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Avaliação do Impacto do Listrado Castanho da Mandioca (Manihot esculenta Crantz) em Palma e Mocímboa da Praia - Cabo Delgado

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho:


aos meus pais, Francisco Xavier das Mercês Almeida (falecido) e
Safia Pira;

aos meus irmãos:


Lizette, Ana Maria, Amandina
(falecida),Francisco (falecido),
Margarida, Sofia, Leonisa,
Osvaldo, José e

aos meus sobrinhos:


Diny, Caeth e Karina.

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final i


Avaliação do Impacto do Listrado Castanho da Mandioca (Manihot esculenta Crantz) em Palma e Mocímboa da Praia - Cabo Delgado

RESUMO

A cultura da mandioca desempenha uma elevada importância social como principal fonte
de carbohidratos para mais de 700 milhões de pessoas, essencialmente nos países em vias
de desenvolvimento. Em Moçambique, o listrado castanho da mandioca (CBSD) é
considerado o factor limitante mais importante da produção de mandioca, principalmente
na região costeira norte e, nos últimos anos foram realizados estudos sobre a incidência e
severidade desta doença. O presente estudo tem por objectivo avaliar o impacto da
podridão castanha da mandioca (listrado castanho da mandioca) na Província de Cabo
Delgado e o seu efeito nos sistemas de produção dos camponeses.

As entrevistas foram feitas em Janeiro de 2005, nos distritos de Mocímboa da Praia e


Palma, num total de 8 aldeias, sendo 4 aldeias por distrito. Foram entrevistados 52
pessoas representando igual número de Agregados Familiares (AFs), 26 por cada distrito.
Os parâmetros utilizados para o estudo foram, características das famílias, características
das machambas das famílias, preferência de variedades de mandioca cultivadas e suas
características, produção animal, impacto de pragas e doenças sobre a produção, medidas
de mitigação da doença, vendas e processamento da mandioca.

Os resultados mostraram que mandioca é a cultura mais importante nestes distritos tanto
como alimento básico bem como fonte de rendimento para as famílias rurais. A doença do
listrado castanho da mandioca tem um impacto negativo nos dois distritos, afectando deste
modo os sistemas de produção dos AFs, uma vez que os mesmos dependem desta cultura
tanto para o seu sustento como para sua alimentação. Os AFs plantam estacas provenientes
das suas machambas o que não garante que este mesmo material esteja isento da doença;
ou seja, dado que a mandioca se propaga vegetativamente, a doença é facilmente
introduzida e disseminada para novas áreas através deste material.

Os agregados familiares possuem fraca aplicação de práticas agronómicas melhoradas:


cultivam durante muito tempo sem pousio, não fazem rotações adequadas, utilizam estacas
de material local em repetidos ciclos de produção e praticam plantio tardio. A falta de
conhecimentos sobre o CBSD e sobre as variedades tolerantes ou resistentes à doença por
parte dos AFs foram limitantes a este estudo.

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AGRADECIMENTOS

Recebi contribuições e apoio em todos sentidos, por isso quero aqui manifestar e
endereçar os meus agradecimentos a todos, especialmente:

À Cáritas Moçambicana, Cooperação Espanhola, Direcção Provincial de Agricultura


e Desenvolvimento Rural de Cabo Delgado e Instituto Nacional de Investigação
Agronómica, através dos quais a realização deste trabalho se tornou possível. A todos vai
o meu grande reconhecimento e gratidão.

Aos meus supervisores, ao Eng° Hilário E. Magaia, à Engª. Anabela M. Zacarias e à


Prof.ª Doutora Ana M. Mondjana pelo apoio científico, paciência, atenção e
compreensão mostrados durante a realização do trabalho.

Às Irmãs Diocesanas de Mocímboa da Praia e de Palma, pelo seu amável e generoso


acolhimento. Palavras não chegariam para exprimir o meu agradecimento.

A Profa. Doutora Luísa Santos pela atenção, preocupação e carinho demonstrados ao longo
do curso e ao dr. Paulo Jorge Sithoe pela elaboração dos mapas; o meu muito obrigado.

Ao Prof. Doutor Lourenço Rosário, ao Dr. José Jeje, à Dr.ª Carmeliza Rosário, ao Eng°
Edmundo Caetano e ao Eng° Cremildo Fulane pelo apoio na análise dos dados, nas
questões gramaticais e metodológicas.

Ao pessoal técnico da Direcção Distrital de Agricultura de Palma e Mocímboa da Praia


pelo todo apoio prestado, em especial ao Sr. Bacar Andique, Director Distrital de
Agricultura de Palma.

À todos os docentes da Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal e ao pessoal


amigo do Atelier 5.

Aos meus pais, irmãos, cunhados, tios, familiares, amigos e colegas do curso pela
confiança que depositaram em mim e pelo apoio moral. Muito obrigada a todos!

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final iii


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ÍNDICE

DEDICATÓRIA.................................................................................................................... i
RESUMO ............................................................................................................................. ii
AGRADECIMENTOS ........................................................................................................ iii
LISTA DE TABELAS ........................................................................................................ vi
LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................ vii
ANEXOS ........................................................................................................................... viii
LISTA DE ABREVIATURAS............................................................................................ ix

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................1
1.1. Importância da Cultura da Mandioca .....................................................................2
1.2. Usos da mandioca...................................................................................................2
1.3. Produção da Mandioca ...........................................................................................3
1.4. Factores que afectam a produção da mandioca em Moçambique ..........................6
2. PROBLEMA DE ESTUDO E JUSTIFICAÇÃO .................................................8
3. OBJECTIVOS .........................................................................................................9
3.1. Objectivo geral .......................................................................................................9
3.2. Objectivos específicos ............................................................................................9
4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA... ..........................................................................10
4.1. Descrição da Cultura da Mandioca.......................................................................10
4.1.1. Origem e Zonas de Aptidão.............................................................................. 10
4.1.2. Teor de ácido cianídrico (HCN) ....................................................................... 10
4.1.3. Clima ................................................................................................................ 11
4.1.4. Precipitação ...................................................................................................... 12
4.1.5. Fotoperíodo....................................................................................................... 12
4.1.6. Solos ................................................................................................................. 12
4.1.7. Adubação e pH do Solo .................................................................................... 13
4.1.8. Preparo do Solo ................................................................................................ 13
4.1.9. Qualidade e armazenamento do material de propagação ................................. 13
4.1.10. Plantação......................................................................................................... 14
4.1.11. Tratos Culturais .............................................................................................. 15
4.1.12. Colheita........................................................................................................... 15
4.2. Descrição da Doença do Listrado Castanho da Mandioca ...................................16
4.2.1. Distribuição ...................................................................................................... 16
4.2.2. Agente causador ............................................................................................... 17
4.2.3. Sintomas ........................................................................................................... 19
4.2.4. Transmissão e propagação................................................................................ 21
4.2.5. Maneio .............................................................................................................. 22
4.3. Descrição da Área de Estudo................................................................................22
4.3.1. Características gerais da província de Cabo Delgado ...................................... 22
4.3.2. Características gerais dos distritos de Palma e Mocímboa da Praia................. 24

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5. METODOLOGIA..................................................................................................28
5.1. Selecção da área de estudo e amostragem ............................................................28
5.2. Recolha e análise estatística de dados ..................................................................29
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..........................................................................31
6.1. Dados Gerais ........................................................................................................31
6.1.1. Características e actividades económicas das Famílias...................................31
6.1.2. Impacto de Pragas e Doenças sobre a Produção da Mandioca........................43
7. CONCLUSÃO........................................................................................................46
8. RECOMENDAÇÕES............................................................................................47
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................48

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LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Países maiores produtores de mandioca no Mundo.............................................. 4
Tabela 2. Produção de mandioca em Moçambique por regiões ........................................... 4
Tabela 3. Produção nacional de mandioca de 1996 a 2001.................................................. 5
Tabela 4. Evolução da produção e da área cultivada de mandioca em Cabo Delgado ........ 5
Tabela 5. Situação geral dos distritos ................................................................................. 25
Tabela 6. Preços de venda dos principais produtos básicos em Palma e Mocímboa da Praia
nos últimos dois anos...........................................................................................................26
Tabela 7. Calendário de actividades agrícolas das principais culturas nos distritos de Palma
e Mocímboa da Praia .......................................................................................................... 27
Tabela 8. Número de entrevistados por aldeia por distrito................................................. 29
Tabela 9. Número de pessoas que compõem o AF por distrito.......................................... 32
Tabela 10. Machambas cultivadas pelo AF........................................................................ 33
Tabela 11. Conhecimento sobre a doença do listrado castanho da mandioca por AF ....... 43

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LISTA DE FIGURAS
Figura 1. A mosca branca .................................................................................................. 18
Figura 2. Ninfa de mosca branca ....................................................................................... 18
Figura 3. Sintomas do CBSD nas folhas ........................................................................... 19
Figura 4. Sintomas do CBSD no caule .............................................................................. 20
Figura 5. Sintomas do CBSD nas raízes ............................................................................ 21
Figura 6. Localização e Divisão administrativa dos distritos de Palma e Mocímboa da
Praia.................................................................................................................................... 23
Figura 7. Número de entrevistados por sexo.......................................................................31
Figura 8. Número de representantes do AF por idade........................................................ 31
Figura 9. Nível de escolaridade do chefe do AF. ............................................................... 32
Figura 10. Numero de anos de cultivo sem pousio dos AFs por machamba em Mocimboa
da Praia ............................................................................................................................... 33
Figura 11. Numero de anos de cultivo sem pousio dos AFs por machamba em Palma..... 34
Figura 12. Culturas praticadas na campanha 2003/2004 por machamba dos AFs em
Mocimboa da Praia............................................................................................................. 34
Figura 13. Culturas praticadas na campanha 2003/2004 por machamba dos AFs em Palma
............................................................................................................................................ 35
Figura 14.a) Características das variedades de mandioca quanto ao Sabor- Palma ........... 35
Figura 14.b) Características das variedades de mandioca quanto a Consistência- Palma.. 36
Figura 14.c) Características das variedades de mandioca quanto ao Ciclo- Palma............ 36
Figura 15.a) Características das variedades de mandioca quanto ao Sabor- Mocímboa da
Praia .................................................................................................................................... 36
Figura 15.b) Características das variedades de mandioca quanto a Consistência-
Mocímboa da Praia............................................................................................................. 37
Figura 15.c) Características das variedades de mandioca quanto ao Ciclo- Mocímboa da
Praia.................................................................................................................................... 37
Figura 16. Conhecimento dos entrevistados sobre as variedades resistentes ou tolerantes a
doença................................................................................................................................. 38
Figura 17. Produção animal em Palma e Mocímboa da Praia............................................ 40
Figura 18. Venda dos produtos da machamba ................................................................... 40
Figura 19. Emprego na machamba de outros......................................................................41
Figura 20. Venda da criação animal....................................................................................41
Figura 21. Venda de bebidas...............................................................................................42
Figura 22. Proporção da quantidade vendida da mandioca produzida................................42
Figura 23. Principais pragas, doenças e outros factores naturais que afectam a produção de
mandioca em Palma.............................................................................................................43
Figura 24. Principais pragas, doenças e outros factores naturais que afectam a produção de
mandioca em Mocímboa da Praia ...................................................................................... 44

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ANEXOS

Anexo I- Figura 1.1. Mapa de Incidência da virose do Listrado Castanho da Mandioca em


Moçambique.

