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Uma publicação da Aver Editora - 16 a 31 de Maio de 2009 - Ano I Nº 3 R$ 5,00

Retratos da vida
Perto dos 50 anos de carreira, Maria Alice Vergueiro dá um tapa na hipocrisia e fala
o que pensa, acredita e defende: “Não tenho que provar mais nada a ninguém.”
Divulgação

Em entrevista ao Jornal de

Arte / Foto: Arquivo Pessoal


REPORTAGEM Teatro, sentada no mesmo
sofá em que foi gravado o
Boal se foi, mas curta “Tapa da Pantera”,
sucesso na internet que a
sua obra fica apresentou para um vasto
público, a atriz revela seus
para a eternidade pensamentos sobre temas
como velhice, drogas e,
Págs. 12 a 14 claro, teatro. Neste último,
ela fala sobre a montagem
de “As Três Velhas”, texto
HISTÓRIA do chileno Alejandro
Jodorowsky.
Magia das salas Pags. 8 a 10

neoclássicas
ainda impressiona Camareiras
Pág. 22 revelam os seus
segredos
VIDA & OBRA Pág. 18
Elias Andreato
mostra a sua Florianópolis
paixão pela arte recebe teatro
Pág. 21
de animação
Pág. 16
Luciana Chama Douglas de Barros / JT

Ballet Nacional de
Cuba comemora
60 anos com turnê
pelo Brasil
Pág. 11

COLUNAS

Luciana Chama MARKETING Charme, beleza


e as novidades Santander e o e talento que
de Los Angeles apoio à cultura rendem prêmios
Pág. 17

A arte londrina Patrícia Selonk e Isabel


FORMAÇÃO Teixeira falam sobre suas
sob o olhar de Célia Helena: carreiras e a emoção de
Fotos: Argosfoto

Adriano Fanti ganhar o Prêmio Shell


ensino ‘de berço’ Págs. 6 e 7
Pág. 23 Pág. 19
2 16 a 31 de Maio de 2009 Jornal de Teatro
Jornal de Teatro 16 a 31 de Maio de 2009
3
Editorial
Divulgação

Reportagem
“Já fiz drama, tragédia, comé-
dia... Tudo é um prazer quando Qual a função social de um
se gosta do que se faz.” Assim
Elias Andreato resume sua vida espetáculo de teatro?
Pág.: 21 Na hora de buscar um patrocínio para determinado espetáculo é co-
mum os produtores apresentarem para a empresa a contrapartida que
os nanciadores terão: o valor implícito em divulgação de marca e asso-
ciação do produto. Quando essa marca é associada a espetáculos “ousa-
dos” algumas adaptações são necessárias. Dois nomes presentes nessa
edição do Jornal de Teatro mostram que é possível traçar um caminho
paralelo (para não dizer alternativo), na hora de produzir montagens
com uma preocupação maior em conteúdo do que em forma. Augusto
Boal é a prova viva (sim, muito viva) de que o teatro tem um papel social
muito além do comercial. Seu pensamento revolucionou as artes cênicas
mundiais, sem falar nas pessoas beneciadas com a distribuição de arte,
oras gratuita, ora nanciada. O seu Teatro do Oprimido sempre priori-
zou o ensino através da palavra, do texto, e do conteúdo já presente na
vida de cada um. Presente, mas muitas vezes desconhecido pelo próprio

Índice ator. O trabalho de Boal mostrou ao público que é possível pensar e ser
mais crítico do que o chamado senso comum. Se estes conceitos são
importantes no teatro, imagina quando levados às escolas, prisões e pro-
jetos sociais. O espectador é o grande protagonista de um espetáculo,
BASTIDORES.................................................... 4 e 5 envolvido com a trama da sua própria existência e, principalmente, com
O Primo Basílio - O Musical os condicionantes sócio-econômicos da sua situação.
“Sem público é muito difícil você se interessar pelo que você está fazen-
De Eça de Queiroz, o espetáculo - dirigido por Dan Rosseto do” disse nossa outra representante de um teatro vivo, orgânico, presente
- estréia de 5 de julho, no Teatro Brigadeiro, em São Paulo nessa edição, Maria Alice Vergueiro. A ousadia da atriz “brechtiniana”
revela a diculdade que às vezes encontra para levar aos palcos as idéias
que defende. E defende há mais de 40 anos de sucesso e reconhecimento
POLÍTICA CULTURAL................................................15 de toda a classe artística. A senhora de 74 anos revela que gostaria de levar
Usina das Artes seu espetáculo “As Três Velhas” para escolas da periferia, para motivar um
pensamento crítico nos alunos. Sem preparar o público, ela quer colocar
Centro Cultural Usina do Gasômetro, em Porto Alegre, vira sua arte no palco e sentir a resposta dos espectadores.
referência para grupos de teatro, de dança e de música Aliás, você vai conferir nas próximas páginas uma entrevista com
Lígia Cortez, coordenadora da Escola de Teatro que leva o nome de sua
mãe, Célia Helena. Em suas palavras também estão presentes a preocu-
FESTIVAIS...............................................................16 pação com o papel social do ator, “o poder transformador que o teatro
tem na pessoa e na sociedade”.
Bonecos invadirão Canela Faz-se teatro para agradar ou criticar o público? Boal e Maria Alice
Cidade do interior gaúcho sediará, de 18 a 21 de junho, o mostram que há um grande aprendizado na dúvida. Quando alguém é
Festival Internacional de Teatro de Bonecos pressionado a decidir um ponto de vista, analisa todos os possíveis e
assim cria novos conceitos pessoais. O êxtase do ator no palco é pessoal,
mas quando o público se envolve e reete sobre cada palavra escolhida
minuciosamente, a emoção passa a ser coletiva. Essa é a função social
MARKETING.............................................................17 de um espetáculo. Atingir em cheio um grupo de dez pessoas que presti-
Grupo Santander Brasil giam um espetáculo ou encontrar um representante – entre uma platéia
de mais 300 – que leve consigo um pouco mais que os conceitos que
Banco que mais patrocinou o teatro, em 2008, cria o trazia antes de entrar no teatro.
Santander Cultural, destinado a gerir e gerenciar a arte

TÉCNICA.................................................................18
Coaching
Técnica relativamente nova no Brasil é utilizada por atores Rodrigoh Bueno
e atrizes como ferramenta da aprimoramento profissional
Editor do Jornal de Teatro

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4 16 a 31 de Maio de 2009 Jornal de Teatro

Bastidores
Homenagem a Noel Rosa e outros artistas
A vida de Noel Rosa des- Almirante, Lamartine Babo, acompanhados pelo conjunto
fila pelo palco do Teatro Sér- a dupla Joel e Gaúcho, Nonô paulistano Grupo JB Samba e
gio Cardoso, em São Paulo. (pianista, tio de Cauby Peixo- pelo músico Renan Guazzelli.
O espetáculo “Noel Rosa – to e Cyro Monteiro), Orestes Reconhecido como aquele
o Poeta, o Músico, Cronista Barbosa (futuro letrista de que uniu o samba da cidade ao
de uma Época” mostra os Chão de Estrelas), Nássara do morro, Noel Rosa também
problemas familiares (pai (cartunista e futuro compo- trouxe para a música brasileira
suicida, irmão epilético), os sitor de Alalaô), Ismael Sil- o linguajar simples do povo,
envolvimentos amorosos, a va, Wilson Baptista, Homero numa espécie de continuidade
polêmica musical com Wilson Dornellas, Braguinha (futuro aos artistas da Semana da Arte
Baptista, a luta íntima contra letrista de Carinhoso), Vadico Moderna, que proclamaram li-
o defeito facial (provocado (paulistano, maior parceiro de berdade de expressão e empre-
pelo parto a fórceps), da for- Noel), o grande ator e com- go da linguagem coloquial.
ma mais poética encontrada positor Mário Lago, os can- A CYa. Grita Absoluta e o
pelo homenageado, inclusive tores Mário Reis, Francisco Grupo JB Samba antecipam as
tendo como enfoque tudo Alves, Aracy Cortes, Aracy de homenagens ao centenário de
que o levou a compor cada Almeida e Marília Baptista. nascimento (2010) desse gran-
música apresentada, ou seja, Com que Roupa?, Três de poeta e músico, que, com
cada fonte de inspiração. Apitos, Palpite Infeliz, Não seus sambas, escreveu uma de-
Mas, além de contar a vida Tem Tradução, Conversa de talhada crônica de seu tempo.

Fotos: Divulgação
de Noel, também se faz ho- Botequim, Último Desejo, O público pode conferir “Noel
menagem a vários artistas da Fita Amarela, Pastorinhas são Rosa – o Poeta, o Músico, Cro-
época, a maioria amigos e/ algumas das 40 músicas que nista de uma Época” até o dia
ou parceiros dele na vida e 12 atores cantam, ao vivo, em 25 de junho, todas as quartas e
na obra: o cantor e radialista arranjos alegres e modernos, quintas-feiras, às 21h. CYa. Grita Absoluta e JB Samba cantam Noel no teatro Sérgio Cardoso

Sucesso de público e crítica no Rio


A mistura de teatro, dança,
vídeo e música tem garantido
o sucesso da peça “A mulher
que matou os peixes... e outros
bichos”, em cartaz no Oi Fu-
turo, no Rio de Janeiro, desde
o m de abril. Elogiada por
crítica e público, a peça tem
a sua plateia acrescida a cada
semana. Idealizada pela atriz
Mariana Lima e fortemente in-
uenciada pelos contos infan-
to-juvenis de Clarice Lispector,
a obra encanta justamente por
passar longe das tradicionais
O projeto “Noiva Despedaçada” é coordenado por Ricardo IazzeĴa estórias do gênero, com suas
inocentes princesas e animais
felizes na oresta. Peça infantil no Rio foi inuenciada por contos de Clarisse Lispector
Teatro de Dança estreia nova Na peça, que vai até 18 de
julho, uma sucessão de episó-
(narrativa com início, meio
e m; truques ilusionistas e
reto, da parte de vídeos.
“A mulher que matou os
edição do Artista da Casa dios não geralmente apresenta-
dos para crianças ocorrem de
atores sempre de frente para
a plateia), Cristina Moura,
peixes... e outros bichos” tam-
bém possui forte carga cor-
No período de 13 a 31 de sica, para, a partir da gura da maneira quase frenética. Há o que assume a direção do es- poral, textual e musical, com
maio, o TD - Teatro de Dança noiva, questionar um possível caso da mulher que matou os petáculo, consegue dar di- dança, piruetas, acrobacias e
estreia a 4ª edição do programa esvaziamento de sentido do ri- peixes, de vários cachorros que nâmica e criatividade às ori- instrumentos musicais. No
Artista da Casa, coordenada tual e dos mitos na sociedade já perderam a vida e de uma ginais ideias da peça. Vale elenco, junto a Mariana Lima,
pelo bailarino e diretor Ricardo contemporânea”. macaca que também não viveu lembrar que, no elenco, estão estão o ator Renato Linhares e
Iazzetta: Noiva Despedaçada Nessa nova edição do Artis- por muito tempo. A morte de prossionais não exatamente a atriz e bailarina Luciana Fro-
- Forma e Estilhaçamento. O ta da Casa, o projeto contempla bichinhos de estimação, obvia- conhecidos do teatro infantil és. A peça está em cartaz no
Artista da Casa é um projeto dois momentos essenciais do mente, não é um assunto co- como a própria diretora; Mari Oi Futuro, no Flamengo. As
do TD que, duas vezes por ano, processo de criação: a Constru- mum em peças infantis. Stockler, da direção de arte e apresentações são sempre aos
convida um artista consagrado ção Aberta e as Performances. Magistralmente, porém, cenograa; Enrique Diaz, da sábados e domingos, às 16h.
para elaboração e apresentação Construção Aberta é uma parte até com auxílio de regras iluminação; Marcelo Olinto, O preço do ingresso é de R$ 8,
de espetáculo inédito no teatro. do projeto Noiva Despedaçada tradicionais do teatro adulto pelos gurinos; e Paola Bar- sendo R$ 4 a meia
Desta vez, a proposta é o en- - Forma e Estilhaçamento que
trelaçamento de discursos ar- abre ao público, em sessões gra-
tísticos, através de criadores de tuitas, o processo de construção
dança, vídeo e música. das performances que virão a
Ricardo Iazzetta dirige, seguir. Nos dias 13 a 17, 20 e
ao lado de Key Sawao, a Key
& Zetta e Cia. onde realizam
21, 27 e 28 de maio, as portas
do Teatro de Dança estarão
ERRATA
suas criações focadas na pes- abertas, no horário das 14h30 às Na edição
quisa de linguagens corporais 21h, para o público interessado número 2 do
e suas interrelações, convidan- observar a discussão e concep- Jornal de Teatro,
do outros artistas para inte- ção sobre as performances, o na página 20, a
grarem os processos criativos. gurino, as cenas, luz, ambien- foto ao lado foi
Ricardo Iazzetta conceitua o tação do espaço. As performan- legendada com o
projeto: “Reunimos uma serie ces acontecem nos dias 22 a 24 nome errado do
de ações artísticas que envolve e 29 a 31 de maio, à noite. São restaurante. Trata-
a linguagem da dança, vídeo, três performances diferentes se do restaurante
culinária, criação de gurino, propondo uma reexão poética La Fiorentina.
ambientação do espaço e mú- a partir da imagem da noiva.
Jornal de Teatro 16 a 31 de Maio de 2009
5
Bastidores
Rio de Janeiro terá o seu
Fotos: Divulgação

Viradão Cultural em junho


A Secretaria Municipal de pela cidade. A proposta é tra-
Cultura do Rio de Janeiro con- zer atrações, que a princípio
rmou para a primeira semana só se exibiriam na Zona Sul,
de junho a realização do Vira- para todo o Rio de Janeiro.
dão Cultural Carioca. O even- Vamos fazer a cidade ficar de
to, nos moldes da Virada Cul- cabeça para baixo. Colocare-
tural de São Paulo e da Nuit mos bandas de rock tocando
Blanche de Paris, prevê, além em trios elétricos, por exem-
de apresentações teatrais, sho- plo”, promete a assessoria da
ws musicais, apresentações de Secretaria.
humor, de dança, exposições O orçamento para as apre-
de fotograa e de artes plás- sentações cará em torno de
ticas em diversos pontos das R$ 3 milhões e a prefeitura ain-
zonas Sul, Leste, Oeste, Norte da contará com apoio do Sesc
e Centro da cidade. e de empresas privadas como a
“De sexta-feira a domin- Globo Rio e outras que ainda
go, teremos eventos 24 horas negociam parceria com o go-
por dia nos palcos espalhados verno municipal carioca.
Em cena, a inconsequente Luísa junto com o seu dedicado marido é observada pelo conquistador Basílio

O Primo Basílio – o Musical Abertas as inscrições para o IV Festcal


Organizado pela Trupe volver cerca de 15 mil pes-
Estreia, dia 5 de junho, Artemanha - que desenvolve soas entre artistas, técnicos e
no Teatro Brigadeiro (Av. seu projeto de pesquisa teatral público da região sul de São
Brigadeiro Luís Antonio, nº no Bairro do Campo Limpo, Paulo. Dentre os grupos con-
884, Bela Vista, São Paulo), em São Paulo -, o IV Festcal vidados estão Lume, Barra-
O Primo Basílio – o Musical. (Festival Nacional de Teatro cão de Teatro, Fraternal Cia.
De Eça de Queiróz, dirigido do Campo Limpo) foi cria- de Arte e Malas Artes, Com-
por Dan Rosseto e adaptado do, em 2006, com o intuito panhia do Latão, Grupo Gal-
por Francisca Braga, o espe- de facilitar o acesso de várias pão, Grupo Teatro Andante e
táculo tem direção musical estéticas teatrais à população dois grupos do Campo Lim-
de Dyonisio Moreno e pro- da região sul da cidade. A po. Essas companhias ofere-
dução de Lígia Paula Macha- primeira edição contou com cerão palestras, ocinas ou
do. A temporada irá até 6 de a participação de 11 grupos debates sobre seus processos
setembro. da região e de outros municí- de pesquisa para interessados
O Primo Basílio é uma das pios, como Taboão da Serra, em geral.
maiores obras literárias de lín- São Caetano e Poá. Nesta edição, será discu-
gua portuguesa, agora inedita- Em 2007, o Festcal foi tido o processo colaborativo
mente adaptado para musical ampliado para 18 grupos de cada companhia, através
pela escritora carioca Francisca de teatro adulto e infanto- de debates, reexões, oci-
Braga. Escrito em 1878, pelo juvenil. Houve, também, a nas, palestras e apresentações
português Eça de Queiróz, o criação da 1ª Mostra de Te- dos espetáculos que serão
livro aborda romance, disputa atro de Rua, que reuniu seis expostos para artistas e o pú-
e traição. Nessa versão de Bra- grupos de São Paulo, em um blico em geral. A comissão
ga, a história se passa no Rio de total de 24 coletivos e cer- organizadora do IV Festcal
Janeiro, entre 1959 e 1961. ca de oito mil espectadores. selecionará seis grupos de
O musical tem em seu O IV Festcal ocorrerá de 27 outros estados do país nas
elenco 11 atores, seis músicos, de agosto a 8 de setembro, categorias Teatro Adulto, Te-
cantores e bailarinos que, ins- nos Ceus (Centros Educa- atro Infanto-Juvenil e Teatro
pirados no movimento musical cionais Unificados) Campo de Rua, para se apresentarem
Bossa Nova, desam canções Os protagonistas Lígia Paula Machado, Luiz Araújo e Alvaro Franco
Limpo, Cantinho do Ama- nos Ceus, espaços alternati-
de gêneros como MPB, valsa, nhecer, Capão Redondo, na vos e pelas ruas e praças da
samba de breque e tango. Os ca, é assinado por Taeko Ta- Com apenas 22 anos, Lígia Casa de Cultura do Campo região do Campo Limpo. O
instrumentos utilizados pe- mai com consultoria de moda Paula Machado empenha suas Limpo, no Espaço Artema- encontro é aberto a artistas
los músicos vão do piano de de Karen Albuquerque, a ilu- habilidades de atriz, bailarina e nha de Teatro, em espaços e público em geral mediante
cauda, violões, violino e auta minação tem Cizo de Souza na coreógrafa para protagonizar alternativos e pelas praças e a prévia inscrição pelo e-mail
transversal passando pelo sax criação e as coreograas são Luísa, a maior pecadora da ga- ruas do Campo Limpo. trupeartemanha@trupearte-
percussão. O gurino, de épo- de Ivan Silva. leria de mulheres de Eça. O Festival pretende en- manha.com.br.
Paulo Pereira / Divulgação

