
2.5.9 - Em rampas com uma inclinação não superior a 6%, o corrimão deve ter pelo menos um
elemento preênsil a uma altura compreendida entre 0,85 m e 0,95 m; em rampas com uma
inclinação superior a 6%, o corrimão deve ser duplo, com um elemento preênsil a uma altura
compreendida entre 0,7 m e 0,75 m e outro a uma altura compreendida entre 0,9 m e 0,95 m; a
altura do elemento preensível deve ser medida verticalmente entre o piso da rampa e o
seu bordo superior.
2.5.10 - O revestimento de piso das rampas, no seu início e fim, deve ter faixas com diferenciação
de textura e cor contrastante relativamente ao pavimento adjacente.
2.5.11 - As rampas e as plataformas horizontais de descanso com desníveis relativamente aos
pisos adjacentes superiores a 0,1 m e que vençam desníveis superiores a 0,3 m devem ser
ladeadas, em toda a sua extensão, de pelo menos um dos seguintes tipos de elementos de
protecção: rebordos laterais com uma altura não inferior a 0,05 m, paredes ou muretes sem
interrupções com extensão superior a 0,3 m, guardas com um espaçamento entre elementos
verticais não superior a 0,3 m, extensão lateral do pavimento da rampa com uma dimensão não

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inferior a 0,3 m do lado exterior ao plano do corrimão, ou outras barreiras com uma distância entre
o pavimento e o seu limite mais baixo não superior a 0,05 m.
Secção 2.6 - Ascensores:
2.6.1 - Os patamares diante das portas dos ascensores devem:
1) Ter dimensões que permitam inscrever zonas de manobra para rotação de 360º;
2) Possuir uma inclinação não superior a 2% em qualquer direcção;
3) Estar desobstruídos de degraus ou outros obstáculos que possam impedir ou dificultar a
manobra de uma pessoa em cadeira de rodas.
2.6.2 - Os ascensores devem:
1) Possuir cabinas com dimensões interiores, medidas entre os painéis da estrutura da cabina, não
inferiores a 1,1 m de largura por 1,4 m de profundidade;
2) Ter uma precisão de paragem relativamente ao nível do piso dos patamares não superior a
(mais ou menos) 0,02 m;
3) Ter um espaço entre os patamares e o piso das cabinas não superior a 0,035 m;
4) Ter pelo menos uma barra de apoio colocada numa parede livre do interior das cabinas situada
a uma altura do piso compreendida entre 0,875 m e 0,925 m e a uma distância da parede da
cabina compreendida entre 0,035 m e 0,05 m.
2.6.3 - As cabinas podem ter decorações interiores que se projectem dos painéis da estrutura da
cabina, se a sua espessura não for superior a 0,015 m.
2.6.4 - As portas dos ascensores devem:
1) No caso de ascensores novos, ser de correr horizontalmente e ter movimento automático;
2) Possuir uma largura útil não inferior a 0,8 m, medida entre a face da folha da porta quando
aberta e o batente ou guarnição do lado oposto;
3) Ter uma cortina de luz standard (com feixe plano) que imobilize as portas e o andamento da
cabina.
2.6.5 - Os dispositivos de comando dos ascensores devem:
1) Ser instalados a uma altura, medida entre o piso e o eixo do botão, compreendida entre 0,9 m e
1,2 m quando localizados nos patamares, e entre 0,9 m e 1,3 m quando localizados no interior das
cabinas;
2) Ter sinais visuais para indicam quando o comando foi registado;
3) Possuir um botão de alarme e outro de paragem de emergência localizados no interior das
cabinas.
Secção 2.7 - Plataformas elevatórias:
2.7.1 - As plataformas elevatórias devem possuir dimensões que permitam a sua utilização por um
indivíduo adulto em cadeira de rodas, e nunca inferiores a 0,75 m por 1 m.
2.7.2 - A precisão de paragem das plataformas elevatórias relativamente ao nível do piso do
patamar não deve ser superior a (mais ou menos) 0,02 m.
2.7.3 - Devem existir zonas livres para entrada/saída das plataformas elevatórias com uma
profundidade não inferior a 1,2 m e uma largura não inferior à da plataforma.

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2.7.4 - Se o desnível entre a plataforma elevatória e o piso for superior a 0,75m, devem existir
portas ou barras de protecção no acesso à plataforma; as portas ou barras de protecção devem
poder ser accionadas manualmente pelo utente.
2.7.5 - Todos os lados da plataforma elevatória, com excepção dos que permitem o acesso, devem
possuir anteparos com uma altura não inferior a 0,1 m.
2.7.6 - Caso as plataformas elevatórias sejam instaladas sobre escadas, devem ser rebatíveis de
modo a permitir o uso de toda a largura da escada quando a plataforma não está em uso.
2.7.7 - O controlo do movimento da plataforma elevatória deve estar colocado de modo a ser
visível e poder ser utilizado por um utente sentado na plataforma e sem a assistência de terceiros.
Secção 2.8 - Espaços para estacionamento de viaturas:
2.8.1 - O número de lugares reservados para veículos em que um dos ocupantes seja uma pessoa
com mobilidade condicionada deve ser pelo menos de:
1) Um lugar em espaços de estacionamento com uma lotação não superior a 10 lugares;
2) Dois lugares em espaços de estacionamento com uma lotação compreendida entre 11 e 25
lugares;
3) Três lugares em espaços de estacionamento com uma lotação compreendida entre 26 e 100
lugares;
4) Quatro lugares em espaços de estacionamento com uma lotação compreendida entre 101 e 500
lugares;
5) Um lugar por cada 100 lugares em espaços de estacionamento com uma lotação superior a 500
lugares.
2.8.2 - Os lugares de estacionamento reservados devem:
1) Ter uma largura útil não inferior a 2,5 m;
2) Possuir uma faixa de acesso lateral com uma largura útil não inferior a 1 m;
3) Ter um comprimento útil não inferior a 5 m;
4) Estar localizados ao longo do percurso acessível mais curto até à entrada/saída do espaço de
estacionamento ou do equipamento que servem;
5) Se existir mais de um local de entrada/saída no espaço de estacionamento, estar dispersos e
localizados perto dos referidos locais;
6) Ter os seus limites demarcados por linhas pintadas no piso em cor contrastante com a da
restante superfície;
7) Ser reservados por um sinal horizontal com o símbolo internacional de acessibilidade, pintado
no piso em cor contrastante com a da restante superfície e com uma dimensão não inferior a 1 m
de lado, e por um sinal vertical com o símbolo de acessibilidade, visível mesmo quando o veículo
se encontra estacionado.
2.8.3 - A faixa de acesso lateral pode ser partilhada por dois lugares de estacionamento reservado
contíguos.
2.8.4 - Os comandos dos sistemas de fecho/abertura automático (exemplos: barreiras, portões)
devem poder ser accionados por uma pessoa com mobilidade condicionada a partir do interior de
um automóvel.

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Secção 2.9 - Instalações sanitárias de utilização geral:


2.9.1 - Os aparelhos sanitários adequados ao uso por pessoas com mobilidade condicionada,
designados de acessíveis, podem estar integrados numa instalação sanitária conjunta para
pessoas com e sem limitações de mobilidade, ou constituir uma instalação sanitária específica
para pessoas com mobilidade condicionada.
2.9.2 - Se existir uma instalação sanitária específica para pessoas com mobilidade condicionada,
esta pode servir para o sexo masculino e para o sexo feminino e deve estar integrada ou próxima
das restantes instalações sanitárias.
2.9.3 - Se os aparelhos sanitários acessíveis estiverem integrados numa instalação sanitária
conjunta, devem representar pelo menos 10% do número total de cada aparelho instalado e nunca
inferior a um.
2.9.4 - As sanitas acessíveis devem satisfazer as seguintes condições:
1) A altura do piso ao bordo superior do assento da sanita deve ser de 0,45 m, admitindo-se uma
tolerância de (mais ou menos) 0,01 m;
2) Devem existir zonas livres, que satisfaçam ao especificado no n.º 4.1.1, de um dos lados e na
parte frontal da sanita;
3) Quando existir mais de uma sanita, as zonas livres de acesso devemestar posicionadas de
lados diferentes, permitindo o acesso lateral pela direita e pela esquerda;
4) Quando for previsível um uso frequente da instalação sanitária por pessoas com mobilidade
condicionada, devem existir zonas livres, que satisfaçam ao especificado no n.º 4.1.1, de ambos os
lados e na parte frontal;
5) Junto à sanita devem existir barras de apoio que satisfaçam uma das seguintes situações:
6) Se existirem barras de apoio lateral que sejam adjacentes à zona livre, devem ser rebatíveis na
vertical;
7) Quando se optar por acoplar um tanque de mochila à sanita, a instalação e o uso das barras de
apoio não deve ficar comprometido e o ângulo entre o assento da sanita e o tanque de água
acoplado deve ser superior a 90º.
2.9.5 - Quando a sanita acessível estiver instalada numa cabina devem ser satisfeitas as seguintes
condições:
1) O espaço interior deve ter dimensões não inferiores a 1,6 m de largura (parede em que está
instalada a sanita) por 1,7 m de comprimento;
2) É recomendável a instalação de um lavatório acessível que não interfira com a área de
transferência para a sanita;
3) No espaço que permanece livre após a instalação dos aparelhos sanitários deve ser possível
inscrever uma zona de manobra para rotação de 180º.
2.9.6 - Quando a sanita acessível estiver instalada numa cabina e for previsível um uso frequente
por pessoas com mobilidade condicionada devem ser satisfeitas as seguintes condições:
1) O espaço interior deve ter dimensões não inferiores a 2,2 m de largurapor 2,2 m de
comprimento;

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2) Deve ser instalado um lavatório acessível que não interfira com a áreade transferência para a
sanita;
3) No espaço que permanece livre após a instalação dos aparelhos sanitários deve ser possível
inscrever uma zona de manobra para rotação de 360º.
2.9.7 - As banheiras acessíveis devem satisfazer as seguintes condições:
1) Deve existir uma zona livre, que satisfaça ao especificado no n.º 4.1.1, localizada ao lado da
base da banheira e com um recuo de 0,3 m relativamente ao assento, de modo a permitir a
transferência de uma pessoa em cadeira de rodas;
2) A altura do piso ao bordo superior da banheira deve ser de 0,45 m, admitindo-se uma tolerância
de (mais ou menos) 0,01 m;
3) Deve ser possível instalar um assento na banheira localizado no seu interior ou deve existir uma
plataforma de nível no topo posterior que sirva de assento, com uma dimensão não inferior a 0,4m;
4) Se o assento estiver localizado no interior da banheira pode ser móvel, mas em uso deve ser
fixado seguramente de modo a não deslizar; 5) O assento deve ter uma superfície impermeável e
antiderrapante mas não excessivamente abrasiva;
6) Junto à banheira devem existir barras de apoio nas localizações e comas dimensões definidas
em seguida para cada uma das posições do assento:
2.9.8 - As bases de duche acessíveis devem permitir pelo menos uma das seguintes formas de
utilização por uma pessoa em cadeira de rodas:
1) A entrada para o interior da base de duche da pessoa na sua cadeira de rodas;
2) A transferência da pessoa em cadeira de rodas para um assento existente no interior da base
de duche.
2.9.9 - Se as bases de duche acessíveis não permitirem a entrada de uma pessoa em cadeira de
rodas ao seu interior, devem ser satisfeitas as seguintes condições:
1) Deve existir uma zona livre, que satisfaça ao especificado no n.º 4.1.1, localizada ao lado da
base de duche e com um recuo de 0,3 m relativamente ao assento, de modo a permitir a
transferência de uma pessoa em cadeira de rodas;
2) O vão de passagem entre a zona livre e o assento da base de duche deve ter uma largura não
inferior a 0,8 m;
3) Deve existir um assento no seu interior da base de duche;
4) A base de duche deve ter dimensões que satisfaçam uma das situações definidas em seguida:
5) Junto à base de duche devem ser instaladas barras de apoio de acordo com o definido em
seguida:
2.9.10 - Se as bases de duche acessíveis permitirem a entrada de uma pessoa em cadeira de
rodas ao seu interior, devem ser satisfeitas as seguintes condições:
1) O ressalto entre a base de duche e o piso adjacente não deve ser superior a 0,02 m;
2) O piso da base de duche deve ser inclinado na direcção do ponto de escoamento, de modo a
evitar que a água escorra para o exterior;
3) A inclinação do piso da base de duche não deve ser superior a 2%;
4) O acesso ao interior da base de duche não deve ter uma largura inferior a 0,8m;

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5) A base de duche deve ter dimensões que satisfaçam uma das situações definidas em seguida:
6) Junto à base de duche devem ser instaladas barras de apoio de acordo com o definido em
seguida:
2.9.11 - O assento da base de duche acessível deve satisfazer as seguintes condições:
1) O assento deve possuir uma profundidade não inferior a 0,4m e um comprimento não inferior a
0,7m;
2) Os cantos do assento devem ser arredondados;
3) O assento deve ser rebatível, sendo recomendável que seja articulado com o movimento para
cima;
4) Devem existir elementos que assegurem que o assento rebatível fica fixo quando estiver em
uso;
5) A superfície do assento deve ser impermeável e antiderrapante, mas não excessivamente
abrasiva;
6) Quando o assento estiver em uso, a altura do piso ao seu bordo superior deve ser de 0,45 m,
admitindo-se uma tolerância de (mais ou menos) 0,01 m.
2.9.12 - Os urinóis acessíveis devem satisfazer as seguintes condições:
1) Devem estar assentes no piso ou fixos nas paredes com uma altura dopiso ao seu bordo inferior
compreendida entre 0,6 m e 0,65 m;
2) Deve existir uma zona livre de aproximação frontal ao urinol com dimensões que satisfaçam o
especificado na secção 4.1;
3) Se existir comando de accionamento da descarga, o eixo do botão deve estar a uma altura do
piso de 1m, admitindo-se uma tolerância de (mais ou menos) 0,02 m;
4) Devem existir barras verticais de apoio, fixadas com um afastamento de 0,3m do eixo do urinol,
a uma altura do piso de 0,75 m e com um comprimento não inferior a 0,7m.
2.9.13 - Os lavatórios acessíveis devem satisfazer as seguintes condições:
1) Deve existir uma zona livre de aproximação frontal ao lavatório com dimensões que satisfaçam
o especificado na secção 4.1;
2) A altura do piso ao bordo superior do lavatório deve ser de 0,8 m, admitindo-se uma tolerância
de (mais ou menos) 0,02 m;
3) Sob o lavatório deve existir uma zona livre com uma largura não inferior a 0,7 m, uma altura não
inferior a 0,65 m e uma profundidade medida a partir do bordo frontal não inferior a 0,5 m;
4) Sob o lavatório não devem existir elementos ou superfícies cortantes ou abrasivas.
2.9.14 - Os espelhos colocados sobre lavatórios acessíveis devem satisfazer as seguintes
condições:
1) Se forem fixos na posição vertical, devem estar colocados com a base inferior da superfície
reflectora a uma altura do piso não superior a 0,9 m;
2) Se tiverem inclinação regulável, devem estar colocados com a base inferior da superfície
reflectora a uma altura do piso não superior a 1,1 m;
3) O bordo superior da superfície reflectora do espelho deve estar a uma altura do piso não inferior
a 1,8 m.

