CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE
SEGURANÇA DO TRABALHO
MARINGÁ
2009
i
MARINGÁ
2009
ii
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
RESUMO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................... ..XII
1.2 JUSTIFICATIVA..................................................................................................XIII
1.5 FADIGA.........................................................................................................XVIII
1.5.1 Fatores fisiológicos da fadiga................................................... ..........................xviii
1.5.2 Fatores psicológicos da fadiga................................................... ..........................xix
1.12 OBSERVAÇÃO.............................................................................................XXVIII
1.14 QUESTIONÁRIO..........................................................................................XXVIII
CONCLUSÃO................................ .........................................XLIV
REFERÊNCIAS.............................................................. .........XLVII
APÊNDICE
38
ix
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
INTRODUÇÃO
O Estado do Paraná possui cerca de 180 mil hectares ocupados pela mandiocultura (IBGE,
2008), colocando-o atrás apenas de Bahia, Pará e Maranhão (Tabela 1.1). Os municípios que
compreendem a região Noroeste do Paraná respondem por mais de 35% desse total. Estima-se
que para cada hectare cultivado na cultura da mandioca (Manihot esculenta Crantz),
necessita-se de 0,2 homem/ano. Dessa forma, apenas nessa região há aproximadamente 12,6
mil trabalhadores rurais envolvidos nas diferentes etapas de manejo da cultura.
Tabela 1.1 - Área colhida e quantidade produzida de raiz de mandioca no Brasil e principais
estados. Safras 2005/06 a 2007/08.
Fonte: IBGE (2008).
Apesar dos avanços da tecnologia e a mecanização das tarefas, esta cultura ainda é
extremamente dependente de mão-de-obra. O processo de colheita é a etapa mais desgastante
e de maior risco ocupacional. As más posturas adotadas durante essa atividade aliada à carga
física demandada em virtude dos esforços desprendidos pelos trabalhadores agrícolas podem,
potencialmente, alterar o desempenho funcional destes, assim como, provocar distúrbios
posturais e o aparecimento, a curto e/ou a longo prazo, de patologias recorrentes
(MONTEIRO & ADISSI, 2000).
No entanto, será dada especial atenção ao risco físico responsável pela maior parte dos
afastamentos e doenças ocupacionais registrados na atividade, no caso, o levantamento de
peso excessivo, que é inerente à colheita da mandioca.
1.2 JUSTIFICATIVA
No âmbito nacional, não existe uma consciência dos sérios problemas que acarretam para a
saúde dos trabalhadores agrícolas o manuseio de cargas acima dos níveis máximos que o ser
humano pode suportar.
recuperação das lombalgias é muito mais longa do que o previsto pelas atuais orientações
médicas.
Embora a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) em seu art. 198 fixe o peso máximo de
60 kg para o levantamento manual de carga, sabe-se que as atividades envolvendo o manuseio
freqüente de cargas acima de 50 kg, bem como o manuseio de pesos em determinadas
posições, particularmente, levantando-os do chão, aumentam, substancialmente, a incidência
de lombalgias e outras doenças envolvendo a coluna vertebral.
Várias medidas de controle têm sido propostas em diversos países no sentido de impedir a
evolução do quadro clínico entre os trabalhadores que já manifestam sintomas e prevenir o
aparecimento de sintomas entre aqueles que não tiveram nenhum episódio. Elas devem ser
propostas a partir de criteriosa identificação dos fatores de risco na situação do trabalho.
Para a realização desta pesquisa e do cumprimento dos objetivos propostos, foi necessária a
utilização de determinadas técnicas de pesquisa. As situações foram observadas, comparadas
com o que é padronizado para a segurança e minimização de riscos, para que posteriormente,
pudessem ser estabelecidas intervenções.
• Observação;
• Análise documental;
• Questionário.
xvi
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Entre uma vértebra e outra existe um disco cartilaginoso, composto de uma massa gelatinosa.