Figura 1.2. Electro- micrografia de “Sweet potato mild mottle virus” (vírus do
mosqueado da batata doce).

Anexo II- Figura 2.1. Escala de avaliação de severidade de CBSD, mostrando a


diferenciação das perdas.

Figura 2.2. Cassytha filiformis (infestante parasita).

Anexo III- Inquérito Sobre a Avaliação do Impacto do Listrado Castanho da Mandioca


(Manihot esculenta Crantz) nos Distritos de Palma e Mocímboa da Praia – Cabo
Delgado.

Anexo IV- Dados gerais: Tabelas 4.1 a 4.18 e Figuras 4. 1 a 4.7

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LISTA DE ABREVIATURAS

ACMD...........................African Cassava Mosaic Disease


AF..................................Agregado Familiar
CBSD.............................Cassava Brown Streak Disease
CBSV.............................Cassava Brown Streak Virus
DDA..............................Director Distrital de Agricultura
DPADR.........................Direcção Provincial de Agricultura e Desenvolvimento Rural
DDADR...................... .Direcção Distrital de Agricultura e Desenvolvimento Rural
GRNB...........................Gestão de Recursos Naturais e Biodiversidade
HCN..............................Ácido Cianídrico
INIA..............................Instituto Nacional de Investigação Agronómica
IITA...............................International Institute of Tropical Agriculture
MICOA..........................Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental
MZM..............................Meticais
ONGs.............................Organizações Não Governamentais
SARRNET.....................Southern Africa Root Crops Research Network
SPA................................Serviços Provinciais de Agricultura
SPSS…………………...Statistical Package for Social Science
cm...................................centímetro
°C....................................grau centígrado
Kg...................................quilograma
Km..................................quilómetro
m.....................................metro
mg...................................miligrama
mm..................................milímetro
nm...................................nanómetro
Ton.................................tonelada
%.....................................percentagem

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1. INTRODUÇÃO

Desde 1994 que Moçambique, através do aumento da produção agrícola, vem registando
progressos consideráveis na redução da dependência de importação de alimentos básicos.
Apesar do seu potencial agro-ecológico para produzir alimentos em quantidades suficientes
para a sua população e para exportação, o país apresenta ainda carências alimentares
sazonais, e subnutrição crónica em algumas áreas. Estas disparidades são devidas à
irregularidade e à má distribuição das chuvas, aos baixos níveis de produtividade, à pouca
transformação ou tecnologias pós-colheita dos produtos agrícolas e à fraca rede de mercado
e infra-estruturas agrícolas principalmente as vias de acesso ou estradas rurais. Deste modo,
perde-se a oportunidade de acrescentar valor à produção (CGIAR NEWS, 2003).

Os resultados do Censo Agro Pecuário (CAP, 2001) indicam que a actividade agrícola em
Moçambique é praticada na sua grande maioria por produtores do sector familiar, onde
mais de 80% possui áreas não superiores a 2 ha, e cultivam apenas cerca de 58% do total da
área. Da área arável, correspondente a 36 milhões de hectares, apenas são cultivadas 11%
do total. As pequenas explorações ocupam cerca de 97% do total da área cultivada,
enquanto que as grandes e médias explorações ocupam os restantes 3%.

As culturas alimentares básicas ocupam 85% da área total cultivada. Este grupo de culturas
compreende: os cereais (o milho, o arroz, a mapira e a mexoeira); as leguminosas (que
incluem os distintos tipos de feijões) ; raízes e tubérculos (mandioca e batata-doce); e as
hortícolas (couve, alface, repolho, tomate, entre outras). Das culturas alimentares, o milho
é o principal cereal, que é cultivado em 74% da área dos cereais, ocupando 35% da área
total cultivada e cultivado em 80% das explorações. A mandioca é a segunda cultura
alimentar básica cultivada no país, depois do milho com cerca de 16,7% da área cultivada
e, 16% da produção agrícola nacional (CAP, 2001).

1.1. Importância da Cultura da Mandioca

A mandioca (Manihot esculenta Crantz) é uma fonte alimentar básica para milhares de
pessoas na África Sub-sahariana. É cultivada em todo o pais devido a sua flexibilidade nos
sistemas de produção, ao seu crescimento vigoroso, à resistência a seca, ao bom
rendimento, ao limitado e fácil trabalho que requer bem como à facilidade de conservação

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no solo, que aliada a uma época de colheita prolongada, permite colher as raízes consoante
as necessidades (Da Costa e Ferrinho, 1964).

Esta cultura tem características que a tornam especialmente apropriada para fazer face a
factores que conduzem à crise alimentar tais como, pouca mão-de-obra necessária para o
controle de ervas daninhas, grande capacidade de fornecer quantidades de alimento
satisfatórias e adaptada às diversas zonas agro-ecológicas (CGIAR NEWS, 2003). É o
maior produtor de hidratos de carbono e de acordo com a FAO (1998), a mandioca, nos
países em vias de desenvolvimento, é a quarta cultura mais importante logo a seguir ao
arroz, milho e trigo.

A mandioca em Moçambique, é na generalidade a segunda cultura mais importante depois


do milho mas, a primeira em alguns distritos. As suas folhas são consumidas no país inteiro
e encontram-se à venda na maioria dos mercados (INIA-IITA/SARRNET, 2003). As raízes
de mandioca contêm cerca de 60 a 65% de humidade, 30 a 35% de carbohidratos
(principalmente amido), 1 a 2% de proteína e uma pequena quantidade de vitaminas e
minerais. As folhas possuem cerca de 65 a 70% de humidade, 12 a 16% de carbohidratos, 5
a 7% de proteína e 1% de gordura, além de possuir cálcio, ferro e vitaminas A, B e C
(Matsuura e Folegatti, 2000).

Tradicionalmente, a mandioca tem um papel importante tanto como fonte de energia para
alimentação humana e animal, como para gerar renda. A planta também pode ser utilizada
na indústria, para extracção e produção de vários produtos (Cardoso e Souza, 2000).

1.2. Usos da mandioca

Segundo Maleia (2003), em Moçambique existem duas formas de utilização da raiz da


mandioca:

a) Cultivares doces são usados na forma fresca para a confecção de várias receitas
culinárias ou usada para fins comerciais em mercados próximos da zona de produção.

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b) Mandioca seca, chamada magaga em Cabo Delgado, processada em farinha da qual


existem três tipos: Karacata (farinha de magaga), farinha branca fermentada e farinha
torrada.

Na província de Cabo Delgado, usa-se a mandioca tanto fresca como seca para fazer:

• “Lumino” que é um prato típico das zonas costeiras de origem árabe, feito com leite
de coco e peixe ou frango frito, a mandioca cozida, alguns temperos e manga seca
(azedo);
• Doce, cozida com leite de coco ou só consumida cozida ou assada;
• Bolo ou pão (“Ncate”).

Utiliza-se a farinha de magaga para fazer:


• “Guálua”, é um tipo de bebida alcoólica que se faz com farinha de milho ou de
mapira. Esta bebida, é uma espécie de “Otheka” chamada pelos macuas e os
macondes, para além deste nome (guálua), chamam também de “Mandjundjo”;
• Papas com ou sem açúcar.

A partir das folhas de mandioca, são elaborados diversos pratos culinários como a mathapa.
Segundo Da Costa e Ferrinho (1964), o corte das extremidades dos ramos novos é
prejudicial ao rendimento mas, é muito praticado pelas comunidades rurais que consomem
as folhas como hortaliça. Os europeus empregam-nas como sucedâneo do espinafre.

1.3. Produção da Mandioca

Segundo dados da FAO (2004), a produção mundial de mandioca é de cerca de 195,6


milhões de toneladas e, grande parte da produção (cerca de 74%) concentra-se em 5 países:
Nigéria (maior produtor mundial), Brasil, Tailândia, Indonésia e República Democrática do
Congo. Moçambique faz parte dos 10 maiores produtores de mandioca no mundo,
encontra-se em 5° lugar em África e, produz anualmente 6 149 897 toneladas (Tabela 1).
Mais de 84% da produção total mundial é destinada ao consumo humano, cerca de 15%
constituem as perdas e o restante para o consumo animal (Legg e Hillocks, 2003).

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Tabela 1. Países Maiores Produtores de Mandioca no Mundo


País Produção (toneladas/ano)
Nigéria 33 379 000
Brasil 24 230 332
Tailândia 20 400 000
Indonésia 19 196 950
República Democrática do Congo 14 950 500
Gana 9 828 000
Índia 7 100 000
República Unida da Tanzânia 6 890 000
Moçambique 6 149 897
Angola 5 600 000
Uganda 5 400 000
Vietname 5 370 000
Fonte: FAO (2004).

Em Moçambique, avaliações feitas em diferentes zonas de cultivo mostram que o


rendimento varia entre 2,3 a 15 toneladas por hectare, com o rendimento médio de cerca de
8 toneladas por hectare (Tembe, 1997). Os baixos rendimentos têm sido associados a vários
factores tais como solos pobres, plantio tardio, secas, a não utilização de estacas frescas,
ocorrência de pragas e doenças (Jimenez, 1988).

A cultura é produzida em quase todo o país, sendo mais predominante na zona norte
(Tabela 2). Na zona norte do país destacam-se, Cabo Delgado e Nampula e, no centro a
província da Zambézia. Estas três províncias são responsáveis por cerca de 87% da
produção (Tabela 3).

Tabela 2. Produção média da mandioca em Moçambique por regiões (1996-2001)


Moçambique Produção (Ton.)
Região Norte 3 547 740
Região Centro 1 542 519
Região Sul 546 235
Total 5 636 494
Fonte: Maleia (2003), adaptado.

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Tabela 3. Produção Nacional de Mandioca de 1996 a 2001(em toneladas)


Ano 1996/1997 1997/1998 1998/1999 1999/2000 2000/2001 Produção
média
C.Delgado 736 812 760 985 784 495 811 701 1 011 022 821 003
Niassa 140 689 138 655 122 954 127 005 149 553 135 771
Nampula 2 555 080 2 654 116 2 689 261 2 451 576 2 604 798 2 590 966
Zambézia 1 351 848 1 490 555 1 461 345 1 460 200 1 592 819 1 471 353
Tete 6 202 6 960 7 545 6 318 7 313 6 868
Manica 3 365 5 425 5 928 4 904 6 553 5 235
Sofala 65 309 60 065 59 867 44 188 65 888 59 063
Inhambane 331 456 341 019 295 985 295 670 634 552 379 736
Gaza 123 199 157 325 106 643 143 339 186 686 143 438
Maputo 22 782 23 858 18 905 17 074 32 685 23 061
Total 5 336 742 5 638 963 5 552 928 5 361 975 6 291 869 5 636 494
Fonte: Maleia (2003) citando MADER, 2002.

A província de Cabo Delgado contribui com cerca de 14,6 % da sua produção e desde
campanha de 2001/2002 até a campanha de 2003/2004, mostrou uma evolução (Tabela 4)
tanto na área cultivada da cultura de mandioca em 23 127 ha, como na sua produção em 30
717 Ton. Contudo, a maioria da população rural continua pobre, dependendo
principalmente da agricultura de subsistência. Muitos distritos são afectados pela seca,
pelas cheias, pragas e doenças em diferentes períodos, e como consequência há escassez de
alimentos conduzindo assim à insegurança alimentar (MADER et al, 2001; SPA, 2003).