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2.9.15 - O equipamento de alarme das instalações sanitárias acessíveis deve satisfazer as


seguintes condições:
1) Deve estar ligado ao sistema de alerta para o exterior;
2) Deve disparar um alerta luminoso e sonoro;
3) Os terminais do equipamento de alarme devem estar indicados para utilização com luz e auto-
iluminados para serem vistos no escuro;
4) Os terminais do sistema de aviso podem ser botões de carregar, botões de puxar ou cabos de
puxar;
5) Os terminais do sistema de aviso devem estar colocados a uma altura do piso compreendida
entre 0,4 m e 0,6 m, e de modo a que possam ser alcançados por uma pessoa na posição deitada
no chão após uma queda ou por uma pessoa em cadeira de rodas.
2.9.16 - Para além do especificado na secção 4.11, as barras de apoio instaladas junto dos
aparelhos sanitários acessíveis devem satisfazer as seguintes condições:
1) Podem ter formas, dimensões, modos de fixação e localizações diferentes das definidas, se
possuírem as superfícies de preensão nas localizações definidas ou ser for comprovado que
melhor se adequam às necessidades dos utentes;
2) Devem ter capacidade de suportar uma carga não inferior a 1,5 kN, aplicada em qualquer
sentido.
2.9.17 - Os controlos e mecanismos operáveis (controlos da torneira, controlos do escoamento,
válvulas de descarga da sanita) e os acessórios (suportes de toalhas, saboneteiras, suportes de
papel higiénico) dos aparelhos sanitários acessíveis devem satisfazer as seguintes condições:
1) Devem estar dentro das zonas de alcance definidas nos n.os 4.2.1 e 4.2.2, considerando uma
pessoa em cadeira de rodas a utilizar o aparelho e uma pessoa em cadeira de rodas estacionada
numa zona livre;
2) Devem poder ser operados por uma mão fechada, oferecer uma resistência mínima e não
requerer uma preensão firme nem rodar o pulso;
3) Não deve ser necessária uma força superior a 22 N para os operar;
4) O chuveiro deve ser do tipo telefone, deve ter um tubo com um comprimento não inferior a 1,5
m, e deve poder ser utilizado como chuveiro de cabeça fixo e como chuveiro de mão livre;
5) As torneiras devem ser do tipo monocomando e accionadas por alavanca;
6) Os controlos do escoamento devem ser do tipo de alavanca.
2.9.18 - Caso existam, as protecções de banheira ou bases de duche acessíveis devem satisfazer
as seguintes condições:
1) Não devem obstruir os controlos ou a zona de transferência das pessoas em cadeira de rodas;
2) Não devem ter calhas no piso ou nas zonas de transferências das pessoas em cadeira de
rodas;
3) Se tiverem portas, devem satisfazer o especificado na secção 4.9.
2.9.19 - O espaço que permanece livre após a instalação dos aparelhos sanitários acessíveis nas
instalações sanitárias deve satisfazer as seguintes condições:

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1) Deve ser possível inscrever uma zona de manobra, não afectada pelo movimento de abertura
da porta de acesso, que permita rotação de 360º;
2) As sanitas e bidés que tiverem rebordos elevados com uma altura ao piso não inferior a 0,25 m
podem sobrepor-se às zonas livres de manobra e de aproximação numa margem não superior a
0,1 m;
3) Os lavatórios que tenham uma zona livre com uma altura ao piso não inferior a 0,65 m podem
sobrepor-se às zonas livres de manobra e de aproximação numa margem não superior a 0,2 m;
4) A zona de manobra do espaço de higiene pessoal pode sobrepor-se à base de duche se não
existir uma diferença de nível do pavimento superior a 0,02 m.
2.9.20 - A porta de acesso a instalações sanitárias ou a cabinas onde sejam instalados aparelhos
sanitários acessíveis deve ser de correr ou de batente abrindo para fora.
Secção 2.10 - Vestiários e cabinas de prova:
2.10.1 - Em cada conjunto de vestiários ou cabinas de prova, pelo menos um deve satisfazer o
especificado nesta secção.
2.10.2 - Se a entrada/saída dos vestiários ou cabinas de prova se fizer por uma porta de abrir ou
de correr, o espaço interior deve ter dimensões que permitam inscrever uma zona de manobra
para rotação de 180º e que não se sobreponha ao movimento da porta.
2.10.3 - Se a entrada/saída dos vestiários ou cabinas de prova se fizer por um vão encerrado por
uma cortina, o vão deve ter uma largura não inferior a 0,8 m e o espaço interior deve ter
dimensões que permitam inscrever uma zona de manobra para rotação de 90º.
2.10.4 - No interior dos vestiários e cabinas de prova deve existir um banco que satisfaça as
seguintes condições:
1) Deve estar fixo à parede;
2) Deve ter uma dimensão de 0,4 m por 0,8 m;
3) O bordo superior do banco deve estar a uma altura do piso de 0,45 m, admitindo-se uma
tolerância de (mais ou menos) 0,02 m;
4) Deve existir uma zona livre que satisfaça o especificado na secção 4.1 de modo a permitir a
transferência lateral de uma pessoa em cadeira de rodas para o banco;
5) Deve ter uma resistência mecânica adequada às solicitações previsíveis;
6) Se for instalado em conjunto com bases de duche, em piscinas, ou outras zonas húmidas, deve
ter uma forma que impeça a acumulação de água sobre o banco e a superfície do banco deve ser
antiderrapante.
2.10.5 - Se existirem espelhos nos vestiários e cabinas de prova para as pessoas sem limitações
de mobilidade, então nos vestiários e cabinas de prova acessíveis deve existir um espelho com
uma largura não inferior a 0,45 m e uma altura não inferior a 1,3 m, montado de forma a permitir o
uso por uma pessoa sentada no banco e por uma pessoa de pé.
Secção 2.11 - Equipamentos de auto-atendimento:
2.11.1 - Nos locais em que forem previstos equipamentos de auto-atendimento, pelo menos um
equipamento para cada tipo de serviço deve satisfazer as seguintes condições:
1) Deve estar localizado junto a um percurso acessível;

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2) Deve existir uma zona livre que permita a aproximação frontal ou lateral de acordo com o
especificado na secção 4.1;
3) Se a aproximação ao equipamento de auto-atendimento for frontal, deve existir um espaço livre
com uma altura do piso não inferior a 0,7 m e uma profundidade não inferior a 0,3 m;
4) Os comandos e controlos devem estar localizados a uma altura do piso compreendida entre 0,8
m e 1,2 m, e a uma distância da face frontal externa do equipamento não superior a 0,3 m;
5) Os dispositivos para inserção e retirada de produtos devem estar localizados a uma altura do
piso compreendida entre 0,4 m e 1,2 m e a uma distância da face frontal externa do equipamento
não superior a 0,3 m;
6) As teclas numéricas devem seguir o mesmo arranjo do teclado, com a tecla do n.º 1 no canto
superior esquerdo e a tecla do n.º 5 no meio;
7) As teclas devem ser identificadas com referência táctil (exemplos: em alto-relevo ou braille).
Secção 2.12 - Balcões e guichés de atendimento:
2.12.1 - Nos locais em que forem previstos balcões ou guichés de atendimento, pelo menos um
deve satisfazer as seguintes condições:
1) Deve estar localizado junto a um percurso acessível;
2) Deve existir uma zona livre que permita a aproximação frontal ou lateral de acordo com o
especificado na secção 4.1;
3) Deve ter uma zona aberta ao público servindo para o atendimento com uma extensão não
inferior a 0,8 m e uma altura ao piso compreendida entre 0,75 m e 0,85 m.
Secção 2.13 - Telefones de uso público:
2.13.1 - Nos locais em que forem previstos telefones de uso público, pelo menos um deve
satisfazer as seguintes condições:
1) Estar localizado junto a um percurso acessível;
2) Possuir uma zona livre que permita a aproximação frontal ou lateral de acordo com o
especificado na secção 4.1;
3) Ter a ranhura para as moedas ou para o cartão, bem como o painel demarcação de números, a
uma altura do piso compreendida entre 1 m e 1,3 m;
4) Estar suspenso, de modo a possuir uma zona livre com uma largura não inferior a 0,7 m e uma
altura ao piso não inferior a 0,65 m;
5) Utilizar números do teclado com referência táctil (exemplos: em altorelevo ou braille).
Secção 2.14 - Bateria de receptáculos postais:
2.14.1 - A bateria de receptáculos postais deve satisfazer as seguintes condições:
1) Deve estar localizada junto a um percurso acessível;
2) Deve existir uma zona livre que permita a aproximação frontal ou lateral de acordo com o
especificado na secção 4.1;
3) Os receptáculos postais devem estar colocados a uma altura do piso não inferior a 0,6 m e não
superior a 1,4 m.
Capítulo 3
Edifícios, estabelecimentos e instalações com usos específicos:

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Secção 3.1 - Disposições específicas:


3.1.1 - Para além das disposições gerais definidas no capítulo anterior, devem ser aplicadas as
disposições deste capítulo aos edifícios, estabelecimentos e instalações com determinados usos.
Secção 3.2 - Edifícios de habitação - espaços comuns:
3.2.1 - Nos edifícios de habitação com um número de pisos sobrepostos inferior a cinco, e com
uma diferença de cotas entre pisos utilizáveis não superior a 11,5 m, incluindo os pisos destinados
a estacionamento, a arrecadações ou a outros espaços de uso comum (exemplo: sala de
condóminos), podem não ser instalados meios mecânicos de comunicação vertical alternativos às
escadas entre o piso do átrio principal de entrada/saída e os restantes pisos.
3.2.2 - Nos edifícios de habitação em que não sejam instalados durante a construção meios
mecânicos de comunicação vertical alternativos às escadas, deve ser prevista no projecto a
possibilidade de todos os pisos serem servidos por meios mecânicos de comunicação vertical
instalados a posteriori, nomeadamente:
1) Plataformas elevatórias de escada ou outros meios mecânicos de comunicação vertical, no caso
de edifícios com dois pisos;
2) Ascensores de cabina que satisfaçam o especificado na secção 2.6, no caso de edifícios com
três e quatro pisos.
3.2.3 - A instalação posterior dos meios mecânicos de comunicação vertical referidos no n.º 3.2.2
deve poder ser realizada afectando exclusivamente as partes comuns dos edifícios de habitação e
sem alterar as fundações, a estrutura ou as instalações existentes; devem ser explicitadas nos
desenhos do projecto de licenciamento as alterações que é necessário realizar para a instalação
posterior dos referidos meios mecânicos.
3.2.4 - Se os edifícios de habitação possuírem ascensor e espaços de estacionamento ou
arrecadação em cave para uso dos moradores das habitações, todos os pisos dos espaços de
estacionamento e das arrecadações devem ser servidos pelo ascensor.
3.2.5 - Nos edifícios de habitação é recomendável que o percurso acessível entre o átrio de
entrada e as habitações situadas no piso térreo se realize sem recorrer a meios mecânicos de
comunicação vertical.
3.2.6 - Em espaços de estacionamento reservados ao uso habitacional, devem ser satisfeitas as
seguintes condições:
1) O número de lugares reservados para veículos de pessoa com mobilidade condicionada pode
não satisfazer o especificado no n.º 2.8.1, desde que não seja inferior a: um lugar em espaços de
estacionamento com uma lotação inferior a 50 lugares; dois lugares em espaços de
estacionamento com uma lotação compreendida entre 51 e 200 lugares; um lugar por cada 100
lugares em espaços de estacionamento com uma lotação superior a 200 lugares;
2) Podem não existir lugares de estacionamento reservados para pessoas com mobilidade
condicionada em espaços de estacionamento com uma lotação inferior a 13 lugares;
3) Os lugares reservados para pessoas com mobilidade condicionada devem constituir um lugar
supletivo a localizar no espaço comum do edifício.

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3.2.7 - Os patamares que dão acesso às portas dos fogos devem permitir inscrever uma zona de
manobra para rotação de 180º.
Secção 3.3 - Edifícios de habitação - habitações:
3.3.1 - Nos espaços de entrada das habitações deve ser possível inscrever uma zona de manobra
para rotação de 360º.
3.3.2 - Os corredores e outros espaços de circulação horizontal das habitações devem ter uma
largura não inferior a 1,1 m; podem existir troços dos corredores e de outros espaços de circulação
horizontal das habitações com uma largura não inferior a 0,9 m, se tiverem uma extensão não
superior a 1,5 m e se não derem acesso lateral a portas de compartimentos.
3.3.3 - As cozinhas das habitações devem satisfazer as seguintes condições:
1) Após a instalação das bancadas deve existir um espaço livre que permita inscrever uma zona
de manobra para a rotação de 360º;
2) Se as bancadas tiverem um soco de altura ao piso não inferior a 0,3 m podem projectar-se
sobre a zona de manobra uma até 0,1 m de cada um dos lados;
3) A distância entre bancadas ou entre as bancadas e as paredes não deve ser inferior a 1,2 m.
3.3.4 - Em cada habitação deve existir pelo menos uma instalação sanitária que satisfaça as
seguintes condições:
1) Deve ser equipada com, pelo menos, um lavatório, uma sanita, um bidé e uma banheira;
2) Em alternativa à banheira, pode ser instalada uma base de duche com 0,8 m por 0,8 m desde
que fique garantido o espaço para eventual instalação da banheira;
3) A disposição dos aparelhos sanitários e as características das paredes devem permitir a
colocação de barras de apoio caso os moradores o pretendam de acordo com o especificado no
n.º 3) do n.º 2.9.4 para as sanitas, no n.º 5) do n.º 2.9.7 para a banheira e nos n.os 5) dos n.os
2.9.9 e 2.9.10 para a base de duche;
4) As zonas de manobra e faixas de circulação devem satisfazer o especificado no n.º 2.9.19.
3.3.5 - Se existirem escadas nas habitações que dêem acesso a compartimentos habitáveis e se
não existirem rampas ou dispositivos mecânicos de elevação alternativos, devem ser satisfeitas as
seguintes condições:
1) A largura dos lanços, patamares e patins não deve ser inferior a 1 m;
2) Os patamares superior e inferior devem ter uma profundidade, medida no sentido do
movimento, não inferior a 1,2 m.
3.3.6 - Se existirem rampas que façam parte do percurso de acesso a compartimentos habitáveis,
devem satisfazer o especificado na secção 2.5, com excepção da largura que pode ser não inferior
a 0,9 m.
3.3.7 - Os pisos e os revestimentos das habitações devem satisfazer o especificado na secção 4.7
e na secção 4.8; se os fogos se organizarem em mais de um nível, pode não ser cumprida esta
condição desde que exista pelo menos um percurso que satisfaça o especificado na secção 4.7 e
na secção 4.8 entre a porta de entrada/saída e os seguintes compartimentos:
1) Um quarto, no caso de habitações com lotação superior a cinco pessoas;
2) Uma cozinha conforme especificado no n.º 3.3.3;

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3) Uma instalação sanitária conforme especificado no n.º 3.3.4.