As vértebras também se conectam por ligamentos. Os movimentos da coluna vertebral
tornam-se possíveis pela compressão e deformação dos discos e pelo deslizamento dos
ligamentos.
A superposição das vértebras forma um canal por onde passa a medula espinhal, que se liga ao
encéfalo. Pela medula circulam as informações sensitivas, que transitam pelas extremidades
para o cérebro e retornam, trazendo as ordens para os movimentos motores. A ruptura da
medula interrompe esse fluxo, causando paralisia.
A coluna é uma das estruturas mais fracas do organismo. Ela apresenta maior resistência para
forças na direção axial, sendo mais vulnerável para forças de cisalhamento (perpendiculares
ao eixo).
Sendo uma peça muito delicada, está sujeita a diversas deformações. Estas podem ser
congênitas ou adquiridas durante a vida, por diversas causas, como esforço físico, má postura
no trabalho, deficiência da musculatura de sustentação, infecções e outras. Quase sempre
esses casos estão associados a processos dolorosos. As principais anormalidades da coluna são
a lordose, a cifose e a escoliose. As pessoas portadoras dessas anormalidades não estão
xvii
impedidas de trabalhar, mas dependendo do grau em que elas ocorrem, devem evitar esforços
físicos exagerados.
A prevenção é a melhor opção para que essas deformações não apareçam. Isso é feito com
exercícios para fortalecer a musculatura dorsal, e evitando-se cargas pesadas ou posturas
inadequadas, principalmente se estas forem prolongadas, sem permitir mudanças freqüentes.
Ao levantar cargas pesadas devem ser utilizadas as pernas e não as costas como apoio e
sustentação do movimento. Os ombros devem ser posicionados para trás, com a coluna ereta e
joelhos flexionados. Manter a carga o mais perto possível do peito e aí endurecer as pernas
para levantar a carga, mantendo as costas retas.
Os discos cartilaginosos da coluna não possuem vasos sanguíneos. Dessa forma, recebem
nutrientes dos tecidos vizinhos através de difusão. Portanto, os movimentos de compressão e
descompressão alternados dos discos funcionam como uma bomba hidráulica que os irrigam.
Uma contração prolongada dos discos, que ocorre, por exemplo, em cargas estáticas, é muito
prejudicial, porque interrompe esse processo nutricional e pode provocar a sua degeneração.
As doenças degenerativas atingem em primeira instância as bordas dos discos, que se compõe
de resistentes massas fibrosas. Elas levam a alterações dos tecidos, traduzidas por perdas de
água, de modo que o anel fibroso torna-se frágil e quebradiço. Essas alterações do anel fibroso
são eventualmente acompanhadas de um achatamento dos discos intervertebrais. Com isto, é
perturbada a mecânica da coluna vertebral e assim nasce o risco de pequenos deslocamentos
das vértebras. Sob estas condições, bastam pequenos acontecimentos, como o levantar de uma
carga, o escorregar dos pés ou outros incidentes súbitos semelhantes para desencadear fortes
dores nas costas, chamadas de lombalgia.
O ideal é que se mantenha a coluna o mais reta possível durante o levantamento de uma carga.
Quando o curvar das costas causa a curvatura da coluna lombar, a sobrecarga nos discos é
grande e assimétrica. A pressão na borda da frente é muita mais alta que na borda de trás do
disco. Isso ocasiona desgaste do disco intervertebral e especialmente prejudicial para o anel
fibroso.
xviii
1.4.4 Lombalgia
É uma dor na região lombar provocada pela fadiga da musculatura das costas. Os casos mais
graves de lombalgia provocam fortes dores e podem incapacitar a pessoa para o trabalho, por
períodos de 3 a 10 dias. Dependendo da gravidade, esse período pode estender-se para 15 a 30
dias ou até meses.
