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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE
SEGURANÇA DO TRABALHO

ÉRIC AUGUSTO ESQUIÇATI

DIAGNÓSTICO ERGONÔMICO PRELIMINAR EM


TRABALHADORES RURAIS ENVOLVIDOS NA COLHEITA DA
CULTURA DA MANDIOCA

MARINGÁ
2009
i

ÉRIC AUGUSTO ESQUIÇATI

DIAGNÓSTICO ERGONÔMICO PRELIMINAR EM


TRABALHADORES RURAIS ENVOLVIDOS NA COLHEITA DA
CULTURA DA MANDIOCA

Monografia apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Engenharia de Segurança do
Trabalho da Universidade Estadual de Maringá
como requisito parcial para Obtenção do Grau de
Especialista em Engenharia de Segurança do
trabalho.

Orientador: Prof. Dr. Wellington C. de Castilho

MARINGÁ
2009
ii

ÉRIC AUGUSTO ESQUIÇATI

DIAGNÓSTICO ERGONÔMICO PRELIMINAR EM


TRABALHADORES RURAIS ENVOLVIDOS NA COLHEITA DA
CULTURA DA MANDIOCA

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Especialista em


Engenharia de Segurança do Trabalho no programa de Pós-graduação (lato sensu) em
Engenharia de Segurança do Trabalho da Universidade Estadual de Maringá.

Prof. MSc. Edson Ikeda, Coordenador do Curso

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________

Prof. Dr. Wellington C. de Castilho (Orientador)

_______________________________________________

Prof. Dr. José Aparecido Canova - UEM

_______________________________________________

Prof. MSc. Alexandre Júnior Fenato - UEM


iii

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi diagnosticar fatores de riscos relacionados a acidentes ou


doenças ocupacionais em trabalhadores rurais envolvidos na colheita da cultura da mandioca.
Para isso, foram observadas propriedades rurais localizadas na região Noroeste do Paraná,
onde se puderam constatar basicamente dois sistemas de colheita: um por “balaios” e outro
por “big bags”. A pesquisa compreendeu o período de maio a setembro de 2008. O
diagnóstico ergonômico, por realizar-se em situações reais de trabalho, torna-se uma
importante ferramenta para detecção dos riscos da atividade, uma vez que o trabalho pode
causar danos ao organismo humano, quando desenvolvido em situações adversas. A
metodologia empregada na pesquisa foi de cunho exploratório, efetuando-se o levantamento
de informações a campo, abordando o problema quali-quantitativamente, por meio de
observação e aplicação de questionário. Comprovou-se que a movimentação e o transporte
manual de cargas aliadas às más posturas empregadas durante a colheita da mandioca são
causas diretas de acidentes e doenças ocupacionais, afetando principalmente a coluna
vertebral dos indivíduos estudados. A pesquisa realizada revela o perfil do trabalhador rural e
a estreita relação entre os acidentes e doenças ocupacionais e os fatores de riscos associados
com a atividade executada. Os resultados mostram a necessidade de programas de prevenção
contra acidentes e doenças ocupacionais no campo, onde cuidados principalmente com os
fatores de risco físico são de grande relevância.

Palavras-chave: Mandiocultura; Ergonomia; Diagnóstico ergonômico; Levantamento e


Transporte manual de cargas.
iv

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO......................................................................... ..XII

1.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS....................................................................................XIII

1.2 JUSTIFICATIVA..................................................................................................XIII

1.3 MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS PARA A COLETA DE DADOS................................XV

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.................................. ...................XVI

1.4 COLUNA VERTEBRAL.........................................................................................XVI


1.4.1 Deformações da coluna vertebral..................................................... ...................xvi

AO LEVANTAR CARGAS PESADAS DEVEM SER UTILIZADAS AS


PERNAS E NÃO AS COSTAS COMO APOIO E SUSTENTAÇÃO DO
MOVIMENTO. OS OMBROS DEVEM SER POSICIONADOS PARA TRÁS,
COM A COLUNA ERETA E JOELHOS FLEXIONADOS. MANTER A
CARGA O MAIS PERTO POSSÍVEL DO PEITO E AÍ ENDURECER AS
PERNAS PARA LEVANTAR A CARGA, MANTENDO AS COSTAS RETAS.
............................................................... .............................XVII
1.4.2 Nutrição da coluna vertebral.......................................................................... .....xvii
1.4.3 Lesões de discos cartilaginosos intervertebrais..................................................xvii
1.4.4 Lombalgia.............................................................................. ............................xviii

1.5 FADIGA.........................................................................................................XVIII
1.5.1 Fatores fisiológicos da fadiga................................................... ..........................xviii
1.5.2 Fatores psicológicos da fadiga................................................... ..........................xix

1.6 PAUSAS NO TRABALHO......................................................................................XIX

1.7 SITUAÇÃO DO TRABALHADOR RURAL....................................................................XX

1.8 LEGISLAÇÃO E ERGONOMIA ..............................................................................XXI


1.8.1 Análise ergonômica do trabalho.......................................................................... .xxi
1.8.2 Levantamento, transporte e descarga individual de materiais............................xxii
1.8.3 Treinamento............................................................................................ ............xxv

1.9 SAÚDE OCUPACIONAL DE TRABALHADORES AGRÍCOLAS.........................................XXV


v

1.10 ERGONOMIA DE CONSCIENTIZAÇÃO.................................................................XXVI

1.11 PROGRAMA DE ERGONOMIA..........................................................................XXVII

MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS PARA COLETA DE DADOS. XXVIII

1.12 OBSERVAÇÃO.............................................................................................XXVIII

1.13 ANÁLISE DOCUMENTAL................................................................................XXVIII

1.14 QUESTIONÁRIO..........................................................................................XXVIII

ANÁLISE DOS RESULTADOS.............................................. ......XXIX

1.15 A COLHEITA DA MANDIOCA............................................................................XXIX


1.15.1 Colheita manual........................................................................................ ........xxx
1.15.2 Colheita semimecanizada.............................................................. ...................xxx

1.16 RESULTADOS DOS QUESTIONÁRIOS................................................................XXXIX

CONCLUSÃO................................ .........................................XLIV

1.17 REGULARIZAÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO................................................XLIV

1.18 LEVANTAMENTO E TRANSPORTE DE CARGA........................................................XLV

1.19 TREINAMENTOS E ORIENTAÇÕES......................................................................XLV

REFERÊNCIAS.............................................................. .........XLVII

BARNES, R. ESTUDO DE MOVIMENTOS E DE TEMPOS. SÃO PAULO:


EDGAR BLÜCHER, 1977. 635P................................................XLVII

CONSTITUIÇÃO (1988). CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA


DO BRASIL; ORGANIZAÇÃO DOS TEXTOS, NOTAS REMISIVAS E
ÍNDICES POR JUAREZ DE OLIVEIRA. 3ª ED. SÃO PAULO: SARAIVA,
1989. (SÉRIE LEGISLAÇÃO BRASILEIRA).................................XLVII

DUL, J. & WEERDMEESTER, B. ERGONOMIA PRÁTICA. 2ª ED. SÃO


PAULO: EDITORA EDGAR BLÜCHER, 2004. 137P.......................XLVII
vi

EMBRAPA (EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA).


CULTIVO DA MANDIOCA NA REGIÃO CENTRO SUL DO BRASIL.
DISPONÍVEL EM
HTTP://WWW.SISTEMASDEPRODUÇÃO.CNPTIA.EMBRAPA.BR/FONTE
SHTML/MANDIOCA/MANDIOCA_CENTROSUL/COLHEITA.HTM
ACESSADO EM 20 DE NOVEMBRO DE 2008............................. .XLVII

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FUNDACENTRO. REVISTA BRASILEIRA DE SAÚDE OCUPACIONAL.


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GONÇALVES, E. A. MANUAL DE SEGURANÇA E SAÚDE NO


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IBGE (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA).


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IBOPE (INSTITUTO BRASILEIRO DE OPINIÃO PÚBLICA E


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HTTP://WWW.IBOPE.COM.BR/CALANDRAWEB/SERVLET/CALANDRAR
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P=NOTICIAS&DOCID=EAD67643EA9425308325751600479369
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EDITORA EDGAR BLUCHER, 2005...........................................XLVII
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SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO E COORDENAÇÃO
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16- 20, RIO DE JANEIRO, 1995...............................................XLVII

MANUAIS DE LEGISLAÇÃO ATLAS – SEGURANÇA E MEDICINA DO


TRABALHO. 60ª ED. SÃO PAULO: EDITORA ATLAS S. A. 2007.. .XLVIII

MELO, M. A. G. DE; RIBEIRO, R. M. L. OSTEOARTICULAR IN:


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HTTP://WWW.PREVIDENCIASOCIAL.GOV.BR/CONTEUDODINAMICO.P
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OF ERGONOMICS, WORK SAFETY AND OCCUPATIONAL HYGIENE
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MORAES, A & MONT`ALVÃO, C. ERGONOMIA: CONCEITOS E


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SERVICIOS HUMANOS. CENTROS PARA EL CONTROL Y LA
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TAKAHASHI, M. & GONÇALO, S. A CULTURA DA MANDIOCA. 2ª ED.