3.3.8 - Os vãos de entrada/saída do fogo, bem como de acesso a compartimentos, varandas,
terraços e arrecadações, devem satisfazer o especificado na secção 4.9.
3.3.9 - Os corrimãos e os comandos e controlos devem satisfazer o especificado respectivamente
na secção 4.11 e na secção 4.12.
Secção 3.4 - Recintos e instalações desportivas:
3.4.1 - Nos balneários, pelo menos uma das cabinas de duche para cada sexo deve satisfazer o
especificado nos n.os 2.9.7, 2.9.8, 2.9.9, 2.9.10, 2.9.11, 2.9.16 e 2.9.17.
3.4.2 - Nos vestiários devem ser satisfeitas as seguintes condições:
1) Deve existir pelo menos um conjunto de cabides fixos e cacifos localizados de modo a permitir o
alcance por uma pessoa em cadeira de rodas de acordo com o especificado na secção 4.2;
2) Após a instalação do equipamento, deve existir pelo menos um percurso que satisfaça o
especificado na secção 4.3 e na secção 4.4.
3.4.3 - Nas piscinas deve existir pelo menos um acesso à água por rampa ou por meios
mecânicos; os meios mecânicos podem estar instalados ou ser amovíveis.
3.4.4 - As zonas pavimentadas adjacentes ao tanque da piscina, bem como as escadas e rampas
de acesso, devem ter revestimento antiderrapante.
3.4.5 - O acabamento das bordas da piscina, dos degraus de acesso e de outros elementos
existentes na piscina deve ser boleado.
3.4.6 - As escadas e rampas de acesso aos tanques das piscinas devem ter corrimãos duplos de
ambos os lados, situados a uma altura do piso de 0,75 m e 0,9 m.
3.4.7 - Os locais destinados à assistência em recintos e instalações desportivas devem satisfazer o
especificado na secção 3.6.
Secção 3.5 - Edifícios e instalações escolares e de formação:
3.5.1 - As passagens exteriores entre edifícios devem ser cobertas.
3.5.2 - A largura dos corredores não deve ser inferior a 1,8 m.
3.5.3 - Nos edifícios com vários pisos destinados aos formandos devem existir acessos alternativos
às escadas, por ascensores e ou rampas; em edifícios existentes, se não for possível satisfazer
esta condição, deve existir pelo menos uma sala de cada tipo acessível de nível, por ascensor ou
por rampa.
Secção 3.6 - Salas de espectáculos e outras instalações para actividades sócio-culturais:
3.6.1 - O número de lugares especialmente destinados a pessoas em cadeiras de rodas não deve
ser inferior ao definido em seguida:
1) Um lugar, no caso de salas ou recintos com uma capacidade até 25 lugares;
2) Dois lugares, no caso de salas ou recintos com uma capacidade entre 26 e 50 lugares;
3) Três lugares, no caso de salas ou recintos com uma capacidade entre 51 e 100 lugares;
4) Quatro lugares, no caso de salas ou recintos com uma capacidade entre 101 e 200 lugares;
5) 2% do número total de lugares, no caso de salas ou recintos com capacidade entre 201 e 500
lugares;

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Acessibilidade em Museus

6) 10 lugares mais 1% do que exceder 500 lugares, no caso de salas ou recintos com capacidade
entre 501 e 1000 lugares;
7) 15 lugares mais 0,1% do que exceder 1000, no caso de salas ou recintos com capacidade
superior a 1000 lugares.
3.6.2 - Os lugares especialmente destinados a pessoas em cadeiras de rodas devem:
1) Ser distribuídos por vários pontos da sala;
2) Estar localizados numa área de piso horizontal;
3) Proporcionar condições de conforto, segurança, visibilidade e acústica pelo menos equivalentes
às dos restantes espectadores;
4) Ter uma zona livre para a permanência com uma dimensão não inferior a 0,8 m por 1,2 m;
5) Ter uma margem livre de 0,3 m à frente e atrás da zona livre para a permanência;
6) Estar recuados 0,3 m em relação ao lugar ao lado, de modo que a pessoa em cadeira de rodas
e os seus eventuais acompanhantes fiquem lado a lado;
7) Ter um lado totalmente desobstruído contíguo a um percurso acessível.
3.6.3 - Cada lugar especialmente destinado a pessoas em cadeiras de rodas deve estar junto de
pelo menos um lugar para acompanhante sem limitações de mobilidade.
3.6.4 - Os lugares especialmente destinados a pessoas em cadeiras de rodas podem ser
ocupados por cadeiras desmontáveis quando não sejam necessários.
3.6.5 - No caso de edifícios sujeitos a obras de alteração ou conservação, os lugares
especialmente destinados a pessoas em cadeiras de rodas podem ser agrupados, se for
impraticável a sua distribuição por todo o recinto.
Secção 3.7 - Postos de abastecimento de combustível:
3.7.1 - Em cada posto de abastecimento de combustível deve existir pelo menos uma bomba
acessível, ou um serviço que providencie o abastecimento do veículo caso uma pessoa com
mobilidade condicionada o solicite.
3.7.2 - Uma bomba de abastecimento de combustível é acessível se todos os dispositivos de
utilização estiverem localizados de modo a permitirem:
1) A aproximação por uma pessoa em cadeira de rodas de acordo com o especificado na secção
4.1;
2) O alcance por uma pessoa em cadeira de rodas de acordo com o especificado na secção 4.2.
Capítulo 4
Percurso acessível:
Secção 4.1 - Zonas de permanência:
4.1.1 - A zona livre para o acesso e a permanência de uma pessoa em cadeira de rodas deve ter
dimensões que satisfaçam o definido em seguida:
4.1.2 - A zona livre deve ter um lado totalmente desobstruído contíguo ou sobreposto a um
percurso acessível.
4.1.3 - Se a zona livre estiver situada num recanto que confina a totalidade ou parte de três dos
seus lados numa extensão superior ao indicado, deve existir um espaço de manobra adicional
conforme definido em seguida:

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Secção 4.2 - Alcance:


4.2.1 - Se a zona livre permitir a aproximação frontal, os objectos ao alcance de uma pessoa em
cadeira de rodas devem situar-se dentro dos intervalos definidos em seguida:
4.2.2 - Se a zona livre permitir a aproximação lateral, os objectos ao alcance de
uma pessoa em cadeira de rodas devem situar-se dentro dos intervalos definidos em seguida:
Secção 4.3 - Largura livre:
4.3.1 - Os percursos pedonais devem ter em todo o seu desenvolvimento um canal de circulação
contínuo e desimpedido de obstruções com uma largura não inferior a 1,2 m, medida ao nível do
pavimento.
4.3.2 - Devem incluir-se nas obstruções referidas no n.º 4.3.1 o mobiliário urbano, as árvores, as
placas de sinalização, as bocas-de-incêndio, as caleiras sobrelevadas, as caixas de electricidade,
as papeleiras ou outros elementos que bloqueiem ou prejudiquem a progressão das pessoas.
4.3.3 - Podem existir troços dos percursos pedonais com uma largura livre inferior ao especificado
no n.º 4.3.1, se tiverem dimensões que satisfaçam o definido em seguida:
Secção 4.4 - Zonas de manobra:
4.4.1 - Se nos percursos pedonais forem necessárias mudanças de direcção de uma pessoa em
cadeira de rodas sem deslocamento, as zonas de manobra devem ter dimensões que satisfaçam o
definido em seguida:
4.4.2 - Se nos percursos pedonais forem necessárias mudanças de direcção de uma pessoa em
cadeira de rodas com deslocamento, as zonas de manobra devem ter dimensões que satisfaçam o
definido em seguida:
Secção 4.5 - Altura livre:
4.5.1 - A altura livre de obstruções em toda a largura dos percursos não deve ser inferior a 2 m nos
espaços encerrados e 2,4 m nos espaços não encerrados.
4.5.2 - No caso das escadas, a altura livre deve ser medida verticalmente entre o focinho dos
degraus e o tecto e, no caso das rampas, a altura livre deve ser medida verticalmente entre o piso
da rampa e o tecto.
4.5.3 - Devem incluir-se nas obstruções referidas no n.º 4.5.1 as árvores, as placas de sinalização,
os difusores sonoros, os toldos ou outros elementos que bloqueiem ou prejudiquem a progressão
das pessoas.
4.5.4 - Os corrimãos ou outros elementos cuja projecção não seja superior a 0,1m podem
sobrepor-se lateralmente, de um ou de ambos os lados, à largura livre das faixas de circulação ou
aos espaços de manobra dos percursos acessíveis.
4.5.5 - Se a altura de uma área adjacente ao percurso acessível for inferior a 2 m, deve existir uma
barreira para avisar os peões.
Secção 4.6 - Objectos salientes:
4.6.1 - Se existirem objectos salientes das paredes:
1) Não devem projectar-se mais de 0,1 m da parede, se o seu limite inferior estiver a uma altura do
piso compreendida entre 0,7 m e 2 m;

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2) Podem projectar-se a qualquer dimensão, se o seu limite inferior estiver a uma altura do piso
não superior a 0,7 m.
4.6.2 - Se existirem objectos salientes assentes em pilares ou colunas separadas de outros
elementos:
1) Não devem projectar-se mais de 0,3 m dos suportes, se o seu limite inferior estiver a uma altura
do piso compreendida entre 0,7 m e 2 m;
2) Podem projectar-se a qualquer dimensão, se o seu limite inferior estiver a uma altura do piso
não superior a 0,7 m.
4.6.3 - Os objectos salientes que se projectem mais de 0,1 m ou estiverem a uma altura do piso
inferior a 0,7 m devem ser considerados ao determinar a largura livre das faixas de circulação ou
dos espaços de manobra.
Secção 4.7 - Pisos e seus revestimentos:
4.7.1 - Os pisos e os seus revestimentos devem ter uma superfície:
1) Estável - não se desloca quando sujeita às acções mecânicas decorrentes do uso normal;
2) Durável - não é desgastável pela acção da chuva ou de lavagens frequentes;
3) Firme - não é deformável quando sujeito às acções mecânicas decorrentes do uso normal;
4) Contínua - não possui juntas com uma profundidade superior a 0,005m.
4.7.2 - Os revestimentos de piso devem ter superfícies com reflectâncias correspondentes a cores
nem demasiado claras nem demasiado escuras e com acabamento não polido; é recomendável
que a reflectância média das superfícies dos revestimentos de piso nos espaços encerrados esteja
compreendida entre 15% e 40%.
4.7.3 - Se forem utilizados tapetes, passadeiras ou alcatifas no revestimento do piso, devem ser
fixos, possuir um avesso firme e uma espessura não superior a 0,015 m descontando a parte
rígida do suporte; as bordas devem estar fixas ao piso e possuir uma calha ou outro tipo de fixação
em todo o seu comprimento; deve ser assegurado que não existe a possibilidade de enrugamento
da superfície; o desnível para o piso adjacente não deve ser superior a 0,005 m, pelo que podem
ser embutidos no piso.
4.7.4 - Se existirem grelhas, buracos ou frestas no piso (exemplos: juntas de dilatação, aberturas
de escoamento de água), os espaços não devem permitir a passagem de uma esfera rígida com
um diâmetro superior a 0,02 m; se os espaços tiverem uma forma alongada, devem estar
dispostos de modo que a sua dimensão mais longa seja perpendicular à direcção dominante da
circulação.
4.7.5 - A inclinação dos pisos e dos seus revestimentos deve ser:
1) Inferior a 5% na direcção do percurso, com excepção das rampas;
2) Não superior a 2% na direcção transversal ao percurso.
4.7.6 - Os troços de percursos pedonais com inclinação igual ou superior a 5% devem ser
considerados rampas e satisfazer o especificado na secção 2.5.
4.7.7 - Os revestimentos de piso de espaços não encerrados ou de espaços em que exista o uso
de água (exemplos: instalações sanitárias, cozinhas, lavandaria) devem:
1) Garantir boa aderência mesmo na presença de humidade ou água;

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2) Ter boas qualidades de drenagem superficial e de secagem;


3) Ter uma inclinação compreendida entre 0,5% e 2% no sentido de escoamento das águas.
Secção 4.8 - Ressaltos no piso:
4.8.1 - As mudanças de nível abruptas devem ser evitadas (exemplos: ressaltos de soleira,
batentes de portas, desníveis no piso, alteração do material de revestimento, degraus, tampas de
caixas de inspecção e visita).
4.8.2 - Se existirem mudanças de nível, devem ter um tratamento adequado à sua altura:
1) Com uma altura não superior a 0,005 m, podem ser verticais e sem tratamento do bordo;
2) Com uma altura não superior a 0,02 m, podem ser verticais com o bordo boleado ou chanfrado
com uma inclinação não superior a 50%;
3) Com uma altura superior a 0,02 m, devem ser vencidas por uma rampa ou por um dispositivo
mecânico de elevação.
Secção 4.9 - Portas:
4.9.1 - Os vãos de porta devem possuir uma largura útil não inferior a 0,77 m, medida entre a face
da folha da porta quando aberta e o batente ou guarnição do lado oposto; se a porta for de batente
ou pivotante, deve considerar-se a porta na posição aberta a 90º.
4.9.2 - Os vãos de porta devem ter uma altura útil de passagem não inferior a 2m.
4.9.3 - Os vãos de porta cujas ombreiras ou paredes adjacentes tenham uma profundidade
superior a 0,6 m devem satisfazer o especificado no n.º 4.3.1.
4.9.4 - Podem existir portas giratórias, molinetes ou torniquetes se existir uma porta ou passagem
acessível, alternativa, contígua e em uso.
4.9.5 - Se existirem portas com duas folhas operadas independentemente, pelo menos uma delas
deve satisfazer o especificado no n.º 4.9.1.
4.9.6 - As portas devem possuir zonas de manobra desobstruídas e de nível com dimensões que
satisfaçam o definido em seguida:
4.9.7 - No caso de edifícios sujeitos a obras de alteração ou conservação, podem não existir zonas
de manobra desobstruídas com as dimensões definidas no n.º 4.9.6 se a largura útil de passagem
da porta for aumentada para compensar a dificuldade do utente se posicionar perpendicularmente
ao vão da porta.
4.9.8 - Se nas portas existirem ressaltos de piso, calhas elevadas, batentes ou soleiras, não devem
ter uma altura, medida relativamente ao piso adjacente, superior a 0,02 m.
4.9.9 - Os puxadores, as fechaduras, os trincos e outros dispositivos de operação das portas
devem oferecer uma resistência mínima e ter uma forma fácil de agarrar com uma mão e que não
requeira uma preensão firme ou rodar o pulso; os puxadores em forma de maçaneta não devem
ser utilizados.
4.9.10 - Os dispositivos de operação das portas devem estar a uma altura do piso compreendida
entre 0,8 m e 1,1 m e estar a uma distância do bordo exterior da porta não inferior a 0,05 m.
4.9.11 - Em portas de batente deve ser prevista a possibilidade de montar uma barra horizontal fixa
a uma altura do piso compreendida entre 0,8 m e 1,1 m e com uma extensão não inferior a 0,25 m.