Itaú Cultural e AfroReggae


juntos em São Paulo
Durante o mês de junho, Tronconenses”, com o grupo
o Itaú Cultural terá três pro- Núcleo Teatral Filhos da Dita
gramações teatrais dentro do do grupo Pombas Urbanas, no
“Antídoto 2009” - evento in- dia 7 de junho (domingo), às
ternacional de ações culturais 20h; “Mercadorias&Futuro”,
em zonas de conito, realizado com Lirinha, nos dias 17 e
em parceria pelo Itaú Cultural 18 de junho (quarta e quinta-
e o AfroReggae. São eles: feira), às 20h; e o espetáculo
“Histórias Para Serem Con- moçambicano “A Mulher As-
tadas”, com o grupo paulista- falto”, com Lucrecia Paco, nos
no Pombas Urbanas, no dia 6 dias 19 a 21 de junho (sexta a
de junho (sábado), às 20h; “Os domingo), às 20h.
6 16 a 31 de Maio de 2009 Jornal de Teatro

Prêmio

Prêmio para a ousadia


Vencedoras do Prêmio Shell de melhor atriz, no Rio de Janeiro
e em São Paulo, pedem pela renovação do teatro brasileiro

Por Felipe Sil

Jornal de Teatro – O que re


representou ganhar o Prêmio Shell de melhor atriz?
Patrícia Selonk – Eu não esperava.
e Foi muito legal e estou contente, pois sou uma atriz de companhia: o
ga
Armazém. O fato de eu ganhar um prêmio como melhor atriz só valoriza o papel do meu grupo. Senti-
me meio como representa
representante da companhia. Gostei muito do jeito que o Prêmio Shell valorizou o teatro
de grupo. Isso não é algo que se vê toda hora. Isso é muito legal, já que mostra que, de alguma forma,
consegui sucesso ao opta
optar por um caminho, no teatro, que é mais árduo. O reconhecimento do trabalho
veio da maneira mais dif
difícil.

JT – Muitos críticos didisseram que “Inveja dos Anjos” foi uma das melhores peças de 2008. O Ar-
mazém já esperava ess essa repercussão?
PS – Quando estamos n no processo de produção de um espetáculo, buscamos falar do que é importante
para o grupo. O Armazé
Armazém não tem como objetivo fazer concessões para, digamos, alcançar o sucesso.
Acho, sim, que como o trabalho foi muito intenso da nossa parte, a repercussão que ele teve só fez jus
ao nosso esforço.
ç Este ffoi um trabalho extremamente lindo do Armazém e não me surpreendo com o
seu sucesso. Acredito mu
muito nesta peça. É legal perceber que, ao fazer um teatro que não é tão comercial,
pode-se ter um resul
resultado de público como tivemos. O Armazém é um grupo fundado em Londrina,
no Paran
Paraná, há 22 anos. Depois nos mudamos para o Rio e já estamos aqui há 11 anos.
Ao lolongo desse tempo conquistamos um público cativo. Hoje, quando o Armazém
estr
estreia um espetáculo, percebe-se grande interesse da plateia em entender nossa
art
arte. Conseguimos conquistar um respeito.

JT – Após o prêmio, quais são os seus planos para o futuro?


P
PS – O prêmio, sem dúvidas, me ajudou a perceber que estou no caminho certo. A
iideia é continuar com o trabalho da companhia. Acredito no que fazemos, mas o
futuro é incerto. O “Inveja dos Anjos” está completando seis meses de temporada
no Rio. A partir de agora vamos levar a peça para São Paulo e percorrer alguns
festivais de teatro. O que mais quero, no momento, é levá-la para outros lugares.
Há dois anos, por exemplo, zemos uma temporada no Nordeste com “Toda
Nudez Será Castigada” e, em algumas cidades, é tradição o diretor, após a peça,
falar com o público. Isso é maravilhoso. Você pega a plateia de surpresa, com a
emoção de ter acabado de ter visto uma peça. Talvez uma pessoa me encontre
dois dias depois e não fale o mesmo que me disse logo após o m da apresenta-
çção. Na hora, muita gente que admite nem ir ao teatro me elogia e isso me emocio-
n
na. Gosto muito de levar o teatro para várias plateias diferentes.

JT – Tem alguma peça que você mais tenha gostado de fazer? Um perso-
na
nagem em especial?
PS – Acho que “A Ratoeira é o Gato” foi muito importante, um espetáculo que me
ajud
ajudou a ganhar o Troféu Mambembe. Tinha apenas 23 anos. O “Alice Através do
Espe
Espelho” também é precioso porque conquistou um público el para o Armazém. O
Chape
Chapeleiro Maluco foi uma personagem especial e a sensação ao terminar a peça era
bem ddiferente da que senti em outros trabalhos. A alegria era imensa. Gostei muito
també
também do “Mãe Coragem”. Alguns trabalhos são mais difíceis de realizar do que ou-
tros. N
No papel de menina muda, via-me obrigada a car extremamente atenta a outros
movim
movimentos para saber exatamente o momento de interferir. Tinha que ser tudo muito
preciso
preciso. Teve, também, o “Inveja dos Anjos”, que foi um processo lindo, porém, mais
Fotos: Argosfoto

maduro
maduro. Normalmente co tensa quando penso em como vai car a obra, mas, desta vez,
nada diss
disso aconteceu. Foi um processo em que me senti bem mais tranquila. Quer dizer,
segur no que eu poderia contribuir.
mais segura

Qua são os desaos do teatro, hoje em dia, no Brasil?


JT – Quais
PS – Alguns
Alg fatores já melhoraram muito. Quando fui indicada para o Prêmio Shell, tive
a oportunidade
oportu de debater com todas as atrizes indicadas para falar sobre teatro e armei
que, com a experiência que eu tenho, percebi que o público do Armazém tem aumentado
ao long
longo o tempo. Hoje, vejo muitas pessoas interessadas por um teatro que não seja co-
mercial
mercial. Nada contra as peças feitas assim, mas seria chato se todos zessem algo igual.
Acho que mais grupos de experimentação têm surgido. Temos conseguido viabilizar o
nosso trabalho. Dizem que fazer teatro, principalmente numa cidade como o Rio de
Janei
Janeiro, é difícil, já que as pessoas tendem a apreciar peças mais ligeiras. Seria, portanto,
com
complicado para uma companhia se estabelecer aqui. De maneira alguma concordo
com essa ideia. Tudo depende de quem faz a arte. Não costumamos fazer concessões
e ttemos um bom público. Nunca foi algo assustador trabalhar, do nosso jeito, no
Ri
Rio. Isso, para mim, é sinal de melhora.
Jornal de Teatro 16 a 31 de Maio de 2009
7
Prêmio
J ovens, simpáticas, bonitas e talentosas. Vencedoras na categoria melhor atriz
do Prêmio Shell 2009, no Rio de Janeiro e em São Paulo, Patrícia Selonk e
Isabel Teixeira possuem diversas semelhanças, além das carreiras voltadas
para o teatro de grupo. Ousadas e talentosas, elas revelam não ter medo de assu-
mir papéis mais complexos, de difícil assimilação pelo público (por este motivo,
Com 38 anos, Patrícia Selonk venceu o Prêmio Shell, no Rio de Janeiro, por sua
interpretação em “Inveja dos Anjos”. Integrante da companhia Armazém, ela vê a
premiação como uma prova de que, neste nicho do teatro, está no caminho certo.
Já Isabel Teixeira, 35 anos, ganhadora em São Paulo por “Rainhas - Duas Atrizes
Em Busca De Um Coração”, pensa em continuar a produzir peças e desenvolver
talvez, suas atuações tenham sido tão elogiadas recentemente pelos críticos), mas maneiras de improvisar uma apresentação em cena.
garantem que interpretações polêmicas não são prioritárias. O que importa, fri- Ao premiar atrizes que sempre buscaram experimentações e não tão conhecidas
sam, são os desaos proporcionados por personagens que fujam do padrão. Nes- do grande público, o Prêmio Shell mostrou que aposta em um teatro de conteúdo.
ta entrevista ao Jornal do Teatro, elas falam não só sobre tais assuntos, mas sobre As entrevistas publicadas nesta edição mostram atrizes de vanguarda que, mesmo
cinema (querem experimentar mais a sensação de brilhar na “telona”) e otras cositas longe dos holofotes da grande mídia, souberam alcançar o sucesso e representam
más, como o fato de não esperarem ganhar o Prêmio Shell. um teatro que, após anos de ditadura, começa a se solidicar novamente.

Jornal do Teatro – Você já havia sido indicada em 200202 ao Prêmio Shell. Qual foi a emoção de ter ganho este ano?
Isabel Teixeira – A primeira indicação já havia sido um
m prêmio. Fui indicada pela peça “Um Bonde Chamado Desejo”, que
gostei muito de fazer. Nessa segunda vez, também já considerava
nsiderava um prêmio só a indicação. Não esperava ganhar. Não é
por modéstia que eu digo isso. Foi uma coroação, e faleii isso no dia, de algo mais coletivo. Teatro não se faz sozinho.
Dediquei meu prêmio a todas as pessoas que participaramam comigo na realização da peça.

JT – Muitos críticos disseram que “Rainhas - Duass Atrizes Em Busca De Um Coração” foi uma das
melhores peças de 2008. Você e seus companheiross já esperavam a repercussão?
IT – Não. Digo isso porque a gente fez a peça sem pensar
nsar no futuro. Se iria fazer sucesso ou não. Gostamos
ritoras, mas não estávamos preocupados com isso. O
do risco que corremos com essa peça. Não somos escritoras,
co.
nosso foco era expor nossos corações no centro do palco.

JT – Você deixou a Companhia Livre e decidiu seguir guir carreira independente. Esse prêmio é uma prova
do sucesso da sua escolha?
IT – Acho que é mais uma prova de que ter cado oito o anos na Companhia Livre me deu base e formação
cupação com a ética e com alguns modos de pensar
para produzir uma peça. O grupo me passou forte preocupação
mos seguido caminhos separados, sempre estare-
e ver o teatro. Tive minha formação ali. Apesar de termos
mos juntos de alguma forma.

JT – Após o prêmio, quais são os seus planos para o futuro?


IT – Fiquei muito feliz pelo prêmio e, até pela pela minha
nha formação em litera-
tura, acho que o que pode ser um desao é descobrir a melhor maneira
de fazer com que um texto vire peça. Escrever algo em m cena me
atraiu muito, pois tem a ver com improviso.

JT – Quando você começou a se interessar pela


carreira de atriz?
IT – Sempre considerei que a minha estreia foi aos 10
anos, na peça “Uma Aventura a Caminho do Guarujá”, de
Ninho Moraes. Era uma peça infanto-juvenil e até ganhei ei
um prêmio como atriz revelação. Depois disso, coloquei na
cabeça que queria ser escritora e fui cursar a Faculdade de Le-
crevi
tras, onde conheci o Davi Arrigucci Júnior. Depois, me inscrevi
na EAD (Escola de Arte Dramática) e, ali, aconteceu a minha
ue esse foi
segunda estreia, com 17 anos. Passei a considerar, então, que
meu verdadeiro início nos palcos. Só que, agora, tomei outra atitude
quanto a isso e voltei a considerar que minha estreia foi aoss 10 anos. En-
portante.
tão, hoje, tenho 25 anos de carreira. Mas isso não é tão importante.

JT - Tem alguma peça que você mais tenha gostado o de fazer?


IT – Gostei demais de trabalhar com Enrique Dias em “Gaivota”. Trabalhar com
m gosto de tudo que z com o
a Companhia foi tão bom... É algo tão família... Também
Humberto Lage. Fiz três peças com ele, que é como um m pai para mim. O Humberto me
tirou da EAD e me colocou em obras magistrais.

JT – Qual sua opinião sobre essa polêmica da Lei Rouanet?


IT – Em termos de política cultural, acredito que precisamosmos de uma revisão geral. Acho muito difícil
ei Rouanet, mas em outros assuntos. O diálo-
o diálogo entre artistas e autoridades, não só no caso da Lei
rabalho árduo você fazer, exercer um p
go interno, às vezes, é um pouquinho complicado. É um trabalho política
cultural e poder interferir nela. É preciso dar muito de si. Por isso precisamos de muito diálogo.

JT – Atualmente, quais os desaos do teatro no Brasil? asil?


IT – Antes da ditadura militar e do AI-5, o teatro vinha crescendo muito desde os anos 40. Era algo
que apontava para o futuro. Havia espaço para pesquisas as individuais e um diálogo muito intenso.
Por quase 20 anos, porém, tivemos que calar a boca. Temos emos que voltar a criar condições para o
ducação. Acredito mesmo que, investindo
surgimento de diversas tendências de teatro. Teatro é educação.
em cultura, acabamos com os problemas de qualquer cidade. dade. O teatro é transformador.

JT – Quais são os conselhos que você dá para atrizeses iniciantes?


IT – Acho que elas devem perguntar para o coração se é isso que elas desejam, pois é preciso
persistência férrea.

JT – Você fez um lme, “Jogo Duro 10”, no cinema. Pensa em atuar mais neste meio?
IT – Lógico. Sou fã de cinema. Adoro John Cassavetes. Já z até uma camiseta “Eu amo Cas-
ue eu possa atuar. Sou muito curiosa.
savetes” (risos). Na verdade, amo todos os meios em que
Tudo me move loucamente e me dá vontade de aprender er a fazer.
8 16 a 31 de Maio de 2009 Jornal de Teatro