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VIEIRA, I. MEDICINA BÁSICA DO TRABALHO. VOL.2. CURITIBA,


GÊNESIS, 1994.......................................... ..........................XLVIII

APÊNDICE
38
ix

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 4.1 - COLHEITA MANUAL DE MANDIOCA.......................XXX

FIGURA 4.2 - ROÇADEIRA FRONTAL PARA PODA DAS RAMAS DE


MANDIOCA..................................................... ......................XXXI

FIGURA 4.3 – ROÇADEIRA FRONTAL EM FUNCIONAMENTO.......XXXII

FIGURA 4.4 – LAVOURA DE MANDIOCA APÓS A PODA.............XXXIII

FIGURA 4.5 - TRATOR COM "AFOFADOR" E ROÇADEIRA FRONTAL.


........................................................... ..............................XXXIII

FIGURA 4.6 - TRABALHADORES RETIRANDO AS RAÍZES DO SOLO


COM O AUXÍLIO DE "ENXADÃO".......................................... ..XXXIV

FIGURA 4.7 - TRABALHADOR DECEPANDO RAÍZES DE MANDIOCA.


................................................................. .........................XXXV

FIGURA 4.8 - CARREGAMENTO MANUAL PELO SISTEMA DE


"BALAIOS"..................................................................... .....XXXVI

FIGURA 4.9 - CARREGAMENTO PELO SISTEMA DE "BIG BAG". XXXVII

FIGURA 4.10 - PREENCHIMENTO DOS "BIG BAGS" ATRAVÉS DE


BALAIOS.................................. ........................................XXXVIII

FIGURA 4.11 - EQUIPAMENTO "ROLL ON"..............................XXXIX


x

LISTA DE TABELAS

TABELA 1.1 - ÁREA COLHIDA E QUANTIDADE PRODUZIDA DE RAIZ


DE MANDIOCA NO BRASIL E PRINCIPAIS ESTADOS. SAFRAS 2005/06
A 2007/08....................................... ........................................XII

TABELA 2.2 - LIMITES DE TOLERÂNCIA PARA EXPOSIÇÃO AO


CALOR, EM REGIME DE TRABALHO INTERMITENTE COM PERÍODOS
DE DESCANSO NO PRÓPRIO LOCAL DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO.. XX

TABELA 2.3 - VALORES DE "F" PARA A EQUAÇÃO NIOSH...........XXIV

TABELA 2.4 - QUALIDADE DA PEGA (C) PARA A EQUAÇÃO NIOSH.


................................................................ ...........................XXIV

TABELA 4.5 - DISTRIBUIÇÃO DA UTILIZAÇÃO DE EQUIPAMENTO DE


PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI)................................................... ..XL

TABELA 4.6 - NÚMERO DE TRABALHADORES COM DORES OU


DESCONFORTO MUSCULAR NAS DIFERENTES PARTES DO CORPO.
................................................. ............................................XLI
xi

TABELA 4.7 - NÚMERO DE TRABALHADORES QUE SENTEM DORES


DECORRENTES DO TRABALHO E QUE JÁ FALTARAM ALGUMA VEZ NO
PERÍODO DE 1 ANO........................ ........................................XLII
xii

INTRODUÇÃO

O Estado do Paraná possui cerca de 180 mil hectares ocupados pela mandiocultura (IBGE,
2008), colocando-o atrás apenas de Bahia, Pará e Maranhão (Tabela 1.1). Os municípios que
compreendem a região Noroeste do Paraná respondem por mais de 35% desse total. Estima-se
que para cada hectare cultivado na cultura da mandioca (Manihot esculenta Crantz),
necessita-se de 0,2 homem/ano. Dessa forma, apenas nessa região há aproximadamente 12,6
mil trabalhadores rurais envolvidos nas diferentes etapas de manejo da cultura.

Tabela 1.1 - Área colhida e quantidade produzida de raiz de mandioca no Brasil e principais
estados. Safras 2005/06 a 2007/08.
Fonte: IBGE (2008).

Na região de Paranavaí a mandiocultura é voltada para a industrialização. Entidades de


representação regional estimam em torno de 70 unidades industriais processadoras, sendo que
algumas operam de forma sazonal. Enquanto a farinha é vendida diretamente para consumo
humano, a fécula, juntamente com os seus produtos derivados (amido nativo, amido
modificado e polvilho), tem competitividade crescente no mercado de amiláceos para a
alimentação humana (massas, biscoitos, sorvetes, pães, sopas, iogurtes, pudins, balas, geléias,
embutidos, polvilho para pão de queijo etc.); ou, ainda, como insumos em diversos ramos
industriais, tais como o de papel e celulose, embalagens, colas, mineração, têxtil,
farmacêutico, petroquímico e cosmético.
xiii

Apesar dos avanços da tecnologia e a mecanização das tarefas, esta cultura ainda é
extremamente dependente de mão-de-obra. O processo de colheita é a etapa mais desgastante
e de maior risco ocupacional. As más posturas adotadas durante essa atividade aliada à carga
física demandada em virtude dos esforços desprendidos pelos trabalhadores agrícolas podem,
potencialmente, alterar o desempenho funcional destes, assim como, provocar distúrbios
posturais e o aparecimento, a curto e/ou a longo prazo, de patologias recorrentes
(MONTEIRO & ADISSI, 2000).

1.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

A aplicação da ergonomia na agricultura é relativamente recente quando comparada com


outros setores da economia. Frente a esta realidade tomou-se a decisão de realizar o presente
trabalho abrangendo o diagnóstico ergonômico preliminar de trabalhadores rurais envolvidos
na colheita da cultura da mandioca. E assim, baseando-se nesse diagnóstico, procurar:

• Diagnosticar fatores de riscos que podem provocar acidentes e doenças


ocupacionais no trabalho agrícola da população em estudo;

• Propor medidas que ajudem a eliminar ou minimizar os problemas detectados;

• Identificar regiões corporais com queixas de sintomas de desconforto músculo-


esquelético decorrentes do trabalho.

No entanto, será dada especial atenção ao risco físico responsável pela maior parte dos
afastamentos e doenças ocupacionais registrados na atividade, no caso, o levantamento de
peso excessivo, que é inerente à colheita da mandioca.

1.2 JUSTIFICATIVA

No âmbito nacional, não existe uma consciência dos sérios problemas que acarretam para a
saúde dos trabalhadores agrícolas o manuseio de cargas acima dos níveis máximos que o ser
humano pode suportar.

Segundo a pesquisa "Dor no Brasil", realizada em parceria entre a empresa farmacêutica


Pfizer e o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), a dor na coluna é
descrita pela população como a mais forte, a que mais incomoda e a mais grave para a saúde.
Além disso, um estudo realizado recentemente por pesquisadores australianos mostrou que a
xiv

recuperação das lombalgias é muito mais longa do que o previsto pelas atuais orientações
médicas.

Na agricultura, 64% dos trabalhadores têm que trabalhar em posições dolorosas ou


enfadonhas e 48% dos trabalhadores agrícolas reclamam de dor lombar (MOHR, 1998).

Embora a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) em seu art. 198 fixe o peso máximo de
60 kg para o levantamento manual de carga, sabe-se que as atividades envolvendo o manuseio
freqüente de cargas acima de 50 kg, bem como o manuseio de pesos em determinadas
posições, particularmente, levantando-os do chão, aumentam, substancialmente, a incidência
de lombalgias e outras doenças envolvendo a coluna vertebral.

Na agricultura, perigos físicos são os riscos principais. Manipulação manual de cargas,


movimentos bruscos e irregulares, e posturas inadequadas ou pouco ergonômicas são
responsáveis pelo aparecimento de lesões denominadas de trauma cumulativo (MELLO &
RIBEIRO, 1992). Segundo Dul & Weerdmeester (2004), o levantamento de pesos é uma das
maiores causas das dores nas costas.

Várias medidas de controle têm sido propostas em diversos países no sentido de impedir a
evolução do quadro clínico entre os trabalhadores que já manifestam sintomas e prevenir o
aparecimento de sintomas entre aqueles que não tiveram nenhum episódio. Elas devem ser
propostas a partir de criteriosa identificação dos fatores de risco na situação do trabalho.

Algumas das medidas de controle são:

• introdução de pausas de descanso ou de mudanças de atividades;

• adequação de máquinas, equipamentos e ferramentas manuais;

• adequação das condições biomecânicas;

• adequação de posturas e movimentos às capacidades fisiológicas;

• planejamento da freqüência de movimentos de trabalho;

• rodízio de trabalhadores em diferentes tarefas;

• realização de ginástica laboral para favorecer a melhora da condição física e


psicológica do trabalhador.
xv

1.3 MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS PARA A COLETA DE DADOS

Para a realização desta pesquisa e do cumprimento dos objetivos propostos, foi necessária a
utilização de determinadas técnicas de pesquisa. As situações foram observadas, comparadas
com o que é padronizado para a segurança e minimização de riscos, para que posteriormente,
pudessem ser estabelecidas intervenções.

As técnicas utilizadas neste trabalho foram:

• Observação;

• Análise documental;

• Questionário.
xvi

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.4 COLUNA VERTEBRAL

A coluna vertebral é uma estrutura óssea constituída de 33 vértebras. Classificam-se em cinco


grupos: sete vértebras cervicais; doze torácicas ou dorsais; cinco lombares; cinco estão
fundidas e formam o sacro e as quatro da extremidade inferior são pouco desenvolvidas e
constituem o cóccix. Estas nove últimas são fixas e também são denominadas como
sacrococcigeanas. Portanto, apenas 24 das 33 vértebras são flexíveis e, destas, as que possuem
maior mobilidade são as cervicais (pescoço) e as lombares (abdominais).