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4.9.12 - Se as portas forem de correr, o sistema de operação deve estar exposto e ser utilizável de
ambos os lados, mesmo quando estão totalmente abertas.
4.9.13 - A força necessária para operar as portas interiores, puxando ou empurrando, não deve ser
superior a 22 N, excepto no caso de portas de segurança contra incêndio, em que pode ser
necessária uma força superior.
4.9.14 - As portas e as paredes com grandes superfícies envidraçadas devem ter marcas de
segurança que as tornem bem visíveis, situadas a uma altura do piso compreendida entre 1,2 m e
1,5 m.
Secção 4.10 - Portas de movimento automático:
4.10.1 - As portas podem ter dispositivos de fecho automático, desde que estes permitam controlar
a velocidade de fecho.
4.10.2 - Podem ser utilizadas portas de movimento automático, activadas por detectores de
movimento ou por dispositivos de operação (exemplos: tapete ou interruptores).
4.10.3 - As portas de movimento automático devem ter corrimãos de protecção, possuir sensores
horizontais ou verticais e estar programadas para permanecer totalmente abertas até a zona de
passagem estar totalmente desimpedida.
Secção 4.11 - Corrimãos e barras de apoio:
4.11.1 - Os corrimãos e as barras de apoio devem ter um diâmetro ou largura das superfícies de
preensão compreendido entre 0,035 m e 0,05 m, ou ter uma forma que proporcione uma superfície
de preensão equivalente.
4.11.2 - Se os corrimãos ou as barras de apoio estiverem colocados junto de uma parede ou dos
suportes, o espaço entre o elemento e qualquer superfície adjacente não deve ser inferior a
0,035m.
4.11.3 - Se os corrimãos ou as barras de apoio estiverem colocados em planos recuados
relativamente à face das paredes, a profundidade do recuo não deve ser superior a 0,08 m e o
espaço livre acima do topo superior do corrimão não deve ser inferior a 0,3 m.
4.11.4 - Os corrimãos, as barras de apoio e as paredes adjacentes não devem possuir superfícies
abrasivas, extremidades projectadas perigosas ou arestas vivas.
4.11.5 - Os elementos preênseis dos corrimãos e das barras de apoio não devem rodar dentro dos
suportes, ser interrompidos pelos suportes ou outras obstruções ou ter um traçado ou materiais
que dificultem ou impeçam o deslizamento da mão.
4.11.6 - Os corrimãos e as barras de apoio devem possuir uma resistência mecânica adequada às
solicitações previsíveis e devem ser fixos a superfícies rígidas e estáveis.
Secção 4.12 - Comandos e controlos:
4.12.1 - Os comandos e controlos (exemplos: botões, teclas e outros elementos similares) devem:
1) Estar situados de modo que exista uma zona livre para operação que satisfaça o especificado
na secção 4.1;
2) Estar a uma altura, medida entre o nível do piso e o eixo do comando, que satisfaça o
especificado na secção 4.2;

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3) Ter uma forma fácil de agarrar com uma mão e que não requeira uma preensão firme ou rodar o
pulso;
4) Poder ser operados sem ser requerida uma força superior a 22 N;
5) Ter pelo menos uma das suas dimensões não inferior a 0,02 m.
4.12.2 - Os botões de campainha, os comutadores de luz e os botões do sistema de comando dos
ascensores e plataformas elevatórias devem ser indicados por dispositivo luminoso de presença e
possuir identificação táctil (exemplos: em alto-relevo ou em braille).
4.12.3 - Os sistemas de comando dos ascensores e das plataformas elevatórias não devem estar
trancados nem dependentes de qualquer tipo de chave ou cartão.
4.12.4 - Podem existir comandos e controlos que não satisfaçam o especificado nesta secção se
as características dos equipamentos assim o determinarem ou se os sistemas eléctricos, de
comunicações ou outros não forem para uso dos utentes.
Secção 4.13 - Elementos vegetais:
4.13.1 - As caldeiras das árvores existentes nos percursos acessíveis e situadas ao nível do piso
devem ser revestidas por grelhas de protecção ou devem estar assinaladas com um separador
com uma altura não inferior a 0,3 m que permita a sua identificação por pessoas com deficiência
visual.
4.13.2 - As grelhas de revestimento das caleiras das árvores de percursos acessíveis devem
possuir características de resistência mecânica e fixação que inviabilizem a remoção ou a
destruição por acções de vandalismo, bem como satisfazer o especificado no n.º 4.7.4.
4.13.3 - Nas áreas adjacentes aos percursos acessíveis não devem ser utilizados elementos
vegetais com as seguintes características: com espinhos ou que apresentem elementos
contundentes; produtoras de substâncias tóxicas; que desprendam muitas folhas, flores, frutos ou
substâncias que tornem o piso escorregadio, ou cujas raízes possam danificar o piso.
4.13.4 - Os elementos da vegetação (exemplos: ramos pendentes de árvores, galhos projectados
de arbustos) e suas protecções (exemplos: muretes, orlas, grades) não devem interferir com os
percursos acessíveis, satisfazendo para o efeito o especificado na secção 4.5 e na secção 4.6.
Secção 4.14 - Sinalização e orientação:
4.14.1 - Deve existir sinalização que identifique e direccione os utentes para entradas/saídas
acessíveis, percursos acessíveis, lugares de estacionamento reservados para pessoas com
mobilidade condicionada e instalações sanitárias de utilização geral acessíveis.
4.14.2 - Caso um percurso não seja acessível, a sinalização deve indicá-lo.
4.14.3 - O símbolo internacional de acessibilidade consiste numa figura estilizada de uma pessoa
em cadeira de rodas, conforme indicado em seguida:
4.14.4 - Se existirem obras nos percursos acessíveis que prejudiquem as condições de
acessibilidade definidas, deve ser salvaguardada a integridade das pessoas pela colocação de
barreiras devidamente sinalizadas por avisos, cores contrastantes e iluminação nocturna.
4.14.5 - Para assegurar a legibilidade a sinalização deve possuir as seguintes características:
1) Estar localizada de modo a ser facilmente vista, lida e entendida por um utente de pé ou
sentado;

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Acessibilidade em Museus

2) Ter uma superfície anti-reflexo;


3) Possuir caracteres e símbolos com cores que contrastem com o fundo;
4) Conter caracteres ou símbolos que proporcionem o adequado entendimento da mensagem.
4.14.6 - Nos edifícios, a identificação do número do piso deve possuir as seguintes características:
1) Ser identificado por um número arábico;
2) Estar colocada centrada a uma altura do piso de 1,5 m, numa parede do patamar das escadas
ou, se existir uma porta de acesso às escadas, do lado do puxador a uma distância da ombreira
não superior a 0,3 m;
3) Utilizar caracteres com uma altura não inferior a 0,06 m, salientes do suporte entre 0,005 m e
0,007 m, espessos (tipo negrito) e de cor contrastante com o fundo onde são aplicados.

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Anexo II

Entrevistas

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Museu Nacional de Soares dos Reis

Tal como já falamos, considera a acessibilidade museológica importante. E há sempre o nível


físico, tal como o de conteúdo, que por vezes são um bocadinho esquecidos, as pessoas dão
muita importância às barreiras físicas e depois conteúdo, por exemplo, o plasma (da entrada de
uma das sala de exposição) é muito bom a esse nível…
E os conteúdos, neste momento, cada vez mais temos de os considerar, o que está em exposição
permanente, como o que é de exposição temporária, que as pessoas associam ao museu, quando
vêm (cá). Mas também aquilo que se vai fazendo no Museu, que se vai passando no Museu em
paralelo com aquilo que está estático, não é? E, portanto, é difícil conseguirmos atingir todos os
públicos. Para o exterior, só com publicidade agressiva, digamos. Nós com a falta de meios que
temos, eu penso que nesse aspecto, na questão da acessibilidade, os museus, têm dificuldades
acrescidas por esse lado, porque têm muita, nós pelo menos sentimos isso, muita dificuldade de
acesso a meios de informação.

Os custos em euros que isso tem, e por outro lado por não termos staffs capazes de preparar a
informação, eu penso que a acessibilidade tem muito a ver também com a maneira como nós
comunicamos. E nós se estamos de facto preparados e penso que nos museus, neste museu, há
gente claramente preparada e capaz de transmitir, da forma mais correcta, para cada público, para
o público-alvo, como se costuma dizer, tem essa sensibilidade e as coisas são feitas devidamente,
quer em termos escritos, quer em termos de acompanhamento, ou de visitas guiadas, de
acolhimento a visitas. Penso que nesse aspecto há uma adequação da linguagem mas há ainda
uma dificuldade muito grande, que eu sinto na pele, porque acabo por ser eu a fazer as coisas, eu
com umas das pessoas que trabalham comigo, normalmente ao fim da tarde e ao fim de semana,
quando podemos, que é o adequar à linguagem da divulgação para o exterior, para competir com
todo o tipo de informações com que as pessoas são bombardeadas.

É um bocadinho de marketing…
O marketing… Nós não temos preparação, não temos staff contemplando essas pessoas e
portanto andamos um bocado às apalpadelas a faze-lo. Eu aí acho que há uma franca
impreparação nossa.
Por outro lado, neste museu, há uma falha grande, ainda, que é a questão das traduções… temos
as legendas todas preparadas para mas depois como queremos alterar o percurso da exposição
permanente não achamos oportuno e uma coisa está a atrasar a outra e não temos, ainda, as
legendas traduzidas, o que é uma falha nossa, muito grande.

E guias, têm algum guia?


Temos. Temos um roteiro em inglês e um roteiro em português. Mas é um roteiro genérico.

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Acessibilidade em Museus

Não temos ainda um áudio-guia, também, estamos a trabalhar nele… há muita coisa a caminho, o
que não é mau (risos).

Claro, exactamente. Antes estar a caminho de… não é? (risos) Visitantes por mês, qual é, mais ou
menos, a média de visitantes?
Andamos à volta dos 5000 (cinco mil).

Desses sabe-me dizer quantos têm necessidades especiais? Têm alguma indicação estatística?
Não temos trabalhadas as percentagens e as quantidades de pessoas com necessidades
especiais, até porque nós estamos a fazer abordagens aos públicos com um protocolo com a
universidade, com a Faculdade de Economia, com a Dra. Helena Santos e o Prof. Varejão, já
fizemos um inquérito numa exposição temporária, feito por nós e trabalhado por eles, primeiro, a
das máscaras, dos rituais modernos, depois era um pequeno inquérito. Depois fizemos, já
preparados por eles, na exposição dos vasos gregos, que está a ser trabalhado. Estamos agora a
fazer um ao público turista e vamos a partir de Setembro, Outubro, fazer um para o público escolar
e está nas nossas perspectivas fazer, também, um para o público com necessidades especiais…
estamos a ir por etapas, o que está a ser… vai ser, penso eu, muito útil para podermos tirar
conclusões sobre o tipo de público que temos.
Temos é dados, que depois lhe posso mandar, sobre as visitas especiais, as visitas que são feitas
para o público com necessidades especiais.

Trabalham com algum protocolo, com alguma associação, instituição…


Visitas orientadas. Temos, temos um com a ACAPO, temos aliás um cego como telefonista cá,
estagiário, que nos dá alguma… que nos ajuda.

Exactamente, eles melhor do que ninguém podem dar essa ajuda!


É, não é? Estamos agora a preparar uma exposição, para Setembro, em que ele vai ser, também,
um monitor importante. É uma exposição de estuques, portanto, materiais que se adequam muito
bem a serem “vistos” e usados por eles. Vamos fazendo algumas…
Temos várias visitas com o com o Espaço T. Temos com algumas escolas que têm grupos de
paralisia cerebral, portanto há vários… Temos ao longo do ano bastantes… depois posso lhe fazer
chegar, por exemplo, os dados deste ano, se quiser.

Sim, sim. Obrigada. Os que vêm um maior grupo seriam então os com deficiência visual e paralisia
cerebral?
Paralisia cerebral talvez mais, não lhe sei dizer assim porque por exemplo temos as pessoas de
idade, por exemplo, não sei se são “incluíveis” nos grupos de necessidades especiais… temos
muitos grupos de terceira idade neste momento…
Nós temos um problema a nível de acessibilidade, o museu tem dois elevadores na área do
público e um deles está avariado e é uma compostura de tal maneira cara que estamos a adia-la,

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Acessibilidade em Museus

portanto só temos um elevador em funcionamento, o que às vezes levanta alguns problemas…


ainda ontem estavam, acho eu, duas camionetas da Trofa… umas pessoas engraçadíssimas, sem
preconceitos nenhuns, portanto andar no Museu ou andar na feira era a mesma coisa (risos) e eu
acho muito bem, ainda bem… e não tinham problema de barulho mas tinham problema de
mobilidade, de facto, uns desciam as escadas…

É necessário um bocadinho mais de paciência mas dá… a nível das actividades do serviço de
educação, têm actividades específicas que foram criadas para estes públicos ou adaptam as
visitas orientadas para eles…?
Depende, nós com os cegos, por exemplo, temos tido todos os anos esse protocolo com a
ACAPO, não é um protocolo escrito mas é um acordo… fazemos à segunda-feira, uma visita á
escultura, que tem sido um verdadeiro sucesso…

E eles podem tocar?


Vão para junto das esculturas e eles podem tactear as esculturas todas, portanto, o desterrado, as
esculturas grandes, tudo… e é de facto extraordinário a interpretação deles…

Até porque nem todos os museus se disponibilizam a deixa-los tocar nas colecções…
É… Eles usam luvas, não há problema algum, não estragam nada, tratam tudo muito bem e
ajudam-nos imenso a perceber questões de movimento, por exemplo, houve uma que nunca me
esqueço, do pescador, do Soares dos Reis, que a nossa técnica que estava com o grupo estava a
tentar dizer que ele estava a levantar a rede, (e alguém disse) “não, não está, ele está a arrastar,
ora veja esta perna”, e pô-la a ver, “ora veja os músculos da perna, a força que ele está a fazer
com esta perna, ele está a fazer este movimento” (exemplificação do movimento) “isto obriga-o a
fazer força com esta perna”. Ele era moçambicano, estava cá para fazer umas operações e tinha
sido pescador, o pai era pescador, e ele dizia que sabia muito bem o esforço que era preciso para
arrastar uma rede na areia, que traz um peso brutal e que revia naquela escultura isso… e isso é
notável, foi ele que nos explicou, (nós dizíamos) ele está a levantar e rede, (ele disse) não, não
está, está a arrastar a rede. Portanto, completou a interpretação, ele próprio é que estava a
interpretar de outra forma…

E apoios (à visita), textos em Braille, textos ampliados para amblíopes, versão sonora, as peças
tácteis já disse que eles podem tocar em algumas…
Sim, nessas marcações, fazemos à segunda-feira, normalmente, ou, à terça de manhã. Tem sido
às segundas porque depois implica retirar os estrados que se põem à volta… é preciso que haja
uma construção…

O Museu está fechado à segunda?


À segunda e à terça de manhã, portanto eles à segunda podem fazer isso sem incomodar as
outras pessoas.