O Tapa da Musa do
Underground
Por Rodrigoh Bueno verdade, é que um banco tinha aca- co escolar foi uma experiência iso- caminho. Sei que a minha contribui-
bado de patrocinar dois espetáculos lada. Hoje não se tem o requinte de ção para o tema serviu também para
Quando a equipe de reporta- caríssimos e o diretor de marketing uma integração de matérias, de uma banalizar um pouco, pois a maconha
gem do Jornal de Teatro foi até não foi assistir por que disse que a professora que conhecia o Paulo Au- é muito associada à violência, como
a casa de Maria Alice Vergueiro, peça era muito longa. Ou eles visam tran e podia levar os alunos para con- nos lmes “Cidade de Deus” e “Tro-
em São Paulo, esperava uma en- o retorno nanceiro ou estão preocu- versar com ele depois de uma matinê pa de Elite”. E, de repente, chega
trevista sobre os quase 50 anos pados com a valorização da arte. de “Édipo Rei”, por exemplo. Ago- uma senhora, da alta sociedade pau-
de carreira da atriz, mas já tínha- Seria formidável convidar os pa- ra enfrentamos um momento muito listana...
mos ideia de que o bate-papo trocinadores, por exemplo, para ir mais interessante. Muitos professo- Cheguei até a propor aos meninos
não seria assim tão comum. Re- ao nosso ensaio no Casebre e ver o res antigos vão achar um absurdo o que zeram o vídeo, uma continua-
cepcionados pelo amigo Lucia- conteúdo de nosso trabalho. Para ele m do vestibular. Eu acho fantásti- ção, com eu saindo daqui, gritando
no Chirolli, fomos apresentados comprar uma mudança! Acho que eu co! Vejo tantos adolescentes deses- na rua como louca, sendo repreen-
a Maria Alice, que nos recebeu vou dar um bilhetinho pro Lula e falar, perados com a prossão, precisando dida. E lá fora uma moçada me sal-
com um delicioso café. E nós “Olha, eu sou a Maria Alice Verguei- entrar em uma faculdade. Quantita- vando! Tem que dar uma banalizada,
bebemos – não só o café, mas ro...” Porque, eu tenho certeza que tivamente o acesso e a inclusão são pois agora tem o álcool e o tabaco na
ela. Devoramos as horas de con- mesmo que o Lula não goste de teatro, muito maiores hoje. televisão. Eu acho que um pouco de
versa com uma mulher que diz ele vai compreender a minha vontade, álcool faz bem pra saúde, porque não
“não ter mais nada para provar pois acho que essa é a vontade dele. GRUPO é ele que você tem que cortar, e sim
ou esconder de ninguém”. Tenho a impressão de que ele escuta O ornitorrinco virou um grupo de a tristeza de auto-estima, pois uma
A sala da casa já é conhecida, mesmo e elabora a resposta na hora, teatro, mas antes era só um grupo de pessoa que tem uma boa auto-esti-
com o mesmo sofá no qual foi está presente no que está fazendo. E amigos que se juntaram. Todos es- ma não quer se destruir. E você tem
gravado o curta “Tapa da Pante- acho, de repente, que se eu encontrar ses trabalhos meio anárquicos não que beber para celebrar, e não para
ra”, sucesso da internet que apre- o Juca Ferreira e contar essa minha duram muito mesmo, por que logo se machucar. Acho que não pode
sentou a “Grande Dama Indigna vontade, eles vão querer me aprovei- você tem que denir o que é. Vai pe- liberar total, mas não pode proibir.
do Teatro Brasileiro” para um tar de alguma maneira! E aí a gente já gar verba pública, como vai dar con- Uma amiga minha conta uma histó-
público que, talvez, não conheça faz uma outra coisa menos individual, tinuidade? Se você vira parte de um ria muito legal sobre um dos lhos
os demais personagens protago- por que essa peça [Três Velhas] é tão grupo, tem que entrar nas regras do que ela tem: o André tinha seis anos
nizados por ela nos palcos e na boa que eu temo que ela entre numa jogo. No Brasil nós não temos um e estava triste, e a mãe perguntou o
vida. O próximo desao da atriz temporada de dois meses num teatro Off Brodway, por exemplo, digno porquê. Ele disse que queria tanto
é levar aos palcos a montagem de da Paulista, que os críticos façam seus e de qualidade. Deve-se considerar que Deus existisse, para que ele -
“As Três Velhas”, texto do chile- comentários, e morra aí. os espetáculos como outra moeda, zesse Papai Noel existir. E ela per-
no Alejandro Jodorowsky com os ter outros críticos - ou até os mes- cebeu que ele já estava desmistica-
atores Pascoal da Conceição, Lu- PROFESSORA mos, mas com outro enfoque. Os do pelo que viu na TV. A gente tem
ciano Chirolli e Marat Decartes. Em 1965 eu lecionava no Colégio trabalhos estão à mercê sempre dos mesmo é que dar risada.
Como só acontece com os gran- Aplicação, um colégio estadual que mesmos curadores e eu não queria
des artistas, Maria Alice Verguei- tinha grande parte dos professores ser julgada assim. As “Três Velhas” IDADE
ro naturalmente deu vida às suas como estagiários da USP. Eu mesma discute essa coisa meio decadente, Agora eu descobri uma coisa com
palavras e falou sobre o pensa, era estudante de Pedagogia. Na épo- que não sabe pegar os tempos novos. essa história das “Três Velhas”, onde
acredita e defende. ca, estávamos todos testando novas Será que a única forma de se pegar senti a necessidade de entrar no pal-
formas de ensino e de cursos integra- dinheiro para um produção é se hu- co. Eu comecei a discutir comigo
POLÍTICA CULTURAL dos, e lá isso acontecia de fato. Por milhando, sendo hipócrita? mesma essa questão da velhice, da
Logo que eu comecei minha exemplo, um professor de História aposentadoria e do Parkinson. Eu es-
carreira artística, zemos mui- dava aula de Molière e depois todos MACONHA tou com início de Parkinson, e senti
to teatro de interferência. Por se reuniam no teatro. Tínhamos um Eu me preocupo com o que falam que não gostaria de esconder essa...
exemplo, você entra dentro de grupo que era chamado META (Mo- por aí sobre o vídeo, pois foi inter- não diria decrepitude, mas essa con-
um ônibus com um colega e eu vimento Estadual Teatral do Aplica- ditado em colégios e acusado de in- dição que a elite cria como um tabu
atuo que assalto ele, e você obri- ção), composto por uma moçada de centivar o uso. É preciso acabar com de que você é culpado por estar velho.
ga as pessoas presentes a se co- 13, 14 anos que fazia teatro, vendia esse tabu. E essa história de você De repente, velho começa a mijar, a
locarem. Na verdade, o ator não ingresso e ia muito ao teatro. Houve não conseguir verba por conta do fazer cocô fora de hora, ou a tremer,
é nenhum simplório de pensar uma formação de público espontane- que você fala é provincianismo, pois entendeu? Então você começa a pas-
“ou isso, ou Shakespeare”, mas amente. Eu levava os meninos para em qualquer lugar do mundo você sar vergonha para a família. Ou se
ele é a própria formação da pla- assistirem as peças de teatro e muitas fala mal do sistema, uma vez que você não é a vergonha, você recebe
téia. Depende de você acreditar vezes eles eram menores, era preciso ele te absorve, te dá grana pra você os parabéns por estar com saúde. E é
na sua ideia, dar acesso à arte. alvará especial com o juiz de meno- fazer um lme sobre ele, com certo aquele valor que surge saudosista de
Não adianta forçar alguma coi- res, havia um entusiasmo. Me lembro cinismo, claro, porque faz parte. Até estátua. (risos) Eu acho legal! Ago-
sa. Acho que seria ótimo fazer que quando eu dava aula os alunos o Fernando Henrique já falou sobre ra, na verdade, estou discutindo isso
meu espetáculo na Praça Roo- me aplaudiam no nal, havia uma for- a discussão da legalidade da maco- através da personagem do “Tapa na
sevelt, por exemplo. Mas eu gos- te relação entre aluno e professor. Há nha. E isso ajudaria a diminuir os Pantera”. Eu vi que ninguém estava
taria que houvesse outra possi- 44 anos eu falava sobre isso, então me problemas sociais, como a violência. interessado na maconha. Eu pen-
bilidade. Não defendo uma tese pergunto, onde eu errei? Pois quem ganha com isso não são sei que eu ia pegar toda essa mo-
de que há coitados que não tem os fodidos do morro ou a moçada, çada interessada na maconha, mas
oportunidade. Não é isso, acho PERÍODO e sim os grandes cartéis. Eu tenho não era. A maior parte das pessoas
que as pessoas tem que abrir Esse entusiasmo tinha a ver sim certeza que as pessoas mais escla- estava na dúvida se eu era atriz ou
possibilidades. Não adianta você com a época de contra cultura. Foi recidas discutem esse assunto. Mas se a personagem era real, se eu era
também ser geral sem o particu- em 1965, estava nascendo o Arena, o também não pode haver mudança a personagem. Porque, até então, o
lar. Tem outra anedota, que é Ocina, mas essa formação de públi- de uma hora para outra, mas é um YouTube estava hospedando vídeos
Jornal de Teatro 16 a 31 de Maio de 2009
9
Perto de completar
50 anos de
carreira, Maria
Alice Vergueiro fala
sobre o que pensa,
acredita e defende
10 16 a 31 de Maio de 2009 Jornal de Teatro

da festinha de aniversário do lho, tem por aí. Mas estamos cansados veu suas pesquisas com a obra de nez Corrêa, Maldita Coincidência
aquela coisa... E eu trouxe algo de pedir, e não deveríamos ter que Bertold Brecht. Autodidata, traba- (1979) e Cronicamente inviável
mais elaborado, ou então parecia pedir tanto. Quando o Gianfrances- lhou com consagrados diretores do (2000), ambos de Sérgio Bian-
que realmente era um agrante co Guarnieri, com quem eu comecei teatro brasileiro, como Zé Celso Ma- chi, Topograa de um desnudo
meu. E eu mesma comecei a dis- o Teatro de Arena há muitos anos rinez Corrêa, Luís Antonio Martinez (2006), de Teresa Aguiar (sobre a
cutir o que era ser atriz para mim atrás, era o secretário de cultura do Corrêa, Cacá Rosset, Gerald Tho- obra homônima de Jorge Diaz),
agora. Falo disso com naturalida- Estado de São Paulo, fomos pedir pra mas, Felipe Hirsh, Rubens Rusche, Condomínio Jaqueline (2008), de
de, assim como o texto de “Três ele a utilização dos teatros da Prefei- Roberto Lage e Luciano Chirolli. Roberto Moreira, entre outras pe-
Velhas”. Agora qual é o empresá- tura, mas não conseguimos. Mesmo Em 1977, fundou, com Cacá Ros- quenas participações em longas,
rio que vai patrocinar uma peça sendo amigos, ele negou o pedido. set e Luiz Roberto Galízia, o grupo além de ter trabalhado em diver-
que fala de zoolia, de pedolia, Porque esse trabalho que a gente fa- Teatro do Ornitorrinco. Participou sos curtas (principalmente nas di-
de incesto, de homossexualidade, zia não poderia ter sido num teatro de festivais de teatro pela América reções de Rafael Gomes).
de antropofagia e de velhice? da Prefeitura, com uma verba dada do Sul, pelos Estados Unidos e pela Na televisão, participou da no-
para a gente? Aí tivemos que fazer Europa. Recebeu diversos prêmios vela Sassaricando (1987) e da mi-
É PRECISO COMPRAR A comercial para sobreviver, para se como MELHOR ATRIZ, dentre eles nissérie O sistema (2007), ambas
MUDANÇA DA ARTE PELO reestruturar. Eu, peguei meu Prêmio Molière, Mambembe, APCA e Shell, na Rede Globo. Gravou o CD O lí-
CONHECIMENTO? Moliére, que recebi, e fui para Paris por importantes trabalhos, especial- rio do inferno (2006), trabalho que
É algo que acontece em cadeia. tomar um porre de champagne! Isso mente pela peça No alvo (direção de apresenta um conjunto de obra de
Você não mexe na arte sem mexer também foi muito bom, mas porra! Luciano Chirolli), no qual pratica- Brecht e seus parceiros, cantada
no seu cotidiano. Alguns dizem Podia ter gerado outras coisas... mente introduziu no País a obra do por ela em espetáculos como O lí-
que no tempo eu comecei a fazer alemão Thomas Bernhard. rio do inferno, Ponha o tédio no Ó
teatro, anos 60, 70, as pessoas ti- VOCÊ ACHA QUE PAGA UM Traduziu textos de Bertold Bre- e A velha dama indigna, pela pri-
nham vontade de fazer nas coisas. PREÇO PELA CONVICÇÃO NO cht. Dirigiu os espetáculos As pre- meira vez registradas em áudio, e
Eu acho que nesse tempo também SEU JEITO DE FAZER ARTE? ciosas ridículas, de Molière (1968), O disponível gratuitamente no blog.
há! Olha o jornal de vocês. Olha a Não acho que se trata de uma es- amor de Dom Perlimplim com Beli- Em 2005, o curta Tapa na pantera,
moçada que quer fazer as coisas colha, você é escolhido. Não me sin- sa em seu jardim, de Federico Gar- criado por Rafael Gomes, Esmir
e me convida para participar. Ou to vítima de porra nenhuma e acho cia Lorca (1992), e Quíntuplos, de Filho e Mariana Bastos, e prota-
eles fazem aquela brincadeirinha até que é bom o tempo ter passado, Luis Rafael Sanchez (1995). Atuou gonizado por Maria Alice, estou-
da faculdade e qual é o ator que pois agora nesse momento eu não em longas-metragens, como O rei rou no YouTube, com mais de 5
fala: “Vamo lá! Eu topo, quando saberia dizer o que é essa energia de da vela (1973), de Zé Celso Marti- milhões de acessos.
é a lmagem?” ao invés de car grupos de teatro, ou de ter um espa-
lá, fazendo uma novela atrás da ço cultural para tomar conta. Prefe-
outra. No meu tempo, politica- ria ser uma musa desses ambientes,
mente, a gente fazia aquelas pe- apesar de não estar com energia de
ças com o sindicato e participava trabalhar 44 horas semanais. Talvez
muito mais. Acho que todo mun- isso pudesse ser um caminho, quer
do se decepcionou, né? dizer, se todas essas entrevistas que
O problema é que, por mais eu dou não se popularizassem (como
que queiram fazer uma coisa so- se eu fosse) maconheira. Mas acho
cial, eles pagam um tributo. Agora que faz parte. Porque com isso você
querem fazer um teatro, precisam também coloca inteligência na mí-
de dinheiro. Não é uma coisa de dia, e eu co sendo como aliada de
dentro pra fora, de baixo pra cima. vocês. Assim eu acho legal.
Porque, por exemplo, quando me
perguntam assim porque que eu PÚBLICO
faço alguma personagem, eu digo Sem público é muito difícil você
que é uma coisa pra mim, porque se interessar pelo que você está fa-
é um momento de orgasmo total, zendo. Eu tenho prazer em fazer um
que me dá êxtase, é ou não é? A espetáculo para 40 pessoas, por que
hora que você entra em cena, você daí você vai falar no ouvido de cada
já ganhou, porque está tudo aju- um, teatro também tem essa mara-
dando aquilo a dar certo. Tem vilha, você entra no qualitativo. Eu
uma energia fantástica, como como atriz prero muito mais fazer
conversar com vocês, por exem- um teatro para 40 pessoas já inicia-
plo. Porque a coisa que mais une dos na arte, ou que o meu trabalho
as pessoas é a criatividade, e sexo, vai iniciá-los. É aquele convívio di-
não é verdade? Gozar no sexo é reto, quando você sente a respiração
uma puta criatividade. É uma en- “do” público e não do público que
trega, uma coisa de verdade. En- vai por que não tem aula a noite e
m, estou sentindo um momento ainda ca fazendo barulho na pla-
bom, está fervendo umas coisas aí téia. Eu acho que o teatro que eu
e acho que tem muita vontade na gosto de fazer é esse que você sente
moçada. que é você que da o foco, da o rit-
mo da respiração, e sem olhar para
ESPAÇO o publico você olha para o público e
Eu tenho certeza de que o que sente que ele está se transformando
eu tenho para comunicar, o que na sua frente, entrando em transe.
eu tenho para fazer, vai ser mui- Mas, ao mesmo tempo, eu apoio to-
to interessante para muita gente, talmente levar as “Três Velhas” para
mas para isso você precisa ter um as escolas da cidade, por exemplo. E
teatro. Eu não queria ter um bar- sem nenhum professor ter que pre-
raco, porque, por exemplo, “Três parar nada. Eu jogo a minha criati-
Velhas” precisaria de um lugar vidade e você sente. Não acho válido
melhor. Não é porque é um teatro dirigir o público: você vai ver como
popular que tem que ser um teatro você quer ver.
pobre, pedinte, não é verdade? De
repente eu acho uma injustiça. Há BREVE BIOGRAFIA
muito tempo tenho vontade de ter Maria Alice Vergueiro nasceu em
um espaço para poder fazer isso São Paulo em 1935. Formou-se em
que estamos fazemos para mais Pedagogia pela USP. Foi professora
pessoas. Sair de lá, fazer nossa no Colégio de Aplicação (ligado à
peça, ter a possibilidade de rece- USP) e na Escola de Comunicações
ber um público à noite, com con- e Artes da Universidade de São Pau-
vidados, para esses banquetes que lo. Viveu em Lisboa, onde desenvol-
Jornal de Teatro 16 a 31 de Maio de 2009
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Dança
‘Giselle’ emociona mães, pais, filhos, netos...
Ballet Nacional de Cuba comemora 60 anos em turnê pelo Brasil. Emocionada, Alicia Alonso agradece ao carinho do público carioca
Por Douglas de Barros sempre gostou, mas, na minha ALICIA ALONSO, DAMA Com grave problema na re- cionais, fundamentais a sobrevi-
época, não pôde me inscrever nas DO BALÉ MUNDIAL tina, que quase a deixou cega, e vência da companhia. Ao nal da
Emocionante e impecável. aulas. Agora, incentivamos a Ju- Aos 88 anos, Alicia Alonso, após várias cirurgias, a dama do apresentação, Alicia foi até a fren-
Assim foi a apresentação do es- liana. Esse é um sonho da nossa criadora da companhia, é con- balé cubano continuou a brilhar te do palco para agradecer ao pú-
petáculo “Giselle”, protagoniza- família e a pequena está gostando siderada uma das principais ar- nos palcos e se o tornou core- blico brasileiro. Visivelmente can-
da pelo Ballet Nacional de Cuba, muito”, comemora. tistas do século 20. Ela dançou ógrafa. Com impressionante sada, foi preciso que seus alunos
que aconteceu no dia 10 de maio, Gilda Rodrigues, 40 anos, é “Giselle” pela primeira vez em domínio de técnica, a então pro- a conduzissem mais uma vez aos
e emocionou não só as mães pre- professora de balé no Grajaú, 1943, no Metropolitan Opera fessora marcava a posição dos aplausos que sempre marcaram
sentes ao Citibank Hall, na Barra bairro da zona Norte carioca, e fã House, em Nova Iorque. Alícia bailarinos no palco com a ajuda sua vida e carreira.
da Tijuca – no dia a elas destina- incondicional do trabalho da dire- estreou no balé aos 11 anos. Aos de uma lanterna. As apresentações acontecem
do –, mas a todos aqueles que tora do grupo cubano, a bailarina 15, já estava nos Estados Uni- Inicialmente criado com o desde o dia 8 e se estendem até o
praticamente lotaram o auditório, Alícia Alonso. “Foi fantástico, ho- dos. Em 1938, ganhou a Broa- nome de “Ballet Alícia Alonso”, o dia 31 de maio. Além do Rio, São
no Rio de Janeiro. Considerada mogêneo, impecável. Sou fã des- dway, e, logo depois, se tornou nome atual do balé foi criado de- Paulo (SP), Belo Horizonte (MG),
uma das melhores companhias sa diva, que foi uma das maiores estrela do American Ballet Cara- pois da revolução de 1959, com a Juiz de Fora (MG), Recife (PE),
de dança do mundo, e, após três bailarinas que o mundo conheceu. van, atual New York City Ballet. chegada de Fidel Castro ao poder Salvador (BA), Porto Alegre (RS),
anos longe dos palcos brasileiros, Fui à apresentação, em 2006, no Intérprete de grandes obras do na ilha. Com o regime de Fidel, Pelotas (RS), Londrina (PR) e Curi-
a companhia de dança faz turnê Teatro Municipal, e, hoje, não po- repertório romântico e clássico, o Balé Nacional de Cuba passou tiba (PR) terão a oportunidade de
pelo País em comemoração aos deria desperdiçar mais essa opor- casou-se com Fernando Alonso, a receber suporte nanceiro do assistir à montagem do clássico sob
60 anos de atividade (no total, tunidade”, explica. também bailarino, com quem governo, mas hoje boa parte das a direção de Alicia Alonso, funda-
são dez apresentações em dez ci- teve sua filha, Laura. receitas vêm das turnês interna- dora e diretora do grupo.
dades brasileiras). “GISELLE”: EXPRESSÃO
A apresentação atraiu espec- DO BALÉ ROMÂNTICO
Fotos: Douglas de Barros / JT

