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TÉCNICA

Conheça a
mágica dos
caracterizadores
de personagens
Uma publicação da Aver Editora - 16 a 31 de Julho de 2009 - Ano I Nº 7 R$ 5,00 O visual do elenco de “Hairspray” Pág. 15

A loucura em cena Dizem que de loucos, todos

Adalberto Lima / Divulgação


temos um pouco. Com a
classe artística não é diferente.
Afinal, as artes, muitas vezes, se
manifestam como o limiar entre
loucura e razão. É o que acontece,
por exemplo, no Hospital
Psiquiátrico São Pedro, em Porto
Alegre, onde, atrás da ocupação
de espaços ociosos, artistas
encenam montagens e promovem
ensaios e oficinas. É através de
peças teatrais que a esquizofrenia,
a bipolaridade, a psicose e outras
formas de insanidade mental são
retratas, dando vida à personagens
atormentadas, que gritam, choram
e, por que não, emocionam. É no
teatro que os dramas provocados
pela loucura são mostrados,
debatidos, encenados e... curados.
Atrizes do grupo XIX de Teatro, durante a peça “Hysteria”, interpretam as vidas de mulheres internadas em asilos psiquiátricos Págs. 12, 13 e 14

FORMAÇÃO
PRÊMIOS
Fábio Toledo

Escola de Teatro da ENTREVISTA


As muitas
Divulgação APTR

UFBA: um templo da
história da arte baiana
Pág. 19
histórias
RIO DE JANEIRO
de Betti
Aos 56 anos, o ator Paulo Betti
Parabéns com muita fala, em entrevista exclusiva ao
música e dança para o Jornal do Teatro, sobre sua
Theatro Municipal vida, sobre sua carreira e sobre a
Pág. 16 coragem de sempre dar a cara a
Sérgio Brito (de óculos): o melhor ator
tapa, seja nos palcos, nas telas ou,
VIDA E OBRA até mesmo, na política. Eclético,
A arte na visão do garante não ter medo de nada. APTR premia
‘pernambucano’ Nem de se reinventar e voltar às em 12 categorias
origens, como fez durante a Flip
Ariano Suassuna (Festa Literária Internacional Os melhores do teatro, em 2008,
de Paraty), quando andou pelas foram premiados pela APTR
Nascido na Cidade da Parahyba
ruas da cidade vestido de árvore, (Associação dos Produtores de
- hoje João Pessoa (PB) - Ariano
em encenação para a peça Teatro do Rio de Janeiro), dia 6 de
Suassuna é considerado o paraibano
“Sonho de uma Noite de São julho. Destaque para “Inveja dos
mais pernambucano que se conhece
João”, para alegria de seu filho, Anjos” (espetáculo e iluminador) e
e um decifrador de brasilidades, que
João Betti. Sérgio Brito (melhor ator).
faz da arte nordestina um ideal.
Pág. 21 Política também faz a cabeça de BeĴi Págs. 10 e 11 Págs. 6 e 7
2 16 a 31 de Julho de 2009 Jornal de Teatro
Jornal de Teatro 16 a 31 de Julho de 2009
3
Editorial
Arquivo

Briga de Meninas
No início de julho, uma polêmica envolvendo “Essas Meninas”
e seus direitos autorais invadiu as páginas dos cadernos de cultura
dos principais jornais do País. Ao estrear o espetáculo “Essas Me-
Rio de Janeiro ninas”, no Teatro Laura Alvim, no Rio de Janeiro, a autora da peça,
In
Inaugurado
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gurrado
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de
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julho
ulh
lho
ho d
dee 1909,
Maitê Proença atiçou a fúria, ou melhor, a insatisfação da autora
o Theatro Municipal comemorou seus
original do texto, a escritora Lygia Fagundes Telles, membro da
100 anos com pompa e circunstância
Academia Brasileira de Letras.
Pág.: 16
O título das obras é idêntico, mas o texto em si e o processo
que os levou ao público é bastante distinto. A escritora confessou
que pensou em levar a decisão para os tribunais quando soube da
notícia – até por já estar em produção a representação do seu já
Índice reconhecido texto para o teatro, com adaptação de Maria Adelaide
Amaral. Aliás, já havia até uma data para a estreia, outubro – como
foi divulgado durante a leitura do texto por Barbara Paz em São
PRÊMIOS...........................................................6 e 7 Paulo.
APTR Do outro lado da polêmica, há um espetáculo em cartaz com
histórias confessionais escritas pela atriz, que se comprometeu a
Associação do Rio de Janeiro celebrou, em 12 categorias, os melhores do
mudar o nome. Segundo revelou para jornalistas, Maitê trocou e-
teatro em 2008 e homenageou Tônia Carrero pelos 60 anos de carreira
mails com Lygia provando que não conseguiu trocar o nome a tem-
po, por questões que envolviam patrocínio. Ou seja, a cortesia en-
ENTREVISTA.............................................................10 cerra quando Maitê diz que não perderia o patrocínio, pois “Essas
Paulo Betti Meninas” trata-se de um nome muito genérico.
Se assim fosse em todas as artes, o número de distorções em
O ator, símbolo de versatilidade nas artes cênicas, fala sobre relação à “nomes simples” seria absurdo. Na hora de nomear uma
política, engajamento, ideologias e convicções no meio artístico obra, os autores seriam prevenidos: “Evitem as formas simples, di-
retas, objetivas e que se façam entender”. Surgiriam “O Grito” em
REPORTAGEM.............................................12 a 14 pop-art mostrando um Carnaval, ou “Chega de Saudade” contando
a história da Jamaica em um belo tango.
A loucura em forma de arte Lygia abriu mão do processo, mas confessou que teve vontade
Montagens abordam a insanidade em suas mais distintas formas e de ir à estreia, subir no palco e chamar a atriz de ladra. Sem a ação
questionam o conceito de loucura nos dias de hoje judicial, nada vai acontecer em favor dos direitos do verdadeiro au-
tor. Prova da necessidade de reorganização em um tempo no qual
a ética e a propriedade na arte perdem espaço para as relações de
FESTIVAIS...................................................17 e 18 mídia e patrocínio.
Festlip, FIL e Porto Alegre em Cena
Programação dos eventos promove o intercâmbio cultural e de
linguagens através das artes cênicas

VIDA & OBRA..........................................................21 Rodrigoh Bueno


Ariano Suassuna Editor do Jornal de Teatro
Saiba o que pensa e o que diz o homem que é considerado um
decifrador de brasilidades e apaixonado pelas artes nordestinas

Email Redação: Redação Rio de Janeiro: Rua General


redacao@jornaldeteatro.com.br Padilha, 134 - São Cristóvão - Rio de Janeiro (RJ).
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4 16 a 31 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Bastidores

Renato Hatsushi
MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA RECEBE CENTRO TÉCNICO DO TCA REALIZA CURSOS
ENCONTRO NACIONAL DE DANÇA DE CENOTÉCNICA E COSTURA
O XXVIII Encontro Na- também no Memorial), quan- CÊNICA EM SALVADOR
cional de Dança (Enda 2009) do será entregue os prêmios O Centro Técnico do

Divulgação
acontece nos dias 31 de ju- em dinheiro, e bolsa de estu- Teatro Castro Alves (TCA),
lho, 1º e 2 de agosto, sexta dos no Brasil e Exterior para em Salvador (BA), referên-
(às 20 horas), sábado e do- aqueles que obtiverem as cia em engenharia de es-
mingo (às 16 horas e 20h30), maiores notas do júri. Pode petáculo teatral, promove
no Auditório Simon Bolívar ainda haver o Prêmio Reve- curso técnico de Cenotec-
do Memorial da América lação, mas este dependerá de nia, ministrado por Adriano
Latina, em São Paulo. O excepcional qualidade técni- Passos e Israel “Gão” Luz, e
tradicional evento, rea- ca e artística dos concorrentes. de Modelagem para Costura
lizado pelo Sindicato dos Neste ano, as personalida- Cênica, ministrado por Lina Inscrições de 13 a 24 de julho
Prossionais de Dança do des do mundo da dança que Lemos. Os interessados po- nica, enquanto o curso de
Estado de São Paulo (Sin- compõem a banca julga- dem realizar suas inscrições Modelagem para Costura
dDança), apresenta um atual dora são: a coreógrafa durante os dias 13 e 24 de Cênica tem como público
panorama da dança para o Sara Debenedetti (Milão, julho, das 14 às 18h, no Nú- alvo gurinistas e costu-
público paulistano. Itália), Silvio Lemgruber cleo de Produção do TCA, reiras, com o objetivo de
Esta edição do Encon- (coreógrafo da Rede mediante apresentação do aperfeiçoar a modelagem e
tro vai reunir 110 apresen- Globo), Fernando Calvozo currículo e fotocópias da o corte, visando o conforto
tações, distribuídas em cin- (Diretor de Atividades Culturais carteira de identidade e e a segurança para os intér-
co espetáculos. Os grupos do Memorial da América Latina) CPF, e pagamento da taxa pretes. As aulas acontecem
- oriundos de diversas cida- e Norma Masella (ex-primeira de inscrição no valor de R$ entre os dias 27 de julho
des paulistas - mostram co- porâneo, dança folclórica e de bailarina e ex-diretora do The- 10. O número de vagas é de e 21 de agosto, sempre às
reograas de até 6 minutos salão, sapateado, jazz e hip hop. atro Municipal de São Paulo). apenas 15 por ocina. segundas, quartas e sextas,
de duração (cerca de 20 por O Enda conta com um corpo O Encontro funciona como O curso de Cenotecnia das 9h às 13h nas instala-
sessão, com as mais variadas de jurados que avalia o desem- uma eliminatória para o Gran- é voltado para iniciantes ções do próprio Centro
formações). A mostra se ca- penho dos grupos e escolhe de Gala Enda, a festa de em tecnologia da arte cê- Técnico.
racteriza pelo dinamismo aqueles que mais se destacam. apoteose, que acontece no
nas apresentações e pela va- No encerramento do evento mesmo ano, quando os ven-
Fabian

riedade nos estilos de dança, serão conhecidos Os Melhores cedores são homenageados
que promete agradar a to- dos Melhores de 2009: premia- e apresentam as coreograas
dos os gostos. O público vai ção que inclui participação ga- campeãs em um grande espe-
apreciar espetáculos de balé rantida no Grande Gala Enda táculo. Mais informações em
clássico, moderno e contem- 2009 (dias 3 e 4 de outubro, www.memorial.sp.gov.br.
Vitor Damiani

O Centro Cultural São Paulo será a casa dos bonecos entre os dias 8 e 30 de agosto

Beth Goulart faz palestra no CCBB em Brasília, com entrada franca


BONECOS DO SERES DE LUZ SE APRESENTA NO CCSP GRATUITAMENTE
Em comemoração aos quin- Inerte (ocina de técnicas de A companhia já se apresentou na CONFIRMADO: “SIMPLESMENTE EU.
ze anos de existência do Teatro manipulação nos dias 11 e 12 Noruega, na Suíça, na República CLARICE LISPECTOR” EM BRASÍLIA
de Bonecos Seres de Luz, o gru- de agosto) e Várias couraças e Tcheca, na Espanha, na Itália, na A edição brasiliense do Palco Aberto terá a apresentação do
po apresentará o seu repertório um nariz (ocina de clown nos Bolívia no México, na Colômbia, espetáculo “Simplesmente Eu. Clarice Lispector” e uma palestra da
entre os dias 8 e 30 de agosto dias 13 e 14 de agosto). Ainda, na Argentina, no Equador, no atriz Beth Goulart no dia 31 de julho, às 14h, no teatro do CCBB,
no Centro Cultural São Paulo, uma mostra fotográca reuni- Peru, e foi o único representan- com entrada franca. A peça foi extraída de depoimentos, entre-
próximo à estação Vergueiro do rá várias fotos da trajetória do te da América Latina em Taiwan vistas, correspondências de Clarice Lispector e trechos dos livros
metrô. Entre os espetáculos adul- grupo, como espetáculos, via- no Festival International de Ka- “Perto do Coração Selvagem” e “Uma Aprendizagem ou O Livro
tos e infantis, estão “Espalhando gens, e imagens de seus princi- osiung. Selecionado entre mais dos Prazeres”, além dos contos “Amor” e “Perdoando Deus”. O
Sonhos”, “Pipistrello”, “O Acro- pais mestres. de 370 grupos para representar o monólogo conta a trajetória da escritora em busca do entendimen-
bata”, “Cuando Tu No Estás”, O grupo, contemplado País, “Cuando Tu No Estás” foi to do amor, de seu universo, suas dúvidas e contradições.
“A-la-pi-pe-tuá” e o recente pelo Prêmio Funarte de Teatro o premiado do 13º World Festi- A direção, adaptação e interpretação é de Beth Goulart, sob a
“Convocadores de Estrelas”. Myriam Muniz 2008 foi fundado val of Puppet Art Praga 2009 na supervisão de Amir Haddad, iluminação de Maneco Quinderé, ce-
No evento, serão ministra- em 1994 por Lily Curcio e Abel categoria melhor criação artísti- nário de Ronald Teixeira e gurino de Beth Filipecki. O espetáculo
das duas ocinas gratuitamen- Saavedra. Representou o País em ca, em maio de 2009 na Repúbli- permanece no espaço até o dia 2 de agosto. As inscrições para o
te ao público. A presença do diversos festivais internacionais. ca Tcheca. workshop devem ser efetuadas pelo telefone (61) 3310-7420.
Jornal de Teatro 16 a 31 de Julho de 2009

530 VAGAS PARA OFICINAS


5
Bastidores Arnaldo Torres / Divulgação
GRATUITAS EM VITÓRIA
De 21 a 25 de julho, a Escola de
Teatro e Dança Fa, em Vitória (ES),
A NOITE DO BARQUEIRO está com inscrições abertas para oci-
O espetáculo “A Noite do Barquei- deserta, à espera do dia amanhecer para nas nas áreas de teatro, dança e circo.
ro” faz única apresentação no dia 19 seguir viagem. Enquanto o tempo pas- Serão oferecidas 530 vagas e o início
de julho, domingo, no Teatro Cacilda sa, ele reete sobre a vida e questiona o das aulas será em agosto. A coordena-
Becker, de São Bernardo do Campo sentido de sua existência. ção das ocinas é de Lilian Menenguci.
(SP). A montagem é um solo com o No mesmo dia, o autor e diretor Sa- Os interessados podem se inscrever
ator Hélio Cícero, vencedor de prê- mir Yazbek ministra o Workshop de Dra- nas ocinas de consciência ao mo-
mios teatrais como Mambembe, Ape- maturgia, abordando o processo de cria- vimento para a terceira idade; dança
tesp e Inacen, que comemora 30 anos ção de “A Noite do Barqueiro”, das 13 às contemporânea; balé; dança de salão;
de carreira com esse texto de Samir 15 horas. O encontro será na Biblioteca jogos dramáticos; iniciação teatral;
Yazbek, que também assina a direção. Guimarães Rosa (Av. João Firmino, 900, preparatório para qualicação teatral;
O enredo da peça é um recorte Assunção/SBC). Mais informações no técnica circense; teatro para terceira
na vida de um homem que, após uma Teatro Cacilda Becker – São Bernardo do idade; teatro brasileiro; construção de
tempestade, encontra-se em uma ilha Campo (SP). Fone: (11) 4348-1081. personagens (ator e formas anima-
das); e oralidade e educação vocal para
professores. As ocinas são gratuitas,

Gil Grossi / Divulgação


BEM CASADO
Entre os dias 17 e 19 de julho, a paulistana Juliana Moraes incluindo a inscrição para os cursos.
e a carioca Márcia Milhazes dividem o palco do Teatro de Inscrições: de 21 a 25 de Julho
Dança, em São Paulo, para apresentar suas coreograas no Informações: (27) 3381-6922 / 3381-6924
programa “Bem Casado”, uma série de apresentações de dois FESTIVAL DE CENAS CURTAS
espetáculos na mesma noite, sendo sempre artistas-criadores A Cia. de Teatro Contemporâneo
de cidades diferentes. Para iniciar as apresentações, Juliana realiza em julho, no Rio de Janeiro, o II
Moraes estará no palco com “3 Tempos Num Quarto Sem Festival Contemporâneo de Cenas Cur-
Lembranças”. Em seguida, Milhazes mostra a coreograa “A tas (em parceria com o Espaço Tápias
Moça”, inédita em São Paulo. Mais informações: www.teatro- Escola de Dança). O objetivo é abrir
dedanca.org.br espaço para novas propostas e para no-
“Teatro se não ca bom é muito constrangedor (...) vos artistas nas áreas de dança, teatro,
quando é chato, é muito chato”, disse o cineasta Fernando poesia e performance. Mais informa-
Meirelles, diretor da série “Som e Fúria”, da Rede Globo, ções em www.ciadeteatrocontemporaneo.
ao portal G1. com.br ou pelo fone: (21) 2537-5204
Divulgação

TRIXMIX
Abrem-se as cortinas de
um cabaré contemporâneo
www.jornaldeteatro.com.br
O palco do Teatro Easy, em São Paulo, apre-
senta durante a primeira quinta-feira de todos os
meses o “Trixmix- Cabaret Contemporâneo”, uma
releitura dos espetáculos do nal do século XIX.
Revezam-se no palco artistas de várias verten-
tes, em apresentações autorais de aproximadamente
10 minutos cada. Na edição de 6 de agosto já estão
conrmadas as atrações: William Amaral e Fábio
Espósito - atores cômicos; Álvaro- músico e ator
do Jogando no Quintal; Mariana Duarte – tecido
burlesco; show de Geórgia Branco e a Banda Trix-
mix; Canal 3- esquetes cômicas; e a participação da
drag-queen Stefany di Bourbon.
Mais informações: Tel (11) 3611-3121

FIQUE ATENTO!
O premiado espetáculo “Inveja dos Anjos” terá temporada em São Paulo no início de
agosto. O local ainda não foi conrmado, mas tudo indica que o palco será o do Sesc
Consolação, na região central da cidade. “Inveja dos Anjos” venceu a edição carioca
do Prêmio Shell de Teatro 2008, nas categorias de Melhor Atriz (Patrícia Selonk) e
Melhor Autor (Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes); e o Prêmio APTR
2008, nas categorias de Melhor Espetáculo e Melhor Iluminação (Maneco Quinderé).