Rigidez e mobilidade são as funções da coluna. A primeira garante a sustentação do corpo,


permitindo a postura ereta. A mobilidade permite rotação para os lados e movimentos para
frente e para trás.

Entre uma vértebra e outra existe um disco cartilaginoso, composto de uma massa gelatinosa.
As vértebras também se conectam por ligamentos. Os movimentos da coluna vertebral
tornam-se possíveis pela compressão e deformação dos discos e pelo deslizamento dos
ligamentos.

A superposição das vértebras forma um canal por onde passa a medula espinhal, que se liga ao
encéfalo. Pela medula circulam as informações sensitivas, que transitam pelas extremidades
para o cérebro e retornam, trazendo as ordens para os movimentos motores. A ruptura da
medula interrompe esse fluxo, causando paralisia.

1.4.1 Deformações da coluna vertebral

A coluna é uma das estruturas mais fracas do organismo. Ela apresenta maior resistência para
forças na direção axial, sendo mais vulnerável para forças de cisalhamento (perpendiculares
ao eixo).

Sendo uma peça muito delicada, está sujeita a diversas deformações. Estas podem ser
congênitas ou adquiridas durante a vida, por diversas causas, como esforço físico, má postura
no trabalho, deficiência da musculatura de sustentação, infecções e outras. Quase sempre
esses casos estão associados a processos dolorosos. As principais anormalidades da coluna são
a lordose, a cifose e a escoliose. As pessoas portadoras dessas anormalidades não estão
xvii

impedidas de trabalhar, mas dependendo do grau em que elas ocorrem, devem evitar esforços
físicos exagerados.

A prevenção é a melhor opção para que essas deformações não apareçam. Isso é feito com
exercícios para fortalecer a musculatura dorsal, e evitando-se cargas pesadas ou posturas
inadequadas, principalmente se estas forem prolongadas, sem permitir mudanças freqüentes.

Ao levantar cargas pesadas devem ser utilizadas as pernas e não as costas como apoio e
sustentação do movimento. Os ombros devem ser posicionados para trás, com a coluna ereta e
joelhos flexionados. Manter a carga o mais perto possível do peito e aí endurecer as pernas
para levantar a carga, mantendo as costas retas.

1.4.2 Nutrição da coluna vertebral

Os discos cartilaginosos da coluna não possuem vasos sanguíneos. Dessa forma, recebem
nutrientes dos tecidos vizinhos através de difusão. Portanto, os movimentos de compressão e
descompressão alternados dos discos funcionam como uma bomba hidráulica que os irrigam.
Uma contração prolongada dos discos, que ocorre, por exemplo, em cargas estáticas, é muito
prejudicial, porque interrompe esse processo nutricional e pode provocar a sua degeneração.

1.4.3 Lesões de discos cartilaginosos intervertebrais

As doenças degenerativas atingem em primeira instância as bordas dos discos, que se compõe
de resistentes massas fibrosas. Elas levam a alterações dos tecidos, traduzidas por perdas de
água, de modo que o anel fibroso torna-se frágil e quebradiço. Essas alterações do anel fibroso
são eventualmente acompanhadas de um achatamento dos discos intervertebrais. Com isto, é
perturbada a mecânica da coluna vertebral e assim nasce o risco de pequenos deslocamentos
das vértebras. Sob estas condições, bastam pequenos acontecimentos, como o levantar de uma
carga, o escorregar dos pés ou outros incidentes súbitos semelhantes para desencadear fortes
dores nas costas, chamadas de lombalgia.

O ideal é que se mantenha a coluna o mais reta possível durante o levantamento de uma carga.
Quando o curvar das costas causa a curvatura da coluna lombar, a sobrecarga nos discos é
grande e assimétrica. A pressão na borda da frente é muita mais alta que na borda de trás do
disco. Isso ocasiona desgaste do disco intervertebral e especialmente prejudicial para o anel
fibroso.
xviii

1.4.4 Lombalgia

É uma dor na região lombar provocada pela fadiga da musculatura das costas. Os casos mais
graves de lombalgia provocam fortes dores e podem incapacitar a pessoa para o trabalho, por
períodos de 3 a 10 dias. Dependendo da gravidade, esse período pode estender-se para 15 a 30
dias ou até meses.

Geralmente são causadas pela distensão dos músculos e ligamentos das vértebras ou
movimentos bruscos de torção. A situação tende a agravar-se nas pessoas que tem a
musculatura dorsal pouco desenvolvida e aquelas que ultrapassaram os 40 anos, quando os
discos tendem a degenerar-se, é justamente essa uma espécie de “idade limite” para o trabalho
na colheita da mandioca. Certamente, orientações no intuito de conscientizar os trabalhadores
da importância da prática de exercícios preventivos, adotar posturas corretas no levantamento
de cargas e evitar movimentos bruscos de torção contribuiriam para um maior tempo de
serviço nessa atividade.

1.5 FADIGA

Fadiga é o efeito de um trabalho continuado, que provoca uma redução reversível da


capacidade do organismo e uma degradação qualitativa desse trabalho. A fadiga é causada por
um conjunto complexo de fatores, cujos efeitos são cumulativos. Em primeiro lugar estão os
fatores fisiológicos, relacionados com a intensidade e duração do trabalho físico e mental.
Depois, há uma série de fatores psicológicos, como a monotonia, a falta de motivação e, por
fim, os fatores ambientais e sociais, como a iluminação, ruídos, temperaturas e o
relacionamento social com a chefia e colegas de trabalho.

Embora os mecanismos causadores da fadiga não sejam totalmente conhecidos, há uma


razoável descrição das conseqüências da mesma. Uma pessoa fatigada tende a aceitar menores
padrões de precisão e segurança. Ela começa a fazer uma simplificação de sua tarefa,
eliminando tudo o que não for essencial. A força, velocidade e precisão dos movimentos
tendem a diminuir. Os movimentos tornam-se descoordenados e, assim, os erros tendem a
aumentar (BARNES, 1977).

1.5.1 Fatores fisiológicos da fadiga

A fadiga fisiológica resulta do acúmulo de ácido lático, subproduto do metabolismo, nos


músculos devido à atividade muscular demasiadamente intensa. A fadiga também pode ser
xix

causada pelo esgotamento das reservas de energia, que se manifesta pelo baixo teor de açúcar
no sangue. Esse quadro de estafa é reversível, desde que não ultrapasse certos limites, e o
corpo se recupera com pausas concedidas durante o trabalho, ou com o repouso diário.

Entretanto, existe outro tipo de fadiga, chamada de crônica, que não é aliviada por pausas ou
sonos e tem efeito cumulativo. É caracterizada por fastio, aborrecimento, falta de iniciativa e
ansiedade. Com o tempo pode causar úlceras, doenças mentais e cardíacas. Nessa situação o
repouso já não é suficiente para recuperação, devendo-se recorrer ao tratamento médico.

1.5.2 Fatores psicológicos da fadiga

Os sintomas da fadiga psicológica são mais dispersos e não se manifestam de forma


localizada, mas de forma mais ampla, como sentimento de cansaço geral, aumento da
irritabilidade, desinteresse e maior sensibilidade a certos estímulos como fome, calor, frio ou
má postura.

Esse tipo de fadiga está relacionado de forma complexa a uma série de fatores como a
monotonia, motivação, estado geral da saúde, relacionamento social e assim por diante.

1.6 PAUSAS NO TRABALHO

Pausas devem ser proporcionadas sempre que o trabalho demandar atividade física pesada, ou
quando for realizado em ambientes desfavoráveis como altas temperaturas e excesso de
exposição à luz solar. Pausas de curta duração, embutidas no próprio ciclo de trabalho são
mais efetivas do que as longas, feitas após o término da atividade. Nesse caso, pode ocorrer
um efeito cumulativo da fadiga e, a recuperação, tornar-se mais difícil.

Em trabalhos árduos ou em ambientes hostis, há necessidade de aumentar essas pausas. Há


casos em que a duração das pausas deve ser maior que a duração do próprio trabalho.
Também é importante a variação de atividades durante o ciclo de trabalho, pois serve para
prevenir ou retardar a fadiga.

A NR-15, em seu anexo nº 3, determina os limites de tolerância para exposição ao calor, que
deve ser avaliada através do “Índice de Bulbo Úmido – Termômetro de Globo” (IBUTG).
Para ambientes externos com carga solar, o índice é definido pela seguinte equação:

IBUTG = 0,7 tbn + 0,1 tbs + 0,2 tg (Eq. 2.1)

onde:
xx

“tbn” é a temperatura de bulbo úmido natural,

“tg” é a temperatura de globo,

“tbs” é a temperatura de bulbo seco.

As medições devem ser efetuadas no local onde permanece o trabalhador, à altura da região
do corpo mais atingida.

Em função do índice obtido e do tipo de atividade, que no caso da colheita da mandioca é tida
como pesada, é definido o regime de pausas no trabalho, conforme a Tabela 2.1.