Tabela 4. Evolução da produção e da área cultivada de mandioca em Cabo Delgado


Campanha 2001/2002 2002/2003 2003/2004
Produção de Mandioca (em 308 211 322 958 338 924
toneladas)
Área (ha) 156 335 168 908 179 462
Fonte: SPA (2003), adaptado.

Apesar da cultura ser importante, principalmente na zona Norte de Moçambique, a doença


do Listrado Castanho da Mandioca (CBSD, do inglês “Cassava Brown Streak Disease”)
tem sido o factor limitante da produção em Nampula, Zambézia e Cabo Delgado com
maior incidência nas zonas costeiras (INIA, 2004). A rápida propagação deste vírus pode

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afectar severamente a segurança alimentar dos agregados familiares destas zonas, uma vez
que a mandioca é a principal base de alimentação nestes solos pobres costeiros (INIA-
IITA/SARRNET, 2003).

1.4. Factores que afectam a produção da mandioca em Moçambique

Segundo INIA (2004), os constrangimentos gerais da produção de mandioca são os


seguintes:
• Uso de variedades susceptíveis às doenças virais nomeadamente o Mosaico
Africano da Mandioca (ACMD) e CBSD bem como as pragas seguintes: o Ácaro
Verde (Mononychellus tanajoa) e a Cochonilha (Phenococus manihot);
• Utilização de estacas de baixa qualidade;
• Baixa fertilidade dos solos;
• Uso de práticas agronómicas inadequadas.

No país, o CBSD é considerado o factor limitante mais importante da produção (INIA,


2004). Segundo Maleia (2003) as perdas causadas por esta doença, atingem cerca de 52%,
principalmente nas regiões costeiras, como é o caso dos distritos de Palma e Mocímboa da
Praia em Cabo Delgado (Anexo I, figura 1.1).

Face à severidade da doença, o INIA através do Programa de Melhoramento de Raízes e


Tubérculos, está confrontada com o desafio de encontrar estratégias de curto e médio
prazos para restaurar a produção da mandioca nas regiões afectadas.

O programa de melhoramento iniciou um processo de recolha e avaliação de variedades


locais nos distritos de Palma e Mocímboa da Praia em Cabo Delgado. Segundo o INIA
(2004), as variedades mais cultivadas são Mbuane, Ngomane, Chigoma Máfia,
Nanchinyaya e Liconde. Existem nestes dois distritos tanto variedades classificados como
tolerantes e ou resistentes a doença, por possuírem baixas perdas efectivas, como
susceptíveis a doença com perdas efectivas significativas.

Contudo, é importante realçar que o tipo e quantidade de perdas causadas por doenças,
variam com a planta, o patógeno, o ambiente, o local, os métodos de controlo e a
combinação de todos estes factores, ou seja, o controlo integrado (Agrios, 1998).

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As variedades consideradas tolerantes são: Nanchinyaya, Likonde e Chigoma Máfia.


Enquanto que as variedades Ngomane, Guedi, Mbuane e Chinucungoe são consideradas
susceptíveis ao CBSD (DPADR, 2004).

Segundo Freire (2003), as variedades de mandioca são classificadas em duas grandes


categorias: ciclo e sabor. Quanto ao ciclo são classificadas em variedades de ciclo curto e
de ciclo longo. Quanto ao sabor em variedades amargas e doces.

As variedades de ciclo curto são colhidas a partir dos 6 meses e as de ciclo longo a partir
dos 10 aos 12 meses. O sabor é determinado pela concentração de cianeto, sendo maior nas
amargas e baixa nas doces. De um modo geral a concentração dos glicosidos é maior na
casca e no córtex do que na polpa. Nas variedades doces o teor de glicosidos na polpa é tão
baixo que a mandioca pode ser consumida no estado fresco (Freire, 2003). Segundo Da
Costa e Ferrinho (1964), investigadores do Congo e da Nigéria verificaram que as
variedades doces resistentes são em maior quantidade que as amargas.

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2. PROBLEMA DE ESTUDO E JUSTIFICAÇÃO

Nos distritos acima referidos, existem variedades de mandioca que são tolerantes ou
resistentes a doença CBSD e variedades com grande susceptibilidade a doença. Observa-se
que nos campos cultivados (machambas), os camponeses possuem uma diversidade de
variedades que apresentam os problemas já apontados.

A questão que os pesquisadores procuram perceber é porquê é que os camponeses


continuam a plantar variedades que manifestamente se revelaram com problemas da
doença e de baixa de produção, ao invés de eliminá-las e substituir por variedades
tolerantes ou resistentes. Será que haverá alguma relação entre o nível de ataque da doença
e os hábitos culturais dos camponeses e a importância das variedades para os mesmos?

Hipóteses:
Os camponeses,
1. Cultivam em maior percentagem as variedades susceptíveis do que as tolerantes;

2. Utilizam material de plantação de baixa qualidade, sem tratamentos adequados


contra pragas e doenças;

3. Possuem fraca aplicação de práticas agronómicas melhoradas (data de plantio,


lavouras, sachas, entre outras) sustentáveis para a região.

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3. OBJECTIVOS

3.1. Objectivo geral

O objectivo geral do estudo é avaliar o impacto do listrado castanho da mandioca e o seu


efeito nos sistemas de produção dos camponeses nos distritos de Palma e Mocímboa da
Praia na Província de Cabo Delgado.

3.2. Objectivos específicos

• Avaliar os níveis de incidência e severidade da doença nas variedades de mandioca,


nos distritos de Palma e Mocímboa da Praia.

• Determinar a importância relativa das variedades de mandioca para os camponeses


nos dois distritos.

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4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.1. Descrição da Cultura da Mandioca

A mandioca (Manihot esculenta Crantz ou Manihot utilissima Pohl.) é um arbusto da


família das euforbiáceas, subfamília das crotonóideas, tribo das manióteas, com raiz
tuberosa; folhas longamente pecioladas e estipuladas, as inferiores tri e
heptapalmatilobadas a partidas e as superiores às vezes inteiras, cachos frouxos,
pancifloros, axilares; cálice amarelo acastanhado, campanulado, quinquelobado; cápsula
elipsóide, rugosa, com seis asas onduladas e crenadas; sementes elipsóides, comprimidas,
marmoreadas (Editorial Enciclopédia Lda, 1945).

4.1.1. Origem e Zonas de Aptidão

É originária da América do Sul e foi introduzida em África pelos navegadores portugueses


do século XVI ou XVII, sendo muito cultivada pela sua raiz tuberosa rica em amido. As 42
espécies conhecidas são todas expontâneas no Brasil (Da Costa e Ferrinho, 1964).

Em cultura a planta atinge 2 a 3 metros de altura e a sua raiz, de cor castanha ou


avermelhada, com 5 a 10 cm de diâmetro pesa em regra 2 a 4 kg. Há variedades doces e
amargas; as últimas são venenosas por causa da manihotoxina (C10 H17 O6N). Nas
regiões equatoriais cultiva-se principalmente mandiocas amargas; à medida que nos
afastamos do equador aparecem cada vez mais as variedades doces (Da Costa e Ferrinho,
1964).

4.1.2. Teor de ácido cianídrico (HCN)

A manihotoxina liberta, por acção enzimática, o HCN. O glicosido existe em todas as


variedades e em todas as partes da planta; nas variedades tóxicas ele distribui-se por toda a
raiz, enquanto que nas variedades doces concentra-se principalmente na casca. O teor de
manihotoxina é também diferente numas e noutras, considerando-se como tóxicas as
variedades que têm mais de 100 mg de manihotoxina por quilograma de raiz fresca (Da
Costa e Ferrinho, 1964).

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O clima e o solo exercem acção sobre este teor, independentemente da variedade, situações
de seca prolongada elevam, geralmente o teor de glucosido. As mandiocas doces e amargas
não têm características morfológicas de modo a considerar duas espécies distintas, opinião
esta não partilhada por todos os botânicos (Da Costa e Ferrinho, 1964).

Uma das formas práticas de se distinguir as variedades tóxicas é a seguinte: embebe-se uma
tira de papel de filtro em ácido pícrico a 1% ; seca-se e embebe-se novamente em solução
de carbonato de soda a 10%, toma-se uma colher de sopa bem cheia de raspas de mandioca
e deita-se num frasco. Seguidamente deita-se água até tapar a mandioca, rolha-se o frasco
deixando a tira de papel pendente. Se depois de 24 horas a cor do papel passar de amarelo
para encarnado é porque se trata de uma variedade tóxica. Quanto mais carregada for a
coloração encarnada, mais tóxica é a planta (Da Costa e Ferrinho, 1964).

4.1.3. Clima

A mandioca encontra condições favoráveis para o seu desenvolvimento em todos os climas


tropicais e subtropicais. A faixa ideal de temperatura situa-se entre os limites de 20 a 27oC
(média anual), podendo a planta crescer bem entre 16 e 38oC. As temperaturas baixas, em
torno de 15oC retardam o brotamento das gemas e diminuem ou mesmo paralisam sua
actividade vegetativa, entrando em fase de repouso (Mattos e Cardoso 2003).

É uma planta que exige clima húmido, quente e insolação abundante. Não suporta ventos
fortes devido à sua fragilidade e raízes superficiais. Nas zonas tropicais leva 18 a 24 meses
a se desenvolver (Da Costa e Ferrinho, 1964).

Com a altitude, o seu desenvolvimento torna-se mais lento e os rendimentos cada vez mais
baixos, acima de 1500 a 1800m, o seu cultivo não é recomendável (Da Costa e Ferrinho,
1964). Suporta altitudes que variam desde o nível do mar até cerca de 2.300 m, admitindo-
se que as regiões baixas ou com altitude de até 600 a 800 m são as mais favoráveis (Mattos
e Cardoso 2003).

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4.1.4. Precipitação

A faixa mais adequada de chuva está compreendida entre 1000 a 1500 mm/ano, bem
distribuídas. Em regiões tropicais, a mandioca produz em locais com índices
pluviométricos de até 4000 mm/ano, sem estação seca em nenhum período do ano; nesse
caso, é importante que os solos sejam bem drenados, pois o alagamento favorece a
podridão de raízes. É também muito cultivada em regiões semi-áridas, com 500 a 700 mm
de chuva por ano ou menos; nessas condições, é importante adequar a época de plantio,
para que não ocorra deficiência de água nos primeiros cinco meses de cultivo (período de
estabelecimento da cultura), o que prejudica a produção (Mattos e Cardoso 2003).

4.1.5. Fotoperíodo

O período de luz ideal para a mandioca está em torno de 12 horas/dia. Dias com períodos
de luz mais longos favorecem o crescimento de parte aérea e reduzem o desenvolvimento
das raízes tuberosas, enquanto que os períodos diários de luz mais curtos promovem o
crescimento das raízes tuberosas e reduzem o desenvolvimento dos ramos (Mattos e
Cardoso 2003).