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Acessibilidade em Museus

Temos tido, só pontualmente, o Braille para algumas exposições temporárias, não temos,
genericamente, ainda o catálogo, as legendas todas trabalhadas mas nesta versão que estamos a
preparar das legendas traduzidas, queremos ter as folhas de sala traduzidas em Braille…

Aliás a ACAPO com algumas instituições também faz formação com funcionários, de como guiar…
É, também, já fizeram connosco… têm feito, nessas visitas, também servem para isso.

E o site do museu? Houve algum cuidado para ser acessível, dentro das normas?
O Museu tem o site “paralítico” neste momento, está em revisão e está pronto, em princípio, agora
em fim de Setembro… deve estar pronto… E está não só na norma mas na A, sabe qual é? (WC3)
… está de acordo com todas essas normas. Tudo o que era passível de provocar ruído e de nos
atrapalhar a vida e que paralisasse o site nós eliminamos, agora nesta segunda versão, portanto,
não temos animação, no próprio site não temos animações para evitar…

Normalmente quanto mais simples melhor, nesse aspecto…


É. Estamos a fazer, até num banner, uma alteração de imagem para cada clique mas sem
animação, porque de facto… Depois, estamos a tentar passar para um blogue o que for animado
para quem quiser mais informação… Eu não estou muito de acordo com isso, acho que devia
haver haver um sinal nos sites porque acho que também é um perda de acessibilidade para outras
pessoas. A acessibilidade está a ser entendida de uma maneira que me parece errada…

Radical?
Radical… Eu até admito que seja, como é que eu hei-de me explicar, eu admito que se obrigue a
ter a acessibilidade para todos, mas acho que o haver zonas que não são acessíveis para todos,
não deviam implicar o anular, deviam implicar estar sinalizadas… deviam ser premiados os que
têm a totalidade de sites acessível para todos mas neste momento os sites que não estão
acessíveis para todos estão parados e, portanto, não estão acessíveis para ninguém… Portanto eu
acho que isto em termos de acessibilidade é redutor, não é? Não acho correcto, nós não vamos
demolir os monumentos onde não podem ir pessoas em cadeiras de rodas… deve-se fazer o
máximo possível, mas não vamos demolir, proibir todos… não é? Acho isso disparatado…

Por vezes a barreira é um bocadinho ténue…


É disparatado, não vejo razões para isso. Agora acho que deve estar sinalizado, “não é possível, a
partir daqui não é possível”. Garantir essa informação.
Compreendo que deve ser terrível, o que me explicaram é que é terrível para eles o ruído que isso
provoca não estando sinalizado… Havendo obrigação de estar sinalizado é da mesma maneira
que se tiver uma rampa que explica que vai por um precipício abaixo… não é? Quer dizer, tem de
estar sinalizado, quer em termos físicos, quer em termos de acessibilidade de outro tipo… Eu não
concordo com este formato, com esta formatação mas pronto, é o que há. Ninguém me perguntou,
eu dou na mesma a minha opinião. (risos)

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Acessibilidade em Museus

A nível físico, já disse que têm elevadores, rampas também têm…


Temos, temos tudo. A nível físico o museu está na sua totalidade acessível… menos na parte
administrativa, aqui! (risos) Isto é outra casa e a ligação foi feita no entre-piso e o resultado é que
os elevadores têm os patamares no piso e a acessibilidade do exterior é no entre-piso, portanto
para se chegar ao elevador tem de se descer escadas, ou subir. Portanto, há aqui um
desfasamento que não é só mau em termos de pessoas com necessidades especiais, é mau,
também, em termos de transporte de objectos…

Exactamente, como se costuma dizer, a acessibilidade não é só para pessoas com alguma
deficiência, mas todos nós, em determinada altura da vida ter uma (necessidade especial).
Claro que sim. Eu tenho muitos filhos portanto tive uma experiência extraordinária na cidade que
era andar com os carrinhos de bebé. Eu acho que as mães são muito mais sensíveis a isso… não
é preciso uma cadeira de rodas, basta um carrinho de bebé. Os malabarismos que as pessoas têm
de fazer para andar com um carrinho de bebé é uma coisa impressionante, e de facto, quem nunca
passou por isso, não sabe…

É muito complicado, eu tenho um irmão com paralisia cerebral, ele já tem vinte anos mas tem de
se deslocar num carrinho e há zonas em que é terrível conseguir superar os obstáculos…
As pessoas dizem “são uns aleijadinhos” mas os aleijadinhos somos nós todos, de facto, por que
realmente, eu também toda a vida andei… torci pé, andei de gesso, por isso também sei e os
carrinhos são uma violência. Há situações em que é uma violência, a pessoa tem de ir pela frente
e puxar as rodas para cima… Por isso quem passou por isso sabe o que é. Eu acho que pior do
que não ter rampas é ter aquelas coisas inacreditáveis, rampas assim (com muita inclinação) …
acho que devia haver multas para isso.

Sim, muitas servem só para dizer que têm e as pessoas vão confiantes porque vão ter uma rampa
e depois deparam-se com coisas incríveis…
Absolutamente. Isso, eu acho, é que é de fechar portas e de não deixar… Isso é um embuste, não
é? Pode ser grave! Pessoalmente eu acho que se alguém vem cá e percebe, não volta… E com
cadeiras eléctricas, aquilo pode provocar desastres!

E mesmo numa cadeira de rodas (normal), a subir a cadeira vira…


Sim, já me tenho irritado e dito umas coisas menos próprias porque de facto acho inacreditável, é
mesmo só para cumprir e estar-se nas tintas e não se importar…

São situações complicadas. E casas de banho, têm alguma casa de banho adaptada?
Temos nos dois pisos. Temos uma no piso de baixo e outra no piso de cima.

A sinalética do museu é legível, está bem identificada?

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Acessibilidade em Museus

Está.

O estacionamento é que é mais complicado?


O nosso grande problema, neste momento, é o estacionamento, de facto. É uma das coisas que
temos preparadas em anunciar é o estacionamento para deficientes no parque da cafetaria, para o
caso… haver sempre um lugar, que não temos. Mas, também, é das tais coisas que estão em
preparação.

Eu quando vinha a subir reparei que havia ali um sinal a informar que os autocarros podem passar
aqui.
Quem vem para o Museu pode vir por aqui. Autocarros, cargas e descargas podem vir por aqui
porque com o túnel… acho que é para provocar deficientes aqui à porta, isto é um perigo, nas
horas de ponta eu não sei como é que não morre gente, é impossível…

Numa avaliação interna qual é que acha que seria ou que é a maior dificuldade do museu a nível
da acessibilidade: infraestruturas, colecção, edifício, acessos, informação…?
Acho que a pior, para já, é a informação. Neste momento, a pior é a informação. Eu acho que vai
haver um salto qualitativo muito grande quando houver o site por que uma das coisas que vamos
ter é possibilidades de (fazer) download das folhas de sala, portanto as pessoas já poderem trazer
a informação, para os professores já virem preparados e isso acho que é um salto qualitativo
muito, muito grande…. Vai estar em português e em inglês, portanto, também já é razoável. Nós
queríamos ver se tínhamos um posto onde as pessoas possam fazer o download no próprio museu
e, portanto, em vez de terem só as folhas de sala lá em cima, poderem imprimi-las na altura e levá-
las, fazer uma espécie de um caderno. Estamos também a tentar preparar isso e a possibilidade
da utilização da informação pelos grupos, pelas famílias, está a aumentar paulatinamente.
Nós começamos a ter, agora, ao fim-de-semana, nas salas, o carrinho de actividades, para que as
famílias possam usar os jogos com os miúdos e assim e isso também vai permitir que as pessoas
tenham outra intrusão… outro intrusamento com a colecção e com o espaço e criem outro à
vontade. Eu acho que a partir do momento que estejam mais à vontade, a acessibilidade passa a
ser mais natural, quer dizer as pessoas estão muito crispadas e tem alguma dificuldade em
encontrar… acho que as coisas estão todas muito ligadas, esta ideia do friendly que há para o
comércio, que há para os meios informáticos, acho que nos museus devia haver essa grande
preocupação.
Eu quando vim para cá tinha uma preocupação muito grande e as pessoas estavam a trabalhar
muito em todos estes sectores mas… eu tenho sempre uma leitura das coisas do ponto de vista
“de fora”, desde sempre, tive essa preocupação, tenho sempre o ponto de vista “se eu fosse um
cachorro malcriado, o que é que eu fazia nesta situação?” Eu acho que é a posição que não
devemos ter quando estamos a trabalhar para o público, “o pior que aqui entrar o que é que faz?”,
e a primeira coisa que me irrita, imenso, é quando chegamos a um sítio e “é proibido fumar”, “é
proibido andar”, “é proibido cantar”, “é proibido…”, apetece fumar, andar, cantar… fazer tudo o que

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Acessibilidade em Museus

é proibido… não é? E a certa altura… “é proibido aproximar das obras de arte a menos de 50 cm”.
Os Srs. Guardas terem uma fita métrica? Depois é preciso medir, não é? Era o que eu faria logo!
Então faz favor, eu estou a 51cm (risos)… cria-se logo ali uma tensão, eu acho que o espaço e o
ambiente não pode criar essas tensões à partida, e com essas tensões as pessoas começam a
descobrir tudo o que está mal, tudo o que as irrita… e tudo as irrita!
Eu acho que o primeiro passo para a acessibilidade é as pessoas estarem predispostas a
encontrar a informação. Nós nunca conseguimos que seja ideal, porque se está muito baixo…?
Eu, por exemplo, acho que é uma das coisas que é má, é esta ideia que nós temos que as
legendas têm de estar baixas… Cada vez mais os miúdos são muito altos, se estamos a arranjar
acessibilidades para uns, estamos a arranjar sarilhos para outros, portanto temos de ter algum
bom senso… e achar que não vamos fazer o melhor… não é o melhor para todos factualmente… é
portanto a primeira coisa é criar… até para pedir, até para perguntar as pessoas têm de estar à
vontade… sentir-se bem, não é?
O museu aqui tem o chão em nogueira e depois tem uma volta, à volta uma zona de pega, de
granito, junto das paredes então é um dos indicadores e dizem, às vezes, aos miúdos, “olha não
passes ali” que é para não chegar muito perto dos quadros. No outro dia ou a rapariga estava mal
disposta ou os miúdos tinham sido mal criados, não sei, não percebi… Sei que veio a professora
fazer queixa que lhe tinha dito, “que não podes pisar a pedra, vês, não podes pisar a pedra!” e o
miúdo ia a passar para a outra sala e entre uma sala e outra o chão é de pedra, “E agora como é
que eu faço? Não posso pisar a pedra!” (risos) lá está! Se fosse eu fazia o mesmo, exactamente,
não tenho a mínima dúvida, fazia exactamente a mesma coisa. Portanto nós temos de evitar, isto
é, criar uma barreira, isto é uma barreira grave de diálogo. Se calhar, mesmo que as legendas
estejam mal, se as pessoas estiverem bem dispostas, se não estiver ali, perguntam e saem daqui
com a informação e bem dispostas, acho que é o que se quer, não é? Portanto, só a informação
por si, não chega, só poder andar por todos os lados não chega! É preciso que isso ajude à
pessoa compreender, estar bem. Os museus têm de ser um sítio onde as pessoas se sintam bem!

Muito obrigada!

Algumas considerações:
+ Considerar que está feito é o pior erro que se pode fazer.
+ Temos tido vários grupos em congressos que ficam tão contente por poder andar no Museu.
Alguns ao final de uns dias conhecem os cantos todos aos Museu, estão à vontade.
+ É um museu público, é património, é de toda a gente e para isso é bom estar sem barreiras
arquitectónicas… mas isso também não é tudo!
+ As rampas foram desenhadas pelo Arqt.º Távora – são umas laminas metálicas – e as pessoas
queixavam-se de se magoar, colocamos madeira no rebordo e agora queixam-se que tropeçam…
É complicado. Uma das barreiras que eu acho que existe muito grande é o preconceito! As
pessoas têm medo.

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Acessibilidade em Museus

Mesmo a nível social, muitas pessoas acham que ao vir o museu têm de fazer comentários
eruditos. A maneira de receber as pessoas de uma forma simpática é meio caminho andado. O
nosso recepcionista é um vencedor de barreiras aqui no Museu, deixa as pessoas bem dispostas.

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Acessibilidade em Museus

Museu dos Transportes e Comunicações

A acessibilidade que se pretende retratar é específica para pessoas com necessidades especiais,
apenas para pessoas com deficiência, exclui seniores e grupos estrangeiros…
As acessibilidades são pensadas para todos…
Exactamente, até se costuma dizer que todas as pessoas podem ter uma necessidade especial
em determinada altura…
Eu tenho. Eu vejo mal. Uso óculos. Num dos encontros uma pessoa confronta-se depois com
estas coisas, “a senhora também tem uma deficiência por isso usa prótese – óculos” afinal são um
instrumento auxiliar como se fosse uma cadeira de rodas. Claro que não é bem a mesma coisa…
Mas depois também conforme idades…
Os turistas nem sempre têm a possibilidade de aceder aos conteúdo porque as traduções não
estão disponíveis. Portanto a acessibilidade tem questões a todos os níveis. Neste caso está mais
concentrado então a pessoas com deficiência. E algum tipo de deficiência?
Não. É geral. Cegos, surdos, paralisia cerebral…
Cegos, amblíopes, deficientes físicos, deficiência mental, paralisia cerebral, que são duas coisas
diferentes, experiências que já tivemos… Porque já tivemos com todos, tivemos mesmo com todos
até mesmo com… Não é bem uma deficiência, ou será que é? Com grupos sobredotados,
hiperactivos e com outros que as vezes não nos apercebemos a não ser naquelas actividades que
têm alguma continuidade, por exemplo ao longo de uma semana vamo-nos apercebemos de
pessoas, principalmente, crianças e jovens que têm algum problema e tentamos aceder a eles…

Sabe, mais ou menos qual é média de visitantes por mês, a nível geral?
Por mês é sempre muito relativo porque como no nosso caso, continua a ser o público escolar, as
entradas sobem e descem conforme o período do ano lectivo. Temos meses que atingimos 4000
visitantes e depois nos meses de verão, há meses em que temos à volta de 1000 / 1500. Agora de
momento não sei.

E públicos com necessidades especiais, dos que falamos, com deficiência, normalmente vêm
sozinhos, vêm com alguma instituição, de associações?
Sozinhos tem sido raro mas tem acontecido. Tivemos há pouco tempo um caso de um invisual que
surgiu mesmo sozinho, mesmo sem família, sem amigos. E hoje mesmo um deficiente físico que
chegou de manhã ao museu numa cadeira de rodas e foi o primeiro visitante da manhã. Mas são,
eu acho, situações muito raras porque os deficientes em Portugal, até pela dificuldade que têm, e
por estarem em instituições, em adquirir autonomia não é comum vê-los sozinhos nestas práticas
culturais, embora a reduzida prática cultural não seja só dos deficientes é da população geral em
Portugal. Portanto, a maioria, deste público específico, que vem aqui ao museu vem integrada em
instituições. Instituições específicas como a APPACDM, a APPC, a ACAPO, e outras que não me
lembro o nome ou não sei se continuam a existir, porque algumas delas desapareceram, porque

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Acessibilidade em Museus

passaram a estar integradas. O Centro António Cândido, para os surdos, creio eu, e os Centros de
Reabilitação Profissional que também têm vindo com alguma frequência.
E dentro da APPACDM e da APPC vários núcleos aqui da área metropolitana e alguns até mais
distantes.