Geralmente são causadas pela distensão dos músculos e ligamentos das vértebras ou
movimentos bruscos de torção. A situação tende a agravar-se nas pessoas que tem a
musculatura dorsal pouco desenvolvida e aquelas que ultrapassaram os 40 anos, quando os
discos tendem a degenerar-se, é justamente essa uma espécie de “idade limite” para o trabalho
na colheita da mandioca. Certamente, orientações no intuito de conscientizar os trabalhadores
da importância da prática de exercícios preventivos, adotar posturas corretas no levantamento
de cargas e evitar movimentos bruscos de torção contribuiriam para um maior tempo de
serviço nessa atividade.
1.5 FADIGA
causada pelo esgotamento das reservas de energia, que se manifesta pelo baixo teor de açúcar
no sangue. Esse quadro de estafa é reversível, desde que não ultrapasse certos limites, e o
corpo se recupera com pausas concedidas durante o trabalho, ou com o repouso diário.
Entretanto, existe outro tipo de fadiga, chamada de crônica, que não é aliviada por pausas ou
sonos e tem efeito cumulativo. É caracterizada por fastio, aborrecimento, falta de iniciativa e
ansiedade. Com o tempo pode causar úlceras, doenças mentais e cardíacas. Nessa situação o
repouso já não é suficiente para recuperação, devendo-se recorrer ao tratamento médico.
Esse tipo de fadiga está relacionado de forma complexa a uma série de fatores como a
monotonia, motivação, estado geral da saúde, relacionamento social e assim por diante.
Pausas devem ser proporcionadas sempre que o trabalho demandar atividade física pesada, ou
quando for realizado em ambientes desfavoráveis como altas temperaturas e excesso de
exposição à luz solar. Pausas de curta duração, embutidas no próprio ciclo de trabalho são
mais efetivas do que as longas, feitas após o término da atividade. Nesse caso, pode ocorrer
um efeito cumulativo da fadiga e, a recuperação, tornar-se mais difícil.
A NR-15, em seu anexo nº 3, determina os limites de tolerância para exposição ao calor, que
deve ser avaliada através do “Índice de Bulbo Úmido – Termômetro de Globo” (IBUTG).
Para ambientes externos com carga solar, o índice é definido pela seguinte equação:
onde:
xx
As medições devem ser efetuadas no local onde permanece o trabalhador, à altura da região
do corpo mais atingida.
Em função do índice obtido e do tipo de atividade, que no caso da colheita da mandioca é tida
como pesada, é definido o regime de pausas no trabalho, conforme a Tabela 2.1.
Tabela 2.2 - Limites de tolerância para exposição ao calor, em regime de trabalho intermitente
com períodos de descanso no próprio local de prestação de serviço.
Fonte: SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO, NR – 15 (2007)
Mesmo com modernas técnicas e formas de cultivo associadas aos novos equipamentos e
máquinas, a agricultura ainda é vista pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como
um dos três setores mais perigosos no mundo em matéria de segurança e saúde no trabalho,
junto com os setores da Mineração e Construção Civil (OIT, 2001).
Quanto às doenças do trabalho, as partes do corpo mais incidentes foram o ombro, o dorso
(inclusive músculos dorsais, coluna e medula espinhal) e o ouvido (externo, médio, interno,
audição e equilíbrio), com 16,7%, 12,3% e 11,5%, respectivamente.
A análise do trabalho é um método elaborado para estudar o funcionamento real das situações
de trabalho. As condutas realizadas no trabalho constituem seu objeto principal, permitindo
identificar os processos que regem a relação entre elas e o sistema de constrangimento nos
quais elas se desenvolvem. Este método contribui para identificar, de um lado, a diferença
entre o "dever-fazer" (a tarefa prescrita) e o "fazer" (a atividade real) e, de outro lado, como o
indivíduo faz reajustamentos, chamados de regulação (de TERSSAC,1990).
É imprescindível a observação sistemática da atividade, bem como dos meios disponíveis para
realizar a tarefa. Entrevistas orais ou escritas, gravadas ou não, filmagens e principalmente a
profunda análise “in loco” dos procedimentos durante o trabalho, são excelentes ferramentas
para obtenção de informações.
