1. Introdução
É muito vantajoso que o mesmo símbolo ou o mesmo termo tenham igual significado
para todos os utilizadores. A terminologia e a simbologia das grandezas e unidades físicas
devem ser uniformes, para melhor entendimento entre todas as pessoas. Se assim não
acontecer surgirá a confusão: quem lê (ou ouve) interpreta de modo diferente o que outros
escreveram (ou disseram), ou pode nem sequer entender nada. Por isso as convenções
devem ser coerentes, uniformes, aceites por todos. E para assegurar tal desiderato, criaram-
se normas. A maioria das pessoas concorda com as vantagens desta normalização, mas são
poucas as que a aplicam no seu dia-a-dia.
Um produto pode ser excelente e ter passado vitoriosamente todos os testes de
qualidade necessários à sua aceitação pelo mercado. Porém, esse produto vai ser
comercializado numa embalagem, onde as suas características vão ser indicadas; vai ser
objecto de apreciação por revistas especializadas; se for um produto de alguma
complexidade, impõe-se um folheto com as suas características técnicas, ou até um manual
de instruções. Por exemplo, se o fabricante de um cabo eléctrico escrever "100 mts." (para
indicar que a peça tem 100 metros de comprimento), ou se um fabricante de bolachas
apuser na embalagem "250 grs." (em vez de 250 g), a imagem que se fará desse produto,
sobretudo se for exportado, pode suscitar dúvidas e interrogações. O mesmo se pode dizer
do mau uso de incorrecções como "cc" em vez de cm3, 30 Amp em vez de 30 A, 30 graus
centígrados em vez de 30 graus Celsius, etc.. E os estudantes devem ter igualmente estes
cuidados.
Critica-se fortemente quem escreva "peiche" em vez de "peixe", comnsiderando (e
bem) tal erro imperdoável. No entanto, há quem pense que incorrecções como as do
parágrafo anterior não têm qualquer importância, mas engana-se: a utilização dos símbolos
e da terminologia também tem a sua "gramática", que deve ser usada correctamente.
É importante que, além da qualidade funcional, entendida como adequação ao uso, os
produtos tenham as suas características técnicas expressas de acordo com a terminologia e
simbologia correctas. Além disso, por força do Decreto-Lei nº 427/83 de 7 de Dezembro, as
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unidades a utilizar deverão ser as do Sistema Internacional de Unidades, abreviadamente
representado por SI. Mais recentemente, o Decreto-Lei n.º 238/94, de 19 de Setembro
corrigiu e condensou num único diploma as disposições referentes a esta matéria.
Além da imposição legal, as vantagens que decorrem do uso de uma simbologia
correcta e internacionalmente aceite são óbvias. Richard Feynman (1918-1988), prémio
Nobel da Física de 1965, deu por essas vantagens ainda muito jovem: "percebi então que,
se quero falar com as outras pessoas, tenho de usar os símbolos normais, pelo que acabei
por desistir dos meus símbolos" (Feynman e Leighton, Retrato de um físico enquanto
homem, Gradiva Publicações, 1988, pág. 30). Por outro lado, o uso de unidades legais evita
os transtornos e os erros que resultam da conversão de unidades do e para o Sistema
Internacional de Unidades (SI).
Existem algumas excepções, nas quais é permitido utilizar unidades que não são do SI:
o milímetro de mercúrio (para a pressão arterial) e o pé (na aviação). No entanto estes casos
são raros e não constituem o objecto do presente artigo.
Também não tem justificação o "purismo" que leva algumas pessoas a dizer "10
quilograma", ou "24 metro". Diga-se correctamente "10 quilogramas", ou "24 metros", mas
nunca se escreva "10 kgs" nem "24 ms". Em caso de dúvida, vejam-se as actas da
Conferência Geral de Pesos e Medidas, na brochura editada pelo próprio BIPM (Bureau
International des Poids et Mesures), adiante referida. É claro que a formação do plural é
outra questão: os franceses, por exemplo, normalizaram que as unidades com nomes
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terminados em s (siemens), x (lux) ou l (pascal) têm forma plural idêntica à do singular, tal
como em Portugal, fazemos com a palavra lápis.
Podiam citar-se mais exemplos, mas estes já constituem uma boa amostra do caminho
que falta percorrer até que estas incorrecções sejam limadas e passem a ser recordações
distantes, de um tempo em que cada um escrevia ao sabor do momento e do improviso,
gerando confusões e ambiguidades.