E estava-me a lembrar de uma experiência que também foi muito interessante, aqui há algum
tempo, antes das férias, foi um grupo de deficientes mentais que vieram de Vigo, estavam cá
alguns dias em actividades e fizeram aqui uma visita. Foi uma surpresa, porque eles andavam por
aí em visita ao Museu. E foi muito interessante.

Surgem com menos regularidade alguns integrados nas turmas do ensino regular, normalmente
para além do professor vêm com outros professores ou com técnicos auxiliares… surdos, cegos ou
outras ligeiras deficiências também vêm mas ainda não é com muita frequência porque acho que
só há pouco tempo é que foi decido que alguns seriam integrados em turmas.
Mas a média, não sei precisar, mas não é muito elevada. Também no âmbito geral da população
são uma minoria, o que não quer dizer que não devemos estar atentos a eles. E por vezes,
também, as instituições onde estão vivem com dificuldades… a diversos níveis, material,
económico, transporte, de pessoal e também não saem tantas vezes, não visitam, não frequentam
como desejariam.
Por mês, isto assim muito por alto, talvez tenhamos, em média, por mês, duas visitas.

Também têm de ser grupos mais pequenos que uma visita normal de uma escola.
Os grupos são mais reduzidos e em termos de tempo…
E em termos mesmo de pessoas.
Sim, até porque vêm em carrinhas e portanto limitam o número de pessoas que vêm… o que
depois também facilita a actividade porque é possível ter mais atenção e um acompanhamento dos
que vêm.

Desses que vêm cá, acha que há algum grupo que sobressai mais, por exemplo, cegos, com
deficiência auditiva…?
Acho que, pelo menos em estatística, os que têm vindo com grupos maiores é ao nível da
deficiência mental, a APPACDM, e digamos também os centros de reabilitação profissional que
fazem reintegração e formação profissional de pessoas que tiveram acidentes. São esses que
trazem grupos maiores e com maior regularidade. Os cegos vêm menos, bastante menos. Com
paralisia cerebral, normalmente, quando temos novidades e exposições novas eles são os mais
curiosos, normalmente, são sempre os primeiros a vir e depois durante um certo tempo ficam
ausentes. Surdos, também não são os mais frequentes mas temos tido experiências muito
interessantes e já há alguns anos.
Houve uma experiência que ficou muito marcante aqui no museu, foi uma exposição que fizemos
em 99/2000, foi uma exposição muito interactiva que era sobre as diferentes formas de comunicar

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Acessibilidade em Museus

e tinha diversos exercícios, imagens e estímulos numa área aos sentidos. E tinha o sentido ligado
à audição, tinha diversas experiências, ao tocar ouvia-se instrumentos, algumas aplicações
informáticas também com sons e havia uma grande fotografia, que acho que está na galeria das
imagens do século XX, que era de um miúdo muito espantado, com os olhos muito arregalados
que é a fotografia de uma crianças que ouve pela primeira vez. E está com aquele olhar arregalado
por que é que está a nascer, a ver o mundo pela primeira vez, agora com sons. E nós tivemos uma
visita do Centro António Cândido e vinha uma intérprete de língua gestual que permitiu essa
comunicação e quando ela lhes traduziu o que era aquela imagem muitos deles viraram-se de
costas, não quiseram analisar, interpretar. E como é que esse comportamento nos foi interpretado:
as crianças, jovens e mesmo os adultos, enquanto surdos e enquanto grupo têm algo em comum,
vivem todas a mesma dificuldade e isso une-os. Quando há hipótese de uma intervenção cirúrgica,
por exemplo, um implante e que algum adquire de novo ou pela primeira vez a capacidade
auditiva, digamos que ele perde aquele elemento em comum que tem com o grupo e alguns
recusam isso. Realmente o universo deles é entre eles e vivem partilhando aquele handicap que
têm em comum e pensarem que vão sair fora, que vão ser postos fora daquele grupo porque vão
passar a ouvir é algo que alguns recusam. O mundo cá fora, fora daquele grupo é-lhes estranho. E
foi uma experiência porque nós imaginamos que ouvir para um surdo é algo maravilhoso mas
depois esquecemos toda a envolvente social, como é a vida deles, quem são os seus amigos,
como quem convivem, que ferramentas estão habituados a utilizar e ouvir para eles já não é tão
fantástico quanto nos possa parecer. Foi uma experiência, para nós, faz-nos pensar que realmente
temos sempre de relativizar tudo…

E protocolos com associações ou instituições, têm algum ou tiveram algum?


Formalizado, mesmo, por escrito, julgo que terá sido apenas um programa de estágio em que
tivemos cá uma pessoa da ACAPO, ou melhor eram dois elementos, era ela e o cão-guia e foi
também uma experiência muito interessante, não foi muito tempo, ela fez um trabalho específico
para o qual estava preparada. E tê-la cá durante um tempo, mais ao cão, até para as pessoas da
equipa foi muito pedagógico.

Também venceram barreiras!


No restante, nós sempre tivemos protocolos informais, em termos de administração do museu, ao
longo dos anos, foi assumido que estas instituições, as instituições, usufruem de entrada gratuita,
a APPACDM, a APPC, a ACAPO os Centros de Reabilitação Profissional, há no Porto e em Gaia,
pelos menos estes são os que costumam vir. Portanto, tem sido possível a entrada gratuita no
museu, não é nada que esteja escrito mas é uma pratica corrente.

E nos casos dos visitantes individuais, também têm?


Como tem sido raro, foi uma pergunta que se nos colocou e depois temos sempre de relativizar e
foi entendido que poderiam haver uma descriminação, neste caso positiva, mas pagarão o bilhete,
vamos respeita-los enquanto visitante, digamos entre aspas, normal, geral.

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Acessibilidade em Museus

As actividades do SE têm alguma específica, adaptam actividades que façam com os grupos
escolares?
Ao longo dos anos, integrando nas diversas exposições permanentes e temporárias que temos,
digamos que não preparamos actividades específicas. As actividades que temos e as formas como
as desenvolvemos, a forma como acolhemos e comunicamos, essa sim, é que se adapta aos
diferentes grupos. Nós não vamos dizer que não fazemos a oficina A ou B com eles, vamos sim
adapta-las as suas capacidades, sejam intelectuais, físicas… Por exemplo, no automóvel,
contamos a história do automóvel, obviamente, se for com um grupo de surdos contamos, por
exemplo, com a possibilidade de termos a pessoas que faz a tradução para Língua Gestual
Portuguesa. Se for, por exemplo, e esta visita para além da história e da exploração de imagens e
conteúdo tem uma parte prática que é a oficina do Sr. Teixeira e todos participam, o Sr. Teixeira,
caso esteja, que é o mecânico, uma personagem, ou no caso de não poder estar a técnica do SE
que acompanha a visita, fará as mesmas actividades, claro que com algumas limitações: por o
colete, manusear com mais ou menos dificuldade o macaco… Até porque para alguns pode ser
uma primeira experiência e pode não ser a conclusão da tarefa em si mas o contacto com diversos
materiais, o que é plástico, o que é ferro, os tecidos e isso pode ser muito importante e contactar
com situações que são novas, para eles e para muita mais gente.
Por exemplo, para os cegos, na exposição automóvel quando são em grupos, digamos que
adaptamos um pouco a exposição, contactamos com eles previamente, eles já estão habituados a
isto, eles querem ver à sua maneira e então verificamos se está tudo preparado, derrubamos
algumas barreiras físicas – há uns cabos de aço à volta de alguns automóveis, nós retiramo-los – e
se não houver obstáculos por parte da coordenação e dos proprietários automóveis, já que a maior
parte deles são de coleccionadores, eles então trazem as luvas, tiram anéis e relógios e observam
os automóveis e há muitos que realmente nos fazem espantar porque sabem modelos e marcas,
de que país é e que formas é que tem, também, há pessoas que já viram e há outras que não
tendo visto interessam-se, exploram e hoje em dia com aplicações específicas navegam na
Internet e sabem imensas coisas. Portanto, nós, exposição, adaptamo-nos a esses públicos, o que
acho também muito interessante. Para cegos que venham individualmente ou integrados numa
família, a exposição do automóvel está, neste momento, preparada com um circuito áudio.
Portanto, tem algumas ferramentas, temos um trilho metálico instalado no chão da exposição, não
percorre a 100% todo o circuito mas uma boa parte dele, e depois funciona com sistema de
bengala com auriculares. Inicia o acesso à exposição, onde terá sempre de ter um apoio, um
elemento do museu que explica o seu funcionamento e depois autonomamente coloca a bengala
no trilho e vai tendo dois níveis de informação: informação mais de orientação – parar, avançar,
direita, esquerda… e o outro nível de informação é dos conteúdo. E portanto está ajustado a essas
visitas individuais, embora eu prefira, isto é uma preferência pessoal, acho que é uma experiência
muito mais rica quando vêm em grupo e nós, então com eles, exploramos a exposição desta
maneira. O outro, o sistema áudio, permite alguma autonomia mas não… é um pouco como o

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Acessibilidade em Museus

visitante normal, também não lhe é permitido tocar no automóvel mas além da informação áudio
não poderá ir muito mais além.
Depois em relação à exposição da Comunicação do Conhecimento e da Imaginação, que são
oficinas práticas: rádio, televisão, jornal, ciência, imaginação corporal, elas adaptam-se em
duração, tipo de actividades, conteúdo, aos diferentes grupos.
Já houve um programa de rádio muito interessante com cegos. A oficina de televisão julgo que
também já teve grupos de deficiência mental e paralisia cerebral, eles fazem de tudo:
apresentação, conversa, mesmo em termos de camaramens, dependendo também dos limites e
das competências de cada um e contamos, também, sempre, com o apoio dos técnicos das
instituições, que ajudam.
No jornal também já tive, eu pessoalmente, um grupo de paralisia cerebral que fazia o jornal da
instituição e exploramos a informação, os telefonemas, consultar fax, dentro dos limites…
E o espaço da imaginação corporal adapta-se a todos. Exercícios, jogos de interacção,
interpretação, imitação e, eu pessoalmente, acompanhei com outra colega um grupo de deficiência
mental, não tinha nenhum profundo, tinha um elemento em cadeira de rodas, e todos cantaram,
dançaram, fizemos pequenos sketchs, representaram situações em pequenos grupos para que os
outros adivinhassem que situação era aquela. E foi muito interessante e muito rico e depois os
técnicos, no final, dizem sempre que é muito bom eles estarem com outras pessoas, contactarem
e perceberem que das outras pessoas não há medo, aquele retraimento que as vezes é do olhar…
Há pessoas que têm alguns problemas no contacto físico com estas pessoas. Também, nalguns
casos, digamos, são excessivos mas isso faz parte, quando temos pessoas com deficiência mental
temos de contar com abraços, beijinhos, festas no cabelo mas acho que isso também é uma
aprendizagem que ao longo dos anos se vai tendo. E são das visitas que no final nos deixam mais
satisfeitos, por um lado, pensamos que os ajudamos e eu acho que por outro lado, pelo menos a
mim pessoalmente, faz-me pensar mais na vida e ultrapassar estas pequenas questões e adorar
aqueles abraços. Passa sempre pela experiência pessoal, quando tive grávida faziam-me festinhas
na barriga e são muito mais expressivos e carinhosos que os restantes…
Também é o medo que as pessoas têm de se aproximar e de ser interpretadas…
Sim acham que eles vão ser violentos ou mal intencionados... muitos já são adultos… eu
pessoalmente sinto-me sempre mais enriquecida no final destas sessões…

Textos em Braille, textos ampliados, versão sonora?


Na exposição do automóvel temos o percurso áudio… e quando foi apresentado esse
complemento da exposição, a exposição já existia e houve um projecto apoiado pela RPM que nos
permitiu implementar este sistema que permite esta melhor acessibilidade e é complementado,
também, com postos áudio para turistas que têm tradução noutras línguas além do português e
temos um folheto de apresentação deste sistema em que foi possível comportar traduções em
diferentes línguas e também em Braille, mas é apenas o folheto de apresentação daquele
dispositivo. Os catálogos, os nossos folhetos, digamos, normais, que neste momento temos, não
comportam…

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Acessibilidade em Museus

Peças tácteis, também falou que podem tocar em alguns automóveis…


Ainda no âmbito deste percurso áudio, no hall de entrada da exposição foi colocada uma maqueta
com o percurso que é feito depois no interior da exposição mas como o percurso é algo labiríntico,
já tivemos algumas experiências, as pessoas a tactear a maqueta já se sentem perdidas e depois
guardar esta informação…
E temos 6 miniaturas automóveis em escala 1/12, normalmente elas estão reservadas ao público
em geral com umas caixas em acrílico mas, então, estando presente de uma visita invisual essas
caixas são retiradas para poder manusear, tactear e ter uma ideia de qual é o percurso em termos
de evolução automóvel que está na exposição, em termos de épocas, começa com um Ford T e
acaba com veículo dos anos 50/60. Dentro desse percurso áudio não será possível, dentro da
exposição, tocar nos restantes, é possível nas visitas de grupo em que fazemos uma visita mais
exploratória, mais interactiva…

E software e a hardware, têm postos multimédia que lhes permitam trabalhar com o computador?
Ainda bem que vai fazendo estas perguntas! (risos) Porque o percurso áudio realmente integrou…
temos o percurso no chão com as bengalas e com os auriculares, na entrada da exposição temos
então a maqueta e as 6 miniaturas automóveis e no final deste percurso foram instalados dois
computadores com um inquérito em português e em diferentes línguas do percurso áudio para
turistas, um desses computadores tem um sistemas de leitura de ecrã. Não sei como se chama…
tem o nome de uma mulher… não é o leitor de ecrã normal, aquele que tem a voz brasileira, esse
é o JAWS e este é outro, permite uma melhor audição em português e permitirá também ao
invisual no final preencher o inquérito.

E o site do museu é acessível? Está dentro das normas?


Quanto a isso não posso dizer nem sim nem não porque a colega que está mais bem informada
para lhe responder não está mas penso que não terá nenhuma especificidade…. Poderá consultar
o site… Em termos de layout foi elaborado já há alguns anos por uma empresa externa, nós neste
momento temos é a capacidade de ir integrando alguns conteúdo à medida que vão surgindo
coisas novas mas acho que não tem nenhum dispositivo específico. A não ser que as pessoas que
o consultam tenham os seus próprios…
Acessibilidade física: elevadores, rampas, WC’s adaptados, estacionamento para deficientes…?
O MTC ao estar integrado neste grande edifício da alfandega e tendo a circunstância de estar em
áreas físicas diferentes, mesmo para os visitantes em geral, coloca sempre alguns problemas de
orientação, mesmo com a sinalética que tem. Porque primeiro o visitante poderá ver uma das
exposições permanentes que é ou na parte central ou na parte nascente que não tem uma ligação
directa entre elas e isso obriga sempre a subir e a descer lanços de escadas mas em ambos os
espaços há elevadores, um geral, normal, outro é apenas usado com pessoas em casos
específicos, como deficientes, cadeirinhas de bebe, idosos com problemas de mobilidade ou
pessoas com algum problema momentâneo e são acompanhados por uma pessoas do museu.