tadores de todas as partes da ci- Com coreograa original de


dade e uniu gerações, tanto que, Jean Coralli e Jules Perrot e mú-
no Dia das Mães, avó, lha e neta sica de Adolphe Adam, a estreia
foram juntas assistir à montagem. mundial do balé aconteceu em 28
De acordo com a aposentada de junho de 1841, no teatro Ópe-
Neuza José, 65 anos, o balé tem ra de Paris. No enredo de “Gi-
o seu espaço na família. “Minha selle”, a personagem principal é
neta faz balé e cou encantada composta por uma camponesa
com tudo o que viu”, revela a que morre antes do casamento
avó coruja. Já a neta, Juliana Al- ao descobrir que o homem que
ves, 5 anos, acompanhava tudo amava, Loys, mentia para ela se
com muita atenção e curiosidade. fazendo passar por um aldeão,
“Gostei de tudo, quero ser baila- quando, na realidade, é Albrecht,
rina igual a Giselle”, sonha a jo- Duque de Silésia. Morta, a pro-
vem, referindo-se à personagem tagonista se transforma em uma
principal da trama. Willi, bailarina fantasma que sai
No meio da confraternização do túmulo e baila ao redor dos
em família, Jane Alves, 41 anos, homens para levá-los ao m.
também se disse apaixonada pelo Mesmo depois de morta, porém,
balé. Mãe da Juliana e lha de Giselle prova delidade ao ama-
Dona Neuza, ela explicou que a do e não permite que este seja
dança faz parte da vida das três aterrorizado pelas outras bailari-
há muito tempo. “Minha mãe nas fantasmas.

Na companhia de seus bailarinos, Alicia Alonso não esconde


a emoção após o espetáculo realizado no Citibank Hall.
Ao lado, toda a beleza e o charme das Willis
12 16 a 31 de Maio de 2009 Jornal de Teatro J

Reportagem

Nem mesmo
a morte
pode apagar
a história
do criador
do Teatro do
Oprimido
Por Alysson Cardinali Neto

Fotos: Divulgação
“O pior inimigo da paz não é a guerra, é a passividade. É claro
que eu não quero a guerra, pois ela é horrível, mas eu também não
quero ser passivo. Busco a paz sem passividade.” Assim era Augusto
Boal. Meu primeiro – e, infelizmente, único – contato com ele se
deu em janeiro de 2008, quando o entrevistei sobre sua indicação ao
Prêmio Nobel da Paz e sobre sua maior obra de vida: o Teatro do
Oprimido, criado no nal da década de 1960, em São Paulo, inspira-
do nas propostas do educador Paulo Freire. Durante nossa conversa,
percebi tratar-se de um homem simples, simpático e sincero. Sincero
no que pensava e no que dizia. Sincero, acima de tudo, nas suas con-
vicções. Então com 77 anos – 51 deles dedicados ao teatro –, Boal
não fazia pose, não ostentava seu conhecimento sobre a arte e sobre
a vida. Apenas ensinava, humildemente.
Era, porém, um homem ativo, combatente, de personalidade forte
e que sabia bem o que falava e, principalmente, fazia. Confesso que,
ao ser informado de sua morte (na madrugada do dia 2 de maio),
me entristeci. Anal, o mundo acabara de perder um símbolo na
luta pela igualdade social, sinônimo de dedicação à preservação dos
Direitos Humanos e referência contra toda forma de preconceito no
planeta – sim, Boal era um cidadão do mundo, com seus livros tradu-
zidos em francês, holandês e mais de 20 línguas, que levou o Teatro
do Oprimido a mais de 70 países, pelos cinco continentes.
“O ser humano é teatro, pois é um espectador dos próprios atos.
Quero ajudá-lo a descobrir isso. O Teatro do Oprimido é baseado
em um conjunto de exercícios que ensina o ser humano, através da
palavra, do som, da imagem e da ética a utilizar uma ferramenta que
ele já possui e não se dá conta. O Teatro do Oprimido libera esta
capacidade e ensina a pessoa como dominá-la. Anal, todos nós so-
mos melhores do que pensamos ser e capazes de fazer mais do que
aquilo que realizamos. Somos seres expansivos”, ensinou, naquela
entrevista, Boal, que aplicava os preceitos do Teatro do Oprimido na
educação, na pedagogia, no sistema prisional, de saúde mental, em
projetos sociais, culturais e políticos, entre outros.
Preceitos, aliás, que visam – mesmo depois da partida de Boal
– transformar o espectador em protagonista do espetáculo, pro-
fundamente envolvido com a trama da sua própria existência e,
principalmente, com os condicionantes sócio-econômicos da sua
situação. Um trabalho que se globalizou com a intenção de atu-
ar em todos os lugares onde a arte possa libertar as amarras da
consciência do ser sobre ele próprio e sobre a sua condição no
mundo. Um trabalho de caráter multiplicador. Boal não escondia
sua satisfação com os resultados alcançados pela forma teatral por
ele criada. Detalhe: sem a ajuda de multinacionais, do governo ou
quaisquer outros patrocinadores.
“É o primeiro método teatral desenvolvido no hemisfério sul e
praticado pelo oprimido no mundo inteiro. Sinto uma alegria imensa
de ter feito algo muito útil e que pode, por exemplo, ser aplicado des-
de a classe mais pobre do Piauí até em Universidades de Paris. Tudo
isso justica um trabalho tão intenso e tão mal apoiado”, revelou Boal,
durante o nosso encontro, sem deixar de dar uma alnetada no que
denia como “ditadura econômica no teatro”.
“A classe artística, em geral, é refém do dinheiro proveniente de
‘patrocinadores’ que, em vez de propagar a cultura, visam mais a
obtenção de lucro. Vivemos a era da coerção pelo poder econômi-
co, da privatização da cultura. As empresas obrigam o artista a agir
da forma como elas querem, parecem esquecer que, no teatro, as
pessoas trabalham com o público. Eu escolhi o público que é opri-
mido e que se livra da opressão. Foi uma escolha não só artística,
mas ética. Sei que faço um teatro que, segundo sua estética, não é
nada comercial. Mas sou feliz assim, pois o que realmente quero é
mexer com o subconsciente, o inconsciente, a ignorância. Os opri-
midos não sabem que sofrem. Quero dar luz a todos eles”, frisou
Boal, durante nosso encontro.
Jornal de Teatro 16 a 31 de Maio de 2009
13
Reportagem
A arte como o melhor caminho MÚSICA
Boal era realmente um ser (seu exílio foi de 1971 a 1984, do Oprimido, e uma exposição
humano feliz, que fez da vida o
que sempre sonhou: dedicar-se
quando foi decretada a Anis-
tia), Boal não deixou que uma
de fotos sobre alguns de seus
trabalhos em vários países. Um
Meu Caro Amigo
à arte, ao teatro. Nascido na Pe- das fases mais negras da histó- justo reconhecimento ao talen- Composição: Chico Buarque/Francis Hime
nha, Zona Norte do Rio de Ja- ria política do Brasil arrefeces- to e à grandiosidade deste bra-
neiro, em 16 de março de 1931 se seu ânimo em propagar os sileiro que, mesmo laureado de Meu caro amigo me perdoe, por favor
(data que, em 2008, tornou-se ideais do Teatro do Oprimido. forma tão especial (e já com sua Se eu não lhe faço uma visita
o Dia Mundial do Teatro do Exilado inicialmente em Lis- saúde debilitada), não desperdi- Mas como agora apareceu um portador
Oprimido, em homenagem ao boa, Portugal, onde trabalhou çou a oportunidade de perpetu- Mando notícias nessa fita
teatrólogo, dramaturgo e ensa- durante dois anos com o gru- ar seus ensinamentos.
ísta), Augusto Pinto Boal ini- po A Barraca, ele, em seguida, “Vendo o mundo além das Aqui na terra tão jogando futebol
cialmente dedicou-se ao Teatro mostrou seu talento em cida- aparências, vemos opressores e Tem muito samba, muito choro e rock’n’roll
de Arena, uma das mais im- des como Paris, Buenos Aires oprimidos em todas as socie- Uns dias chove, noutros dias bate sol
portantes companhias teatrais e Nova Iorque. Após rodar o dades, etnias, gêneros, classes e Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
criadas no Brasil. Foi Boal que, mundo e difundir seu método castas, vemos o mundo injus-
em 1956, com a experiência na América Latina e na Eu- to e cruel. Temos a obrigação Muita mutreta pra levar a situação
adquirida durante seus estudos ropa, Boal atraiu a atenção de de inventar outro mundo por- Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
de direção teatral e dramaturgia personalidades em todo o pla- que sabemos que outro mun- E a gente vai tomando e também sem a cachaça
em Nova Iorque (na School of neta – exemplo disso foi o sam- do é possível. Mas cabe a nós Ninguém segura esse rojão
Dramatics Arts, onde acompa- ba-choro “Meu caro amigo” construí-lo com nossas mãos
nhou as montagens do Actor’s (ver quadro), feita pelo cantor e entrando em cena, no palco Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Studio, que utilizava o método compositor Chico Buarque, no e na vida”, disse o diretor de Nem atiçar suas saudades
de interpretação Stanislavski), disco “Meus caros amigos”, de teatro, dramaturgo e ensaísta, Mas acontece que não posso me furtar
incentivou a encenação de tex- 1976, em forma de carta, para que, vitimado por uma parada A lhe contar as novidades
tos brasileiros, de autores como homenagear o amigo Boal e cardíaca, em razão de leuce-
Gianfrancesco Guarnieri, e ini- sua família (a mulher, Cecília, e mia, nos deixou, dia 2 de maio, Aqui na terra tão jogando futebol
ciou uma revolução na cena os dois lhos do casal, Fabian e quando estava internado na Tem muito samba, muito choro e rock’n’roll
brasileira, ao abrir caminho Julian). Desde então, Boal não CTI do Hospital Samaritano, Uns dias chove, noutros dias bate sol
para uma dramaturgia nacio- descansou um dia sequer. Em no Rio de Janeiro. Mesmo as- Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
nal de nomes como Oduvaldo 1996, no Rio de Janeiro, fun- sim, as teorias de Boal sobre o
Vianna Filho. dou o Centro de Teatro do Opri- teatro serão sempre estudadas É pirueta pra cavar o ganha-pão
“Até o golpe de 1964, a atu- mido (CTO), situado no bairro nas principais escolas de teatro Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
ação de Augusto Boal à frente da Lapa, um dos mais charmosos do mundo. Anal, Boal deixa E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro
do Teatro de Arena foi decisi- e engajados da cidade. um legado a todos que amam Ninguém segura esse rojão
va para forjar o perl dos mais Embora não tenha ganhado a arte e os palcos e alcança a
importantes passos que o teatro o prêmio Nobel da Paz – moti- imortalidade teatral, como su- Meu caro amigo eu quis até telefonar
brasileiro deu na virada entre as vo de minha entrevista com ele, gere o jornal inglês The Guar- Mas a tarifa não tem graça
décadas de 1950 e 1960. Uma no ano passado – Boal recebeu dian, que publicou em uma de Eu ando aflito pra fazer você ficar
privilegiada combinação entre vários títulos e prêmios em todo suas edições que “Boal rein- A par de tudo que se passa
profundos conhecimentos es- o mundo, como, por exemplo, o ventou o teatro político e é
pecializados e uma visão pro- de diretor-revelação da Associa- uma gura internacional tão Aqui na terra tão jogando futebol
gressista da função social do ção Paulista de Críticos de Arte importante quanto Brecht ou Tem muito samba, muito choro e rock’n’roll
teatro conferiu-lhe, nessa fase, (APCA), em 1956, pela monta- Stanislavski”. Uns dias chove, noutros dias bate sol
destacada posição de liderança. gem da peça “Ratos e Homens”, Se tivesse que deixar um re- Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Entre o golpe e a sua saída para de John Steinbeck, e o Ofcier cado aos que cam, Boal não
o exílio, essa liderança transfe- de l’Ordre des Arts et des Let- hesitaria em conclamar a todos Muita careta pra engolir a transação
riu-se para o campo da resis- tres, outorgado pelo Ministério para continuarem na luta pela E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
tência contra o arbítrio, e foi da Cultura e da Comunicação igualdade entre os povos, inde- E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
exercida com coragem e deter- da França. Outro prêmio foi a pendentemente de raça ou cre- Ninguém segura esse rojão
minação. No exílio, reciclando a medalha Pablo Picasso, atribu- do, e fazer da arte o caminho
sua ação para um terreno inter- ída pela Unesco (Organização para uma vida eterna. “Não Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever
mediário entre teatro e pedago- das Nações Unidas para a Edu- temos mensagens nem repos- Mas o correio andou arisco
gia, ele lançou teses e métodos cação, a Ciência e a Cultura), tas para nada. Apenas pergun- Se me permitem, vou tentar lhe remeter
que encontraram signicativa em 1994. Em março deste ano, tas. Queremos que as pessoas Notícias frescas nesse disco
receptividade pelo mundo afo- Boal foi nomeado, também pela digam o que pensam, o que
ra, e zeram dele o homem de Unesco, Embaixador Mundial querem e o que podem fazer Aqui na terra tão jogando futebol
teatro brasileiro mais conhecido do Teatro. A cerimônia, realizada sobre os temas que são levan- Tem muito samba, muito choro e rock’n’roll
e respeitado fora do seu país”, em Paris, contou com a presença tados nas peças teatrais. O Tea- Uns dias chove, noutros dias bate sol
resume o crítico Yan Michalski, dos membros do International tro do Oprimido é um método Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
um dos mais importantes do Theatre Institute, do qual o de descoberta do desejo e de
teatro brasileiro, cuja análise so- Brasil é integrante. ensaio de realização deste de- A Marieta manda um beijo para os seus
bre Boal está na enciclopédia do Na ocasião, Boal fez um belo sejo”, dizia Boal, que se denia Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
Itaú Cultural. discurso, viu a apresentação de da seguinte maneira: “Não sou O Francis aproveita pra também mandar lembranças
Mesmo obrigado a sair do um videodocumentário sobre um forte nem um fraco, mas A todo o pessoal
País, durante a ditadura militar a atuação do Centro de Teatro me exalto por combate.” Adeus
14 16 a 31 de Maio de 2009 Jornal de Teatro

Reportagem
Paixão pela vida e pelo teatro
“Por sua impor- esquecida, além do d exemplo de foram entregues, pelo próprio
tância para o teatro um companheiro que dedicou autor, dias antes de sua morte, à
contemporâneo, no trans
sua vida à transformação so- editora Garamond. Trata-se de
Brasil e no mun- cial por meio da arte”. Assim um “testamento artístico”, no
do, seu papel de Lula em nota o-
o presidente Lula, qual Boal sintetiza suas concep-
expoente do Te- s
cial, expressou o sentimento de ções de arte. O nome da obra
atro de Arena, perda pela morte de Augusto será “A estética do oprimido” e
em São Paulo, e hum
Boal, um ser humano, ainda de conta com uma dedicatória que
de fundador do p
acordo com o presidente do mostra o quão importante era
revolucionário inspi
Brasil, que inspirou gerações a arte na vida de Boal. “Sinto
Teatro do Opri- e deixa a imagem “de um ho- sincero respeito por todos que
mido, Boal ins- mem apaixonado pela vida e dedicam suas vidas à sua arte
pirou diferentes pelo que fazia”. (...) mas prero aqueles que de-
gerações, no nos- Boal foi crem
cremado, no Ce- dicam sua arte à vida.”
so país e no exterior. mitério do Caju, um u dia após a Boal deixou outros livros pu-
Para os brasileiros e sua morte, mas suasu importância blicados: “O Teatro do Oprimi-
os amantes do teatro será eterna, o quequ poderá ser do e outras politicas poéticas”,
e da promoção da comprovado nos livros que o “200 exercícios para ator e não-
igualdade entre os drama
teatrólogo, dramaturgo e ensa- ator com vontade de dizer algo
homens, Boal dei- m novo de-
ísta escreveu. O mais através do teatro”, “Técnicas
xa uma marca dev ser lança-
les, inclusive, deverá latino-americanas de teatro po-
que jamais será ano Os originais
do ainda este ano. pular” e “Teatro Legislativo”.

