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Curso de Especialização em Políticas para a Juventude

COMUNICAÇÃO: DA BOCA DE FORNO À CIRANDA

Lélio Fabiano dos Santos(*)

Diversas têm sido as maneiras de se abordar o problema da comunicação social. Essas


abordagens podem ser inocentes, neutras, ingênuas, interessantes, pragmáticas, exóticas e etc. De
nossa parte, procuramos manter distância de todos esses tipos de “approaches” e mesmo correr o
risco de remar contra corrente pseudo-otimista dos tecnocratas da comunicação e assumirmos uma
postura, sem sofisticação, mas fundamentada num compromisso social e político, que deverá
orientar o novo estudo da comunicação e o novo uso dos meios.
Parece-nos que o comunicador formado dentro dessa nova perspectiva deverá estar
permanentemente atento e preparado para “agir comunicativamente” não apenas “servir
instrumentalmente”. Cremos que num país com as características de subdesenvolvimento como o
nosso, com os enormes problemas sociais que não cabe aqui relacionar, seria demasiada
irresponsabilidade preparar um comunicador que, em última análise, será o “funcionário”
intermediário entre uma elite produtora de bens materiais e culturais e uma população de 35
milhões de consumidores. Acreditamos ser, pelo menos, importante mostrar que cabem no espaço
da comunicação os demais 75 milhões de brasileiros.
Dados esses objetivos, queremos repercorrer alguns conceitos e alguns elementos da teoria
da comunicação, trabalhando-os sob uma nova óptica.
Ao menos, para efeito de raciocínio ou de demonstração vamos considerar que em
determinado momento da história da humanidade, talvez em seu princípio apenas, a comunicação,
condição essencial da existência social, tenha existido em sua forma mais pura e plena, quase
como um denominador de igualdade entre os homens. Seria o caso do grupo primitivo, que
trabalhando a natureza, lutando pela sobrevivência, desenvolvendo o pensamento, as idéias e as
maneiras de vencer os obstáculos, transmite-os através de gestos, de sons e das primeiras
palavras, tornando comuns entre os componentes do grupo, os pensamentos e as idéias, dentro de
uma forma de trabalho solidária. Num momento posterior, porém, a solidariedade desaparece, a
sociedade se divide em classes, surgem exploradores e explorados. Os meios e as maneiras de
trabalhar a natureza passam a ser mais domínio de uns do que de outros. Surgem lutas. Começa a
exploração do trabalho alheio, começa a desaparecer a comunhão, a comunicação. Os homens já
não eram iguais, já não falavam igualmente. Uns conquistavam, outros eram conquistados. Uns
tomavam os meios de produção dos outros, as terras, exterminavam até o idioma, os costumes, as
tradições. Os meios de produção apropriados por uns vão-se sofisticando através da História e
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também os meios de transmitir os pensamentos e as idéias, que vão reforçar o domínio de uns
sobre os outros. A comunicação se torna informação. Não se trata mais de tornar comum alguma
coisa, a sabedoria inerente a cada grupo humano. O que existe é informação, no sentido aristotélico
do termo: imposição de formas. Não se trata mais de fazer alguém participante do que o outro
possui, mas antes, tirar deste alguém o que ele possui e impor-lhe uma nova ordem.
Este processo de informação, que substitui na sociedade humana o processo de
comunicação, além de seu sentido aristotélico pode também ser analisado sob a luz da cibernética.