4.1.6. Solos

Na escolha da área para o plantio de mandioca deverão ser consideradas as condições de


clima e solo favoráveis ao cultivo para a obtenção de boas produções (cerca de 30
toneladas/hectare/ano). Com relação à topografia, deve-se buscar terrenos planos ou
levemente ondulados, com um declive máximo de 5%. Deve-se também utilizar práticas de
conservação do solo, evitando perdas acentuadas do solo e da água por erosão (Mattos e
Cardoso 2003).

Como o principal produto da mandioca são as raízes, ela necessita de solos profundos,
friáveis (soltos) e permeáveis, sendo ideais os solos arenosos ou de textura média, por
possibilitarem um fácil crescimento das raízes, pela boa drenagem e pela facilidade de
colheita (Mattos e Cardoso 2003).

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4.1.7. Adubação e pH do Solo


A faixa favorável de pH é de 5,5 a 7, sendo 6,5 o ideal, embora a mandioca seja menos
afectada pela acidez do solo do que outras culturas. A mandioca produz bem em solos de
alta fertilidade, apesar de que rendimentos satisfatórios também são obtidos em solos
degradados quimicamente com baixo teor de nutrientes, onde a maioria dos cultivos
tropicais não produziria satisfatoriamente. Aumentos consideráveis de produção são
conseguidos por meio da calagem e adubação das terras de baixa fertilidade. A aplicação de
matéria orgânica (esterco de curral, torta de mamona e adubos verdes) tem grande
influência na produção da mandioca (Mattos e Cardoso 2003).

4.1.8. Preparo do Solo

Além do controle de plantas daninhas, o preparo do solo visa melhorar as suas condições
físicas para o brotamento das estacas, crescimento das raízes e das partes vegetativas, pelo
aumento da aeração e infiltração de água e redução da resistência do solo ao crescimento
radicular. O preparo do solo adequado permite o uso mais eficiente da calagem, adubação e de
outras práticas agronómicas (Mattos e Cardoso 2003).

4.1.9. Qualidade e armazenamento do material de propagação

O material usado para a propagação da mandioca são as estacas e, segundo (Freire, 2003)
devem ter as seguintes características:

• Idade: devem ser usadas estacas com idade compreendida entre 8 e 10 meses;

• Devem-se escolher estacas nas quais o diâmetro da medula é 50% do diâmetro da


estaca;

• Usar estacas da parte mediana da planta;

• As estacas devem ter um comprimento de 20 – 40 cm (30 cm) com 5 à 8 nós;

• Sanidade das estacas: usar estacas livres de pragas e doenças. Não usar estacas que
tenham sido atacadas por ácaro verde e/ou por viroses.

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O local de armazenamento das estacas deve estar protegido de sol e do vento, a uma
temperatura de aproximadamente 20º C e humidade relativa cerca de 80%. Deve-se
armazenar estacas compridas antes de cortar para diminuir a desidratação O período
máximo de armazenamento em condições adequadas é de aproximadamente 8 semanas
(Freire, 2003).

As estacas podem ser armazenadas na posição vertical ou horizontal:

• Na posição vertical, as estacas podem ser amarradas em molhos, devendo as partes


mais velhas (basal) estar ligeiramente enterradas a uma profundidade de
aproximadamente 1 cm e os nós devem estar virados para cima;

• No armazenamento horizontal, pode-se colocar os caules amarrados em molhos


debaixo de uma zona com bastante sombra e arejada (Freire, 2003).

4.1.10. Plantação
O plantio deve ser feito no início das chuvas. As estacas devem ser retiradas de plantas sãs
e apenas da base do caule principal, os ramos e as partes terminais do caule dão origem a
plantas pouco produtivas. Como o corte de ramos prejudica a produção, as estacas devem
ser retiradas de plantações a serem colhidas brevemente (Da Costa e Ferrinho, 1964).

Segundo Freire (2003), as estacas podem ser plantadas nas posições vertical, inclinada ou
horizontal. Na posição inclinada, as raízes tendem a se desenvolver inclinadas, desta
maneira a operação da colheita é facilitada porque quase todas as raízes se situam a 10-20
cm abaixo do solo. Na posição vertical, as raízes desenvolvem-se verticalmente o que
dificulta a colheita, principalmente nos solos pesados. E na posição horizontal a colheita
torna-se mais fácil ainda que na posição vertical. No acto da plantação, os gomos devem
estar voltados para cima.

Em cultivo misto, aconselham-se os seguintes compassos: 1,5 x 1m ou 1,5 x 1,5m,


principalmente nos solos franco-argilosos ou mistos à argilosos. Em condições de cultivo
puro e principalmente em solos arenosos aconselha-se o compasso de 1 x 1m (Freire,
2003).

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4.1.11. Tratos Culturais


Segundo Freire (2003), a mandioca é muito sensível à concorrência com infestantes durante
os primeiros 3 à 4 meses, quando a folhagem ainda não cobre o solo. O método mais usado
no controle de infestantes é a sacha manual. O número de sachas depende dos seguintes
factores: fertilidade do solo, densidade das plantas, época de plantação, variedades
utilizadas. De um modo geral, a cultura da mandioca requer pelo menos duas sachas em
alturas críticas.

Quando a planta tiver cerca de 40 a 50 cm deve-se proceder à amontoa, é nesta ocasião que
se aproveita para se fazer a sacha. Em virtude de expor a terra à erosão e de só se colher
durante o 2° ano, é por vezes útil se fazer consociação com outras culturas para proteger o
solo e melhorar o rendimento unitário (Da Costa e Ferrinho, 1964).

As plantas mais usadas em consociação são milho, feijão, batata doce, bananeira e outras
culturas que cobrem o solo para ajudar a reduzir a infestação e o número de sachas. No
caso da consociação não se faz a amontoa. Uma maneira de diminuir as sachas, é usar
variedades de rápido crescimento inicial, abundante ramificação e cobertura de folhas (Da
Costa e Ferrinho, 1964; Freire, 2003).

Devido ao seu grande esgotamento dos solos, a mandioca deve ocupar o último lugar no
ciclo de rotação antes do pousio. No seu sistema de rotação devem-se incluir cereais,
leguminosas e hortícolas (Freire, 2003).Segundo Da Costa e Ferrinho (1964), podem-se
usar várias culturas em rotação; dentre as quais se podem citar:

a) amendoim – milho – mandioca e milho (consociadas)


b) cana de açúcar (6 anos) – mandioca, milho e leguminosas. Nesta rotação colhe-se o
milho ao 7° ano e a mandioca ao 8°.

4.1.12. Colheita
Por tradição, nos diferentes países tropicais, a mandioca tem sido deixada no solo e, só é
colhida quando necessário. A colheita não é fixada por uma época de maturação, visto que
a raízes engrossam e aumentam a percentagem de amido durante muitos meses; no entanto,
a colheita deve se fazer antes delas atingirem o seu peso máximo pois nessa altura são
muito duras, ou seja, secas e fibrosas. Depois de colhida, logo é processada (limpa-se bem,

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descasca-se e põe-se a secar) com um longo período de conservação (Da Costa e Ferrinho,
1964; COPR, 1982).

Este método é vantajoso quando não se conhece ao certo o período de maturação mas pode
trazer problemas em regiões onde há uma considerável disputa do uso da terra, uma
crescente susceptibilidade a perdas causadas por patógenos, assim como um decréscimo da
palatabilidade e da quantidade extraída (COPR, 1982).

Em virtude da sua fácil deterioração, a colheita diária deve ser igual a quantidade a
consumir ou a tratar nesse mesmo dia. A produção varia consoante os solos, clima e
altitude, ataque de viroses entre outros; 100 kg de mandioca fresca dão cerca de 85 kg de
mandioca descascada e 23 kg de mandioca seca (Da Costa e Ferrinho, 1964).

4.2. Descrição da Doença do Listrado Castanho da Mandioca

4.2.1. Distribuição
Segundo Hillocks e Thresh (2000), a doença do Listrado Castanho da Mandioca foi
primeiro descrita por Storey em 1936 nos montes Usumbara, Tanganyika (hoje Tanzânia).
Foi primeiramente observada em 1930, no distrito de Amani (Tanzânia) e, a partir de 1935
é que se reconheceu que era transmissível e cujo sintoma é associado à necrose da raiz e em
casos mais severos à podridão da raiz. Nichos, (1950) citado por Hillocks e Thresh (2000),
mais tarde reportou que esta doença era endémica em todas as zonas do litoral de África do
Este, que cultiva mandioca, ao Nordeste da fronteira do Quénia a Moçambique e espalhou-
se a baixas altitudes em Malawi.

Supõe-se que a manifestação da doença somente ocorre entre 0 a 1000 m de altitude e são
acentuados mais na estação fresca que na quente e, as temperaturas baixas poderiam ser
responsáveis pelo desaparecimento das variedades mais sensíveis (Silvestre e Arraudeau,
1983). No Sul de Tanzânia, CBSD é comum a altitudes abaixo de 300 m e raro a altitudes
acima dos 500 m, onde a distribuição natural parece não ocorrer (Hillocks e Thresh, 2000).

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Em Moçambique a ocorrência da virose do CBSD, vulgarmente conhecida como “Podridão


Castanha da Mandioca”, foi observada pela primeira vez em 1995 na Estação Agrária de
Umbeluzi e desde então, somente em 1999 é que foi reconhecida como uma virose (INIA,
2004). Em 1999, o CBSD foi reportado em Moçambique e mostrou-se prevalecente
causando enormes danos nas províncias nortenhas de Nampula e Zambézia (Legg e
Hillocks, 2003).

Os resultados da avaliação feita entre 1999 e 2001 nos distritos das províncias de Nampula
e Zambézia, enfatizam a prevalência da doença (INIA,2004 citando Thresh e Hillocks,
2002). Segundo o INIA (2004), estudos feitos desde 2001 a 2003 em Cabo Delgado,
mostraram que esta foi a província que teve menor prevalência da doença. Pouco se sabe
sobre esta doença em Moçambique e noutros locais.

4.2.2. Agente causador


Desde que o CBSD foi pela primeira vez descrito assumiu-se como sendo um vírus o seu
agente causador, o Vírus do Listrado Castanho da Mandioca (CBSV, do inglês “Cassava
Brown Streak Virus”), na ausência de qualquer agente patogénico visível. O vírus é
indicado como sendo membro da família do recém reconhecido género Ipomovirus da
Família Potyviridae. O nome do género Ipomovírus deriva do nome genérico da batata
doce: Ipomoea; que é o hospedeiro deste membro “sweet potato mild mottle virus” -
SPMMV (Hillocks e Thresh, 2000 citando G. Foster, artigo não publicado).

O membro exemplar do género é o “ mild mottle virus” (vírus do mosqueado) de batata


doce que é transmitido pela mosca branca. Os adultos (Figura 1), no geral, são encontrados
na face inferior das folhas da parte apical da planta. Enquanto que as ninfas (fase jovem do
insecto, Figura 2) podem ser encontradas na face inferior das folhas mais velhas. Tanto os
adultos como as ninfas sugam a seiva das folhas (Farias, 2000).

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Figura 1. A mosca branca (Foto: Salvador, R. Depto.Técnico-Ihara)

Figura 2. Ninfa de mosca branca (Foto: Salvador, R. Depto.Técnico-Ihara)

Na mandioca, a mosca branca pode ocasionar dois tipos de danos: directo, pela sucção de
seiva e acção toxicogênica, além da liberação de secreções açucaradas, favorecendo o
desenvolvimento de um fungo chamado fumagina reduzindo a área foliar e a taxa
fotossintética, e portanto a produção; e indirecto, pela transmissão do vírus (Farias, 2000).

