Microeconomia
I Introdução
Iniciaremos com uma revisão sucinta da teoria da firma em mercados competitivos até
gerar a curva da oferta. Em seguida faremos a análise do equilíbrio parcial e do equilíbrio
geral. Para se realizar a análise do equilíbrio geral é necessário se fazer uma extensão simples
da teoria da decisão do consumidor: o caso em que o consumidor possui uma dotação inicial
e não uma riqueza.
Uma parte da microeconomia de grande interesse para os que trabalham com a área
financeira é da decisão em ambiente de incerteza, que é o ambiente natural das decisões
financeiras. Ao desenvolver esta teoria faremos algumas aplicações como a análise média-
variância, central à teoria moderna de finanças.
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Parte II
Teoria da Firma
Alguns insumos são medidos em fluxo como mão-de-obra e energia. Outros são
medidos em estoque como máquinas e equipamentos. Todavia, no processo produtivo,
estamos trabalhando com fluxo de insumos e fluxo de produto. Nesse caso trataremos o
insumo utilizado de um bem de capital como a depreciação que o bem de capital sofreu pela
sua utilização no processo produtivo.
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x = ( x1 , x2 " , xN )
produto possível.
y
y = f ( x)
Conj. de
produção
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I= {x f ( x ) = y}
x2
y = f ( x1 , x2 )
x1
Exemplos:
x2
a
b
x1
Neste caso
ax1 = bx2
ou
a
x2 = x1.
b
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x
y = min x1 , x2 , 3 .
4
2. Substitutos perfeitos
x2
y
b
y
x1
a
Neste Caso
ax1 + bx2 = y
ou
a y
x2 = − x1 + .
b b
3. Tecnologia Cobb-Douglas
Se ( y, x ) ∈ Y e se x′ ≥ x entao ( y , x′ ) ∈ Y (1.4)
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( )
Se ( x1 , x2 ) > x1′ , x2′ , então:
(
f ( x1 , x2 ) ≥ f x1′ , x2′ )
H 2 : convexidade – Se dois vetores de insumos podem produzir y então a combinação
(convexa) desses vetores também pode produzir y .
(
Seja xα = ( x1α , x2α ) = α x1 + (1 − α ) x1′ , α x2 + (1 − α ) x2′ . )
.x α
y = f ( x)
x′
(
f ( x1 , x2 ) = f x1′ , x2′ ) então:
( )
f α x1 + (1 − α ) x1′ , α x2 + (1 − α ) x2′ ≥ f ( x1 , x2 )
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∂ y ∂ f (x)
= .
∂ xn ∂ xn
Definição: a taxa de substituição técnica é a taxa em que se pode trocar um insumo por
outro mantendo o nível de produção constante, isto é, se y = f ( x ) e se permitimos variar
∂ f (x) ∂ f (x)
dy = dxk + dxn . (1.6)
∂ xk ∂ xn
∂ f (x) ∂ f ( x)
dxk + dxn = 0 . (1.7)
∂ xk ∂ xn
∂ f ( x)
dxk ∂ xn
=− . (1.8)
dxn ∂ f ( x)
∂ xk
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∂ y ∂ f (x)
= > 0, (1.9)
∂ xn ∂ xn
∂ 2 y ∂ f (x)
2
= < 0. (1.10)
∂ xn2 ∂ xn2
Obs.: matematicamente isto significa dizer que a função de produção é côncava quando se
mantém a quantidade utilizada dos outros insumos constantes.
y = f ( x)
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A conseqüência é que o conjunto de produção da firma depende do prazo que ela tem
para ajustar seus insumos. Para captar esse fenômeno os economistas distinguem a tecnologia
da empresa no curto, médio e longo prazo.
No curto prazo alguns insumos são fixos. No médio prazo todos os insumos são fixos
mas o número de firmas no mercado é variável. No longo prazo quais firmas estão no
mercado é variável.
Alguns autores distinguem apenas o curto e longo prazo. Para eles, o que chamam de
longo prazo é o que definimos como médio prazo e não fazem referência ao número de
empresas no mercado.
Def.: dizemos que uma função de produção tem retornos crescente de escala se a produção
aumenta numa proporção maior que o aumento dos insumos, ou seja
Def.: dizemos que uma função de produção tem retornos constante de escala se a produção
aumenta na proporção maior que o aumento dos insumos, ou seja
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Def.: dizemos que uma função de produção tem retornos decrescente de escala se a
produção aumenta numa proporção menor que o aumento dos insumos, ou seja
Este conceito de elasticidade procura medir o quão fácil é substituir um insumo por
outro. Ele está relacionado com o formato da curva isoquanta.
k
variacao percentual em ∂ k TST ∂ ln k
Def.: σ = l = l = l
variacao percentual na TST ∂ TST k ∂ ln TST
l
Graficamente,
TMS
K
TMS ′
L K ′
L ′
L
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III.1 Lucros
π = R −C (1.14)
preços dos produtos são ( p1 ,..., pN ) e os preços dos insumos ( w1 ,..., wM ) o lucro é:
N M
π = ∑ pn yn − ∑ wm xm (1.15)
n =1 m =1
Nos custos devem ser incluídos todos os insumos de produção, avaliados pelo seu
valor de mercado.