Outro ponto crucial é a análise da população de trabalhadores. Para isso deve-se adquirir as
seguintes informações: faixa etária, demais atividades desempenhadas, tempo de serviço,
tipos de contrato, experiência, características antropométricas, pré-requisitos para
desempenho da atividade, nível de escolaridade e capacitação, estado de saúde, morbidade,
mortalidade, absenteísmo etc.
Na prática essa dificuldade pode ser contornada por meio do subitem 17.2.2 da NR-17. Se
forem constatados acometimentos à saúde e à segurança (por exemplo, lombalgias) em
determinado local onde há levantamento de cargas, mesmo quando respeitados os limites
preconizados pela CLT, os agentes fiscalizadores poderão exigir modificações.
Para evitar esse risco, é questão apenas de compilar os dados referentes à morbidade dos
trabalhadores que comprovem o acometimento a sua saúde, no caso, lombalgias, hérnias de
disco, qualquer comprometimento da coluna vertebral causado por excessivo esforço.
O fato de a legislação ainda permitir transporte e levantamento de carga com limites muito
elevados, não quer dizer que se deve ater aos mesmos. Quanto mais leve for a carga, menor é
xxiii
onde:
Na colheita da mandioca pelo sistema de “balaios”, uma pessoa levanta esse recipiente cheio à
altura da superfície do solo (v = 0,0) e a 30 cm do corpo (H = 30), deslocando-o até 300 cm
xxv
(vide subitem 4.1.2.3) de altura (D = 300), rotacionando o corpo em 45° (A = 45). Esse
movimento é repetido uma vez a cada quatro minutos, durante 8 h/dia (F = 0,85). A qualidade
da pega é ruim (C = 0,90).
1.8.3 Treinamento
A NR-17, no subitem 17.2.3, também faz menção sobre a necessidade do trabalhador que
manuseia cargas pesadas receber treinamento para desempenho dessa tarefa.
17.2.3. Todo trabalhador designado para o transporte manual regular de cargas, que não as
leves, deve receber treinamento ou instruções satisfatórias quanto aos métodos de trabalho
que deverá utilizar com vistas a salvaguardar sua saúde e prevenir acidentes.
“A saúde ocupacional tem como objetivos: a promoção e manutenção, no mais alto grau, do
bem estar físico, mental e social dos trabalhadores em todas as ocupações; a prevenção,
entre os trabalhadores, de doenças ocupacionais causadas por suas condições de trabalho; a
proteção dos trabalhadores em seus empregos, dos riscos resultantes de fatores adversos à
saúde; a colocação e conservação (manutenção) dos trabalhadores nos ambientes
ocupacionais adaptadas às aptidões fisiológicas e psicológicas; em resumo: a adaptação do
trabalho ao homem e de cada homem ao seu próprio trabalho.”
xxvi
Por estes objetivos, o programa de saúde ocupacional deveria ser uma realidade no meio rural.
No entanto, não é o que se observa na prática. Fatores já mencionados anteriormente, como
inexistência de contrato trabalhista; fiscalização ineficiente e ausência de programas
municipais voltados à saúde dos trabalhadores rurais contribuem para essa situação.
Dessa forma, concebe-se a ergonomia como uma concepção de vida, através da qual se
buscam maneiras de melhor realizar atividades sem sobrecarregar demasiadamente o sistema
humano, pois de acordo com Kroemer (1995), o corpo usado dentro da razão é uma barreira
forte contra o surgimento de lesões músculo-esqueléticas.
• Quando alguns trabalhos causam tensão, fadiga localizada, incomodidade ou dor que não
desaparecem depois de descansar a noite toda;
• Quando os registros de lesões indicam dor nas mãos, os braços ou ombros, dor de costas ou
síndrome de conduto carpial;
1.12 OBSERVAÇÃO
As observações permitem ao analista traçar uma primeira idéia (superficial, mas necessária)
do trabalho, de levantar as principais operações a serem efetuadas pelo trabalhador: sua
freqüência, sua duração e como elas são realizadas. No presente estudo, foi realizada a
observação direta estruturada, não participante, individual, efetuada em campo de pesquisa,
acompanhada de máquina fotográfica e filmadora para registro do ambiente e situações de
riscos.