“Informar equivale a dirigir dentro de uma mesma organização social”. Aquele que controlar os
meios de informação poderá se capacitar para “dirigir” a sociedade toda. “Informa-se com o objetivo
oculto ou manifesto de influir na consciência e na conduta das pessoas”. Informação e direção são
termos equivalentes e imprescindíveis dentro de um sistema dinâmico complexo como, por
exemplo, o motor de um carro, a sociedade humana (uma cidade, um país), a sociedade das
abelhas etc. A modificação de qualquer um dos elementos componentes do todo, do sistema, vai
afetar em modificações nos demais e no funcionamento do todo. É preciso que todos os elementos
estejam “informados”, “controlados” e “corrigidos” em caso de desvio, para que seja atingida a
direção perseguida. O motor de um carro, por exemplo, tem como objetivo ou direção fazer o carro
se mover e todos os componentes deste sistema estão ajustados sob determinadas condições
(temperatura, gasolina, óleo etc) para que o objetivo seja colimado. A simples substituição da
gasolina pelo álcool vai importar em certos reajustes em vários elementos, que necessitarão “ser
informados” da mudança para que o veículo se mova. A substituição pura e simples de um
combustível pelo outro, sem “informar” os demais componentes impedirá a consecução do objetivo
ou direção pretendida. Um processo de direção em um sistema dinâmico complexo, segunda as leis
da cibernética, poderia ser explicado pelas seguintes fases: 1- definição do tipo de sistema e do fim
a se conseguir. 2- elaboração e realização da estratégia para se atingir o fim pretendido e escolha
da marcha (ou ritmo) adequado. 3- controle da referida marcha (ou ritmo) e correção em caso de
alguma falha. À medida que a sociedade humana se faz mais complexa, mais interdependentes se
tornam suas partes e, ao mesmo tempo aumentam suas contradições e os conflitos, mais
ameaçadas de desagregação ficam os componentes da sociedade, que concentra então o poder
político de uma forma ainda mais rígida, sendo que o poder político é o que dá a direção para o
sistema, informando e controlando suas partes de acordo com a direção por ele estabelecida. As
mensagens emitidas, pois, dentro desse sistema vão refletir suas características e suas
contradições a agir instrumentalmente. Evidentemente, esta função que estamos atribuindo à
informação difere bastante das funções por demais simplistas que, normalmente, os estudos
tradicionais conferem à comunicação. A informação é a medida de organização de um sistema. Um
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sistema rígido e fechado terá um circuito de informação rígido e fechado. Um sistema flexível ou
aberto terá uma informação correndo entre suas partes de uma maneira flexível e aberta. Um
sistema rígido, com uma direção ou objetivo estabelecido de maneira autoritária, quando ameaça se
desorganizar ou o simples receio de que algum elemento estranho possa vir a prejudicar o
ajustamento entre suas partes e a consecução do fim estabelecido, passa a descarregar enorme
quantidade de informação entre suas partes (campanhas publicitárias ou de propaganda, slogans
etc).
Enfim, o fato de que o sistema de informação social possa refletir fielmente a organização
social e contribuir para consolidar essa mesma ordem social é a causa principal que leva à disputa
entre as classes pelo controle dos meios de comunicação.