Teatro do Oprimido:
uma arma para a paz
Criado por Au- afetam Moçambique, Guiné-
gusto Boal, no m Bissau, Angola, Senegal e outros
da década de 1960, o países. Na Ásia, o tema principal
Teatro do Oprimido é a violência contra a mulher e
cruza oceanos para o alcoolismo. No Paquistão, o
ajudar quem necessi- direito dos camponeses a culti-
ta e chega até zonas de varem suas terras; no Nepal, a
conitos étnicos ou reli- busca de uma Constituição mo-
giosos, como entre Pales- nárquico-republicana adequada
tina e Israel, ou no Sudão, às necessidades do povo. Mais
onde grupos regionais apli- do que o caminho para o apren-
cam as técnicas do Teatro do dizado, o Teatro do Oprimido é
Oprimido para apaziguar seus uma “arma” contra a miséria e a
sangrentos conitos. Na Euro- opressão no mundo.
pa, em quase todos os grandes
países ocidentais, da Península SERVIÇO
Ibérica ao Cáucaso, da Escan- CENTRO DO TEATRO DO
dinávia ao Mar Mediterrâneo, o OPRIMIDO
Teatro do Oprimido também é Endereço: Ave. Mem de Sá, 31
utilizado em questões sociais e - Lapa - Centro - Rio de Janeiro
educacionais. Já na África, o pro- / RJ - Brasil CEP: 20230-150
blema central tem sido o agelo Tel/fax: 55-21-2232 5826 /
da Aids/DST e a miséria, que 2215 05

Vertentes do CTO no Brasil


Teatro na Educação em escolas – É onde se desenvolve uma nova pesquisa,
a Estética do Oprimido, restaurando as capacidades estéticas de todo ser humano
de produzir teatro, música, artes plásticas, poesia e narrativas: Palavra, Imagem e
Som: o Pensamento Sensível e o Pensamento Simbólico unidos na melhor com-
preensão do mundo.

Teatro nas prisões – Consiste na busca de se pacicar as hostilidades entre


funcionários e presidiários, entre as prisões e as populações locais, através da
criação de “Espaços de liberdade dentro dos muros da prisão”.

Teatro na saúde mental – Busca se enquadrar os “Delírios Patológicos den-


tro dos quadros estruturados dos Delírios Artísticos”.

Teatro do Oprimido nos pontos de cultura – É necessário que todos


os seres humanos, sejam quais forem suas prossões, gêneros, etnias ou con-
dições sociais, desenvolvam o teatro e todas as artes que trazem em si, para
que se alcancem os princípios da Declaração Universal dos Direitos Huma-
nos (que a Liberdade, a Justiça e a Paz tenham por base o reconhecimento da
dignidade intrínseca e dos direitos iguais e inalienáveis de todos os membros
da família humana).
Jornal de Teatro 16 a 31 de Maio de 2009
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Política Cultural
Usina das Artes agora é projeto de lei
Classe artística tem a oportunidade de gerir espaços de cultura na capital gaúcha. Atualmente, nove grupos ocupam a área da Usina

Por Felipe Prestes que espera para a cidade. “Acho que


Divulgação

foi um avanço possibilitar a auto-


Desde 2005, a Secretaria Mu- gestão, as ocinas e ocupar o espa-
nicipal de Cultura de Porto Alegre ço ocioso. Existem diversos prédios
dinamiza a utilização do Centro abandonados na zona central, acha-
Cultural Usina do Gasômetro, um mos que esses espaços têm que ser
dos mais importantes da cidade. ocupados para prover educação e
Através do projeto Usina das Ar- cultura, através de uma gestão de-
tes, grupos de teatro, de dança e mocrática como a da usina”.
de música podem gerir espaços Atualmente, nove grupos ocu-
dentro do prédio, am de realizar pam os espaços da Usina. Para tanto,
pesquisas, ocinas, cursos e apre- foi preciso passar por um processo
sentações, dentro do conceito de de seleção que exigia uma série de
território cultural. pré-requisitos, como um trabalho
No último dia 13 de maio, essa continuado com, no mínimo, três
ideia de gestão da usina pelos ar- anos de existência, além do cum-
tistas se consolidou como política primento de uma temporada com
cultural da cidade e se tornou pro- o mínimo de quatro semanas e seis
jeto de lei, que prevê a utilização apresentações do grupo, além da
de, no mínimo, seis espaços do realização de ocinas bimestrais. Os
prédio para o Usina das Artes. A grupos também precisam se com-
O Centro Cultural Usina do Gasômetro se consolida como um dos mais importantes da cidade de Porto Alegre
sanção da lei se deu pelo prefeito prometer a realizar atividades com
José Fogaça e pelo secretário muni- dos grupos, durante os quatro anos projeto deve ser seguido pelo Go- Não tenho mais problemas de es- entrada franca em um dia do mês.
cipal de Cultura, Sérgius Gonzaga. de projeto”. Fogaça acredita que se verno do Estado e por outros mu- paço para ensaiar, para criar, com Participam do Projeto: Gru-
Este último destacou as mudanças inicia um novo enfoque de política nicípios em todo o Brasil”, acredita luz, e a assessoria do Gasômetro po Tato (dança), Eduardo Severi-
que ocorreram desde a implanta- pública para a Cultura em Porto a atriz e bailarina Fernanda Carva- nos auxilia inclusive na divulgação no Cia. de Dança (dança), Grupo
ção do projeto. “O local parecia Alegre. “É muito importante valo- lho Leite. Celso Veluza, do Neto de nosso trabalho”. Seele Tanz (dança), Cia. Teatro
um cemitério, agora há um público rizar os grupos que têm uma lo- (Núcleo de Estudos do Teatro do Fernanda Melchiona, vereadora Lumbra (teatro de sombras), Cia.
permanente”. soa, uma ideia de continuidade, de Oprimido), relata as portas que se do Psol, mesmo fazendo oposição Teatrofídico (teatro), Cia. Gente
O prefeito lembrou que foi o pensar a médio e longo prazo”. abriram com o Usina das Artes. no município, apoiou o projeto. In- Falante (teatro de bonecos), Neelic
trabalho dos artistas que impulsio- A classe artística teve presença “Comecei com a ajuda de grupos tegrante da Comissão de Educação (teatro), Santa Estação Cia. de Tea-
nou o projeto de lei. “Esta lei con- maciça no Paço Municipal para a que tinham salas na usina, há um e Cultura, relatou que este é o exem- tro (teatro) e Vamos Cantar Produ-
sagra a ação legítima de ocupação cerimônia de sanção da lei. “Este ano consegui meu próprio espaço. plo de ocupação do espaço público ções (música).

Termina período de consulta popular para reformas na Rouanet


Projeto, que recebeu mais de 900 comentários, será enviado para análise no Congresso Nacional mesmo suscitando polêmicas na classe
Por Felipe Sil posta de lei. Outra proposta bas-
ABr

tante discutida é o fortalecimento


Terminou, no último dia 6 de do FNC (Fundo Nacional de Cul-
maio, o prazo para que o público tura), desdobrando-se em diversos
mandasse sugestões para o Minis- setores, o que promete ser bené-
tério da Cultura sobre alterações co para clientes incomuns da
na Lei Rouanet. Foram mais de Lei Rouanet, como os grupos de
900 comentários somente no blog cultura popular. Os projetos pas-
que o órgão federal produziu so- sariam, então, a ser julgados por
bre o assunto. No mês que vem, comissão paritária formada por
o projeto deverá, nalmente, ser representantes do governo e da
encaminhado ao Congresso Na- sociedade civil. A Cnic (Comissão
cional. Projeto este que, desde que Nacional de Incentivo à Cultura)
foi sugerido pelo ministro Juca irá utilizar critérios especícos
Ferreira, tem levantado polêmicas para analisar os projetos que se
na classe artística. candidatarem a receber dinheiro
Em artigo publicado em jor- da renúncia scal ou do FNC.
nais de todo o Brasil, logo após o Sobre os critérios de renúncia
m da consulta popular, Juca Fer- scal, o ministro também dá ex-
reira defendeu as mudanças. “O plicações em seu artigo: “a renún-
novo modelo é fruto de seis anos cia continuará existindo, mas não
de gestão da atual Lei de Incentivo mais como único mecanismo de O ministro da Cultura, Juca Ferreira, é um dos principais defensores de profundas mudanças na Lei Rouanet
à Cultura e do debate feito desde fomento, com as consequências já
2003 com a classe artística, ini- conhecidas de exagerada concen- aumento do investimento privado havia sido suprimido. Muitas crí- exemplo, “equívoco na redação”
ciado no seminário Cultura Para tração nas regiões de maior renda no setor”. ticas foram feitas e levantou-se a do artigo 49 do projeto de lei.
Todos. Neste momento de crise e nas mãos de poucos produtores. No último dia de consulta suspeita de que pudesse denotar O trecho previa a “licença com-
econômica, em que as empresas Além disso, não podemos chamar popular, o Ministério da Cultura uma suposta intenção do MinC de pulsória” dos direitos autorais de
naturalmente tendem a reduzir de incentivo scal uma medida decidiu ainda por mais uma mu- agir livre de condições na adminis- obras produzidas com a Rouanet.
custos, é a hora ideal para realizar que dá 100% de renúncia a uma dança: reincorporar ao projeto tração da Lei Rouanet. Este foi, talvez, o principal pon-
mudanças que ampliem a capaci- empresa. Por isso, o Ministério da de reforma o artigo que proíbe Outras alterações, durante o to de crítica da opinião pública,
dade de investimento, tanto públi- Cultura vai aumentar as faixas de “apreciação subjetiva quanto ao período de consulta, também fo- inclusive de advogados. O Minis-
co quanto privado.” isenção - para 60%, 70%, 80% e valor artístico ou cultural” dos tra- ram feitas no projeto que vai para tério da Cultura, então, alterou a
A renúncia scal, por exemplo, 90% - o que exigirá maior contra- balhos submetidos à lei. O artigo o Congresso Nacional no ano expressão “direitos autorais” por
perde o fôlego no corpo da pro- partida privada. Isso permitirá um está no texto original, de 1991, e que vem. O MinC já admitiu, por “direitos patrimoniais”.
16 16 a 31 de Maio de 2009 Jornal de Teatro

Festivais Divulgação
Opinião

Política
com Arte
Seria o parlamento um grande palco? O dia a dia da po-
lítica, os dramas e tragédias que afligem a população
estariam distantes de uma obra de ficção? Os acordos
políticos, os interesses legítimos e os escusos, os parti-
dos, os eleitores, fariam parte de uma grande farsa? Sou
vereador ou interpreto um papel? Estas são perguntas
recorrentes nos últimos anos de minha vida. Sou ator
de profissão já há 41 anos. Vereador há seis. Fiz política
estudantil e sindical, hoje estou na Câmara Municipal de
olho na Federal em 2010. Carreira artística, carreira po-
Os bonecos, de variados formatos, tomarão conta das ruas de Canela no próximo mês de junho lítica, carreira profissional. O ator representa um papel,
uma profissão, um tipo psicológico. O vereador repre-

Invasão de bonecos em Canela senta a cidade. O diretor escolhe o ator apropriado para
a personagem e o eleitor escolhe seu representante
para o parlamento.
Por Adriana Machado dos, além dos fantoches, ma- car experiências e promover
rionetes, bonecos apresen- debates. Nesta edição, alguns Na ficção as regras são claras e definidas. Ali sabemos
O Festival Internacional tados através das mãos, dos dos espetáculos apresentarão que tudo é faz de conta, mentirinha. Subimos no palco já
de Teatro de Bonecos de Ca- dedos e joelhos. Espetáculos técnicas nunca vistas em Ca-
nela chega a sua 21ª edição de rua, de grandes teatros, nela, como a de sombras atra-
sabendo o começo, o meio e o fim. Na política, não. Ela
este ano, com data marcada para público de poucas pes- vés das mãos. é dinâmica, surpreendente e nós somos atores e autores
para acontecer: 18 a 21 de soas, com histórias que emo- Contará, ainda, com a par- de nossa história. Às vezes, na política, você pensa que
junho. Nestas duas décadas, cionaram e fizeram rir. ticipação de artistas vindos da é pra valer e no fundo é tudo de mentirinha. Tem muita
grupos do mundo inteiro Nestes dias, a serra gaúcha Espanha, da Finlândia e da
agradaram gente grande e ca colorida, num mundo má- Itália, além de apresentações farsa, faz de conta e, geralmente, os atores não passam
o público infantil com seus gico no qual manipulador e bo- relâmpagos no centro da cida- de canastrões despreparados.
bonecos minúsculos, gigan- neco se confundem. O evento de. No nal, os manipuladores Quem me escolheu para ser vereador, de alguma ma-
tes, de papel, de borracha, de também promove debates, e passam o chapéu e o público
pano, com figurinos elabora- permite aos bonequeiros tor- faz colaborações espontâneas. neira já havia me escolhido como ator. Quarenta e um
anos de convivência diária na TV, no cinema e no teatro,

Florianópolis recebe Rio das Ostras


se prepara para
com certeza dão ao espectador a sensação de que me
conhece bem, de que pode confiar em mim.

Teatro de Animação
Nas artes, o artista busca não decepcionar a platéia e
festival nacional isso deveria nos acompanhar também na política. O elei-
tor quando se decepciona com aquele em quem votou
Por Adoniran Peres este ano, a participação do público de teatro se assemelha ao espectador que foi ludibriado e pagou
será maior do que a
Com a intenção de movi- registrada em 2008 Por Daniel Pinton caro o preço de um ingresso para assistir um espetá-
mentar os prossionais da área (cerca de 15 mil culo de baixa qualidade artística. Se a peça é ruim, não
e o público – através da vivên- pessoas acom- Em homenagem ao aniversá- a recomenda a ninguém. Se o político é ruim, deveria
cia, da formação cultural, da panharam o rio de 12 anos da Fundação Rio
festival). “A das Ostras de Cultura, a coorde-
também recomendar que não o reelegessem.
experiência estética e da lingua-
gem que o teatro de animação intenção é nação do Festival Nacional de Sinto muita saudade do ambiente artístico. Já fiz vários
proporciona – será realizado, que todos Teatro do município uminense amigos bons na política, mas sinto falta da maneira de ser,
entre 14 e 20 de junho, o 3º Fita os pre- promoverá, em outubro, uma edi- de pensar e de agir dos meus colegas de arte. O jogo do
Floripa (Festival Internacional sentes, de ção especial do evento, em mol-
de Teatro de Animação). O diferentes des diferentes dos anteriores. poder na arte é leve. A competição artística tem ética e
evento, que acontecerá em di- idades, vi- Para este ano, quatro espetá- o sentimento coletivo é cultivado com primor. Na política
ferentes teatros, ruas e espaços venciem e se culos adultos e quatro infantis é mais difícil sentir-se em grupo. Na arte: protagonismo
de Florianópolis, contará com encantem pela serão convidados a se apresen-
a presença de grupos interna- arte”, ressalta. tar no Teatro Popular de Rio das x antagonismo. Na política: situação x oposição. Na arte
cionais da Itália, da Espanha, O 3º Fita Ostras e não haverá premiações mocinho é mocinho, bandido é bandido. Na política os
do Chile e da França (segundo Floripa terá co- nem exibições ao ar livre. papéis se confundem quase sempre. O que me mantém
as regras do festival, cada gru- mo sedes o Segundo a assessoria de im-
Centro de Cul- prensa da fundação, além de ser-
vivo na política é a certeza de que o público-eleitor-cida-
po fará duas apresentações).
Destaque para os italianos tura e Eventos vir de homenagem à casa, a quin- dão necessita que o representem bem. Sinto-me útil. A
do Gioco Vita, com o espetácu- da Universidade ta edição do festival servirá como política me permite lutar por muitos. A arte me ensinou a
lo infantil Pépé e Stella, e o gru- Federal de Santa teste de novas fórmulas para o servir. Meu público sempre foi meu patrão. Agora, como
po Les Apostrophés, da França, Catarina (UFSC), futuro. “Geralmente temos uma
que virá com a intervenção de e os teatros Ál- gama de inscrições muito gran- vereador, posso ter mudado de função, mas o patrão con-
rua Passage Désemboîté. O 3º Fita varo de Carva- de para o festival, mas a edição tinua sendo o mesmo. É o povo quem continua pagando
Floripa também terá a partici- lho (TAC ), da comemorativa deste ano servirá meu salário. Por essas e outras é que o slogan da minha
pação de grupos brasileiros de Ubro, da UFSC para avaliar o que podemos mu-
Minas Gerais, de São Paulo, do e mais três es- dar do que é normalmente feito carreira política é POLITICA COM ARTE.
Rio de Janeiro e de Santa Cata- paços públicos, para futuras edições”, explicou
Reprodução

rina. além de visitas a Tassia Moraes Liu, assessora de Stepan Nercessian


Sassá Moretti, coordenadora hospitais e casas imprensa da Fundação Rio das
geral do Fita Floripa, acredita que, de repouso. Ostras de Cultura. Ator e vereador no Rio de Janeiro
Jornal de Teatro 16 a 31 de Maio de 2009
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Marketing Cultural
Pablo Ribera