Tabela 2.2 - Limites de tolerância para exposição ao calor, em regime de trabalho intermitente
com períodos de descanso no próprio local de prestação de serviço.
Fonte: SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO, NR – 15 (2007)

1.7 SITUAÇÃO DO TRABALHADOR RURAL

Mesmo com modernas técnicas e formas de cultivo associadas aos novos equipamentos e
máquinas, a agricultura ainda é vista pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como
um dos três setores mais perigosos no mundo em matéria de segurança e saúde no trabalho,
junto com os setores da Mineração e Construção Civil (OIT, 2001).

Em relação às estatísticas brasileiras referentes à atividade agropecuária, existe muita


dificuldade em se ter dados fidedignos. Estima-se que, no país, há perto de 18 milhões de
trabalhadores na agricultura (agroindústria e agropecuária), mas apenas um milhão tem
registro de trabalho legal. Segundo o Anuário da Previdência Social, em 2007, o setor agrícola
participou com 5,1% do total de acidentes de trabalho registrados. Esse valor refere-se aos
benefícios concedidos, isto é, quando o acidente ou a doença gerou uma Comunicação de
Acidente de Trabalho (CAT).
xxi

Quanto às doenças do trabalho, as partes do corpo mais incidentes foram o ombro, o dorso
(inclusive músculos dorsais, coluna e medula espinhal) e o ouvido (externo, médio, interno,
audição e equilíbrio), com 16,7%, 12,3% e 11,5%, respectivamente.

No caso específico da cultura da mandioca, a colheita é limitada a um determinado período do


ano. O trabalho temporário em agricultura é caracterizado por formas casuais de trabalho,
condição de funcionamento precária, e pequena ou nenhuma proteção social. O pagamento é
efetuado por produtividade, não importando a quantidade de horas trabalhadas no dia.

Os chamados “bóias-frias” só se preocupam com o retorno financeiro, já que o pagamento é


baseado na quantidade de raízes colhidas, e não no seu bem-estar. Isso favorece o
aparecimento de doenças ocupacionais. Se o próprio trabalhador não se importa, o
empregador, conseqüentemente, não se preocupa em cumprir as recomendações contidas nas
Normas Regulamentadoras. A situação é ainda piorada pelo fato de as pessoas trabalharem
por conta própria, sem carteira assinada e raramente registrarem a ocorrência de acidentes. Se
todos estes acidentes fossem notificados, provavelmente haveria uma maior pressão das
autoridades em relação ao cumprimento da legislação por parte dos empregadores rurais.

1.8 LEGISLAÇÃO E ERGONOMIA

A décima sétima Norma Regulamentadora do trabalho trata da Ergonomia e visa estabelecer


parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às condições
psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto,
segurança e desempenho eficiente. A ergonomia pode ser interpretada como o estudo da
engenharia humana voltada para planejamento do trabalho, de forma a conciliar a habilidade e
os limites individuais dos trabalhadores que o executam.

1.8.1 Análise ergonômica do trabalho

A NR-17, no subitem 17.1.2, deixa claro a responsabilidade do empregador em zelar pela


saúde de seus contratados, devendo o mesmo providenciar a realização da análise ergonômica
do trabalho:

17.1.2. Para avaliar a adaptação das condições de trabalho às características


psicofisiológicas dos trabalhadores, cabe ao empregador realizar a análise ergonômica do
trabalho, devendo a mesma abordar, no mínimo, as condições de trabalho conforme
estabelecido nesta NR.
xxii

A análise do trabalho é um método elaborado para estudar o funcionamento real das situações
de trabalho. As condutas realizadas no trabalho constituem seu objeto principal, permitindo
identificar os processos que regem a relação entre elas e o sistema de constrangimento nos
quais elas se desenvolvem. Este método contribui para identificar, de um lado, a diferença
entre o "dever-fazer" (a tarefa prescrita) e o "fazer" (a atividade real) e, de outro lado, como o
indivíduo faz reajustamentos, chamados de regulação (de TERSSAC,1990).

É imprescindível a observação sistemática da atividade, bem como dos meios disponíveis para
realizar a tarefa. Entrevistas orais ou escritas, gravadas ou não, filmagens e principalmente a
profunda análise “in loco” dos procedimentos durante o trabalho, são excelentes ferramentas
para obtenção de informações.

Outro ponto crucial é a análise da população de trabalhadores. Para isso deve-se adquirir as
seguintes informações: faixa etária, demais atividades desempenhadas, tempo de serviço,
tipos de contrato, experiência, características antropométricas, pré-requisitos para
desempenho da atividade, nível de escolaridade e capacitação, estado de saúde, morbidade,
mortalidade, absenteísmo etc.

1.8.2 Levantamento, transporte e descarga individual de materiais.

Em 1990, uma proposta encaminhada à Secretaria de Segurança e Saúde do Trabalho (SSST)


incluía um quadro estabelecendo a carga máxima para levantamento levando-se em conta a
idade (trabalhador adulto jovem e adolescente aprendiz), o sexo e a freqüência do trabalho
(raramente ou freqüentemente). Como os valores desse quadro contrariavam o disposto no
Capítulo V da CLT, ele foi eliminado já que uma Norma Regulamentadora não pode
contrariar a lei maior.

Na prática essa dificuldade pode ser contornada por meio do subitem 17.2.2 da NR-17. Se
forem constatados acometimentos à saúde e à segurança (por exemplo, lombalgias) em
determinado local onde há levantamento de cargas, mesmo quando respeitados os limites
preconizados pela CLT, os agentes fiscalizadores poderão exigir modificações.

Para evitar esse risco, é questão apenas de compilar os dados referentes à morbidade dos
trabalhadores que comprovem o acometimento a sua saúde, no caso, lombalgias, hérnias de
disco, qualquer comprometimento da coluna vertebral causado por excessivo esforço.

O fato de a legislação ainda permitir transporte e levantamento de carga com limites muito
elevados, não quer dizer que se deve ater aos mesmos. Quanto mais leve for a carga, menor é
xxiii

a possibilidade de o trabalhador comprometer sua saúde e, portanto, de não faltar ao trabalho.


As lombalgias constituem um grave problema para a seguridade social e onera bastante toda a
população.

1.8.2.1 Equação NIOSH


O National Institut on Occupational and Safety Health (NIOSH), órgão do governo
americano, desenvolveu uma equação que permite calcular qual seria o limite de peso
recomendável, com o objetivo de prevenir ou reduzir a ocorrência de dores causadas pelo
levantamento de cargas.

A equação estabelece um valor de referência de 23 kg que corresponde à capacidade de


levantamento no plano sagital, de uma altura de 75 cm do solo, para um deslocamento vertical
de 25 cm, segurando-se a carga a 25 cm do corpo. Essa seria a carga aceitável para 99% dos
homens e 75% das mulheres, sem provocar nenhum dano físico, em trabalhos repetitivos.
Esse valor de referência é multiplicado por seis fatores de redução (valores iguais ou
inferiores a 1,0), que dependem das condições de trabalho.

A equação de NIOSH é expressa pela equação 2.2:

PRL = 23 x (25/H) x (1 – 0,003/[v – 75]) x (0,82 + 4,5/D) x (1 – 0,0032 x A) x F x C (Eq. 2.2)

onde:

“PRL” é o peso limite recomendável, em kg;

“H” é a distância horizontal entre o indivíduo e a carga, em cm;

“v” é a distância vertical na origem da carga, em cm;

“D” é o deslocamento vertical, entre a origem e o destino, em cm;

“A” é o ângulo de assimetria, medido a partir do plano sagital, em graus;

“F” é a freqüência média de levantamentos, em levantamentos/minuto (Tabela 2.2);

“C” é a qualidade da pega (Tabela 2.3).


xxiv

Tabela 2.3 - Valores de "F" para a equação NIOSH.


Fonte: NIOSH (1991)

Tabela 2.4 - Qualidade da pega (C) para a equação NIOSH.


Fonte: NIOSH (1991)

Na colheita da mandioca pelo sistema de “balaios”, uma pessoa levanta esse recipiente cheio à
altura da superfície do solo (v = 0,0) e a 30 cm do corpo (H = 30), deslocando-o até 300 cm
xxv

(vide subitem 4.1.2.3) de altura (D = 300), rotacionando o corpo em 45° (A = 45). Esse
movimento é repetido uma vez a cada quatro minutos, durante 8 h/dia (F = 0,85). A qualidade
da pega é ruim (C = 0,90).

Nessas condições, aplicando a equação de NIOSH, um trabalhador pode levantar 10,476 kg


sem sofrer danos músculo-esqueléticos.

Além de possíveis lesões músculo-esqueléticas, o trabalho manual pesado contínuo aumenta a


freqüência respiratória a as batidas do coração. Se o trabalhador não estiver em boa forma
física, ele se cansará rapidamente. Submeter o trabalhador à sua capacidade máxima de
resistência física é muito prejudicial ao trabalhador.

1.8.3 Treinamento

A NR-17, no subitem 17.2.3, também faz menção sobre a necessidade do trabalhador que
manuseia cargas pesadas receber treinamento para desempenho dessa tarefa.

17.2.3. Todo trabalhador designado para o transporte manual regular de cargas, que não as
leves, deve receber treinamento ou instruções satisfatórias quanto aos métodos de trabalho
que deverá utilizar com vistas a salvaguardar sua saúde e prevenir acidentes.