“TEMPORADA SESC DE TEATRO” LEVA


GRUPOS INTERNACIONAIS PARA CAMPINAS
O evento começa no dia 15 de julho, em Campinas, e segue em diversas uni-
dades do Sesc do interior do estado, em parceria com o Festival Internacional de
Teatro de Rio Preto (FIT). A programação vai até o 21 de julho e conta com apre-
sentações de grupos nacionais e internacionais.
No Sesc Campinas, a temporada será aberta com uma estreia local, a peça “Bra-
sil Menino” da Cia. Berro D’Água. As apresentações seguintes são de grupos te-
Todo o universo do teatro em um só jornal
atrais vindos de Salvador, Rio de Janeiro, Londrina e Argentina. O encerramento
ca por conta da companhia espanhola Los Corderos S.C., com o espetáculo “Cró-
nica de Josó Agarrotado”. Mais informações em www.sescsp.org.br.
6 16 a 31 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Prêmios

E o prêmio vai para...


Em noite de celebração da APTR, novos artistas e atores consagrados comemoram a festa do teatro carioca, que contou com homenagem a Tônia Carrero
Divulgação APTR
Por Douglas de Barros
Imprensa na porta, tapete
vermelho e até “torcida orga-
nizada”. Esses são alguns dos
indicadores do sucesso de um
dos prêmios mais esperados
pela classe artística no Rio de
Janeiro, o APTR (Associação
dos Produtores de Teatro do
Rio de Janeiro), cuja terceira
edição premiou, na noite de 6
de julho, os melhores de 2008,
em 12 categorias. A cerimônia,
aberta pela atriz Nicete Bruno
e comandada, com elegância e
estilo, pela dupla Thiago Lacer-
da e Zezé Polessa, aconteceu
no teatro do Shopping Fashion
Mall, em São Conrado, que -
cou lotado, mas sem a presença
mais marcante: Tônia Carrero.
Homenageada da noite –
pelos 60 anos de carreira –, a
atriz não compareceu à pre-
miação (devido a uma indispo-
sição) e foi representada pelos
netos Miguel e Luisa Thiré, -
lhos do ator Cecil Thiré. Mes-
mo sem a luz de Tônia, o públi-
co se emocionou com o vídeo
apresentado e as estórias dos
anos dourados do teatro nacio-
nal. “Dizem que beleza não põe
mesa, mas no caso dessa grande
atriz, beleza não só pôs a mesa,
como marcou o destino de uma
das melhores atrizes que o nos-
so País conheceu”, disse Thiago
Lacerda, ao apresentar o ponto
alto da noite.
Pouco antes, na abertura
da cerimônia, o ator e come-
diante Lúcio Mauro foi cha-
mado para entregar o prêmio
Categoria Especial, conquis- Natália Timberg (a esq.) e Paulo Goulart, cumprimentam a atriz e agora produtora Glória Menezes, vencedora com “Ensina-me a viver”
tado pela Cia. Dos Atores. O
grupo, formado em 1988 com é ganhar o prêmio, mas saber por fases. Fases em que camos amor ao teatro, e, em seguida lhida para entregar um dos prê-
trabalhos de cunho experimen- porque ganhou. “O teatro é tão meio apagados e fases em que fez menção aos seus concor- mios mais esperados da noite.
tal, tem como objetivo suprir nobre, que é a única mercado- tudo dá certo”, disse o ator. rentes de prêmio. “Eu sou Ro- a estatueta de Melhor Espetá-
a necessidade de estudar e ria que se paga antes de se ver. Nathália Timberg apre- dolfo Vaz, Marcelo Guerra e culo do Ano, que cou com o
experimentar novas possibili- Poderia dizer que estou tremen- sentou o vencedor de Melhor Armando Babaioff. Sou a bola excelente “Inveja dos Anos”,
dades da cena teatral e já rea- do pela minha idade, mas é pela Atriz. Bibi Ferreira foi eleita por da vez, mas como o jogo é toda da Armazém Companhia de
lizou trabalhos como “Ensaio. emoção de pisar neste palco. “Às Favas Com Os Escrúpu- noite, somos todos vencedores Teatro. A peça retrata a vida de
Hamlet” e “Melodrama” entre Minha vida começou no teatro, los”. Bibi, no entanto, foi mais e perdedores”, frisou o jovem personagens sem muitas pers-
outras. Ao agradecer, o ator e aos 14 anos, e ainda sinto minha uma a não comparecer ao even- ator. Já a atriz Júlia Lemmertz pectivas, que moram em uma
diretor Enrique Diaz brincou: voz vibrar como antes’’, revelou to, alegando ser realizado muito entregou o prêmio de melhor cidade do interior do Brasil.
“somos oito integrantes, o o ator, emocionado. tarde e porque iria iniciar, no dia atriz coadjuvante à baiana Ana “Inveja dos Anjos” recebeu,
que signicam oito loucuras”, Mais uma vez, o experiente seguinte à premiação, uma tem- Paula Bouzas por seu papel em ainda, o prêmio de melhor ilu-
disse, referindo-se aos outros Sérgio Britto recebeu o prêmio porada de 14 apresentações de “Dona Flor e Seus dois Mari- minador para Maneco Quin-
sete “loucos”: os atores César de melhor ator, entregue pelo seu espetáculo sobre a cantora dos”. A jovem atriz agradeceu deré. Outro espetáculo dupla-
Augusto, Gustavo Gasparani, também ator Edwin Louise. O Edith Piaf. A estátua foi recebi- à bailarina e atriz Marilena An- mente premiado foi “Traição”,
Marcelo Olinto, Marcelo Valle ator foi premiado por suas atu- da por Nilson Raman. saldi. “Uma vez olhei uma pes- com Ary Koslov, como melhor
e as atrizes Bel Garcia, Drica ações em “Ato sem palavras” e Entre a nova geração, Fer- soa pelo buraco da fechadura diretor, e Marcos Flaksman
Moraes e Susana Ribeiro. em “A última gravação de Kra- nando Eiras (“Noviça Re- quando tinha cerca de oito ou como melhor cenógrafo. Ao
Emocionado, Lúcio Mau- pp”. Em seu discurso, Britto se belde”) recebeu o prêmio de nove anos. Foi então que en- receber o prêmio, Koslov agra-
ro disse que o teatro é feito disse satisfeito pelos bons re- melhor ator coadjuvante das tendi que a dança poderia ser deceu ao autor Harold Pinter
de muito esforço e incertezas sultados em sua carreira. “Nós, mãos do ator Lúcio Mauro Fi- teatro”, relembrou Ana Paula. que, segundo Ary, é mestre por
e que o mais importante não atores, passamos muitas vezes lho. Eiras festejou cantando o Heloísa Perissê foi a esco- sua “habilidade em produzir la-
Jornal de Teatro 16 a 31 de Julho de 2009
7
Prêmios
Douglas de Barros
cunas a serem preenchidas pelo preencher um vazio. Criamos o
espectador”. Prêmio APTR de Teatro para
A novidade do ano cou celebrar e festejar o nosso meio
por conta da escolha da melhor de vida, dentro das nossas pos-
produção, única categoria eleita sibilidades”. Este ano, o corpo
pelos membros da APTR. A Pri- de jurados foi composto por
meira Página Produções Cultu- Barbara Heliodora, Macksen
rais, dos produtores associados Luiz, Lionel Fischer, Debora
Arlindo Lopes, Glória Menezes Ghivelder, André Gomes, Tâ-
e Maria Siman, faturou o prêmio nia Brandão e Mauro Ferreira.
por “Ensina-me a viver”. A atriz Já a estatueta entregue aos ven-
Glória Menezes, uma das produ- cedores foi idealizada pelo pro-
toras associadas, foi aplaudida de dutor Fernando Libonati.
pé pelos presentes. Emocionada,
falou sobre o prêmio e sobre a SEIS ANOS DE APTR
produção em sociedade no su- Fundada em julho de 2003,
cesso de “Primeira Página”. a Associação dos Produtores de
“Foi uma soma de acertos. O Teatro do Rio de Janeiro surgiu
diretor é um batalhador, um me- a partir da necessidade de pro-
nino que foi sempre atrás do que dutores teatrais se unirem para
queria João é excelente diretor e promover a união e a harmonia
um ser humano maravilhoso” , entre os prossionais, além de
disse Glória. O prêmio, último a defender os interesses da classe.
ser anunciado, foi entregue por A APTR é uma entidade civil,
Eduardo Barata, presidente da de direito privado, sem ns lu-
APTR e realizador do evento. crativos, e que reúne produto-
Barata prometeu mais novidades res teatrais de relevante atuação
para 2010. “Ano que vem tere- da produção carioca e nacional.
mos uma nova categoria, a de Dos principais objetivos da
apoiador de teatro”, revelou. APTR destacam-se: a forma-
ção, a sensibilização e a amplia-
‘PRÊMIO DE ção do público teatral; e o zelo
RESISTÊNCIA’ pelos interesses coletivos nas
Mesmo sem a presença de políticas públicas, morais, cultu-
patrocinadores para projetos rais e materiais dos produtores
na área teatral, os membros do Estado do Rio de Janeiro e
da APTR (Associação dos de todo o Brasil.
Produtores de Teatro do Rio Em seu estatuto, a associa-
de Janeiro) decidiram pela re- ção arma que seus membros
alização do evento devido à visam promover a representa-
importância da festa para o ção dos produtores de espetá-
Rio de Janeiro. Chamado pela culos de artes cênicas perante
entidade como “prêmio de re- órgãos públicos e privados,
sistência”, trata-se do único no visando garantir, divulgar e in-
setor teatral concedido pela crí- centivar o exercício da produ-
tica especializada (a premiação ção teatral; bem como desen-
teve sua primeira edição em volver e incrementar relações
dezembro de 2006 e a segun- com as outras entidades cultu-
da em outubro de 2008). De rais, além de estimular os me-
acordo com o autor Flávio Ma- lhores esforços para promover
rinho, responsável pelo rotei- e dignicar o teatro brasileiro,
ro da festa, “o Prêmio APTR atuando em todas as áreas na
surgiu da necessidade de se realização de tais objetivos. Zezé Polessa e Thiago Lacerda foram os mestres de cerimônia na festa no teatro Fashion Mall

Douglas de Barros
PREMIADOS NO 3º PRÊMIO APTR DE TEATRO
AUTOR
João Falcão – “Clandestinos”
DIRETOR
Ary Koslov – “Traição”
CENÓGRAFO
Marcos Flaksman – “Traição”
FIGURINISTA
Ney Madeira – “O Santo e a Porca” e “Entropia”
ILUMINADOR
Maneco Quinderé – “Inveja dos anjos”
ATOR PROTAGONISTA
Sérgio Britto – “Ato sem palavras” e “A última gravação de Krapp”
ATRIZ PROTAGONISTA
Bibi Ferreira – “Às favas com os escrúpulos”
ATOR COADJUVANTE
Fernando Eiras – “A noviça rebelde”
ATRIZ COADJUVANTE
Ana Paula Bouzas – “Dona Flor e seus dois maridos”
CATEGORIA ESPECIAL
20 anos da Cia dos Atores
ESPETÁCULO
“Inveja dos Anjos”
PRODUÇÃO (categoria votada pelos associados da APTR)
“Ensina-me a viver”
Realização: Primeira Página Produções Culturais
Produtores associados: Arlindo Lopes, Glória Menezes e Maria Siman
Lúcio Mauro se emocionou ao entregar o prêmio de Categoria Especial pelos 20 anos de CIA dos atores
8 16 a 31 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Sindicais Dança
Cooperativa Brasiliense de Teatro
Divulgação

apoia projetos e luta por incentivos


Fotos: Dominique Belbenoit
Por Dominique Belbenoit

Criada em 2003, a Coopera-


tiva Brasiliense de Teatro tem,
hoje, pouco mais de 100 asso-
ciados, entre eles, artistas, técni-
cos de teatro e circo, diretores e
vários outros envolvidos nesse
segmento. A presidente, Laura
Cavalheiro, conta que os objeti-
vos da associação são represen-
tar a categoria, gerar emprego e O Balé Folclórico da Bahia resgata a cultura do Estado em suas apresentações
favorecer a democratização do
acesso ao teatro. A cooperativa
teve um início pré-determinado,
conta a presidente, que assumiu
Balé Folclórico da Bahia
o cargo há quatro anos. “Ela foi
fundada há seis anos por um valoriza artistas locais
grupo de sete companhias de te- A cooperativa tem um núcleo voltado para as artes cincerses
atro”, revela Laura. Por Carla Costa Mas, Botelho revela que
Movidos pela paixão às artes cultural da comunidade”, diz a a criadora. apesar de todo este potencial o
cênicas, estas e outras compa- presidente, que já está em seu O projeto consiste em levar A Bahia tem respaldo e des- BFB, desde a sua criação, nun-
nhias sentiram a necessidade de segundo mandato. alegria para os hospitais do Dis- taque mundial no meio artístico. ca teve patrocínio e conta ape-
uma instituição que represen- A cooperativa atua junto a trito Federal. As “consultas” são Um dos fatores que comprova nas com o apoio da Secretaria
tasse a categoria e defendesse Fóruns de Cultura, de Teatro e ao feitas por um grupo de doutoras isto é o fato do estado ser o úni- de Cultura e do Estado para se
os interesses comuns. Os sete Fórum de Circo do Distrito Fe- bem diferentes. Elas chegam co do País a ter uma companhia manter. “Essa falta de incenti-
grupos, compostos de 28 artis- deral. Para fazer parte dessa ini- cada uma com um estetoscópio de dança folclórica prossional vo impede a possibilidade da
tas e diretores, resolveram sair às ciativa não é difícil. Basta obter o e trazem, também, instrumen- de representatividade, com tur- criação de novas coreograas e
ruas para divulgar seus trabalhos. registro na Delegacia Regional do tos pouco usuais no ambiente nês nacionais e internacionais. também na produção de guri-
“Eles criaram o projeto Teatro Trabalho e se inscrever na coo- hospitalar: viola caipira, violão, O BFB (Balé Folclórico da nos”, explica Botelho.
em Movimento, cujo objetivo perativa. “Só temos prossionais bongô, cavaquinho, triângulo. Bahia) se destaca pelos prêmios De acordo com a diretora da
era oferecer, durante um perío- com diploma ou atestado de ca- No nal das contas, a cura é tra- conquistados e nas respostas primeira escola de balé clássico
do de quatro meses, ocinas te- pacitação dado pelo Sindicato dos zida pelo bom humor. Crianças que recebe do seu público e crí- da Bahia, a Ebateca, Ana Cristi-
atrais gratuitas em dez cidades Artistas e Técnicos”. O sustento e adultos são cuidadosamente tica especializada, desde a sua na Gonçalves, a falta de incen-
satélites. Os próprios alunos nanceiro da instituição é oriun- “examinados” pelas doutoras criação, em 1988. tivo diculta que os bailarinos
montavam e apresentavam suas do dos próprios cooperados, que palhaças Fronha (Antonia Vi- Atualmente, 38 integrantes, baianos façam carreira no seu
peças. No total, foram 110 peças pagam meio salário mínimo por larinho), Matusquela (Manuela entre dançarinos, músicos e próprio estado. Devido a isso,
apresentadas nessas cidades e no ano dividido em 12 meses. Castelo Branco), Berruga (Elisa cantores, compõem o quadro bons bailarinos se mudam para
plano piloto”, conta a veterana O teatro não é o único seg- Carneiro) e Savana (Karinne Ri- do BFB. Devido ao respeito o sul e para fora do país em bus-
do teatro. mento que faz parte da coopera- beiro) fazendo graça, palhaçadas conquistado e ao nível técnico, ca de uma carreira promissora.
Com isso, os grupos con- tiva brasiliense. Segundo Laura, e tocando bastante música. o grupo vem chamando a aten- “Nós já tivemos e temos óti-
seguiram mais visibilidade e existe, também, um núcleo de “É um tipo de projeto que ção dos mais exigentes pros- mos bailarinos, porém essa falta
despertaram o interesse de em- circo, cuja demanda de projetos não poderia ter saído do papel sionais e críticos da área de dan- de investimento na arte nos faz
presas públicas e privadas para aumenta cada vez mais. Prova se não fosse a cooperativa. Ela ça do mundo. perder grandes talentos que são
eventuais patrocínios. “O objeti- disso é o projeto de palhaços nos dá mais visibilidade e conso- Para o fundador e diretor muitos valorizados lá fora, mas
vo principal foi a criação de um Doutoras Música e Risos, cria- lidação. Brasília não é fácil para geral do BFB, Walson Botelho, apesar disso, todos os meus bai-
espaço destinado à categoria, no do, no ano passado, pela artista a classe, por isso, é importante o grupo deve seu sucesso ao larinos tem orgulho de repre-
qual se pudesse fomentar as ati- especializada em teatro e circo, fazer parte de uma associação fato do baiano ser versátil, ter sentar a Bahia. Nós mostramos
vidades teatrais em Brasília, for- Antônia Vilarinho. “Começa- como esta. Eu também lutei olho diferente e conseguir pra- que não vivemos em ritmo de
mar um público, aprimorar ar- mos como voluntários, nesse pela criação desta cooperativa, ticar todos os tipos de dança malemolência, mas muito pelo
tistas e, principalmente, realizar projeto, mas, felizmente, conse- mas outras companhias teatrais com grande facilidade, ritmo e contrário, temos innitas com-
ações que pudessem contribuir guimos um patrocínio da Petro- tentaram criar algo semelhante descontração. petências”, diz Ana Cristina.
com o desenvolvimento sócio- bras para este semestre”, revela antes de nós e falharam”, revela.

“POR QUE TENHO ESSA FORMA?”