No caso específico desta pesquisa, foram estudados documentos sobre o registro e análise de
acidentes de trabalho. Da mesma forma, procurou-se sobre documentação relacionada com o
controle de riscos, além de dados estatísticos do Instituto Nacional da Seguridade Social
(INSS) e do Ministério do Trabalho.
1.14 QUESTIONÁRIO
A coleta das informações foi realizada com a precaução de observar a data e o horário que
melhor convinham aos sujeitos participantes. Ao estabelecer contato com os sujeitos da
pesquisa foram expostos os objetivos da mesma e a obtenção do consentimento dos
participantes do estudo. O questionário (vide APÊNDICE A) foi aplicado junto a uma amostra
de dez agricultores. As questões abordaram assuntos referentes a escolaridade, idade, sexo,
horário de trabalho, educação em saúde, trabalho, saúde, fatores de risco, postura,
ferramentas, doenças, acidente e uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI),
totalizando 20 questões.
xxix
Além da quantidade de homens exigida em cada sistema, outro fator que influencia
diretamente o custo da colheita é a coincidência com a época de colheita da cana-de-açúcar na
região Noroeste do Paraná. Dessa forma, há escassez de mão-de-obra, o que culmina em
preços mais altos exigidos para a execução da tarefa.
Lembrando que os trabalhadores são pagos de acordo com a quantidade colhida, valores mais
altos também são cobrados no caso de áreas que apresentam altas infestações por plantas
invasoras. Estas dificultam o arranquio das raízes, reduzindo a eficiência da colheita. Também
provocam redução da produtividade da cultura, o que demanda uma maior área colhida para
se fechar a carga do frete.
Nas atividades realizadas no campo os trabalhadores estão expostos aos mais variados riscos
como: ataque por animais peçonhentos (cobras, aranhas e escorpiões); insetos (lagartas e
himenópteros); intensa exposição à radiação não ionizante, ao frio e a intempéries (não
1
Homens efetivamente colhendo mandioca. Não estão inclusos motoristas e tratoristas.
Considerando produtividade da lavoura de 33t/ha.
xxx
existem abrigos para proteção dos trabalhadores); ruídos emitidos por máquinas agrícolas;
quedas devido à irregularidade do terreno e durante o transporte dos trabalhadores (feito por
caminhões); ferramentas cortantes e desconforto ergonômico (trabalho agachado e encurvado,
levantamento e transporte de cargas pesadas).
Totalmente em desuso atualmente nas lavouras comerciais, essa modalidade de colheita é feita
em pequenas áreas, utilizando-se mão-de-obra familiar. Processo demasiadamente desgastante
e muito pouco eficiente, demandando cerca de 22 dias/homem/ha. O trabalhador permanece
encurvado e chega a praticar forças de até 85 kg(2) para arrancar uma única planta de
mandioca (Figura 4.1).
2
Medição feita com dinamômetro. Planta com 8 meses, em solo de textura mista, úmido
e sem interferência de plantas daninhas.
xxxi
a céu aberto, talvez o uso de equipamento de proteção para os olhos aliado a distância segura
mantida por parte dos trabalhadores evitariam acidentes.
Após realizada a poda, as ramas das plantas de mandioca permanecem na lavoura. Esse
material se torna uma barreira ao livre trânsito do trabalhador, que pode vir a tropeçar e sofrer
uma queda. Como conseqüência dessa queda, surge o risco de perfuração, uma vez que, a
porção da parte aérea, que servirá como ponto de pega, apresenta formato pontiagudo (Figura
4.4) em decorrência do corte sofrido pela lâmina da roçadeira frontal.
xxxiii
1.15.2.3 Carregamento
Nesse momento é que ocorre a distinção entre os sistemas de colheita semimecanizada.