Apesar de extremamente simples, as medidas indicadas para o correto levantamento e


transporte manual de cargas não são praticadas, por desconhecimento dos “bóias-frias”.
Treinamentos voltados para a conscientização e orientação culminariam numa significante
redução de acidentes e afastamentos motivados por lesões resultantes do transporte
inadequado de peso.

1.9 SAÚDE OCUPACIONAL DE TRABALHADORES AGRÍCOLAS

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização Mundial de Saúde


(OMS), definiram:

“A saúde ocupacional tem como objetivos: a promoção e manutenção, no mais alto grau, do
bem estar físico, mental e social dos trabalhadores em todas as ocupações; a prevenção,
entre os trabalhadores, de doenças ocupacionais causadas por suas condições de trabalho; a
proteção dos trabalhadores em seus empregos, dos riscos resultantes de fatores adversos à
saúde; a colocação e conservação (manutenção) dos trabalhadores nos ambientes
ocupacionais adaptadas às aptidões fisiológicas e psicológicas; em resumo: a adaptação do
trabalho ao homem e de cada homem ao seu próprio trabalho.”
xxvi

Segundo Vieira (1994), é importante um programa de saúde ocupacional com os seguintes


objetivos:

a) Proteção da saúde e bem-estar do trabalhador contra os riscos e condicionamento do


ambiente de trabalho;

b) A colocação do trabalhador numa atividade, de acordo com a sua capacidade física e


emocional, de modo a poder realizá-lo sem perigo para ele e seus colegas e sem dano à
propriedade;

c) O provimento de atendimento médico de emergência para os acidentes de trabalho e


doenças profissionais/ocupacionais e não ocupacionais, bem como reabilitação profissional;

d) A manutenção da saúde do trabalhador, através de atividades promocionais, procedimentos


específicos de medicina preventiva e freqüente revisão do estado de saúde;

e) O controle dos riscos potenciais à saúde inerentes à operação de trabalho.

Por estes objetivos, o programa de saúde ocupacional deveria ser uma realidade no meio rural.
No entanto, não é o que se observa na prática. Fatores já mencionados anteriormente, como
inexistência de contrato trabalhista; fiscalização ineficiente e ausência de programas
municipais voltados à saúde dos trabalhadores rurais contribuem para essa situação.

1.10 ERGONOMIA DE CONSCIENTIZAÇÃO

A ergonomia busca a perfeita adequação do trabalho, e o ambiente de trabalho ao trabalhador,


e por meio de técnicas busca a plena interação homem-máquina, devendo ser levados em
conta todos os seus múltiplos aspectos, desde o recrutamento e seleção até a formação dos
trabalhadores, respeitando-se sempre, as características psicofisiológicas destes
(GONÇALVES, 2000).

Assim, é lógico pensar que os princípios ergonômicos são amplamente utilizáveis e


necessários para a prevenção. O que se considera aqui, não é apenas a implantação de uma
ergonomia de concepção do posto de trabalho ou de uma ergonomia de correção, mas acima
de tudo, de uma ergonomia de conscientização, onde o trabalhador aprenda a portar-se de
forma segura diante da situação de trabalho, sabendo quais delas colocarão em risco sua saúde
e segurança, bem como os procedimentos a serem realizados para eliminar ou minimizar esses
riscos.
xxvii

Dessa forma, concebe-se a ergonomia como uma concepção de vida, através da qual se
buscam maneiras de melhor realizar atividades sem sobrecarregar demasiadamente o sistema
humano, pois de acordo com Kroemer (1995), o corpo usado dentro da razão é uma barreira
forte contra o surgimento de lesões músculo-esqueléticas.

Entretanto, diante do atual contexto econômico e social, no qual estão inseridas as


organizações empregadoras no mundo, a utilização da ergonomia é considerada como “um
luxo para poucos privilegiados”, no entanto os trabalhadores agrícolas estão de fora deste
contexto.

1.11 PROGRAMA DE ERGONOMIA

Conforme NIOSH (2003), quando se necessita de um programa de ergonomia:

• Quando alguns trabalhos causam tensão, fadiga localizada, incomodidade ou dor que não
desaparecem depois de descansar a noite toda;

• Quando os registros de lesões indicam dor nas mãos, os braços ou ombros, dor de costas ou
síndrome de conduto carpial;

• Quando os trabalhadores fazem freqüentemente referência a moléstias e dores físicas


relacionadas com certos tipos de tarefas;

• Quando inclui no trabalho atividades forçadas e repetitivas, levantamento freqüente de


carga, levantamento de carga acima da cabeça, posições de trabalho incômodas ou o uso de
equipamento que produz vibrações;

• Quando se encontram casos de transtornos musculoesqueléticos relacionados com o trabalho


entre as empresas competidoras ou similares;

• Quando indicam as publicações comerciais ou a informação sobre seguro dos empregadores


um risco de transtornos musculoesqueléticos relacionados com o trabalho.
xxviii

MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS PARA COLETA DE DADOS

1.12 OBSERVAÇÃO

As observações permitem ao analista traçar uma primeira idéia (superficial, mas necessária)
do trabalho, de levantar as principais operações a serem efetuadas pelo trabalhador: sua
freqüência, sua duração e como elas são realizadas. No presente estudo, foi realizada a
observação direta estruturada, não participante, individual, efetuada em campo de pesquisa,
acompanhada de máquina fotográfica e filmadora para registro do ambiente e situações de
riscos.

1.13 ANÁLISE DOCUMENTAL

No caso específico desta pesquisa, foram estudados documentos sobre o registro e análise de
acidentes de trabalho. Da mesma forma, procurou-se sobre documentação relacionada com o
controle de riscos, além de dados estatísticos do Instituto Nacional da Seguridade Social
(INSS) e do Ministério do Trabalho.

1.14 QUESTIONÁRIO

Os questionários e entrevistas possuem técnicas próprias de elaboração e aplicação, que


precisam ser obedecidas, como garantias para a sua validade e fidedignidade. O questionário
deve ser objetivo e preciso nas instruções que dá. É feito com uma série de perguntas
ordenadas, que devem ser respondidas por escrito pelo informante (SELLTIZ et al., 1987).

A coleta das informações foi realizada com a precaução de observar a data e o horário que
melhor convinham aos sujeitos participantes. Ao estabelecer contato com os sujeitos da
pesquisa foram expostos os objetivos da mesma e a obtenção do consentimento dos
participantes do estudo. O questionário (vide APÊNDICE A) foi aplicado junto a uma amostra
de dez agricultores. As questões abordaram assuntos referentes a escolaridade, idade, sexo,
horário de trabalho, educação em saúde, trabalho, saúde, fatores de risco, postura,
ferramentas, doenças, acidente e uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI),
totalizando 20 questões.
xxix

ANÁLISE DOS RESULTADOS

1.15 A COLHEITA DA MANDIOCA

A mandioca é de origem tropical, provavelmente das regiões Nordeste e Central do Brasil.


Foram os colonizadores catarinenses que a introduziram na região Noroeste do Paraná, há
cerca de meio século. Destaca-se por ser uma cultura bastante rústica e de trato simples.

Enquanto que a maioria das culturas exploradas no Paraná já estão em processo de


mecanização avançado, a mandiocultura ainda emprega grande quantidade de mão-de-obra,
principalmente na capina (3 a 4 meses após o plantio) e na colheita.

As operações que envolvem a colheita correspondem à aproximadamente 43% dos custos


variáveis da cultura (TAKAHASHI e GONÇALO, 2001). Destes, 50% são provenientes dos
gastos com mão-de-obra. O pagamento utiliza como critério a quantidade de raízes colhidas,
ou seja, por produtividade. Em média, utilizam-se cerca de 11 dias/homem/ha(1) na colheita
feita pelo sistema de “balaios” e de 7 dias/homem/ha no sistema de “big bags”. Cada sistema
será abordado em mais detalhes posteriormente.

Além da quantidade de homens exigida em cada sistema, outro fator que influencia
diretamente o custo da colheita é a coincidência com a época de colheita da cana-de-açúcar na
região Noroeste do Paraná. Dessa forma, há escassez de mão-de-obra, o que culmina em
preços mais altos exigidos para a execução da tarefa.

Lembrando que os trabalhadores são pagos de acordo com a quantidade colhida, valores mais
altos também são cobrados no caso de áreas que apresentam altas infestações por plantas
invasoras. Estas dificultam o arranquio das raízes, reduzindo a eficiência da colheita. Também
provocam redução da produtividade da cultura, o que demanda uma maior área colhida para
se fechar a carga do frete.

Nas atividades realizadas no campo os trabalhadores estão expostos aos mais variados riscos
como: ataque por animais peçonhentos (cobras, aranhas e escorpiões); insetos (lagartas e
himenópteros); intensa exposição à radiação não ionizante, ao frio e a intempéries (não

1
Homens efetivamente colhendo mandioca. Não estão inclusos motoristas e tratoristas.
Considerando produtividade da lavoura de 33t/ha.
xxx

existem abrigos para proteção dos trabalhadores); ruídos emitidos por máquinas agrícolas;
quedas devido à irregularidade do terreno e durante o transporte dos trabalhadores (feito por
caminhões); ferramentas cortantes e desconforto ergonômico (trabalho agachado e encurvado,
levantamento e transporte de cargas pesadas).