PRORROGA TEMPORADA EM SÃO PAULO
A pesquisa de mais de vinte anos da coreógrafa Zélia Monteiro resultou no
espetáculo “Por que tenho essa forma?”, em cartaz em São Paulo até o dia 30
de agosto. O trabalho é conhecido pela interferência de movimento, música e luz
no palco – reunindo artistas de diferentes áreas para discutir temas como corpo,
espaço e tempo. O espetáculo está em cartaz no Sesc Consolação, segue para
o Cine Olido e depois Centro Cultural São Paulo, ambos no centro da cidade.
Pautado pela improvisação, o elenco segue uma estratégia de criação
e de composição cênica que investiga modos de criar e de compor textos
coreográficos. A subjetividade está presente nos movimentos que diferen-
ciam o instante – inserido entre o passado e o futuro - e a duração – que se
constrói durante o percurso.
Bailarina e professora desde 1977, Zélia Monteiro estudou dança clás-
sica em Milão e trabalhou com nomes como Maria Melô e Klauss Vianna.
Foi premiada em 1987 (APCA), 1988 (Lei Sarney) e 1992 (APCA). Em 1993
recebeu a Bolsa Vitae de Artes para pesquisa coreográfica realizada em Pa-
ris, onde deu aulas regulares. Em abril de 2006 recebeu o Prêmio Funarte de
Dança Klauss Vianna da Funarte, para realização de pesquisa. Em dezembro
de 2006 recebeu o Prêmio PAC Circulação, da Secretaria de Estado da Cultu-
ra (SP), para tournée de espetáculo e, em 2007, recebeu o Prêmio Fomento
à Dança, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.
Doutoras Palhaças: consultas levam alegria aos hospitais brasilienses. Sem a cooperativa, isso não seria possível
Jornal de Teatro 16 a 31 de Julho de 2009
9
Teatro para todos
Há 31 anos em ação, Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz resiste ao tempo e
comemora 25 anos de constituição do seu espaço multidisciplinar Terreira da Tribo

Por Adoniran Peres


Fotos: Cláudio Etger

Fazer cultura com resistên-


cia. O nome do grupo teatral
a seguir já diz algo? “Ói Nóis
Aqui Traveiz”. Escrito em por-
tuguês não-formal, o nome do
grupo emite a ideia da vocação
popular, ou seja, de cultura para
todos. Essas são apenas algumas
das propostas desta Tribo de
Atuadores de Porto Alegre (RS).
Conhecidos por fazer arte com
contestação, eles são destaque
entre os grupos de teatro e espa-
ços culturais gaúchos e referên-
cia também nacionalmente.
Em busca de renovação na
linguagem cênica, a Tribo de
Atuadores do Ói Nóis entrou
em cena no dia 31 de março de
1978 com as peças “Divina Pro-
porção” e “A Felicidade Não Es-
perneia Patati Patatá”, ambas es- Tribo de Atuadores desenvolve ocinas gratuitas a população
critas por Júlio Zanotta. Durante
esses 31 anos, o grupo criou uma
estética pessoal, fundada na pes-
quisa dramatúrgica, musical,
plástica, no estudo da história e
da cultura, além da experimenta-
ção dos recursos teatrais a partir
do trabalho autoral do ator.
Não se limitando à sala de
espetáculos, desenvolveu, tam-
bém, uma linguagem própria
de teatro de rua, além de traba-
lhos artístico-pedagógicos junto
à comunidade local. “Atuamos
coletivamente em todo proces-
so de cada espetáculo, desde a
montagem até a manutenção do
espaço. Acreditamos que o tea-
tro, assim como a cultura, é um
direito necessário de cada cida- Ói Nóis Aqui Traveiz fazem da cultura um instrumento de discussão Grupo do Rio Grande do Sul busca a renovação da linguagem cênica
dão. Fazemos cultura como ins-
trumento de discussão”, explica palavras chaves da trajetória te patrocinado pelo Instituto realiza a Mostra Ói Nóis Aqui Partida”(1986). Já a criação cole-
Tânia Faria, atuadora da Tribo. do Ói Nóis: resistência”, enfa- Votorantim. Traveiz: Jogos de Aprendiza- tiva “Ostal” (1989) concedeu ao
Entre as diversas áreas que o tiza Pedro de Camilis, atuador O espaço multidisciplinar gem, um circuito pelos bairros grupo os Prêmios Açorianos de
grupo desenvolve, destaque para do grupo. não se resume somente a um lu- da cidade com os trabalhos de- melhor espetáculo, cenograa e
a Escola de Teatro Popular, que gar de ocinas e espetáculos. É senvolvidos pelos atuadores em produção. De 1990 até 1992 foi
funciona desde 2000, e o Proje- COMEMORAÇÕES também para compartilhamen- ocinas populares de teatro em encenado “Antígona”, ritos de
to Teatro como Instrumento de O último dia 14 de julho foi to de experiências com outros oito bairros. “Junto a esta Mos- paixão e morte, que recebeu os
Discussão Social, desenvolvido uma data importante de conti- grupos, realizando seminários, tra, apresentamos, quase todos Prêmios Açorianos de melhor
desde 1988, com ocinas gra- nuidade desta resistência do gru- ciclos de debates, ocinas aber- os ns-de-semana, o espetáculo espetáculo, direção, cenograa,
tuitas à população. Na área da po, com a comemoração dos 25 tas à comunidade para prática de Teatro de Rua “O Amargo gurino e ator coadjuvante. “Se
criação teatral, além do Teatro anos de constituição do espaço artístico-pedagógica, além de se Santo da Puricação”. A peça, Não Tem Pão, Comam Bolo!”
de Rua, o Teatro de Vivência multidisciplinar Terreira da Tri- explorar as possibilidades cêni- criação coletiva baseada em Sar- (1996) foi premiado como me-
atua no sentido de experiência bo. Criado seis anos depois da cas produzidas pela Tribo com o tre e em Allen Gin – que teve sua lhor espetáculo de Teatro de
partilhada, em que o espectador concepção do Ói Nóis, o local intuito de realizar uma investiga- montagem censurada em 1980 – Rua, e o grupo foi premiado pelo
torna-se participante da cena, também é a sede do grupo des- ção atorial, estética e ética. estreou em setembro de 2008, conjunto de sua obra. O espetá-
inserido em ambientes cênicos de 1984 e funciona como Escola Gerida de forma libertária durante o 15° Poa em Cena. O culo “Independência ou Morte!”
junto com os atores, quebrando de Teatro Popular oferecendo pelo Ói Nóis Aqui Traveiz, a espetáculo já foi apresentado em (1996) foi premiado no Festival
a divisão palco/platéia. diversas ocinas abertas e gratui- Terreira da Tribo se tornou peça São Paulo, no Rio de Janeiro, em Nacional de Teatro Isnard Aze-
Diante destas atuações, os tas para a população. Para cele- fundamental para o desenvolvi- Curitiba, em Brasília e em Salva- vedo de Florianópolis (SC).
artistas do Ói Nóis avaliam o te- brar este dia especial houve uma mento do teatro portoalegrense. dor (circulou, ainda, por 15 cida- Em 2008, o grupo recebeu
atro como instrumento de des- noite de comemorações na qual Várias das suas manifestações já des do interior do Estado, pelo os Prêmios Açorianos de melhor
velamento e análise da realidade foi lançado o sexto número da foram apropriadas pela cidade Sesc/RS). Atualmente, realiza cenograa e ator Coadjuvante
e entendem que sua função é so- revista “Cavalo Louco”, produ- como o Teatro de Rua, hoje com um circuito pelos bairros popu- por “A Missão – Lembrança de
cial, contribuindo para o conhe- zida pelo grupo. A programação vários grupos atuando regular- lares de Porto Alegre e região uma Revolução”. Neste mesmo
cimento e o aprimoramento hu- incluiu, ainda, a apresentação mente, e as ocinas populares de metropolitana. ano a Tribo recebeu, também,
mano. “A lógica do mercado não dos exercícios cênicos “A Comé- teatro desenvolvidas em diversos o Prêmio Shell na categoria es-
pauta as ações do grupo. Tendo dia do Trabalho” e “Aquele que bairros de Porto Alegre. PREMIADO pecial pela pesquisa e criação
31 anos de trabalho continuado, diz Sim/Aquele que diz Não”, Durante esses anos, o grupo coletiva e melhor trilha original
a Tribo recebeu apoio através da desenvolvidos através do Pro- ATUAÇÃO recebeu muitos prêmios com de Johann Alex de Souza de
Lei Rouanet nos últimos quatro jeto Teatro como instrumento Camilis, atuador do grupo, seus espetáculos. Entre eles: “A “Aos que virão depois de nós -
anos. Isto aponta para uma das de discussão social, atualmen- explica que, atualmente, a tribo Doméstica”(1985) e “Fim de Kassandra In Process.”
10 16 a 31 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Entrevista

Fabiana Veloso
Paulo Betti – ator

Sem
medo de
inovar
e de dar
opinião Segundo Paulo BeĴi, ser ator é “acreditar que tudo pode mudar, tudo pode ser de outra maneira”

Por Felipe Sil JT – Como analisa, hoje, Celso Nunes, que nos acompa-
sua experiência no grupo nhou e nos deu de presente a

O
experimental Pessoal do montagem nal de curso, que
ator Paulo Betti, 56 anos, já fez de tudo em sua área. Televisão, Victor, que você ajudou a foi “Victor e as Crianças no
fundar em 1975? Poder” de Roger Vitrac, que
cinema, teatro... Poucos artistas da dramaturgia brasileira podem PB – Foi uma espécie de deu nome ao nosso grupo.
universidade de teatro pra
dizer que possuem a versatilidade deste profissional. Com o nome mim. O grupo estudava, pes- JT – Você sempre teve
quisava, fazia montagens sobre uma posição política mui-
e o currículo que tem, poderia viver calmamente, na base de megaes- temas interessantes como a to forte. Tem o costume de
cultura caipira, o surrealismo, levar essas ideias para sua
petáculos e trabalhos esporádicos destinados ao grande público. Paulo a obra de Kafka... Tudo com atuação?
Betti, porém, continua inovador e mantém as raízes do início da carreira, a continuidade do trabalho de PB – Não gosto de levar
Fábio Toledo
quando foi um dos fundadores do grupo experimental Pessoal do Victor
e aluno da EAD/USP (Escola de Arte Dramática da Universidade de São
Paulo). Na última edição da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty),
surpreendeu o público presente ao andar pela cidade vestido de árvore,
em encenação para a peça “Sonho de uma Noite de São João”. O ator
também não tem medo de falar sobre política e é conhecido como um
dos mais envolvidos no assunto dentro do meio teatral. Nesta entrevista
para o Jornal de Teatro, entretanto, garante que todas as suas ideologias
e convicções ficam fora de sua arte, apesar de admitir que ela é sempre,
no final das contas, um posicionamento político.

Jornal de Teatro – O que sorte de participar de muitas Candida Teixeira, Maria José
você ainda carrega de ensina- montagens do segundo e do de Carvalho, Renata Palotti-
mentos e lições da EAD/USP, terceiro ano, quando ainda es- ni, Mylene Pacheco, Yolanda
onde começou a carreira? tava no primeiro. Amadei, Clovis Garcia, Pau-
Paulo Betti – A gente lo Mendonça, Lucio Galvão,
aprendia a levar o teatro a sério JT – E como foi tal expe- Leda Cury, tantos excelentes
com disciplina, responsabilida- riência? mestres... Mas aprendi muito
de e ética. O exame de admis- PB – Pude ver Eugenio com Carlos Alberto Sofredini,
são era muito seletivo. Para se Kusnet trabalhando “Os Pe- Elvira Gentil, Laerte Morrone
ter uma ideia, concorriam 700 quenos Burgueses”, de Gorki. e Armando Azzari. Lembro a
aspirantes, eram aprovados 20 Trabalhei com Emilio di Bia- voz do Sofredini, pausada, rou-
e depois de um mês de exames si, Fernando Peixoto, Sylnei ca, dizendo “não se poupe”,
práticos, teóricos, subjetivos... Siqueira, Antonio Mercado “não se poupe”, uma espécie
Aí vinham os três anos de au- Netto, Sylvio Zilber, Miryan de bordão teatral ecaz, abso-
las. Na minha turma zemos Muniz, Fausto Fuser, Luiz lutamente essência de nossa
quatro montagens com dire- Nagib Amary, Jonas Bloch, atividade onde poupar-se, dar
tores importantes e eu tive a Celso Nunes, Alberto Guzik, menos, é proibido. “ Nunca vi lugar que se aplaude mais em pé do que o Brasil”
Jornal de Teatro 16 a 31 de Julho de 2009
11
Entrevista
Paulo Betti esbanja versatilidade nos
palcos, na telinha e até nas ruas
parte do jogo político, mas é um grandes papeis na TV. diferenças entre os dois quan- ro. O sublime e o mesquinho.
preço alto que se paga. Como foi parar nesse meio e to à atuação e à produção?
qual produção e personagem PB – O teatro tem uma JT – Que conselho dá
JT – Como você faz a ligação te marcou mais? produção mais artesanal, re- para os jovens atores? Ain-
entre política e arte? PB – A televisão entrou na quer mais tempo de elabora- da é importante fazer arte
PB – A política está em minha vida entre 1977 e 1978, ção, nos prepara e nos corri- de vanguarda e buscar expe-
toda a parte. A arte expressa o quando z a novela “Como Sal- ge. Já a televisão exige mais rimentações em suas obras?
momento histórico, emocional var meu Casamento”, na Tupi. rapidez. Gosto dos dois. O PB – O importante é ler gran-
e político de sua época. Toda De lá para cá, nunca mais dei- bom é quando podemos reve- des romances, cuidar do cor-
obra de arte é um posiciona- xei de trabalhar no meio. Gos- zar, um no teatro e um na TV. po, ver grandes lmes, peças...
mento político. to muito de atuar na TV. Acho De vez em quando no cinema Viver intensamente e não “se
um privilégio poder fazer no- também. poupar”.
JT – Você acabou de encenar, velas, estabelecer um vínculo
ao ar livre, em Paraty, o espe- forte com nosso povo, entrar JT – O que é ser ator para JT – Em declaração, na últi-
táculo “Sonho de uma Noi- em suas casas e contar histórias. você? ma edição do Jornal de Teatro,
te de São João”, baseado em Acho a televisão o espaço mais PB – É colocar nosso cor- você armou que todo ator,
Shakespeare. Em outras oca- importante da cultura brasileira. po, voz e sentimentos para re- por uma deformação pros-
siões você também já se apre- Quase todas as informações cul- presentar um personagem le- sional decorrente do ofício, é
sentou nas ruas do Rio. Como turais que o o nosso povo recebe vando distração, divertimento vaidoso. Como não deixar a
é essa experiência? Por que é é através dela. e conhecimento para o máxi- vaidade inuenciar o trabalho?
importante e quais as diferen- mo de pessoas. É acreditar que PB – Temos que equilibrar a
ças de não atuar para um pú- JT – Em que meio pre- tudo pode mudar. Tudo pode vaidade e a nossa insegurança.
blico mais selecionado? fere trabalhar? Teatro ou ser de outra maneira. É fazer Não deixar que nenhuma so-
PB – A rua é o espaço mais TV? Quais são as principais conviver o vaidoso e o insegu- bressaia.
livre e mais difícil de se traba-
lhar. A pessoa assiste em pé. Fábio Toledo

Quando enche o saco vai em-


bora, toma uma cerveja, fala
com o amigo... Não tem aquela
política para o palco. Não pen- convenção hipócrita de ter que
so na adequação política das car até o nal e aplaudir em
peças que faço. Penso na den- pé. Nunca vi lugar que se aplau-
sidade das obras do ponto de de mais em pé do que o Brasil.
vista poético e dramatúrgico. Parece até que entendemos pra
Mas evidentemente que existe burro de teatro, porque precisa
um ltro, que é a minha manei- ser muito entendido para car
ra de ver a vida, e nisso incluí a aplaudindo em pé. Eu tenho
política, a percepção do poder, verdadeira admiração e respei-
do jogo, da hipocrisia e tudo to pelos artistas que trabalham
mais. Só que não penso, por na rua. Desde o mais sostica-
exemplo, nos Sem Terra e na do ao mais simples, aquele cara
sua luta quando z “Na Carre- que promete engolir um prego
ra do Divino”, peça do Carlos no nal da performance, a Fa-
Alberto Sofredini. No entanto, miglia Milani, O Tá na Rua, do
serve como uma luva para cam- Amir, Galpão Cine Horto, de
panhas do MST, por exemplo. Minas Gerais; e tantos outros.
Aquilo, para mim, era emoção
pura. Um libelo contra a injus- JT – Viveu alguma experi-
tiça da perda da terra ancestral, ência anterior, neste sentido?
mas era uma preocupação mui- PB – Na Casa da Gávea es-
to mais humana e individual do távamos nos sentindo aprisio-
que política e coletiva. nados no nosso pequeno pal-
co. Tive a ideia de irmos para a
JT – Acha importante para praça que existe em frente, no
o artista ter posicionamento Baixo Gávea, ano passado, com
político bem denido? o “Sonho”. Foi lindo. Esse ano
PB – Não, acho que é impor- resolvemos repetir e zemos em
tante o artista ser bom no que Paraty, Quissamã, Piraí e Barra
faz e respeitar seus colegas e sua do Piraí. Foi muito legal. Em Pa-
arte. Isso é mais do que sucien- raty parecia que estávamos num
te. Quem quiser se meter em autêntico teatro elizabethano. A
política que se meta, leve suas Igreja de Santa Rita e o casario
bordoadas, sofra as consequên- de Paraty ecoavam uma acústica
cias de expor suas posições, perfeita para nossa peça. Foi um
porque posições todos nós te- gosto trabalhar nessa peça. Meu
mos, e exerça suas pequenas in- lho me viu trabalhar pela pri-
uências. Alguns de nós, como meira vez. Me viu sentado no
Antonio Grassi, Beth Mendes, meio o, vestido de árvore, su-
Pitanga, Stephan Nercesian, ado, com a maquiagem borran-
Antonio Pedro, Hugo Carvana, do. Ele sacou direitinho o que é
Celso Frateschi, Gianfrancesco o meu ofício.
Guarnieri e muitos outros che-
gam a ocupar cargos elevados JT – Qual a peça e o persona-
na área cultural do governo. Me gem que você se recorda com
exponho muito politicamente, mais carinho?
defendo as ideias que acredito, PB – Muitas! Mas “Na Car-
acompanho as reviravoltas do rera do Divino” foi um momen-
jogo político e pago caro por to especial de minha vida.
isso. Já fui acusado maciçamente
pela imprensa. Eu sabia que era JT – Você também já teve Ator, apesar de consagrado, costuma encenar peças gratuitas nas ruas, como nas de Paraty recentemente
12 16 a 31 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Reportagem

Na Casa
Fernando Pires

dos
Lou
c
Prédio histórico do Hospital

os
Psiquiátrico São Pedro serve
de base para grupos de
teatro em Porto Alegre
Pavilhões abandonados de unidade servem para ensaios, ocinas e atividades como montagem de cenários. Eles proporcionam reexões sobre os aspectos da loucura e da normalidade