No lucro econômico os preços dos insumos são medidos pelo seu custo de
oportunidade. No lucro contábil, os preços dos insumos são medidos pelo valor histórico
dispêndio com os mesmos, i.e., pelos preços que foram comprados. Um exemplo onde esta
distinção é bem clara é no tratamento que se dá à remuneração do dono da firma que trabalha
nela. Se não existe um pro labore, contabilmente não existe custo a ser pago pelo trabalho do
dono no empreendimento. Entretanto, economicamente falando, o custo do dono da firma que
trabalha nela é a remuneração que ele poderia obter na melhor alternativa a trabalhar na
própria firma, isto é, seu custo de oportunidade.
A firma competitiva se caracteriza pela hipótese de que toma os preços dos insumos e
produtos como dados.
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max p f ( x1 , x2 ) − w1 x1 − w2 x2 (1.16)
x1 , x2 > 0
C.P.O.
∂f ( x1* , x2* )
p = wi
∂xi
∂f ∂f
onde = produtividade marginal e p = valor da produção marginal. Se f é
∂xi ∂xi
∂2 f
côncava, então <0
∂xi2
∂f
p
∂xi
xi∗
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xi∗ = xi ( p, w1 , w2 )
(1.17)
y ∗ = f ( x ( p, w, w2 ) , x2 ( p, w1 , w2 ) ) = y ( p, w1 , w2 )
f ( x1 , x2 ) = x1 2 + x2 2
1 1
Ex: Suponha
(
π = pf ( x1 , x2 ) − wx1 − wx2 = p x1 + x2 − w1 x1 − w2 x2
1
2
1
2
)
2
∂π p − 12 p p
= x1 − w1 = 0 ∴ = w1 x1 =
∂x1 2
1
2 x1 2 2w1
2
∂π p − 12 p
= x2 − w2 = 0 x2 =
x2 2 2w2
Função oferta:
p p 1 1 p 1 1
y= + = p + = +
2 w1 2 w2 2 w1 2 w2 2 w1 w2
π = p f ( x1 , x2 ) − w1 x1 − w2 x2 = px1a x2b − w1 x1 − w2 x2
∂π x1a x2b
= p a x1a −1 x2b − w1 = 0 ∴ pa − w1 = 0
∂x1 x1
∂π x1a x2b
= p b x1b −1 x2a − w2 = 0 ∴ pb = w2
∂x2 x2
pa y
py = x1w1 x1 =
w1
pa y
py = x2 w2 x1 =
w2
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a b
pa y pb y
× =y
w1 w2
a b
pa pb a +b
× y = y′
w
1 2 w
a b
pa pb 1− a − b
× =y
w
1 2 w
a b
pa 1− a −b pb 1− a −b
y=
w1 w2
a b
pa pa 1− a −b pb 1− a −b
x1 =
w1 w1 w2
1−b b
pa 1− a −b pb 1− a −b
=
w1 w2
No curo prazo alguns insumos estão fixos. Suponha que o insumo 2 seja fixo no curo
prazo no nível x2 . Então, a maximização desta função é:
max π ( p, w1 , w2 ) = pf ( x1 , x2 ) − w1 x1 − w2 x2
x1
∂π ∂f ( x1* , x2 )
=p − w1 = 0
∂x1 ∂x1
Portanto, o lucro máximo não depende dos preços dos insumos fixos.
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f ( λ x1 , λ x2 ) > λ f ( x1 , x2 ) então,
π ( λ x1 , λ x2 ) = pf ( λ x1 , λ x2 ) − λ w1 x1 − λ w2 x2 >
> λ pf ( x1 , x2 ) − w1 x1 − w2 x2
∃ ( x1∗ , x2∗ ) tal que π ( x1∗ , x2∗ ) > 0 então π ( λ x1∗ , λ x2∗ ) = λπ ( x1∗ , x2∗ ) . Como λ pode ser tão
grande quanto se queira, π max = ∞ . Portanto, retorno de escala constante só tem solução se o
π 1 ( x1∗ , x2∗ ) = 0
IV Minimização de Custos
Quando uma firma maximiza lucros ela escolhe um certo nível de produção y ∗ e
simultaneamente minimiza os custos para aquele nível de produção. Se não fosse assim,
haveria uma maneira mais barata de se produzir y ∗ , o que implicaria que aquela decisão
inicial de maximizar lucros não teria de fato maximizado.