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Acessibilidade em Museus

Dentro das exposições não há grandes desníveis, na exposição automóvel tem rampas, na
exposição CCI tem oficinas que são como ilhas que estão num plano mais elevado do que o chão,
tem rampas de acesso embora a inclinação não seja a mais indicada mesmo para uma pessoa
normal e falta-lhes corrimões, os idosos ou as pessoas que por vezes vêm com sapatos altos com
solas não muito indicadas… já tivemos algumas derrapagens! (risos) Mas sem nenhum incidente
de maior!
Tivemos uma instalação na entrada da exposição da comunicação, nós chamamos-lhe o corredor
do século XX, a entrada e a saída, também, é por rampa, lá dentro, já fizemos com cadeira de
rodas das grandes e consegue-se…
As casas-de-banho também estão preparadas nos diferentes níveis em que existem estes
equipamentos, tem uma específica para deficientes. Dentro das normas muito gerais acho que
estamos preparados, depois há sempre um ou outro aspecto que deveriam ser melhorados…
E estacionamento para deficientes?
Temos um parque mesmo aqui numa das laterais do edifício que dentro do horário de abertura
permite o acesso, não tem sinalética no chão, não tem lá o sinal nem aquelas divisórias, é um
terreno que corresponde à antiga estação ferroviária, tem lá uma ou outra estrutura, está
alcatroado, eu como não costumo estacionar lá não sei se tem os risquinhos, a indicação de lugar
mas desde que tenha capacidade…

A sinalética está visível e bem legível, identificada… dentro do museu?


Dentro do museu, poderia estar sempre melhor… Nós fazemos um esforço, temos alguns
dispositivos, alguns fixos que foram colocados no ano 2000 quando foi a apresentação pública do
museu e que houve também a apresentação de um percurso no interior do edifício baseado nuns
painéis com fotografias e textos e foi colocada alguma sinalética… em termos de dimensão,
visibilidade, coloca alguns problemas porque foi colocada a um nível superior ao nosso campo de
visão e as pessoas procuram dentro do campo de visão e só levantando a cabeça é que vêem, há
as questões de design, de não interferir com a linguagem do edifício mas depois não são visíveis…
Temos alguns dispositivos que nós chamamos “as bicicletas” que são uns elementos de vidro com
uma roda no qual colocamos cartazes, que podemos por ou tirar, noutros elementos a informação
é fixa com setas de informação mas como estes elementos são transportáveis, por vezes eles
transportam-se cá dentro e saem dos locais, também porque o edifício tem um Centro de
Congressos, tendo em conta que há conferências e feiras, por vezes esses elementos são
retirados e depois se não estão no local a tempo e horas, a sua não presença… Mas vamos tendo
o cuidado de ter nem que seja um cartaz feito aqui, uma folha…
As características físicas do edifício, o facto de ser um pouco labiríntico e o facto de ter exposições
em duas aéreas não é fácil para os visitantes, mesmo cá dentro, às vezes nas visitas, na
brincadeira “então de que lado é que está o rio?” E as pessoas já não sabem! Portanto há alguma
desorientação. E, por exemplo, o facto de junto às duas exposições permanentes mais antigas que
é o Automóvel no Espaço e no Tempo e Comunicação, Conhecimento e Imaginação, como o

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Acessibilidade em Museus

arquitecto decidiu manter a estrutura original dos espaços, lá não há casas de banho, as pessoas
têm de, novamente, descer ao piso térreo e depois aceder de novo ás exposições e, por vezes,
perdem-se. Mas julgamos que com alguma atenção e com mais algum investimento no futuro vai
melhorando … Por exemplo, há pouco tempo foi colocada uma nova sinalética em termos de
design e figuras que indicam as casas de banho de feminino e masculino e depois, também, há a
questão da interpretação que nem sempre é fácil às pessoas, “não percebi bem se ali era um
vestido e era para as senhoras”… São sempre questões em aberto e o importante é estarmos
atentos e querermos mudar.

Se tivesse de fazer uma avaliação interna qual consideraria a maior dificuldade?


É uma pergunta… quem sou eu, não é?! (risos) acho que em termos de acessibilidade física não
apresenta problemas de maior, quanto aos conteúdo, eu acho que o maior problema não estará
com este público específico, como ele vem maioritariamente em grupo há sempre
acompanhamento, actividades e há sempre alguém disponível para colaborar, para mim, neste
momento, o problema seria mais a nível de outros públicos como os turistas e de algum material
que poderíamos ter em línguas estrangeiras que neste momento está a terminar e estamos a
preparar outros mas ainda não estão prontos e, portanto, eles dizem sempre “é pena, se tivesse
em francês..” mas também não podemos ter nas línguas todas…
Mas em termos deste público específico, é claro que poderíamos ter mais e investir em
dispositivos, na parte de informática ter mais actividades, mais coisas, com hardware mas também
temos de ter em conta as dificuldades actuais, as situações e, também, o facto de não serem,
infelizmente, um grande número de visitantes… acho que mais importante, neste momento, nas
exposições, é o elemento humano, a sua abertura, a sua receptividade para com este público e a
ponte que faz com eles, disponibilidade, atenção, paciência, o seu esforço em tentar, não é
traduzir por miúdos, mas de contar a mesma história, fazer as mesmas coisas de maneira diferente
de forma a integra-los mas também não infantilizar, são pessoas que têm a idade que têm, com as
experiências que têm e devem ser respeitadas por isso e não fazer uma coisa mais infantil porque
são deficientes mentais e tem uma idade mental mais nova que a idade cronológica… acho que
devem ser tratados com a mesma atenção, com o mesmo respeito que temos com todos… A
descriminação positiva também é boa mas acho que acima de tudo trata-los como pessoas e o
mais normal possível, porque acho que se não entramos num percurso do “ai coitadinho, que
coitadinhos que eles são”, acho que isso não é respeitar. Por muitos dispositivos que tenhamos,
tecnológicos, para todos, até mesmo mecanismos facilitadores como o percurso áudio, acho que o
elemento humano quer para eles quer para todos continua a ser importante, hoje em dia aposta-se
muito em museus virtuais, que já existem, mas também em experiências interactivas da pessoas
com a máquina e não sei até que ponto essa experiências do visitante, qualquer que ele seja, com
a máquina se concretiza porque as pessoas nem sempre compreendem, nem sempre sabem se
podem mexer, se vão estragar ou não vão estragar… Essa experiência de visita será tão mais ou
menos rica do que aquelas que tem uma pessoa, um elemento que contextualiza, que explica, que
ri com, que compreende, que escuta e que há um diálogo, uma partilha. Acho que esse elemento

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194
Acessibilidade em Museus

continua ser fundamental para todos e em especial para estes públicos específicos que nos
visitam…. Pelo menos que eu me recorde desde há 13 anos que cá estou e que como eu disse é
uma experiência muito, muito satisfatória, com todos eles…

Muito obrigada!

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195
Acessibilidade em Museus

Casa do Infante – Arquivo Histórico Municipal do Porto

Em média, por mês, quantos visitantes recebem?


Mais ou menos, em grupos de Serviço Educativo, vamos dizer, em média um grupo por mês, este
ano tem sido um pouco menos pois no ano passado tivemos uma iniciativa bastante forte em
captar novos públicos com NE, nomeadamente, também, fomos a centros, visitamos a ACAPO e
outros centros de dia com pessoas com deficiências motoras e isso traduziu-se num maior número
de grupos por mês. Não fazendo este ano, dedicando-nos a outros tipos de grupos, veio então a
diminuir os grupos de visitantes por mês em 2008. Mas em 2007 foi bastante mais forte.

Têm dados estatísticos de quantos visitantes com NE vêm por mês?


Temos, neste momento não sei de cor mas é uma questão de consultar.

Dos que vêm cá com NE há algum grupo prioritário, por exemplo, cegos, com paralisia cerebral,
surdos ou é um bocadinho de cada sem que haja um grupo que sobressaia?
Nós tivemos em 2007 uma grande adesão dos grupos dos centros de paralisia cerebral e também
da ACAPO.

Por que como estava a dizer, têm um protocolo?


Exactamente, um protocolo não oficial. Nós fizemos visitas às instituições, contactos prévios
telefonicamente e depois confirmados por e-mail. E depois, realmente, as associações
corresponderam mas chegamos à conclusão que teremos que visar estes contactos que têm de
ser trabalhados.

E de paralisia cerebral foi de alguma associação, instituição ou centros de reabilitação?


Foram centros de reabilitação, das Antas por exemplo, a Associação de Paralisia Cerebral e
contactamos ainda, a partir de mais ou menos do segundo semestre de 2007, para virem cá e aí
foram os centros de dia, que tinham, por exemplo, nos próprios grupos, não só grupos de
deficientes motores mas um ou dois elementos que tinham dificuldades em andar mas que vieram
cá nesse grupo!

E as actividades do SE quando é para públicos com NE têm alguma actividade específica ou


acabam por adaptar as actividades?
Nós começámos por conceber uma oficina adaptada específica, pensávamos nós, para estes
grupos mas aprendemos com a experiência que as actividades que nós temos poderão muito mais
facilmente ser adaptadas com a ajuda dos técnicos especializados do que pensarmos nós nesses
termos pois nós não temos formação específica para trabalhar com esses grupos e fomos vindo a
aprender que mesmo na paralisia cerebral, num grupo com oito utentes, temos pessoas com
diferentes dificuldades e por isso os técnicos melhor do que ninguém podem-nos dar indicações e

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Acessibilidade em Museus

dizer “esta pessoa trabalha melhor desta maneira, uma outra da outra”, e assim a própria
actividade será então personalizada.

Dispõem de textos em Braille, textos ampliados, versão sonora, já vimos que têm na maqueta,
peças tácteis também têm?
Também, exactamente. Para além da maqueta, como já disse, com versão sonora, objectos
tácteis, também, os azulejos, já agora gostava de acentuar que não foram feitos ou integrados aqui
no museu especificamente para esses públicos mas chegamos á conclusão que todos nós temos
necessidades especiais.
O projecto em Braille, no ano passado foi feito um contacto e foram traduzidos textos que nós
temos para Braille só que anda não estão divulgados, ou seja ainda não foram publicados e
disponibilizados ao público, tivemos também um projecto transdiciplinar em que uma criança
apareceu aqui com dificuldades em ler, não era cega, mas tinha dificuldades em ler e a própria
professora traduziu esses textos para Braille e, também, tivemos uma criança que não sabíamos
de antemão, ou melhor, peço desculpa, numa turma tivemos três crianças surdas e que trouxeram
também tradutores para fizeram esse trabalho, em Língua Gestual.

Têm hardware e software específico?


Não temos.

Os funcionários estão sensibilizados para trabalhar com público com NE, até porque como falou
tiveram aquela formação da ACAPO?
Sim, todos os que trabalham no atendimento ao publico tiveram essa formação e portanto foi-nos
também fornecido pela ACAPO um documento muito importante, imagens e ainda uma… falta-me
a palavra, uma formação de tudo o que nos tinha sido dado nessa curso de formação, uma
reciclagem, digamos assim, e portanto fomos sensibilizados, sim senhora, para esses públicos.

E acessibilidade física, também, já deu para ver que têm elevadores, têm rampas, quando têm
degraus também têm corrimão, têm casas de banho adaptadas, estacionamento é que não há?
Nós estamos na zona histórica e por isso mesmo não temos estacionamento em frente à casa ou
específico para a Casa do Infante para ninguém, e, infelizmente, também, não temos, o que seria
de esperar de um espaço municipal, pelo menos aqui em frente, um ou dois lugares para
deficientes, esperemos que estejam previsto, é questão de sensibilizar um pouco os políticos para
isso, que algum político queira visitar a casa do infante e que tenha deficiência motora e, nessa
altura, acho que terá, sem qualquer problema, um desses lugares reservados. (risos)

Na sinalética, acha que tem algum problema? Está bem identificada, está legível?
Não, não está legível e foi um dos pontos fracos que a ACAPO acentuou. Realmente a sinalética
tem de ser melhorada e aí é que temos mesmo que ter bastante cuidado porque o que é uma
sinalética para alguém que veja não deverá ser igual para alguém que não consiga ver e, portanto,

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Acessibilidade em Museus

haveria a possibilidade de fazer, por exemplo, marcas nos degraus e aí realmente já transcende
um pouco o nosso conhecimento técnico para esse fim.

Se tivesse de fazer uma avaliação interna o que assinalaria como maior dificuldade na
acessibilidade do museu? A infraestutura, a colecção, a localização do edifício, os acessos, a
informação, a colecção ou qualquer outro?
Eu começaria pela sinalética em termos geral e, em especial, agora para ser acessível para os
públicos, e depois pela rampa, que é uma rampa provisória, na entrada que deveria ser reforçada
e revista, ela treme um pouco e não sei se oferece segurança para as pessoas que venham com
cadeiras de rodas, quem vem com cadeiras de rodas normalmente vem acompanhada mas de
qualquer maneira…depois o que vejo como ponto fraco é o acesso à sala de leitura, uma vez que
só é possível por escadas e realmente acho que poderíamos melhorar os postos informáticos que
temos disponíveis, no sentido de acrescentar também a versão sonora.

Muito obrigada!

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Acessibilidade em Museus

Museu Romântico da Quinta da Macieirinha

Quanto a protocolos com instituições / associações de acolhimento de pessoas com deficiência,


tem algum, seja a nível informal ou formal?
Sim, temos a nível informal, no sentido de eles nos procurarem para marcação de programas,
visitas e nós os acolhermos. Nem sempre se pode dispor / disponibilizar um programa a 100%,
temos de adaptá-los. Não são feitos, efectivamente, com o propósito de se destinar aqueles
públicos mas conseguimos sempre uma adaptação.

Normalmente, dos que vêm, centram-se mais em cegos, surdos, paralisia… há algum grupo que
sobressaia?
Não, portanto não é um grupo forte aqui no museu, é esporádico. São eles que nos contactam,
não temos feito nenhum esforço até agora, não temos tido essa disponibilidade de tempo, também,
para o fazermos, de nós irmos ao encontro deles, portanto o que eu posso falar desde Fevereiro
que aqui estou, tem sido mais da área da deficiência mental, mas ao longo dos tempos têm vindo
cá da área dos invisuais, da surdez… digamos que são deficiências que são mais fáceis de
ultrapassar no sentido de espaços do museu, enquanto outras áreas, como da paralisia, a
deslocação ao museu é complicada…

Os autocarros têm de ficar longe… e eles têm de descer e depôs de subir…


Exactamente, se vierem de transporte próprio têm a facilidade de aparcar aqui mas depois têm
uma série de constrangimentos dentro do próprio museu, mas vai-se adaptando… e vai-se
fazendo. Mas não há um grupo maioritário.

O museu está equipado? Elevadores? Rampas? Wc?


