O termo Ergonomia é relativamente recente: criado e utilizado pela primeira vez pelo inglês
Murrel, passa a ser adotado oficialmente em 1949, quando da criação da primeira sociedade
de ergonomia, a Ergonomic Research Society, que congregava psicólogos, fisiologistas e
engenheiros ingleses, interessados nos problemas da adaptação do trabalho ao homem.
A etimologia do vocábulo Ergonomia não especifica bem o objeto dessa disciplina. Podemos
defini-la, em síntese, como sendo o conjunto de conhecimentos a respeito do desempenho do
homem em atividade, a fim de aplicá-los à concepção das tarefas, dos instrumentos, das
máquinas e dos sistemas de produção. A Ergonomia nasceu de necessidades práticas: ligada à
prática, já que sem aplicação perde a razão de ser, ela se apóia em dados sistemáticos,
utilizando métodos científicos.
Podemos citar Vauban, no século XVII, e Belidor, no século XVIII, que tentam medir a carga
do trabalho físico diário nos próprios locais de trabalho. Sugerem que uma carga demasiado
elevada acarreta esgotamento e doenças, preconizando uma melhor organização das tarefas
para elevar o rendimento. Um pouco mais tarde, engenheiros como Vaucanson e Jacquard
montariam os primeiros dispositivos automáticos para suprimir alguns postos
particularmente penosos: os tecelões nas tecelagens, por exemplo. Depois, viriam os
organizadores do trabalho, como Taylor e seus precursores, que analisariam o trabalho,
tendo em vista definir as melhores condições de rendimento. O modelo de desempenho do
homem sobre o qual eles se baseariam é análogo ao do funcionamento de uma máquina.
Após seu aparecimento oficial, a Ergonomia tende a ampliar suas bases científicas: de um
lado, em direção à Biometria, à Bioquímica e à Biomecânica; de outro, em direção à
Psicologia Social e à Sociologia. Tal tendência levanta o problema de seus limites, questão
ainda hoje atual. Sólidas bases científicas eram necessárias para a criação da disciplina, mas
outros elementos, ligados à evolução dos problemas do trabalho, desempenharam na época
um papel igualmente importante.
O que se constata, aliás, é que estas diversas atividades de trabalho devem se efetuar em
ambientes extremos ou artificiais: isto ocorre com o desenvolvimento de atividades em zonas
geográficas muito quentes ou muito frias e, principalmente, com a multiplicação dos postos
de trabalho em que os operadores são submetidos a ruído intenso, vibrações e condições
térmicas impostas pelas técnicas de fabricação (como nas indústrias têxtil e alimentar).
Entretanto, a resistência para suportar condições de trabalho penosas aumenta nos países
industrializados como se verifica pelo apelo a mão-de-obra estrangeira e por sua significativa
presença em empregos onde as condições de trabalho são severas (trabalho em cadeia,
construção civil, etc.).
A Psicologia e a Fisiologia são as duas principais ciências onde a Ergonomia foi buscar raízes
e continua a se edificar. Mas o desempenho do homem no trabalho é de grande
complexidade, e a Ergonomia ampliou progressivamente o campo de suas bases científicas:
assim, ela recorre a conhecimentos adquiridos em setores tão diversos como a Antropologia e
a Sociologia para estabelecer suas normas de aplicação. Aliás, isso pode ocasionar um grave
risco: carente de limites, esta disciplina estaria condenada ao desaparecimento. Entretanto,
se a Ergonomia conserva seu objetivo principais qual seja, a concepção de situações e
instrumentos de trabalho de acordo com o desempenho do homem, então ela é diretamente
identificável.
"O que é verdadeiro para a Ergonomia é verdadeiro para toda ciência interdisciplinar: não é a
matéria apenas que a torna autônoma, mas o objetivo. É ele que orienta e guia as pesquisas
aplicadas e teóricas". O objetivo das pesquisas em Ergonomia é "o estudo das trocas
regulamentadoras entre o ambiente profissional e o trabalhador".
Tal diferenciação corresponde a uma realidade francesa. Ela pode evoluir, pois é grande o
intercâmbio dessas disciplinas. Pode-se constatar que alguns médicos do trabalho, agentes e
engenheiros de segurança e organizadores do trabalho realizam por vezes atividades
especificamente ergonômicas. Em outros países, na prática, as diferenciações não são as
mesmas. Cada um dos dois aspectos - tecnologia da concepção dos meios de produção
adaptados ao desempenho do homem e higiene industrial para a proteção da saúde física e
psíquica dos trabalhadores - pode ter uma importância diferente.
Outras diferenciações são ainda estabelecidas: ergonomia dos meios de produção - isto é, dos
componentes do trabalho - e ergonomia do produto. No último caso, trata-se de conceber o
objeto fabricado considerando os dados ergonômicos correspondentes ao número de
consumidores (carros, aparelhos eletrodomésticos, etc.).
Além disso, já se começa a formular questões em outro nível: de que maneira conceber um
produto, um objeto que possa ser fabricado considerando-se os dados ergonômicos dos
postos de trabalho, isto é, conceber o objeto a ser fabricado considerando não apenas as
limitações técnicas, econômicas e comerciais, mas também as limitações ergonômicas de
fabricação.
Podemos, enfim, distinguir uma ergonomia de proteção do homem que trabalha, para evitar
o cansaço, a velhice precoce, os acidentes, etc., e uma ergonomia de desenvolvimento, que
permitirá a concepção de tarefas de forma a elevar a capacidade e a competência dos
Operadores.