A mosca branca alimenta-se do floema das plantas, extraindo aminoácidos e carboidratos


necessários à sua sobrevivência. Esta forma de alimentação especializada faz com que estes
insectos sejam muito eficazes em adquirir e transmitir vírus associados aos tecidos
vasculares das plantas (Haji et al, 1997).

A partícula viral é caracterizada por possuir viriões flexíveis e filamentosos (Anexo I,


figura 1.2) sem envelope, de 750-950 nm de comprimento e 12-15 nm de diâmetro. Os
viriões contêm 5% de ácido nucléico e 95% de proteína (Silvestre e Arraudeau, 1983).

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4.2.3. Sintomas
Todas as partes da planta da mandioca podem mostrar sintomas de infecção de CBSV , mas
quanto aos aspectos e níveis do sintoma manifestados depende das condições ambientais,
estágio de crescimento da planta relativa ao período de infecção e à sensibilidade da
cultivar (Hillocks e Thresh, 2000). A acção dos vírus, de uma forma geral, apresenta como
sintomas característicos o amarelecimento total da planta, nanismo acentuado e
enrugamento severo das folhas terminais da planta (Farias, 2000).

Sintomas foliares – nas folhas desenvolvidas, há um amarelecimento clorótico em forma de


mosaico, primeiro ao longo da margem das nervuras secundárias, mais tarde afecta as
nervuras terciárias (Figura 3). Em estágios avançados do desenvolvimento da doença a
maior parte da lâmina foliar pode ser afectada. As folhas afectadas pela doença
permanecem ligadas à planta por várias semanas. Durante a estação quente, os sintomas
não aparecem na recém formada folhagem (Hillocks e Thresh, 2000).

Figura 3. Sintomas do CBSD nas folhas (INIA, 2004)

Sintomas do caule – não estão associados duma forma consistente à doença, excepto em
variedades altamente sensíveis e podem variar dependendo da cultivar. Em tecidos verdes e
jovens do caule lesões de cor púrpura/castanha podem ser observadas na superfície exterior
onde podem ser vistos como tendo penetrado no córtex ou expondo-se no exterior da casca
(Hillocks e Thresh, 2000).

Depois da queda das folhas, aparecem lesões necróticas nas cicatrizes da folha devido a
senescência normal. Em infecções severas estas lesões desenvolvem-se ao ponto de matar
os gomos axilares que se encontram na fase dormente (Figura 4). Uma vez os gomos

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axilares mortos, ocorre o “die back” ou seja, verifica-se um encolhimento geral dos nós e
segue-se a morte do tecido do entrenós de modo que o ramo morre a partir da ponta em
direcção a parte baixa (Hillocks e Thresh, 2000).

Silvestre e Arraudeau (1983), descrevem os sintomas do caule da seguinte maneira: estrias


negras ou castanhas de alguns milímetros de comprimento que se alongam e se reúnem nos
tecidos dos ramos mais velhos do caule. Nos estágios mais avançados, observam-se lesões
necróticas e a morte dos gomos terminais.

Figura 4. Sintomas do CBSD no caule (INIA, 2004)

Sintomas radiculares – os sintomas das raízes normalmente desenvolvem-se depois dos


sintomas foliares e o período entre a infecção e o aparecimento de necroses na raiz parece
também, ser dependente da cultivar. Os sintomas nas raízes são variáveis na parte
superficial das raízes e podem parecer como contracções radiais e/ou marcas e fissuras na
superfície da casca. O tecido a volta dessas marcas é acastanhado ou preto. Por baixo das
marcas, o córtex é necrótico (Hillocks e Thresh, 2000).

Os sintomas internos (Figura 5) são de um amarelo/acastanhado com necroses vivas do


tecido contendo o amido, por vezes com estrias azuladas/pretas. As bases parecem manter-
se discretas, embora em variedades sensíveis quase toda reserva em amido possa estar
afectada. Só em fases adiantadas de infecção e quando há invasões de organismos
secundários, provoca o definhamento e podridão. Em alguns casos, as raízes parecem

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saudáveis por fora sem evidências de contracções ou redução de tamanho mas quando se
faz um corte tornam-se necróticas (Hillocks e Thresh, 2000).

Figura 5. Sintomas do CBSD nas raízes (INIA, 2004)

4.2.4. Transmissão e propagação


Storey (1936) citado por Hillocks e Thresh (2000) mostrou que o agente causador do
CBSD era transmissível através de enxerto e as estacas provenientes das plantas afectadas
resultam em sintomas nas folhas. Como a mandioca é cultura de propagação vegetativa, a
doença é introduzida facilmente nas novas áreas através de material infectado. Na maioria
das variedades susceptíveis, nas condições de planície sintomas severos são visíveis logo
na fase inicial do estabelecimento da doença.

Entretanto Hillocks e Thresh (2000), citando outros pesquisadores (Storey 1939; Lennon et
al 1986; Bock 1994), afirmam que os mesmos acreditavam que doença era causada pelo
vírus transmitido pelo insecto e o vector provável era mosca branca (Bemisia sp). Mas com
ensaios de campo, observaram que não eram capazes de transmitir CBSD com a mosca
Branca, Bemisia tabaci (conhecida como sendo transmissora do Mosaico Africano da
Mandioca), ou através de espécies de afídeos como era o caso de Myzus persicae Sulz.

Bock (1994) citado por Hillocks e Thresh (2000), sugeriu que Bemisia afer, uma segunda
espécie da mosca branca, é o mais provável candidato e recentes progressos na
classificação do agente causador como um Ipomovirus, uma vez mais aponta em direcção
da mosca branca como vector.

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Thompson (2001), nas suas experiências com Bemisia tabaci como um possível vector do
vírus da doença do listrado castanho da mandioca, não conseguiu transmitir o vírus e
concluiu que este insecto não é o vector do CBSV. Sendo assim, o agente transmissor do
CBSV continua a ser um mistério por desvendar. Ensaios sobre a transmissão do vírus do
listrado castanho da mandioca, continuam a ser realizados na Tanzânia e no Reino Unido.

4.2.5. Maneio
O método básico para o controle do CBSD é a selecção de material de plantação através
das plantas mães sem sintomas. A saúde do material em stock precisa de ser mantida
através de contínua selecção e supressão de material infectado que aparece na fase de
novos rebentos. Para que este processo seja bem sucedido, é necessário que se saiba a
quantidade de doenças que afectam a mandioca existente à volta do grau de infestação
(Hillocks e Thresh, 2000).

Contudo, isto pode ser vantajoso para as áreas de baixa infestação. Para as áreas de alta
infestação na zona costeira, a libertação de material de plantação isento de vírus precisa de
ser combinada com o uso efectivo de cultivares que manifestam certo grau de resistência.
Cultivares locais tais como Nanchinyaya e Chigoma Mafia que parecem ser tolerantes a
infecções e que parecem retardar o desenvolvimento de necroses das raízes poderiam ser
usadas (Hillocks e Thresh, 2000).

Deve-se eliminar restos culturais logo de imediato após a colheita e plantas invasoras das
proximidades da área de preferência, antes do plantio (Berling e Lebiush-mordechi,1995).
Evitar plantio tardio, ou seja plantar no início da época chuvosa e fazer rotação de culturas
(Msikita et al, 2000).

4.3. Descrição da Área de Estudo

4.3.1. Características gerais da província de Cabo Delgado

A província de Cabo Delgado localiza-se a norte de Moçambique, entre as coordenadas de


latitude de extremo norte 10° 29’ 12” a extremo sul 14° 01’ 00” e longitude extremo este

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final 22


Avaliação do Impacto do Listrado Castanho da Mandioca (Manihot esculenta Crantz) em Palma e Mocímboa da Praia - Cabo Delgado

40° 35’ 50” a extremo oeste 35° 58’ 00”, com uma superfície total de 82 625 km2. Faz
limite a norte com Tanzânia, a sul com a província de Nampula, a leste com Oceano Índico
e a oeste com a província do Niassa. Na região norte predominam solos argilosos de
fertilidade média. (DCM, 2005).

De acordo com o Directório Comercial de Moçambique (2005), província é constituída por


16 distritos, 55 postos administrativos e 135 localidades; conta com 1 553 000 habitantes
dos quais 753 000 são homens e 800 000 são mulheres. A capital provincial apresenta:
temperaturas máxima de 42.7°C, média de 23,7°C e mínima de 12,8°C e, humidade média
do ar 74,3%. O clima é tropical, com influência da monção de Verão e com duas estações
diferenciadas, uma seca e outra húmida, esta última no Verão.

Segundo o Relatório Preliminar da missão de avaliação (2003), Cabo Delgado apresenta


três zonas agro-climáticas, a saber:
• A Zona 5 que compreende as terras do planalto de Mueda, com altitudes
compreendidas entre 500 e 1.000 m e pluviosidade média anual na ordem dos 1.000
mm; os distritos compreendidos nesta zona são: Mueda e Muidumbe;

• A Zona 6 com altitudes que rondam os 500 m e pluviosidade media anual


compreendida entre 900 e 1.200 mm, compreende o distrito de Balama;

• A Zona 10 que corresponde à maior parte da província de Cabo Delgado com


altitudes abaixo dos 500 m e uma pluviosidade media anual entre 800 e 1000 mm
abrange os distritos de Pemba-cidade, Ancuabe, Chiure, Ibo Macomia, Mecufi,
Meluco, Mocimboa da Praia, Montepuez, Namuno, Nangade, Palma, Pemba-
Metuge e Quissanga.

Na zona 10, destacam-se os distritos de Palma e Mocímboa da Praia como sendo os centros
de produção de mandioca e contraditoriamente, é nestes distritos onde há maior incidência
da doença do listrado castanho da mandioca (Anexo I, figura 1.1). Apesar da elevada
incidência da doença, os camponeses continuam a utilizar e a distribuírem o material local
para plantio, para as diferentes zonas da província e do país.

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final 23


Avaliação do Impacto do Listrado Castanho da Mandioca (Manihot esculenta Crantz) em Palma e Mocímboa da Praia - Cabo Delgado

4.3.2. Características gerais dos distritos de Palma e Mocímboa da Praia

MOCÍMBOA DA PRAIA

O distrito de Mocímboa da Praia situa-se no norte da província de Cabo Delgado (Figura


2
6), ocupando uma área de 3 548 km e com uma densidade populacional de
aproximadamente 23 habitantes por km2 o que representa uma densidade populacional
relativamente baixa, pelo que não se reportam conflitos ou disputas significativas pela
posse de terra e outros recursos naturais (DCM, 2005).

Figura 6. Localização e Divisão administrativa dos distritos de Palma e Mocímboa da Praia (produzido
por P.Sithoe, 2004)

Na produção de culturas alimentares os factores limitantes são: seca, insuficiência de


sementes, pragas e doenças, falta de insumos agrícolas, baixa qualidade do solo, falta
de hábito de cultivo e cheias. Mocímboa é acessível por estrada, via marítima e, em
termos de telecomunicações por telefone e ligações via rádio (DCM, 2005).