Uma das sedes do Santander Cultural, localizada em Porto Alegre (RS): solução encontrada pelo banco - o mais lembrado como patrocinador de teatro - para apoiar as artes no Brasil

Grupo Santander é um dos principais patrocinadores da cultura brasileira


Por Pablo Ribera grupo desenha a nova política para Santander apostou em novos ta- ta com o Santander Cultural, der Cultural – de formar alianças
investimento cultural da nova or- lentos, que tiveram os trabalhos instituição fundada em 2001, com diversos segmentos da so-
O Grupo Santander Brasil foi, ganização que está se formando, exibidos no saguão do Santan- que visa a integração e a difu- ciedade e exercer o papel de uma
em 2008, o banco mais lembra- sempre levando em consideração der Cultural, em São Paulo. são dos conteúdos artístico- instituição do terceiro setor como
do como patrocinador de teatro, a relevância social e educativa dos A sétima arte também conta culturais. Empenhado na in- agente de integração e desenvol-
segundo pesquisa realizada pelo projetos”, disse Renata Zaccarelli, com o apoio da instituição, que serção dos diversos segmentos vimento social – foi reconhecida
Instituto Datafolha. Voltada ao superintendente de relações insti- investiu nos longas-metragens sociais, o Santander Cultural pelo Prêmio Top Marketing 2007
apoio às artes brasileiras, há qua- tucionais do Santander Brasil. “Plastic City” (selecionado para atua por meio de parcerias na categoria Segmento de Merca-
se dez anos, a empresa criou, para O grupo também criou pro- o Festival de Veneza); “Feliz com áreas de produção cultu- do/Cultura, no Rio Grande do
tomar conta dessa parte cultural, jetos de incetivo para jovens fre- Natal”, dirigido por Selton ral brasileira e internacional. Sul, além de outras premiações.
o Santander Cultural, que, em quentarem os teatros. Um deles Mello, “Familia Vende Tudo” A instituição apresentou,
São Paulo, é baseado no Edifício é o Teatro nas Universidades. O com Luana Piovanni, e “O Sig- ao longo de oito anos, mos- INSTITUTO CULTURAL
Altino Arantes – Torre Banespa, programa começou em 2005, no da Cidade”, estrelado por tras de artes visuais, exibições BANCO REAL
no centro da capital paulista. idealizado pelos atores Nicette Bruna Lombardi e Malvino de lmes, festivais, seminários Instalado em um prédio
Entre as peças teatrais que re- Bruno e Paulo Goulart, e con- Salvador, com direção de Car- e cursos, além de centenas considerado uma das relíquias
ceberam apoio da instituição es- ta com o patrocínio do banco los Riccelli, além da II Jornada de shows musicais. Foram 28 do patrimônio arquitetônico do
tão “Virgolino e Maria – Auto de desde o início. O programa visa Brasileira de Cinema Silencioso, mil atividades, aliadas a mais centro histórico de Recife (PE),
Angico”, com Adriana Esteves e levar o teatro às universidades que exibiu 29 lmes do início de mil modelos de parcerias em 2006, o Instituto Cultural
Marcos Palmeira; “Toc Toc”, com gratuitamente, com peças apre- do século XX. e um público de cerca de três Banco Real passou por ampla
Márcia Cabrita e Flávia Garrafa; sentadas às segundas e terças- “Estamos desenhando a milhões de pessoas. reforma interna e teve sua área
e “Doce Deleite”, com Camila feiras. Após cada encenação, política para investimento O Santander Cultural está externa recuperada. O Instituto
Morgado e Reynaldo Gianecchini. acontece um debate, através do cultural da nova organização instalado em um prédio his- mantém exposições regulares
Juntas, as apresentações já foram qual o público interage com os que está se formando, sem- tórico, na Praça da Alfândega, e eventos culturais, além de bi-
vistas por mais de 56 mil pessoas. atores. “Este projeto foi selecio- pre levando em consideração em Porto Alegre (RS). A cons- blioteca com acesso à internet e
“O Grupo Santander Brasil, nado por ser de relevância para a relevância social e educativa trução, em estilo neoclássico, mais de 2,2 mil livros sobre artes
que reúne os Bancos Santander universitários”, disse Renata. dos projetos”, disse Renata. de 5.600 m², datada de 1932, visuais, fotograa e arquitetu-
e Real, conta, hoje, com o San- O apoio às artes não é ape- foi eleita, em 2008, o patrimô- ra. Também possui um Espaço
tander Cultural, com unidades nas direcionado aos palcos. Nas SANTANDER nio arquitetônico mais signi- Educativo, para atender estudan-
em Porto Alegre e em São Paulo, exposições, além de contar com CULTURAL DO RS cativo de Porto Alegre. tes e escolas. O Instituto Cultural
além do Instituto Cultural Banco grandes nomes, como a artista Além dos patrocínios, o A estratégia bem-sucedida Banco Real localiza-se na aveni-
Real, no Recife. Atualmente, o espanhola Cristina Iglesias, o grupo Santander Brasil con- de gestão associativa do Santan- da Rio Branco, 23.

Oportunidades
PROJETO - Estão abertas, até seja via impressa ou pela internet AUDIÇÃO - A Cia. Sansacro- MUSICAL - A produção do ESPETÁCULO - O Espaço
31 de maio, as inscrições para o - histórico, sinopse, cha técnica ma promove, dia 23, às 14h, no musical Evita recebe mate- Terra Forte está produzindo o
Projeto Teatro nos Parques. Po- e material de suporte como ma- Espaço Artemanha, audição para rial de prossionais para os espetáculo “Ruas de Barros”,
derão participar espetáculos para térias e críticas, vídeos, cartas de selecionar intérpretes para o pro- segundos papéis: cantoras sobre a vida e obra do poe-
teatro de rua e espaços abertos referência etc. Procurar por Ne- jeto “Trilogia Militantes do Ideal”. e cantores, de 20 a 50 anos, ta Manoel de Barros. A turnê
para ocupar os parques públicos anddra (2117-4711 ou central@ Interessados devem enviar currí- com formação comprovada. está prevista entre os meses
de São Paulo. Cada grupo (serão cooperativadeteatro.com.br) na culo para ciasansacroma@gmail. Bailarinas e bailarinos, de 20 de junho e agosto de 2009. A
16 ao todo) fará quatro apresen- sede da Cooperativa Paulista de com até o dia 20. Podem parti- a 35 anos, e atrizes e atores de equipe procura uma atriz pro-
tações, somando R$ 10 mil bru- Teatro. A comissão julgadora cipar atores e/ou bailarinos aci- 20 a 50 anos, com experiên- ssional que toque Acordeon
tos de remuneração e incluindo será composta por três integran- ma de 18 anos, com habilidades cia em canto. Os interessados e um assistente de direção
todas as despesas. O projeto tes: Sebastião Milaré (crítico e corporais e que morem na zona devem mandar currículo com com experiência em audiovi-
acontecerá de 29 de agosto até teatrólogo), Roberto Magalhães sul de São Paulo ou proximida- foto recente de corpo inteiro sual e teatro. Os interessados
outubro de 2009. Os grupos de- (OI Futuro) e Luiz Amorim (Co- des. Mais informações: www. até o dia 30 de junho para tes- deverão escrever para terra-
verão apresentar nas inscrições - operativa Paulista de Teatro). ciasansacroma.wordpress.com. tes@evitamusical.com.br forte.producoes@gmail.com
18 16 a 31 de Maio de 2009 Jornal de Teatro

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Técnica
Ao lado de um grande ator
há sempre uma el camareira
Fernanda Barcelos atua desde 1998 na preparação de atores
Cuidar dos figurinos, organizar o camarim e ainda ser confidente, este é o

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papel desta profissional que mostra seu talento no teatro, na TV e no cinema
Por Renata Hermeto
Fotos: arquivo pessoal

Ela tem 68 anos de idade,


31 de prossão e já trabalhou
com artistas renomados, como
Vera Fischer - com quem cou
em turnê por um ano -, Beatriz
Segall e Herson Capri. Sua pri- Segunmdo a coach Kátia Barros, autoconhecimento deve ser contínuo
meira peça foi “Cacilda”, com
Wolf Maya e Juca de Oliveira.
Desde então, foram mais de
200 peças – hoje está no mu-
Renovação com o coaching
sical “7”, em cartaz no Teatro Por Alexandre Gonzaga sonagem híbrida homem/mu-
Sérgio Cardoso, em São Paulo lher, comum na época do teatro
(a peça conta a história de sete Todos são unânimes – sejam de revista. “Eu nunca tinha feito
mulheres que têm seus destinos atores, diretores e outros pros- um trabalho como este e adorei,
cruzados, depois que uma delas sionais da classe artística – em pois, em parceria com a Kátia,
sofre uma perda amorosa). Seu armar que a reciclagem é ne- conseguimos compor a perso-
Elma (à esquerda), a Mac Gyver, com Eduardo Dussek (à direita)
nome? Dislene Emílio, mais cessária e importante ao longo da nagem com lirismo e humor. Me
conhecida como Didi, que, no corrido, ele entrou ainda arru- carreira. O coaching, uma técnica senti segura”, completa a atriz.
entanto, não é atriz, não brilha mando o sapato”, diverte-se. relativamente nova no Brasil, mas Em seu monólogo, Maíra dese-
nos palcos, mas exerce uma Mas não só de cenas engra- muito conhecida lá fora, tem sido nhou um comportamento entre
função fundamental para que çadas vivem as camareiras. Elas utilizada como ferramenta de a gura masculina e a feminina,
os espetáculos sejam um suces- também passam por muito es- aprimoramento de uma perso- com movimentações cênicas
so de crítica e de público. Didi tresse durante o trabalho. Didi nagem e crescimento do trabalho construídas junto com sua coach.
é camareira (com uma trajetória conta que a cena que mais lhe do ator, seja no palco e para sua
de dar inveja a muita gente). marcou foi quando a atriz Bea- vida artística e pessoal. Segundo a O PROCESSO
É ela – e inúmeros outras triz Segall derrubou, acidental- coach, atriz e bailarina Kátia Bar- Atores e diretores comparam
pessoas que exercem a pros- mente, café no vestido branco, ros, o autoconhecimento deve o trabalho do coach (designação
são - que separa as roupas de a poucos minutos de subir ao ser contínuo e o exercício cênico para o prossional) com a de um
cada cena, cuida dos acessórios palco. “Ainda bem que ainda e corporal, ilimitado. “Estamos personal, que faz um trabalho me-
e dos pertences particulares tinha outra troca”. Outra atriz sempre em estudo, potencializan- ticuloso de gestual, de intenção de
dos atores e atrizes, além de (seu nome é mantido em segre- do nosso repertório prossional como alcançar a emoção melho-
ajudá-los a se vestir. Didi, po- do) também já deu trabalho a e pessoal”, diz Kátia. rando o desempenho corporal,
rém, considera que o trabalho Didi. “Ela estava pronta para Para a prossional, que já emocional ou vocal. A técnica é
que desempenha “é mais do entrar em cena e foi colocar o fez parte do elenco de grandes muito usada também no cinema,
que de uma mãe”, já que, além sapato, que escorregou de sua produções musicais e direção de na preparação de atores, e o coach
de seus afazeres cotidianos, Camareira Didi já rodou o Brasil atua como um segundo diretor.
mão e caiu em um buraco. Nes- movimentos para espetáculos
tem que car por conta dos sa, não teve como, a atriz teve acompanhando sua carreira. como “Naked Boys”, “Divas no A atriz Fernanda Barcelos, que
seus “lhos” e “lhas”, veri- que subir ao palco com outro A menina acabou por resolver Divã”, entre outros, a consciên- atua desde 1998 na preparação de
car se tudo está em ordem, se sapato, que não tinha nada a subir ao palco”, relembra. “O cia corporal só tem acrescentar atores, explica que essa ferramen-
não tem gravata errada, se os ver com seu gurino.” mais emocionante foi que ela à expressão artística. Kátia ini- ta auxilia no desenvolvimento
sapatos estão certos, se as rou- disse que só ia entrar porque ciou a atividade de coaching há humano do coachee (designação
pas estão em sequência de en- EXPERIÊNCIA ÚNICA eu pedi”, frisa, emocionada, três anos e sua atuação consiste para o ator). Ao iniciar um tra-
trada... É ela a responsável em Elma Lúcia da Silva An- Elma, que diz que o segredo da em “acordar o corpo dançante balho de coaching, ela faz um le-
manter tudo organizado e sem- tônio, 39 anos (há 13 trabalha boa camareira é ser organizada. e cênico do ator e do bailarino, vantamento do momento atual e
pre solucionar algum problema como camareira) também tem “Temos que deixar tudo perfei- através da consciência corporal pessoal do ator. Utilizando-se de
de emergência. boas histórias para contar. to para os atores. Eles têm que e técnicas de dança. O objetivo ferramentas e jogos teatrais, Fer-
Conhecida no meio artístico se sentir em casa, então sempre do coaching não é fazer do ator nanda desenvolve um contexto
INÍCIO CASUAL apenas como Elma, iniciou a deixamos tudo a mão deles. um bailarino ou um cantor, e sim pontual do trabalho requisitado.
“Já trabalhei com mui- carreira em desles de moda Fora do camarim é agilidade e agregar elementos novos à sua “Tenho um caso bem interes-
ta gente importante, e isso é e apresentações de balé. Após conança”, ensina. vida”. Kátia ainda recomenda sante. Uma atriz nunca tinha fei-
muito legal. Também já tive a algum tempo, passou a acom- Elma revela outro segredo que este trabalho deve ser inicia- to comédia, infantil ou musical.
oportunidade de viajar o País panhar espetáculos pequenos da prossão: a discrição. A- do no mínimo dois meses antes Trabalhamos durante um mês
inteiro, foi muito bom”, revela e, hoje, trabalha com artistas nal, garante, muitas vezes as do elenco começar os ensaios. suas habilidades com exercícios
Didi, que iniciou sua carreira de musicais (atualmente está camareiras tornam-se con- O coaching traz benefícios à corporais, improvisação, jogos e
em 1978, por meio de um ami- no espetáculo “Avenida Q”, dentes de atores e atrizes. “Te- carreira do iniciante e renova as temas como o burlesco, o lúdico
go ator. “Fui ver o ensaio da que conta a história de cinco mos que ter sigilo absoluto de características do veterano. Atu- e a leveza”, revela.
peça “Investigação na Classe bonecos e três humanos que tudo que escutamos. Passamos almente, desenvolve um trabalho A prossional assegura que
Dominante”, e o Flavio Rangel moram e interagem nesta ave- grande parte do tempo com eles para um espetáculo musical que o crescimento é visível e que o
perguntou se eu já conhecia a nida, contando seu dia-a-dia e escutamos muita coisa, então, estreia ainda este ano. A sua di- ator carrega esse aprendizado
prossão. Como não conhecia com bom humor). Elma conta sigilo é essencial. Só falamos reção de movimento é inspirado pela vida inteira. Fernanda não só
ele me deu as dicas e logo me que o momento que marcou quando nos pedem opinião”, especialmente com bases em téc- trabalha com atores, mas também
tornei camareira”, revela Didi, sua carreira foi quando uma revela Elma, que anda sempre nicas do teatro e da dança. Num desenvolve o coaching com mú-
que adora o que faz e tem boas criança de 5 anos, pronta para prevenida, com sua “caixinha da dos seus trabalhos de coaching, sicos, designers e jornalistas. Hoje
histórias para contar, como entrar em cena, não quis subir Emília”, que, garante Elma, tem ela cita o exemplo da atriz Maíra em dia, ela atende uma escultora
a vez em que, ao checar se o no palco. de tudo dentro. “Me chamam Dvorek, que tinha o desao de em Londres. “As pessoas querem
ator estava pronto para entrar “A criança dizia que sua rou- de Mac Gyver, pois sempre es- desenvolver uma atriz de cabaret. estar contentes e para quem está
em cena, viu que ele havia co- pa estava apertada e pinicando. tou preparada para qualquer si- No espetáculo “Oleré! Ola- comprometido com a carreira o
locado um pé de sapato preto Então, fui conversar com ela e tuação, seja uma roupa que ras- rá!”, que está em cartaz no Ca- coaching é uma excelente ferra-
e outro marrom. “Tive que lhe disse que era muito espe- gou ou um brinco que quebrou. fé-teatro O Inamável, em São menta de desenvolvimento hu-
trocar na hora, foi tudo muito cial e que eu queria continuar Tudo tem solução”, diz. Paulo, Maíra interpreta uma per- mano”, diz Fernanda.
Jornal de Teatro 16 a 31 de Maio de 2009
19
Formação
Fotos:divulgação
Ao seguir os
passos da mãe,
Célia Helena, Lígia
Cortez continua
o trabalho de
formação de atores
e da nova
abordagem no
No palco do Teatro
Célia Helena acontecem processo de
montagens e testes dos alunos.
Literalmente, é aqui onde os criação do ator
atores são postos à prova

De mãe para filha, para os alunos, para os atores....