Por Felipe Prestes primeiro se levou teatro para o vel. Todos os grupos que estão O tipo de utilização do Hos- paços da Usina do Gasômetro,
Hospital Psiquiátrico São Pe- aqui são de pesquisa, têm um pital São Pedro se tornou refe- dando a possibilidade que gru-
As artes, muitas vezes, dro. “Sempre tivemos o perl trabalho continuado”, explica rência para o projeto Usina das pos de atuação continuada pos-
manifestam-se como o limiar de buscar espaços na cidade Vera Parenza, atriz e produtora Artes, que foi celebrado como sam gerir salas do prédio histó-
entre loucura e razão. Talvez, para apresentação de nossos que faz parte do Oigalê. lei municipal em 2009 e cede es- rico, também em Porto Alegre.
pelo detrimento da racionali- trabalhos”, conta Alexandre
dade em favor da sensibilidade. Vargas, um dos fundadores do
Em Porto Alegre, a busca pela Falos e Stercus. GRUPOS PODEM PERDER O ESPAÇO
ocupação de espaços ociosos O grupo que montou o “In
levou parte da cena teatral a Surto” falou diretamente com Para Alexandre Vargas, a atu- nossa presença estava bastante co- Alexandre. “Era um rompimento
um contato inusitado com a a direção do São Pedro, que ação das companhias não tem nectada a isso. Agora parece que as da formalidade. Se o interno tinha
loucura. Desde 1999, grupos atendeu o pedido dos artistas. sido vista com bons olhos pelas coisas estão voltando atrás, no sen- vontade de se expressar no meio
têm utilizado pavilhões que “Coincidiu com um forte de- novas administrações estaduais, tido de manter os internos afastados da peça, ele o fazia”, exemplifica
estavam abandonados no Hos- bate da luta anti-manicomial. desde 2003, quando a Secreta- do convívio com outras pessoas”. Alexandre, acrescentando que a
Então foi um momento pro- ria Estadual de Cultura passou a Por ora, o que tem garantido a possibilidade de haver maior in-
pital Psiquiátrico São Pedro,
pício para a entrada do teatro interferir no local. “Primeiro, uma permanência dos artistas tem sido as terface com os “loucos” não é tão
pertencente ao Estado, para antiga diretora do Lacen (Insti- atas das reuniões que são realizadas simples, pois é necessária uma
ensaios, ocinas e atividades no espaço”, explica Alexandre.
tuto Estadual de Artes Cênicas) periodicamente com a Secretaria da qualificação especial.
como montagem de cenários. No mesmo período, 144 inter- fez auto-propaganda utilizando o Cultura, nas quais este órgão se com- “Não basta ser ator para
O local, além de ser o es- nos foram transferidos para espaço, no qual não fez mais que promete a ceder o espaço. O que os saber lidar com essas pessoas.
paço que tanto as companhias moradias, deixando espaços reformar um banheiro. Depois co- grupos querem, porém, é poder gerir Existe uma série de cuidados es-
precisam para se manter, pro- abandonados. meçaram a surgir boatos de que a área em comodato (contrato gra- peciais, medicamentos que pre-
porciona reexão sobre ques- A temporada do “In Sur- o prédio seria destinado para uma tuito, que cede temporariamente o cisam tomar, objetos que não po-
tões sociais que envolvem a to” teve boa repercussão, mas empresa ligada à fabricação de lugar), o que dificilmente deverá ocor- dem estar por perto”. O escritor
oposição entre loucura e nor- foi montada do lado de fora computadores”, conta. rer. Vera Parenza também lamenta o também explica como a loucura
malidade. A parte do hospital do prédio. Os pavilhões cinco Hoje, há o permanente te- fim das apresentações e ressalta que influencia o teatro. “Não vejo
utilizada pelas companhias tem e seis do hospital se encontra- mor de que os grupos tenham se deve a uma mudança no tratamen- relação entre loucura e teatro,
ainda o apelo estético que pou- vam cheios de entulhos, como de ser realocados. “Existem to dos pacientes. mas há uma certa ‘desrazão’ que
cos lugares podem oferecer. camas e documentos. boatos de que o governo pre- “Era super saudável, havia uma precisamos ter ao pensar a arte”.
O então Hospício São Pe- As apresentações geraram tende instalar uma empresa troca muito boa. Muitas vezes na en- Alexandre relata que tipo de re-
dro foi inaugurado em 1884, interesse da Bienal do Merco- que fabrica computadores aqui, trada do hospital não se sabia quem flexão o trabalho no São Pedro
ainda durante o Segundo Rei- sul. A organização deste even- utilizando a Uergs (Universidade era espectador da peça e quem era proporciona. “Há uma visão sim-
nado. Era o primeiro espaço to conseguiu limpar a área para Estadual do Rio Grande do Sul) paciente aguardando atendimento”, plista sobre a loucura. Tem muito
destinado aos “alienados” em uma de suas instalações e isso como ponte”, diz o ator. diz Vera, que conta, também, que mais de abandono e exclusão do
Porto Alegre e em toda a Pro- impulsionou o pedido do Falos Juliana Erpen, diretora-geral a diretoria que acolheu os artistas que propriamente uma doença
víncia de São Pedro do Rio e Stercus para utilizar aquele da Secretaria de Cultura do Esta- incentivava as apresentações, por que obrigue alguém a ficar deste
Grande do Sul. O enorme so- espaço, novamente atendido do, afirma que a direção do hospi- considerar importante este contato lado dos muros”.
pela direção do hospital. Ao tal tem planos para a área, sobre entre os doentes e as pessoas ditas Muros que têm significados
brado de dois andares remete
os quais não conhece detalhes. normais, e até ajudava na impressão opostos para “loucos” e artistas.
ao século XIX. Os portões en- longo dos dez anos outros gru-
Vera Parenza considera que a vi- do material de divulgação das peças. Para os primeiros, a liberdade
ferrujados e as janelas em arco pos foram ocupando espaços são que o atual governo tem para As que eram apresentadas para pode estar do lado de fora. Já os
dão um charme todo especial dos pavilhões. com a saúde mental condiz com a os internos foram uma grande per- grupos de teatro conseguiram
para quem faz arte no local. Entre estes, está o Oigalê retirada dos grupos. da, em termos da experiência que certa autonomia do lado de den-
Não poderia haver lugar – Cooperativa de Artistas Tea- “Quando entramos aqui, havia proporcionavam. “Eles tinham por tro. Mas os interesses governa-
mais apropriado para que o trais, que em 2002 fez um pedi- uma diretoria no hospital que con- nós um grande respeito. Via neles mentais muitas vezes preferem
grupo Falos e Stercus montas- do junto à direção do hospital siderava que o paciente precisava uma ingenuidade muito grande, e ver ambos no sentido contrário
se a peça “In Surto”, que abor- para também utilizar as depen- interagir com o mundo, que esta- havia forte desconstrução sobre o daquele que pode lhes trazer
dava a temática da loucura. Foi dências. “Sem um local como va ligada à luta anti-manicomial. A comportamento da plateia”, relata mais felicidade. Uma loucura!
nesse projeto que, há dez anos, este, nosso trabalho ca inviá-
Jornal de Teatro 16 a 31 de Julho de 2009
13
Reportagem

Quem é o insano aqui?


Montagens abordam o tema de diversas maneiras. Afinal, não é louco quem só ri e quem só chora?
Por Danilo Braga balho fácil, mas temos grandes

Adalberto Lima
exemplos de montagens onde
A loucura, segundo explica a insanidade levou o público e
a psicologia, é uma disfunção a crítica à loucura (esta, no sen-
nas mentes humanas que a faz tido mais ameno da palavra).
ter pensamentos não aceitos e Um dos maiores nomes
entendidos normalmente pelos quando se pensa em loucura é
instrumentos de entendimen- “Hysteria”, do Grupo XIX de
to e cognição da sociedade em Teatro. A montagem é focada
que vive o paciente. Pode ser na mulher brasileira que viveu
causada por uma doença ou no País na transição entre o
ser a própria doença tomando rural para o industrial. O texto
conta do corpo do paciente. surgiu da descrição das condi-
A interpretação, segundo ções em que viviam as mulhe-
acreditam alguns atores, é em- res internadas em asilos psiqui-
prestar o seu corpo à uma per- átricos da época. Atualmente
sonagem, que vai gritar, chorar, está em cartaz pelo Sesc Santa
sentir e existir através do seu Catarina, em Florianópolis,
corpo. Essa interpretação é com o projeto Palco Giratório.
uma forma de fugir da sua re- “Gotas ao Dia” aborda o
alidade e adotar para si, outra. tema de outra forma: Lyssa
Na esquizofrenia, bipolaridade, acorda em um hospital psiqui-
psicose e em todas as formas átrico, sob observação. Tenta,
de insanidade mental, você em- ao decorrer do texto, enten-
presta o seu corpo para a doen- der o porquê de estar naque-
ça, que possui e domina a sua le ambiente, em que período
mente. A sua realidade passa a da história ela vive, que dia e Cena de “ Hysteria”, que retrata a vida de mulheres internadas em asilos psiquiátricos
ser a doença. que horas serão. Foi apresen-
O interessante acontece tada no Teatro Augusta, em senta seis personagens com da Loucura”, da Cia. Fuzarca aparecer no público, eventu-
quando há a fusão desses dois São Paulo e foi a montagem TOC – Transtorno Obsessivo de Teatro é inspirada na obra almente: onde reside a loucu-
casos – o ator empresta o cor- de estréia do grupo Teatro de Compulsivo. As personagens “Elogio da Loucura”, do escri- ra? Está mesmo embutida em
po à uma personagem que vai Risco. Assim como “Hysteria”, que se mostram incomodadas tor, lósofo e teólogo Erasmo nós como diz o “Elogio da
sublocar o seu corpo à uma a montagem foi fruto de pes- e, de certa forma, até com ver- de Rotterdam. O espetáculo Loucura”? Uma mera carac-
doença ou insanidade. Além quisa baseada em casos reais gonha de seus transtornos pas- traz personagens acorrenta- terística humana, como suge-
de exigir esforços adicionais do de doenças mentais. sam a dialogar sobre o assunto dos por uma cadeia de acon- re “Hysteria”? Fruto da pós-
ator, um papel como esse exige Outro espetáculo que cuida do e a sala de espera do consul- tecimentos onde a fé, o amor, modernidade gerada na vida
uma pesquisa e uma sensibili- tema da loucura é “Toc Toc”, tório se torna uma espécie de a vingança, o ódio e a paixão urbana, como em “Toc Toc”?
dade ímpar, entre berros, mur- escrita pelo francês Laurent autoterapia entre os pacientes. formam a colcha de retalhos Todas essas montagens dão
ros e qualquer outra forma em Bafe. Em cartaz até 2 de Indo nas origens mais profun- do texto ímpar de Erasmo. vazão à questionamentos peri-
que a loucura possa se manifes- agosto no Teatro do Leblon, das da literatura clássica lo- Essas montagens levan- gosos que, por sua vez, podem
tar. Certamente não é um tra- no Rio de Janeiro, a peça apre- sóca, a encenação “Filosoa tam uma questão que pode despertar a loucura em você.

A OBSESSÃO DE NELSON RODRIGUES


Por Michel Fernandes, especial para o Jornal de Teatro
Tanto a obra – sejam suas pe- anas para constatarmos o quão ma: Carnavalização e Mito” (série de textos de Nelson Rodrigues”.
Divulgação

ças teatrais, romances, crônicas, negativo tem a obsessão que Nel- Estudos da Editora Perspectiva), Esse preâmbulo da história de
memórias e folhetins, entre ou- son Rodrigues utiliza para conce- faz a dramaturgia rodrigueana nosso teatro serve tão-somente
tros – quanto a vida do escritor ber a psique de suas personagens: parecer datada e de maior inteli- para notarmos a agudeza arque-
Nelson Rodrigues (1912-1980), Moema, protagonista de uma de gibilidade a alguns nichos sociais típica no tratamento de suas per-
considerado, com justeza, o dra- suas Tragédias Míticas, “Senhora do Rio de Janeiro, o diretor Antu- sonagens e como Antunes Filho
maturgo brasileiro mais ousado, dos Afogados”; e Zulmira, perso- nes Filho mergulha num universo trata com cuidadoso bisturi suas
criativo e inovador de todos os nagem principal de “A Falecida”, “mítico e arquetípico” em suas dissecações das mesmas em mon-
tempos, o remetem ao obsessi- tragédia carioca do autor. Tanto incursões ao universo drama- tagens memoráveis. Assim o fez,
vo tema da morte. Mesmo que uma quanto a outra personagem túrgico do autor. David George ano passado, com a controversa
o adultério, as complexidades se- personicam na morte sua ob- aponta a montagem “Nelson 2 encenação de “Senhora dos Afo-
xuais, taras e incestos sejam, tam- sessão. Se, por um lado, Moema Rodrigues” (1984), que conden- gados”, elevando a tragédia da
bém, temas recorrentes, a Morte vislumbra nas mortes que causa o sava as peças “Álbum de Família” família Drummond ao posto da
protagoniza, de uma forma ou único meio para atingir seu m, e “Toda Nudez Será Castiga- falta de paradigmas que a Institui-
de outra, cada uma de suas obras. por outro, Zulmira acredita que da” – na realidade a redução do ção Família, e Moema (na monta-
Mesmo sabendo que a obsessão é sua morte lhe trará a redenção de espetáculo Nelson Rodrigues – gem vivida pela atriz Angélica di
apenas um desvio comportamen- seus pecados e planeja seu velório “O Eterno Retorno” (1981) que Paula) ao arquétipo do sombrio Angélica em “Senhora dos Afogados
tal, que de tal mania possa sur- com requintes de quem deseja, a trazia mais duas peças do autor: e vazio vindos com essa ausência
gir um desconforto mental para qualquer custo, recuperar a digni- “Os Sete Gatinhos” e “O Beijo de modelos. Esse ano, Antunes sidade em saber como ele tratará
quem a sente ou para aquele que dade que sua situação social nun- no Asfalto” – tão fundamen- retorna a Nelson com “A Faleci- a obsessão de Zulmira e de cada
é o alvo do obsedado, concorde- ca lhe permitiu exercer. tal ao teatro brasileiro quanto a da Vapt-vupt”, sua terceira incur- um dos personagens da obra.
mos que tal mania exacerbada é Em encenações que pretendem montagem de “Vestido de Noi- são a peça “A Falecida” (encena-
potencial condutora da loucura, deixar a vaga localidade carioca va” (1943), por Ziembinski. Para da por ele, em 1965, com alunos Michel Fernandes é jor-
ou, no mínimo, de atos insanos. e as referências ao cotidiano que, David, o “teatro moderno brasi- da Escola de Artes Dramáticas, nalista cultural, crítico e pes-
Basta seguirmos a trajetória como observou o estudioso Da- leiro poderia ser situado” entre e no espetáculo “Paraíso Zona quisador de teatro. Editor do
de duas personagens rodrigue- vid George em “Grupo Macunaí- “essas memoráveis montagens Norte”, em 1989) e ca já a curio- www.aplausobrasil.com.br
14 16 a 31 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Reportagem

Drama Real
Histórias de superação através do psicodrama
Por Paloma Jacobina interpretar a própria vida, você leva toda exemplo
a carga de emoção que viveu para aquele é traba-
Juliana (nome ctício) não pôde estar momento e isso vai te ajudar a trabalhar lhar com
presente ao enterro do seu irmão mais questões que estão dentro de você, te ma- objetos
velho e nunca se perdoou por isso. Por chucando”, explica. interme-
mais de 10 anos, um sentimento de culpa De acordo com a prossional, o psi- diários.
e solidão a corroeu por dentro, levando codrama possibilita ao paciente a entrega Trabalhar a
para longe a tranquilidade de uma mente já total a emoções reprimidas. Durante as dramatização, consi-
inquieta. Só mais de uma década depois, a sessões, divididas em aquecimento, dra- derando que a gente
paciente esquizofrênica da terapeuta de fa- matização e comentários, a assustadora não vai esperar que
mília e casal, Isabel Rosana Barbosa, pôde realidade é enfrentada com o apoio de o portador de doença
chorar sua perda e, nalmente, enterrar o prossionais. “A sala é chamada de pal- mental aja como um
irmão perdido. Foi no palco dramático, co dramático. Nela, surge o protagonis- indivíduo neurótico
cercado por entes queridos interpretados ta. Por exemplo, na terapia de grupo ou ou normal sem graves
por colegas de terapia e se despedindo no grupo de várias pessoas, alguém leva problemas psicóticos”,
de um caixão ilusório que Juliana se sen- um tema de alguma situação que esteja explicou.
tiu livre para colocar sua dor para fora. vivendo e esse tema é levado para ser re- O uso do psicodrama
A loucura sempre foi tema de l- presentado no palco dramático”, revela. no tratamento de pacientes
mes, livros e personagens históricos. Diferente do teatro, que leva ao palco a com distúrbios psicológicos é
Grandes artistas sempre estiveram no vida dos outros, o texto feito por um autor hoje tão bem aceito no meio
limiar entre os devaneios e a realidade no psicodrama se leva aos palcos a própria prossional, que o aumento
do mundo que os cercam, em especial vida. Segundo Isabel, o psicodrama não é pela procura e oferta de cursos
quando mergulham em personagens só dramatização, mas a base para outras que preparem os prossionais
com carga dramártica pesada. Foi o que técnicas que se chamam técnicas de ação. tem aumentado signicativamen-
aconteceu com o ator baiano Ângelo “Quando eu falo ‘ir ao palco dramatizar’, te. Atualmente, eles podem ser en-
Flávio na pele do ‘aprendiz de margi- não necessariamente seja uma utilização de contrados em vários lugares do Brasil,
nal’, Tonho, vivido no longametragem uma historinha, mas podemos utilizar ou- reunidos em torno da Federação Brasileira
de Paulo Alcântara, “Estranhos”. “O tros recursos para que o protagonista possa de Psicodrama e das associações estaduais.
cheiro de pólvora impregnou minha trazer a sua história e possa ser tratada”, re- A maioria dos cursos está nas universidades
mão por muito mais tempo do que vela Isabel Rosana. federais, e São Paulo é o local que tem mais
qualquer um imaginaria”, relembra. Segundo a prossional, ao dramatizar a escola de psicodrama.
Ao contrário do que se esperava, própria vida, o paciente leva para o palco Pode ser usada para diversas interven-
o apagar das luzes não suprimiu a dor algo que já fez. “Por exemplo, você tem ções. “No caso da utilização para psicóticos
do malandro Tonho, nem a arrancou uma relação difícil com sua mãe, então o eu considero um excelente recurso, inclusi-
do peito do ator. “Construí no Tonho terapeuta pede para que você entre em cena ve, além da psicanálise. Muito psicanalista
um típico malandro brasileiro, mas e dramatize isso. Ao interpretar situações e não atende pacientes psicóticos, porque
também dei a ele hombridade e assas- sensações do cotidiano, você se dá conta acredita que não possui ferramentas para
sinar a garotinha acabou com ele e co- do seu próprio personagem naquele con- isto. Um paciente com transtorno men-
migo também. Ficamos os dois muito texto”, detalha. tal pode ter no psicodrama uma
mal por muito tempo”, revela. É quando o paciente, nalmente, se excelente ferramenta para o
Segundo Ângelo Flávio, é impossível dá conta das próprias ações, das for- cuidado terapêutico”,
construir um personagem denso sem ter mas como age e como responde. E isso naliza.
a aura imaculada pela realidade interpre- acontece não só na dramatização. Ao
tada. “É muito difícil viver sem aprender contar a própria história, mas a partir
com os personagens. Isso, porque, para dos recursos que o diretor do psicodra-
construir personagens completos, abri- ma utiliza, o paciente vai se dando conta
mos mão dos nossos princípios morais do que acontece. É quando ele percebe
e culturais, e não há como fazer isso e que atitude tem em relação à mãe.
sairmos ilesos. Nesse processo, nós so- Mas existem restrições no uso do psico-
fremos, aprendemos e nos humaniza- drama em pacientes. Alguns prossionais,
mos”, concluiu. inclusive, desaprovam o uso da técnica em
E nesse jogo de vida e arte, persona- psicóticos, apesar da doutora Isabel Rosa-
gens ilusórios se misturam àqueles reais na armar que elas podem apenas variar,
no intuito de emocionar, construir e de- de acordo com a necessidade de cada um.
formar a nossa realidade. Foi assim que “Algumas técnicas não são recomendadas,
Ângelo Flávio trabalhou durante muitos mas não existem proibições. Na escola,
anos no Hospital Psiquiátrico Juliano você tem uma disciplina que é psicodrama
Moreira, acompanhando o grupo de para psicóticos. Infelizmente, a sociedade
apoio psicossocial Gira Mundo e viven- em geral ainda tem pouco conhecimento.
do um pouco da loucura de cada um dos Mas isso acontece até nas pessoas da área
internos como forma de se aproximar psíquica. O pior é que associamos essa fal-
deles. É assim que a professora e mem- ta de conhecimento ao preconceito que as
bro do Conselho Baiano de Psicodrama, pessoas têm. O meu desejo que as pessoas
Isabel Rosana, trabalha até hoje as pesso- se abrissem mais e pudessem entender, ler
as que têm na realidade do dia-a-dia seu e estudar o psicodrama para tirar a visão
maior medo de viver. preconceituosa e preconcebida que existe”,
Defensora da técnica desenvolvida desabafa a especialista.
pelo médico romeno Jacobo Levy Mo- “Não vou usar qualquer recurso com o
reno para o tratamento de pacientes com psicótico, mas o psicodrama tem uma in-
os mais variados tipos de problemas nidade de coisas que podem ser usadas. O
psicossociais, Isabel Rosana explica que psicodrama é mais uma alternativa dentre
oferece uma proposta terapêutica, de tra- as outras que podem ser utilizadas para tra-
tamento. “Você não interpreta uma mo- tamento de pacientes ou é mais ecaz ou
dalidade teatral, e sim, a sua vida. E isso mais especíco. Como se encaixa no uni-
faz toda diferença. Digo isso, porque, ao verso da psicanálise e psicoterapia. Um bom
Jornal de Teatro 16 a 31 de Julho de 2009
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Técnica
Formando personagens através da maquiagem
Caracterizadores usam seus inúmeros recursos para dar vida às histórias que vemos nos palcos e traduzir a fiel imagem das personagens
Por Ive Andrade qual será a personalidade des- Mas, como é comum no trabalham com cinema, teatro,