MODELOS DE COMUNICAÇÃO: DA OPRESSÃO À LIBERTAÇÃO


Podemos identificar nos diversos grupos humanos e na própria sociedade vários modelos de
comunicação. Os compêndios que costumam tratar de comunicação mostram, com freqüência,
esses modelos, segundo concepções múltiplas. De nossa parte, não temos pretensão de inovar,
mas tão somente, apresentar quatro desenhos de modelos de comunicação, sendo que os três
primeiros retratariam o processo de comunicação em nossas sociedades atuais e o último tentaria
visualizar a forma de comunicação ideal.

Primeiro Modelo:

E
C
O
Repertório

D
Contexto

I
F

M
C
D
E
C
O
D

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É o modelo clássico de comunicação, assumido por, praticamente, todos os autores, só que


aqui apresentado na sua real posição: verticalidade. É o modelo mais presente em nossas
sociedades, seja a nível grupal ou coletivo: família, escola, igreja, empresas, corporações militares,
partidos políticos etc. A própria representação gráfica do modelo expressa toda a sua carga
autoritária. É um modelo muito mais de informação do que de comunicação. A mensagem vem de
cima para baixo. A mensagem nasce no EMISSOR/PRODUTOR e se dirige para o
RECEPTOR/CONSUMIDOR. A palavra pertence ao emissor que seleciona, utiliza e controla o
canal. Este pertence sempre à classe dos emissores, detentores dos meios de produção material e
cultural. As mensagens veiculadas neste modelo são, em geral, de baixo repertório e visam sempre
à manutenção de dominação. É um modelo de direção única, que não permite a inversão imediata
dos seus atores. O emissor só fala, o receptor só ouve. O emissor ordena, o receptor obedece. O
emissor anuncia, o receptor compra. O emissor graceja, o receptor ri. O emissor lamenta ou “sofre”,
o receptor chora. Neste modelo, o emissor atrofia a sua capacidade receptiva, de tanto falar e
jamais ouvir, enquanto o receptor atrofia a sua capacidade emitiva, de tanto ouvir e jamais falar. O
emissor é o “Deus” ou o “Zeus”, todo-poderoso, senhor de todas as mensagens, postado no alto da
montanha. Os receptores são os pobres mortais, prostrados no sopé da montanha. Tais quais
Sísifos estão condenados a jamais atingir o cume. Falando com outra imagem, seria o caso de
brincadeira infantil de “Boca de Forno”, em que uma criança detém o comando, ordena uma série
de coisas que as demais; as “receptoras” são obrigadas a executar, sem emitir opiniões ou
palavras.

Segundo Modelo:

É o mesmo modelo clássico, tal qual é comumente apresentado. Dentro, porém, da óptica de nossa
análise, a sua representação gráfica “atenua” a carga de autoritarismo. A diferença básica do
anterior reside unicamente na sua apresentação de forma horizontal ao invés da verticalidade.
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Continua a unidirecionalidade da mensagem. Se não há mais o verticalismo despudorado,


permanece o horizontalismo escamoteador. A mensagem ainda tem início em um dos pólos,
selecionador, utilizador e controlador do canal. Um ou uma classe continua como detentora da
palavra. O(s) receptor(es) continua(m) como coisa ou massa informada.

Terceiro Modelo:

Nesta terceira representação gráfica, vamos deixando o campo da informação para entrar
timidamente no campo da comunicação. Já se nota um esforço do emissor em se aproximar do
receptor, buscando um contexto e um repertório comuns, e tornado mais ou menos acessível ao
receptor a utilização do canal. Quanto mais se for ampliando os campos comuns, maior progresso
será feito do ponto de vista da comunicação. Neste modelo, não há, por parte do emissor, um
desejo expresso de dominação. Contudo, este modelo ainda privilegia o emissor, uma vez que é
nele que se inicia o processo, é dele que parte a mensagem, é ele que seleciona e controla o canal.

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Quarto Modelo:

O círculo é uma imagem geométrica da perfeição. Não se pode identificar no círculo, onde
ele começa e onde ele termina. Por traduzir na sua representação gráfica a imagem da perfeição,
pode talvez, por isso, constituir-se numa utopia. Cremos que o espaço ou tempo que permeia a
realidade presente e a utopia futura devem ser atuados pelo comunicador. Neste modelo, todos são
emissores e todos são receptores. É impossível localizar nele quem iniciou o processo, quem detém
o monopólio da mensagem, quem controla mais que o outro canal. Todos coexistem ou manobram
dentro de um mesmo contexto e de um mesmo repertório. É o brinquedo infantil da ciranda, da
roda. Todos rodam, todos cantam. Numa roda infantil, não se pode dizer quem é que está
mandando na brincadeira. Não há opressão. Todos cirandam. Todos se comunicam.