Por Danilo Braga o curso prossionalizante de atores. Nes- Lígia quando ela fala da Escola.
se período, Célia Helena deixou o papel “A coisa que considero mais impor-
Um dito popular já narrado por ge- de atriz para atuar como educadora. tante para o ator é o poder de transfor-
rações e gerações pode facilmente ser Com corredores amplos e bem ilu- mação que o teatro tem na pessoa e na
aplicado à Escola Superior de Artes Célia minados, alunos reúnem-se para discu- sociedade”. A formação do ator, em sua
Helena: “educação vem de berço”. O que tir, conviver e aprender uns com os ou- losoa, visão e atuação como diretora
não foi dito é que essa educação de berço tros. Mais do que um conjunto de salas artística da instituição não deve se limitar
não se restringe às paredes do lar familiar. de aula, a Escola de Artes Célia Helena à técnicas e especicidades práticas. Na
Criada em 1977, a Escola de Célia Helena surge como um centro de troca de co- Escola, os alunos vão além do prático e
inovou. Foi uma das pioneiras no ensino nhecimento, um espaço de discussão banham-se no universo teórico da dra-
teatral para jovens, onde não só deveria pública e de convivência da geração que maturgia. “O teatro não é só exercício fí-
ser ensinada a técnica, mas também onde terá culpa na nova cara do teatro daqui sico: é debruçar-se sobre a vida humana
fosse desenvolvido um pensamento críti- há alguns anos. e a transformar”.
co e criativo: o ator não seria apenas um Lígia Cortez, lha de Célia Helena e A losoa da escola envolve serie-
encenador, e sim, um criador. Raul Cortez, certamente teve a educa- dade, ideologia, criatividade e dedica-
A escola segue a essência do trabalho ção como atriz “de berço”. Hoje, ela é ção. Apesar de já ter traçado mais de 30
de sua idealizadora, Célia Helena. Paulista, quem mantém o projeto da escola e assu- anos de trajetória na formação de atores,
nasceu em 1936 e com apenas 16 anos já me a direção artística da entidade. Além a entidade começou suas atividades no
demonstrava interesse pelo teatro, con- de atriz e diretora teatral, Lígia também curso superior somente no ano passa-
trariando sua família: começou em uma cuida das atividades teatrais do MAM do, quando teve seu curso reconhecido
época onde o teatro era considerado uma (Museu de Arte Moderna de São Paulo) pelo Conselho Nacional de Educação e
“arte menor”. A escola foi criada sob o e ensina Direção de Atores no curso de nota máxima do Ministério de Educação
nome de Teatro-Escola, mas, só em 1989, Audiovisual da Universidade de São Pau- e Cultura (MEC). Agora, a escola não
o MEC reconheceu o curso para oferecer lo (USP). É possível sentir o orgulho de só forma atores, mas bacharéis em Ar-
tes Cênicas. Além de serem ensinadas as
matérias consideradas básicas (interpre-
tação, história do teatro, trabalho vocal O ambiente é decorado de forma a
evidenciar um cuidado e fazer da Escola
e corporal), são lecionadas algumas ma- um segundo lar para o futuro artista
térias para a formação dos alunos como
professores de teatro e pesquisadores da Cortez. Abriga, ainda, títulos comprados
área, o que cria um repertório teórico e nos mais de 30 anos de existência da Es-
prático para levar o estudo para um nível cola. Lígia conta que grande parte desse
de pós-graduação. acervo passou por atores que zeram
“O trabalho de formação do ator de- história com aqueles textos, que usaram e
pende da bagagem cultural, educacional provocaram mudanças com esses livros.
e pessoal do aluno”, arma a diretora. O ambiente é diferente do padrão de
“Somos responsáveis pelos alunos. Te- biblioteca encontrado por escolas e fa-
mos um compromisso ético com ele, um culdades no País. Fotos de atores, poltro-
compromisso com sua educação. Daqui nas confortáveis e um ambiente intimis-
a três, quatro ou cinco anos os nossos ta dão à biblioteca um tom acolhedor e
alunos irão atuar e transformar o teatro. convidativo: venha e me explore. Não é
É nossa responsabilidade, o cuidado que preciso ser aluno para ter acesso à biblio-
temos com eles é imenso”. teca. Essa é aberta à população e comu-
Os exames, mostras, festivais e tem- nidade acadêmica.
poradas encenadas e produzidas pelos Tanto para o curso superior quanto
alunos da escola acontecem no Teatro para o prossionalizante, ambos com
Sala de aula, laboratório de espetáculo ou canto de orientação criativa. É aqui onde os
Célia Helena. Localizado no bairro da três anos de duração, há 30 vagas em
alunos caminham rumo à expressão da individualidade e da sociedade Liberdade, o teatro foi uma fábrica nos cada período: matutino ou noturno para
anos 50. Projetado pelo arquiteto Ruy o superior e matutino, vespertino ou no-
Ohtake, tem sua própria equipe. Ilumi- turno para o nível prossionalizante. O
Escola Superior de Teatro nação, sonoplastia, gurino e cenograa trote da segunda turma, conta Lígia Cor-
Artes Célia Helena Célia Helena cam por conta do teatro, que acompa- tez, foi muito interessante. Os alunos ar-
nha os trabalhos dos alunos em seus pro- recadaram alimentos e foram até as ins-
jetos e apresentações públicas. tituições escolhidas entregar as doações.
Av. São Gabriel, 462 - Itaim Bibi R. Barão de Iguape, 113 - Liberdade A biblioteca da escola contém um dos Lá, junto aos veteranos, zeram uma
(11) 3884 8294 (11) 3209 - 0470 mais completos acervos especializados na aula, em clima de paz e de descontração.
área. Contém mais de doze mil títulos, in- “Foi um trabalho muito sensível, decidir
www.celiahelena.com.br cluindo o acervo de Célia Helena e Raul fazer o bem e para quem”.
20 16 a 31 de Maio de 2009 Jornal de Teatro

Sindicais
Prefeitura do Rio prometeu, prometeu mas ainda não cumpriu
Funcionários dos teatros municipais continuam sem salários e sem contrato. Ameaça de reavaliação causa insegurança e dissolve a classe
No nal do último mês, fun- “assim que possível”. Até que O medo de qualquer tipo de

Divulgação
cionários da rede de teatros da a carta dos funcionários entrou represália impediu também que
Prefeitura do Rio de Janeiro con- em circulação, dia 23 de abril, os trabalhadores realizassem reu-
vidaram, através de carta, seus uma quinta-feira. A movimen- nião programada no dia da antiga
companheiros de trabalho a re- tação de toda a classe artística paralisação. Um e-mail enviado à
alizar uma paralisação de mani- carioca fez com que os adminis- secretária de Cultura, Jandira Fe-
festo contra o atraso dos salários tradores municipais entrassem ghali, para que ela mesma pres-
nos últimos dois meses e a situa- em contato com seus funcioná- tasse maiores esclarecimentos,
ção irregular, sem carteira de tra- rios e, na segunda-feira seguinte, não teve resposta e a situação se
balho assinada. todos foram convocados a leva- mantém a mesma até agora, qua-
A falta de pagamento co- rem seus documentos para uma se três meses.
meçou quando o contrato dos nova empresa, que regularizaria A perspectiva é de que os pa-
funcionários com a empresa que os contratos de todos. gamentos sejam feitos até o m
mediava seus pagamentos com a Dessa forma, os funcioná- de maio. Caso contrário, nova
Prefeitura chegou ao m. Desde rios foram até o local e deixa- paralisação poderá acontecer
então, a administração municipal ram os documentos, as carteiras durante o “Viradão Carioca”,
não tomou as medidas necessá- de trabalho e toda a papelada evento cultural similar ao que
rias para regularizar a situação. necessária para a regularização. acontece em São Paulo, durante
A Secretaria de Cultura da cidade No dia seguinte, a empresa dis- 24 horas consecutivas.
não se manifestou e os prossio- se que todos seriam reavaliados A falta de comunicação entre
nais caram sem registro e, pior, antes de assinarem contratos, os funcionários e a administração
sem pagamento. o que causou insegurança nos municipal levanta mais dúvidas
Tal situação havia se arras- prossionais, que deixaram de sobre pagamentos e contratos,
tado baseada somente em pro- cogitar a possibilidade de parali- talvez o maior problema do que
messas do lado do governo, sação, mesmo com os pagamen- agora se tornou a novela da Pre-
que armava acertar as contas tos ainda em falta. feitura com a sua classe artística. Funcionários tentaram contato com Jandira Feghali

Editais
Myriam Muniz e Klauss
Vianna: prazo prorrogado
Por Pablo Ribera adultos, teatro de bonecos, te-
atro de rua etc.) e para apoiar
A Funarte (Fundação Na- grupos e companhias teatrais
cional de Artes) prorrogou o envolvidas em projetos de pes-
prazo para apresentação de do- quisa teórica, de experimenta-
cumentação dos proponentes ção de linguagem e de arte-edu-
contemplados pelo Prêmio Fu- cação, entre outras atividades.
narte de Teatro Myriam Muniz Realizado pela primeira vez em
2008 e pelo Prêmio Funarte de 2006, o prêmio se consolidou
Dança Klauss Vianna 2008. Se- como uma das principais ações
gundo o edital, a documentação de estímulo à produção teatral
deverá ser apresentada em, no do País. O nome do programa é
máximo, dez dias após a divul- uma homenagem à atriz Myriam
gação do resultado no Diário Muniz (1931-2004), que fez
Ocial da União, para a assina- parte da geração inovadora do
tura do termo contratual e con- Teatro de Arena. Reconhecida
cessão da premiação. O prazo, por interpretações no teatro e
que venceria dia 30 de abril de no cinema, Myriam dedicou os
2009, foi prorrogado por mais últimos anos de sua carreira à
30 dias, passando a vencer em formação de novos talentos.
30 de maio.
A relação dos projetos con- PRODUÇÃO NACIONAL
templados foi divulgada no dia Criado pela Funarte, em
20 de abril. A Petrobras, em- 2006, o Prêmio Funarte de
presa patrocinadora dos prê- Dança Klauss Vianna apoia
mios, anunciou o desembolso a produção nacional do setor
dos valores para os meses de com financiamento de mon-
maio, junho e julho. O critério tagens de espetáculos e in-
utilizado para o recebimento vestimentos na manutenção
do prêmio será a ordem de che- de programas de grupos ou
gada da documentação e a Fu- companhias de dança. Além
narte comunica que não haverá disso, beneficia iniciativas de
qualquer tipo de exceção. todos os estados brasileiros.
O nome do programa é uma
APOIO IRRESTRITO homenagem ao bailarino, core-
O Prêmio Funarte de Te- ógrafo, ator, diretor, professor
atro Myriam Muniz foi criado e crítico de teatro e de dança
para incentivar a produção e a Klauss Vianna (1928-1992),
montagem de peças das mais que criou um método precur-
variadas modalidades e gêne- sor de preparação corporal
ros (teatro para crianças, para para artistas cênicos.
Jornal de Teatro 16 a 31 de Maio de 2009
21
Vida e Obra

Vocação inabalável pela arte


Elias Andreato fala de sua paixão pelo teatro

Fotos: Divulgação
Por Alysson Cardinali Neto além de roteirista, em 1996, do
programa “Sai de Baixo” – e na
O começo de sua carreira não telona – destaque para “Irmãos de
poderia ter sido mais curioso e Fé” e “O Príncipe”.
inusitado: como contrarregra e
camareiro de Antônio Fagundes, PRAZER
no monólogo “Muro de Arrimo”, Embora tenha se destacado
dirigido por Antonio Abujamra. na telinha e no cinema, Elias
Corria o ano de 1976 e o jovem Andreato não esconde que sua
Elias Andreato, então com 21 anos, maior vocação está no teatro. É
estava decidido: trocaria a área de nos palcos que ele se sente mais
publicidade, na qual já havia reali- a vontade e plenamente realiza-
zado alguns trabalhos, pela sua ver- do. “O teatro é minha vocação,
dadeira paixão: a arte de dar vida à enquanto a TV, para mim, ainda
personagens, fosse no teatro, no ci- é um mistério e o cinema algo
nema ou na televisão. O sonho de um pouco distante. Mas o que
ser ator tornar-se-ia realidade um eu gosto, mesmo, é de ser ator.
ano depois, quando este parana- Tudo que fiz como ator foi re-
ense da cidade de Rolândia, no in- alizado com imenso prazer”,
terior de estado, estreou prossio- frisa Elias, sem menosprezar,
nalmente no espetáculo “Pequenos porém, as outras funções que Elias durante um ensaio: ”Tudo que z como ator foi realizado com imenso prazer”, diz o diretor e roteirista
Burgueses”, com direção de Rena- exerce (hoje é diretor e roteiris-
to Borghi e Ester Góes. Desde en- ta de seus próprios trabalhos). DETERMINAÇÃO
tão, transformou-se em referência De todos os gêneros nos quais Pode ser esta inquietude, porém, FÔLEGO DE SOBRA
na prossão e um dos artistas mais atuou, a comédia é o que mais a mola propulsora para o sucesso Incansável, Elias Andreato não para. Atualmente, ele se divi-
ecléticos do País, capaz de arreba- o atrai. “A comédia é um jeito não só já alcançado, mas que ele ain- de em três frentes: o seu sétimo espetáculo solo, “Doido”; a peça
tar as mais exigentes plateias, nos inteligente de ver o mundo”, da pretende alcançar. Anal, Elias “Amigas, Pero no Mucho”; e a direção de “Mãe é Karma”, com
mais diversicados gêneros. avalia este pisciano, que adotou Andreato não se contenta com pou- Renato Borghi, Miriam Mehler, Nilton Bicudo e Olivia Araujo,
“Já z drama, tragédia e co- a cidade de São Paulo como sua co e quer sempre mais. “Sou muito prevista para estrear em agosto. “Doido” cará em cartaz no te-
média. Tudo é um prazer quando casa e é dono de rara sensibili- determinado no que faço, sou um atro Eva Herz, em São Paulo, de 17 de maio a 28 de junho, inau-
se gosta do que se faz. O gênero dade e talento na arte de com- trabalhador na essência da palavra. gurando um novo horário de apresentação (sempre às 14h30, aos
passa a ser um exercício do mo- por seus personagens. Irei estrear, em agosto, como autor, domingos). “Doido” fala de amor, arte e mostra ao espectador o
mento, uma escolha para se per- Talvez seja esta sensibilidade na peça “Mãe é karma”, com meu que essa viagem apaixonante pode despertar no artista e no ci-
manecer em cena”, ensina Elias, que o tenha transformado em texto. É um exercício que me faltava dadão comum, quando um homem narra e vive personagens da
que se encantou pela prossão um prossional dedicado e tra- no teatro. Além disso, vou dirigir o dramaturgia universal. Já em “Amigas, Pero no Mucho”, Elias
após assistir “Rosa dos Ventos”, balhador, mas em um ser, como texto “Neva”, de Guillermo Calde- faz o que mais gosta: atua, brilha no palco e da vida à persona-
espetáculo de Maria Bethânia e ele mesmo dene, em constante rón com tradução de Celso Curi”, gem Fram, uma mulher de 50 anos, divorciada, dois lhos que
Fauzi Arap. “Tinha uns textos da busca pela felicidade. “Não sou garante Elias, que, no entanto, não moram com o pai. Detalhe: já passou dos 50 anos, mas quer
Clarice Lispector, lindos. Fui ar- um otimista. Até gostaria de ser, se da por satisfeito nem com a ba- parecer 30. A comédia já levou mais de 27 mil espectadores aos
rebatado e, em seguida, comecei mas isso não acontece. Também gagem que adquiriu ao longo dos palcos de São Paulo, em 2007, e do Rio de Janeiro, no início de
a fazer teatro amador. Antes de não sou plenamente feliz. Aliás, anos. “Não sou um ator perfeito 2008, bem como no Teatro Renaissance, no começo deste ano.
me tornar ator prossional, tam- estou distante disso”, diz, acres- e ainda me falta muita coisa para Agora, Amigas, Pero no Mucho, fará curta temporada no Teatro
bém fui contrarregra de Othon centando que, mesmo depois de ser: falta altura, falta cabelo, falta Jardim São Paulo, na Zona Norte, e estará em cartaz de 16 de
Bastos (antecedendo a experiência tantas conquistas na carreira, não beleza... Adoraria saber cantar, mas maio a 28 de junho.
com Fagundes) e técnico de luz está realizado prossionalmente. ca para outra encarnação”, brinca
e som”, relembra Elias, 55 anos, “É muito difícil se realizar. Car- Elias. Ele acompanha com atenção
com consolidada carreira (são 32 rego uma angústia enorme. Sem- a nova geração de atores revelada
anos) não só no teatro, mas na te- pre que conquisto algo, preciso pelo teatro. “É uma geração muito
levisão – atuou em várias novelas e de novas conquistas. Será assim talentosa, mais inteligente, descola-
minisséries da Rede Globo, como até o m dos tempos”, avalia, da e segura. Ela tem mais jogo de
“A Muralha” e “Suave Veneno”, com humildade. cintura”, avalia.