• Balaio:
Este sistema é o mais comumente praticado por não demandar maior número de
implementos. É importante frisar que a maior parte das lavouras de mandioca são feitas
por arrendatários que nem sempre possuem maquinários e implementos próprios.
As raízes são colocadas manualmente nos balaios, que ficam à altura do solo. O
trabalhador então tem que erguê-lo e transportá-lo até o caminhão. Essa distância é em
média de 5,0 m e o balaio cheio pesa de 25,0 a 30,0 kg.
sendo preenchida, as peças que compõem as laterais vão sendo encaixadas uma sobre a
outra, passando a exigir maior esforço do trabalhador, que tem que elevar o balaio por
sobre a cabeça e depois impulsioná-lo para que atinja alturas de até 3,0m (carroceria
completamente montada) (Figura 4.8). Na realização desse movimento ombros, braços,
joelhos e coluna vertebral são sobrecarregados.
São feitos dois carregamentos diários. O primeiro entre às 7h00 e 11h00 e o segundo, das
12h00 às 16h00. É nesse intervalo que ocorre a única pausa diária de trabalho e é
justamente o momento da refeição. Não existe um local apropriado para o descanso.
Dentro da realidade do trabalho rural, esta é uma atividade que remunera muito bem, o
que realça o interesse das pessoas nesse tipo de serviço. Facilmente, um safrista recebe em
torno de R$ 80,00 por dia(3), o que é muito se comparado ao que se paga por um dia de
capina, que gira em torno de R$ 23,00.
3
Valor praticado no mês de junho de 2008.
xxxvii
• “Big Bags”
Recentemente, um equipamento conhecido como “roll-on” (Figura 4.11) vem sendo utilizado
no sentido de dinamizar a logística da colheita. Nele, um mesmo caminhão possui várias
caçambas, que saem do chassi e são deixadas no solo por sistema hidráulico. Isto possibilita
várias viagens com um único caminhão, pois as caçambas ficam carregadas aguardando serem
xxxix
Quanto ao sexo, todos são do gênero masculino com idades entre 22 e 38 anos. Como já foi
mencionado, dificilmente encontram-se pessoas com mais de 40 anos nessa atividade, a não
ser que tenham iniciado tardiamente. Mulheres não trabalham na colheita da mandioca por ser
uma atividade de extremo esforço físico. De modo geral, os colhedores começaram na
atividade entre os 13 e 27 anos.
Todos responderam que existem pausas no trabalho, no entanto, somente durante o almoço e
variam entre 60 a 90 minutos. Perguntados se essas pausas são suficientes para recuperação
xl
do cansaço, 06 dos entrevistados assinalaram não. Dentre os que acham as pausas suficientes,
03 deles têm menos de 32 anos. É importante instituir mais pausas durante a jornada de
trabalho, pois ajudam a eliminar ou pelo menos reduzir os efeitos da fadiga, que prejudica o
desempenho dos trabalhadores e propicia acidentes.
Analisando-se os dados referentes a Primeiros Socorros, todos relataram não haver materiais e
nem treinamentos. Isso preocupa, pois os trabalhadores agrícolas estão expostos a inúmeros
riscos e os locais onde trabalham geralmente ficam distantes de postos de atendimento
médico.
Ao se observar os dados referentes à questão que trata de EPI´s (Tabela 4.1) nota-se que
apenas 06 componentes da amostra os utilizam e, ainda assim, não existe um uso adequado,
tendo em vista que muitos equipamentos de proteção sequer são utilizados.
Excetuando-se botas, chapéu e luvas, que tiveram bom percentual de utilização, muitos outros
sequer foram citados.
xli
Sendo esta uma das causas que provoca a ocorrência de acidentes do trabalho ou doenças
ocupacionais, deve-se ressaltar a existência de quatro pessoas que simplesmente não usam
nenhum tipo de EPI. Essa atitude só contribui para os altos índices de acidentes de trabalho no
meio rural brasileiro. No entanto, cabe averiguar o porquê da não utilização. Será falta de
conhecimento, de conscientização ou o não fornecimento pelo empregador?