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final 24


Avaliação do Impacto do Listrado Castanho da Mandioca (Manihot esculenta Crantz) em Palma e Mocímboa da Praia - Cabo Delgado

PALMA

O distrito de Palma situa-se no norte da província de Cabo Delgado (Figura 6),


2
ocupando uma área de 3 439 km e com uma densidade populacional de
aproximadamente 14 habitantes por km2. Palma é um distrito com baixa densidade
populacional e as autoridades administrativas ainda não registaram disputas
significativas pela posse de terra e outros recursos naturais (DCM, 2005).

Na produção de culturas alimentares os factores limitantes são: pragas e doenças,


escassez de sementes, seca, falta de hábito de cultivo, falta de alfaias e dificuldade em
obter empréstimo. Palma é acessível por estrada, via marítima e, em termos de
telecomunicações por ligações via rádio (DCM, 2005).

Tabela 5. Situação geral dos distritos


Distritos População Postos Área Infra-
total administrativos cultivada estruturas(*)
(habitantes) pelo
sector
familiar
(ha)

Mocímboa 82 550 Mocímboa da 11 628 1 HR, 1 CS,


da Praia Praia-sede, Diaca 2 PS, 1 EP2 e
e Mbau 36 EP1

Palma 50 038 Palma-sede, 4 474 3 CS, 3 PS,


Olumbi,
1EP2 e
Pundenhar e
18 EP1
Quionga

Fonte: Directório Comercial Moçambique, 2005 (adaptado).

(*) HR – hospital rural, CS – centro de saúde, PS – posto de saúde, EP1 e EP2 – escolas primárias do
1° e do 2° grau respectivamente.

O acesso à água potável é uma necessidade fundamental tanto para o distrito de Palma
como para o distrito de Mocímboa da Praia e, as comunidades rurais não tendo acesso a
este recurso em condições adequadas (poços), abastecem-se com a água dos rios
(DCM, 2005).

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final 25


Avaliação do Impacto do Listrado Castanho da Mandioca (Manihot esculenta Crantz) em Palma e Mocímboa da Praia - Cabo Delgado

Nos dois distritos, foi feita a recolha de dados ao nível da Direcção Distrital e
Provincial de Agricultura, ONGs e Serviços de Extensão para se obter dados sobre: os
preços de venda dos principais produtos alimentares básicos nos últimos dois anos
(Tabela 6), a problemática do CBSD, a variação do acesso aos produtos básicos e aos
insumos agrícolas, o cronograma das principais actividades agrícolas das principais
culturas e a rede de comercialização e vias de acesso.

Tabela 6. Preços de venda dos principais produtos básicos em Palma e Mocímboa da Praia
Produtos Preços (MZM/Kg)
Mandioca 500 a 1 000
Milho 1 500 a 3 000
Mapira 1 000 a 2 000
Feijões 3 000 a 5 000
Amendoim 5 000 a 7 000
Arroz (casca) 2 000 a 3 500
Gergelim 4 000 a 7 000
Fonte: Andique (2005), DDA de Palma

Segundo estas entidades (DPADR, DDADR, ONGs e Serviços de Extensão):


• Os dois distritos não produzem meixoeira, só têm pequenas amostras. As
Direcções Distritais de Agricultura operam em parceria com a GRNB e o
MICOA.

• Quanto a problemática do CBSD, o INIA de 2 em 2 anos faz a avaliação da


doença nos distritos seleccionados como partes da amostra. As direcções
distritais de agricultura recomendam aos camponeses, como métodos de
combate ao CBSD, recolha e queima do material afectado, selecção de material
são para o plantio. Para além do CBSD há também o Mosaico Africano da
Mandioca nos distritos.
• Não houve distribuição de estacas melhoradas em Mocímboa da Praia e
segundo o DDA de Palma, no mesmo distrito, haviam estacas melhoradas na
zona de Quionga mas houve uma estiagem e as estacas secaram totalmente e a
DDADR teve que apoiar as populações de Quirindi e Quiwa, distribuindo
estacas locais consideradas resistentes.

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final 26


Avaliação do Impacto do Listrado Castanho da Mandioca (Manihot esculenta Crantz) em Palma e Mocímboa da Praia - Cabo Delgado

• Os meses de escassez do milho e do feijão (produtos básicos) vão de Dezembro


a Março; a mandioca é o alimento básico e nunca há falta. Açúcar, óleo, carne
ou peixe pode-se encontrar quase sempre nos distritos mas para adquiri-los, os
AFs precisam de ter garantidas as suas fontes de rendimento.

• O acesso aos insumos e instrumentos agrícolas é dificultado porque há poucas


lojas e não há fornecedores. As populações vivem das suas sementes guardadas
e de ajuda ou troca. Por vezes, quando há condições, as DDADR fornecem
sementes melhoradas provenientes do Posto Agronómico de Mapupulo, no
distrito de Namuno, ou do Posto Agronómico de Nampula.

• Há problemas de vias de acesso, o que dificulta a comercialização agrícola e a


falta de intervenientes comerciais. Assim, muitos dos produtores comercializam
os seus produtos na vizinha Tanzânia.

A subida de preços dos principais produtos básicos dificulta o acesso por parte das
famílias rurais aos mesmos. A falta de insumos agrícolas, de fornecedores ou
intervenientes comerciais, a falta de associações e as vias de acesso dificultadas,
prejudicam a produção e comercialização agrícola.

Tabela 7. Calendário de actividades agrícolas das principais culturas


Actividades Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago
Preparação 1,5,7 1,2,5 2 3 4,6 11
de terras 9,10 7,9,10 12
Plantar ou 1 2,7 3,4 11
semear 9,10 6,12
Sachar ou 1,2,7 1,2,7
mondar 9,10 9,10
12 12
Colheita 1 4 3,11 2,9 2,4 4,6 11
10,11 7,9 11
10,12
Culturas: 1=Mandioca 2=Milho 3=Batata doce 4=Feijão Nhemba 5=Feijão Boer 6=Outros feijões
7=Mapira 8=Meixoeira 9=Amendoim 10=Arroz 11=Hortícolas 12=Gergelim

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final 27


Avaliação do Impacto do Listrado Castanho da Mandioca (Manihot esculenta Crantz) em Palma e Mocímboa da Praia - Cabo Delgado

5. METODOLOGIA

5.1. Selecção da área de estudo e amostragem

Para a selecção das áreas de estudo (distritos) teve-se em conta, o nível de incidência da
doença, através dos levantamentos anteriores (2001 a 2003) realizados pelo INIA nos
distritos de Palma e Mocímboa da Praia, a sua localização geográfica (litoral), e
facilidade de acesso.

Para o presente trabalho, elaboraram-se questionários (Anexo III) previamente


formulados e codificados adaptados pelo INIA (2004) com base no Relatório do
Projecto (INIA- IITA/SARRNET, 2002), acompanhados de uma escala de severidade
do Listrado Castanho da Mandioca na raiz adaptada pelo INIA em 2003 (ANEXO II-
figura 2.1), incluindo o levantamento anterior de incidência do CBSD nos dois distritos.

Não foi possível se fazer o levantamento do CBSD em 2004 nos distritos nortenhos da
província de Cabo Delgado, como estava previsto ser feito pelo INIA e parceiros
(Cooperação Espanhola e DPADR), por isso teve-se como base os levantamentos
anteriores.

Este trabalho é uma pesquisa exploratória que visa fornecer ao pesquisador um maior
conhecimento sobre o assunto. A colecta de dados relativos a alguns elementos da
população (Agregados Familiares), foi realizada por meio de uma amostra não
probabilística por julgamento, do tipo “bola de neve” (snow ball).

Uma amostragem não probabilística é aquela em que a selecção dos elementos da


população para compor a amostra depende ao menos em parte do julgamento do
pesquisador ou do entrevistador no campo, sendo portanto não aleatória. Na amostra
por julgamento ou intencional, o pesquisador usa o seu julgamento para seleccionar os
membros da população que são boas fontes de informação precisa (Mattar, 1996).

Segundo Bogdan e Biklen (1994), a técnica de "bola de neve" consiste em : uma pessoa
ir indicando outra, assim, sucessivamente até termos a sensação de que conhecemos
todo o grupo pois os fios-condutores das histórias de vida se repetem e é a repetição

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final 28


Avaliação do Impacto do Listrado Castanho da Mandioca (Manihot esculenta Crantz) em Palma e Mocímboa da Praia - Cabo Delgado

que favorece o conhecimento e a delineação de um grupo social. Esta técnica depende


da variação das respostas dos entrevistados.

Escolheu-se este tipo de amostragem devido a sua facilidade operacional e aos baixos
custos comparando com a amostragem probabilística que seria inadequada, apesar de
esta ser mais precisa.

5.2. Recolha e análise estatística de dados

Foram considerados 4 locais (aldeias) por distrito como partes da amostra, onde a
selecção dos participantes envolveu um grupo restrito de indivíduos, isto é 52
agregados familiares (52 AFs) que foram entrevistados, para minimizar, tanto quanto
possível, a discrepância entre os resultados obtidos, tendo em conta as limitações
financeiras. Entrevistou-se 26 representantes dos AFs produtores de mandioca em cada
distrito.

No distrito de Palma, fez-se as entrevistas nas aldeias de Matapata, Ncumbi (zona de


grande produção de mandioca), Ncalanga e Mute. Em Mocímboa da Praia, fez-se as
entrevistas nas aldeias de Nango, N’totwe, Mangõma e 30 de Junho (Tabela 8).

Tabela 8. Número de agregados familiares entrevistados nas aldeias por distrito


Distritos Aldeias Numero de Agregados Familiares
Mute 7
Matapata 8
PALMA Ncalanga 4
Ncumbi 7
Mangoma 7
MOCIMBOA DA PRAIA Nnango 4
Ntotwe 5
30 de Junho 10
Total 8 52

O trabalho de campo realizou-se num período de aproximadamente duas semanas. Para


análise dos dados recolhidos no campo, fez-se a avaliação através dos pacotes
estatísticos SPSS 11.0 for Windows e Excel. Após a recolha de dados, fez-se a
recodificação dos questionários para facilitar a análise dos mesmos, posterior
introdução no Excel e, organização e análise no pacote SPSS..

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final 29


Avaliação do Impacto do Listrado Castanho da Mandioca (Manihot esculenta Crantz) em Palma e Mocímboa da Praia - Cabo Delgado

As variáveis chaves constantes no questionário em anexo, para as famílias inquiridas


são: características demográficas, características das suas machambas, características
das variedades cultivadas, destino da produção, outras fontes de rendimento, impacto
da doença sobre a produção e medidas de mitigação, distribuição, consumo e
comercialização da mandioca.