CARREIRA
Após ter passado pelo amadorismo, Críticos de Arte, APCA, e Apetesp de me- midt, um musical Off-Broadway. Em 1997,
Elias estreia profissionalmente em “Pe- lhor ator em 1990. Nesta década, participa dirige “Arte Oculta”, escrito e interpretado
quenos Burgueses”, de Máximo Gorki, de peças como “Solo Mio”, uma criação so- por Cristina Mutarelli, ao lado de Carlos
numa montagem de Renato Borghi, em bre textos de Caio Fernando Abreu, Murilo Moreno. Em 2000, dirige Paulo Autran em
1977. Vive Oswald de Andrade em “Tie- Rubião e Renato Borghi, Van Gogh, a partir “Visitando o Sr. Green”, de Jeff Baron, es-
tê, Tietê...” ou “Toda Rotina Se Manteve de cartas deixadas pelo angustiado artista petáculo que marca os 50 anos de carreira
Não Obstante o que Aconteceu”, de Alci- plástico, Repetition, de Flávio de Souza, ao do ator. Em 2002, dirige Marília Pêra em “A
des Nogueira com o grupo Os Farsantes, lado de Xuxa Lopes, em “Esta Noite Cho- Filha da ...” , de Eduardo Silva.
em 1979, enfrentando, logo a seguir, um veu Prata”, escrito por Pedro Bloch e Oscar Retorna como ator, em 2003, em “Ar-
monólogo intempestivo: Diário de um Wilde, com direção de Vivien Buckup. taud, Atleta do Coração”, uma análise de
Louco, de Nikolai Gogol, dirigido por Mar- Diversas encenações levam sua as- Artaud pelas pinturas de Van Gogh, sob a
cio Aurelio, em 1980. Ao longo dos anos, sinatura, com destaque para “Levadas da direção de Marcia Abujamra, e em Senhor
encena uma série de peças, como “Cala- Breca”, de Flávio de Souza, com Mira Haar das Flores, de Vinícius Márquez, dirigido
bar”, texto de Chico Buarque e Ruy Guer- e Patrícia Gaspar, 1988; “Não Tenha Medo por Marco Ricca. No cinema participa de
ra, “Lua de Cetim”, de Alcides Nogueira, Virgínia Woolf”, a partir da obra da autora, algumas produções, com destaque para
“Édipo Rei”, de Sófocles, “Senhorita Jú- com roteiro de Elias e Esther Góes, 1990; “Sábado”, “Os Boleiros” e “O Príncipe”,
lia”, de August Strindberg e “Hello! Boy!”, “Tantã”, de Rafael Camargo, com Cristina todos de Ugo Giorgetti. Recentemente, o
de Roberto Gil Camargo, entre outros. Pereira, numa evidente preferência pela co- ator trabalhou em espetáculos como “O
Em 1989, atua em “Sexo dos Anjos”, média e os gêneros leves. Em 1996 ganha Avarento” (com Paulo Autran), “Amigas,
de Flávio de Souza, peça que lhe garante o Prêmio Ibeu de melhor direção com “Os Pero no Mucho” e “Senhor das Flores”
os prêmios Shell, Associação Paulista de Fantástikos”, de Tom Jones e Harvey Sch- (com Caco Ciocler).
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Paulino Menezes / Divulgação


História

Interior do Teatro São


Pedro, em Porto Alegre:

Arquitetura faz arte no teatro


estilo neoclássico

Espaço teatrais neoclássicos impactam por sua grandiosidade e beleza


Acervo Fototeca Sioma Breitman

As belas obras arquitetôni- do em São Luís (MA), foi inaugu- combina com o seu estilo arquite-
cas dos grandes e antigos teatros rado em 1817. As inúmeras refor- tônico, foi executada pelo italiano
brasileiros chamam atenção pela mas realizadas dentro do edifício, Domenico de Angelis, também
riqueza de detalhes, grandiosidade entretanto, zeram com que ele se decorador do salão nobre do icô-
das construções e acabamentos encontrasse internamente no estilo nico Teatro Amazonas.
renados. Esse é o caso, pelo me- neoclássico somente décadas mais Talvez o mais famoso do Bra-
nos, dos espaços teatrais inspira- tarde. Sua fachada é que registra o sil, o teatro amazonense também
dos nas formas neoclássicas. estilo de maneira mais óbvia, com teve o impulso de sua construção
O estilo, que chegou ao Brasil sua apresentação luxuosa. durante o ápice do ciclo da bor-
no nal do século XIX, transmitia A construção do espaço en- racha. As rápidas transformações
tudo que a época pedia: o triun- controu muitas diculdades na sociais trazidas pelo fenômeno
fo da nova República, poderosa época graças a sua localização, comercial exigiam que um espaço
e intimidadora. Construídos em bem próximo a Igreja de Nossa próprio para as atividades cultu-
amplitudes bem maiores do que Senhora do Carmo, que via pro- rais fosse construído em Manaus,
era antes visto no País, esses tea- blemas na edicação de um local e, nalmente, em 1896, depois de
A construção do Teatro São Pedro, em Porto Alegre, remete ao século XIX
tros não se resumiram a espaços para espetáculos profanos ao seu diversos obstáculos, foi inaugura-
de arte e destacaram-se como pa- lado. Para resolver o impasse im- do o teatro de estilo neoclássico,
Adriano DiSidney / Divulgação

trimônios nacionais, de interior e posto pelos padres, a frente do com a ópera “La Gioconda”, de
exterior grandiosos. teatro foi invertida, e, no primeiro Amilcare Ponchielli.
Algumas das maravilhas do dia de julho de 1817, a Companhia Sua arquitetura é uma das prin-
neoclassicismo nordestino, loca- Dramática de Lisboa se apresen- cipais responsáveis por sua fama.
lizado no Recife (PE), o Teatro tou ao povo maranhense, inaugu- Com capacidade para 701 pessoas,
de Santa Isabel foi projetado pelo rando o teatro. o luxuoso Salão Nobre e a Cúpu-
engenheiro francês Louis Léger Em clássico formato de ferra- la no topo de sua estrutura são os
Vauthier, ainda no século XIX. dura, inspirado nos teatros de pla- pontos mais marcantes. Não sem
Precisamente em 18 de maio de téia italianos, o Arthur Azevedo motivo. A cúpula é composta por
1850 o espaço foi inaugurado, tem capacidade para 750 especta- mais de 30 mil peças de cerâmica,
marcando a história cultural da dores e permanece até hoje, após que remetem às cores da bandeira
cidade pernambucana. Hoje, ele altos e baixos de público e admi- brasileira e utiliza o verde, o ama-
é um dos 14 teatros-monumento nistração, um dos grandes monu- relo, o azul e o branco, causando
do Brasil, título reconhecido pelo mentos arquitetônicos do País. encanto aos que passam por ela na
Iphan (Instituto do Patrimônio capital do Amazonas.
Histórico e Artístico Nacional) e AS FONTES CULTURAIS Na região Sul, o neoclassicis-
o maior patrimônio da arquitetura VINDAS DO LÁTEX mo nos teatros ganha destaque
neoclássica de seu estado. Ao falar de obras com grande no Teatro São Pedro, em Porto
A cúpula do Teatro Amazonas homenageia as cores da bandeira brasileira O Santa Isabel passou por três inspiração neoclássica na Região Alegre (RS). Como os outros
grandes reformas em sua histó- Norte, o Theatro da Paz, projeta- que se utilizaram do mesmo es-
Divulgação

ria. Dezenove anos depois de sua do pelo engenheiro José Tibúrcio tilo arquitetônico, sua construção
inauguração, o espaço, de carac- Pereira Magalhães, merece desta- e inauguração remete ao século
terísticas neoclássicas, foi quase que. Sua construção teve início XIX, em 1858. Na época, a capi-
completamente destruído por em 1869, graças aos lucros gera- tal gaúcha contava com apenas 20
um incêndio. A reinauguração só dos pela extração da borracha. mil habitantes, que logo transfor-
aconteceu em 1876, com a apre- Em 1878, o Theatro da Paz abriu maram o local em um pólo artís-
sentação da ópera italiana “O Baile suas portas para o público com a tico e cultural brasileiro.
de Máscaras”, de Giuseppe Verdi. apresentação do drama “As Duas Problemas com cupins na es-
As inovações feitas pelo próprio Órfãs”, do francês A. D’annery. trutura do espaço levaram ao seu
Vauthier no teatro resultaram em O espaço, localizado em Belém fechamento em 1973 e apenas nos
uma nova estrutura de camarotes, (PA), possui as colunas exuberan- anos 80 o teatro foi devolvido à co-
esculturas e lustres. Já no século tes, linhas marcantes e causa o for- munidade reformado. No ano pas-
XXI, o teatro passou por outras te impacto esperado de um teatro sado, a comemoração dos 150 anos
reformas que uniram o seu estilo neoclássico. Os recursos trazidos da casa deu origem ao livro que
à modernidade. pela exportação de látex deram a conta sua história através de ensaios
Antecessor ao teatro recifense, Belém um dos teatros mais belos de personalidades como Luís Fer-
O recifense Santa Isabel, de 1850, é um dos 14 teatros-monumento do País o Teatro Arthur Azevedo, localiza- do País. A decoração luxuosa, que nando Veríssimo e Gerald Thomas.
Jornal de Teatro 16 a 31 de Maio de 2009
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Internacional
O Jornal de Teatro convidou dois amigos que resolveram se aventurar em terras estrangeiras para
comentarem o que viram de interessante (ou não) nas cidades que escolheram para viver. Adriano Fanti revela
suas impressões sobre “Terra da Tia Betty” e Luciana Chama convida o leitor para a “Terra da Extravagância”.

Notícias de West End


Querido(a) leitor(a), da. Anal, estamos falando de é que, comercial ou não, este talvez os ingleses mereçam ter
mais de 40 grandes teatros e fa- compositor/produtor/empre- seus shows chamados de Broa-
Sou Adriano Fanti, gra- mosos pontos turísticos. sário inglês é um dos respon- dway shows; karma!
duando pela conceituada Esta “teatrolândia” esban- sáveis por grandes shows do Foi no nal do século XIX
Guildford School of Acting, ja arquitetura em seus teatros West End, cujos títulos são que a troca de gurinhas entre
no curso de pós-graduação construídos em era vitoriana- familiares ao redor do globo, os dois pólos teatrais começou.
em Teatro Musical. Foi com eduardina, com fachadas e embora, muitas vezes, confun- Após longo período recebendo
felicidade e agradecido que decorações luxuosas em estilo didos como sendo shows da os importes de entretenimento
recebi o convite do Jornal neo-clássico romanesco e vi- Broadway. Europeu (principalmente in-
de Teatro para dividir com toriano. Todos de propriedade Frequentemente escuto glês), os Estados Unidos viram Adriano Fanti
vocês minha experiência no privada (Andrew Lloyd Web- pessoas referindo-se a sho- o ‘debut’ do teatro musical de Londres
circuito teatral londrino. Sai- ber possui sete dos principais ws como Cats, O Fantasma autoria americana com “The
bam que esta coluna, a partir teatros). Não há como falar de da Opera, The Rock Horror Belle of New York” (de Hugh
de hoje, estará sempre cheia teatro musical inglês sem citá- Picture Show, Jesus Christ Su- Morton).
dos últimos acontecimentos lo, mas muitos aqui têm lá suas per Star, Mary Poppins, Billy Inesperadamente, “The Mousetrap (de Agatha Chris-
da indústria artística inglesa. reservas com relação ao seu Elliot, Evita, Sunset Boulevard Belle of New York” fez mais tie), que aqui já está em seu
Inicialmente pensei em falar trabalho, principalmente após (apesar de o lme ser america- sucesso na Inglaterra, para quinquagésimo quinto ano
sobre o que é este vasto ce- a nova onda de “reality shows” no) como se fossem shows da onde foi importada, do que em cartaz e esteve em vários
nário, que tem até nome, para comandados por ele, como o Broadway. Mas estes e muitos nos Estados Unidos. A partir palcos americanos.
dar a vocês uma visão me- How do You Solve a Problem outros musicais são de autoria deste marco, porém, ambos os Pois é, o West End é este
lhor das origens deste lugar Like Maria (Como Resolver britânica. países estabeleceram esta par- festivo espaço cultural que
e onde tudo acontece. Então, um Problema como Maria), Teatro musical, em sua for- ceria que até hoje alimenta os celebra algumas centenas de
vamos lá! em busca da nova Maria para ma mais jovem, se estabeleceu dois mercados. anos em arte e vale muito a
O coração de Londres dá o musical “A Noviça Rebelde” na Inglaterra (e em toda a Eu- Outro pequeno comum pena ser explorado. Eu não
abrigo ao seu principal bairro (The Sound of Music). ropa) no século XVIII, com equívoco é: Broadway = Te- sei a resposta para a pergunta
teatral: o West End. Quem já Andrew Lloyd Webber é as óperas e opera comique, na atro Musical. Em ambos os “quem veio primeiro, o ovo
deu um pulinho na terra da continuamente apontado como Franca, ou singspiel, na Alema- circuitos, também há peças ou a galinha?” Mas o West
“tia Betty” e de Shakespea- um compositor de espetáculos nha. A Inglaterra logo come- (não musicadas) fenomenais, End, denitivamente, veio
re provavelmente conheceu com enfoque em cenários que çou a importar estas óperas e, e o intercâmbio entre os dois primeiro. Minha nossa! Aca-
bem esta área, que não tem enchem os olhos mas não pos- em alguns casos, traduzi-las e países, neste gênero, também é bei de defender a Inglaterra,
como passar desapercebi- suem muito conteúdo. Fato clamar autoria própria. Eu sei, verdadeiro. Como é o caso de quem diria?

Love, love, love


Quando criador e investidor fazem a arte valer milhões
Logo que me mudei para
Luciana Chama

Los Angeles, há dois anos, pro-


pus-me a conferir aquilo que os
americanos sabem fazer como
ninguém: casar arte e comércio
Luciana Chama
em forma de super produção. Los Angeles
Anal, um bom entretenimento
sempre distrai. Sem expectativas,
mandei-me para Las Vegas, ci- nanceiro de empresários. Arte
dade da extravagância, para dar pode ser um bom negócio, sim.
uma espiada nos espetáculos em E como. De um grupo circen-
cartaz. Durante uma explosão de se de rua no Canadá, o Cirque
cores, movimentos e sons, depa- Du Soleil se tornou um impé-
rei-me com o show mais lindo rio da performance em escala
do mundo: The Beatles LOVE, internacional, com a ajuda de
do Cirque Du Soleil, em cartaz empresários que apostaram no
no Hotel Cassino Mirage. talento e visão de Guy Laliber-
O espetáculo é uma declara- té, fundador do grupo. Hoje,
ção de amor à musica e à per- criador e investidor desfrutam
formance. Assistir a qualquer do resultado de uma grande
espetáculo do Cirque Du Soleil parceria: sucesso, prestígio e
é uma aventura por si só, mas milhões de dólares.
LOVE é rock’n’roll em poesia: é Uma parceria de sucesso norâmica dos vídeos. Um elenco a história como o investimento
a historia de duas das maiores e absoluto entre criador e inves- internacional de 60 pessoas, re- mais audacioso no mundo da Luciana Chama é produtora com
mais poderosas forças criativas tidor – e que investimento. Um presentando 17 países diferen- performance no teatro. experiência em teatro, shows, turnês
em união para realizar um espe- teatro em 360 graus construído tes, no qual o artista mais novo O Cirque Du Soleil é um e festivais de música. Mora em Los
táculo grandioso. É a primeira sob medida, no valor aproxima- tem 9 anos e o mais velho, 74. A sonho. Embarcar em uma de Angeles, onde trabalha em parceria
vez na história que a música dos do de US$ 180 milhões, 6.500 trilha sonora é o catalogo mais suas viagens é uma experiên- com a Sound Advice Artist Mana-
Beatles é autorizada para uso auto-falantes (incluindo três em valioso da música pop mundial. cia poderosa. Fruto de talento, gement. Escreve no blog www.luciana-
em uma produção teatral. cada assento), com projeção pa- The Beatles LOVE entra para ideia e visão associados a apoio chama.blogspot.com.
24 16 a 31 de Maio de 2009 Jornal de Teatro

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