Perguntou-se aos safristas se sentiam dores ou desconforto muscular que julgavam ser
resultado do trabalho. Oito deles responderam que sim. Complementando a resposta,
indagava-se quais as regiões do corpo acometidas. Não foram oferecidas alternativas. As
respostas estão na Tabela 4.2.
Tabela 4.6 - Número de trabalhadores com dores ou desconforto muscular nas diferentes partes
do corpo.
Fonte: O AUTOR
Parte do corpo Nº de Pessoas
Coluna vertebral 08
Ombros 02
Pernas 02
Do total que revelaram sentir dores ou desconfortos musculares, todos indicaram a coluna
vertebral como a parte do corpo mais atingida. Isso ocorre, fundamentalmente, das más
posturas somadas ao levantamento de peso, a que os trabalhadores obrigam-se a adotar para a
realização da colheita da mandioca. Ombros e pernas também foram citados, porém em
percentual mais reduzido.
Dores nas costas, ombros, braços e mãos são os sintomas mais comuns relatados pelos
trabalhadores agrícolas (NIOSH, 2003).
Quanto a ausência de dor relatada por apenas 02 membros da população da amostra, trata-se
de indivíduos com idades inferiores a 27 anos e com pouco mais de 5 anos na atividade. Isso
indica que a idade aliada ao pouco tempo de serviço na atividade mascara os resultados, uma
vez que futuramente estes podem vir a sofrer de algum tipo de dor ou desconforto muscular
xlii
decorrente do trabalho. Tal previsão poderá ser evitada desde que atitudes prevencionistas
sejam praticadas.
Consultados a respeito de faltas ao trabalho no último ano, todos os que afirmaram sentir
dores (08 indivíduos), ausentaram-se determinada quantidade de vezes devido ao quadro de
dor, como demonstra a Tabela 4.3.
Tabela 4.7 - Número de Trabalhadores que sentem dores decorrentes do trabalho e que já
faltaram alguma vez no período de 1 ano.
Fonte: O AUTOR
Quantidade de faltas Nº de Pessoas
Nunca faltou 0
Entre uma e dez vezes 06
Mais de 10 vezes 02
Pode-se concluir que, se o indivíduo sente dor, ele falta ao trabalho. E o maior prejudicado é
ele, tendo em vista que, além de sofrer com a dor, perde dias de trabalho que se traduzem em
redução na renda, já que é pago por dia trabalhado. Nesse sentido, faz-se importante o registro
em carteira de trabalho para que o ônus não fique somente com os trabalhadores. Eles
ficariam assegurados em caso de acidentes ou dores crônicas decorrentes de esforços
desempenhados para o cumprimento das tarefas.
As duas últimas perguntas do questionário envolvem um assunto polêmico e que foi abordado
recentemente pela imprensa. Trata-se do consumo de álcool e drogas por trabalhadores do
meio rural como forma de potencializar e suportar a carga diária de trabalho.
Quando questionados se conhecem quem faça uso dessas substâncias durante a execução do
trabalho, 08 deles afirmaram que sim. Isso confirma o alerta feito pelas reportagens exibidas.
O consumo de álcool e drogas pelos trabalhadores agrícolas já é uma realidade e deve ser
tratado como um problema de saúde pública.
essencialmente pelo risco que essas substâncias oferecem à saúde e à vida social destes
cidadãos.
xliv
CONCLUSÃO
De acordo com o exposto, ficam evidentes as dificuldades por que passam as pessoas que
trabalham na colheita da mandioca. Cabe salientar que a regularização da questão trabalhista
é o primeiro passo para que a realidade do trabalhador rural comece a mudar.
As vantagens deste sistema, tanto para empregadores como para trabalhadores, são inúmeras.
Para os produtores as vantagens são a segurança jurídica e a redução no custo de contratação
(salários, encargos, normas de segurança e saúde, dispensa). As despesas com o contrato de
trabalho são rateadas de forma proporcional ao número de dias em que cada um utilizou a
mão-de-obra em sua propriedade.