1.15.1 Colheita manual

Totalmente em desuso atualmente nas lavouras comerciais, essa modalidade de colheita é feita
em pequenas áreas, utilizando-se mão-de-obra familiar. Processo demasiadamente desgastante
e muito pouco eficiente, demandando cerca de 22 dias/homem/ha. O trabalhador permanece
encurvado e chega a praticar forças de até 85 kg(2) para arrancar uma única planta de
mandioca (Figura 4.1).

Figura 4.1 - Colheita manual de mandioca.


Fonte: JOÃO EDUARDO PASQUINI (2008)
Será dada maior ênfase neste trabalho à colheita do tipo semimecanizada por se tratar do
modelo que abrange um maior contingente de trabalhadores.

1.15.2 Colheita semimecanizada

Na região Noroeste do Paraná, são utilizados basicamente dois sistemas de colheita


semimecanizada, o de “balaios” e o de “big bags”. Ambos são idênticos nas etapas iniciais.
Diferenciam-se somente no modo de como ocorre o carregamento dos caminhões que

2
Medição feita com dinamômetro. Planta com 8 meses, em solo de textura mista, úmido
e sem interferência de plantas daninhas.
xxxi

transportam a mandioca para as indústrias processadoras. No item 4.1.2.1 serão descritas as


etapas da colheita mecanizada.

1.15.2.1 Poda das ramas


Na operação de poda das ramas (parte aérea), que é feita em conjunto com a retirada das
raízes do solo (vide subitem 4.1.2.2), o trator leva na sua dianteira um implemento provido de
duas hélices, denominado roçadeira frontal (Figura 4.2). Tal equipamento é movido por um
eixo cardã adaptado à porção frontal do trator. Ele tem a finalidade de cortar as ramas das
plantas de mandioca para que possa ocorrer a movimentação dos trabalhadores dentro da
lavoura. O corte é feito à altura de 0,2m a 0,3m da superfície. Essa pequena porção de parte
aérea não podada servirá como ponto de pega para que os colhedores possam retirar as raízes
do solo (vide subitem 4.1.2.2).

Figura 4.2 - Roçadeira frontal para poda das ramas de mandioca.


Fonte: JOÃO EDUARDO PASQUINI (2008)
Quando em funcionamento, grande quantidade da parte aérea das plantas são arremessadas
com certa velocidade a até 10 metros de distância (Figura 4.3). A NR-31, que trata da Saúde e
Segurança do Trabalho na Agricultura, em seu subitem 31.12.4, recomenda a não utilização
de implementos que ofereçam risco de projeção de materiais que não dispuserem de proteção
efetiva. No entanto, este equipamento é de invenção e uso recentes. Enquanto seu
aperfeiçoamento, no que diz respeito à segurança, não é feito, poder-se-ia, sempre que
possível, realizar essa operação no período noturno. Em último caso, por se tratar de trabalho
xxxii

a céu aberto, talvez o uso de equipamento de proteção para os olhos aliado a distância segura
mantida por parte dos trabalhadores evitariam acidentes.

Figura 4.3 – Roçadeira frontal em funcionamento.


Fonte: CLETO LANZANI JANEIRO (2008)
Apesar do risco oferecido, a roçadeira frontal tem sido uma grande alternativa ao modo de
realizar a operação de poda. Esta também é feita com a roçadeira tradicional, que fica
posicionada na traseira do trator. Isso faz com que o tratorista trabalhe o tempo todo voltado
com o pescoço para trás para que possa acompanhar a operação. Juntando-se à má postura de
trabalho do operador, pedaços de rama também são arremessados a distâncias consideráveis.
Outra desvantagem desse implemento é que impede que o “afofador” (vide subitem 4.1.2.2)
seja utilizado ao mesmo tempo em que se faz a poda. Isso traz um revés de ordem econômica.
A eficiência da colheita diminui devido à interrupção da operação para a troca de
implementos e o gasto com combustível é dobrado, pois se percorre a mesma área duas vezes:
uma para podar e outra para afofar.

Após realizada a poda, as ramas das plantas de mandioca permanecem na lavoura. Esse
material se torna uma barreira ao livre trânsito do trabalhador, que pode vir a tropeçar e sofrer
uma queda. Como conseqüência dessa queda, surge o risco de perfuração, uma vez que, a
porção da parte aérea, que servirá como ponto de pega, apresenta formato pontiagudo (Figura
4.4) em decorrência do corte sofrido pela lâmina da roçadeira frontal.
xxxiii

Figura 4.4 – Lavoura de mandioca após a poda.


Fonte: JOSÉ OSMAR LORENZI (2007)

1.15.2.2 Retirada das raízes do solo


Ao mesmo tempo em que se realiza a poda com o equipamento de dupla hélice, um
implemento chamado “afofador” (Figura 4.5), acoplado ao hidráulico do trator, penetra a 0,4
m de profundidade no solo, afrouxando-o, e traz as raízes quase para fora. O “afofador”
facilita em muito a colheita da mandioca já que reduz para 10 a 15 kg a força exigida do
trabalhador para o arranquio das raízes.

Figura 4.5 - Trator com "afofador" e roçadeira frontal.


Fonte: CLETO LANZANI JANEIRO (2008)
xxxiv

No entanto, os tubérculos crescem de maneira irregular e desuniforme. Assim, muitas raízes


se desprendem da cepa e permanecem no solo. Então, ao mesmo tempo em que vão
arrancando as plantas e as amontoando, os colhedores verificam, com auxílio de enxadão, se
raízes permaneceram no solo (Figura 4.6). Durante essa etapa, trabalham todo o tempo
encurvados devido ao fato da ferramenta utilizada possuir o cabo muito curto. Os
trabalhadores argumentam que o enxadão de cabo curto torna a operação mais rápida e
precisa. Além da postura desagradável, também há o risco de ferimento com ferramenta de
corte, principalmente nos membros inferiores, uma vez que não é comum o uso de “perneiras”
(EPI que envolve a perna do indivíduo).

Figura 4.6 - Trabalhadores retirando as raízes do solo com o auxílio de "enxadão".


Fonte: O AUTOR
Depois de formados os montes ou “bandeiras” (nome adotado pelos trabalhadores), a próxima
etapa compreende a decepa, ou seja, a separação das raízes das cepas (Figura 4.7). Para isso
são utilizados facões extremamente afiados. Os trabalhadores seguram a cepa com uma das
mãos e com a outra desferem os golpes de facão. Essa operação é realizada num ritmo
frenético, o que colabora para o risco de acidente com instrumento cortante, principalmente
nas mãos e braços. Movimentos repetitivos envolvendo pulso e antebraço também ocorrem,
podendo resultar em lesões futuras.
xxxv

Figura 4.7 - Trabalhador decepando raízes de mandioca.


Fonte: JOÃO EDUARDO PASQUINI (2008)
Na NR-31, o item 31.11 Ferramentas Manuais, entre outros, indica que o empregador deve
oferecer gratuitamente as ferramentas adequadas ao trabalho, e que estas devem ser seguras e
eficientes e ainda que as de corte devem ser guardadas e transportadas em bainha. Porém, na
prática, essas determinações não são cumpridas.

1.15.2.3 Carregamento
Nesse momento é que ocorre a distinção entre os sistemas de colheita semimecanizada.

• Balaio:

Este sistema é o mais comumente praticado por não demandar maior número de
implementos. É importante frisar que a maior parte das lavouras de mandioca são feitas
por arrendatários que nem sempre possuem maquinários e implementos próprios.

As raízes são colocadas manualmente nos balaios, que ficam à altura do solo. O
trabalhador então tem que erguê-lo e transportá-lo até o caminhão. Essa distância é em
média de 5,0 m e o balaio cheio pesa de 25,0 a 30,0 kg.

A carroceria do caminhão geralmente tem capacidade para 23,0 t de raízes. As laterais


dessa carroceria são compostas por três partes móveis. Assim, no início do carregamento a
altura de deposição é de 1,5m (carroceria desmontada). No entanto, à medida que vai
xxxvi

sendo preenchida, as peças que compõem as laterais vão sendo encaixadas uma sobre a
outra, passando a exigir maior esforço do trabalhador, que tem que elevar o balaio por
sobre a cabeça e depois impulsioná-lo para que atinja alturas de até 3,0m (carroceria
completamente montada) (Figura 4.8). Na realização desse movimento ombros, braços,
joelhos e coluna vertebral são sobrecarregados.

São feitos dois carregamentos diários. O primeiro entre às 7h00 e 11h00 e o segundo, das
12h00 às 16h00. É nesse intervalo que ocorre a única pausa diária de trabalho e é
justamente o momento da refeição. Não existe um local apropriado para o descanso.

São colhidas em torno de 46,0 t de raízes. As equipes formadas são de no máximo 14


trabalhadores. Tem-se então um rendimento médio de 3,0 t/homem. Dessa forma, cada
trabalhador repete a operação de carregamento de 100 a 120 vezes num único dia. Além
disso, percorre cerca de 3,5 km durante a execução das diferentes tarefas que
compreendem a colheita da mandioca.

Dentro da realidade do trabalho rural, esta é uma atividade que remunera muito bem, o
que realça o interesse das pessoas nesse tipo de serviço. Facilmente, um safrista recebe em
torno de R$ 80,00 por dia(3), o que é muito se comparado ao que se paga por um dia de
capina, que gira em torno de R$ 23,00.

Figura 4.8 - Carregamento manual pelo sistema de "balaios".