Não, não. Temos uma rampa de acesso ao museu em pedra faz parte da própria estrutura do
edifício, a entrada ao museu é possível mas depois temos um grande senão que é a deslocação
ou a movimentação entre o andar inferior e superior… não temos qualquer elevador, existe já o
pedido, o projecto mas até hoje… há uma série de condicionantes. Aguardamos …

Quando vem alguém numa cadeira de roda? Fazem a visita só no andar de baixo?
Adapta-se. No último programa que fizeram cá foi nos jardins, no exterior, mas levantou-se lá fora
(um problema) nas actividades que precisavam de ir a nível superior… Não é problema pois já
estamos habituados a carregar com as cadeiras, por isso não é para nós impedimento, mas não
possuímos nada. Nada, rampa só da entrada, não possuímos corrimões, não possuímos
elevador…

Estacionamento para deficientes?


Estacionamento, digamos que há um geral… Isso não é de todo problema, nós conseguimos ter
espaços para eles estacionarem. Limitamos é o acesso aos carros, antigamente estacionava-se

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199
Acessibilidade em Museus

em todo o terreiro e agora limitamos com uma divisória, amovível, portanto se necessário retiramos
e eles conseguem chegar até nós… wc também não temos adaptado e também não temos
sinalética.

Numa avaliação interna, qual a maior dificuldade para o acolhimento de públicos com deficiência?
Infra-estruturas, colecção, localização do edifício, acessos, informação…?
Eu colocaria a dois níveis. O primeiro, o estrututal, claro, sem isto não pode fazer nada. E depois,
os recursos para podermos debruçar-nos sobre as colecções e na sua comunicação efectiva a
esses públicos e programações que sejam interessantes, de que qualquer grupo goste,
interessantes, cativantes.
Mas a primeira, digamos, não ultrapassando esse nível também não nos possibilita desenvolver,
como eu digo, os recursos são muito poucos em termos de actividades…
A dificuldade colocaria a nível das infra-estruturas, porque a localização do edifício não creio que
seja assim tão complicado, claro que temos o autocarro lá em cima mas o acesso é bastante fácil,
não é numa zona histórica onde há daquelas “ruelinhas” e com grande dificuldade de passagem.

Uma visita exactamente para pessoas com necessidades especiais… não temos… é adaptado…
Não temos elevador.

Nível físico ou de conteúdo, o que consideraria para já mais importante?


Ter uma cadeira de rodas para alguém que precise. Em que pudesse passear.

Média de públicos/mês?
Janeiro / Fevereiro / Março, a partir de Novembro até Junho, o museu tem muitas visitas, depois
disso há menos. Temos muitos grupos escolares, no currículo do 6º, 10º,11º e 12º faz parte, temos
muito público, sempre. Eles têm isso nos currículos escolares deles…. É uma mais valia.

E grupos com necessidades especiais? Em grupo ou individuais?


Temos grupos muito diversificados. Desde a cadeia de Custóias, os presos/reclusos, até à terceira
idade.
A APPC ainda no outro dia estiveram aqui, que nos vieram cá visitar… ao grupo escolar, temos um
grupo muito vasto.

Principais incapacidades de conteúdo? Qual é o público que normalmente vem mais ao museu?
Os surdos e os cegos vêm integrados. Agora já não há só escolas de cegos ou de surdos, estão
integrados., vem com as turmas. Têm vindo sempre com professores e correm muito bem, as
visitas. Da APPC e lares da 3ª idade são os que vêm mais.

Têm protocolos com instituições?


Não, quem quiser pode vir.

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200
Acessibilidade em Museus

E têm actividades especialmente preparadas ou são adaptadas?


Adaptadas, conforme o grupo. O último que tivemos cá nos jardins escreveram até uma carta a
agradecer imenso, correu lindamente. Os monitores vão coordenando e vão fazer aquilo que eles
acham que podem fazer, não ficam limitados, aquelas horas, dentro do museu. Estiveram cá até
ao meio-dia e correu muito bem. E marcaram na outra semana… As coisas têm sido adaptadas…

O museu tem textos em Braille ou textos ampliados?


Não.

Muito obrigada!

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201
Acessibilidade em Museus

Anexo III

Glossário

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Acessibilidade em Museus

Glossário

Acessibilidade
"Acessibilidade é uma característica do ambiente ou de um objecto que permite a qualquer pessoa
estabelecer um relacionamento com esse ambiente ou objecto, e utilizá-los de uma forma
amigável, cuidada e segura"49
“Acessibilidade significa não apenas permitir que pessoas com deficiências participem de
actividades que incluem o uso de produtos, serviços e informação, mas a inclusão e extensão do
uso destes por todas as parcelas presentes em uma determinada população, com restrições as
mínimas possíveis.”50
Conjunto das condições de acesso a serviços, equipamentos ou edifícios destinadas a pessoas
com mobilidade reduzida ou com necessidades especiais
Acessibilidade Web refere-se a prática de fazer websites que possam ser utilizados por todas os
usuários. As necessidades que a "Acessibilidade Web" pretende abordar incluem:
- Visual: Deficiências Visuais, incluindo cegueira, vários tipos comuns de baixa visão e baixa
acuidade visual, vários tipos de daltonismo;
- Motora / Mobilidade: Dificuldade ou impossibilidade de utilizar as mãos, incluindo tremores,
lentidão muscular, perda ou baixo controle muscular, etc.
- Auditivos: Surdez ou deficiência auditiva, incluindo indivíduos com pouca audição;
- Convulsões: Fotoepilepticos
- Cognitiva / Intelectual: Deficiência desenvolvimento, dificuldades de aprendizagem e deficiências
cognitivas de várias origens.

Ajudas Técnicas
Ajudas técnicas são dispositivos que se destinam a compensar a deficiência ou a atenuar as suas
consequências, bem como a permitir o exercício das actividades quotidianas e a participação na
vida escolar, profissional e social.

Ampliador de ecrã
Programa de computador que amplia uma porção de ecrã. São utilizados sobretudo por pessoas
com baixa visão.

Braille
É um sistema de leitura com o tacto para cegos inventado pelo francês Louis Braille.

49
Conceito Europeu de Acessibilidade – Relatório do Grupo de Peritos criado pela Comissão Europeia - 2003
50
http://www.easylogics.com/artigos/acessibilidade/tudo-sobre-acessibilidade

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Acessibilidade em Museus

Deficiência
Uma pessoa com deficiência é uma pessoa de corpo inteiro, colocada em situação de
desvantagem, ocasionada por barreiras físicas/ambientais, económicas e sociais que a pessoa,
por causa das suas especificidades, não pode transpor com as mesmas prerrogativas que os
outros cidadãos. Estas barreiras são muitas vezes reforçadas por atitudes marginalizadoras da
sociedade. Compete à sociedade suprimir/reduzir ou compensar estas barreiras a fim de garantir a
cada pessoa beneficiar de uma cidadania de pleno exercício, isto é, no respeito dos direitos e
deveres de cada um"51.
Este conceito foi definido pela Organização Mundial de Saúde através da sua subdivisão:
- Deficiência – Qualquer tipo de dano ou anormalidade na estrutura física, psíquica e anatómica
dos indivíduos.
- Incapacidade – Qualquer tipo de dano total ou parcial de uma capacidade funcional dos
indivíduos.
- Handicap – Qualquer tipo de desvantagem que advém de uma interacção deficiente entre o
individuo e o seu meio-envolvimento.

Descriminação
É o acto ou efeito de separar, ou seja, a capacidade de estabelecer diferenças que podem levar a
tratamentos desiguais. Discriminar significa "fazer uma distinção".

Design Universal ou Design Total


Significa "design que inclui" (o contrário de excluir) e "design para todos", ou seja, livre de barreiras
para dar acessibilidade a pessoas com deficiência que se rege pelos seguintes princípios:
- Uso equitativo
- Flexibilidade de uso
- Simples e intuitivo
- Informação perceptível
- Tolerância ao erro
- Baixo esforço físico
- Tamanho e espaço para uso e finalidade

Educação Inclusiva
Educação inclusiva é um sistema de educação e de ensino onde os alunos com necessidades
especiais, incluindo os alunos com deficiência, são educados na escola do bairro, em ambientes
se salas de aula regulares, adequados à sua idade (cronológica), com colegas sem deficiência e

51
Definição da Associação Portuguesa de Deficientes de Nem Martins

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Acessibilidade em Museus

onde lhes são oferecidos ensino e apoio de acordo com as suas capacidades e necessidades
individuais.52

Ergonomia
É uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interacções entre seres humanos e
outros elementos de um sistema, e também é a profissão que aplica teoria, princípios, dados e
métodos para projectar a fim de optimizar o bem-estar humano e o desempenho geral de um
sistema53. Os ergonomistas contribuem para o projecto e avaliação de tarefas, trabalhos, produtos,
ambientes e sistemas, a fim de torná-los compatíveis com as necessidades, habilidades e
limitações das pessoas. (IEA, 2000).

Empowerment
È o processo através do qual os indivíduos adquirem as capacidades e os conhecimentos sobre si
mesmos e sobre o ambiente que os rodeia, permitindo-lhes aumentar a autoconfiança e a
capacidade de exercer controlo sobre o meio social, de modo a produzir as mudanças que eles
próprios desejam.54

Exclusão
O termo exclusão, implica que um indivíduo, ou grupo de indivíduos seja excluído de algo, deste
modo, exclusão social indica alguém que é excluído da sociedade.

Exclusão social
O termo «exclusão social» teve origem em França e, no modo francês de classificação social,
neste caso, especificamente relacionado com pessoas ou grupos desfavorecidos. O sociólogo
francês Robert Castel (1990), definiu a exclusão social como o ponto máximo atingível no decurso
da marginalização, sendo este, um processo no qual o indivíduo se vai progressivamente
afastando da sociedade através de rupturas consecutivas com a mesma.
Afastamento ou tratamento injusto de pessoa(s) por se considerar que não se enquadra(m) nos
padrões convencionais da sociedade, marginalização;
Existem diversos tipos de exclusões sociais, Alfredo Bruto da Costa (1998), referiu que as
exclusões sociais, deveriam ser definidas consoante as causas que apresentavam e os efeitos que
exigiam. Nesta perspectiva, o autor categorizou a exclusões sociais de cinco modos: a exclusão de
ordem económica, social, cultural, patológica, e comportamentos auto-destrutivos.

52
Gordon Porter, citado no Parecer n.º 3/99 do Conselho Nacional de Educação – Crianças e alunos com
necessidades educativas especiais. Diário da Republica, II Série, 17/02/99
53
Definição da Associação Internacional de Ergonomia (International Ergonomics Association - IEA em 2000.
54
Family Matters Project. Cornell University, 1974

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Acessibilidade em Museus

Inclusão social é uma acção que combate a exclusão social geralmente ligada a pessoas de classe
social, nível educacional, portadoras de deficiência física, idosas ou minorias raciais entre outras
que não têm acesso a várias oportunidades.

Igualdade de Oportunidades
È o processo pelo qual diversos sistemas da sociedade e o meio envolvente, tais como serviços,
actividades, informação e documentação, se tornam acessíveis a todos e em especial às pessoas
com deficiência.55

Leitor de ecrã
Programa de computador que lê o conteúdo do ecrã em voz alta. São utilizados sobretudos por
cegos. Normalmente apenas lêem o texto impresso (não desenhado) que aparece no ecrã.

Museu56
É uma instituição de carácter permanente, com ou sem personalidade jurídica, sem fins lucrativos,
dotada de uma estrutura organizacional que lhe permite:
c) Garantir um destino unitário a um conjunto de bens culturais e valoriza-los através da
investigação, incorporação, conservação, interpretação, exposição e divulgação, com
objectivos científicos, educativos e lúdicos;
d) Facultar acesso regular ao público e fomentar a democratização da cultura, a promoção da
pessoa e o desenvolvimento da sociedade.
Consideram-se museus as instituições, com diferentes designações, que apresentem as
características e cumpram as funções museológicas previstas na presente lei para o museu, ainda
que o respectivo acervo integre espécies vivas, tanto botânicas como zoológicas, testemunhos
resultantes da materialização de ideias, representações de realidades existentes ou virtuais, assim
como bens de património cultural imóvel, ambiental e paisagístico.

Necessidades Educativas Especiais


O termo “necessidades educativas especiais”, refere-se ao desfasamento entre o nível do
comportamento ou de realização da criança e o que dele se espera em função da sua idade
cronológica.57 A expressão “necessidades educativas especiais” reporta, assim, a todas as
crianças e jovens cujas necessidades se relacionam com deficiências ou dificuldades escolares.
Muitas crianças apresentam dificuldades escolares e, consequentemente, têm necessidades
educativas especiais em algum momento da sua escolaridade.58

55
Normas Sobre Igualdade de Oportunidades para Pessoas com Deficiência. A/RES/48/96, Março de 1994
56
Segundo o artigo 3º do Capitulo I da Lei n.º 47/2004
57
Declaração de Salamanca – Conferência Mundial da Unesco sobre Necessidades Educativas Especiais:
Acesso e Qualidade. Salamanca, Junho de 1994. Edição do Instituto de Inovação Educacional, Lisboa.
58
Jane Nelson e Simon Zadeck, “Partnership Alchemy – New Social Partnerships in Europe”. The
Copenhagen Center, 2000

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Acessibilidade em Museus

Parcerias
Entende-se por parceria um conjunto de pessoas e organizações dos sectores público e privado,
que se envolvem em relações de carácter voluntário, inovador e com benefícios mútuos, para
atingir objectivos comuns, articulando os seus recursos e competências.59

Tempos Livres
O conceito de tempos Livres não se refere apenas ao tempo não dispendido no trabalho. Na nossa
sociedade moderna é o tempo dedicado ao prazer, aos interesses, à socialização, ao compromisso
político, às actividades sociais, às viagens, ao desporto. É o tempo dedicado aos amigos e à
família, ao cinema e ao teatro, à comida e à bebida, aos museus ou aos monumentos…É o tempo
consagrado às realizações pessoais e à busca do bem-estar e da felicidade. Para as pessoas com
deficiência, é também o tempo para avaliarem a igualdade de oportunidades existentes ao nível da
socialização.

Turismo
Turismo é a oportunidade de viajar e de descobrir. Actualmente o Turismo é a possibilidade de
uma pessoa sair de casa durante um longo ou curto período de tempo, ao longo do ano, e de
usufruir do tempo de forma positiva. O Turismo, uma actividade especial dos Tempos Livres, tem
diferentes significados: viajar ou permanecer na zona de residência habitual, ir até à montanha ou
até ao mar, relaxar ou praticar algumas actividades, procurar o sossego ou a confusão. Para as
pessoas com deficiência é também o tempo para avaliarem a igualdade de oportunidades
existente ao nível da socialização.

Usabilidade
Usabilidade é um termo usado para definir a facilidade com que as pessoas podem empregar uma
ferramenta ou objecto a fim de realizar uma tarefa específica e importante.

59
Wedel (citado por J. Bairrão, citado no Parecer n.º 3/99 do Conselho Nacional de Educação – Crianças e
alunos com necessidades educativas especiais. Diário da Republica, II Série, 17/02/99

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Acessibilidade em Museus

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