Nesse caso, ficaria facilitada também a aquisição, por parte dos empregadores rurais
envolvidos, de máquinas, equipamentos, ferramentas, EPI`s e treinamentos (primeiros
socorros, prevenção de doenças ocupacionais, uso correto de EPI`s, ginástica laboral) visando
melhorar a realidade em que é exercida a atividade da colheita da mandioca.
4
Essa proposta surgiu de produtores rurais integrantes da Federação da Agricultura do
Estado de São Paulo – FAESP e foi implementada por fazendeiros do noroeste do Paraná,
na cidade de Rolândia, em 1997, tendo sido objeto de tratamento legislativo pela edição
da Lei n° 10.256, de julho de 2001.
xlv
Uma outra opção, seria a criação de empresas especializadas na colheita da mandioca. Estas
forneceriam além da mão-de-obra, as máquinas (tratores, caminhões com sistema hidráulico
para recolhimento de caçambas) e equipamentos (guinchos, caçambas, “big-bags”) utilizados
durante a operação.
Para isso, o desenho e a capacidade de cada balaio deveriam ser modificados. Sugere-se um
recipiente retangular, dotado de alças nas extremidades de forma a facilitar a pega.
Capacidade para até 21 kg de raízes e transportado por dois trabalhadores ao mesmo tempo.
No sistema de “big bag”, ao invés de levantar e transportar as raízes até os sacolões utilizando
balaios, poderia-se decepar as plantas de mandioca diretamente nos sacolões. Um suporte
desmontável sustentaria o sacolão aberto durante a operação.
• ergonomia de conscientização;
xlvi
• primeiros socorros;
• ginástica laboral;
REFERÊNCIAS
BARNES, R. Estudo de movimentos e de tempos. São Paulo: Edgar Blücher, 1977. 635p.
DUL, J. & WEERDMEESTER, B. Ergonomia Prática. 2ª ed. São Paulo: Editora Edgar
Blücher, 2004. 137p.
IIDA, I. Ergonomia. Projeto e Produção. 2ª ed. São Paulo: Editora Edgar Blucher, 2005.
Manuais de Legislação Atlas – Segurança e Medicina do Trabalho. 60ª ed. São Paulo:
Editora Atlas S. A. 2007.
NIOSH (National Institute for Occupational Safety and Health). Soluciones simples:
ergonomía para trabajadores agrícolas. Departamento de Salud y Servicios Humanos.
Centros para el Control y la Prevención de Enfermedades. Instituto Nacional de Salud y
Seguridad Ocupacional 1División de Vigilancia, Evaluaciones de Peligros, y estudios de
Campo 2 División de Investigación y Tecnología Aplicada Febrero de 2001. NIOSH
Publications Dissemination Traducción en español: julio 2002.
SELLTIZ.C. et al. Métodos de Pesquisa nas Relações Sociais. São Paulo. Atlas S.A.,1987.
APÊNDICE A – Questionário
INSTRUMENTO DE ENTREVISTA
Diagnóstico ergonômico preliminar em comunidade envolvida na colheita
da mandioca.
Tem como objetivo diagnosticar fatores de risco que podem provocar
acidentes e doenças ocupacionais nesta comunidade. Trata-se de uma
pesquisa exigida pelo Curso de Especialização em Engenharia de
Segurança do Trabalho, da Universidade Estadual de Maringá – UEM.
1. Escolaridade:
( ) 1º Grau incompleto ( ) 1º Grau completo
( ) 2º Grau incompleto ( ) 2º Grau completo
( ) 3º grau incompleto ( ) 3º grau completo
2. Sexo:
( ) Masculino ( ) Feminino
3. Idade:....................anos
17. Sente dores ou desconforto muscular que você julga ter sido resultado
do seu trabalho? ( ) Sim ( ) Não
Se sim, em que parte (s) do corpo?
____________________________________________
19. Conhece pessoas que fazem uso de álcool/drogas durante o trabalho? ( ) Sim ( ) Não