3
Valor praticado no mês de junho de 2008.
xxxvii

Fonte: JOÃO EDUARDO PASQUINI (2008)


Curiosamente, na região Oeste do Paraná os colhedores não utilizam balaios, arremessam
as raízes diretamente na carroceria do caminhão. Segundo os trabalhadores, procedendo
dessa forma a colheita é mais rápida. A vantagem é que não precisam levantar e
transportar cargas pesadas. Por outro lado, realizam movimentos repetitivos com os braços
e trabalham agachados.

• “Big Bags”

No sistema de “big bags”, também chamado de “sacolão”, as raízes são acomodadas


dentro destes, que possuem capacidade para 350 a 700 kg. Em seguida, um guincho
acoplado ao trator os transporta até o caminhão (Figura 4.9).

Figura 4.9 - Carregamento pelo sistema de "big bag".


Fonte: JOÃO EDUARDO PASQUINI (2008)
Nessa fase do carregamento, utiliza-se o tratorista, uma pessoa no solo para engatar os
sacolões no guincho e outra sobre o caminhão para abri-los. Um guincho pode carregar
de 60 a 80 t de raízes por dia com muita eficiência, além da vantagem de poder ser
utilizado no período noturno. Dessa forma, o rendimento desse sistema é bem superior ao
tradicional, atingindo até 4,5 t/homem/dia. No entanto, ainda é muito pouco utilizado,
restringindo-se a propriedades que possuem grandes áreas ocupadas pela mandiocultura.
xxxviii

Mesmo o guincho procedendo o transporte e a deposição das raízes na carroceria do


caminhão, o que elimina a etapa mais desgastante para o trabalhador, estes continuam
preenchendo os sacolões por meio de balaios (Figura 4.10), ou seja, apesar de mais
moderno, esse método de colheita ainda não elimina o levantamento e transporte de
cargas.

Figura 4.10 - Preenchimento dos "big bags" através de balaios.


Fonte: JOÃO EDUARDO PASQUINI (2008)
Além disso, também exige a mobilização de um trator e a aquisição de um guincho
exclusivamente para o transporte dos sacolões. E ainda existe a questão dos próprios
trabalhadores preferirem o sistema de balaio. Isso se deve ao fato de que os montes feitos com
plantas de mandioca que serão decepadas devem ser maiores para que hajam raízes suficientes
para preencher os “big bags”. Para isso, os trabalhadores devem carregar e/ou arremessar as
plantas de mandioca por maiores distâncias. E isso, para eles, acaba por ser não mais
desgastante, mas sim mais incômodo que o levantamento e transporte dos balaios até o
caminhão.

Recentemente, um equipamento conhecido como “roll-on” (Figura 4.11) vem sendo utilizado
no sentido de dinamizar a logística da colheita. Nele, um mesmo caminhão possui várias
caçambas, que saem do chassi e são deixadas no solo por sistema hidráulico. Isto possibilita
várias viagens com um único caminhão, pois as caçambas ficam carregadas aguardando serem
xxxix

transportadas até a indústria. No entanto, o custo de aquisição destes equipamentos é alto e


por isso seu uso restringi-se aos poucos produtores mais capitalizados.

Figura 4.11 - Equipamento "roll on".


Fonte: JOÃO EDUARDO PASQUINI (2008)

1.16 RESULTADOS DOS QUESTIONÁRIOS

A seguir, apresentam-se os dados obtidos com a aplicação do questionário, oferecendo


informações necessárias para dar cumprimento aos objetivos traçados no presente trabalho.

Quanto ao sexo, todos são do gênero masculino com idades entre 22 e 38 anos. Como já foi
mencionado, dificilmente encontram-se pessoas com mais de 40 anos nessa atividade, a não
ser que tenham iniciado tardiamente. Mulheres não trabalham na colheita da mandioca por ser
uma atividade de extremo esforço físico. De modo geral, os colhedores começaram na
atividade entre os 13 e 27 anos.

Quando se analisa os dados referentes à escolaridade, observa-se que 08 indivíduos possuem


o 1º grau incompleto. Os demais possuem o 2º grau incompleto e são justamente os mais
jovens.

Com relação a orientações sobre prevenção de riscos de acidentes de trabalho e doenças


ocupacionais, todos responderam nunca ter recebido.

Todos responderam que existem pausas no trabalho, no entanto, somente durante o almoço e
variam entre 60 a 90 minutos. Perguntados se essas pausas são suficientes para recuperação
xl

do cansaço, 06 dos entrevistados assinalaram não. Dentre os que acham as pausas suficientes,
03 deles têm menos de 32 anos. É importante instituir mais pausas durante a jornada de
trabalho, pois ajudam a eliminar ou pelo menos reduzir os efeitos da fadiga, que prejudica o
desempenho dos trabalhadores e propicia acidentes.

Sobre a ocorrência de acidentes com ferramentas, equipamentos ou maquinários, apenas 02


indivíduos foram vitimados, todos por ferramentas de uso manual. Destes, nenhum recebeu
qualquer assistência por parte do empregador. Este é um dado preocupante, uma vez que é
responsabilidade do empregador zelar pela saúde e bem-estar de seus contratados, além de
viabilizar pronto atendimento médico.

Analisando-se os dados referentes a Primeiros Socorros, todos relataram não haver materiais e
nem treinamentos. Isso preocupa, pois os trabalhadores agrícolas estão expostos a inúmeros
riscos e os locais onde trabalham geralmente ficam distantes de postos de atendimento
médico.

Ao se observar os dados referentes à questão que trata de EPI´s (Tabela 4.1) nota-se que
apenas 06 componentes da amostra os utilizam e, ainda assim, não existe um uso adequado,
tendo em vista que muitos equipamentos de proteção sequer são utilizados.

Tabela 4.5 - Distribuição da utilização de Equipamento de Proteção Individual (EPI).


Fonte: O AUTOR
Tipo de EPI Nº de Pessoas
Roupa de proteção 02
Óculos de proteção 0
Protetor de ouvido 0
Protetor solar 0
Botas 06
Luvas 04
Máscara 0
Chapéu 04
Perneira 0
Não usa 04

Excetuando-se botas, chapéu e luvas, que tiveram bom percentual de utilização, muitos outros
sequer foram citados.
xli

Segundo a NR-6, é competência do empregador fornecer, gratuitamente, EPI adequado ao


risco, em perfeito estado de conservação e funcionamento. Além do que, exigir o uso por
parte do empregado, orientando-o e treinando-o quanto a correta utilização, guarda e
conservação.

Sendo esta uma das causas que provoca a ocorrência de acidentes do trabalho ou doenças
ocupacionais, deve-se ressaltar a existência de quatro pessoas que simplesmente não usam
nenhum tipo de EPI. Essa atitude só contribui para os altos índices de acidentes de trabalho no
meio rural brasileiro. No entanto, cabe averiguar o porquê da não utilização. Será falta de
conhecimento, de conscientização ou o não fornecimento pelo empregador?

Perguntou-se aos safristas se sentiam dores ou desconforto muscular que julgavam ser
resultado do trabalho. Oito deles responderam que sim. Complementando a resposta,
indagava-se quais as regiões do corpo acometidas. Não foram oferecidas alternativas. As
respostas estão na Tabela 4.2.

Tabela 4.6 - Número de trabalhadores com dores ou desconforto muscular nas diferentes partes
do corpo.
Fonte: O AUTOR
Parte do corpo Nº de Pessoas
Coluna vertebral 08
Ombros 02
Pernas 02

Do total que revelaram sentir dores ou desconfortos musculares, todos indicaram a coluna
vertebral como a parte do corpo mais atingida. Isso ocorre, fundamentalmente, das más
posturas somadas ao levantamento de peso, a que os trabalhadores obrigam-se a adotar para a
realização da colheita da mandioca. Ombros e pernas também foram citados, porém em
percentual mais reduzido.

Dores nas costas, ombros, braços e mãos são os sintomas mais comuns relatados pelos
trabalhadores agrícolas (NIOSH, 2003).

Quanto a ausência de dor relatada por apenas 02 membros da população da amostra, trata-se
de indivíduos com idades inferiores a 27 anos e com pouco mais de 5 anos na atividade. Isso
indica que a idade aliada ao pouco tempo de serviço na atividade mascara os resultados, uma
vez que futuramente estes podem vir a sofrer de algum tipo de dor ou desconforto muscular
xlii

decorrente do trabalho. Tal previsão poderá ser evitada desde que atitudes prevencionistas
sejam praticadas.

Consultados a respeito de faltas ao trabalho no último ano, todos os que afirmaram sentir
dores (08 indivíduos), ausentaram-se determinada quantidade de vezes devido ao quadro de
dor, como demonstra a Tabela 4.3.

Tabela 4.7 - Número de Trabalhadores que sentem dores decorrentes do trabalho e que já
faltaram alguma vez no período de 1 ano.
Fonte: O AUTOR
Quantidade de faltas Nº de Pessoas
Nunca faltou 0
Entre uma e dez vezes 06
Mais de 10 vezes 02

Pode-se concluir que, se o indivíduo sente dor, ele falta ao trabalho. E o maior prejudicado é
ele, tendo em vista que, além de sofrer com a dor, perde dias de trabalho que se traduzem em
redução na renda, já que é pago por dia trabalhado. Nesse sentido, faz-se importante o registro
em carteira de trabalho para que o ônus não fique somente com os trabalhadores. Eles
ficariam assegurados em caso de acidentes ou dores crônicas decorrentes de esforços
desempenhados para o cumprimento das tarefas.