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final 30


Avaliação do Impacto do Listrado Castanho da Mandioca (Manihot esculenta Crantz) em Palma e Mocímboa da Praia - Cabo Delgado

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
6.1. Dados Gerais

6.1.1. Características e actividades económicas das Famílias

Sexo e idade dos representantes dos AFs por distrito: Dos 52 entrevistados, 43 eram do
sexo masculino e 9 do sexo feminino e, maior parte dos representantes do AF tinha
idade superior a 40 anos (Figuras 7 e 8, Anexo IV- tabelas 4.1 e 4.2).
30

20

10
Numero de AFs

Sexo do entrevistado

masculino

0 feminino
Palma Mocimboa da Praia

Distritos

Figura 7. Número de entrevistados por sexo

20

10

Idade do chefe do AF
Numero de AFs

18 anos

19-40 anos

0 >40 anos
Palma Mocimboa da Praia

Distritos

Figura 8. Número de representantes do AF por idade

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final 31


Avaliação do Impacto do Listrado Castanho da Mandioca (Manihot esculenta Crantz) em Palma e Mocímboa da Praia - Cabo Delgado

Número de pessoas por AF e nível de escolaridade do chefe do AF: Os AFs estavam


constituídos por um número máximo de 12 pessoas no distrito de Mocímboa da Praia
(3,8% dos entrevistados) e 8 pessoas no distrito de Palma (1,9% dos entrevistados)
como se pode observar na Tabela 9. A maioria dos entrevistados, ou seja 29
entrevistados, não sabia ler nem escrever (55,7%), 14 (cerca de 27%) frequentaram 5ª a
9ª classes, outros 8 (15,3%) frequentaram 1ª a 4ª classes e somente 1 (2%) é que não
frequentou a escola mas sabia ler e escrever (Figura 9). Dos 52 AFs, somente 4 eram
membros duma associação e os restantes 48 não.

Tabela 9. Número de pessoas que compõem o AF por distrito


N° de pessoas por AF por distrito
Distritos 1 2 3 4 5 6 7 8 10 12 Total
Palma 1 4 5 8 3 4 1 26
Mocímboa da Praia 1 3 1 2 9 4 1 3 2 26
Total 1 1 7 6 10 12 8 2 3 2 52

20

10
Numero de AFs

Distritos

Palma

0 Mocimboa da Praia
An

1a

5a

N
ao
-

-
al

4a

9a
fa

f re
b

cl

cl

qn
et

as

as
o

t.
se

se

a
co

co

es
m

co
pl

pl

la
t.

t.

Figura 9. Nível de escolaridade do chefe do AF.

Machambas dos AFs: Todos os entrevistados cultivavam em sequeiro. No distrito de


Mocímboa da Praia, a maioria (14 AFs) possuía 2 machambas enquanto que em Palma,
a maioria (13 AFs) possuía 3 machambas (Tabela 10).

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final 32


Avaliação do Impacto do Listrado Castanho da Mandioca (Manihot esculenta Crantz) em Palma e Mocímboa da Praia - Cabo Delgado

Tabela 10. Machambas cultivadas pelo AF


MOCÍMBOA DA PRAIA PALMA
Número de Número de Total de mach. por Número de Total de mach. por
mach. AFs AF AFs AF
1 machamba 2 2 2 2
2 machambas 14 28 8 16
3 machambas 8 24 13 12
4 machambas 1 4 3 39
5 machambas 1 5 0 0
Total 26 63 26 69

Do total das machambas por distrito, em Palma 38 das 69 machambas são de solos
arenosos, 14 de solos mistos e 17 de solos pesados (nas zonas baixas, perto dos rios).
Em Mocímboa da Praia, 48 das 63 machambas dos AFs são de solos arenosos, 9 mistos
e 6 pesados (Anexo IV- tabela 4.3).

De uma maneira geral, estas machambas são cultivadas sem pousio durante 1 a 6 anos
nos distritos, como ilustram as figuras 10 e 11 e, quem toma conta das mesmas quase
sempre é o marido (Anexo IV- tabela 4.4).

≥30 anos 2

24 a 29 anos 0

18 a 23 anos 1
Tempo

Machambas por AF

13 a 17 anos 1

7 a 12 anos 7

1 a 6 anos 52

0 10 20 30 40 50 60
Numero de Machambas

Figura 10. Número de anos de cultivo sem pousio dos AFs por machamba em Mocímboa da Praia

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final 33


Avaliação do Impacto do Listrado Castanho da Mandioca (Manihot esculenta Crantz) em Palma e Mocímboa da Praia - Cabo Delgado

≥10 anos 0

7 a 9 anos 6
Tempo

Machambas por AF

4 a 6 anos 14

1 a 3 anos 49

0 10 20 30 40 50 60
Numero de Machambas

Figura 11. Número de anos de cultivo sem pousio dos AFs por machamba em Palma

As culturas mais praticadas pelos AFs nas suas machambas no distrito de Mocímboa da
Praia são, em ordem de importância, a mandioca, o milho, o feijão nhemba e a mapira
(Figura 12). No distrito de Palma as culturas mais praticadas são: mandioca, milho,
mapira e arroz; em ordem de importância (Figura 13). Estas culturas são também
importantes tanto para venda como para consumo dos AFs (Anexo IV- tabelas 4.15 e
4.16).

1
0 11
Mandioca
1
Milho
9
38 Batata doce
Feijao Nhemba
4
Outros feijoes
3
Mapira
Amendoim
Arroz
16 Cucurbitaceas
Gergelim
Ananas
3
Banana
24
Outros(Inhame,Cana doce, Caju)
17
1

Figura 12. Culturas praticadas na campanha 2003/2004 por machamba dos AFs em Mocimboa da Praia

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final 34


Avaliação do Impacto do Listrado Castanho da Mandioca (Manihot esculenta Crantz) em Palma e Mocímboa da Praia - Cabo Delgado

2
0
Mandioca
1
Milho
5 Batata doce
8
32 Feijao Nhemba
Outros feijoes
17 Mapira
Amendoim
Arroz
5 Cucurbitaceas
Gergelim
25 Ananas
Banana
22
Outros(Inhame,Cana doce, Caju)
2 4
14

Figura 13. Culturas praticadas na campanha 2003/2004 por machamba dos AFs em Palma

Variedades de mandioca em cultivo nas machambas dos AFs: As variedades de


mandioca mais usadas nos dois distritos são: Nanchinyaya, Chigoma Mafia,
Chinucungoe, Muendualoia, Ntchinumba e Nondje, em ordem de importância. Os AFs
preferem estas variedades, de uma maneira geral, por causa do seu sabor, consistência e
ciclo (Figuras 14.a), b) e c); Figuras 15.a), b) e c); Anexo IV- tabelas 4.17 e 4.18).

25

20
Numero de AFs

15 Doce
Intermedio
10 Amargo

0
e

ue
ia

du
a

i
a

de

no

e
an
o
ay

oi

gu
af

ng

ap
ba

on

tu
l

bu
ua
M
ny

su
Li
cu

Li

Nc
c
M
nd
hi

Li

as
nu
m
nc

ue

tin
go

i
Na

Ch

Bi
i
Ch

Variedades

Figura 14.a) Características das variedades de mandioca quanto ao Sabor- Palma

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final 35


Avaliação do Impacto do Listrado Castanho da Mandioca (Manihot esculenta Crantz) em Palma e Mocímboa da Praia - Cabo Delgado

30

25
Numero de AFs
20
Dura
15 Intermedia
Aguada
10

0 e

ue
ia

du
a

i
a

de

no

e
an
o
ay

oi

gu
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Na

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Ch

Variedades

Figura 14.b) Características das variedades de mandioca quanto a Consistência- Palma

30

25
Numero de AFs

20
Curto
15 Intermedio
Longo
10

0
e

ue
ia

du
a

i
a

de

no

e
an
o
ay

oi

gu
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Na

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Bi
i
Ch

Variedades

Figura 14.c) Características das variedades de mandioca quanto ao Ciclo- Palma

20
18
16
14
Numero de AFs

12 Doce
10 Intermedio
8 Amargo
6
4
2
0
oe

je

ao
ia

ba
e
a

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ba

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gu
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Ca

Variedades

Figura 15.a) Características das variedades de mandioca quanto ao Sabor- Mocímboa da Praia

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final 36


Avaliação do Impacto do Listrado Castanho da Mandioca (Manihot esculenta Crantz) em Palma e Mocímboa da Praia - Cabo Delgado

25

Numero de AFs 20

15 Dura
Intermedia
10 Aguada

0
oe

je

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Variedades

Figura 15.b) Características das variedades de mandioca quanto a Consistência- Mocímboa da Praia

20
18
16
14
Numero de AFs

12 Curto
10 Intermedio
8 Longo
6
4
2
0
oe

je

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ba
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ba

ua

i
ss
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up

m
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nd
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No

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Variedades

Figura 15.c) Características das variedades de mandioca quanto ao Ciclo- Mocímboa da Praia

As variedades cultivadas nas suas machambas que se mostraram resistentes foram


Liconde que era amarga, Nanchinyaya que diziam que resistia entre 3 a 4 anos sem ser
afectada pela doença, Mbuáni, Chigoma Mafia, Chinucungoe e Nkupukupo, estas 4
ultimas resistentes segundo o grau de ataque (Grau 2 a 3, Anexo II, figura 2.1) indicado
pelos entrevistados.

Nos dois distritos, os AFs cultivavam estas variedades (locais) porque diziam que não
apodreciam, eram doces, duras e de ciclo curto (menos que 9 meses). As variedades
amargas cultivadas eram para afugentar os animais que destruíam as suas machambas.
Segundo dados obtidos pelo INIA (2004) na província de Cabo Delgado, existe numa

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final 37


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associação significativa entre o grau de ataque e o sabor amargo e doce, ou seja, as


variedades com sabor amargo (41.9% das plantas analisadas) apresentavam mais
necroses na raiz em relação às variedades com sabor doce (24.7%). Neste contexto,
provou-se que existem mais perdas efectivas nas variedades com sabor amargo
(27.7%), comparativamente as variedades com sabor doce (12.6%). Por outro lado, na
zona litoral, notou-se que prevalecem mais necroses nas variedades de sabor amargo
(41.6%) que doce (23.1%).

È possível que para além de afugentar os animais das suas machambas, os Afs plantam
inconscientemente variedades amargas, para evitar maiores perdas causadas pela
podridão. Segundo os entrevistados, uma mesma variedade comporta-se de diferentes
maneiras, quanto ao sabor, consistência e ciclo, nos diferentes locais de plantio, daí a
preferência de uns por certas variedades e o diferente comportamento das mesmas nos
dois distritos como mostram as figuras anteriores 14 e 16.

Dos entrevistados, 61,5% não tinham conhecimento sobre as variedades de mandioca


resistentes ou tolerantes à doença e 38,5% tinham conhecimento através de observações
e comparações feitas nas suas machambas e nas dos outros (Figura 16). No geral, os
produtores de mandioca obtêm as estacas para o plantio através das produções das suas
próprias machambas e da troca.

18

16

14

12
Numero de AFs

Distrito
10

Palma

8 Mocimboa da Praia
Sim Nao

Conhecimento sobre variedades tolerantes

Figura 16. Conhecimento dos entrevistados sobre as variedades resistentes ou tolerantes a doença

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final 38


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Da mandioca produzida, os AFs preparam seus alimentos tanto para consumo como
para venda. Os Principais produtos obtidos do processamento da mandioca, seja para
venda ou consumo, nos distritos de Palma e Mocímboa da Praia, são os seguintes:

No distrito de Palma:
• Matchoba- lumino de magaga ou doce de magaga cozida com côco;
• Mandjundjo, Ncate e papas;
• Magungo- espécie de Limbumbunda, só que este é cozido em banho-maria;
• Macopa- magaga deixada de molho durante um dia com sal ou açúcar para
depois se cozer e consumir.