Fotos: Divulgação
sa personagem”, explica Bue- meio teatral, não basta, ape- televisão, moda, publicidade e
Com quase 20 anos de no, que, atualmente, trabalha nas, talento. “Antes de mais convivem com as diferenças
prossão, o caracterizador no musical “Hairspray”. Sua nada, é preciso que exista res- que essas áreas exigem. No
Anderson Bueno tem em seu equipe, composta por seis pes- peito pela prossão. Acontece teatro, a exatidão é fundamen-
currículo grandes espetáculos soas, transforma o ator Edson muito de o artista querer car tal, pois o caracterizador não
como “O Fantasma da Ópe- Celulari em uma dona de casa lindo, independentemente se a pode entrar no meio da cena
ra”, “Godspell” e “Victor ou acima do peso em todas as personagem é alcoólatra, um para retocar ou corrigir algum
Victória”. Os dois últimos apresentações. “No caso do monstro ou um louco. Mas erro. Mas é inevitável que algo
marcaram por serem traba- Edson, por exemplo, optamos ele deve ouvir as ideias do ca- aconteça em quase duas dé-
lhos desaadores, verdadei- por uma peruca toda desgre- racterizador e vice-versa para cadas de carreira, como con-
ros divisores de águas em sua nhada, pois é assim que ele executar um bom trabalho”, ta Bueno. “No ‘Fantasma’
carreira. “No ‘Fantasma’ não está montando a personagem, arma Bueno. tinham próteses e na minha
houve trabalho de criação é uma mulher que não passa Além disso, no Brasil, a primeira semana sozinho, sem
propriamente dito. Eles trou- um pente no cabelo sequer, oferta de produtos de maquia- os americanos auxiliando, a
xeram o material e tínhamos totalmente desleixada”. gem é escassa e os materiais prótese começou a descolar
que seguir à risca. Em termos Apesar de sempre atrás das existentes geralmente são ca- do rosto do ator Saulo Vas-
de execução foi ótimo, pois, coxias, o caracterizador tem ros, o que diculta o trabalho concelos, o que estragaria o
no Brasil, não temos esse tipo um trabalho desaador: cabe a dos caracterizadores. Cursos espetáculo para o público.
de espetáculo. Ainda estamos ele propor uma etapa essencial sobre a área ajudam os atores Ainda bem que o Saulo é um
caminhando para ter um busi- do físico do personagem, o que a desenvolver o trabalho básico prossional que soube lidar
ness de entretenimento como o inclui embelezar, envelhecer ou de caracterização. “Nossa in- com a situação e a gente re-
americano”, explica. até mudar o sexo do ator, mas tenção com o curso é mostrar mediou rapidamente durante
Como um dos efeitos que sem deixar que resultado nal para os prossionais da área uma de suas trocas de roupa”.
colocam o ator em contato com que óbvio. “Hoje em dia, o o básico, que é possível fazer Para Bueno, o teatro tam-
sua personagem, a caracteri- público não quer ser iludido no com muito pouco. O ator deve bém possibilita que o carac-
zação teatral é fundamental na teatro. Deseja que o ator mos- saber pelo menos disfarçar al- terizador trabalhe muito mais
construção de qualquer história. tre atitude e não que escon- guma marca, passar base e lá- criativamente e artisticamente.
Seja sutil, em uma maquiagem dido atrás de uma máscara”, pis de olho. Até porque o ca- “No teatro, você faz parte do
básica, ou agressiva, em um arma o coordenador do curso racterizador, muitas vezes, não processo de criação, do uni-
processo de envelhecimento, o de maquiagem, caracterização permanece durante todas as verso daquela produção. Já na
papel do caracterizador é tirar a e improviso do Tuca, Pablo apresentações, isso só acontece moda poderia ser qualquer ou-
personagem do papel e trazê-la Moreira. “Existe uma busca nos grandes espetáculos e mu- tro fazendo seu trabalho”, ex-
para a realidade. Para executar pela sutileza. Hoje são poucos sicais”, ressalta Moreira, que plica o visagista, que também
tal tarefa, o visagista não é a úni- os teatros com mais de mil lu- também explica que a caracte- dá aulas na área corporativa,
ca peça fundamental. gares em que a maquiagem tem rização pode ser simples, mas sobre como se maquiar no seu
“[Em primeiro lugar] ouço que ser mais pesada, pois o pú- que sempre deve existir, tanto dia a dia, trabalho que não exi-
Bueno (de preto) e o ator Edson
a intenção do diretor, falo com blico não ca mais tão distante. em atrizes quanto nos atores. ge tanta criatividade, mas que Celulari, à carater, antes de
o gurinista para podermos E os produtos existentes ago- “São artifícios que pode não exemplica a importância da subir ao palco em “Hairspray”:
seguir a mesma linha e conver- ra possibilitam essa sutileza”, parecer, mas são essenciais”. caracterização, ainda que seja peruca desgrenhada para uma
so com o ator para decidirmos completa Bueno. Muitos caracterizadores para atuar apenas na vida real. dona de casa acima do peso

Marketing Cultural
Cultura Inglesa apoia espetáculos de dramaturgos britânicos
Por Pablo Ribera às últimas conseqüências e, na ção dos projetos selecionados.
Bia Ferrer

tentativa de ocultar o ato, se en- Dessa verba, R$ 25 mil foram


O centro de educação Cul- volve em uma série de aconte- destinados para premiar as me-
tura Inglesa trabalha no Brasil cimentos que complicam, cada lhores produções. O patrocínio
com o propósito de não ser vez mais, a delicada situação. para cada um dos três projetos
apenas uma escola de idiomas, Além de apoio, a Cultura escolhidos por área foi distri-
mas, também, como propa- Inglesa promove uma série de buída da seguinte maneira: R$
gadora da cultura britânica espetáculos culturais baseados 36 mil (Teatro Adulto), R$ 31
no nosso País. E uma de suas em autores ingleses. O Cultu- mil (Teatro Infantil, Dança e
ferramentas para concretizar ra Inglesa Festival, realizado Cinema Digital de cção e ani-
esse projeto é o teatro. A esco- anualmente, apresenta formato mação) e R$ 25 mil para Artes “Celebração”, de Harold Pinter, é uma das peças apoiadas
la apoia espetáculos realizados original, inaugurado em 2004, Visuais.
por dramaturgos de origem no qual a cultura britânica é in- Uma das peças premiadas Encenadas em português, de dança deverão propor co-
britânica, visando um entendi- terpretada e recriada por artis- foi “Celebração”, do inglês as peças de teatro adulto de- reograas inéditas inspiradas
mento maior das pessoas sobre tas brasileiros das áreas de artes Harold Pinter. A história se vem ser de autoria de drama- na obra de um ou mais artistas
a importância desses autores. visuais, do cinema, da dança passa em um restaurante, onde turgo britânico ou inspiradas plásticos britânicos. A temática
“O que fazemos são pequenos e do teatro adulto e infantil. os personagens Julie e Lambert em textos literários ou poéticos deverá ser dirigida a jovens a
apoios a peças em cartaz, para Com o patrocínio da Cultura comemoram seu aniversário de autores britânicos, e ser diri- partir de 14 anos.
que, assim, a cultura da Grã- Inglesa, os projetos escolhidos de casamento, acompanha- gida ao público jovem (a partir Os candidatos podem aces-
Bretanha seja propagada no por uma curadoria de jornalis- dos de um casal formado pela dos 14 anos). Os espetáculos sar o site www.culturainglesasp.
Brasil”, disse o gerente cultural tas, acadêmicos e artistas das irmã dela, Prue, e do irmão infantis deverão ser voltados com.br/festival para conhecer
da escola, Laerte Mello. diversas áreas se transformam dele, Matt. Em outra mesa, o a crianças a partir de 7 anos e o regulamento do processo de
Um exemplo é o patrocínio em 15 atrações produzidas es- banqueiro Russel celebra seu inspirados na arte ou na cultura seleção, obter cópia da cha de
do centro de educação para a pecialmente para o festival. sucesso pessoal com a esposa inglesa. As montagens poderão inscrição e esclarecer dúvidas
peça “DNA”, de Dennis Kelly. Na última edição, em maio Suki. A vulgaridade e insensi- seguir padrões convencionais por meio do e-mail festival@
No enredo, um grupo de ado- deste ano, a Cultura Inglesa bilidade grosseira desses perso- de encenação ou adotar os for- culturainglesasp.com.br. As
lescentes comete um grave disponibilizou, ao todo, R$ 487 nagens é a característica princi- matos dos espetáculos de rua e inscrições para a 14ª edição do
erro por levar uma brincadeira mil para patrocinar a produ- pal da obra. teatro de bonecos. Os projetos festival já estão abertas.
16 16 a 31 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Rio de Janeiro

Theatro Municipal
C O M E M O R A C E N T E N Á R I O C O M G R A N D E F E S TA
nicipal de Portas Abertas, que
Aniversário de palco acontece todos os anos na data
Fotos: Divulgação

do aniversário da casa, foi co-


histórico foi marcado por memorado mesmo com o pré-
muita música e dança dio em obras. Pela manhã, o
público pôde entrar no prédio
Por Felipe Sil para apreciar uma exposição
Um dos palcos mais char- montada aos trabalhos de res-
mosos e históricos do Brasil tauração. A história do Theatro
completou 100 anos com uma Municipal foi contada desde o
festa que esteve à altura do projeto de sua criação, no início
nome do Theatro Municipal do da década de 1900, até os dias
Rio. Inaugurado em 1909, no atuais, por meio de um grande
dia 14 de julho, o local tornou- acervo de fotos digitalizadas.
se rapidamente o centro da ati- São aproximadamente mil
vidade lírica e teatral da então fotos, além de vídeos e seis dife-
capital do País. Hoje, é uma das rentes partes: os artistas célebres
maiores atrações turísticas da que passaram pelo palco da casa;
cidade. Fechado desde outubro os grandes espetáculos e eventos
de 2008 para obras de restaura- que zeram parte da programa-
ção e modernização, com previ- ção do Municipal; documentos
são de término para novembro que contam a história da casa,
deste ano, o teatro teve seu cen- “ Floresta Amazônica”, de Villa-Lobos, é encenada em comemoração aos cem anos de Theatro como plantas, croquis e progra-
tenário comemorado na data mas; imagens da construção do
de seu aniversário com muita THEATRO MUNICIPAL: CEM ANOS DE GLÓRIA prédio; detalhes de peças deco-
dança e música em um grande rativas, como as estátuas, vitrais
palco armado na Cinelândia, e afrescos que se espalham pelo
além de uma grande exposição Municipal; e as personalidades
montada no interior do prédio, que passaram por lá. Na exposi-
que lembrou os principais mo- ção estavam imagens de artistas
mentos da casa. da música, da dança e das artes
A celebração, patrocinada 1 2 3 cênicas. São nomes como Enri-
pelo Governo do Estado do Rio co Caruso, Toscanini, Nijinsky,
através da Secretaria de Estado Fernanda Montenegro, Getúlio
de Cultura, começou pela ma- Vargas, Juscelino Kubitschek,
nhã, quando cerca de três mil Vinicius de Moraes, Tom Jobim
pessoas tiveram acesso ao inte- e Oscar Niemeyer.
rior do Theatro Municipal para A partir das 14h, entraram
ver a exposição que reúne fo- em cena os bailarinos do Cor-
tos de seus grandes momentos, po de Baile do Municipal. Eles
além de documentos, programas 4 5 6 apresentaram trechos de vários
e gravações. Às 14h, começaram balés consagrados. Os princi-
as apresentações da Orquestra pais dançarinos da companhia
Sinfônica, do Coro e do Ballet como Márcia Jacqueline, Nora
do Theatro Municipal. Esteves, Filipe Moreira e Cícero
As principais estrelas do Cor- Gomes estavam em cena.
po de Baile do Theatro Munici- Às 20h, teve início o grande
pal estiveram presentes, incluin- concerto da noite, com a Or-
do a consagrada bailarina Ana questra do Theatro Municipal,
Botafogo. A programação teve 7 8 9 regida por Roberto Minczuk,
trechos de “Floresta Amazôni- 1. Ballet Corpo de Baile do Theatro Municipal. 2. Getúlio Vargas no Carnaval de 1951. 3. Leskova, Tatiana e e a participação do Coro do
ca”, “O Corsário” e “Coppelia”. Tamara-Taumanova no Theatro Municipal. 4. Cacilda Becker, Manoel Bandeira e Cleyde Yaconis. 5. La TraviaĴa Theatro, além dos cantores líri-
de ZeĜreli de 1979. 6. Orquestra com Violeta Coelho NeĴo de Freitas. 7. Funcionários na década de 60. 8. Postal
Já às 20h, com a presença de dois colorizado do Theatro Municipal. 9. Postal do Theatro Municipal com a Praça Marechal Floriano, no Rio cos Marcelo Álvarez e Sumi Jo.
importantes nomes da música O público ainda assistiu a mais
lírica internacional, o tenor ar- da coroa do Rio de Janeiro. Co- também, os lançamentos de é muito delicado. É um orgu- dois números de dança dentro
gentino Marcelo Álvarez e a so- memorar o seu centenário é co- uma moeda e um selo comemo- lho estar aqui neste centenário. desse show especial. No pro-
prano coreana Sumi Jo, o Coro e memorar história e emancipação rativo da data. Diversos funcio- Agradeço a secretária Adriana grama noturno, Ana Botafogo
a Orquestra Sinfônica do Thea- com o prazer que o Theatro gera nários da casa foram homena- Rattes e o governador por te- e Francisco Timbó dançaram
tro interpretaram um repertório ao nosso povo”, festeja o gover- geados por serviços prestados rem entregue a joia da coroa um trecho de “Floresta Ama-
franco-brasileiro, com regência nador do Rio, Sérgio Cabral. em um cerimônia que contou em minhas mãos”, diz Carla Ca- zônica”, com coreograa de
do maestro Roberto Minczuk. A secretária de Estado de com a presença dos atores Sér- murati, presidente da Fundação Dalal Achcar; e, para encerrar,
O objetivo do programa foi Cultura, Adriana Rattes, tam- gio Britto e Fernando Eiras. Theatro Municipal. foi apresentada a peça “Grand
lembrar as origens do histórico bém não cansou de tecer elogios “É uma honra e um pre- No momento, o teatro pas- Finale”, também coreografada
prédio, nascido no orescer da ao prédio histórico. “O Theatro sente estar à frente do Theatro sa não só por uma reforma em por Dalal Achcar, reunindo no
república brasileira e inaugurado Municipal é um pilar da cultura num momento tão importan- sua parte estrutural (hidráulica, palco Ana Botafogo, Cláudia
no dia da celebração da queda brasileira e poder comemorar te de sua história, conduzindo elétrica, etc), como também por Mota, Márcia Jaqueline, Fran-
da Bastilha. É também uma ho- seu centenário com uma refor- uma obra que vai devolver ao uma grande modernização. A cisco Timbó, Filipe Moreira, Cí-
menagem ao Ano da França no ma histórica, que o devolverá a Municipal toda a nobreza que ideia é reabrir o Theatro Munici- cero Gomes e o Corpo de Baile.
Brasil, comemorado esse ano. seu viço original, é também uma ele tem e que merece ter intac- pal para o público em novembro Durante as apresentações, os
A comemoração pelo cente- forma de homenagear o traba- ta. É muito bom poder estar com todo o charme centenário bailarinos foram acompanha-
nário de um centro de cultura tão lho de todos os artistas que tra- ao lado da equipe bárbara que do prédio intacto, mas com um dos pela orquestra e pelo coro
importante para o Rio de Janeiro balharam ou trabalharão no tea- tenho aqui, essencial para que atendimento ao público e aos ar- do Theatro Municipal, além
mexeu com políticos e autorida- tro e de presentear o público do eu possa executar tarefas tão tistas dignos do atual século. da cantora Sumi Jo, que inter-
des. “Foi um instrumento funda- Rio de Janeiro”, celebra. importantes, não só na parte da pretou “Canção de Amor”, de
mental de emancipação do povo. A celebração do centenário programação, mas como todo PROGRAMAÇÃO Villa-Lobos, na apresentação de
O Theatro Municipal é uma joia do Theatro Municipal incluiu, o trabalho de restauração, que O tradicional Dia do Mu- “Floresta Amazônica”.
Jornal de Teatro 16 a 31 de Julho de 2009
17
Festivais
Festlip promove intercâmbio cultural entre países lusófonos
Por Daniel Pinton
Divulgação