3. As normas e as instituições
Em Portugal, o organismo nacional responsável pelas actividades de normalização,
certificação e metrologia é o Instituto Português da Qualidade (IPQ). Funciona
presentemente sob a tutela do Ministério da Economia e situa-se no Monte de Caparica
(Rua António Gião, 2, 2829-513 CAPARICA). Cabe ainda ao IPQ a emissão das Normas
Portuguesas, genericamente designadas pela sigla NP seguida de um número.
O Bureau International des Poids et Mesures (BIPM), juntamente com os seus órgãos
consultivos, ocupa-se do Sistema Internacional de Unidades (SI), da definição das diversas
unidades deste sistema, e dos seus símbolos, assim como da realização e comparação dos
padrões das unidades de base, nacionais e internacionais. Compete-lhe também a
terminologia e a simbologia das unidades físicas, assim como a atribuição de nomes
especiais de unidades SI.
A ISO (International Organization for Standardization), através do seu Comité
Técnico 12 estabelece nomes, símbolos e definições para as grandezas físicas em geral e
reúne os organismos de normalização de 90 países, incluindo Portugal. As normas ISO são
genericamente designadas pela sigla ISO seguida de um número. São publicadas em
francês, inglês e russo.
O IEC (International Electrotechnical Committee), através do seu Comité Técnico 25,
ocupa-se dos nomes, definições e símbolos de grandezas físicas de electricidade e
magnetismo. As suas Publicações podem ser consultadas em inglês ou em francês (neste
último caso, a designação da organização é CEI (Commission Electrotechnique
Internationale). Há concordância entre as Publicações CEI e as normas ISO.
A IUPAP (International Union of Pure and Applied Physics) promove a cooperação
internacional em Física, mediante a realização de Conferências Internacionais. Não emite
normas, mas publica a brochura Symbols, Units and Nomenclature in Physics.
A IUPAC (International Union of Pure and Applied Chemistry) estabelece
nomenclatura química e promove a cooperação internacional, mas não emite normas.
Publica a brochura Manual of Symbols and Terminology for Physicochemical Quantities
and Units.
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unidades físicas (e correspondente terminologia), como para tudo o mais que se queira e
possa imaginar. As Normas Portuguesas, por exemplo, são em número de largas centenas e
cobrem, além das grandezas e unidades físicas, torneiras, fiambre, batatas, pregos, tintas,
lâmpadas, etc.
O serviço da Biblioteca de Normas do IPQ é eficiente, mas os funcionários não podem
adivinhar qual é, entre tantos milhares, a norma que queremos consultar. A norma
pretendida terá de ser pedida pelo número correspondente: por exemplo NP-2626, ISO
1000. Só a partir daí é que o funcionário da Biblioteca de Normas sabe que norma ou
normas queremos, e só então pode disponibilizá-la. Para facilitar este trabalho, cada
organização emissora de normas tem o correspondente catálogo, de espessura apreciável.
Há pois que consultar o catálogo de normas NP, o das normas ISO, o das Publicações CEI,
etc. É frequentemente uma consulta demorada, que se pode fazer por nomes de assuntos, ou
por "campos" (géneros de assuntos). Em alguns casos a consulta pode fazer-se por meios
informáticos disponíveis no local.
Quem não se encontre próximo de Lisboa, poderá consultar as bibliotecas de normas
nas Delegações Regionais do Ministério da Economia, nas cidades do Porto, Coimbra,
Évora e Faro. No entanto, nestas Delegações apenas estão disponíveis as Normas
Portuguesas.
As publicações normativas incluem os Decretos-Leis sobre o SI e a utilização das suas
unidades de medida. Podem obter-se consultando o Diário da República. As brochuras
emitidas pelas organizações internacionais podem ser geralmente encomendadas às
próprias organizações (v. indicações no final deste artigo).
6. Legislação nacional
Para além das normas portuguesas, emitidas pelo IPQ, como foi referido, há legislação
nacional sobre o SI, inicialmente veiculada pleo Decreto-Lei n.º 427/83, de 7 de
Dezembro, mais tarde rectificada no Decreto-Lei n.º 238/94, de 19 de Setembro,
condensando num único diploma a disposições legais sobre as quais esta matéria se deve
reger.
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7. Conclusão
As normas, livros e diversas publicações sobre a simbologia e terminologia das
grandezas e unidades físicas, a documentação sobre o SI, e também a legislação nacional
portuguesa sobre o uso deste sistema de unidades constituem fontes de informação úteis a
todas as pessoas que necessitam de utilizar adequadamente a terminologia e simbologia das
grandezas e unidades físicas. No entanto, a consulta de normas obriga a buscas demoradas;
por isso, os livros acabam por ser, quase sempre, o modo mais simples e rárpido para obter
a informação pretendida.
Guilherme de Almeida (Prof. do Colégio Militar)
BIBLIOGRAFIA
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