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Para simplificar a análise suponhamos que existam apenas dois insumos de produção
e um produto. A tecnologia é capturada pela função de produção f ( x1 , x2 ) onde xi é a
min w1 x1 + w2 x2
x1 , x2
s.a. (1.18)
f ( x1 , x2 ) = y
Construindo o Lagrangeano:
L ( x1 , x2 , µ ) = w1 x1 + w2 x2 + µ ( y − f ( x1 , x2 ) )
∂L µ ∂f ( x1 , x2 ) ∂f ( x1 , x2 )
= w− =0 ∴ w1 = µ
∂x1 ∂x1 ∂x1
∂L ∂f ( x1 , x2 ) ∂f ( x1 , x2 )
= w2 − µ =0 ∴ w2 = µ
∂x2 ∂x2 ∂x2
∂L
= y − f ( x1 , x2 )
∂µ
∂f ( x1 , x2 )
w1 ∂x1
= . (1.19)
w2 ∂f ( x1 , x2 )
∂x2
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Esta condição, que preços relativos dos insumos é igual a taxa marginal de
substituição técnica, é um resultado que tem uma interpretação econômica interessante. O
lado esquerdo da expressão representa a taxa como o mercado troca um insumo pelo outro. O
lado direito representa a taxa como os insumos são trocados na produção sem alterar o nível
produzido. Se ambos não são iguais existe oportunidade de se produzir o mesmo nível de
forma mais barata. O gráfico a seguir representa geometricamente a expressão (1.19).
x2
x2∗
f ( x1 , x2 ) = y
x1∗ x1
x1* = x1 ( y, w1 , w2 )
(1.20)
x2* = x2 ( y, w1 , w2 )
Cada uma das funções da expressão (1.20) é chamada de demanda condicional por
insumo. Substituindo a cesta que minimiza o custo na função objetivo do problema de
minimização de custo (expressão (1.18)), obtém-se a função custo:
C ( w1 , w2 , y ) = w1 x1 ( w1 , w2 , y ) + w2 x2 ( w1 , w2 , y ) (1.21)
Exercício: Calcule as funções demanda por insumos e as funções custo das seguintes funções
de produção:
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C ( w1 , w2 , y ) = C ( w1 , w2 ) y
C ( w1 , w2 , y ) = C ( w1 , w2 ,1) y
C ( w1 , w2 , y ) < C ( w1 , w2 ,1) y
Seja x1* , x2* a cesta que soluciona (1.18) para produzir y unidades e x1' , x2' a cesta que
soluciona (1.18) para produzir 1 unidade. Então
(
w1 x1∗ + w2 x2∗ < w1 , x1′ + w2 x2′ y )
Mas como f ( x1∗ , x2∗ ) = y e a função de produção tem retornos constantes de escala,
fazendo λ = 1 y obtemos:
1 1 y
f x1∗ , x2∗ = = 1 .
y y y
1
(w x ∗
1 1 + w2 x2∗ )
y
< w1 x1′ + w2 x2′
x1∗ x2∗
w
1 + w2 < w1 x1′ + w2 x2′
y y
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o custo entre as combinações de insumos que podem produzir uma unidade de produto.
demonstrar.
C.Q.D
C ( w1 , w2 , y ) > C ( w1 , w2 ,1) y
C
AC =
y
C ( y, w1 , w2 )
AC ( y, w1 , w2 ) =
y
C ( w1 , w2 ,1) y
AC ( w1 , w2 , y ) = = C ( w1 , w2 ,1)
y
A função de custo de curto prazo é aquela que tem algum insumo fixo. A função de
custo de médio prazo é aquela que tem todos os insumos variáveis (caso estudado
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min x1 w1 x1 + w2 x2
s.a.
f ( x1 , x2 ) = y
Embora nesse problema com dois insumos a solução seja trivial, ela nem sempre o é.
Geralmente a solução dá:
x1 = x1s ( w1 , w2 , y, x2 ) e
Cs ( y, w1 , w2 , x2 ) = w1 x1s ( w1 , w2 , y, x2 ) + w2 x2
Fato:
C ( y, w1 , w2 ) = Cs ( y, w1 , w2 , x2 ( w1 , w2 , y ) )
Isto é, o custo de médio prazo é igual ao custo de curto prazo quando a quantidade do
insumo fixo no curto prazo é igual à quantidade desse insumo que minimiza o custo no longo
prazo.
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