ESPETÁCULOS ENCENADOS
Se por um lado a aplicação De Angola: Espetáculo “Psycho” - texto de
do Novo Acordo Ortográco - Grupo Elinga Teatro Valódia Monteiro e direção de
da Língua Portuguesa trouxe a Espetáculo “Kimpa Vita: A Profe- Herlandson Lima Duarte
equiparação da escrita entre os tiza Ardente” - texto e direção de
países colonizados por Portugal, José Mena Abrantes De Guiné Bissau:
a segunda edição da Festlip (Fes- - Grupo Horizonte Nzinga Bandi - Grupo Teatro do Oprimido –
tival de Teatro da Língua Portu- Espetáculo “Sobreviver no Tarra- Bissau GTO
guesa), ocorrida de entre os dias fal” - texto de Antônio Jacinto e Espetáculo “Nó Mama – Frutos da
2 e 12 de julho, no Rio de Janei- direção de Adelino Caracol Mesma Árvore”
ro, celebrou as diferenças cultu-
rais entre Angola, Brasil, Cabo Do Brasil: De Moçambique:
Verde, Guiné-Bissau, Moçam- - Cia. Luna Lunera (Belo Horizon- - Grupo M’BEU
bique e Portugal. Além de 11 te-MG) Espetáculo “O Homem Ideal” -
espetáculos teatrais, abertos ao Espetáculo “Cortiços” - concep- texto e direção de Evaristo Abreu
público, encenados por grupos ção da Cia. Luna Lunera e Tuca Pi- - Grupo Tijac
nheiro e direção de Tuca Pinheiro Espetáculo “Mar Me Quer” -
destes países no Espaço Sesc,
- Cia. de Teatro Antroexposto (São texto de Mia Couto e direção de
no Sesc Tijuca e no Teatro Sesc Mia Couto é o homenageado e ganhador do Troféu Festilip-2009 Paulo-SP) Mickael Fontaine
Ginástico, eventos temáticos fo- Espetáculo “Complexo Sistema de
ram promovidos pela cidade em atores de língua portuguesa e, no tival e pode ser conferida até o Enfraquecimento as Sensibilidade” De Portugal:
busca de maior intercâmbio de futuro, dar origem a uma coope- dia 31 de julho, durante a Mostra - texto e direção de Ruy Filho - Companhia Teatral Primeiros Sintomas
informações entre os represen- rativa de prossionais de teatro”, Gourmet – O Sabor da Língua Espetáculo “Lindos Dias” - texto
tantes da língua lusófona. projeta Tânia Pires, idealizadora e Portuguesa, no Restaurante 00 De Cabo Verde: de Miguel Castro Caldas e direção
“Um dos objetivos do festival produtora do Festlip. Cozinha Contemporânea, na - Grupo de Teatro do Centro Cultu- de Bruno Bravo
é justamente tornar possível este O movimento artístico do Gávea (anexo ao Planetário). ral Português de Mindelo - Companhia Teatral Artistas Unidos
diálogo entre as linguagens de festival, no entanto, não cou “Ainda existe, no Brasil, o não Espetáculo “No Inferno” - texto e Espetáculo “Uma Solidão Dema-
trabalho em diferentes culturas, restrito apenas aos palcos tea- despertar para o conhecimento e direção de João Branco siado Ruidosa” - texto de Bohimil
de tornar viável um encontro de trais. No dia 4 de julho, o Estrela consumo das culturas dos nossos - Companhia de Teatro Solaris Hrabal e direção de Antônio Simão
irmãos de língua para uma comu- da Lapa recebeu o Festlipshow, irmãos de língua. Enquanto isso,
nicação sem fronteiras. Se a uni- uma série de apresentações mu- a cultura brasileira adentra sem é a referência mais forte de um miado escritor e dramaturgo
cação do idioma é uma questão sicais com artistas lusófonos grandes diculdades e permeada povo. Essa distância só tem um moçambicano Mia Couto, prota-
complexa, a unicação pelo te- como Fidjus e Mario Lucio, de de aplausos em todos os países caminho a ser quebrada, através gonista de expressiva contribui-
atro também é, mas tem se tor- Cabo Verde; Abel Duerê, de An- da língua lusófona. Na primeira do intercâmbio cultural entre es- ção e aprimoramento do teatro
nado realidade. Através das artes gola; DJ Falcão e Bongar – Coco edição do Festlip, cou claro que ses países”, justica Tânia. em seu país. O prêmio revelação
cênicas, pode-se reetir sobre da Xambá, do Brasil. A gastro- a unicação da língua falada é Nesta edição do festival, o cou com o grupo português
esta questão. A ideia é, inclusive, nomia dos países também se fez algo intangível. A peculiaridade homenageado e ganhador do Artistas Unidos pela peça “Uma
criar um banco de dados com os presente desde a abertura do fes- das expressões e vocabulários Troféu Festlip – 2009 foi o pre- Solidão Demasiado Ruidosa”.

Com sucesso, FIL leva programação multicultural a São Paulo


A sétima edição do FIL
Jackeline Negri

(Festival Internacional Intercâm- ESPETÁCULOS APRESENTADOS


bio de Linguagens) não apenas
trouxe mais uma vez ao público - Cia. Caixa do Elefante (Rio e direção de Fernando Escrich
carioca seu anual conceito holís- Grande do Sul)
Espetáculo “Banda Salsicha Re- - Cia. Scénes de Cirque (França)
tico de arte, mas também, pela Espetáculo “9.81” - roteiro,
cheada” - criação de Cia. Caixa
primeira vez, levou a São Paulo performance e direção de Eric
do Elefante
sua programação multicultural. Lecomte
Celebrando o Ano da França no - Cia. Eolienne (França)
Brasil, o evento apresentou, entre Espetáculo “Les Jardins d’Eden” - Cia. de Teatro Artesanal (Rio
os dias 2 e 7 de julho – no Rio de - direção de Florence Caillon de Janeiro)
Janeiro –, e entre 7 e 12 de julho Espetáculo “A Lenda do Prín-
– em São Paulo –, grupos teatrais - Cia. Étant Donné (França) cipe que tinha Rosto” - texto
“ A lenda do príncipe que tinha rosto” fez sucesso no festival
nacionais e franceses. Espetáculo “Papotages – Taga- de Gustavo Bicalho e direção
Na edição carioca, participa- nelas para os novos espectadores. perlotou. Queremos plantar uma relices” - criação de Frédérike de Gustavo Bicalho e Henrique
ram sete companhias francesas, Nossa intenção é a mistura. O semente. Mostrar o que se produz Unger e Jérôme Ferron Gonçalves
sete companhias brasileiras - com encontro possível de linguagens, de diferente e inovador para toda Espetáculo “ZigZag” - criação
direito a um work in progress de público e gerações. Só é possível a família”, explica Karen. de Frédérike Unger e Jérôme - Cia. Teatro Jovem (Rio de Janeiro)
binacionalidade, quatro ocinas transmitir cultura e identidade se Mesmo com o sucesso do Ferron Espetáculo “O Homem da Cabe-
gratuitas, uma mesa-redonda e a recebermos desde pequenos”, FIL na chegada à mais nova sede ça de Papelão” - texto de João
um workshop. Os espetáculos comenta Karen Acioly, idealiza- do evento, a organização do fes- - Cia. Florence (França) do Rio adaptado por Eduardo
foram encenados no Centro de dora e diretora-artística do FIL. tival descarta incluir mais uma Espetáculo “Un Petit Chaperon Bakr e direção de Tadeu Aguiar
Referência Cultura Infância/ Em São Paulo, apesar do nú- cidade, por enquanto, para suas Rouge” - direção de Florence
Teatro Municipal do Jockey, no mero menor de apresentações e apresentações. A ideia é primei- Lavaud - Cie Arcosm (França)
Centro Cultural Banco do Brasil Espetáculo “Lulu et la Malle Ai-
do período mais curto de exibição ro consolidar o festival em São
(Teatros 1 e 3), Teatro Planetário, - Cia. Jérôme Thomas (França) mée” - roteiro, performance e di-
do festival, o FIL deu, em sua es- Paulo para, depois, seguir para reção de Eléonore Guisnet-Meyer
Teatro da Caixa Econômica Fe- Espetáculo “Duo” - performan-
treia, seu primeiro passo em busca outros locais, assim como acon-
deral, Centro Cultural Oi Futuro ce de Jérôme Thomas e Jean
de popularizar o evento na cidade teceu quando começou no Rio François Baez e direção de - Fábulosa Cia. de Bonecos
e Teatro Carlos Gomes. com a exibição dos espetáculos de Janeiro, em 2002. Para 2010, (Belo Horizonte)
Jérôme Thomas
“A resposta do público foi “A Lenda do Príncipe que tinha o festival volta a receber grupos Espetáculo “João e o Pé de Fei-
acima da esperada. Tivemos mui- Rosto”, do Brasil; “Fedegunda”, não apenas vindos da França, - Cia. Mamulengos Só Riso (Recife) jão” - texto de Charles Perrault
ta procura. Cada vez mais busca- binacional; e “9.81”, “Lulu et la mas também de nacionalidades Espetáculo “Folgazões & Foli- adaptado por Eduardo Felix e
mos trabalhos que mostrem ino- Malle Aimée”, “Un Petit Chape- diversicadas. “Convidaremos ões” - texto e direção de Fer- Márcio Gouvêa e direção de Ju-
vação e ousadia sempre aliados ron Rouge” vindos da França. grupos de vários países. Ano que nando Augusto Gonçalves nia Melillo
ao renamento da percepção do “No ano passado tivemos um pú- vem nosso formato volta ao nor-
imaginário e das agradáveis sen- blico de 14 mil pessoas. Estamos mal e queremos uma presença - Cia. Le Plat du Jour (São Paulo) - Fedegunda (Rio de Janeiro e
sações humanas. Desta forma, muito felizes por chegar a São bem forte da nossa brasilidade Espetáculo “Chapeuzinho Ver- França)
nosso festival é el ao público já Paulo. Mesmo que em um forma- e da América Latina”, projeta a melho” - texto de Le Plat du Jour Texto e direção de Karen Acioly
conquistado e abre as portas e ja- to tímido, foi um espetáculo. Su- idealizadora. (Daniel Pinton)
18 16 a 31 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Festivais
S U C E S S O S M U N D I A I S N O S PA L C O S D E

Por Adriana Machado


PORTO ALEGRE
Porto Alegre em Cena divulga a programação de sua 16ª. edição, com mais de 50 espetáculos

tralização da cultura e ruas de


Porto Alegre. Fotos: Divulgação
Fanáticos, apreciadores ou A 16ª edição promete não
simplesmente simpatizantes do ser diferente. O espetáculo
teatro devem car atentos e ano- Quartett, do diretor Bob Wil-
tar na agenda a extensa progra- son, será protagonizado pela
mação prevista entre 8 e 21 de atriz francesa Isabelle Huppert,
setembro. Nestes dias, a capital encerrando o evento, nos dias
gaúcha será, literalmente, palco 23, 24 e 25 de setembro, no Te-
de mais de 50 espetáculos, entre atro do Sesi, com capacidade
nacionais e internacionais, da para 1.790 pessoas. Outra estre-
16ª edição do Porto Alegre em la internacional que brilhará na
Cena, festival organizado pela capital gaúcha é Patrice Chére-
Secretaria de Cultura de Porto au, marcando o Ano da França
Alegre e que ganhou projeção no Brasil. Entre os grupos na- “Rainha(s) - Duas atrizes em busca de um personagem” será destaque
fora do País graças à excelên- cionais destaca-se Amok Teatro,
cia de sua programação. Prova com a peça O Dragão, retratan- DIVERSIDADE CULTURAL PARA TODOS OS GOSTOS
disso é ter sido selecionado, do o conito entre palestinos e
este ano, pelo Ministério do Tu- israelenses, a dança Dolores (do “ O Dragão”: Guerra gera reexão França e Canadá serão os dois países mais presentes e representativos
rismo, como um dos grandes Mimulus, de Belo Horizonte), do 16º Porto Alegre em Cena. Sem desmerecer os espetáculos nacionais,
eventos geradores de uxo tu- livremente inspirado na obra Paulo Vasconcellos, jornalistas, com certeza a atração mais importante é a peça Quartett, que trará pela
rístico e propagação da imagem de Pedro Almodóvar e os balés diretores e atores locais. primeira vez um espetáculo de Bob Wilson para o Estado, ao lado de gran-
positiva do Brasil. Les Noces e Serenade, da São Segundo Fogaça, o Porto des nomes do teatro mundial, integrantes da programação em edições an-
Realizado pela prefeitura Paulo Cia de Dança. Alegre em Cena liga a cida- teriores, tais como Peter Brook, Eimuntas Nekrosius e Frank Castorf e Ariane
da capital gaúcha, o Em Cena Também vão concorrer ao de com o que há de ponta no Mnouchkine. A montagem francesa de Quartett, texto do alemão Heiner
traz, anualmente, reconhecidas mundo cultural do planeta. “O Muller, será marcada pela presença da atriz Isabelle Hupert, presença mar-
Prêmio Braskem (um dos pa-
montagens (incluindo de músi- evento ganhou signicado nos cante em filmes cinematográficos.
trocinadores desta edição) dez Outra presença francesa é a do cineasta Patrice Chéreau, do filme Rai-
ca e dança), muitas delas com espetáculos locais. “O evento últimos anos pela elevação dos
nha Margot (1994), atuando como ator em O Grande Inquisidor e dirigindo
diretores e atores que raramen- colocou a capital gaúcha no seus espetáculos”, acrescentou sua atriz fetiche, Dominique Blanc, em La Doleur, adaptação de obra de
te vêm ao Brasil, além de mos- mapa mundial, trazendo alguns o prefeito. “É sempre impor- Marguerite Duras. Do Canadá são três as opções: Crépuscule des Océans,
trar um signicativo recorte da dos melhores encenadores do tante revolucionar a cidade, da companhia Daniel Léveillé Danse; In Paradisum, da Coleman Lemieux &
cena local. O Théâtre du So- século 20. O Em Cena foi cres- compartilhar a energia criadora, Compagnie´s, e Kiss Bill (paródia do filme Kill Bill), da portuguesa radicada
leil, presente na programação cendo de importância, é assim esta lava vulcânica repleta de no Canadá, Paula Vasconcellos. Crépuscule é a terceira obra de uma tri-
do Em Cena, em 2007, é um que se trabalha a arte”, arma muitos diálogos e atores fora logia do coreógrafo canadense Daniel Léveillé. A montagem utiliza corpos
dos exemplos, assim como as Luciano Alabarse, curador e do País”, completou Carlota musculosos onde cada movimento pode ser percebido.
vindas de Peter Brook, Nekro- coordenador do festival. Na Albuquerque, diretora da Terp- Os bailarinos entram em cena nus ou com roupas de baixo e executam
sius e a grande atriz argentina coletiva de imprensa, realizada sí Teatro de Dança. Luiz Paulo com maestria movimentos ora sutis, ora enérgicos. Tudo sob a trilha sono-
Norma Aleandro, entre tantos no dia 7 de julho, no Solar Para- Vasconcellos, por sua vez, gos- ra das Sonatas Para Piano, de Beethoven, que dão o clima que a peça es-
outros encenadores, atores, íso, em Porto Alegre, estiveram tou da programação. “O mais sencialmente lírica pede. Léveillé é um dos mais conceituados coreógrafos
bailarinos e musicistas. Esses presentes autoridades locais, importante de tudo é surpreen- canadenses e sua marca é o vigor físico dos seus bailarinos. O espetáculo
espetáculos movimentam a como o prefeito da cidade, José der”, disse. O diretor teatral até In Paradisum, ainda do Canadá, também é dança e uma criação do coreó-
cidade durante duas semanas Fogaça, o secretário municipal citou a presença do espetáculo grafo James Kudelka, montagem cheia de emoções fortes, técnica, humor,
e ocupam teatros, espaços pú- da cultura, Sergius Gonzaga, gaúcho “O Sobrado” como sutilezas e olhares marotos, num espetáculo que mostra os bailarinos em
blicos das regiões da descen- um dos homenageados, Luiz uma escolha acertada. duetos, exaltando o amor.
Mas o 16º Porto Alegre em Cena trará também algumas curiosidades
e outras inovações cênicas, como a apresentação do teatro de bonecos,
representado por Giacomina em Voyage, da companhia Is Mascareddas,
vinda da Sardenha, na Itália, numa homenagem à ópera de Eugênio Tavo-
lana e Tosino Anfossi. Outra é a montagem uruguaia de um texto brasileiro
de Nelson Rodrigues, Los Siete Gatitos, dirigido por Sergio Lazzo. Do mes-
mo país vem El Ultimo Fuego, da dramaturga alemã Dea Loher, numa visão
da realidade atual: a insegurança, o terrorismo, a violência, as drogas e um
universo caótico espremido num espaço fechado.
Da Argentina, as atrações são Luisa de Estrella contra su Casa, do dire-
tor Ariel Farace, que constrói um retrato da solidão utilizando um cotidiano
repetitivo e metódico. Da Colômbia vem Simplesmente el fin Del Mundo,
onde, depois de muitos anos de ausência, homem volta para anunciar sua
morte para a família, acertar contas e retomar assuntos pendentes antes
de desaparecer, com direção de Manuel Enrique Orjuela Cortés. E do Chile,
o grupo Teatro em el Blanco apresenta duas peças: Diciembre (obra de fic-
ção política) e Neva, livremente inspirada no histórico massacre nas ruas
da cidade, fato conhecido como Domingo Sangrento.
Não menos importantes, a programação contará também com as atra-
ções nacionais em espetáculos vindos de diversas regiões do País tais
como Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Bahia,
Rio Grande do Sul, Belo Horizonte, Goiás e Rio Grande do Sul. Os temas
abordados são os mais diversos possíveis, espetáculos livremente inspira-
dos em grandes obras (Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa), e no
trabalho de dramaturgos no porte de Nelson Rodrigues e William Shakes-
peare, em histórias marcantes, surpreendentes, ousadas, que farão refletir
Adaptação de Lya LuĞ, “O silêncio dos amantes”aborda as dores da falta de comunicação humana e emocionarão o público de todas as maneiras.
Jornal de Teatro 16 a 31 de Julho de 2009
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Formação

Da Bahia para o Brasil


Criada em 1956, Escola de Teatro da UFBA foi a primeira do País ligada a uma instituição de nível superior

Por Carla Costa ção”, diz Raimundo.