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ESPAÇOS DE ATUAÇÃO
Onde centrar maior carga de esforço inovativo no campo da comunicação?
Estabeleceríamos três tipos de espaços diferentes onde os comunicadores poderiam voltar sua
atuação dentro de uma nova linha de comportamento: as grandes metrópoles, as cidades médias e
pequenas do interior e as pequenas vilas, povoados ou lugarejos, com características
marcadamente rurais. As reflexões que se seguem são, sobretudo, um exercício de imaginação não
querendo significar conclusões rígidas, pretendendo apenas abrir uma discussão em torno de um
problema que nos parece importante.
É notória a presença maciça dos chamados meios de comunicação de massa nas grandes
metrópoles. Em todos os seus espaços físicos e durante o tempo, esses meios “atacam”. São
jornais e revistas, emissoras de rádio e televisão, salas de cinema, cartazes de rua, letreiros
luminosos, casas de discos, folhetos, malas direta, enfim, todos esses meios aos quais estão
expostos voluntária ou involuntariamente as dezenas de milhares de receptores que, em casa ou
nas ruas, consomem todo tipo de mensagens; a maioria delas, muitas vezes, sem nenhum
interesse específico para eles. Se comparássemos essa avalanche de mensagens com uma
epidemia, ou uma doença contagiosa, poderíamos dizer que aqueles receptores, depois de um
longo convívio com a “doença”, costumam criar em seus organismos “anticorpos” que, de certa
maneira, podem imunizá-los contra o “mal”. Além disso, essas grandes metrópoles, assim como
acontece nos casos de epidemia ou de grandes doenças, possuem hospitais, promovem
campanhas de vacinação, distribuem o antídoto; no caso da comunicação, há também, de certa
forma, alguns remédios contra o “veneno” esparramado por aqueles meios. Seria o caso de uma
imprensa mais crítica, de uma bibliografia conscientizadora, de centros de estudo reflexivo etc.
Nesses centros, o desempenho do novo comunicador poderia se tornar irrelevante, ou
insignificativo, ou apenas elemento reforçador. Para não dizer que o papel que mais facilmente
costumam lhe destacar é o agente contagiador da “moléstia”.
Na cidade pequena ou média, onde a presença dos meios de comunicação também já se faz
notar através da televisão, do cinema e do rádio, os meios “atacam” há menos tempo, sobre menor
número de pessoas e de uma maneira menos dispersa. Nessas localidades, por esse “contágio”
menor, a população cria menos anticorpos, além de serem muita mais difíceis os antídotos.
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Evidentemente, um comunicador aí presente deverá adotar uma metodologia de trabalho bem


diferente da que teria nas grandes metrópoles.
O grande desafio e a grande oportunidade para um trabalho inovador seria nas pequenas
localidades com características mais rurais do que urbanas. Aí, os meios de comunicação de massa
ainda não chegaram e o “vírus” é ainda desconhecido. Poderia se comparar com a tribo indígena
que jamais tendo conhecido a gripe corre sempre o risco de se ver dizimada ao menor contato com
a doença. O papel do comunicador em tais comunidades deverá ser o de preparar sua população
para o advento da tecnologia da comunicação que, forçosamente, um dia, chegará com o
progresso. Pensamos, então, que uma das maneiras seria colocar nas mãos das pessoas simples
do lugar os meios que, de uma maneira sofisticada, são manipulados apenas por uma elite nas
grandes cidades. Ao começar a operar com máquinas fotográficas, gravadores, câmeras super 8 e
equipamentos de vídeo-cassete, se terá iniciado um trabalho de desmitificação da técnica e dos
meios. Com a vantagem de que os conteúdos das mensagens veiculadas por tais aparatos teriam
como autores os próprios futuros receptores, que antes da chegada do processo se tornam
emissores de sua própria realidade, falando de sua história, de suas riquezas enquanto grupo
humano, de seus problemas, enfim, de sua gente. No dia em que tal população visse surgir nos
vídeos ou nas telas os astros dos grandes centros, ou os “deuses” da sociedade de consumo,
nenhuma surpresa teriam, nenhum impacto sofreriam, em nenhum mito creriam, por que aqueles
vídeos e aquelas telas já haviam mostrado antes as pessoas de sua terra.

(*) Lélio Fabiano dos Santos é jornalista e consultor, sócio-diretor da empresa


Lélio Fabiano Associados Comunicação Empresarial.

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