As duas últimas perguntas do questionário envolvem um assunto polêmico e que foi abordado
recentemente pela imprensa. Trata-se do consumo de álcool e drogas por trabalhadores do
meio rural como forma de potencializar e suportar a carga diária de trabalho.

Quando questionados se conhecem quem faça uso dessas substâncias durante a execução do
trabalho, 08 deles afirmaram que sim. Isso confirma o alerta feito pelas reportagens exibidas.
O consumo de álcool e drogas pelos trabalhadores agrícolas já é uma realidade e deve ser
tratado como um problema de saúde pública.

A outra pergunta referia-se diretamente aos amostrados. A maioria, 08 indivíduos, disseram


nunca ter feito uso de tais substâncias durante o serviço. O restante assumiu consumi-las,
porém não concordaram que há aumento no rendimento do trabalho.

É imprescindível que as autoridades tomem providências no sentido de coibir o uso de álcool


e principalmente drogas no campo. Não só pelos reflexos negativos no trabalho, mas
xliii

essencialmente pelo risco que essas substâncias oferecem à saúde e à vida social destes
cidadãos.
xliv

CONCLUSÃO

1.17 REGULARIZAÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO

De acordo com o exposto, ficam evidentes as dificuldades por que passam as pessoas que
trabalham na colheita da mandioca. Cabe salientar que a regularização da questão trabalhista
é o primeiro passo para que a realidade do trabalhador rural comece a mudar.

Uma alternativa para sanar essa situação é o sistema de Condomínio de empregadores


rurais(4). Basicamente, dá-se a contratação do empregado rural temporário (safristas) por um
grupo de produtores que compartilham a mão-de-obra: os empregados prestam serviço para
todos os produtores, conforme as necessidades de cada um deles.

As vantagens deste sistema, tanto para empregadores como para trabalhadores, são inúmeras.
Para os produtores as vantagens são a segurança jurídica e a redução no custo de contratação
(salários, encargos, normas de segurança e saúde, dispensa). As despesas com o contrato de
trabalho são rateadas de forma proporcional ao número de dias em que cada um utilizou a
mão-de-obra em sua propriedade.

Com a regularização do contrato, os trabalhadores teriam garantidos todos os direitos


trabalhistas e previdenciários, como: piso salarial, férias, 13° salário, repouso semanal
remunerado, auxílio-doença e Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Nesse caso, ficaria facilitada também a aquisição, por parte dos empregadores rurais
envolvidos, de máquinas, equipamentos, ferramentas, EPI`s e treinamentos (primeiros
socorros, prevenção de doenças ocupacionais, uso correto de EPI`s, ginástica laboral) visando
melhorar a realidade em que é exercida a atividade da colheita da mandioca.

Também é de responsabilidade dos empregadores proceder a análise ergonômica do trabalho


para analisar, diagnosticar e corrigir a situação real de trabalho; introduzir pausas no trabalho
e construir locais apropriados para esse descanso; adotar programa de saúde ocupacional e
programa de ergonomia.

4
Essa proposta surgiu de produtores rurais integrantes da Federação da Agricultura do
Estado de São Paulo – FAESP e foi implementada por fazendeiros do noroeste do Paraná,
na cidade de Rolândia, em 1997, tendo sido objeto de tratamento legislativo pela edição
da Lei n° 10.256, de julho de 2001.
xlv

Uma outra opção, seria a criação de empresas especializadas na colheita da mandioca. Estas
forneceriam além da mão-de-obra, as máquinas (tratores, caminhões com sistema hidráulico
para recolhimento de caçambas) e equipamentos (guinchos, caçambas, “big-bags”) utilizados
durante a operação.

1.18 LEVANTAMENTO E TRANSPORTE DE CARGA

Evidentemente, o levantamento e transporte manual de cargas é a atividade que representa


maior risco para a saúde dos trabalhadores envolvidos na colheita da mandioca. è de
fundamental importância reduzir em pelo menos três vezes a quantidade de peso carregada
pelos trabalhadores no sistema de “balaios”.

Para isso, o desenho e a capacidade de cada balaio deveriam ser modificados. Sugere-se um
recipiente retangular, dotado de alças nas extremidades de forma a facilitar a pega.
Capacidade para até 21 kg de raízes e transportado por dois trabalhadores ao mesmo tempo.

No sistema de “big bag”, ao invés de levantar e transportar as raízes até os sacolões utilizando
balaios, poderia-se decepar as plantas de mandioca diretamente nos sacolões. Um suporte
desmontável sustentaria o sacolão aberto durante a operação.

Como alternativa para evitar o levantamento e transporte de peso no sistema de “balaios” e a


mobilização de um trator exclusivamente para elevar os sacolões durante o carregamento,
pode-se adaptar um braço hidráulico, também conhecido como “munck”, ao caminhão.

1.19 TREINAMENTOS E ORIENTAÇÕES

A aplicação do questionário revelou que os trabalhadores não recebem qualquer tipo de


treinamento ou orientação sobre como exercer sua atividade de forma segura. A prevenção
apresenta-se como a principal e melhor opção no trato das doenças ocupacionais, cabendo aos
profissionais da área de saúde ocupacional a missão de incentivar a adoção de medidas que
visem ao menos estacionar tais doenças e interferir decisivamente contra o surgimento de
novos casos.
As Secretarias de Saúde municipais poderiam criar programas de educação em saúde, higiene
e segurança do trabalho com o objetivo de levar informações até o meio rural, abordando
temas como:

• ergonomia de conscientização;
xlvi

• prevenção de acidentes e doenças ocupacionais;

• primeiros socorros;

• orientação anti-drogas e prevenção de DST´s / AIDS;

• ginástica laboral;

• conscientização sobre a importância do uso de EPI´s e sua correta utilização.


xlvii

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RIBEIRO, J. Fernando. Medicina e Meio Ambiente/ Eddy Bensoussen, J. Fernando Ribeiro
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xlix

APÊNDICE A – Questionário
INSTRUMENTO DE ENTREVISTA
Diagnóstico ergonômico preliminar em comunidade envolvida na colheita
da mandioca.
Tem como objetivo diagnosticar fatores de risco que podem provocar
acidentes e doenças ocupacionais nesta comunidade. Trata-se de uma
pesquisa exigida pelo Curso de Especialização em Engenharia de
Segurança do Trabalho, da Universidade Estadual de Maringá – UEM.

1. Escolaridade:
( ) 1º Grau incompleto ( ) 1º Grau completo
( ) 2º Grau incompleto ( ) 2º Grau completo
( ) 3º grau incompleto ( ) 3º grau completo

2. Sexo:
( ) Masculino ( ) Feminino

3. Idade:....................anos

4. Com que idade começou a trabalhar na colheita da mandioca?


..................... anos

5. Qual é o seu horário de trabalho?


De manhã das......................h as ......................h
A tarde das..........................h as ......................h

6. Você já recebeu alguma orientação sobre prevenção de riscos de


acidente de trabalho e
doenças ocupacionais? ( ) Sim ( ) Não

7. Você avalia que esta orientação em relação à prevenção de riscos de


acidentes de trabalho e doenças ocupacionais? ( ) Boa ( ) Regular ( )
Péssima

8. Existem pausas no seu trabalho? ( ) Sim ( ) Não


Se sim qual o tipo de pausa?
( ) lanche ( ) almoço ( ) descanso intermediário
qual o tempo de duração dessas
pausas?_________________________________________
_________________________________________________________________________

10. As pausas são suficientes para a recuperação do cansaço? ( ) Sim ( )


Não

11. Sofreu algum acidente de trabalho nos últimos 10 anos em sua


atividade de trabalho atual com o uso de ferramentas, equipamentos ou
maquinário? ( ) Sim ( ) Não
l

Se sim, qual a parte do corpo que foi


atingido:____________________________________
12. Esse acidente aconteceu com o uso de:
( ) Ferramentas de uso manual ( ) Maquinário agrícola
( ) Equipamento ( ) Outros

13. Teve alguma assistência por parte do empregador? ( ) Sim ( ) Não

14. Existem materiais de Primeiros Socorros no seu local de trabalho? ( )


Sim ( ) Não

15. Já recebeu algum tipo de treinamento em Primeiros Socorros? ( ) Sim


( ) Não

16. Quais os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) que você usa na


sua jornada de
trabalho?
( ) Roupa de Proteção ( ) Óculos de proteção ( ) Protetor de ouvido ( )
Protetor solar
( ) Botas ( ) Luvas ( ) Máscara ( ) Perneira ( ) Chapéu ( ) Não usa

17. Sente dores ou desconforto muscular que você julga ter sido resultado
do seu trabalho? ( ) Sim ( ) Não
Se sim, em que parte (s) do corpo?
____________________________________________

18. Já faltou ao trabalho devido a essas dores?


( ) nunca faltou ( ) entre uma e dez vezes ( ) mais de 10 vezes

19. Conhece pessoas que fazem uso de álcool/drogas durante o trabalho? ( ) Sim ( ) Não

20. Já trabalhou sob o efeito de álcool/drogas? ( ) Sim ( ) Não


Se sim, você acha que melhora o rendimento no trabalho? ( ) Sim ( ) Não

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