Fotos: Divulgação

À frente da Escola de Te-


Em agosto, a Escola de Te- atro desde 2008, o diretor
atro da UFBA (Universidade Daniel Marques explica que
Federal da Bahia) comemora 53 a escola de teatro possui três
anos de funcionamento. Cria- habilitações (direção, interpre-
da em 1956, foi a primeira do tação e literatura) lecionadas
Brasil construída dentro de um em sete semestres. Nos últi-
espaço universitário e ligada a mos anos, a instituição recebeu
uma instituição de nível supe- nota máxima (seis) na avaliação
rior. Outro ponto de destaque realizada pela Capes, em sua
da escola baiana é o fato de ser pós-graduação (Mestrado e
a única do País a possuir quatro Doutorado), assim como nota
espaços de artes separadas. máxima (cinco) em seus cursos
Na instituição, é possível de g-raduação, avaliação reali-
encontrar, além da graduação zada pelo Guia do Estudante,
em teatro, a formação em dan- publicação que há 12 anos ava-
ça, música e a escola de belas lia as instituições de ensino su-
artes. O antes e o depois da perior brasileiras. “A Escola de
criação da Escola de Teatro Teatro da UFBA é hoje, assim
da UFBA modica totalmente como no passado, um centro
a história do teatro baiano, já de referência da arte teatral no
que sua existência tem propor- Brasil”, arma.
cionado novas possibilidades O gestor revela que o nú-
para que o papel do encenador, mero de inscritos no processo
tipos de atuação e o uso da seletivo deu um salto dos anos
iluminação elétrica sejam tra- 90 para cá. Para ele, o aumento
balhados sistematicamente nas na procura, ao passar dos tem-
artes cênicas de Salvador. pos, é o reexo da mudança da
Escola de Teatro da UFBA é única do País a possuir quatro espaços de artes separados
O projeto, na época inova- sociedade que, no decorrer dos
dor, foi idealizado pelo reitor anos, mais precisamente após
Edgard Santos, que buscou a mundo Leão. a ditadura, passou a dar mais
identidade da universidade a Segundo ele, depois da cria- atenção às áreas sensíveis e
partir da cultura e da arte, bem ção da Escola de Teatro, pen- desperta o interesse na forma-
como sua integração com a sando no teatro que se fez na ção de ator. “A gente não quer
ciência. Para concretizar seus Bahia, houve uma mudança ra- só comida, diversão e arte! Ain-
objetivos, o reitor convidou dical na maneira de se encenar. da bem que o homem do sécu-
o diretor e cenógrafo Martim “O espetáculo tomou outra lo XX é um homem completo
Gonçalves para dirigir o espaço dimensão e fazer teatro deixou e que tem ânsia por diversão”,
artístico-pedagógico que ajudou de ser uma atividade diletante arma Daniel.
a prover uma formação univer- para se tornar uma prática or- Anualmente, cerca de 20
sitária e artística experimental ganizada por outros códigos. espetáculos são montados por
e prossionalizante, modelar e, As plateias passaram a ver es- professores, alunos e artistas
sobretudo, contemporânea. petáculos de qualidade estética convidados. As apresentações
De acordo com o drama- Teatro baiano pode ser dividido entre o antes e o depois da UFBA
inegável”, frisou. são realizadas nos espaços cul-
turgo, arte-educador e doutor Atualmente, Salvador pos- turais da cidade, mas para o
em artes cênicas pela UFBA da e aparelhada para ser a es- DelRey, Lia Mara, João Gama e sui cinco escolas de teatro, diretor, ainda assim, é quase
Raimundo Leão, o vínculo à cola, construindo-se o Teatro Othon Bastos. além das ocinas que são mi- que impossível a inserção des-
universidade deu maior ascen- Santo Antônio – inaugurado “Estudar aqui foi uma das nistradas em outros espaços e ses prossionais no mercado
são à escola. “É possível com- em 1958. A encenação de “Se- coisas mais importantes da acontecem durante todo ano, de trabalho. “É difícil, não só
provar isto pela documentação nhorita Júlia”, texto de August minha vida. Eu tive a sorte de proporcionando o contato dos aqui em Salvador, que os atores
existente e registros dos jornais Strindberg, sob a direção de aprender com ótimos pros- interessados com os temas e e diretores, mesmo após a for-
e revistas da época”, explica. O Martim Gonçalves, marcou a sionais e hoje, como professor conteúdos da arte teatral. Para mação na faculdade, consigam
que, para ele, possibilitou, tam- abertura da nova sede. desta unidade, faço questão de Leão, não existe diferença en- emprego e possam se sustentar
bém, que outras instituições A partir desse momento, o manter a qualidade de ensino tre o que se ensina nas escolas ao longo da vida. Digo para
universitárias se mobilizassem pequeno teatro concentrou as que tive”, revela o ex-aluno da de teatro do eixo Rio-São Pau- meus alunos essa realidade e
para criar cursos de teatro. produções do grupo A Barca Escola de Teatro nos anos 60, lo. Ele explica que pode haver sempre deixo claro que eles de-
Leão explica que, inicial- da Escola de Teatro. Após os Arildo Deda. apenas diferenças de discipli- vem sempre fazer um trabalho
mente, a Escola de Teatro sete anos de reforma, o teatro Mesmo nos momentos nas ou no conteúdo didático, diferenciado, criativo e, acima
funcionou no porão da reito- foi totalmente reestruturado de crise, o teatro não deixou além da disponibilidade de ins- de tudo, honesto”, diz.
ria. Depois passou a ocupar o e reformado, passando a ser de apresentar a sua produção tituições de ensino para o exer- Daniel revela que, para ele,
casarão onde hoje está situada chamado Martim Gonçalves, artístico-pedagógica ao criar cício da atividade. o principal motivo para a falta
uma unidade da Residência em homenagem ao seu pri- um estreito vínculo não apenas “O que há de peculiar no de emprego é a falta de von-
Universitária. Atualmente ocu- meiro administrador. com o público universitário, Sul é a quantidade de espaços tade política. “Deveria ser re-
pa o casarão do antigo Solar Ao longo de sua trajetória, a mas acolhendo diversos seg- destinados ao ensino do tea- alizado um encaminhamento
Santo Antônio. O edifício é instituição passou por diversas mentos da população sotero- tro, tanto os públicos quanto melhor dos alunos para a pro-
um projeto do arquiteto Rossi fases e esteve sempre presente politana. “De 1956 até o sur- os particulares. Ao cursar o ssão. Por que não criam con-
Baptista, construído para ser na vida cultural da cidade. Por gimento da Sociedade Teatro bacharelado e a licenciatura, o cursos públicos para que os
a residência do comendador ela passaram diversos nomes dos Novos (1959), responsável aluno recebe um cabedal de in- estudantes formados passem a
Bernardo Martins Catharino. de destaque no cenário artís- pela construção do Teatro Vila formação que lhe dá segurança ensinar a alunos de escolas pú-
Nos anos 1940, funcionou tico brasileiro como os atores Velha, a Escola de Teatro foi o para atuar e produzir conheci- blicas? É tão simples resolver
nas instalações de um antigo Milton Gonçalves, Roberto centro irradiador da produção mento na área, isso incluindo isso, mas ninguém faz nada”,
hotel. A construção foi adapta- Assis, Nilda Spencer, Geraldo teatral baiana”, explica Rai- os programas de pós-gradua- desabafa o educador.
20 16 a 31 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Opinião
Pensamentos insignicantes sobre os tais laboratórios
Por Gerson Esteves da mediocridade, do lugar- completar o que o outro come-

Fotos: Divulgação
comum, do esculacho que é a çou. O “ser mestre” é a gente
Outro dia eu vi uma entre- memória cultural de todo can- começar a perceber que nossa
vista no Jô com aquela atriz to, em qualquer lugar. vivência é mais épica do que
que foi modelo. (Como é o Entre nós, é inevitável lem- psicológica. O ator é um privi-
nome dela? Não tem impor- brar-se de nomes como o de legiado. A vontade de ser ator
tância.) É uma que faz sempre Maria Alice, que cou conhe- é o desejo de se desprender.
e só novelas do mesmo autor, cida pelo grande público como Quem estiver numa boa escola
dirigidas pelo mesmo diretor. a velhinha que andou dando ou grupo de teatro não precisa
Essas novelas que têm homem uns tapas na Pantera! A Maria fazer terapia.”
sem camisa o tempo todo. formou artistas, participou da É a mesma loucura que
O negócio é que ela estava montagem histórica do “Rei movia a Myriam Muniz. Um
lá ridicularizando os cursos de da Vela” no Ocina, fundou dia eu a vi, numa sala de aula,
teatro que zera nos anos 70 os dois núcleos do Teatro do protagonizar uma das cenas
nos States. E sacaneou com o Ornitorrinco, se apresentou mais fortes e delicadas que já
Living Theatre! Logo o avô do por todo o mundo, fez cine- presenciei no ensino do teatro.
teatro alternativo, o pai do off- ma e até deu o ar da sua graça Ela colocou um jovem ator
broadway, uma das grandes in- na TV. E ca reduzida a uma em pé e disse pra ele com a
venções do teatro norte-ame- bizarra velinha maconheira!? sua voz italianadamente rouca,
ricano no século XX (houve Uma grande brincadeira, cla- de quem fumava e bebia uma
teatro americano antes do séc. ro. Que ela só topou graças à boa cervejinha... Ela disse: “eu
XX?). Ficou um tempão fa- sua conança na juventude e vou fazer uma coisa em você e
Gerson Steves tem 25 anos de atividades teatrais
zendo piada dos exercícios, da nas novas ideias. À sua mara- você reage”. na cidade de São Paulo, tendo atuado como diretor,
pesquisa, das ferramentas de vilhosa loucura sã! Daí ela pôs as mãos no pei- dramaturgo, ator, produtor e professor. Portanto, fez
descoberta de uma nova cena, Em sua autobiograa não- to do jovem e deu um empur-
de um novo tipo de ator, mais autorizada, Maria diz: “Os ar- rão. A reação dele foi apenas de muita pesquisa na vida.
corporal, por vezes mais visce- tistas tendem a intuir o futuro, afastamento. Ela deu um passo
ral e talvez até menos técnico. deixam o inconsciente livre, em direção a ele e deu outro com a mesma voz, só que ter- a pasteurização dos enlatados.
Um ator criativo e, sobretudo, permitem o vir-a-ser. Isso me empurrão. Novo afastamento. namente: “você só sabe fugir, É por essas e mais aquelas
senhor da sua criação. torna aventureira, sabendo que Isso se repetiu algumas vezes né? Não precisa ter medo... isso que prero não usar a palavra
Então me lembrei da Judith ninguém é dono de uma úni- até que ela começou a bater o aqui é só teatro... é tudo de brin- que arrepia – laboratório. Nun-
Malina e do Julian Beck, fun- ca verdade, e eu deixo uir a pé e o jovem começou a car cadeirinha, bobo!” ca usei. Sempre optei pelos
dadores do Living Theatre. A minha intuição, gozo com ela acuado. Num dado momento, Judith Malina, Maria Alice termos pesquisa, investigação,
Judith Malina é a memorável principalmente quando en- ele começou a correr em cír- e Myriam Muniz... todas fun- experimentação. Um velho
vovó da “Família Adams I”. E contro um outro que também culos e ela correndo atrás dele. dadoras, atrizes e diretoras de professor dizia mais ou menos
o Julian todo mundo conhece embarca nessa... Percebo nis- Até que ela parou, virou-se e um teatro vivo, investigativo, assim: “nos anos 60 a gente fa-
como aquela gura assustado- so um caráter espontâneo de apenas esperou que ele viesse instigante. Um teatro sem ver- zia tanto laboratório... mistura-
ramente magra no “Poltergeist solidariedade. Tudo já foi dito correndo até o seu encontro, dades absolutas, sem certezas. va os ingredientes, não anotava
2”. Pois é... Eles revoluciona- de outras maneiras. A gente, completando o círculo. Nesse De onde brotam as dúvidas, de a fórmula nem as condições de
ram o teatro e caram lem- no máximo, pode reorganizar instante, diante do susto do onde saem as respostas, de onde experimentação... feito cientis-
brados por esses dois lmes aquilo que já foi expresso. Des- aluno ao dar de cara com a nascem as verdadeiras obras de ta maluco que, um dia, acaba
de segunda! São os mistérios sa forma poderemos sempre mestra, ela o amparou e disse arte e os grandes atores – e não mandando tudo pros ares!”

A experiência de quem viveu a loucura (nos palcos)


Por Gabriel Miziara visitaríamos. Nos apresentam fa- é um homem que avidamente do espetáculo absolutamente
cetas, espelhamentos de nós es- se questiona, que purga suas esgotado física e mentalmente.
“Loucura” é um espetáculo palhados nas personagens e nas dores através de palavras e cir- Este território exige viscera-
que advém de uma pesquisa so- vidas de Shakespeare, Camus, cunstâncias alheias a ele. Nesse lidade, exige o não poupar-se.
bre este tema que a mim sempre Beckett, Brecht, Jung, Rilke, en- sentido podemos estabelecer Levei sim “o personagem pra
foi inquietante. O “louco” mui- tre tantos outros. uma relação desse louco com cama”, muitas noites de insô-
tas vezes é colocado como um E foi a partir deste territó- o trabalho de ator. Será que no nia, pesadelos, exaustão. Duran-
ser que perdeu o contato com rio, do imaginário desses auto- ofício do ator, de algum modo te o período de ensaios muitas
a realidade e me pergunto: será? res, que nasceu o espetáculo. não encontramos essa mesma vezes zemos três “gerais” e o
Ele pode simplesmente enxergar Conjuntamente com Marcelo busca? Importante salientar terceiro era sempre o melhor,
com novos olhos coisas que sim- Lazzaratto, diretor e mais que que durante o processo op- pois desta exaustão brotava a
plesmente não queremos olhar, isso, um grande companheiro tamos por não fazer visitas a verdade deste homem, exausto
dada a sua profundidade, sua de vida e de palco, mergulhamos instituições psiquiátricas que- por debater-se consigo mesmo.
intensidade. Um “louco” é um nesta pesquisa, entrevendo nas ríamos descobrir como a “lou- Eu era muito jovem na época,
homem perdido em si, perder- páginas desses autores trechos cura” em mim se manifestava. estreei “Loucura” com 23 anos,
se em si é entrar no labirinto do que iluminassem a “Loucura”. Em 2001 estreou “Loucura” recém saído do Teatro-escola
Rei Minos sem o o de Ariadne, Seis meses depois, em dois ns monólogo da Cia. Elevador de Célia Helena – onde me formei
é encontrar o Minotauro, meio de semana, entre pilhas de livros Teatro Panorâmico. Como es- e onde hoje dou aula. Olhando
homem, meio bicho e ser de- e textos, conseguimos o esque- creveu Alberto Guzik em sua a trajetória desde a estreia até
vorado. A porção animal vem à leto dramatúrgico da peça. Op- crítica no jornal “O Estado de hoje e contabilizando mais ou
tona e tudo que é imposto como tamos por a peça acontecer em São Paulo”: “Loucura é o mais menos 150 apresentações, o
bons costumes, regras sociais e uma revolução solar, ou seja, um verbal dos espetáculos físicos e espetáculo foi se modicando,
acordos se desfazem. O “louco” dia na vida deste “louco” que o mais físico dos espetáculos da mas se modicando por dentro,
de nosso espetáculo não segue nunca nomeamos, ele apenas é. palavra”. O que é apresentado visto que as inquietações mu- Gabriel Miziara é ator e
as regras, não tem superego que O que se tem no palco é um ta- ao público em 50 minutos é pul- dam, novas perguntas são feitas. diretor, membro da Cia.
lhe diga o que é certo ou errado, blado branco e um ator. Um dia são e potência dentro de uma Em “Loucura” não procuramos Elevador de Teatro Pano-
ele é id puro; pulsão e potência. esse “louco” foi colocado neste partitura física rígida e desta col- responder, dar um diagnóstico
Sempre tive na literatura uma espaço – seria uma cela? – e ali cha de retalhos textual elemen- sobre o tema e sim dividir per- râmico que ano que vem
aliada – poesia, prosa, dramatur- é abastecido por livros, comida, tos que indicam a fragmentação guntas, propor questionamen- comemora dez anos de
gia, biograa – são mundos que um urinol para as necessidades deste homem. Contabilizo no tos. Muitas vezes escutamos
se abrem, ampliam a imaginação siológicas e no momento de corpo pontos no queixo, uma que o espetáculo deveria se cha- existência. “Loucura” foi
do ator, nos colocam em lugares revolta uma camisa de força, artéria estourada no braço, ca- mar “Sanidade” e não “Loucu- seu primeiro monólogo.
que sozinhos muitas vezes não claro. O que ele busca? Ele los, luxações. Muitas vezes sai ra”, exatamente por isso.
Jornal de Teatro 16 a 31 de Julho de 2009
21
Vida & Obra

Ariano Suassuna:
SIMPLESMENTE IMPERDÍVEL
Conhecido como um decifrador de brasilidades, o paraibano mais pernambucano do Brasil faz da arte um dom e encanta a todos