No distrito de Mocímboa são:


• Liipa- bebida alcoólica feita com farinha de magaga e farinha de milho;
• Muantranka- xima de farinha de magaga;
• Linheda- bebida doce de farinha de magaga e farinha de mapira;
• Ncate ou Micate- bolo de farinha de magaga que se prepara com 1/3 de farinha
de milho ou de trigo;
• Limbumbunda- Ncate feito com côco ralado e banana madura na falta de açúcar;
• Guálua e papas.

Produção animal: Dos 52 entrevistados, 61,5% (32 AFs) possuíam criação de animais
e 38,5% (20 AFs) não possuíam criação de animais (Figura 17, Anexo IV- tabela 4.5).
Nos dois distritos os AFs tinham como produção animal somente galinhas, patos e
cabritos. A maior parte dos AFs que tinha produção animal, criava galinhas (29 AFs)
para além do restantes animais e, possuíam geralmente 1 a 8 animais por AF (Anexo
IV- Figuras 4.3 e 4.4).

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final 39


Avaliação do Impacto do Listrado Castanho da Mandioca (Manihot esculenta Crantz) em Palma e Mocímboa da Praia - Cabo Delgado

35
32

30

25
Numero de Afs

20
20 18
Possui criacao de animais

14 Nao possui criacao de animais


15
12

10 8

0
Palma Mocimboa da Praia Total
Distritos

Figura 17. Produção animal nos distritos de Palma e Mocímboa da Praia

Fontes de rendimento do AF: As principais fontes de rendimento dos AFs eram a venda
dos produtos da machamba, emprego na machamba dos outros, venda da criação
animal e venda de bebidas (Figuras 18 a 21). Outras fontes de rendimento incluíam:
pesca, reparação de bicicletas, reformas (antigos combatentes) e fabrico de enxadas,
facas e machados. Os vários produtos que serviam para comercialização eram: peneiras,
esteiras, panelas de barro, troncos para construção e camas ou cadeiras feitas de corda
(Anexo IV- tabelas 4.6 a 4.13).

Nenhuma

Pouca
Importancia na renda familiar

Grande

Distrito
Muito grande
Palma

Mocimboa da Praia
0 10 20

Numero de AFs

Figura 18. Venda dos produtos da machamba

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final 40


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Nenhuma

Importancia na renda familiar


Pouca

Distrito
Grande
Palma

Mocimboa da Praia
0 2 4 6 8 10 12 14

Numero de AFs

Figura 19. Emprego na machamba de outros

Nenhuma

Pouca
Importancia na renda familiar

Grande

Distrito
Muito grande
Palma

Mocimboa da Praia
0 10 20

Numero de AFs

Figura 20. Venda da criação animal

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final 41


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Nenhuma

Pouca

Importancia na renda familiar


Grande

Distrito
Muito grande
Palma

Mocimboa da Praia
0 10 20 30

Numero de AFs

Figura 21. Venda de bebidas

Dos entrevistados, a maior parte (34,6%) vendia metade da quantidade de mandioca


produzida, 32,7% vendiam menos que a metade, 21,2% utilizavam-na apenas para
consumo caseiro e só 11,5% é que vendia mais do que a metade, dependendo da sua
produção (Figura 22).
14

12

10

6
Numero de AFs

4 Distrito

2 Palma

0 Mocimboa da Praia
M

N
en
en

et

ai
s
a

h
o

de

qu

um
s
qu

a
a
e

m
a

et
m

ad
et
a

e
de

Proporcao da quantidade vendida

Figura 22. Proporção da quantidade vendida da mandioca produzida

6.1.2. Impacto de Pragas e Doenças sobre a Produção da Mandioca

Conhecimento sobre a doença, CBSD, pelos AFs: Dos 52 AFs entrevistados, 45 tinham
conhecimento da existência da doença do listrado castanho da mandioca e 7 não tinham
(Tabela 11). Como não houve distribuição de estacas provenientes de variedades

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final 42


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tolerantes, é possível que também não tenha havido disseminação da informação sobre
a doença.

Tabela 11. Conhecimento sobre a doença do listrado castanho da mandioca por AF


Tem conhecimento da DISTRITO Total
doença (CBSD)?
Palma Mocímboa da Praia
Sim 23 22 45
Não 3 4 7
Total 26 26 52

Principais pragas, doenças e outros factores naturais: Podridão da mandioca,


cochonilha, elefantes, ratos, gafanhotos, macacos, porcos, aves de rapina, ácaros,
lesmas e caracóis, infestantes parasitas (Cassytha filiformis, Anexo II- figura 2.2), seca
e cheias, foram os principais problemas citados pelos AFs que afectam a produção de
mandioca nos dois distritos (Figuras 23 e 24).

30

25
Numero de AFs

20

15

10

0
Aves de rapina
Elefantes

Gafanhotos
Podridao

Cochonilha

Outros(lesmas,
Acaros

Ratos

Macacos

Porcos

infestantes
caracois e

parasitas)

Pragas, doencas e infestantes

Figura 23. Principais pragas, doenças e outros factores naturais que afectam a produção de mandioca em
Palma

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final 43


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30

Numero de AFs 25

20

15

10

Aves de rapina
Elefantes

Gafanhotos
Podridao

Cochonilha

Outros(lesmas,
Acaros

Ratos

Macacos

Porcos

infestantes
caracois e

parasitas)
Pragas, doencas e infestantes

Figura 24. Principais pragas, doenças e outros factores naturais que afectam a produção de mandioca em
Mocímboa da Praia

Os entrevistados, citaram em maior número a podridão, mesmo não sabendo com


exactidão os sintomas da doença, cochonilha, ratos, elefantes, macacos e porcos porque
são estes que mais afectam as suas machambas. Apesar da sua falta de informação, os
AFs associam a podridão ao estado em que a raiz se encontra (podre). Podem no
entanto, existir muitos outros factores que levam ao apodrecimento das raízes: outras
podridões radiculares, condições do solo e humidade, tempo de permanência da cultura
no solo, qualidade do material de plantação, entre outros.

Causas da podridão da mandioca: No distrito de Mocímboa da praia, 46% dos AFs não
sabiam quais as causas da podridão da mandioca, 35% diziam que era a cochonilha e o
modo como as senhoras tiram as folhas (novas) para fazer mathapa e, 19% diziam que
era a falta de rotação e o aquecimento do solo. No distrito de Palma, 77% não sabiam
quais as causas da doença, 12% diziam que era a cochonilha e 11% apontavam a falta
de limpeza e a presença de infestantes parasitas, como causas da doença.

Observou-se que a maior parte dos entrevistados (47 AFs) tinham conhecimento da
doença, ou seja associavam-na às diversas causas acima citadas que não correspondem
à descrição apresentada pelos pesquisadores da doença referidos no capítulo 4.2 do
presente trabalho.

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final 44


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Manifestação da doença nas diferentes partes da planta: Todos os AFs diziam que toda
planta era afectada pela doença. Foram citadas várias manifestações da doença nas
diferentes partes da planta; folhas tornam-se amarelas, murchas e/ou esbranquiçadas, o
caule enrugado, escuro ou esbranquiçado e a raiz apodrece mas, apenas 20%
descreveram correctamente os sintomas foliares, 2% os sintomas do caule e 27% os
sintomas radiculares. Estas disparidades na descrição da manifestação da doença nas
diferentes partes da planta, foram devidas à falta de informação e conhecimento sobre a
doença.

As manifestações da doença do listrado castanho da mandioca, descrita pelos


entrevistados e observadas nas machambas dos mesmos, poderia estar associada à
cochonilha (folhas e caule esbranquiçados ou murchos), ao ACMD ou solos
empobrecidos (folhas amarelas) e a outro tipo de podridões radiculares (raíz podre,
aguada e com cheiro irritante).

Maneio: No distrito de Mocímboa da Praia os AFs (81%) não sabiam quais eram os
meios de combate à doença, 15% diziam que queimavam estacas provenientes de
plantas doentes e 4% diziam que se encontrassem plantas doentes, apenas cortavam a
parte afectada e deixavam ficar a outra menos afectada. Em Palma, todos os
entrevistados não sabiam quais eram os meios de combate à doença. Tanto em
Mocímboa como em Palma, os AFs diziam que mesmo que não soubessem os meios de
combate, quando encontrassem uma planta doente na sua machamba de mandioca,
arrancavam-na, deitavam-na fora e punham outra planta no lugar.

De acordo com as DDADR, estes métodos de recolha e queima do material infectado


são os mais recomendados para o combate do CBSD, acompanhados da selecção do
material apropriado para plantio.

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7. CONCLUSÃO

A recolha de informação, a partir das 8 aldeias nos distritos de Palma e Mocímboa da


Praia, permitiu concluir que:

• A mandioca é a cultura mais importante nestes distritos tanto como alimento


bem como fonte de rendimento para as famílias rurais. Podem vender ou
consumir as raízes frescas, secas, e processadas em diversos produtos.

• A falta de conhecimentos sobre o CBSD e sobre as variedades tolerantes ou


resistentes à doença por parte dos AFs foram limitantes a este estudo.

• Os Afs continuam a usar o material local porque possuem fraca informação


sobre a doença e não foram contemplados na distribuição de estacas tolerantes à
doença.

• Os agregados familiares possuem fraca aplicação de práticas agronómicas


melhoradas: cultivam durante muito tempo sem pousio, não fazem rotações
adequadas, utilizam estacas de material local em repetidos ciclos de produção e
praticam sementeira ou plantio tardio. Os AFs plantam estacas provenientes das
suas machambas o que não garante que este mesmo material esteja isento da
doença; ou seja, dado que a mandioca de propaga vegetativamente, a doença é
facilmente introduzida e disseminada para novas áreas através deste material.

• A preferência das variedades cultivadas nas suas machambas deve-se ao sabor,


à consistência e ao ciclo das mesmas; ou seja, melhores são as variedades doces,
de consistência dura e ciclo curto. Alguns cultivam variedades amargas para
afugentar os animais que destroem as suas machambas.

• A fraca criação animal impossibilita aos AFs de usar os animais como fonte de
rendimento e faz com que a sua principal fonte de rendimento seja a venda dos
produtos provenientes das machambas.

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8. RECOMENDAÇÕES

Como propostas de soluções para a mitigação dos efeitos do listrado castanho da


mandioca, recomenda-se às entidades competentes, que se garanta a distribuição de
estacas de variedades tolerantes principalmente nas zonas de maior incidência da
doença e que se faça a disseminação, através dos serviços de extensão, da
informação sobre a doença e de melhores práticas agronómicas sustentáveis para
cada região.

Recomenda-se ainda, que se faça um investimento na participação do agricultor em


todas as fases de implementação ou introdução de novas tecnologias, para se
garantir o desenvolvimento, através da inovação localmente produzida satisfazendo
assim, as suas necessidades actuais e a acautelar o futuro.

Para posterior continuidade de investigação da doença, recomenda-se:

• que se faça um estudo pormenorizado de solos para se saber a sua relação


com esta doença;

• que se analise a relação entre o CBSD, as características das variedades de


mandioca, quanto ao sabor e consistência, e o comportamento destas
mesmas variedades nos diferentes tipos de solo;

• que se estude a presença de infestantes parasitas em campos cultivados para


se saber a associação das mesmas com o CBSD.

Iolanda Niza das Mercês Almeida Projecto Final 47


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9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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