Por Alysson Cardinali Neto nião e que, este ano, completa


ABr

Chico Lima
50 anos de carreira), com inter-
“Arte, para mim, não é pro- pretação dos atores Guilherme
duto de mercado. Podem me Piva, Bianca Byington, Ernani
chamar de romântico. Arte, para Moraes, Daniela Fontan e gran-
mim, é missão, vocação e festa”. de elenco, a peça narra a história
Assim pensa Ariano Suassuna, de Joaquim Simão (Guilherme
82 anos, escritor, dramaturgo, Piva), poeta de cordel, pobre e
músico, artista plástico, advoga- “preguiçoso”, que só pensa em
do, professor, pensador e tantas dormir (estará em cartaz a partir
outras denições que possam do dia 7 de agosto, no Teatro das
explicar a personalidade e o ta- Artes, no Shopping Eldorado
lento deste que é considerado em São Paulo).
um decifrador de brasilidades. Joaquim é casado com Ne-
Nascido na Cidade da Parahyba vinha (Daniela Fontan), mulher
– hoje João Pessoa (PB) –, em 16 religiosa e dedicada ao marido e
de junho de 1927, Suassuna, des- aos lhos. O casal mais rico da
de a adolescência, dedica-se, de cidade, Aderaldo Catacão (Erna-
corpo e alma, à missão de fazer ni Moraes) e Clarabela (Bianca
arte e levá-la a um povo faminto Byington), possui um relaciona-
não só por comida, mas por co- mento aberto. Aderaldo é apai-
nhecimento. Defensor militan- xonado por Nevinha e Clarabela
te da cultura do Nordeste, Su- quer conquistar Joaquim Simão.
assuna, através de sua vocação Três demônios fazem de tudo
para essa arte, extraiu o que há para que o pobre casal se ren-
de melhor dela e, com estilo da a tentação e caia no pecado,
próprio, fez – e ainda faz – a enquanto dois santos tentam
festa de seus admiradores. De- intervir. Jesus observa e avalia
talhe: que se espalham não só tudo. A partir daí, situações
pelo Nordeste brasileiro, mas inusitadas e muito divertidas
por todo o País, pelo mundo. fazem deste texto uma das pe-
O Movimento Armorial, ças mais divertidas do teatro
criado por Ariano Suassuna, é Ariano Suassuna inspira, há decadas, jovens artistas, como os que encenam “Farsa da Boa Preguiça” em São Paulo brasileiro. “Ao encenar esse
um exemplo da complexidade texto queremos reverenciar o
e da genialidade de seu autor. O 1953, sob inuência direta de 32 da Academia Brasileira de de, mas viu seu destino ser alte- mestre Ariano Suassuna e sua
paraibano mais pernambucano Hermilo Borba Filho, começou Letras (ABL). rado em razão deste fato. Viúva, obra. Queremos celebrar, com
do Brasil (Suassuna foi morar no a escrever peças e a construir Por falar em palavras, Ariano, a mãe de Ariano, Rita de Cássia carinho e alegria, aquilo que
Recife aos 15 anos e, lá, desen- uma obra modelar, referência embora aclamado como um dos Vilar, mudou-se com a família do somos: artistas do povo brasi-
volveu seus estudos – formou- obrigatória para todos os que maiores dramaturgos e roman- Sítio Acauã, no sertão paraibano, leiro”, resume João das Neves.
se em Direito, em 1950 e em desejam conhecer a dramatur- cistas de língua portuguesa, é, para a cidade de Taperoá, na re- Para Ariano Suassuna, a
Filosoa, em 1964) é o respon- gia nacional – fundaria, ainda, também, um poeta de mão cheia. gião do Cariri do estado. Devido “Farsa da Boa Preguiça” tem
sável pela criação de uma arte em 1960, o Teatro Popular do Sua produção poética acompa- à morte de João Urbano, porém, outros focos mais importan-
erudita a partir de elementos da Nordeste (TPN). O romanceiro nhou, durante muitos anos, a Ariano e toda a família, para fugir tes do que retratar, apenas, a
cultura popular do nordestino – popular nordestino e a tradição produção teatral. O estudo apro- das represálias dos grupos oposi- preguiça. “Não defendo indis-
que é, antes de tudo, um forte, mediterrânea são as característi- fundado da poesia popular foi tores ao seu falecido pai, foram criminadamente a preguiça —
como dizia Euclides da Cunha. cas principais do teatro de Suas- – e ainda é – uma constante na obrigados a fazer uma verdadeira coisa que, aliás, não poderia
Foi através dos valores da re- suna, que fundamentaram toda vida deste homem, até porque é peregrinação por inúmeras cida- fazer, pois ela é um dos ‘sete
gião, com seu vasto arcabouço a concepção moderna de uma partindo principalmente dos fo- des antes de se xar no Recife, vícios capitais’ do Catecismo”,
erudito e teórico, que Suassu- dramaturgia nordestina erudita. lhetos do romanceiro popular onde Suassuna daria início à car- brinca Suassuna, feliz com o
na, com sua escrita, reuniu, ao nordestino que Suassuna encon- reira artística, embora, em Tape- resultado obtido pela nova en-
mesmo tempo, elementos do SALVE O “AUTO DA trou o caminho para criar toda a roá, tenha vivido sua primeira ex- cenação de sua peça, indicada
simbolismo, do barroco e da li- COMPADECIDA” sua obra teatral (seus primeiros periência com o teatro, ao assistir para todas as idades, inclusive
teratura de cordel, fazendo do Entre as suas inúmeras pe- poemas datam de 1946, 1947 e a uma peça de mamulengos e a jovens e adolescentes.
Sertão o palco ideal de ques- ças conhecidas (e premiadas), 1948 como “A Morte do Touro um desao de viola – cujo cará- “Farsa da Boa Preguiça” pro-
tões humanas que se repetem destaque para “O Auto da Mão de Pau”, “Beira-mar”, “Os ter de improvisação marcaria a move, também, o lançamento
em qualquer lugar do mundo. Compadecida”, de 1955, que Guabirabas”, “Encontro” e “A obre teatral de Ariano. ocial do catálogo e do “Museu
A “nordestinidade” está no projetou Suassuna em todo o Barca do Céu”, entre outros). Hoje secretário de Cultura Digital Ariano Suassuna” (www.
sangue deste homem de forma- País e fez o crítico teatral Sába- de Pernambuco, Ariano Suassu- arianosuassuna.com.br), que apre-
ção calvinista e posteriormente to Magaldi denir a obra como TRAGÉDIA NA INFÂNCIA na possui como meta apresentar senta todo o acervo do artista,
agnóstico, que converteu-se ao “o texto mais popular do mo- A genialidade de Ariano Suas- e estimular a produção de uma distribuído em coleções e sub-
catolicismo (gesto que marca- derno teatro brasileiro”. Esta suna é conhecida (e reconhecida) arte de qualidade, com bases nas coleções, como bibliograa,
ria denitivamente a sua obra) peça, aliás, abriu as portas da te- mundialmente, mas sua vida nem raízes do povo brasileiro. Arte exposições, manuscritos, entre-
e começou a mostrar seus dons levisão e do cinema para o seu sempre foi feita, apenas, de ale- de qualidade que é traduzida vistas, correspondências, obras
literários aos 18 anos de idade, autor devido às adaptações para gria. Uma tragédia familiar marca nas diversas peças do autor que, de arte, fotograas etc. Esse
quando escreveu o poema “No- os dois meios. Outro exemplo sua trajetória: a morte de seu pai, ainda hoje, são encenadas pelos acervo, uma vez convertido em
turno”, publicado em destaque do talento de Suassuna é o ro- João Urbano Pessoa de Vascon- mais variados grupos teatrais. A imagens digitais, amplia enor-
no Jornal do Commercio, do Re- mance “A Pedra do Reino”, cellos Suassuna, em 1930, no Rio mais recente é a comédia “Farsa memente seu potencial de frui-
cife, em outubro de 1945. Não também adaptada para a televi- de Janeiro. João Suassuna era de- da Boa Preguiça”, de 1960, uma ção, numa proporção impossí-
demoraria para o teatro entrar são e que revelou outra faceta putado federal quando, por ques- das mais importantes para o te- vel de ser atingida pelas visitas
em sua vida. Criador do Teatro de Ariano: seu talento com as tões políticas ligadas à Revolução atro brasileiro contemporâneo. locais ao acervo físico. Um
do Estudante de Pernambuco palavras. Talento que o levou a de 1930, foi assassinado. Ariano Dirigida por João das Neves (um presente para os admiradores
(TEP), Suassuna, entre 1946 e ocupar, desde 1990, a cadeira tinha, na época, três anos de ida- dos fundadores do Grupo Opi- desse grande mestre e homem.
22 16 a 31 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Internacional
Gripe A fecha as portas dos teatros na Argentina
Medida inédita é tentativa desesperada do Governo para deter avanço da Influenza
Arquivo/JT
Por Felipe Sil Para a Argentina, o fecha- bém estão suspensas. Os ci-
mento de teatros é considera- nemas continuam abertos. Há
Algo inédito no meio tea- do um desastre no setor eco- a recomendação, porém, de
tral. Devido ao avanço da gri- nômico cultural. Anal, julho que os espectadores deixem
pe A (H1N1) na Argentina, é um dos melhores meses da uma cadeira vazia entre eles,
os teatros daquele país se en- atividade, por causa das férias o que é facilitado pela queda
contram fechados desde o dia de inverno, mas as projeções de público.
6 de julho. A ordem partiu do dos empresários são de queda Em boa parte do país, as
Governo Federal, em conjunto de 70% nas vendas de ingres- autoridades locais chegaram a
com a associação local de em- sos, comparadas com julho de adiantar as férias escolares de
presários teatrais. A decisão foi 2008. A associação também di- inverno para conter as trans-
tomada após semanas de salas vulga que o surto da gripe no missões nas salas de aula.
vazias e de muito debate e po- país diminuiu em 80% o núme- Aproximadamente dez mi-
lêmica na imprensa argentina ro de espectadores nas salas. lhões de estudantes tiveram o
sobre as medidas ociais toma- Especialistas em produção seu descanso estendido para
das até então (que não seriam teatral armam que o período ajudar a evitar que a doen-
unicadas). A Inuenza já cau- com as portas fechadas deve ça se espalhe. O governo da
sou a morte de 137 pessoas na causar grandes prejuízos ao presidente Cristina Kirchner
Argentina (até o fechamento setor, na Argentina, que se ainda estuda outras medidas
desta edição do JT). reetirão por muitos meses. para evitar a propagação da
“Os teatros privados sus- Para se ter ideia da gravidade gripe A (H1N1). No comér-
O Colón sofre com a nova gripe: 80% dos espectadores fora dos teatros
penderam todas as peças do assunto, quando procurado cio varejista, há fortes receios
teatrais do país, mas não sa- pelo Jornal de Teatro para fa- suspensão de outras ativida- atros e museus. Praticamente de que a situação na Argenti-
bemos o que ocorrerá nos lar sobre o caso, o presidente des culturais, educacionais e estão interrompidas todas as na chegue a um ponto extre-
teatros estatais”, anunciou, da Associação de Produtores esportivas, mesmo onde não atividades infantis, inclusive mo, que levará ao fechamento
em entrevista coletiva, Carlos de Teatro do Rio (APTR), houve proibições do governo. as relacionadas às férias de in- de todos os lugares públicos.
Rottemberg, presidente da Eduardo Barata, limitou-se a Ao menos 20 distritos da pro- verno. Outras programações Fato é que vários municípios
Associação de Empresários dizer: “Sobre isso, prero nem víncia de Buenos Aires cance- tradicionais neste período no no interior já cancelaram to-
Teatrais, que reúne alguns comentar. Deus me livre um laram suas atividades públicas país, como o “Café Cultura das as atividades culturais,
dos maiores nomes do setor problema desses no Rio”. e ordenaram o fechamento de Nación”, apresentações da sociais e esportivas, além de
teatral. O dinheiro pago ante- O avanço da inuenza na bares, danceterias, piscinas, Orquestra Nacional Argenti- terem fechado os estabeleci-
riormente deve ser devolvido. Argentina também levou à ginásios, bingos, cinemas, te- na, balés, coral e bandas tam- mentos comerciais.
Jornal de Teatro 16 a 31 de Julho de 2009
23
Internacional
Direto de Londres, Adriano Fanti apresenta aos leitores do Jornal de Teatro detalhes da
estreia do musical sobre Dorian Gray – clássico de Oscar Wilde. Já Luciana Chama
aposta na modernidade. De Los Angeles ela divide algumas soluções encontradas por
lá para difundir e promover o teatro na cidade.

West End, a place that boasts inspiration!


Dear all, não o aguardam triunfos, ou bruscas entre canções e texto
Recentemente, o West que só lhe restam as vitórias (tão frequentemente encon-
End foi presenteado com medíocres que a recordação do tradas em pecas musicais) fo-
mais uma obra inspiradora: passado tornará mais amargas ram feitas de forma tão sutil
uma adaptação de muito bom que destroçadas”. que quase não é possível clas-
gosto baseada na famosa obra Tive a oportunidade de sicá-la como musical, e sim,
de Oscar Wilde, “O Retrato prestigiar a peça na estreia e como uma peça habitual com
de Dorian Gray”. Em cartaz conversar com o elenco na intervenções musicais. Isso é Adriano Fanti
no Leiscester Square Thea- festa para a imprensa, após o evidente na cena em que Do- Londres
tre, a montagem envolve um espetáculo. Conversei em par- rian resolve escrever uma carta
elenco de cinco artistas mul- ticular com a talentosíssima para Sybel Vaine, após esse lhe
tifacetados que se desdobram atriz Janna Yngwe, que inter- ter dito monstruosidades. Na
para dar vida à “Dorian Gray, preta Syble Vaine no espetácu- cena, Dorian senta-se ao pia- atores músicos. Mas, apesar de
a musical drama”. lo. Graduada pela conceituada no e escreve a carta em forma “A Little Night Music” também
A obra conta a história de Guildford School of Acting, de uma canção. “A plateia mal ter muitos elementos de teatro
Dorian Gray, um jovem da alta Janna falou sobre as peculia- percebe a transição entre texto convencional em estilo e texto,
sociedade inglesa do século ridades desta adaptação, onde e música”, conta Janna. Isso as passagens entre canto e fala
XIX. Imerso em sua vaidade todos os atores do espetáculo, também se deve à direção de são mais estruturadas nos mol-
e anseios por juventude eter- além de atuar e cantar, também Linnie, que não mirou nenhu- des de teatro musical. No en-
na, Dorian se apaixona por um tocam instrumentos durante a ma das canções diretamente à tanto, são feitas de ótimo tom.
retrato seu, pintado pelo amigo peça. No caso de Janna, além plateia, dando um toque singe- Em geral, o espetáculo foi
Basil Hallward. A paixão acon- dos números de dança, a apre-
“Dorian Gray”: musical e drama
lo aos números musicais. dirigido visando o total apro-
tece depois que a personagem sentação acontece também Um paralelo pode ser esta- veitamento do elenco peque-
ouve do cínico e hedonista com um violoncello e o piano play), que é onde a adaptação se belecido entre “Dorian Gray, no. Fica, sobretudo latente,
aristocrata Lord Henry Wotton presente em cena. encontra. a musical drama”, e “A Little quando Dorian em sua aluci-
os dizeres: “o senhor dispõe só O que mais me chamou a A diretora da peça Linnie Night Music” (fabulosa obra nação vê fantasmas em todos
de alguns anos para viver deve- atenção nesta montagem que Reedman manteve intacto o es- musical de Stephen Sondheim) os cantos: a sensação é de que
ras, perfeitamente, plenamente. leva como subtítulo um drama tilo aristocrata inglês e vitoria- atualmente em cartaz no West realmente há no palco o dobro
Quando a mocidade passar, a musical é a na linha divisória no da obra, sem comprometer End. Ambas trazem a Inglater- de atores em cena. Esperta,
sua beleza ir-se-á com ela; en- entre teatro musical e teatro em momento algum o trabalho ra vitoriana de emoções repri- Linnie economizou uma grana
tão o senhor descobrirá que já convencional (musical e straight de Oscar Wilde. As transições midas como pano de fundo e com contratação de atores...

Tupi or not tupi?


de 3.200 casas de espetáculos na Krall no Hollywood Bowl,
Arquivo Pessoal

espalhadas pelo país e oferece “Spring Awakening” no Ah-


uma lista variada de ingressos manson Theatre e “Wicked”
com preços pela metade (ou no Pantages Theatre. Mais de-
às vezes até mais baratos) para talhes no www.goldstar.com.
seu mailing list. Ao invés de Twitter: além de informar
atolar a caixa de mensagens de detalhes íntimos e afazeres do
seus membros com propagan- dia-a-dia das pessoas, o bem-
Luciana Chama das desinteressantes, o Golds-
tar seleciona as melhores dicas
vindo Twitter é uma poderosa
ferramenta de comunicação
Los Angeles culturais e outras divertidas ex- para quem sabe fazer bom uso
periências com um acesso fácil dela. Mais uma vez, uma al-
e eciente. No site também se ternativa para quem não tem
Trocar cultura é um proces- encontra notas e opiniões dos apoio para investir num anún-
so enriquecedor, então quero assinantes, e dicas de onde es- cio de jornal ou revista, gastar
começar a entregar algumas tacionar, como se vestir, onde umas horas em frente ao com-
dicas de serviços que rolam comer, tudo para tornar a noite putador colecionando amigos
mais agradável. Para a casa de Colunista dá (preciosas) dicas que podem servir para o teatro brasileiro
por aqui, que jogam a favor do pode se tornar bem lucrativo a
público. Iniciando nesta colu- espetáculo, listar a sua atração médio prazo. A promoção no
na, de tempos em tempos sigo com a Goldstar é mais eciente Twitter é para um público di- que o uso desse recurso como por não ser uma obrigação,
postando sugestões aos “tea- do que gastar tubos de dinhei- recionado, seleto e o processo, lei inexível praticamente do- não são todas as casas e cine-
trais” de plantão. ro num anúncio de jornal, uma claro, imediato. bra o preço dos ingressos? mas que oferecem desconto,
Goldstar: trata-se de um vez que o público alvo é garan- Carteirinhas: é verdade que De qualquer forma, é sempre e a redução do valor é de ge-
serviço on-line que estimula tido e concentrado. Já para o ingressos para espetáculos ao inteligente facilitar a compra e ralmente 10% da inteira, e não
pessoas a saírem mais de casa público, o serviço é cômodo, vivo tem um custo um tanto o acesso do público à cultura. 50%. Ao menos dessa forma
para assistir a teatro, música, rápido, informativo e funciona! quanto alto para a maioria dos Aqui na Califórnia, por exem- a carteirinha passa a ser van-
dança, eventos esportivos e Minhas experiências com o site bolsos, hoje em dia. No Brasil, plo, os programas de desconto tagem não só para estimular
até wine tasting, aulas de sushi foram nota dez e pude conferir boa parte deve-se à adorada e para estudantes são encarados o consumidor pelas artes, mas
e rodeios. Como? A Goldstar atrações de nível cinco estrelas odiada carteirinha de estudante como incentivo por parte dos como o produtor a beneciar
trabalha diretamente com mais como George Benson e Dia- – ainda não deu pra entender lugares que abrigam cultura; seu público.
24 16 a 31 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Aproveite as
férias e conheça
o Brasil.

Em qual cidade você pode


passar as férias admirando
esta beleza natural?
A( ) Cuiabá, MT
B ( ) Manaus, AM
C( ) Canela, RS
D( ) Mata de São João, BA

Se você é brasileiro e não sabe


a resposta, está na hora
de conhecer melhor o Brasil.
RESPOSTA: C – CACHOEIRA DO CARACOL, CANELA, RS

VIAJE NAS FÉRIAS.


É BOM PARA VOCÊ.
É BOM PARA O BRASIL.

Consulte seu agente de viagem. www.turismo.gov.br

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